UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE- UNIVALE FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS – FHS CURSO DE PSICOLOGIA O PAPEL DO PSICÓLOGO FRENTE ÀS POLÍTICAS SÓCIO-ASSISTENCIAIS. FRANCIELE DE SOUSA MOROZESKY LARISSA MELO DE SALES LEIDIANE GONÇALVES PEREIRA LUDMILA BRANDO LEITE Governador Valadares 2010 FRANCIELE DE SOUSA MOROZESKY LARISSA MELO DE SALES LEIDIANE GONÇALVES PEREIRA LUDMILA BRANDO LEITE O PAPEL DO PSICÓLOGO FRENTE ÀS POLÍTICAS SÓCIO-ASSISTENCIAIS. Monografia apresentada ao curso de Psicologia da Faculdade de Ciências Humanas Universidade e Sociais Vale do -FHS Rio Doce da - UNIVALE, como requisito parcial para aprovação na Graduação do curso de Psicologia. Orientadora: TANDRÉCIA CRISTINA OLIVEIRA Governador Valadares 2010 2 O PAPEL DO PSICÓLOGO FRENTE ÀS POLÍTICAS SÓCIO-ASSISTENCIAIS. FRANCIELE DE SOUSA MOROZESKY LARISSA MELO DE SALES LEIDIANE GONÇALVES PEREIRA LUDMILA BRANDO LEITE Monografia defendida e aprovada em oito de novembro de 2010, pela banca examinadora constituída pelos professores: __________________________ Tandrécia Cristina Oliveira Orientadora __________________________ Valeria Chequer Professora Convidada __________________________ Solange Coelho Professora Convidada 3 DEDICATÓRIA: Dedicamos este trabalho aos nossos pais por todo amor e esforço a nos dedicado em todos esses anos, a toda nossa família pela paciência e alegria em todos os momentos, e a todos nossos amigos. Obrigada. 4 MOROZESKY, F.S; SALES, L.M; PEREIRA, L. G; LEITE, L. B;(2010). O PAPEL DO PSICÓLOGO FRENTE ÀS POLÍTICAS SÓCIO-ASSISTENCIAIS. Trabalho de Conclusão de Curso. Governador Valadares: UNIVALE/ FHS. Orientadora profª. Tandrécia Cristina Oliveira. RESUMO Esse trabalho apresenta uma revisão da literatura a partir de uma pesquisa bibliográfica, com caráter qualitativo, sobre o papel do psicólogo frente às políticas sócio-assistenciais. Objetiva esclarecer alguns parâmetros técnicos com a perspectiva de conhecer a atuação de psicólogos nas políticas de assistência social. Possibilita explanar fatos históricos de uma Psicologia brasileira; conhecer a legislação da Assistência Social; relatar sobre a inserção do psicólogo nas políticas públicas de assistência social e conhecer os objetos de estudos da Psicologia Social e do Serviço Social e entender suas específicidades. Constitui-se como ponto de partida para discussões sobre o assunto e um melhor entendimento sobre a caracterização da atuação profissional de psicólogos no campo da assistência social. Palavras chaves: Assistência Social. Psicologia Social. Políticas Públicas. 5 SUMÁRIO RESUMO............................................................................................................... 5 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 7 CAPÍTULO 1 – FATOS HISTÓRICOS DA PSICOLOGIA BRASILEIRA E BREVE CONSIDERAÇÕES SOBRE A ESTRUTURA SÓCIO-ASSISTENCIAL NO BRASIL..........................................................................................................10 CAPÍTULO 2 – INSERÇÃO E O PAPEL DO PSICÓLOGO NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL.......................................................................................21 CAPÍTULO 3 – A PSICOLOGIA SOCIAL E SERVIÇO SOCIAL........................29 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................33 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA........................................................................35 6 INTRODUÇÃO O presente trabalho abordará alguns parâmetros técnicos com a perspectiva de referenciar a atuação de psicólogos no âmbito da política de Assistência Social, concretizada pelo Sistema Único de Assistência Social (SUAS), e resulta de reflexão realizada conjuntamente pelo Conselho Federal de Serviço Social (CEFSS) e pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP). As Políticas de Assistência Social são ações, programas, projetos, regulamentações, leis e normas que o Estado desenvolve para administrar de maneira mais eqüitativa os diferentes interesses sociais, abrangendo e organizando a dimensão coletiva de uma determinada sociedade. Como exemplo, situa o Sistema Único de Saúde – SUS, como uma das políticas públicas mais férteis para a superação de iniqüidades de nosso país. A psicologia ao inserir-se neste mercado de trabalho, ou seja, nas Políticas de Assistência Social, ampliou consideravelmente seu campo de atuação, junto a uma camada da população que não tenha acesso aos consultórios particulares. Aos poucos, os psicólogos sociais foram construindo um processo de participação nas discussões sobre Políticas Públicas e com isso, favoreceuse o entendimento da conceituação de saúde, não mais como ausência de doença, mas sim como reflexo das condições sociais, econômicas e ambientais sobre a vida das pessoas. A Psicologia enquanto ciência e a Psicologia Social como uma área do saber psicológico, estão muito próximas da prática dos profissionais com formação em Serviço Social, considerando-se os objetos de estudo das respectivas disciplinas. A Psicologia Comunitária Social dá força aos processos de mobilização e ação política que visam neutralizar as diferenças sociais, dessa forma, está sempre comprometida com as demandas que surgem das mais diversas classes sociais. 7 A reflexão sobre as competências e atribuições da profissão, a definição de estratégias e procedimentos no exercício do trabalho, orienta e contribui para fortalecer a intervenção interdisciplinar, resguardando as competências e atribuições privativas de cada profissão. Portanto, é necessário desenvolver uma reflexão sobre as possibilidades de construção de saberes e práticas interdisciplinares decorrentes da relação dialógica entre as áreas de conhecimento em questão, através de questionamentos voltados às próprias áreas que se encontram inseridas no grupo das Ciências Socias e Humanas. É importante também distinguir o trabalho de psicólogos e assistentes sociais na política de Assistência Social, sabemos que o mesmo requer uma interface com as políticas da saúde, previdência, educação, trabalho, lazer, meioambiente, comunicação social, segurança e habitação, na perspectiva de mediar o acesso dos cidadãos aos direitos socais. Diante disto, como se caracteriza a atuação profissional de psicólogos no campo da assistência social? A investigação acerca do tema tem como objetivo esclarecer as ações da Psicologia no âmbito social, através das políticas públicas e dos movimentos sociais, mas principalmente abordar as contribuições da Psicologia para o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e a importância do trabalho dos psicólogos na execução dos programas sociais. Portanto, esta pesquisa científica é importante para que os psicólogos possam ter um melhor esclarecimento sobre o assunto, podendo assim, ter um auxilio em sua prática. 8 O estudo foi realizado com base em uma pesquisa bibliográfica, descritiva, tendo como fonte de obtenção de dados, obras literárias, artigos retirados da internet e revistas cientificas. 9 1 – Fatos Históricos da Psicologia Brasileira e Breve Considerações Sobre a Estrutura Socio-assistencial no Brasil: A profissão de psicólogo foi regulamentada no Brasil em 1962, pouco tempo antes do Golpe Militar que condenou o País a um longo período ditatorial. Na época, as práticas psicológicas se consolidaram sob a influência de ideologias desenvolvimentistas, pautadas pela repressão política e pelo patrulhamento ideológico, que caracterizaram o Brasil ao longo de quase três décadas de ditaduras explicitas. (CFP/CFESS, 2007) Segundo Vasconcelos (1989), as primeiras iniciativas comunitárias não tiveram origem Estatal, devido às características antipopulares dos governos locais após a década de sessenta, período em que o conhecimento psicológico passou a ser usado como instrumento de práticas em comunidades. E principalmente por universidades e programas na rede pública de grande impacto, através de projetos de extensão, que possibilitou a proximidade entre profissionais de saúde e a população, beneficiando esta contra o controle da ditadura militar. A partir do surgimento dos movimentos sociais e sindicais urbanos, comunidades eclesiais de base, movimentos negros e femininos, que foi possível a construção dos laços e ações comunitárias. Neste período, os psicólogos trabalhavam associados à esfera da educação e da saúde mental, especialmente no âmbito da prevenção (SCARPARO; GUARESCHI, 2007). Nos grupos sociais passou-se a ecoar as questões políticas, bem como as reflexões éticas, que invadiram o cotidiano da civilização atual e alcançou o controle sobre o sistema global, sobre a natureza e sobre a reprodução humana. Discussões sobre o trabalho realizado pelo psicólogo sempre estiveram presentes. Na época da ditadura militar, que teve inicio em 1964, o psicólogo era 10 visto como aquele que fazia psicoterapia. Só no final dos anos 80, com o inicio de movimentos para mudanças na atuação psicológica, varias ações foram realizadas pelos psicólogos e entidades de Psicológica brasileira no sentido da construção de práticas comprometidas com a sociedade brasileira (CFP/CFESS, 2007). Segundo Eidelwein (2007), a Psicologia Social pode ser compreendida como uma área do conhecimento psicológico, que tem seus primórdios nos estudos de Wundt, no que tange aos objetos de estudos de sua psicologia das massas. Desenvolveu-se como conhecimento científico sistemático por volta do fim da I Guerra Mundial, diante do objetivo de compreender as crises e convulsões que abalavam o mundo. A partir da II Guerra Mundial, ela atingiu seu auge nos Estados Unidos, dentro de uma perspectiva positivista-funcionalista, onde a sociedade era compreendida como o pano de fundo sob o qual o indivíduo desenvolvia suas ações. (Eidelwein, 2007) Ao estudar os fenômenos: de liderança, opinião pública, propaganda, preconceito, mudança de atitudes, comunicação, relações raciais, conflitos de valores, relações grupais e outros, o psicólogo social procurava através de pesquisas e experimentos, ações e estratégias de intervenção nas relações sociais em busca de uma promoção de qualidade de vida. Os assuntos estudados continuavam sendo os mesmos, tratavam-se ou não de sistemas teóricos da psicologia, todos se voltavam para a procura de fórmulas de ajustamento e adequação de comportamentos individuais ao contexto social. (Eidelwein, 2007 apud LANE, 1985) A Psicologia Social foi introduzida na década de 1950 no Brasil, a partir dos referenciais norte-americanos. E na década 60, as experiências da Psicologia Comunitária, contribuíram para a construção de uma Psicologia Social brasileira crítica, considerando a interlocução com as experiências de outros países latinoamericanos. (Eidelwein, 2007) 11 Entretanto, a Psicologia Social não diz respeito apenas aos trabalhos desenvolvidos no campo comunitário, uma vez que é definida por seu objeto de estudo e não pelo local de atuação profissional. “A Psicologia Social estuda a relação essencial entre o indivíduo e a sociedade, esta entendida historicamente, desde como seus membro se organizam para garantir sua sobrevivência, até seus costumes, valores e instituições necessários para continuidade da sociedade. (...) a grande preocupação atual da Psicologia Social, é conhecer como o homem se insere nesse processo histórico, não apenas em como ele é determinado, mas principalmente, como ele se torna agente da história, ou seja, como ele pode transformar a sociedade em que vive”. (LANE, 1988, p.10) Sendo assim, vale salientar que o enfoque da Psicologia Social, está no comportamento de indivíduos, no que ele é influenciado socialmente. E isto acontece desde o momento em que nascemos, ou mesmo antes do nascimento, enquanto condições históricas que deram origem a uma família, a qual convive com certas pessoas, que sobrevivem trabalhando em determinadas atividades, as quais já influenciam na maneira de encarar e cuidar da gravidez e no que significa ter um filho. Ela estuda também, a relação essencial entre o indivíduo e a sociedade, esta entendida historicamente, desde como seus membros se organizam para garantir sua sobrevivência até seus costumes, valores e instituições necessários para a continuidade da sociedade, lembrando que essa história não é estática e nem imutável, estando sempre em transformação. Augusto Comte, considerado por muitos como o fundador da Psicologia Social, escreveu muito sobre a mesma, mas ela só se desenvolveu como estudo científico, sistemático, após a Primeira Guerra Mundial, justamente com outras ciências sociais, procurando compreender as crises e convulsões que abalavam o mundo. (LANE, 1985) 12 A política e a ética estabelecem questões fundamentais para a humanidade. A Psicologia Comunitária procura atribuir referência às possibilidades da vida em comunidade, tais como à participação social dos indivíduos, à construção de uma comunidade política, à garantia e o aprofundamento da igualdade sem ameaças às liberdades individuais, o combater ao individualismo crescente, e as formas de se aprofundar os valores democráticos (PRADO, 2002). Contudo a Psicologia Comunitária se orienta através desta interação humana e seus comportamentos, no que constituem também o objeto da Psicologia Social, tendo em vista que a Psicologia Social estuda os fenômenos sociais comportamentais e cognitivos decorrentes da interação entre pessoas. Essa relação visa uma educação e o desenvolvimento da consciência social de grupos de convivência dos mais diversos (Rodrigues, 1999). Portanto são fundamentais no estudo e orientação das práticas no campo da assistência social. Para estudar as questões sociais, tais como o homem em sociedade, os fenômenos sociais, os comportamentos de grupo, as famílias, a comunicação, os processos de socialização, e demais conceitos relacionados a situação do homem em sociedade, os psicólogos utilizaram e utilizam até hoje princípios e conceitos da Psicologia Social, que surgiu justamente para suprir esse campo de atuação da psicologia. No entanto, por muito tempo, estudo realizado na área de Psicologia Social tem privilegiado abordagens internalistas ou mediacionais, explicando o comportamento de indivíduos em grupo com base em variáveis intrínsecas aos indivíduos, tais como variáveis emocionais e/ou intelectuais, e características de personalidade (FARIAS 2005). As reivindicações pelos direitos civis, políticos, éticos e sociais, inauguraram um campo no qual surge a Psicologia Comunitária, na tentativa de articular com a sociedade uma forma de atuar, voltada para objetivos próprios e segundo uma visão crítica bem definida. E tratar os aspectos de construção da consciência política e ética que perpassa pela psicologia comunitária. 13 A psicologia social e comunitária está diretamente implicada na construção de uma consciência ética e política, não se poder fazer psicologia comunitária fora do contexto econômico e político que envolve o Brasil e America Latina. Diante disso, os psicólogos sociais comunitários dentre outros, passaram a atuar também na área da Assistência Social, auxiliando na compreensão e no enfretamento dos problemas sociais. Seguindo essa perspectiva de trabalho, a política de Assistência Social regulamentada em 1988 é uma política de proteção social ao conjunto das proteções previstas pela Seguridade Social, com sua integração e articulação às demais políticas sociais, assim como a saúde e a previdência social se configura como responsabilidades do Estado próprias a serem asseguradas aos cidadãos brasileiros. Constitui o público usuário da Política de Assistência Social, cidadãos e grupos e comunidades que se encontra em situações de vulnerabilidade e risco, tais como: famílias e indivíduos com perda ou fragilidade de vínculos de afetividade, pertencimento e socialização; ciclos de vida; identidades estigmatizadas em termos étnicos, cultural e sexual; desvantagem pessoal resultante de deficiências; e outros. (Brasil, 2004) Dessa forma, a Assistência Social é voltada à garantia de direitos e de condições dignas de vida, que se configura como possibilidades de reconhecimento público da legitimidade das demandas de seus usuários e espaço de ampliação de seu protagonismo no que refere a comunidade. (BRASIL, 2004). O que não se pode confundir é assistência social com assistencialismo, caridade ou ações pontuais, assistência social é uma política pública que tem o 14 compromisso do Estado com a sociedade, uma estratégia de enfrentamento da questão social. Como regulamentação da Assistência Social no Brasil, foi promulgada, em 1993, a lei orgânica da Assistência Social – LOAS. Nasceu a partir de um movimento articulado nacionalmente por trabalhadores da área de Assistência Social e outras entidades da sociedade civil e contém diretrizes básicas e regras para a organização da Assistência Social no Brasil, considerando o cenário social e político do país surgido após a promulgação da Constituição de 1988 (BRASIL, 1993). A LOAS envolve a participação ativa da sociedade civil também por meio delas, são colocadas aos municípios as necessidades de mudança para a população, que são desde no sentido simbólico e político da assistência à sua organização gerencial, enquanto política pública. De acordo com a LOAS, a Assistência Social tem como objetivos: Proteger a família, a maternidade, a infância, a adolescência e a velhice dos indivíduos; amparar crianças e adolescentes carentes; integrar, os indivíduos no mercado de trabalho; promover habilitação/reabilitação de pessoas com deficiência e integrá-la na sociedade; e garantir os benefícios necessários aos idosos e ás pessoas com deficiência que tem direito (BRASIL, 1993). Foi, então, em 2004 que a Política Nacional da Assistência Social - PNAS foi elaborada e aprovada pelo Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a Fome – MDS, por intermédio da Secretaria Nacional de Assistência Social SNAS e do Conselho nacional de Assistência social –CNAS com intenção de concretizar a redefinir princípios desta política no Brasil, proposta pela LOAS, na perspectiva de implementar o Sistema Único da Assistência Social. (BRASIL,2004) 15 Para atingir seus objetivos, a PNAS procura integrar-se ás políticas setoriais, considerando e minimizando as desigualdades socioterritoriais, para garantir a universalização dos direitos sociais. Para tanto, a PNAS tem como propostas a promoção de serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social básica e, ou especial para famílias, indivíduos e grupos que deles necessitarem. (BRASIL, 2004) Dessa forma, a PNAS visa favorecer a inclusão e a equidade dos usuários e grupos específicos, ampliando o acesso aos bens e serviços socioassistenciais básicos e especiais, em áreas urbanas e rurais. Isso tudo, assegurando que ações no âmbito da assistência social tenham centralidade na família, e que garantam a convivência familiar e comunitária (BRASIL, 2004). A PNAS traz á tona às necessidades de uma população excluída pelas desigualdades, em situação de vulnerabilidade e risco marcada pela pobreza e extrema pobreza. Diante dessas necessidades, propõe ações que são organizadas pelo Sistema Único da Assistência Social – SUAS para atender e cuidar dessa população tratando-a dignamente e formando-a cidadã. (BRASIL, 2004) O Sistema Único de Assistência Social – SUAS constitui-se como uma regulação e organização da política de assistência e prever a estruturação de programas, projetos e benefícios socioassistenciais, de caráter continuando ou eventual, executados e providos por pessoas jurídicas de direito público sob critério universal e lógico de ação em rede hierarquizada e em articulação com iniciativas da sociedade civil. Além disto, o SUAS define e organizam os elementos essenciais e imprescindíveis á execução da política pública de assistência social, possibilitando a normatização dos padrões nos serviços, qualidade no atendimento aos usuários, indicadores de avaliação e resultado, nomenclatura dos serviços e da rede prestadora de serviços socioassistenciais (BRASIL, 2005). 16 Na prática, os serviços socioassistenciais oferecidos são divididos em dois tipos: Proteção Social Básica – PSB e Proteção Social Especial – PSE, este ultimo sendo subdividido em media e alta complexidade. No modo de Proteção Social Básica as ações de proteção social são de caráter preventivo com o objetivo de fortalecer os laços familiares e comunitários. Um exemplo é o Programa de Atenção Integral á Família – PAIF, que conta com a presença do assistente social e do psicólogo no desenvolvimento das ações voltadas ás famílias, atividades de socialização e convivência (BRASIL, 2005). Os serviços de Proteção Social Básica de Media Complexidade referem-se a ações de proteção social destinadas a situações em que os direitos do individuo e da família já foram violados, mas ainda, há vínculo familiar e comunitário (BRASIL, 2005). O serviço de combate á exploração e ao abuso sexual de crianças e adolescentes é um exemplo de serviço de média complexidade. Por fim, os serviços de Proteção Social Especial de Alta Complexidade atendem casos em que os direitos do individuo ou da família já foram violados e, também, quando o vinculo familiar é rompido. Eles garantem proteção integral (moradia, alimentação, trabalho) para quem esta em situação de ameaça necessitando deixar o núcleo familiar ou comunitário. Abrigos e albergues são alguns exemplos de serviços de proteção social especial de alta complexidade (BRASIL, 2005). A unidade pública de atendimento á Proteção Social Básica é o Centro de Referência de Assistência Social - CRAS, e a unidade de atendimento á Proteção Social Especial de Media Complexidade é o Centro de Referencia Especializado de Assistência Social – CREAS. A Proteção Especial de Alta 17 Complexidade conta com unidades diversas com condições de receber os usuários no sentido de acolhê-los e abrigá-los como é o caso de casas de passagem e albergues. (CREPOP,2007). Para melhores resultados, todas essas unidades devem trabalhar em articulação com serviços das demais políticas públicas como escolas, centros de atendimento psicossocial – CAPS, estratégia de saúde da família, defensorias publicas, Ministério Publico, Vara da Infância e da Juventude e outros órgãos que possam ser envolvidos. (CREPOP,2007) Em resumo, é dessa forma que a NOB/SUAS propõe atender a população em situações de vulnerabilidade e risco de acordo com as necessidades individuais, tendo como principal objetivo o fortalecimento ou reintegração das relações familiares. (CREPOP,2007) Todo o desenvolvimento do trabalho do SUAS é como eixo estruturante a matricialidade sócio-familiar, pois a Assistência Social considera a família como o espaço primeiro de proteção e socialização dos indivíduos e que, para que cumpra com tais funções, precisa ser protegida, através dos trabalhos socioassistenciais (BRASIL,2005). A forma como esses trabalhos são realizados dever se construída e pensada a partir de intencionalidades, conhecimento e experiências. Portanto, a metodologia de trabalho com as famílias deve, primeiramente, embeber-se da realidade do território, contextualizar essa realidade e perseguir os objetivos da ação, considerando-se que cada família age de acordo com suas particularidades. Diante dessa realidade, a presença do psicólogo nas equipes técnicas de trabalho do SUAS passou a ser fundamental (NOB/SUAS, 2005 e NOB/RH/SUAS, 2006) e o Conselho Federal de Psicologia – CFP e o Centro de Referencia Técnica em Psicologia e Políticas Publicas – CREPOP propuseram 18 parâmetros de atuação aos psicólogos integrantes dessas equipes como forma de auxiliar o trabalho desses profissionais (CRP-SP, 2007). Dessa forma, a psicologia esta inserida na Assistência Social oferecendo contribuições relevantes para que essa política pública realmente promova qualidade de vida aos cidadãos. Essa contribuição se da através de práticas que garantam acesso aos direitos de forma humana e ética, favorecendo o desenvolvimento de sujeitos capazes de reflexão social e política, com atitudes de autonomia e emancipação. Com isso, as contribuições do psicólogo pretendem abarcar o cotidiano de desigualdades e violências dessas populações, visando o enfrentamento e superação das vulnerabilidades, procurando desenvolver, em todos, o anseio por conquistas e reivindicações de seus direitos como cidadãos, para tanto, as praticas psicológicas não devem categorizar, patologizar e objetificar a classe trabalhadora e outros segmentos da população, mas buscar compreender os processos de sua interação psicossocial estudando as particularidades e circunstancias em que ocorrem. Os processos devem ser compreendidos de forma articulada com os aspectos histórico-culturais da sociedade, produzindo-se construção de novos significados ao lugar do sujeito-cidadão autônomo e que deve ter vez e voz no processo de tomada de decisão e de resolução das dificuldades e problemas vivenciados (CFP/CFESS, 2007, p.23). As Políticas Públicas de Assistência Social, têem perspectivas futuras de investir na construção de metodologias, avaliar a capacidade do CRAS (Centros de Referência de Assistência Social), efetivamente permitir pró-atividade, integração, focalização, adequação e o cumprimento de co-responsabilidades, promover integração com todos os programas sociais e fazer uso do 19 acompanhamento das famílias para a adequação da oferta local de serviços sociais. Nesta perspectiva o entendimento das características da formação do profissional é um passo inicial necessário para que entendam que é a partir da junção de conhecimentos oriundos de diversas áreas, de seu comprometimento e responsabilidade com propostas políticas e éticas, que lhe é conferido um espaço de atuação junto à comunidade, assunto que se buscará discutir no capítulo a seguir. 20 2 – Inserções e o papel do Psicólogo na Política de Assistência Social Após a primeira metade da década de 1990, significativas alterações institucionais foram operadas em torno das políticas públicas da Assistência Social, como uma abordagem que conciliava iniciativas do Estado e do terceiro setor. A Política Nacional de Assistência Social (PNAS, 2004) operacionalizada através do SUAS (2005), traz como projeto político, a radicalização dos modos de gestão e financiamento da política de Assistência Social. De acordo com o artigo primeiro da LOAS, “ a assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas”.(NOB/SUAS, pag.31) A Constituição Federal de 1988 traz uma nova concepção para a Assistência Social, regulamentada pela Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) em dezembro de 1993, como política social pública regulada pela Política Nacional de Assistência Social em 1998 e 2004 e pelas Normas Operacionais Básicas (NOB) de 1997, 1998 e 2005. Esta última implantou o Sistema Único de Assistência Social (SUAS). A política Pública de Assistência Social realiza-se de forma integrada às demais políticas setoriais, considerando as desigualdades sócio territoriais, visando seu enfrentamento, à garantia dos mínimos sociais sob a perspectiva de: prover serviços, projetos e benefícios de proteção social básica voltada para família, indivíduos e grupos que deles necessitarem; contribuir com a inclusão e a equidade dos usuários ampliando os acessos ao serviço sócio assistenciais; 21 de maneira a assegurar que as ações no âmbito da assistência social tenham centralidade na família, garantindo a convivência familiar e comunitária. Através do NOB/RH SUAS, o psicólogo compõe a equipe de assistência social. Importante lembrar que esta norma surge num contexto de reestruturação e requalificação do setor público no Brasil. Segundo Silva (2005), essa inserção é fruto da caminhada dos psicólogos em direção à sociedade, mediante as lutas por direitos humanos e da reforma psiquiátrica, por meio do Banco Social de Serviços, da apropriação e participação em espaços políticos, principalmente no plano federal, mostrando seu trabalho através de campanhas e políticas de proteção à criança e adolescentes, sendo o CFP aprovado como quarta entidade mais votada para compor o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente – Conanda, dentre outras campanhas e lutas nacionais sobre temas de relevância para a sociedade brasileira. Esse espaço que se abriu na legislação da assistência social é, portanto, resultado do movimento em prol de uma Psicologia do Compromisso Social, Uma Psicologia comprometida com a transformação social toma como foco as necessidades, potencialidades, objetivos e experiências dos desfavorecidos. Neste sentido a Psicologia contribui na elaboração e execução de políticas públicas de Assistência Social, preocupadas em promover a emancipação social das famílias e fortalecer a cidadania junto a cada um de seus membros, contribuindo no sentido de considerar e atuar sobre a dimensão subjetiva dos indivíduos, favorecendo o desenvolvimento da autonomia e cidadania. Essas mudanças são resultados de novos cenários políticos, especialmente no contexto social em defesa de um novo modelo para a assistência social. E através do SUAS, percebe-se a crescente inserção do psicólogo no âmbito social. 22 O SUAS propõe a sua intervenção a partir de duas grandes estruturas articuladas entre si: a Proteção Social Básica tem como objetivo prevenir situações de risco por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições e fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. É destinada a populações que vivem em situações de vulnerabilidade social como a pobreza, privação e a fragilização de vínculos afetivos. ”.(NOB/SUAS, pag.33) Esses serviços serão executados de forma direta nos Centros de Referência da Assistência Social – CRAS, também conhecido como casa de apoio à família, localizada em áreas de vulnerabilidade social, atuando com famílias e indivíduos no seu contexto comunitário, orientando o convívio sociofamiliar e comunitário, promovendo o fortalecimento a proteção e a socialização dos seus membros, trabalhando questões como referências morais, de vínculos afetivos e sociais. Como afirma Lane (2001), a Psicologia deve recuperar o indivíduo na interseção de sua história com a história de sua sociedade, pois é somente este conhecimento que permite compreender o homem como produtor de sua história. Assim, a participação social é condição básica à cidadania. Outra intervenção promovida pelo SUAS é a Proteção Social Especial, uma modalidade de atendimento assistencial, destinada a famílias e indivíduos que se encontram em situações de risco pessoal e social, por ocorrência de abandono, maus tratos físicos, e psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias psicoativas, cumprimento de medidas sócio-educativas, situação de rua, trabalho infantil, que considera a necessidades de ações de média e alta complexidades. (NOB/SUAS, pág. 37) Os mesmos requerem acompanhamento individual e maior flexibilidade nas soluções protetivas. Comportam encaminhamentos monitorados. Tem uma relação com o poder Judiciário, Ministério Público entre outros órgãos e ações do Executivo. 23 A intervenção do psicólogo no SUAS é de promover a liberdade, a dignidade, a igualdade e a integralidade das pessoas atendidas por ele, trabalhando no sentido de promover a saúde e a qualidade de vida não somente dos indivíduos, mas também do grupo onde está inserido, quer seja a família quer seja a comunidade, contribuindo para extinção de qualquer forma de discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Para tanto, o profissional, deve analisar o contexto político, econômico, social e cultural, visando o enfrentamento e superação das vulnerabilidades, trabalhando a autonomia do sujeito e suas crenças para que rompam com o processo de exclusão social e oportunizando o empoderamento do sujeito, dos grupos e da comunidade. O olhar socioeducativo sob o olhar da psicologia visa desempenhar trabalhos em grupo, abordando questões como a importância de se trabalhar em conjunto despertando o interesse por atividades coletivas, visto que, auxilia os participantes a situarem a questão em seu contexto social mais amplo, informando, debatendo, orientando para a compreensão do que é vivido e sofrido subjetivamente (CAMPOS, 2005). A convivência é a base do ser social: pertencer a grupos, reconhecer-se num contexto, construir referências de comportamento e valores, perceber e respeitar a diversidade são caminhos que só podem ser percorridos nas relações sociais. Sendo assim alguns valores precisam ser retomados, valores que fortaleçam e desperta o prazer de viver em comunidade, abordando questões como a importância da auto-estima dentro de padrões sociais (CAMPOS, 2005). Através da atuação em grupos, pode-se atender um número maior de famílias num mesmo momento, promovendo a interação entre os mesmos. São proporcionadas através dos encontros, atividades que buscam desenvolver a auto-estima, autonomia, protagonismo, criatividade, capacidade de análise e resiliência (CAMPOS, 2005). 24 Segundo Carvalho (2007), As ações sócio educativas no âmbito da Assistência Social, tem o intuito de promover o convívio social, pois envolve várias dimensões como o desenvolvimento do sentido coletivo, da autonomia da vida, e do reconhecimento e participação da vida pública. Essas dimensões são condição necessária para que crianças, jovens e adultos alcancem, sobretudo, sentido de pertencimento e inclusão social, favorecendo integração a redes de proteção social. A atuação psicológica necessita explorar e compreender os significados presentes nas ações do sujeito, bem como dos grupos de sujeitos, buscando apreender o sentido que leva a determinada direções de relacionamento, conflitos e decisões, com o intuito de encontrar novas formas de lidar com tais problemas. Segundo o Guia de Orientação Técnica, as atividades desenvolvidas revelam coerências com as ações básicas propostas pelos CRAS, onde o profissional de psicologia irá atuar, e podem ser resumidas em: visitas domiciliares e familiares; grupo: oficina de convivência e de trabalho sócio educativo para famílias, seus membros e indivíduos; palestras voltadas à comunidade ou à família, seus membros e indivíduos; atendimentos individuais, encaminhamentos. (SUAS, 2005) As visitas domiciliares têm como objetivo acompanhar de forma mais ativa a realidade das famílias. São utilizadas também para identificar demandas de vulnerabilidades, para que sejam feitos os encaminhamentos. Através dos trabalhos realizados em grupos juntamente com projetos e instituições sócio educativas, o profissional da área de psicologia reconhece a importância de não apenas analisar, mas também vivenciar o cotidiano da comunidade como forma de se inserir na comunidade. Isto sugere a necessidade de utilizar estratégias de inserção variadas que propicie a vivência do cotidiano 25 da comunidade, indo além da busca de dados quantitativos e das visitas institucionais tradicionais. De acordo com Afonso (2006), quando o grupo se inicia, todos chegam trazendo o que é seu, e um grupo quando se forma, é devido a cada individuo que encontrou o seu lugar e sua importância dentro do mesmo. Fazer parte de um grupo, muitas vezes é se sentir valorizado, pois fortalece a auto-estima e prepara o indivíduo para a convivência em diferente contexto. Existem vários tipos de oficinas que podem ser desenvolvidas no CRAS, entre elas: o grupo do tipo oficinas, onde são realizadas oficinas de cultura, de esporte, artesanato, oferecendo oportunidades de lazer e desenvolvendo habilidades e conhecimento, prevalecendo à convivência entre os membros. Já a oficina de reflexão, procura trabalhar algum tema específico. Montero (2006) chama a atenção para a importância do aprofundamento dos conhecimentos sobre a comunidade neste processo de inserção para que haja a identificação real das necessidades daquele lugar e daquelas pessoas e para o desenvolvimento da ação comunitária. Os atendimentos individuais, também conhecidos como escuta/acolhida, embora não esteja diretamente no cotidiano do CRAS, muitas vezes é necessário, para isso é importante que o profissional esteja pronto para acolher, escutar e identificar as demandas para orientar e em seguida encaminhar. O modelo de entrevista é o mais utilizado pelos psicólogos, muitas vezes para diferenciar a ação da perspectiva clínica e dos atendimentos psicoterapêuticos. São utilizados como o instrumento uma ficha de cadastro. Esta é uma atividade também prevista no Guia de Orientação para os CRAS (BRASIL, 2005), o qual indica que: A entrevista é um procedimento técnico que serve para acolher, conhecer, coletar dados, orientar, acompanhar, avaliar e 26 indicar os elementos para trabalhar a família em seu processo de formação cidadã. A entrevista é realizada após a família ter passado pelo serviço de acolhimento/recepção do CRAS. É feito um registro do atendimento e a marcação de uma entrevista ou visita domiciliar, conforme indicação. A entrevista deve ser realizada em local que assegure a privacidade da(s) pessoa(s) entrevistada(s). O instrumento de entrevista é composto de questões comuns a todas as famílias, quantificáveis e objetivas e deve conter questões qualitativas que possam compreender a família em sua singularidade e particularidade. A ênfase é o levantamento de dados sobre as condições de vida e vulnerabilidades da família e a avaliação junto com ela sobre o risco de violação de direitos. Os questionamentos ou perguntas devem, sempre que possível, buscar captar a percepção do(s) entrevistado(s) de suas dificuldades, potencialidades e demandas. Deve, também, apresentar o parecer técnico que expresse a síntese técnica do atendimento. Conforme estabelece a Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do SUAS (NOB-RH/SUAS), atuam no CRAS, assistentes sociais, psicólogos e, em alguns casos, também outros profissionais (BRASIL,2006b). Portanto o trabalho de assistentes sociais e psicólogos nas políticas de Assistência Social requer interface com as políticas da saúde, previdência, educação, lazer, trabalho, meio ambiente, comunicação social, segurança e habitação, na perspectiva de mediar o acesso dos cidadãos aos direitos sociais. As duas profissões podem somar-se com intuito de assegurar uma intervenção interdisciplinar capaz de responder as demandas individuais e coletivas, defendendo a construção de uma sociedade livre de todas as formas de violência e exploração de classe, gênero, etnia e orientação sexual. 27 Para exercer trabalhos como esses citados acima, o psicólogo precisa entender a demanda e essa é ao mesmo tempo uma demanda de objeto, uma dimensão não explícita que expressa um desejo, uma falta mais difícil de ser percebida - oferecer tempo, disponibilidade para relação, promoção da qualidade de vida das pessoas e das coletividades e contribuir para a eliminação de quaisquer formas de discriminação, exploração e violência. Portanto, quando se trata de políticas públicas sociais, devemos ter em mente que essas só cumprirão de fato seus objetivos quando tiverem como compromisso a diminuição das desigualdades sociais. 28 3- A Psicologia Social e Serviço Social Este capítulo foi elaborado com o intuito de se conhecer os objetos de estudos da Psicologia Social e do Serviço Social na assistência social e entender suas específicidades. Ao pensar sobre a prática interdisciplinar de ambas as áreas, torna-se interessante apresentar alguns parâmetros que diferenciam uma profissão da outra no âmbito social. O psicólogo e a sua relação com o trabalho interdisciplinar enfatizam a formação integral do sujeito, tornando-se importante trabalhar esta “totalidade da atividade humana” (CONTINI, 2003) de maneira que articula e complementa com outros saberes. Segundo as orientações técnicas do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), as ações dos profissionais que atuam no CRAS devem (...) provocar impactos na dimensão da subjetividade política dos usuários, tendo como diretriz central a construção do protagonismo e da autonomia, na garantia dos direitos com superação das condições de vulnerabilidade social e potencialidade de risco (BRASIL, 2006a, p.13). A Psicologia Social e o Serviço Social, são duas áreas do conhecimento científico, muito próximas uma da outra, devido ao fato de que seus respectivos objetos de estudos estão estreitamente ligados. Considerando então, o objeto de estudo da Psicologia Social e do Serviço Social, parece ser interessante pensar sobre possibilidades de construções teóricas e metodológicas que resultem da capacidade de diálogo das disciplinas em questão. A regulamentação da Psicologia como profissão ocorreu em 1962, como citado anteriormente com a ditadura militar em 1964, fora impedido de exercer o seu trabalho no âmbito social, influenciando a idéia de que o psicólogo só fazia Psicoterapia. No final dos anos oitenta, surgiram movimentos de mudanças na 29 atuação do profissional adotando assim, o compromisso social, como norteador da atuação psicológica. Intervindo através da política de Assistência Social, o psicólogo deve estar atento aos processos de sofrimentos instalados nas comunidades, principalmente onde as famílias estabelecem seus laços mais significativos. Sendo assim, o psicólogo trabalha com o intuito de promover a qualidade de vida do indivíduo e da coletividade. Seu trabalho envolve ações relacionadas à comunidade em geral, realizando estudos sobre a relação do indivíduo na sociedade. O Serviço Social surgiu no Brasil em 1936, se regulamentando como profissão em 1957 e sendo reconceituada na década de sessenta. Atua em programas como o Centro de Referencia a Assistência Social – CRAS, Centro de Referencia Especializado de Assistência Social – CREAS e Proteção e Atendimento Integral de Apoio a Família – PAIF. Tem como objetivo, tratar questões do direito, trabalho, educação, as quais as famílias que vivem em situações vulneráveis enfrentam. Tais situações demandam ao Serviço Social métodos de intervenção que vão além de medidas ou projetos de Assistência Social Dentro do que o Assistente Social trabalha, são desempenhadas funções que engloba atividades individuais, familiares e grupais fazendo atendimentos às necessidades básicas. Essa dimensão não deve se confundir com o atendimento psicoterapêutico a indivíduos e famílias (próprio da Psicologia), mas sim uma orientação ao individuo no sentido de identificar recursos e fazer o uso dos mesmos no atendimento e na defesa dos seus direitos. A natureza social do fenômeno psíquico, ou seja, a construção do mundo interno a partir das relações sociais vividas pelo homem é de suma importância para a Psicologia Social. E pelo fato da Assistência Social ter como seu objeto 30 de estudo, as questões sociais em suas múltiplas expressões, é que essas duas áreas do saber são próximas. O campo da Assistência Social quem tem objetivo principal, tratar questões sociais, e a reflexão quanto à visão de mundo dos profissionais que atuam na área, torna-se imprescindível. Esta influencia a relação estabelecida com a prática, desde o posicionamento que assume em relação ao pensamento hegemônico em nossa sociedade e que se reflete diretamente em sua atuação cotidiana. A Assistência Social constitui como: “(...) uma área que não foi concebida como campo de definição política dentro do universo das políticas sociais, constituindo-se num mix de ações dispersas e descontínuas de órgãos governamentais e de entidades assistenciais que gravitando em torno do Estado, construíram relações ambíguas e contraditórias”. (Degensjajn, 2006, p.5) Sendo assim, o objetivo da inserção de psicólogos e assistentes sociais no Sistema Único de Assistência Social (SUAS), é de produzir contribuições para as políticas de Assistência Social, pautando no compromisso com situações em que a sociedade vem enfrentando, discutindo técnicas e estratégias para a atuação dos profissionais nas políticas públicas. Muitas vezes o trabalho em conjunto entre profissionais do Serviço Social e da Psicologia Social constitui um ponto de conflito e muitas vezes geram dúvidas para o psicólogo acerca de seu papel profissional, a complementaridade e a especificidade em relação a sua atuação com assistentes sociais e outros profissionais. O psicólogo deve apropriar-se dos princípios e diretrizes das legislações da Assistência Social, necessárias em seu cotidiano de trabalho (Conselho Federal de Psicologia e Conselho Federal de Serviço Social, 2007). 31 Dessa forma, os profissionais de psicologia e serviço social, ao trabalharem de forma interdisciplinar, deverão fazer primeiramente, uma reflexão epistemológica, sobre a concepção do ser humano no berço social, concepção essa, que muitas vezes fica subentendida a partir das teorias, métodos e metodologias utilizadas. O psicólogo social, quando engajado numa prática no campo da Assistência Social, sentirá a necessidade de aguçar o seu olhar crítico nas relações hegemônicas da sociedade, nas políticas públicas existentes e construídas neste contexto, e nas condições concretas de vida da população atendida. Refletir sobre esta prática profissional implica em uma análise da inserção da Psicologia no campo da Assistência Social, contextualizando o momento atual de implementação do SUAS e do movimento de compromisso social emergente na Psicologia nas últimas duas décadas. Encontramos uma proliferação de práticas e trabalhos comunitários dirigidos a uma variedade de problemáticas. Dessa forma, observamos o crescimento de inúmeras organizações não governamentais, que constituíram suas intervenções para várias finalidades e de forma segmentada, em uma lógica historicamente construída nas políticas públicas de Assistência Social. A prática psicológica na Assistência Social encontra assim, o desafio de ampliar o debate entre os diversos atores da política dessa área e de investir na sistematização das práticas, buscando uma maior clareza, na definição de parâmetros para uma intervenção comprometida com a transformação social. Ao contrário do que se pensam os avanços no discurso na área da Assistência Social, assim como da própria Psicologia, ainda não são acompanhados de avanços no cotidiano da ação, ou seja, Assistentes Sociais e Psicólogos tem uma função importante na sociedade, no sentido de debater 32 sobre o reconhecimento e a defesa do papel na Assistência Social, garantindo melhoria nas condições de vida, tratando questões como a desigualdade social. 33 5- Conclusão No contexto da política pública de assistência social os psicólogos são confrontados com uma realidade complexa e com a necessidade de desenvolver ações terapêuticas de socialização e de reinserção. A atuação desse psicólogo é marcada por perspectivas que recomenda o trabalho em equipe, em grande parte das atividades há uma necessidade de realizar um diálogo interdisciplinar. Daí a importância de reuniões de equipe para discutir e planejar intervenções. Os capítulos citados na pesquisa foram mencionados a propor um estudo da atuação desse profissional comprometido com a transformação social e dos desafios enfrentados no dia a dia na construção de uma consciência ética e política de cada indivíduo. Observa-se que, o fortalecimento da presença desses profissionais, implica no desencadeamento de um processo que requer, entre outros aspectos, o investimento na formação continuada, no desenvolvimento de novas pesquisas que valorizem a prática profissional, na participação e posicionamento dos psicólogos em outros espaços sociais de discussão sobre a atuação e na apropriação estratégica dos profissionais, dos espaços de debate abertos, pelos gestores da assistência social. Nessa pesquisa dentre muitas descobertas, pode-se perceber que o processo de trabalho do psicólogo no CRAS, cabe aos profissionais da assistência social, que apesar da experiência com equipes multidisciplinares, ainda mantém uma ausência de capacitação específica, para a atuação dos psicólogos. Sendo assim, o papel do psicólogo e do assistente social muitas vezes acaba sendo confundido, ficando diluído nas angústias do tarefismo e na repetição mecânica da burocracia, já que os profissionais encontram muitas 34 dificuldades no rompimento com esse círculo danoso para uma prática comprometida com a transformação social. Logo, acredita-se que é necessário ampliar o conhecimento sobre a experiência dos profissionais no âmbito das políticas públicas, contribuindo para a qualificação e a organização no trabalho. Observa-se, portanto, que existem reflexões sobre as possibilidades de uma construção de saberes e práticas interdisciplinares e questionamentos que permitem a interface das profissões, sendo eles: estratégias que são utilizadas pelos profissionais da área para buscar garantir a adesão às atividades de intervenção proposta; capacitações nos locais de trabalho; a organização de grupos de estudos que discuta os princípios de cada profissão; estratégias e soluções que envolvem um esforço de aproximação da comunidade e na busca de parcerias com instituições. Pela revisão literária feita é possível visualizar a importância do compromisso social dos profissionais da psicologia com a política de assistência social. 35 6- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: AFONSO, Lucia (org). Oficinas em dinâmica de grupo: um método de intervenção psicossocial. São Paulo: Editora Casa do Psicólogo, 2006. BRASIL (1993). Presidência da República. 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