Modelagem e Simulação de Processos de Conversão de Energia Delcídio de Souza Neto1, Dr. Jesus Franklin A. Romero1 1 Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal do ABC, Santo André, São Paulo, Brasil O Brasil é o décimo maior consumidor de energia do mundo. Dos 46% desta que são utilizados nas indústrias, os sistemas de conversão de energia se destacam por consumirem uma grande parte. Devido à escassez de recursos energéticos, faz se necessário o uso eficiente dessa energia. Para a indústria essa eficiência energética está intimamente ligada ao controle energeticamente eficiente das máquinas elétricas, pois estas apresentam alto gasto de energia. O trabalho visa o controle da dinâmica de um motor elétrico de corrente contínua (motor CC), considerando aspectos relacionados à eficiência energética. Também é objetivado o estudo de aspectos relacionados à implementação real do sistema de controle do motor, como a discretização do modelo do controlador e o estudo do efeito de um módulo de potência PWM sobre o sistema. Foi elaborado e simulado um sistema de controle proporcional-integral da dinâmica do motor CC, em que os ganhos foram obtidos através de um algoritmo de otimização. Após isto se realizou a discretização do controlador PI, o modelo híbrido foi simulado e analisado para diferentes tempos de amostragem do controlados. Por fim, foi estudado o efeito da modulação PWM no sistema. Palavras-chave: Motor de Corrente Contínua, Simulação Computacional, Controlador PI, Modulação PWM, Eficiência Energética. I. INTRODUÇÃO O Brasil se destaca por ocupar o décimo lugar como maior consumidor de energia no mundo. Do ponto de vista da energia elétrica, no nosso país, é a indústria quem consome a maior parte (cerca de 46%). Dessa energia utilizada no setor industrial, os sistemas de conversão de energia se destacam por consumirem uma grande parte [1]. Sistema de conversão de energia é todo equipamento que por meio de processos converte um determinado tipo de energia em outro, um exemplo é o motor elétrico de corrente contínua que converte energia elétrica em energia mecânica. Devido ao grande uso dos recursos energéticos nos diversos setores da economia, principalmente na indústria, e escassez de energia nos dias atuais, faz-se necessária utilização eficiente dessa energia. O processo de tornar eficiente a utilização energética é um conjunto de medidas e práticas que diminuem as perdas da energia. Dentre essas medidas, o controle energeticamente eficiente de máquinas elétricas, se apresenta como prioridade devido ao alto gasto de energia por estes equipamentos no setor industrial [2]. O presente projeto pretende explorar diferentes técnicas de controle, com características energeticamente eficientes, em um motor de corrente contínua. O primeiro passo para o controle de um motor é o desenvolvimento de um modelo matemático satisfatório, seja no sentido de projeto de controle, ou da quantificação da eficiência energética. O segundo passo consiste no projeto de um sistema de controle. Convém notar que o presente projeto é uma renovação do projeto realizado no período 2007/2008, sendo assim, o primeiro passo citado acima já foi abordado. Neste sentido, o objetivo principal do projeto consiste em controlar a dinâmica de um motor de corrente contínua garantindo aspectos de desempenho relacionados à eficiência. Para tal, pretende-se projetar diferentes técnicas de controle em malha fechada de forma a obter uma análise comparativa dos aspectos de eficiência e desempenho. Mais precisamente, técnicas de otimização numérica deverão ser utilizadas para satisfazer diferentes parâmetros de desempenho. É importante mencionar que, embora uma das metas principais do projeto consista na validação dos sistemas de controle mediante uma implementação real com um motor CC de baixa potência baseada em Processador Digital de Sinais (DSP), no decorrer do ano de trabalho tiveram que ser abordados outros aspectos importantes na etapa de pré-projeto: - Validação do projeto via simulação híbrida nos domínios contínuo e discreto. - Projeto e simulação do módulo de potência baseado em algoritmo PWM. II. PROJETO DO CONTROLADOR PROPORCIONAL MAIS INTEGRAL Para o projeto do controlador PI são considerados os valores dos parâmetros do motor CC que foram adotadas durante a etapa de simulação da dinâmica do motor CC. O primeiro passo do projeto consiste na determinação dos ganhos proporcional e integral do controlador PI. Foram utilizados os seguintes valores para os parâmetros de referência durante as simulações no MATLAB [3]: A. Determinação dos ganhos No caso particular do motor CC, quando considerarmos uma saturação que garanta o valor máximo na tensão de entrada, o procedimento para obtenção dos ganhos proporcional e integrativo não se resumem à simples utilização de métodos tradicionais (alocação de pólos ou Ziegler-Nichols). Simulações numéricas no ambiente SIMULINK, baseadas na configuração de controle em malha fechada (Figura 1), nos mostram um comportamento não linear devido à saturação. Tl vel Constant 1 400 1 PID Constant Km La .s+Ra Add 2 PID Controller Saturation Add Transfer Fcn To Workspace1 1 Add 1 Gain theta J.s+b 1 s Transfer Fcn 1 Integrator To Workspace Gain 1 Kb Figura 1: Modelo da malha de controle do motor CC no SIMULINK. A Figura 2 mostra a variação temporal da variável de controle (velocidade em rad/s) do modelo da Figura 1 (com ganhos Kp = 1 e Ki = 8), com uma saturação em 24V (tensão de alimentação). 450 400 350 Vel(rad/s) 300 250 200 150 100 50 0 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 Tempo(s) 0.35 0.4 0.45 3. Repete o passo anterior para 100 pontos dentro da janela; 4. Atribui os valores de ganhos para aquele ponto que resultou no menor erro; 5. Repete o passo 1 para ponto encontrado no passo anterior e diminui a janela em 5%; 6. Repete os passos anteriores 10 vezes; Ao final das simulações os valores obtidos para os ganhos foram Kp = 87, Ki = 7 e Kd = 0. A variação temporal da velocidade de rotação do motor pode ser observada na Figura 4. 0.5 450 Figura 2: Controle PI com saturação. 400 Como já foi citado, não é possível determinar os valores dos ganhos por métodos tradicionais como Ziegler-Nichols, pois a função de transferência do motor CC (Equação 1) apresenta pólos com margem de ganho infinita, ou seja o sistema é estável. 𝜔 𝐾𝑚 = (1) 2 350 𝑉 𝐽 .𝐿𝑎.𝑠 + 𝐽 .𝑅𝑎 +𝑏.𝐿𝑎 𝑠 + (𝑅𝑎 .𝑏+𝐾𝑚 .𝐾𝑏 ) O primeiro método adotado é o da tentativa e erro, de modo a minimizar o tempo de resposta e o erro em regime estacionário do modelo. Sendo assim os valores encontrados foram Kp = 1 e Ki = 10, que retornaram o gráfico de variação temporal da velocidade presente na Figura 3. 450 400 350 Vel(rad/s) 300 250 200 Vel(rad/s) 250 200 150 100 50 0 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 Tempo(s) 0.35 0.4 0.45 0.5 Figura 4: Variação temporal da velocidade com os valores de ganho encontrados por tentativa e erro. Como se pode perceber pela análise do gráfico acima, o erro em regime estacionário entre o valor de referência e a velocidade de rotação obtida pode ser desconsiderado. Além disso, a velocidade entrou em regime estacionário com menos de 0,1s. Portanto os valores dos ganhos encontrados com o auxílio do algoritmo “Monte Carlo” são considerados ótimos para o controle do motor CC. B. Discretização do modelo do controlador PI Considerando que o tempo de amostragem Tm é muito pequeno, pode-se utilizar a seguinte aproximação: 150 100 50 0 300 𝑑𝑋 (𝑡) 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 Tempo(s) 0.35 0.4 0.45 Figura 3: Variação temporal da velocidade com os valores de ganho encontrados por tentativa e erro. A função de saída de um controlador Proporcional-Integrativo-Derivativo (PID) no domínio da frequência é dada pela Equação 9. 𝐾𝑖 X(s) = Kp + + Kd (2) 𝑠 Aplicando os valores de Kp=1, Ki=10 e Kd=0, este último se deve ao fato de estarmos usando um controle proporcional-integrativo, à Equação 2, tem-se que: X(s) = (𝑠+10) 𝑠 𝑋 𝐾 − 𝑋(𝐾−1) ≈ (4) 𝑇𝑚 Onde X(t) é a variável de controle (no caso deste projeto, velocidade) no tempo contínuo e X(K) é a sua correspondente no tempo discreto. Utilizando a aproximação da Equação 4 chegase a versão discretizada da Equação 2 (Função de saída do controlador PID). Substituindo os valores ótimos dos ganhos encontrados e o tempo de amostragem tem-se: X(k) = X(k+1) + (87 + 7× 1e-3) × e(k)– 87 × e(k-1)= X(k+1) + 87,007× e(k) - 87× e(K-1) (5) Onde: e(k) é o erro entre o valor de referência e a variável de controle. Para a obtenção do modelo discreto no SIMULINK foi necessário encontrar a função de transferência, para isso foi necessário que se aplicasse a Transformada Z na Equação 5. Sendo assim chegou-se a função de transferência do controlador PI em tempo discreto. 𝑑𝑡 0.5 (3) Ainda na tentativa de se obter melhores resultados, fez se uso de uma rotina elaborada no ambiente MATLAB para se determinar os valores dos ganhos do controlador. Este algoritmo é conhecido como método de otimização numérica “Monte Carlo”. De maneira simplificada ele, partindo de valores pré-estabelecidos para os ganhos e para o erro em regime permanente, efetua os seguintes passos: 1. Abre uma janela em torno desse ponto e realiza uma “chuva” de pontos dentro desta janela; 2. Atribui um desses pontos para os valores dos ganhos, simula a dinâmica do motor CC e calcula o erro em regime permanente entre a velocidade de referência e a velocidade obtida; 𝐹(𝑍) 𝐸(𝑍) = 87,007 ×𝑍 2 −87×𝑍 𝑍2 − 𝑍 (6) Com isso foi possível modificar o modelo, agora com controlador em tempo discreto Figura 5. Figura 5: Modelo da malha de controle de um motor CC no SIMULINK com controlador discreto. C. Simulação do modelo com controlador PI discreto em ambiente de simulação híbrido A simulação realizada é híbrida, pois o modelo utilizado (Figura 5) possui uma parte discreta (controlador PI) e outra contínua (modelo do motor CC). A simulação do modelo do motor CC com controlador PI discreto, com tempo de amostragem de 1ms resultou no gráfico da Figura 6. 450 modulador [3]. Por ciclo ativo entende-se a porção de tempo em que o sinal permanece em nível alto durante um período, por exemplo um sinal com 70% de ciclo ativo e período de 1s, permanece 0,7s em nível alto e 0,3s em nível baixo. A Figura 8 apresenta o modelo híbrido com o bloco de modulação PWM. Figura 8: Modelo híbrido com o módulo PWM. A Figura 9 mostra o efeito da modulação PWM sobre a tensão de alimentação do modelo do motor CC. 25 400 350 20 15 250 Ea1[V] Vel[rad/s] 300 200 10 150 5 100 50 0 0 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 Tempo[s] 0.7 0.8 0.9 Como o tempo de amostragem do controlador é muito menor que o tempo de integração do modelo do motor CC (1µs), o controlador perde um pouco o controle e logo depois já o retoma, dessa maneira a velocidade oscila como mostra a Figura 6. A Figura 7 mostra a variação temporal da velocidade quando o tempo de amostragem do controlador era 10µs. 450 400 350 Vel[rad/s] 300 250 200 150 100 50 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 tempo[s] 0.7 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 Tempo [s] 0.35 0.4 0.45 0.5 Figura9: Efeito da modulação PWM sobre o sinal de tensão. Figura 6: Simulação híbrida para o tempo de amostragem de 1ms. 0 0 1 0.8 0.9 Como se pode perceber na Figura 9, a modulação PWM causa um chaveamento na tensão de alimentação quando esta começa a oscilar (tempo de aproximadamente 0,1s), como já era esperado pela abordagem teórica feita sobre modulação PWM. III. CONCLUSÕES Foi verificado que o método de otimização numérica “Algoritmo de Monte Carlo” apresentou desempenho satisfatório para a obtenção dos valores dos ganhos do controlador PI. Com a simulação híbrida do modelo com controlador discreto, foi possível perceber a variação da velocidade com o tempo de amostragem deste controlador. Por fim, por meio de simulações, verificou-se o efeito da modulação PWM sobre o sinal de tensão de alimentação do motor CC em uma implementação real. 1 Figura 7: Simulação híbrida para o tempo de amostragem de 10µs. O erro em regime estacionário observado é pequeno e pode ser desprezado. Pela análise do gráfico é possível constatar que a simulação do modelo discreto do controlador se aproximou da simulação do modelo contínuo (Figura 3). É possível observar também que o modelo discreto do controlador PI demorou aproximadamente 0,8s para fazer com que o modelo do motor CC entrasse em regime estacionário. C. Simulação do Módulo de potência baseado em modulação PWM Neste tipo de modulação o ciclo ativo do sinal modulado, ou em outras palavras a largura do pulso, é modificado de acordo com a amplitude do sinal IV. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] Site do Ministério das Minas e Energia: http://www.mme.gov.br/, acessado em 19/02/2009; [2] Antonio V. H. Sola, João L. KovalesKi. EFICIÊNCIA ENERGÉTICA NAS INDÚSTRIAS: CENÁRIOS & OPORTUNIDADES, XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção – Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de Novembro de 2004; [3] Igor M. Malaquias. MODULADOR/ DEMODULADOR PWM;