a antropologia brasileira na era da pós-graduação

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XIX Encontro Nacional da ANPOCS,
Caxambu, MG, 17 a 21 de Outubro de 1995
Grupo de Trabalho:
Pensamento Social no Brasil
95GT1325
Rubim, Christina de Rezende
A antropologia na era da pós-graduação
A ANTROPOLOGIA
BRASILEIRA
DA PÓS-GRADUAÇÃO
Christina de Rezende Rubim
1
NA ERA
A ANTROPOLOGIA BRASli,EIRA NA ERA DA
PÓS-GRADUAÇÃ01
-1-
Cedo aprendi a desconfiar da ciência. Após uma breve passagem pela fisica e
matemática, descobri que este não era bem o meu lugar. Escolhi as ciências sociais mas,
no entanto, foi por acaso' que cheguei à antropologia. O exotismo e o pitoresco me faziam
desconfiar desta disciplina, mas era a única alternativa que me sobrava em uma
universidade onde a sociologia e a ciência política praticamente inexistiam.
Desde então, as perguntas que mais tenho feito são: qual a especificidade do
conhecimento científico? Qual a diferença entre as ciências exatas e as ciências sociais? O
que é a antropologia? No que esta disciplina se diferencia das demais ciências sociais?
Este texto é parte da pesquisa de doutorado que a autora vem desenvolvendo na UNICAMP.
Pede-se, portanto, não citar.
I
As ciências exatas nos transmitem certezas e verdades que nos deixam descontentes com as incertezas
e descontinuidades da história.
2
30 acaso tem sido motivo para algumas discussões na antropologia. Veja sobre o assunto o interessante
Memorial de Mariza Peirano (1992) Não Foi Só Por Acaso: Um Depoimento e o artigo de Howard S.
Becker (1995) "Foi por Acaso": Reflexões sobre a Coincidência.
2
Qual a sua singularidade? É possível o conhecimento do outro"? Como é possível o
conhecimento do outro?
Esta problemática tem me incomodado intelectualmente há muito tempo e parece ser
dificil caminhar sem antes resolver, pelo menos em parte, algumas destas questões. A
década de 90 parece ser um momento propício para viabilizar esta discussão
coletivamente.
Uma das características da antropologia dos anos 90 no Brasil é a sua preocupação
consigo mesma. Quem somos nós e o que temos feito de concreto são perguntas
recorrentes entre os antropólogos brasileiros. Pesquisas sobre esta temática têm se
multiplicado e hoje podemos dizer que se transformou em uma linha de pesquisa da
disciplina presente em quase todas as instituições em que nos encontramos e em vários
Grupos de Trabalho, Seminários e Mesas-Redondas que vêm acontecendo em nossos
encontros nacionais e regionais. A preocupação com a reconstrução de nossa história e
com a busca da compreensão de nossas tradições teóricas é uma constante tanto entre os
antropólogos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul5 quanto na USp6 e
4Nas ciências exatas o conhecimento é essencialmente o conhecimento do outro, de uma natureza
radicalmente diferente do sujeito que conhece. O objeto de estudo nas ciências sociais somos nós mesmos,
pesquisador e pesquisados pertencendo a uma mesma natureza e muitas vezes, a uma mesma história.
Será que o conhecimento científico, como historicamente é entendido, inviabiliza o conhecimento do
mesmo?
5Ruben Oliven em entrevista em abril de 1995, dizia que havia um esforço em sua instituição na
reconstrução do pensamento antropológico gaúcho.
~este sentido é que entendemos os esforços do professor José Guilherme Cantor Magnani que como
coordenador da Pós-Graduação em Antropologia, encontra-se empenhado no mapeamento do corpo
docente e discente e suas respectivas pesquisas desenvolvidas nesta instituição.
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afirmação de um estilo nosso em fazer pesquisa, escolher temáticas e levantar problemas.
De posse da problemática mais geral - filosófica, científica e antropológica - para dar
início ao projeto no doutorado, era preciso eleger um objeto empírico para o trabalho mais
antropológico de acordo com a tradição da disciplina. Era preciso fazer trabalho de campo"
e escolher, portanto, um objeto concreto
que melhor refletisse o pensamento sobre a
antropologia brasileira no periodo escolhido. Um objeto que somente através de sua
singularidade pudesse nos levar a compreender melhor o que é isto que chamamos de
antropologia brasileira". A sugestação me foi dada por Roberto Cardoso de Oliveira, que,
ao mesmo tempo empolgado com a temática proposta, colocou-me a complexidade da
tarefa.
Há um ano e meio venho lendo as dissertações de mestrado em antropologia social
da UNB, USP, Museu Nacional e UNICAMP e parece que só agora começo a desvendar
a problemática proposta e a esboçar um perfil da disciplina no Brasil. O objeto empírico
escolhido - as teses de antropologia no periodo que denomino de era da pós-graduação,
isto é, no periodo de 1968 a 1994 - foi se restringindo cada vez mais pela própria
prepotência inicial da minha proposta.
Como tinha claro que trabalharia com dados quantitativos e qualitativos, delimitei a
pesquisa qualitativa - ou seja, as classificações e catalogações através das leituras das
8Nas
últimas décadas a noção de campo vem se modificando e ampliando consideravelmente, sem que
no entanto se faça acompanhar de uma discussão e problematização do que é o campo para a
antropologia num mundo onde o outro já não se encontra tão distante nem radicalmente diferente do eu.
9Vêr texto de Cardoso de Oliveira (1986).
5
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respectivas introduções e conclusões das pesquisas - somente ao mestrado e as décadas de
70 e 80 e, portanto, restringindo-me às dissertações defendidas até 1989. Ampliei para o
doutorado e para a década de 90 a pesquisa quantitativa - que inclui também dados
relativos a sociologia e a ciência política - que em alguns momentos, tomam-se também
qualitativa pela própria inserção do objeto na história. A contextualização na conjuntura
nacional em cada época e a história da disciplina anterior a este período são partes
fundamentais da análise e na compreensão da problemática mais geral.
Mesmo assim, esta tarefa vem demonstrando ser extremamente grandiosa, mas
fundamentalmente gratificante no sentido de responder às perguntas que científica e
filosoficamente me trouxeram até aqui.
-11-
Meu principal objetivo nesta pesquisa, portanto, é responder a seguinte questão: o
que tem sido a antropologia brasileira a partir da institucionahzação dos Programas de PósGraduação? Parto do pressuposto de que a antropologia é uma ciência social e, portanto, a
objetividade nos moldes das ciências exatas não é o que a caracteriza, nem tampouco a
unicidade
de
seu objeto.
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6
consistido, então, a singularidade
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Portanto, estarei menos interessada no que as pesquisas concluem acerca do objeto
estudado - apesar de este também ser um ponto relevante na discussão - e mais atenta às
intenções do pesquisador, às suas propostas teóricas, às técnicas de pesquisa, à
metodologia empregada, à construção do texto científico e aos caminhos priorizados pelo
autor. Em outras palavras, a minha atenção se concentrará mais detalhadamente na
construção da pesquisa, na sua apresentação, no seu formato e na construção do seu
objeto, do que no seu conteúdo temático propriamente dito.
Em resumo, a minha proposta é fazer uma "fotografia" da antropologia no Brasil
contemporâneo, período em que se consolidou a profissionalização do antropólogo através
dos Programas de Pós-Graduação em Antropologia Social. Nesse sentido, as classificações
terão como objetivo caracterizar e dar uma visão geral de cada dissertação, que
conjuntamente com as demais dissertações nos proporcionará uma visão da antropologia
feita no BrasiL Isto é, da antropologia social institucionalizada, ou seja, vinculada aos
departamentos ou áreas 10 de antropologia 11.
o que essas pesquisas
nos dão a conhecer sobre a antropologia feita no Brasil, que
somente através delas podemos chegar a compreender sobre essa ciência? A singularidade
deste objeto empírico está na sua capacidade de nos apresentar a cristalização, o produto
IOComono caso da UNB que até 1985, o mestrado em antropologia social era uma área - claramente
delimitada - que fazia parte do Departamento de Ciências Sociais.
llNeste sentido, o doutorado em ciências sociais da UNICAMP não será incluído em nossa pesquisa.
Não queremos dizer com isto que o que algumas pessoas fazem no doutorado da UNICAMP - o mesmo
acontecndo na PUC/SP ou UFBA - não é antropologia. Apenas não existe uma área claramente
delimitada, podendo estar as pesquisas antropológicas tanto na área de Intinerários Intelectuais como em
Cultura e Política ou Ecologia.
8
·...
mais caro do que academicamente vem sendo chamado antropologia. Isto é, o produto
direto do ensino/aprendizagem do antropólogo e, portanto, o que coletivamente se
consolidou no período como conhecimento e prática antropológicas com a reprodução
deste conhecimento. Cada pesquisa, isoladamente, não nos leva a refletir o suficiente em
relação a esta problemática. Mas o conjunto desta produção nos mostra uma ciência que
chegou a um nível de amadurecimento sobre a nossa realidade nacional e sobre o seu papel
e de seus autores em nosso país, entre outras contribuições.
-111-
A concepção de ciência na antropologia, ou melhor, entre as ciências sociais é
significativamente diferente da concepção de ciência aceita nas ciências exatas e naturais,
pois, em cada uma dessas pespectivas, são considerados como axiomas modelos
diferenciados
de
neutralidade,
objetividade,
verdade,
universalidade,
~xplicação/compreensão etc. Parto desta classificação de ciência para a classificação das
dissertações. As nossas classificações'? levam em conta questões gerais como método,
técnicas, orientação, tempo do mestrado, temática etc, como também certas singularidades
antropológicas, como por exemplo, o tempo gasto na pesquisa de campo, a permanência
do antropólogo entre seus pesquisados, se o pesquisador fazia parte do objeto de pesquisa
etc.
Deve estar claro que
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Veja ficha classificatória em anexo.
12
9
interesse
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caminhava conjuntamente com as orientações presentes na sociologia, esta última servindo
de carro-chefe para as demais ciências sociais no que se convencionou chamar de Escola
de Sociologia Paulista, pela própria especificidade da história de criação da Universidade
de São Paulo e do grupo de cientistas franceses que contribuiu nesta formação. A tradição
funcional-culturalista, na época, fez com que a vertente antropológica de Florestan
Fernandes'", por exemplo, fosse deixada de lado pelos estudiosos das ciências sociais, com
uma maior valorização das pesquisas sociológicas do autor.
Vários intelectuais" formados nesta tradição e que escolheram as ciências sociais
como profissão, transferiram-se para o Rio de Janeiro na década de 60 - mais
especificamente na antropologia, Roberto Cardoso de Oliveira" que foi para o Museu
Nacional- e levaram consigo toda uma concepção de ciência social aprendida e praticada
em São Paulo com os seus mestres franceses. Os anos 60 - momento fundamental e de
transição quanto às definições metodológicas que iriam se consolidar no período seguinte é também o momento em que o estruturalismo francês começa a se projetar nas ciências
sociais de todo o mundo, particularmente na antropologia, e através principalmente desta
disciplina começa a influenciar o pensamento social brasileiro da época. Um outro pólo da
antropologia carioca foi aquele formado pela cadeira de Antropologia e Etnologia da
14Vejasobre este assunto a tese de doutorado de Mariza Peirano (1981).
15RobertoCardoso de Oliveira cita, por exemplo, Bento Prado Junior (depoimento em junho de 1995).
16Roberto
Cardoso de Oliveira a convite de Darcy Ribeiro, ministrou a partir de 1955 cursos de
especialização em antropologia social no Museu do Índio e mais tarde no Museu Nacional.
11
I
Universidade Nacional e composta principalmente pelo grupo ligado a Arthur Ramos que
foi influenciado por autores norte-americanos como Melville Herskovits 17.
Com a reforma do ensino e a implantação dos Programas de Pós-Graduação em
Antropologia Social na segunda metade dos anos 60, a disciplina conquista um espaço
temático e uma identidade fortemente delimitada por um estilo, poderíamos chamar assim,
antropológico de fazer pesquisa"
e, mais particularmente, pela supervalorização da
observação participante, seguindo a tradição antropológica de Malinowski e Boas.
A década de 70 é um momento de consolidação desse fazer e dessa busca de fazer
pesquisa antropógica no Brasil. Claro deve estar que o desenvolvimento das pesquisas na
área das ciências sociais que vinham até então sendo feitas, influenciaram este pensar e
este fazer. Por exemplo, a influência da tradição da antropologia britânica na década de 70
na UNB, Museu Nacional
e UNICAMP
contrasta radicalmente
com a linha
"sociologizante" ainda presente nas pesquisas antropológicas do mesmo período na USp19,
17Vejasobre este assunto o livro de Paulo Roberto Azeredo (1986, pp. 49, 50, 66, 68, 70, 72 e 84 entre
outras).
18Muitas vezes este estilo de fazer pesquisa tem sido criticado por alguns cientistas sociais. Como
exemplo temos a discussão entre Mariza Peirano e Wanderley Guilherme dos Santos que se ampliou na
última reunião da ANPOS no Fórun O Ensino das Ciências Sociais em Questão: O Caso da
Antropologia.
19Mesmoa temática etnologia na década de 70 na USP, totalizam somente 16% do total das pesquisas
institucionalmente consideradas de antropologia, isto é, 2 dissertações. Na década de 80 esta proporção
cresce para 32,5%.
12
dando-nos a impressão, através da leitura de suas pesquisas, de que a antropologia chega
"tardiamente" a esta última instituição'",
A especificidade da institucionalização da antropologia carioca que é formadora do
grupo de antropólogos do Museu Nacional, influencia o Programa de Pós-Graduação em
Antropologia Social criado no início dos anos 70 na UNE pela tranferência de parte deste
mesmo grupo para Brasília21.A UNIC~2
que foi criada no interior paulista em 1965,
iniciou o mestrado em antropologia social em 1971 com dois antropólogos ingleses,
Verena Stolcke e Peter Fry, além de Antônio Augusto Arantes que apesar de ter concluído
o seu mestrado na USP em 197023, faz o seu doutorado em Cambridge na Inglaterra.
2°Pela especificidade da pós-graduação na USP, que outorgava títulos de pós-graduação
(especialização e doutorado) anteriormente ao período que estamos interessados, a nossa amostra em
antropologia social na instituição deixa de fora 13 pesquisas (sendo uma delas em arqueologia) anteriores
ao Novo Regimento instituido na USP em 1970 e mais 21 dissertações das décadas de 70 e 80
pertencentes a arqueologia que somente em 1990 separa-se da antropologia na pós-graduação. No
entanto, foram incluídas nesta amostra, 1 dissertação orientada por Eunice Ribeiro Durham e 13
orientadas por Ruth Corrê a Leite Cardoso nas ciências políticas. As pesquisas orientadas por Durham e
Cardoso foram incluídas em nossa amostra por considerarem-se as autoras como antropólogas e serem
reconhecidas como tal pelos antropólogos brasileiros.
21Com a saída de Eduardo Galvão da UNB, o então Vice-Reitor da instituição, convida Roque de
Barros Laraia, um dos alunos dos cursos de especialização do Museu Nacional no início dos anos 60, para
criar o mestrado em Antropologia em Brasilia. Este, por sua vez, leva consigo Júlio César Melatti e mais
tarde Alcida Rita Ramos, K.I. Taylor. Em 1972 segue também do Rio de Janeiro, Roberto Cardoso de
Oliveira e em 1973 Klaas Woortman.
22As dissertações consideradas nesta pesquisa deixam de fora somente duas dissertações de mestrado a de Maria Manuela Carneiro da Cunha em antropologia e a de Décio Saez em ciência política - por terem
sido defendidas segundo os padrões do antigo regimento também presente na UNICAMP, analogamente
ao que acontecia na USP daquela época ..
23Foi orientando de Eunice Ribeiro Durham com a pesquisa Compadrio no Brasil Rural: Análise
Estrutural de uma Instituição Ritual (1970).
13
Devido a estas especifícidades históricas, na UNE, Museu Nacional e UNICAMP, ao
contrário do que acontecia no mesmo período na USP, as pesquisas são mais empiricistas,
os autores mais citados são os ingleses'? o que demonstra uma clara influência da
antropologia européia, pois o estruturalismo esteve também presente em todo este período
muitas vezes ao lado do marxismo, que aparece como uma influência frequente nas
pesquisas. É interessante perceber como uma corrente que é forte no período anterior,
como o culturalismo norte-americano via Darcy Ribeiro, praticamente desaparece na
década dos 70.
24Com exceção de Victor Turner e Marsha11 Sahlins presentes na maioria das pesquisas feitas na década
de 70.
14
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apresentando pesquisas sobre etnociência, que por exemplo, já não podem ser mais
encontradas nas demais instituições estudadas.
Se formos analisar a bibliografia utilizada nestas pesquisas, serão muito poucas
aquelas que terão utilizado exclusiva e claramente de apenas uma tradição teórica. Autores
como Marx e Engels, Gluckman e Malinowski, Lévi-Strauss e Godelier aparecem nas mais
diferentes combinações em determinadas épocas. Esta tendência de mesclar diferentes
tradições é uma constante tanto nos anos 70 quanto nos anos 80 com a predominância de
alguns autores em detrimento de outros dependendo da época focalizada. Portanto, quando
afirmamos que uma determinada tradição é predominante num determinado período, não
estamos descartando o aparecimento de autores ligados a outros momentos ou diferentes
escolas. Como exemplo podemos citar Clifford Geertz, Louis Dumont combinados com
nomes como Lévi-Strauss, Victor Turner, Max Gluckman etc, como autores recorrentes na
década
de 80, que continuam
sendo
citados
até os nossos
dias, mas não
predominantemente. Algumas ausências, no entanto, são claramente sentidas como é o
caso dos marxistas e/ou da chamada antropologia econômica'? no final dos anos 80. Na
década de 90, a tendência é a diminuição cada vez maior da presença de autores
estruturalistas que vem se refletindo principalmente pela diminuição da influência lévistraussiana.
26Maurice
Godelier, Balandier etc.
16
Anteriormente ao periodo que nos interessa, podemos dizer que as temáticas
desenvolvidas" se restringiam praticamente a duas: etnologia'" e minorias etnicas'". A era
da Pós-Graduação na antropologia inaugura um periodo plural em relacão às temáticas
pesquisadas. Não somente as temáticas tradicionais como a etnologia se intensificam existindo uma tendência cada vez maior no seu crescimento -, como várias outras linhas
de pesquisas apareceranr" e hoje podemos dizer que quase tud~ é passível de ser estudado
antropologicamente".
Nossa classificação se baseou em oito grandes temas32 que são (ver gráfico abaixo):
etnologia", antropologia rural'" antropologia urbana", família, gênero'", antropologia da
270S Estudos de Comunidades (Wagley: 1953; Willems: 1947 etc) não podem ser incluídos nesta
tradição pois ficaram restritos a um determinado período - final da década de 40 e início dos anos 50 - sem
contudo se tomar uma linha de pesquisa da antropologia no Brasil.
28CurtNimuendaju, Darcy Ribeiro, Florestan Femandes e mais recentemente na década de 60, Roberto
Cardoso de Oliveira.
29Tradição que remonta a Nina Rodrigues (Corrêa: 1981), Arthur Ramos (Azeredo: 1986) e nos anos
60, João Baptista Borges Pereira que basicamente tem o negro como objeto central de análise.
30Umas se consolidando no tempo, outras não tão intensamente - quantitativamente falando - mas
também recorrentes e algumas praticamente desaparecndo nos anos 80 como as referentes a pesca,
presente somente na UNB e no Museu Nacional.
"ver
o item OU1ROS na classificação de temáticas dos Programas.
32Para incluir grupos de pesquisas significativos dentro de uma mesma linha de pesquisa, fizemos
também uma classificação por SUB-TEMÁTICA. Neste sentido, as pesquisas que no Museu Nacional
são consideradas por seus autores como de antropologia do trabalho, por nós foram classificadas como
rural e a SUB-TEMÁTICA trabalho.
33Foram classificadas nesta temática todas as pesquisas que se referiam aos índios, mesmo quando o
foco era o contato com a população nacional ou o local de moradia o espaço urbano.
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'religião, minorias étnicas e antropologia da saúde". O critério de escolha destes grupos
temáticos foi o aparecimento recorrente dos temas nas quatro instituições e a sua
ocorrência nas duas décadas pesquisadas. Estão classificadas no item OUTROS, todas as
temáticas que não se encaixam nas definições anteriores".
As temáticas mais
desenvolvidas nas décadas de 70 e 80 são: no Museu, antropologia rural em primeiro lugar,
antropologia urbana e etnologia respectivamente em segundo e em terceiro; na UNB, em
primeiro lugar, etnologia, seguida da antropologia urbana e rural; na USP também
encontramos a etnologia em primeiro lugar e também a antropologia urbana e rural na
sequência; finalmente na UNICAMP, primeiramente antropologia urbana seguida pela
temática gênero, antropologia da saúde e antropologia da religião. Da década de 70 para a
de 80, todas as temáticas continuaram a se desenvolver e podemos até concluir que se
consolidaram em nossa disciplina como temas pertencentes à antropologia. A exceção fica
por conta da antropologia rural, que refluiu de 29 pesquisas nos anos 70 para 23 nos anos
80, e familia". Se considerarmos a sub-temática pesca, que foi classificada como
antropologia rural, vemos que ela desaparece por completo na década de 80. A temática
que mais cresceu na virada dos anos 70 para os 80, relativamente falando, foi etnologia,
que na primeira década contou apenas 13 pesquisas nas 4 instituições e no período
seguinte passou para 42 pesquisas. Esta é uma tendência que se mostra forte, ou seja, em
franco crescimento na década de 90, no que tem contribuído não somente para a
37 Onde estão agrupadas não somente aquelas pesquisas sobre saúde mental e fisica, como também
aquelas pesquisas que dizem respeito a terapêutica, a clínica, aos alimentos reimosos etc.
38Como por exemplo, as pesquisas sobre modernismo, autores clássicos da antropologia, migrações,
pintura, ourives etc.
39Quepoderíamos classificar no item OUTROS, pelas poucas pesquisas nesta área, e se não fosse a sua
recorrência nas duas décadas subsequentes.
19
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,,
continuação dessa linha de pesquisa que vinha sendo desenvolvida na USP, UNE e Museu
Nacional, mas também para o incremento desta temática na UNICAMP que até então
quase não contava com pesquisas na área.
-IV-
Além de fazer parte de nossos objetivos informar sobre a Antropologia feita no Brasil
num período específico, através da análise quantitativa, queremos também analisar este
período de nossa história recente que parece ser fundamental nos caminhos seguidos pela
disciplina em nosso país e na delimitação de um campo científico. Disciplina esta que vem
influenciando as demais ciências sociais - como a sociologia - e humanas - como a história
- e também recebendo contribuições importantes destes saberes, apresentando-se como
uma alternativa produtiva e significativa no campo intelectual brasileiro.
Retomando agora as questões mais gerais colocadas no início desta apresentação,
podemos dizer que não é nosso objetivo entrarmos em considerações filosóficas acerca da
validade ou não do conhecimento científico, da discussão da antropologia como ciência ou
não-ciência etc. O que nos interessa nesta problemática é compreender a singularidade do
conhecimento antropológico e a sua importância no mundo em que vivemos, e em nossa
realidade em particular, o que fica claro com a análise da produção acadêmica na
antropologia do período. É através desta análise, deste objeto empírico específico, que
tentaremos contribuir para esta problemática mais geral, sem no entanto ter a pretensão de
resolvê-Ia.
20
NOME
TITULO
PUBLICACAO
ANO DE INGRESSO
ANO DE DEFESA
TEMPO DE DURACAO
INSTITUICAO
LOCAL DE TRABALHO
ORIENTADOR
BANCA
TEMATICA
SUB-TEMATICA
GRUPO/RECORTE
LINGUA
LINGUAGEM
METODOLOGIA
CLASSICOS
CAMINHOS
INTERESSE
HISTORIA
MACRO
TECNICAS
CONCLUSAO
PESSOA
FINANCIAMENTO
PALAVRAS CHAVES
LOCAL DEPESQUISA
TEMPO DEPESQUISA
MORADIA NO LOCAL
OBS. PARTICIPANTE
PROJETO
OBJETIVOS
BIBLIOGRAFIA
N@ CAPH/USP
AREA DE CONCENTRACA
GERAL
AUTOR/OBJETO
N@ DE PAGINAS
RUBIM-Christina
de Rezende
A Teologia da Opressao
nao
marco de 1985
novembro de 1991
6 anos (incluidos 2 anos de licenca)
Unicamp
Carlos Rodrigues Brandao
Carlos Rodrigues Brandao, Ruben Alves e Robin Wright
Antropologia da Religiao
Pentecostalismo
Igreja Universal do Reino de Deus
nao se aplica
nao se aplica
Antropologia
Interpretativa
Clifford Geertz, Peter Berger
Conta corno fez a pesquisa
empirico
sim
sim
Entrevistas, observacao participante, filmagem, diario
campo
com conclusao
Ia. pl.
CAPES
Pentecostalismo,
clientelismo, religiao, Vlsao de mundo
identidade social, participacao
Rio de Janeiro/RJ, Sao Paulo/SP, Itu/SP e Campinas/SP
3 anos (intermitentes)
Observacao (enfaze)
Nao esta ligada a nenhum projeto mais amplo
"Meu objetivo e estudar e compreender o que e o fenomen
IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS, suas caracteristicas
peculiaridades
e avaliar ate que ponto a IURD tem
influenciado a vida de seus afiliados: sua visao de mun
sua orientacao de conduta frente a realidade da vida; a
dicotomia entre o pensado e o vivido por parte de seus
membros, dirigentes e afiliados." (p. 17)
Rubem Alves, Hugo Assmann, Riolando Azzi, Selma Baptist
Peter Berger, Pierre Bourdieu, Carlos Rodrigues Brandao
Candido P. F. de Camargo, Roberto Cardoso de Oliveira,
Manuela Carneiro da Cunha, Marilena chaui, Roberto Da
Matta, Ralph Della Cava, Christian Lallive D'Epinay,
Durkheim, Rubem Cesar Fernandes, Peter Fry, Gary Howe,
Clifford, Geertz, Beatriz Gois Dantas, E.Leach, Malinows
Maria Isaura Pereira de Queiroz, Francisco Cartaxo Roli
Beatriz Muniz de Souza, Max Weber.
75 (numero de ordem por defesa)
Antropologia Social
nao
175
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23
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