XIX Encontro Nacional da ANPOCS, Caxambu, MG, 17 a 21 de Outubro de 1995 Grupo de Trabalho: Pensamento Social no Brasil 95GT1325 Rubim, Christina de Rezende A antropologia na era da pós-graduação A ANTROPOLOGIA BRASILEIRA DA PÓS-GRADUAÇÃO Christina de Rezende Rubim 1 NA ERA A ANTROPOLOGIA BRASli,EIRA NA ERA DA PÓS-GRADUAÇÃ01 -1- Cedo aprendi a desconfiar da ciência. Após uma breve passagem pela fisica e matemática, descobri que este não era bem o meu lugar. Escolhi as ciências sociais mas, no entanto, foi por acaso' que cheguei à antropologia. O exotismo e o pitoresco me faziam desconfiar desta disciplina, mas era a única alternativa que me sobrava em uma universidade onde a sociologia e a ciência política praticamente inexistiam. Desde então, as perguntas que mais tenho feito são: qual a especificidade do conhecimento científico? Qual a diferença entre as ciências exatas e as ciências sociais? O que é a antropologia? No que esta disciplina se diferencia das demais ciências sociais? Este texto é parte da pesquisa de doutorado que a autora vem desenvolvendo na UNICAMP. Pede-se, portanto, não citar. I As ciências exatas nos transmitem certezas e verdades que nos deixam descontentes com as incertezas e descontinuidades da história. 2 30 acaso tem sido motivo para algumas discussões na antropologia. Veja sobre o assunto o interessante Memorial de Mariza Peirano (1992) Não Foi Só Por Acaso: Um Depoimento e o artigo de Howard S. Becker (1995) "Foi por Acaso": Reflexões sobre a Coincidência. 2 Qual a sua singularidade? É possível o conhecimento do outro"? Como é possível o conhecimento do outro? Esta problemática tem me incomodado intelectualmente há muito tempo e parece ser dificil caminhar sem antes resolver, pelo menos em parte, algumas destas questões. A década de 90 parece ser um momento propício para viabilizar esta discussão coletivamente. Uma das características da antropologia dos anos 90 no Brasil é a sua preocupação consigo mesma. Quem somos nós e o que temos feito de concreto são perguntas recorrentes entre os antropólogos brasileiros. Pesquisas sobre esta temática têm se multiplicado e hoje podemos dizer que se transformou em uma linha de pesquisa da disciplina presente em quase todas as instituições em que nos encontramos e em vários Grupos de Trabalho, Seminários e Mesas-Redondas que vêm acontecendo em nossos encontros nacionais e regionais. A preocupação com a reconstrução de nossa história e com a busca da compreensão de nossas tradições teóricas é uma constante tanto entre os antropólogos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul5 quanto na USp6 e 4Nas ciências exatas o conhecimento é essencialmente o conhecimento do outro, de uma natureza radicalmente diferente do sujeito que conhece. O objeto de estudo nas ciências sociais somos nós mesmos, pesquisador e pesquisados pertencendo a uma mesma natureza e muitas vezes, a uma mesma história. Será que o conhecimento científico, como historicamente é entendido, inviabiliza o conhecimento do mesmo? 5Ruben Oliven em entrevista em abril de 1995, dizia que havia um esforço em sua instituição na reconstrução do pensamento antropológico gaúcho. ~este sentido é que entendemos os esforços do professor José Guilherme Cantor Magnani que como coordenador da Pós-Graduação em Antropologia, encontra-se empenhado no mapeamento do corpo docente e discente e suas respectivas pesquisas desenvolvidas nesta instituição. 3 IC?64TJ.E1( MWUW dKULpUOU EOUKULeMW( FRWNOAKVORbW OVWBecOe 8URTRW :WOTNR VWEKbm) EFD7IjiD 78 7?GG8FH4jl8G CD /.(-" IGE( IC?64BE( IC5( I9E8( I9FG 8 I9G6 7k6474G 78 1-,2-,3%4Hk D 4CD 78 3/' %"' -:1A 1 )'0 GLA 1 ,'0 FBA IFA FOceURVNW( OgRcdO eU MWVdOgdW PKfWbmfOT VWMKUXW KVdbWXWTrQRMW O OVdbO Kc MRqVMRKc cWMRKRc VW5bKcRT aeO dOUXWcccRLRTRdKNW OKdpUOcUWRVMOVdRfKNW OcdKNRcMeccnW) 4 dOVNqVMRK MKNK fOh UKRWb XWbXKbdO NOKVdbWXrTWQWc LbKcRTORbWc OU XOcaeRcKb PWbK NW XKRc( NOUWVcdbK VnWcWUOVdO eU KUKNebOMRUOVdW NKKVdbWXWTWQRK PORdK VW5bKcRT( MWUW K 1 D XbWSOdW ;RcdrbRKNK4VdbWXWTWQRK MWWbNOVKNW XOTK XbWPOccWbK BKbRhK6WbbqK cWUKUOcPWboWc VOcdO cOVdRNW) 0 ·~, afirmação de um estilo nosso em fazer pesquisa, escolher temáticas e levantar problemas. De posse da problemática mais geral - filosófica, científica e antropológica - para dar início ao projeto no doutorado, era preciso eleger um objeto empírico para o trabalho mais antropológico de acordo com a tradição da disciplina. Era preciso fazer trabalho de campo" e escolher, portanto, um objeto concreto que melhor refletisse o pensamento sobre a antropologia brasileira no periodo escolhido. Um objeto que somente através de sua singularidade pudesse nos levar a compreender melhor o que é isto que chamamos de antropologia brasileira". A sugestação me foi dada por Roberto Cardoso de Oliveira, que, ao mesmo tempo empolgado com a temática proposta, colocou-me a complexidade da tarefa. Há um ano e meio venho lendo as dissertações de mestrado em antropologia social da UNB, USP, Museu Nacional e UNICAMP e parece que só agora começo a desvendar a problemática proposta e a esboçar um perfil da disciplina no Brasil. O objeto empírico escolhido - as teses de antropologia no periodo que denomino de era da pós-graduação, isto é, no periodo de 1968 a 1994 - foi se restringindo cada vez mais pela própria prepotência inicial da minha proposta. Como tinha claro que trabalharia com dados quantitativos e qualitativos, delimitei a pesquisa qualitativa - ou seja, as classificações e catalogações através das leituras das 8Nas últimas décadas a noção de campo vem se modificando e ampliando consideravelmente, sem que no entanto se faça acompanhar de uma discussão e problematização do que é o campo para a antropologia num mundo onde o outro já não se encontra tão distante nem radicalmente diferente do eu. 9Vêr texto de Cardoso de Oliveira (1986). 5 ·.'. respectivas introduções e conclusões das pesquisas - somente ao mestrado e as décadas de 70 e 80 e, portanto, restringindo-me às dissertações defendidas até 1989. Ampliei para o doutorado e para a década de 90 a pesquisa quantitativa - que inclui também dados relativos a sociologia e a ciência política - que em alguns momentos, tomam-se também qualitativa pela própria inserção do objeto na história. A contextualização na conjuntura nacional em cada época e a história da disciplina anterior a este período são partes fundamentais da análise e na compreensão da problemática mais geral. Mesmo assim, esta tarefa vem demonstrando ser extremamente grandiosa, mas fundamentalmente gratificante no sentido de responder às perguntas que científica e filosoficamente me trouxeram até aqui. -11- Meu principal objetivo nesta pesquisa, portanto, é responder a seguinte questão: o que tem sido a antropologia brasileira a partir da institucionahzação dos Programas de PósGraduação? Parto do pressuposto de que a antropologia é uma ciência social e, portanto, a objetividade nos moldes das ciências exatas não é o que a caracteriza, nem tampouco a unicidade de seu objeto. No que tem 6 consistido, então, a singularidade da MRcLRXTRVJ5 AWaeN NcdJLRpVLRJ dNUcNMRONbNVLRJMW MJcMNUJRc LRpVLRJc cWLRJRc5 DeJT J ceJ LWVdbRKeRonW XJbJWXNVcJUNVdW cWLRJT KbJcRTNRbW5 CJbJ bNcXWVMNb mcRVdNbbWPJorNc LWTWLJMJc JVdNbRWbUNVdN) 9 XbNLRcW cNaeNcdRWVJb JLNbLJMW WKSNdW MJJVdbWXWTWPRJ) MW,ageA-d, MWJVdbWXqTWPW) MWcNeXJXNT MNLRNVdRcdJ N LRMJMnW VWUeVMWMNQWSN N J LWVcNaeNVdN LWVdNgdeJTRhJonW MJ MRcLRXTRVJ NU VWccJ -bNJTRMJMN NcXNLRORLJ- 9;FF:EG6jl:F 9: ?:FGE69B ?A) HFC) HA;86?C : HA7 '9k8696F 9: 2/.3/.4/( '6Gk 40( - AB AAAR*)O* 0/ ---A:1 ./ AAALIR( ,,- II ,i%fi-"",-i ,,%6,,733 .FG FB 1 ,, "( ,, " "4 (8 4,2)1,( "")'))'))')))'))')'))'))')")')5))'))5)))'))')))65))')))3 0 Portanto, estarei menos interessada no que as pesquisas concluem acerca do objeto estudado - apesar de este também ser um ponto relevante na discussão - e mais atenta às intenções do pesquisador, às suas propostas teóricas, às técnicas de pesquisa, à metodologia empregada, à construção do texto científico e aos caminhos priorizados pelo autor. Em outras palavras, a minha atenção se concentrará mais detalhadamente na construção da pesquisa, na sua apresentação, no seu formato e na construção do seu objeto, do que no seu conteúdo temático propriamente dito. Em resumo, a minha proposta é fazer uma "fotografia" da antropologia no Brasil contemporâneo, período em que se consolidou a profissionalização do antropólogo através dos Programas de Pós-Graduação em Antropologia Social. Nesse sentido, as classificações terão como objetivo caracterizar e dar uma visão geral de cada dissertação, que conjuntamente com as demais dissertações nos proporcionará uma visão da antropologia feita no BrasiL Isto é, da antropologia social institucionalizada, ou seja, vinculada aos departamentos ou áreas 10 de antropologia 11. o que essas pesquisas nos dão a conhecer sobre a antropologia feita no Brasil, que somente através delas podemos chegar a compreender sobre essa ciência? A singularidade deste objeto empírico está na sua capacidade de nos apresentar a cristalização, o produto IOComono caso da UNB que até 1985, o mestrado em antropologia social era uma área - claramente delimitada - que fazia parte do Departamento de Ciências Sociais. llNeste sentido, o doutorado em ciências sociais da UNICAMP não será incluído em nossa pesquisa. Não queremos dizer com isto que o que algumas pessoas fazem no doutorado da UNICAMP - o mesmo acontecndo na PUC/SP ou UFBA - não é antropologia. Apenas não existe uma área claramente delimitada, podendo estar as pesquisas antropológicas tanto na área de Intinerários Intelectuais como em Cultura e Política ou Ecologia. 8 ·... mais caro do que academicamente vem sendo chamado antropologia. Isto é, o produto direto do ensino/aprendizagem do antropólogo e, portanto, o que coletivamente se consolidou no período como conhecimento e prática antropológicas com a reprodução deste conhecimento. Cada pesquisa, isoladamente, não nos leva a refletir o suficiente em relação a esta problemática. Mas o conjunto desta produção nos mostra uma ciência que chegou a um nível de amadurecimento sobre a nossa realidade nacional e sobre o seu papel e de seus autores em nosso país, entre outras contribuições. -111- A concepção de ciência na antropologia, ou melhor, entre as ciências sociais é significativamente diferente da concepção de ciência aceita nas ciências exatas e naturais, pois, em cada uma dessas pespectivas, são considerados como axiomas modelos diferenciados de neutralidade, objetividade, verdade, universalidade, ~xplicação/compreensão etc. Parto desta classificação de ciência para a classificação das dissertações. As nossas classificações'? levam em conta questões gerais como método, técnicas, orientação, tempo do mestrado, temática etc, como também certas singularidades antropológicas, como por exemplo, o tempo gasto na pesquisa de campo, a permanência do antropólogo entre seus pesquisados, se o pesquisador fazia parte do objeto de pesquisa etc. Deve estar claro que não é nosso Veja ficha classificatória em anexo. 12 9 interesse discutir a existência ou " UoVN-VdeJSRMJMN MJbMRONaNUcNb cNTncRLJb LVTV(WVaNfNTWSV( J JUcaVWVSVPRJ daKJUJ(bN OJgNTVbWNbXdRbJb UJ LRMJMN Vd NT LRMJMNb( bNJSPdTJb WNbXdRbJb MNeNTbNaNUcNUMRMJb LVTVJUcaVWVSVPRJ MVLJTWNbRUJcV Vd JUcaVWVSVPRJ NLVUtTRLJNcL,HNTVbLSJaVXdNJ LSJbbRORLJpoV ONRcJ q bVTNUcN dTJ WVbbRKRSRMJMN NUcaN cJUcJbVdcaJbWVbbreNRb /0, 7;GG8FH4il8G 6A4GG;9;6474G CD3BC( IGE( IC;64BE 8 IC5 7j6474G 78 1.-2. %"' 8 78B4;G CD B8GBD E8FkD7D 0 *+B/.,BRL*,B/+O 0 /),(B/)-.B/).R FIA GFA 4 JUcaVWVSVPRJ JUcNaRVaTNUcN m RUbcRcdLRVUJSRgJpoV MVbEaVPaJTJb MNEsbh :aJMdJpoV NbcJeJaNbcaRcJ J JSPdUbPadWVbLVTVV BdbNd CJLRVUJS UVFRVMN?JUNRaV( J IGE NJ 8bLVSJMNGVLRVSVPRJ NEVSrcRLJ MNGoVEJdSV,CV LJbVWJdSRbcJ( J JUcaVWVSVPRJ /0EVa NbcN TVcReVaNbVSeNTVb NT UVbbJbORLQJb OJgNadTJ LSJbbRORLJpoV MNbdKhcNTncRLJb XdNaNOSNcRbbN MRONaNUcNb WVbbRKRSRMJMNb( SVLJSRgJUMV TNSQVaJb WaVKSNTncRLJb NbLVSQRMJb WVabNdbJdcVaNb, '" caminhava conjuntamente com as orientações presentes na sociologia, esta última servindo de carro-chefe para as demais ciências sociais no que se convencionou chamar de Escola de Sociologia Paulista, pela própria especificidade da história de criação da Universidade de São Paulo e do grupo de cientistas franceses que contribuiu nesta formação. A tradição funcional-culturalista, na época, fez com que a vertente antropológica de Florestan Fernandes'", por exemplo, fosse deixada de lado pelos estudiosos das ciências sociais, com uma maior valorização das pesquisas sociológicas do autor. Vários intelectuais" formados nesta tradição e que escolheram as ciências sociais como profissão, transferiram-se para o Rio de Janeiro na década de 60 - mais especificamente na antropologia, Roberto Cardoso de Oliveira" que foi para o Museu Nacional- e levaram consigo toda uma concepção de ciência social aprendida e praticada em São Paulo com os seus mestres franceses. Os anos 60 - momento fundamental e de transição quanto às definições metodológicas que iriam se consolidar no período seguinte é também o momento em que o estruturalismo francês começa a se projetar nas ciências sociais de todo o mundo, particularmente na antropologia, e através principalmente desta disciplina começa a influenciar o pensamento social brasileiro da época. Um outro pólo da antropologia carioca foi aquele formado pela cadeira de Antropologia e Etnologia da 14Vejasobre este assunto a tese de doutorado de Mariza Peirano (1981). 15RobertoCardoso de Oliveira cita, por exemplo, Bento Prado Junior (depoimento em junho de 1995). 16Roberto Cardoso de Oliveira a convite de Darcy Ribeiro, ministrou a partir de 1955 cursos de especialização em antropologia social no Museu do Índio e mais tarde no Museu Nacional. 11 I Universidade Nacional e composta principalmente pelo grupo ligado a Arthur Ramos que foi influenciado por autores norte-americanos como Melville Herskovits 17. Com a reforma do ensino e a implantação dos Programas de Pós-Graduação em Antropologia Social na segunda metade dos anos 60, a disciplina conquista um espaço temático e uma identidade fortemente delimitada por um estilo, poderíamos chamar assim, antropológico de fazer pesquisa" e, mais particularmente, pela supervalorização da observação participante, seguindo a tradição antropológica de Malinowski e Boas. A década de 70 é um momento de consolidação desse fazer e dessa busca de fazer pesquisa antropógica no Brasil. Claro deve estar que o desenvolvimento das pesquisas na área das ciências sociais que vinham até então sendo feitas, influenciaram este pensar e este fazer. Por exemplo, a influência da tradição da antropologia britânica na década de 70 na UNB, Museu Nacional e UNICAMP contrasta radicalmente com a linha "sociologizante" ainda presente nas pesquisas antropológicas do mesmo período na USp19, 17Vejasobre este assunto o livro de Paulo Roberto Azeredo (1986, pp. 49, 50, 66, 68, 70, 72 e 84 entre outras). 18Muitas vezes este estilo de fazer pesquisa tem sido criticado por alguns cientistas sociais. Como exemplo temos a discussão entre Mariza Peirano e Wanderley Guilherme dos Santos que se ampliou na última reunião da ANPOS no Fórun O Ensino das Ciências Sociais em Questão: O Caso da Antropologia. 19Mesmoa temática etnologia na década de 70 na USP, totalizam somente 16% do total das pesquisas institucionalmente consideradas de antropologia, isto é, 2 dissertações. Na década de 80 esta proporção cresce para 32,5%. 12 dando-nos a impressão, através da leitura de suas pesquisas, de que a antropologia chega "tardiamente" a esta última instituição'", A especificidade da institucionalização da antropologia carioca que é formadora do grupo de antropólogos do Museu Nacional, influencia o Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social criado no início dos anos 70 na UNE pela tranferência de parte deste mesmo grupo para Brasília21.A UNIC~2 que foi criada no interior paulista em 1965, iniciou o mestrado em antropologia social em 1971 com dois antropólogos ingleses, Verena Stolcke e Peter Fry, além de Antônio Augusto Arantes que apesar de ter concluído o seu mestrado na USP em 197023, faz o seu doutorado em Cambridge na Inglaterra. 2°Pela especificidade da pós-graduação na USP, que outorgava títulos de pós-graduação (especialização e doutorado) anteriormente ao período que estamos interessados, a nossa amostra em antropologia social na instituição deixa de fora 13 pesquisas (sendo uma delas em arqueologia) anteriores ao Novo Regimento instituido na USP em 1970 e mais 21 dissertações das décadas de 70 e 80 pertencentes a arqueologia que somente em 1990 separa-se da antropologia na pós-graduação. No entanto, foram incluídas nesta amostra, 1 dissertação orientada por Eunice Ribeiro Durham e 13 orientadas por Ruth Corrê a Leite Cardoso nas ciências políticas. As pesquisas orientadas por Durham e Cardoso foram incluídas em nossa amostra por considerarem-se as autoras como antropólogas e serem reconhecidas como tal pelos antropólogos brasileiros. 21Com a saída de Eduardo Galvão da UNB, o então Vice-Reitor da instituição, convida Roque de Barros Laraia, um dos alunos dos cursos de especialização do Museu Nacional no início dos anos 60, para criar o mestrado em Antropologia em Brasilia. Este, por sua vez, leva consigo Júlio César Melatti e mais tarde Alcida Rita Ramos, K.I. Taylor. Em 1972 segue também do Rio de Janeiro, Roberto Cardoso de Oliveira e em 1973 Klaas Woortman. 22As dissertações consideradas nesta pesquisa deixam de fora somente duas dissertações de mestrado a de Maria Manuela Carneiro da Cunha em antropologia e a de Décio Saez em ciência política - por terem sido defendidas segundo os padrões do antigo regimento também presente na UNICAMP, analogamente ao que acontecia na USP daquela época .. 23Foi orientando de Eunice Ribeiro Durham com a pesquisa Compadrio no Brasil Rural: Análise Estrutural de uma Instituição Ritual (1970). 13 Devido a estas especifícidades históricas, na UNE, Museu Nacional e UNICAMP, ao contrário do que acontecia no mesmo período na USP, as pesquisas são mais empiricistas, os autores mais citados são os ingleses'? o que demonstra uma clara influência da antropologia européia, pois o estruturalismo esteve também presente em todo este período muitas vezes ao lado do marxismo, que aparece como uma influência frequente nas pesquisas. É interessante perceber como uma corrente que é forte no período anterior, como o culturalismo norte-americano via Darcy Ribeiro, praticamente desaparece na década dos 70. 24Com exceção de Victor Turner e Marsha11 Sahlins presentes na maioria das pesquisas feitas na década de 70. 14 HIG;LkjG A?I8D ;? ;BJJ?IK8kl?J 1750/1773 (%) B-21+2 B21/ 11- OA B)R-/ LA *2.( B2,/+ 2,01 B2,1) IFA FGA FXd MWXd 60, MMWecXaXUXRTM WXceP-MVPcTNMWM gXUeM MTWQUfPWNTMc MOTdNTaUTWM WX 9cMdTU, acTVPTcMVPWeP MecMgpd OXTWePcacPeMeTgTdVX OP:UTQQXcO APPceiP dPfd OTdNrafUXd P, VMTdeMcOP,NXV MNSMVMOM asd-VXOPcWTOMOP MWecXaXUsRTNM'". " SPWWPWqfeTNM ' fVM ePWOqWNTM QXcePWMLF9, fV aXfNX VPWXdWMLFK:8EH P WXEfdPf FMNTXWMU P acMeTNMVPWeP WnXPdemacPdPWeP WM LJH, bfP NXVPoM WPdeP VXVPWeX MdP "MWecXaXUXRTiMc" 24AcfaG OP MWecXasUXRXd, bfMdPeXOXdMWeTRXd MUfWXd OP APPcei, bfP dnX CMVPd:UTQQXcO, APXcRP EMcNfd,JePaSPWKhUPcPeN. "' apresentando pesquisas sobre etnociência, que por exemplo, já não podem ser mais encontradas nas demais instituições estudadas. Se formos analisar a bibliografia utilizada nestas pesquisas, serão muito poucas aquelas que terão utilizado exclusiva e claramente de apenas uma tradição teórica. Autores como Marx e Engels, Gluckman e Malinowski, Lévi-Strauss e Godelier aparecem nas mais diferentes combinações em determinadas épocas. Esta tendência de mesclar diferentes tradições é uma constante tanto nos anos 70 quanto nos anos 80 com a predominância de alguns autores em detrimento de outros dependendo da época focalizada. Portanto, quando afirmamos que uma determinada tradição é predominante num determinado período, não estamos descartando o aparecimento de autores ligados a outros momentos ou diferentes escolas. Como exemplo podemos citar Clifford Geertz, Louis Dumont combinados com nomes como Lévi-Strauss, Victor Turner, Max Gluckman etc, como autores recorrentes na década de 80, que continuam sendo citados até os nossos dias, mas não predominantemente. Algumas ausências, no entanto, são claramente sentidas como é o caso dos marxistas e/ou da chamada antropologia econômica'? no final dos anos 80. Na década de 90, a tendência é a diminuição cada vez maior da presença de autores estruturalistas que vem se refletindo principalmente pela diminuição da influência lévistraussiana. 26Maurice Godelier, Balandier etc. 16 Anteriormente ao periodo que nos interessa, podemos dizer que as temáticas desenvolvidas" se restringiam praticamente a duas: etnologia'" e minorias etnicas'". A era da Pós-Graduação na antropologia inaugura um periodo plural em relacão às temáticas pesquisadas. Não somente as temáticas tradicionais como a etnologia se intensificam existindo uma tendência cada vez maior no seu crescimento -, como várias outras linhas de pesquisas apareceranr" e hoje podemos dizer que quase tud~ é passível de ser estudado antropologicamente". Nossa classificação se baseou em oito grandes temas32 que são (ver gráfico abaixo): etnologia", antropologia rural'" antropologia urbana", família, gênero'", antropologia da 270S Estudos de Comunidades (Wagley: 1953; Willems: 1947 etc) não podem ser incluídos nesta tradição pois ficaram restritos a um determinado período - final da década de 40 e início dos anos 50 - sem contudo se tomar uma linha de pesquisa da antropologia no Brasil. 28CurtNimuendaju, Darcy Ribeiro, Florestan Femandes e mais recentemente na década de 60, Roberto Cardoso de Oliveira. 29Tradição que remonta a Nina Rodrigues (Corrêa: 1981), Arthur Ramos (Azeredo: 1986) e nos anos 60, João Baptista Borges Pereira que basicamente tem o negro como objeto central de análise. 30Umas se consolidando no tempo, outras não tão intensamente - quantitativamente falando - mas também recorrentes e algumas praticamente desaparecndo nos anos 80 como as referentes a pesca, presente somente na UNB e no Museu Nacional. "ver o item OU1ROS na classificação de temáticas dos Programas. 32Para incluir grupos de pesquisas significativos dentro de uma mesma linha de pesquisa, fizemos também uma classificação por SUB-TEMÁTICA. Neste sentido, as pesquisas que no Museu Nacional são consideradas por seus autores como de antropologia do trabalho, por nós foram classificadas como rural e a SUB-TEMÁTICA trabalho. 33Foram classificadas nesta temática todas as pesquisas que se referiam aos índios, mesmo quando o foco era o contato com a população nacional ou o local de moradia o espaço urbano. 17 IJH;MpoH ;? ;CKK?JL8pr?K IHJ L?FnLC:8 GH FMK?M G8:CHG8E( MKI( MGC:8FI ? MG9 G8K ;q:8;8K ;? 4.-5. 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O critério de escolha destes grupos temáticos foi o aparecimento recorrente dos temas nas quatro instituições e a sua ocorrência nas duas décadas pesquisadas. Estão classificadas no item OUTROS, todas as temáticas que não se encaixam nas definições anteriores". As temáticas mais desenvolvidas nas décadas de 70 e 80 são: no Museu, antropologia rural em primeiro lugar, antropologia urbana e etnologia respectivamente em segundo e em terceiro; na UNB, em primeiro lugar, etnologia, seguida da antropologia urbana e rural; na USP também encontramos a etnologia em primeiro lugar e também a antropologia urbana e rural na sequência; finalmente na UNICAMP, primeiramente antropologia urbana seguida pela temática gênero, antropologia da saúde e antropologia da religião. Da década de 70 para a de 80, todas as temáticas continuaram a se desenvolver e podemos até concluir que se consolidaram em nossa disciplina como temas pertencentes à antropologia. A exceção fica por conta da antropologia rural, que refluiu de 29 pesquisas nos anos 70 para 23 nos anos 80, e familia". Se considerarmos a sub-temática pesca, que foi classificada como antropologia rural, vemos que ela desaparece por completo na década de 80. A temática que mais cresceu na virada dos anos 70 para os 80, relativamente falando, foi etnologia, que na primeira década contou apenas 13 pesquisas nas 4 instituições e no período seguinte passou para 42 pesquisas. Esta é uma tendência que se mostra forte, ou seja, em franco crescimento na década de 90, no que tem contribuído não somente para a 37 Onde estão agrupadas não somente aquelas pesquisas sobre saúde mental e fisica, como também aquelas pesquisas que dizem respeito a terapêutica, a clínica, aos alimentos reimosos etc. 38Como por exemplo, as pesquisas sobre modernismo, autores clássicos da antropologia, migrações, pintura, ourives etc. 39Quepoderíamos classificar no item OUTROS, pelas poucas pesquisas nesta área, e se não fosse a sua recorrência nas duas décadas subsequentes. 19 -- -------- ,, continuação dessa linha de pesquisa que vinha sendo desenvolvida na USP, UNE e Museu Nacional, mas também para o incremento desta temática na UNICAMP que até então quase não contava com pesquisas na área. -IV- Além de fazer parte de nossos objetivos informar sobre a Antropologia feita no Brasil num período específico, através da análise quantitativa, queremos também analisar este período de nossa história recente que parece ser fundamental nos caminhos seguidos pela disciplina em nosso país e na delimitação de um campo científico. Disciplina esta que vem influenciando as demais ciências sociais - como a sociologia - e humanas - como a história - e também recebendo contribuições importantes destes saberes, apresentando-se como uma alternativa produtiva e significativa no campo intelectual brasileiro. Retomando agora as questões mais gerais colocadas no início desta apresentação, podemos dizer que não é nosso objetivo entrarmos em considerações filosóficas acerca da validade ou não do conhecimento científico, da discussão da antropologia como ciência ou não-ciência etc. O que nos interessa nesta problemática é compreender a singularidade do conhecimento antropológico e a sua importância no mundo em que vivemos, e em nossa realidade em particular, o que fica claro com a análise da produção acadêmica na antropologia do período. É através desta análise, deste objeto empírico específico, que tentaremos contribuir para esta problemática mais geral, sem no entanto ter a pretensão de resolvê-Ia. 20 NOME TITULO PUBLICACAO ANO DE INGRESSO ANO DE DEFESA TEMPO DE DURACAO INSTITUICAO LOCAL DE TRABALHO ORIENTADOR BANCA TEMATICA SUB-TEMATICA GRUPO/RECORTE LINGUA LINGUAGEM METODOLOGIA CLASSICOS CAMINHOS INTERESSE HISTORIA MACRO TECNICAS CONCLUSAO PESSOA FINANCIAMENTO PALAVRAS CHAVES LOCAL DEPESQUISA TEMPO DEPESQUISA MORADIA NO LOCAL OBS. PARTICIPANTE PROJETO OBJETIVOS BIBLIOGRAFIA N@ CAPH/USP AREA DE CONCENTRACA GERAL AUTOR/OBJETO N@ DE PAGINAS RUBIM-Christina de Rezende A Teologia da Opressao nao marco de 1985 novembro de 1991 6 anos (incluidos 2 anos de licenca) Unicamp Carlos Rodrigues Brandao Carlos Rodrigues Brandao, Ruben Alves e Robin Wright Antropologia da Religiao Pentecostalismo Igreja Universal do Reino de Deus nao se aplica nao se aplica Antropologia Interpretativa Clifford Geertz, Peter Berger Conta corno fez a pesquisa empirico sim sim Entrevistas, observacao participante, filmagem, diario campo com conclusao Ia. pl. CAPES Pentecostalismo, clientelismo, religiao, Vlsao de mundo identidade social, participacao Rio de Janeiro/RJ, Sao Paulo/SP, Itu/SP e Campinas/SP 3 anos (intermitentes) Observacao (enfaze) Nao esta ligada a nenhum projeto mais amplo "Meu objetivo e estudar e compreender o que e o fenomen IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS, suas caracteristicas peculiaridades e avaliar ate que ponto a IURD tem influenciado a vida de seus afiliados: sua visao de mun sua orientacao de conduta frente a realidade da vida; a dicotomia entre o pensado e o vivido por parte de seus membros, dirigentes e afiliados." (p. 17) Rubem Alves, Hugo Assmann, Riolando Azzi, Selma Baptist Peter Berger, Pierre Bourdieu, Carlos Rodrigues Brandao Candido P. F. de Camargo, Roberto Cardoso de Oliveira, Manuela Carneiro da Cunha, Marilena chaui, Roberto Da Matta, Ralph Della Cava, Christian Lallive D'Epinay, Durkheim, Rubem Cesar Fernandes, Peter Fry, Gary Howe, Clifford, Geertz, Beatriz Gois Dantas, E.Leach, Malinows Maria Isaura Pereira de Queiroz, Francisco Cartaxo Roli Beatriz Muniz de Souza, Max Weber. 75 (numero de ordem por defesa) Antropologia Social nao 175 BIBLIOGRAFIA CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto - Sobre o Pensamento Antropológico - Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro; Brasilia: CNPq, 1988. CARVALHO, Guido Ivan de - Ensino Superior: Legislacão e Jurisprudência - Brasilia: MEC/COL TED, 1969. CASTRO FARIA - Antropologia: Espetáculo e Excelência - Rio de Janeiro: Editora UFRJlTempo Brasileiro, 1993. 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