MODELOS NUMÉRICOS EM GEOCIÊNCIAS José Ricardo Sturaro1, José Silvio Govone2 1 2 DGA/IGCE/UNESP/ Rio Claro, SP, Brasil, [email protected] DEMAC/IGCE/UNESP/ Rio Claro, SP, Brasil, [email protected] Resumo: A aplicação de métodos ou modelos numéricos é insuficiente para descrever um dado probabilístico. Por em Geociências tem aumentado consideravelmente nas exemplo: ultimas décadas. Isto se deve ao fato prático do avanço - um lançamento de um dado produz valores aleatórios extraordinário dentro de um conjunto [ 1, 2, 3, 4, 5, 6] da informática que possibilitou o processamento de grande quantidade de informações, O conjunto de resultados e suas probabilidades comumente encontrada como resultados dos fenômenos em associadas são denominados como lei de probabilidade ou Geociências. Considerando que estes resultados não se distribuição de probabilidade de uma variável aleatória. adequam aos modelos determinísticos, recorreu-se aos Apesar fundamentos das variáveis aleatórias, cujo processamento influenciaram no valor da variável, é possível prever a um intenso, possibilita obter um dos alvos mais importantes da valor médio em locais não amostrados, baseado nos dados já Geociências, que são as estimativas em locais não coletados, de acordo com os recursos das funções aleatórias. amostrados. Dentro deste contexto, destacam-se os métodos Solos e rochas, dos quais resultam as propriedades estatísticos e geoestatísticos ou, ainda, modelos numéricos geocientificas constituem-se de materiais de elevada determinísticos, porém conduzidos pelos procedimentos heterogeneidade e conforme a escala de mapeamento a ser estocásticos. adotada, a hipótese de uma classificação homogênea pode se da nossa ignorância dos mecanismos que revelar totalmente inadequada. Este importante aspecto Palavras-Chave: Geoestatística, Variograma, Krigagem torna-se mais evidente quando se deseja quantificar as 1. INTRODUÇÃO variabilidade natural destas propriedades. Nestes casos, é propriedades dos solos ou das rochas, sem considerar a Os modelos matemáticos básicos aplicados em Geociências são os modelos determinísticos e os usual a atribuição de valores numéricos para zonas consideradas homogêneas, os quais, porém, não apresentam qualquer significado prático. A variabilidade é considerada probabilísticos. Os modelos determinísticos são os que apresentam por somente um único valor, cuja determinação seguramente resultados exatos, como por exemplo, a área de um círculo, envolve julgamentos pessoais ou, ainda, é ignorada, quando o volume de uma esfera ou ainda aproximações físicas a média aritmética ou outro valor médio, obtidos do como a velocidade de queda de um objeto no vácuo e conjunto de amostras, são empregados como parâmetros no outros. modelamento dos projetos. Os modelos probabilísticos estão relacionados com as Por outro lado a aplicação da estatística clássica está, por variáveis aleatórias. Estas variáveis podem assumir um valor razões formais, limitada, nas avaliações de variabilidade, entre muitos valores possíveis, isto é somente um valor fixo pela dispersão dos valores em torno de um valor médio ou de tendência central. A variabilidade espacial das 1 Proceedings of the 9th Brazilian Conference on Dynamics Control and their Applications Serra Negra, SP - ISSN 2178-3667 1489 Titulo do Trab Autor 1, Autor 2, Autor 3, etc. propriedades físicas, resultantes de uma formação complexa variáveis associadas a esses fenômenos nos diversos pontos de amostragem. como solos e rochas, requer um novo conjunto de Tal complexidade de processos que originam os dados, faz ferramentas para sua análise. A importância da variabilidade espacial pode ser parecer que os mesmos possuem um comportamento ressaltada, por exemplo, quando se classificam solos aleatório, quando, de fato, eles apenas refletem o segundo algumas propriedades geotécnicas, isto é dois solos desconhecimento que se tem de todos os processos e de suas distintos podem possuir a mesma distribuição de freqüência, interações no fenômeno natural. Dentro deste contexto, os com médias e variâncias estatisticamente iguais, porém a modelos probabilísticos surgem como uma alternativa variação espacial das propriedades em análises, dentro de consistente para modelar este comportamento, por meio do cada tipo de solo, pode ser completamente diferente. uso de funções aleatórias. As propriedades em geociências, dado às suas Para contornar esta situação, pode-se trabalhar com características, enquadram-se no universo de variáveis, determinadas funções aleatórias, definidas em condições de cujos valores são respostas a processos naturais, como estacionariedade espacial, que fornecem subsídios para geológicos, pedológicos e outros. estimar Desta forma, a metodologia da geoestatística, fundamentada nos modelos os parâmetros básicos da distribuição de utilizadas em probabilidade em locais não amostrados. probabilísticos, constitui uma abordagem apropriada para quantificar a aparente aleatoriedade das variáveis 2. FUNÇÃO VARIOGRAMA Dentre geociencientíficas, efetuando estimativas e avaliando-se as funções que são geoestatística, destaca-se o semivariograma incertezas. Na análise Geoestatística, a variabilidade espacial é derivado do momento de inércia calculado para uma variável Z(x) em avaliada e modelada, para em seguida se empregar técnicas diversos intervalos de distância para uma direção h, cujo apropriadas de estimativas, cujos resultados serão imagens gráfico da Figura 1 demonstra a dedução do semivariograma representativas da distribuição no espaço, das propriedades [8]. que estão sendo analisadas. É necessário ter-se um modelo do comportamento do fenômeno natural do qual resultou as variáveis em estudo, entretanto o conhecimento em detalhes do comportamento de fenômenos naturais, é de difícil alcance. Basta imaginar a gênese complexa do teor de argila, como produto da ação do intemperismo sobre as rochas, originando os solos ou então a formação de uma pluma de contaminação por efluentes tóxicos. Caso houvesse um perfeito conhecimento dos processos físicos e/ou químicos que geraram os valores das variáveis, poder-se-ia, então, usar modelos determinísticos com um número pequeno de amostras, para se fazer estimativa. Acontece, porém, que para a análise das variáveis, oriundas de fenômenos naturais, é necessário admitir alguma incerteza nos resultados das Figura 1: Diagrama de dispersão de uma variável Z(x) para uma determinada distância h. O momento de inércia, definido neste contexto como semivariograma, constitui-se na metade da média das diferenças quadráticas entre as coordenadas de cada par de pontos do diagrama de dispersão espacial de Z(x), ou seja: 2 Proceedings of the 9th Brazilian Conference on Dynamics Control and their Applications Serra Negra, SP - ISSN 2178-3667 1490 Para a confecção do semivariograma as seguintes 2 1 n = - Z Variograma Z x + h 2n i = 1 x suposições básicas são requeridas: - as diferenças entre pares de valores de amostras (1) são determinadas pela orientação espacial relativa dessas amostras; O valor ½ da equação representa a distância - ao assumir as condições de estacionariedade os perpendicular dos pontos em relação à linha de 45º (graus) valores da área de interesse não apresentam tendência que do diagrama de dispersão. Esta divisão por dois resulta na possa afetar os resultados e assim a preocupação será apenas denominação de semivariograma, porém, muitos autores com a variância das diferenças entre valores das amostras. chamam simplesmente de variograma Nota-se neste caso que uma função do tipo esférica é De forma geral, o semivariograma é a função de representativa da seqüência probabilística proposta, isto é, incremento com a distância h em uma determinada direção quando a probabilidade do evento anterior ocorrer é de 3/4. visto que, quanto mais afastados forem os pontos de 3. ESTIMATIVA LINEAR: KRIGAGEM amostragem, mais seus valores em média deverão ser A krigagem constitui-se num método de estimativa diferentes. Esta característica reflete bem a noção de zona de linear e local, efetuado dentro de vizinhanças estacionárias, influência de uma amostra [9]. que procura minimizar, sem viés, o erro de estimativa, levando em consideração as características espaciais de autocorrelação de variáveis regionalizadas. Nessas variáveis deve existir certa continuidade espacial, o que permite que os dados obtidos por amostragem de alguns pontos possam ser usados para parametrizar a estimação de pontos onde o valor da variável seja desconhecido. Ao ser constatado, inclusive, que a variável não possui continuidade espacial na área estudada, não tem sentido efetuar estimativas e/ou interpolações usando a krigagem. Obedecida, porem essa condição a krigagem pode Figura 2 – Esquema padrão de um modelo variográfico ser aplicada para: perfeito 1) previsão do valor pontual de uma variável regionalizada Desta forma, quando se calcula o momento de inércia em um determinado local dentro do campo geométrico; é para vários intervalos de distância, elabora-se um gráfico um procedimento de interpolação exato que leva em para de consideração todos os valores observados, o qual pode ser a semivariograma experimental da variável Z(x). Estes base para cartografia automática por computador quando se semivariogramas são normalmente feitos para várias dispõe de valores de uma variável regionalizada dispostos direções, notadamente aquelas que possuem maior e menor por uma determinada área; continuidade 2) cálculo médio de uma variável regionalizada para um uma determinada da variável, direção, denominado constatadas em trabalhos volume maior que o suporte geométrico da amostragem. preliminares de campo e mapas de isovalores das O estimador pode ser assim expresso: propriedades que estão em análise. 3 Proceedings of the 9th Brazilian Conference on Dynamics Control and their Applications Serra Negra, SP - ISSN 2178-3667 1491 Titulo do Trab Autor 1, Autor 2, Autor 3, etc. Z* = n γ (v,V ) : λi Z( xi ) i =1 representa o semivariograma médio entre os elementos do conjunto de amostras estimadoras com suporte (2) onde são os pesos associados às informações Z(xi) e Z* refere-se à estimativa de um ponto, de uma área ou de um v e o domínio v a ser estimado; este termo considerada a volume. posição das amostras em relação á unidade a ser avaliada. atribuídos aos valores de Z(xi), entretanto há interesse γ (v, v ) : constitui-se no valor médio do semivariograma somente por uma combinação que forneça o melhor entre todas as amostras estimadoras de suporte v, situadas na estimador não enviesado. As condições básicas para que esta vizinhança de estimativa; este termo considera a influência situação seja atingida são: o valor estimado deve ser não relativa das posições das amostras. enviesado e a variância da estimativa ser minimizada γ (V ,V ) : Existe uma infinidade de pesos que podem ser O não viés requer que o erro de estimativa seja em entre todos os possíveis pontos dentro da unidade V; desta média igual à zero: { } forma são consideradas as feições geométricas da unidade a E Z (xo ) - Z * = 0 (3) ser estimada. Para isso é necessário estabelecer a condição Para minimizar esta equação, sujeita a condições de λi = 1 , não enviezamento visto que, λi , E{Z * } = m i = E{Z(x o )} onde { } E z* (4) λ i = 1 , em relação aos ponderadores faz-se o uso da técnica Lagrangiana, com o desenvolvimento das n derivadas parciais e igualando-as a zero; matematicamente, tem-se: é a variância mínima de estimativa A equação geral da variância de estimativa, que usa um conjunto de amostra s i pode ser assim expressa: n 2 =2 σE representa o valor médio do semivariograma n n λi γ (s i , V ) i =1 ( λi λ j γ s i , s j δα E2 =0 δλi para i = 1, 2, 3.......n (6) ) Este procedimento gera um sistema linear de n+1 equações, conhecido como sistema de equações de krigagem. A i =1 j =1 solução deste sistema gera os ponderadores ótimos assim _ + γ (V , V ) como, a variância da estimativa. (5) onde : γ λi são os pesos para cada amostra s i é a função semivariograma médio V corresponde ao domínio a ser estimado, podendo ser um bloco, área ou ponto v é um elemento do conjunto de amostras com suporte v. O significado de cada termo da equação geral de variância de estimativa é o seguinte: REFERÊNCIAS [1] CLARK, I. Pratical geostatistics. London: Applied Science Publishers , 1979. 129p [2] DAVIS, J.C. Statistics and data analysis in geology. New York: John Wiley , 1986. 646p. [3] DEUTSCH, C.V. Geostatistical Reservoir Modeling. Oxford University Press. New York, 2002. 376 p. 4 Proceedings of the 9th Brazilian Conference on Dynamics Control and their Applications Serra Negra, SP - ISSN 2178-3667 1492 [4] DEUTSCH, C.V., JOURNEL, A.G. GSLIB: Geostatistical Software Library and User’s Guide: 2nd. Ed. Oxford Univ. Press, New York, 1992. [5] GOOVAERTS, P. Geostatistics for Natural Resources Evaluation. Oxford Univ. Press. New York, 512 p. 1997. [6] GOOVAERTS, P. 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