Reatividade do grupo carbonila: Construção do esqueleto carbônico por condensações Armin Isenmann Parte I: os princípios da homocondensação e retro-síntese Reatividade do grupo carbonila (incl. equilíbrio ceto-enol). O alvo 1,3-difuncional, a partir dos componentes pseudo-ácido e aceitador (incl. descarboxilações). Manipulação das reatividades em condensações mistas: 1. 2. 3. 4. 5. Utilização de um pseudo-ácido com baixa tendência de condensação consigo mesmo e/ou um aceitador sem α-H. (incl. Aminometilação de Mannich) Desativação do pseudo-ácido por formação de uma imina. Ativação do pseudo-ácido pela estabilização da forma enólica. Emprego de um pseudo-ácido duplamente ativado (condensações de Knoevenagel). Com bases muito fortes se consegue desprotonar o pseudo-acido quantitativamente em uma etapa preliminar. Reatividade do grupo carbonila Definição: Condensação é a unificação de dois compostos orgânicos sob formação de uma nova ligação carbono-carbono. Ampliação do esqueleto carbônico a partir de um substrato A com carbono eletrofílico e um substrato B com carbono nucleofílico. Caso A = B : “Homocondensação” ou “autocondensação” A ≠ B : “Condensação mista” ou “condensação cruzada” Um carbono positivado (= eletrófilo) reage com um carbono carbanóide (= nucleófilo). O grupo carbonila pode providenciar os dois componentes: Carbono nucleofílico em posição α ao grupo carbonila Tautomeria CH C O Enol Base, - H+ O C δ+ Carbono positivado: Efeito do oxigênio –I >> +M OH Mesomeria C C O- O Enolato Tautomeria Deslocamento reversível de um próton e uma ligação π ao mesmo tempo. Não é uma mesomeria, mas sim, um verdadeiro equilíbrio entre dois compostos isoméricos. Tautomerias são bastante comuns na química orgânica •ceto - enol •azometina (= imina = base de Schiff) – enamina •amida (ou lactama) – ácido imido carboxílico •endiol - α-hidroxicetona (na vitamina C) •nitro - aci •nitroso – oxima (aldoxima ou cetoxima) •ácido hidroxâmico – carbiminodiol Formas da catálise da tautomeria ceto-enólica E Base Nu - H+(ou E+) δ− H δ+ O R CH C forma ceto R CH C R CH C + H+ - H+ + E+ O O H+ OH - H+ Ânion enolato R CH C Base + H+ OH OH - H+ R CH2 C - H+ R CH2 C Cátion carbênio (oxônio) + H+ forma enol O enolato e também o enol são carbanóides em posição α ao grupo C=O. São sujeitos de ataque por eletrófilos. O equilíbrio ceto-enol é acelerado por ácidos e por bases. Em qualquer caso a tautomeria passa por uma forma intermediária carregada. Portanto, a polaridade do ambiente (solvente, teor de água, presença de sais) acelera esta reação. Em compostos carbonilados simples a forma ceto é dominante. Acetona: apenas 0,00025% em propenol. Comprovantes para a forma enólica: A espectroscopia r.m.n. revela uma posição especial dos sinais 1H (δ de até 17ppm) Deslocamento das bandas de absorção no espectro infra vermelho O composto carbonilado troca H por D em posição α, ao colocá-lo em D2O ou C2H5OD Pode-se adicionar bromo na dupla ligação da forma enólica A velocidade da troca de hidrogênio, entre oxigênio e carbono α é bastante baixa. Titulação com Br2: A reprodução do enol pelo equilíbrio dinâmico dentro do tempo experimental é desprezível, desde que se trabalha abaixo da temperatura ambiente. forma enólica: O H CH C O H - Br- CH C Br Br Br - H+ Titulação forma ceto: O CH2 C O + Br2 CH C Br Observação: no ácido carboxílico também pode-se discutir uma tautomeria. Porém, a adição de bromo não funciona por que a densidade eletrônica deste “enol” é muito baixa. Portanto, a αbromação precisa da presença de um catalisador. (Reação de Hell-Volhard-Zelinsky) O que estes três compostos têm em comum? OH 1 OH 2 3 O OAc 1 2 3 NH2 2 1 O Grupos funcionais nos carbonos 1 e 3. 3 O alvo 1,3-difuncional Retro-síntese (símbolo ⇒): 1. Analisar o esqueleto carbônico da molécula alvo (TM = Target Molecule) 2. Transformar todos grupos funcionais em oxigênios de NOX certo usando transformações entre grupos funcionais (FGI = Functional Group Interconversion) ou desconexões C-X. 3. Desconectar dois carbonos do esqueleto, geralmente os mais ramificados e mais centralizados, usando uma reação de condensação. •1,3-bifuncionais e compostos carbonilados α,β-insaturados (= sistema de Michael) •1,5-bifuncionais •1,2-bifuncionais •1,4-bifuncionais •1,6-bifuncionais 1,3 e 1,5 podem ser feitos a partir de sintons com polaridade natural. O R1 OH OH O R2 + R1 CH2 Alvo 1,3-bifuncional Aldol R2 Aldeído (protonado) = sinton eletrófilo O R1 CH2 Enolato = sinton nucleófilo Sintons naturais e reagentes para condensações Nucleófilo: enolato ou enol Reagente Sinton O R X O R X X = H, OEt, Alq, Ar Eletrófilo: Reagente Sinton R OH O CH CH R R1 R1 OH R2 R2 O R O O C R C X X = Cl, OEt Reagente Sinton O O ⇐ Alvo 1,5-difuncional R R Sistema conjugado (sistema Michael) Sintons não-naturais que levam aos alvos 1,2 e 1,4-difuncionais: O R O R O R Nucleófilo: Enolato, ou mais em geral, um carbono desprotonado. Segue: Tabela de ácidos C-H e as bases necessárias para sua desprotonação Fonte: S. Warren, Organic Synthesis - The Disconnection Approach, Wiley & Sons, Chinchester 1982, p. 143 Compostos 1,3-difuncionais: 1,3-dicarbonila β-hidroxicarbonila (= aldol) Carbonila α,β-insaturada Nucleófilo em todos: enolato 1,3-Dicarbonilas vêm da acilação do enolato → Condensação de Claisen Catalisador = base (muitas vezes EtO-); Reagente acilante (= eletrófilo): éster ou cloreto do ácido carboxílico Exemplos • Como fazer O O OEt ? O O O b C a O a OEt + Alvo EtO C OEt ruim: separou dois fragmentos desiguais b O O OEt C Base OEt O O C C EtO OEt Éster adípico bom: só uma molécula de partida, simétrica = limpo ciclização, intramolecular = fácil, rápido Exemplo 2: inclui decomposição do composto 1,3-dicarbonila O 2x R C O OEt EtO- C OEt R hidrólise H2O / OHR O descarboxilação H+, ∆ Rota padrão para cetonas simétricas. Excurso: Como funciona a descarboxilação térmica? 1) Liberar o ácido carboxílico livre (= hidrólise do éster) 2) Aquecer e desprender o gás carbônico. R R O H O O C C C ∆ - CO2 O OH O C C C C Enol Regra geral: Um ciclo de 5 ou 6 membros é uma conformação favorável. Caso o estado de transição pode ser formulado assim, A energia de ativação é baixa, então a reação é fácil e rápida! H β-hidroxicarbonila eletrófilo = aldeído ou cetona Mais reativo é o aldeído (Porquê? Duas respostas certas.) Exemplo: • Como fazer O OH ? O O HO 1 2 O 3 + Alvo O Síntese: 2 Base Alvo Base: Ba(OH)2 = insolúvel; retirada imediata do alvo da zona reativa A condensação é realizada favoravelmente no extrator Soxhlet: Remoção de um dos produtos = Técnica mais importante de levar reações equilibradas até altos rendimentos! Controle termodinâmico Em condensações: 1. Tirar H2O (subproduto de enonas, feitas por condensação aldólica, cat. ácida ou por condensação de Knoevenagel) 2. Desprender CO2 , a partir de intermediários β-cetoácidos e 1,3-diácidos 3. Depositar o produto 1,3-dicarbonila em forma de complexo num cátion duro: O O O O Base Sal, insolúvel Composto carbonilado α,β-insaturado É muito fácil a desidratação da β-hidroxicarbonila (= aldol): 1) o próton a ser removido em posição α é enólico 2) o produto é estabilizado por conjugação (∆H (conjugação) ≈ 15 - 17 kJ⋅mol-1) OH O H+ CH H R OH2 CH H O O R - H2 O - H+ CH R Reação anterior, esta vez sob catálise ácida: não pára na β-hidroxicarbonila O 2 H3C + [H ] C CH3 - H2O H3C CH3 C CH C O CH3 "Óxido de mesitila" Análise: O O + O Outro exemplo: O O O Onde quebrar? O O O + O Condensações mistas Nucleófilo (= componente metilênico = pseudo-ácido) é diferente do eletrófilo (= carbonílico = aceitador). Objetivo principal é direcionar as reatividades, isto é, marcar o papel do eletrófilo em um composto carbonilado e do nucleófilo, seletivamente, em outro composto carbonilado. Assim se forma somente um produto. Problema: Os dois compostos carbonilados têm reatividades muito semelhantes! Ph O Ph O + CHO CH3 Síntese não funciona bem! Alvo problema 1. Quem enoliza? 2. No caso da cetona, em que lado enoliza? 3. Quem é eletrófilo? (Esses problemas se anulam ao usar dois componentes simétricos e/ou idênticos.) As reatividades como nucleófilo e eletrófilo não se opõem, mas geralmente aumentam juntos: Enolizabilidade Eletrofilia Amida Éster Cetona Anidrido Aldeído Cloreto de acila Régio-seletividade em cetonas assimétricas Controle cinético vs. Ambiente básico Via única Temperatura baixa Produto mais rápido Controle termodinâmico Ambiente ácido Sistema equilibrado Temperatura alta Produto mais estável Exemplo: autocondensação da etilmetilcetona O O O OH O Base O Ácido OH OH O Porém: A escolha das condições certas é delicada! Melhor usar uma das... Técnicas de manipulação das reatividades em Condensações Mistas Reatividade do grupo carbonila: Construção do esqueleto carbônico por condensações Parte II Técnicas de manipulação das reatividades em condensações mistas 1. Utilização de um pseudo-ácido com baixa tendência de condensação consigo mesmo e/ou um aceitador sem α-H. 2. Desativação do pseudo-ácido por formação de uma imina. 3. Ativação do pseudo-ácido pela estabilização da forma enólica (enoléter / enamina). 4. Uso de um pseudo-ácido duplamente ativado (= condensações de Knoevenagel). 5. Com bases muito fortes se consegue desprotonar o pseudo-acido quantitativamente em uma etapa preliminar. Nitroalcanos são bastante usados em condensações mistas: só podem ter o papel do pseudo-ácido. Técnica 1: usar compostos carbonilados não-enolizáveis O R1 R1,2 = H, OEt, Cl, Ar, Bu-t, COOEt R2 Exemplos: O O H EtO O Cl EtO O OEt Condensação de Claisen-Schmidt Cetona + aldeído aromático O- O H3C C CH2 Ar H O - H2O C + H3C C H3 C C O CH2 CH Ar H OH + H3C C CH2 CH Ar O CH CH Ar O Cetona α,β− insaturada Estratégia principal para os derivados do ácido cinâmico. Síntese do ácido cinâmico segundo Perkin Anidrido + benzaldeído Base: Acetato Sem solvente adicional o acetato age como base forte! (em soluções aquosas, por outro lado, os sais de ácidos carboxílicos são bases fracas, devido a camada de solvente em volta dos ânions.) O C C6H5 - H3C C O C CH3 O O + AcO - AcOH H3C C O C CH2 O H O H3C O - C6H5 CH O C O C CH2 O H3C C O H O C6H5 CH CH C O - ∆ - AcOH β-Eliminação C6H5 CH CH COOSal do ácido cinamômico O Condensação com o éster do ácido fórmico O Ph C CH3 O + H C - O + [ C 2H5O Na ] Ph C CH2 CH OC2H5 Acetofenona = pseudo-ácido OOC2H5 Aceitador O Ph C CH2 CH O + HOC2H5 Condensação com o éster do ácido oxálico O éster do ácido oxálico, além de não ter um grupo metileno em posição α, é um aceitador mais forte do que o éster simples. Isto se deve à presença do segundo grupo acila em posição vizinha = retirador de elétrons. Assim o carbono do grupo carboxílico fica mais positivado (= mais eletrofílico) ainda. Portanto, ele pode ser usado em condensações mistas com cetonas ou outros ésteres – o produto sempre fica definido. O O O H3C CH2 C + C2H5O C C OC2H5 OC2H5 Pseudo-ácido Aceitador + C 2H5O- Na+ - C 2H5OH O O H3C CH C C OC2H5 COOC2H5 O O H3C CH C C OC2H5 COOC2H5 120 °C - CO O H5C2O C Ao aquecer o produto primário desta síntese acima de 100 °C acontece uma descarbonilação (essa degradação é típica somente para os compostos 1,2-dicarbonilados). Produto: Derivado do ácido malônico 2-substituído O CH C OC2H5 CH3 Éster 2-metilmalóico Esta estratégia serve para produzir β-oxoéster e ésteres malônicos mono-substituídos - que não podem ser obtidos de maneira satisfatória via alquilação do próprio éster malônico. (Porquê?) Condensação com o éster do ácido carbônico Com cetonas para β-oxoésteres, com nitrilas para ésteres do ácido cianoacético. Atenção: os ésteres do ácido carbônico são cancerígenos! O O O α + C2H5O C δ+ OC2H5 Dietilcarbonato + C 2H5O- Na+ - C 2H5OH H C O OC2H5 Outras condensações mistas com ésteres Mais sensível às condições reacionais (solvente, temperatura, base), mas também viável é a maioria das condensações mistas entre ésteres e cetonas e entre ésteres e nitrilas. Nestes casos, o éster tem predileção de ser o componente carbonílico: R3 O O 3 1 R CH2 R C C R1 4 R C CH O OR2 R4 C + R2OH + R2OH O β -dicetona R3 O 3 1 R CH2 C N R C OR 2 R1 C O CH C N β -oxocarbonitril Restrições: Rendimentos típicos em todas essas condensações: cerca de 50%. Porquê? O produto da condensação é quase sempre um composto duplamente ativado (= 1,3-dicarbonilado) ⇒ reagem com muita facilidade como pseudo-ácidos. Consequência: desprotonação, condensação com mais um componente carbonílico, “supercarbonilação”. Para reprimir esta reação paralela deve-se usar: 1) pequena quantidade de base (no exemplo acima: etóxido) 2) evitar um excesso do componente carbonílico na mistura Além disso: Todos os compostos 1,3-dicarbonilas podem sofrer “clivagem de ácido” (= reversa da condensação; ocorre sob catálise básica) e “clivagem de cetona” (= descarboxilação de ácidos carboxílicos β-substituidos), especialmente durante um tratamento prolongado a temperaturas altas e sob influência de uma base (que é essencial na condensação de Claisen). Caso especial: Formaldeído • F. é reativo demais • podem ligar-se mais de um F. (= aceitador) ao componente metilênico • F. polimeriza • F. disproporciona aos poucos (Cannizzaro) Muitas desvantagens, mas existe uma condensação mista que aproveita da reatividade do formaldeído: HO Síntese do pentaeritritol OH HO OH Síntese de pentaeritritol Acetaldeído + formaldeído + base O H3C [ Base ] + H2C O C HO CH2 O CH2 C H Pseudo-ácido + B- HB HO CH2 O CH C H H O CH2OH Aceitador (excesso) H2C O H2C O Base (HO CH2)3C C H - HCOOH Redox HOCH2 C CH2OH CH2OH Pentaeritrita Existe um N-derivado do F. ainda mais reativo! Aminometilação de Mannich O OH + R C CH3 H δ− R C CH2 O H CH3 R C CH CH2 N H3C NH H3C + H2C O + + H - H2O Ciclo catalítico H3C δ+ N CH2 H3C "Imônio" CH3 Base de Mannich β -Eliminação - (CH3)2NH ∆ + Base O R C CH CH2 Além dos pseudo-ácidos mencionados podem também ser usados compostos aromáticos que são ativados no sentido substituição eletrofílica. Isto podem ser fenóis ou hompostos heterocíclicos. Um exemplo seja a síntese da gramina, por aminoalquilação de indol: CH2 N(CH3)2 + HCHO + HN(CH3)2 N Indol H - H2O N H Gramina Todas as etapas reacionais ocorrem sob condições extremamente brandas. Algumas condensações de Mannich funcionam sob condições “in vivo”! • A base de Mannich pode ser isolada e armazenada, especialmente em forma do seu hidrocloreto. • Quando for preciso, a base de Mannich pode ser degradada formando cetona α,β-insaturada com grupo metileno final que é • muito reativa e instável; difícil preparar por outro método (Wittig) (= eletrófilo em uma adição de Michael ou dienófilo em ciclizações de Diels-Alder,...) • A degradação é bastante facilitada pela quaternização do N da base de Mannich. Assim sai uma amina terciária. (= variação da eliminação de Cope). O NR2 O MeNR2 CH2 CH2 H MeI Quaternização H O CH2 - MeNR2 Grupo metileno exocíclico Técnica 2: Desativação do componente metilênico por aminas primárias (Wittig 1964) Aldeído + amina primária + base forte + cetona A transformação do aldeído em uma base de Schiff reduz drasticamente a sua capacidade como componente carbonílico. Esta função agora pode ser preenchida por uma cetona que em si não é tão eletrofílica. Etapa 1: desprotonar a base de Schiff = ativar o componente metilênico. Etapa 2: adição do eletrófilo (que pode ser fraco). H3C CHO + H2N 1) (C6H5)2CO 2) H2O - LiOH H3C C6H5 C6H5 C OH CH2 CH N + LDA CH N - LDAH+ + H+ / H2O - C6H11 NH2 - H2O (C6H5)2C H2C CH N CH CHO Técnica 3: Estabilização da forma enólica / enolato Princípio: Estabilizar o enol = fortelecer o papel metilênico do composto Enolálcool = instável ⇒ Transformação do componente nucleofílico em enamina ou (silil)-enoléter Papel da amina secundária / do cloreto de silila: Ativadores! O Nucleófilo ruim! Enamina NR2 Amina sec. O Me3SiCl SiMe3 Silil-enoléter Exemplo 1: Componente metilênico: cetona; componente carbonílico: aldeído. O O N N O O N H CHO H+ Morfolina = amina sec. Hidrólise O Exemplo 2: Silil-enoléteres reagem com alta regiosseletividade e sob condições brandas, na presença de ácidos de Lewis (neste exemplo: TiCl4). O δ+ O C6H5 CH2 C H + δ− Si(CH3)3 + TiCl4 - (CH3)3SiCl O C6H5 CH2 CH TiCl3 O H2O OH C6H5 CH2 CH 68% (Segundo efeito do grupo trimetilsilil: hidrofobização.) O Técnica 4: Pseudo-ácidos com grupo metileno duplamente ativado (Condensação de Knoevenagel) retirador 1 H2C retirador 2 Dois vizinhos retiradores de elétrons ⇒ elevada acidez C-H, pois a carga negativa da base conjugada pode ser distribuída, através de mesomeria, em cima dos dois vizinhos. Três efeitos contribuem à reatividade elevada deste grupo metileno: 1) O grupo –CH2 – torna-se muito mais ácido: pKa(carbonila simples) ≈ pKa(1,3-dicarbonila) - 10. 2) A troca entre a forma ceto e enólica é acelerada. 3) Mais estabilidade termodinâmica do enol, então mais enol no equilíbrio. Ponto 1 e 2: Acidez C-H e rapidez da enolização R3C H k1 k -1 R3C + H k1 Ka = k -1 + Composto duplamente ativado pKa k1 (s-1) 4 8,3 ⋅ 10-1 H2C(NO2)2 Dinitrometano H2C(COCH3)2 Acetilacetona 8,8 1,7 ⋅ 10-2 H3C-NO2 Nitrometano 10,2 4,3 ⋅ 10-8 10,7 1,2 ⋅ 10-3 12 1,5 ⋅ 10-2 13,3 2,5 ⋅ 10-5 20 4,7 ⋅ 10-10 H3CCO-CH2-COOC2H5 Acetoacetato de etila H2C(CN)2 Dinitrila do ácido malóico H2C(COOC2H5)2 Dietilmaloato Em comparação: H3C-CO-CH3 Acetona Todos esses compostos (menos a acetona) podem ser desprotonados, quase quantitativamente, por NaOH. (pKa da água (ácido do OH-) ≅ 15). Possíveis retiradores ao lado do grupo –CH2 – : carbonila carboxila (ácido, éster, amida) ciano nitro também apóiam o carbânion: sistemas aromáticos 3a Explicação da alta reatividade como pseudo-ácido: A forma enólica é estabilizada, podendo até prevalecer no equilíbrio com a forma ceto. H Isso se deve à ponte de hidrogênio intramolecular: O O O O C C C C CH Forma enólica do composto dicarbonila CH2 Composto % enol (na fase líquida, ausência de solventes) H3C-CO-CH3 Acetona 1,5 ⋅ 10-4 H2C(COOC2H5)2 Dietilmalonato 7,7 ⋅ 10-3 NC-CH2-COOC2H5 Cianoacetato de etila 2,5 ⋅ 10-1 C6H10O Ciclohexanona 1,2 H3CCO-CH2-COOC2H5 Acetoacetato de etila 8,0 H3CCO-CH(C6H5)-COOC2H5 30,0 H2C(COCH3)2 76,4 Acetilacetona C6H5CO-CH2-COCH3 Fenilacetilacetona 89,2 O teor da forma enólica depende da temperatura e sensivelmente do solvente. Observa-se a estabilização da forma enólica por solventes apolares. (O efeito de desaceleração por estes solventes é desprezível) Acetilacetona: Solvente % enol H2O 15 CH3CN 58 sem solvente, em fase líquida 80 C6H14 92 sem solvente, em fase gasosa 92 Os seguintes compostos têm relevância na síntese: N C CH2 C N C6H5 CH2 C N O C2H5 O C CH2 C N O O C 2H 5 O C O Dinitrila do ácido malônico Nitriloacetato de etila Dietilmaloato CH2 C OC2H5 Cianeto de benzila O H 3C C CH2 C CH3 O O H 3C C CH2 C OC2H5 Acetoacetato de etila O O (RO)2P CH2 C OR Acetilacetona Éster do ácido fosfônico O último composto tem importância na síntese de olefinos a partir de compostos carbonila, segundo Horner e Emmons, variação da reação de Wittig. Estes compostos usados em condensações, sempre representam o componente pseudo-ácido. Sempre ocorre uma dupla-condensação com o componente carbonílico, seguindo o esquema: retirador 1 C O + H2C retirador 2 [Cat] - H2O retirador 1 C C retirador 2 Em comparação: Condensação aldólica verso condensação de Knoevenagel 1) A condensação de Knoevenagel é uma condensação mista, portanto o espectro de produtos acessíveis é muito mais amplo. 2) A escolha do catalisador é mais sútil: enquanto na condensação aldólica qualquer ácido ou base de Brønsted serve, a reação de Knoevenagel usa catalisadores brandas e específicas, tais como acetato de amônio, β-alanina, piridina ou piperidina *. * G. Jones, Org.Reactions 15 (1967) 204 Exemplo 1: Condensação com éster malônico Comp. metilênico: X = Y = O C Comp. carbonílico: H5C2 CHO OC2H5 COOC2H5 H5C2 CH C COOC2H5 [ H+ ] COOH H5C2 CH C COOH ∆ - CO2 H5C2 CH CH COOH Shortcut! Usar diretamente o ácido malônico, em vez do seu éster. A descarboxilação ocorre automaticamente. Catalisador: HOAc / NaOAc = 1 : 1; pouco DMSO ajuda solubilizar o sal Não pode ser ácido forte nem base forte, mas o mais suave possível, para promover a reação mais rápida (controle cinético) Solvente: benzeno ⇒ remoção azeotrópica da água liberada. Dean Stark Estratégia de síntese: Um grupo éster (ácido carboxílico) somente tem o papel de ativador (= oposto de protetor), para reforçar o papel do componente metilênico. Exemplo 2: Condensação com acetoacetato de etila O O X = Y = C CH3 OC2H5 COOC2H5 H3C CH C C [ H+ ] COOH H3C CH C C CH3 C CH3 O O ∆ - CO2 O H3C CH CH C CH3 Cetonas α,β− insaturadas Exemplo 3: Alvos 1,3-dicarbonilas, via acilação do éster malônico ou derivados Base: Mg(OH)2 : Mg2+ complexa e bloquéia os centros duros (= oxigênios)! Nu- duro E+ duro O- O R COCl OEt O Na+ O- O R COCl R O Nu- macio O OEt OEt OH O Mg O O R OEt O O COCl OEt Hidrólise Descarboxilação R O R O Técnica 5: Desprotonação quantitativa do pseudo-ácido A desprotonação completa e rápida de um composto carbonilado impede sua atividade como eletrófilo (= componente carbonílico)! Na maioria dos casos: nucleófilo = composto com grupo metileno duplo-ativado (discutidos no último item) a ser desprotonado com bases comuns (alcóxidos). Em outros casos: base bastante forte (NaH ou Ph3C- Na+) Formação quantitativa do enolato numa etapa prévia (controle mediante indicador!) Depois acrescentar o componente carbonílico, aos poucos. Aplicar os participantes, pseudo-ácido : base : eletrófilo = 1 : 1 : 1. Rendimentos mais altos do que as condensações mistas “comuns”. Atenção! Falta de base ⇒ condensação do composto 1 entre si mesmo. Isto é, uma parte funciona como componente metilênico, outra parte como componente carbonílico. Excesso de base ⇒ condensação do composto 2 entre si mesmo, pela mesma razão. Condensação de Stobbe Éster succínico + aldeído / cetona + base forte COOEt CH2 O COOEt - + (CH3)3CO K R2C O CH CH2 CH2 COOEt Base EtO C + H / H2O C CR2 1) + H / H2O CH2 COO- O CR2 CH2 2) O C OEt COOH C CR2 O- H2C 1) COOEt H CH CR2 COOEt Enolato quantitativo COOEt COOH O Lactona R2 C CH CH2 COOH Ácidos β,γ− insaturados ∆ - CO2 2) COOH R2 C C CH3 Síntese do éster glicídico, segundo Darzens Cloracetato + aldeído + alcóxido (base) O R C - Cl + CH3O CH2 COOCH3 - CH3OH Cl CH COOCH3 H C H2O / OH- CH COOCH3 C CH COOCH3 O- R H O Cl R H R - Cl- H H+ CH COO- C O Éster glicídico R H C CH O C O H O ∆ - CO2 R H C C H OH O R CH2 C H Enol Resultado: prolongação da cadeia carbônica do aldeído por um grupo metileno. Síntese de Reformatzky Bromoacetato de alquila + composto carbonila + zinco Br CH2 COOCH3 + Zn [ Br Zn CH2 COOCH3 ] ZnBr + CH2 COOCH3 quantitativo! Inversão da polarização no carbono α O- O R C H + CH2 COOCH3 R C CH2 COOCH3 H [ H3O+ ] OH R C CH2 COOH H - H2O R CH CH COOH Outras sínteses que aproveitam deste efeito: quase todas as reações organo-metálicas – especialmente aquelas com metais muito eletropositivas (preparo do reagente de Grignard: R-X + Mg → R-MgX). FIM !!!! Leia mais, no capítulo 6: Condensações, do livro "Princípios da Síntese Orgânica"