DOUTRINA DA SANTIFICAÇÃO Quem tem uma visão superficial da salvação deprecia a doutrina da santifica ção. . John F. MacArthur, Jr. Introdução: .Deus escolhe o Seu povo para que seja crente e santo. (...) Você pode aproximar-se de Jesus Cristo como um pecador, mas não pode aproximar-se dEle como uma pessoa salva enquanto sua santidade não for visível., conclui Spurgeon. A Palavra de Deus demonstra enfaticamente que a nossa salvação não é um fim em si mesma; antes, é o início da vida cristã, por meio da qual nos tornamos filhos de Deus e progredimos em santificação até a consumação de todo propósito de Deus em nossa vida. Devemos estar atentos para o fato de que a salvação (justificação, regeneração, união com Cristo), não é a linha de chegada da vida cristã; antes, é o ponto de partida. 1. Definição de Santificação: Santificação, portanto, é o processo sobrenatural que se inicia com a regeneração, consistindo no progressivo abandono do pecado em direção a Deus. Deus nos chamou à Santidade, a pertencermos exclusivamente a Ele, a fim de que habitados pelo Espírito Santo, tenhamos em nossos corações o registro feito pelo próprio Espírito: "Santidade ao Senhor"! Deus é absolutamente santo, majestoso em Sua santidade (Ex 15.11; Sl 99.9; Is 6.3) e deseja do Seu povo uma vida de santidade. 2. Pressupostos da Santificação: A doutrina da santificação pressupõe que não somos perfeitos; ela está relacionada com o homem pecador, cônscio de seus pecados, mas que, ao mesmo tempo, insatisfeito com a sua prática, deseja se aperfeiçoar espiritualmente. O ponto relevante aqui é que esta insatisfação com o pecado, acompanhada pelo desejo de santificar-se, pertence ao homem que foi gerado de novo pelo Espírito que agora nele habita, despertando em seu coração desejos santos de crescimento e amadurecimento espiritual. "Santidade é a naturalidade do homem espiritual”. Portanto, o fato é que, ou buscamos a santidade ou, na verdade, nunca fomos salvos por Deus. Esta é a verdade bíblica pura e simples: Não há salvação e conseqüentemente vida cristã, sem santificação. Destaquemos dois pressupostos fundamentais: A) A Regeneração: O novo nascimento é condição fundamental para que possamos falar de Santificação; .A regeneração está para a santificação, como o nascimento para o crescimento. A nova vida da alma começa com a regeneração. A regeneração é a marca distintiva de todos os filhos de Deus; sem regeneração não há adoção; os filhos foram regenerados; os regenerados são os filhos de Deus. Deste modo, este assunto pertence à esfera daqueles que crêem em Cristo, aceitando os Seus méritos salvadores como suficientes para a sua salvação, tendo, assim, o coração regenerado pelo Espírito. A santificação é um processo que tem início em nossa conversão, e a santificação a pressupõe. Portanto, não existe regeneração sem santificação; ou seja: a regeneração se torna real na santificação. A regeneração é um ato, que dá início a um processo; é, em outras palavras, "o começo de um caminho de vida". O homem não regenerado pode até achar interessante o assunto e tentar mudar o seu comportamento, todavia, isto não resolve a questão: "a razão e a consciência podem levar um homem a mudar de conduta, mas não podem levá-lo a mudar de coração". B) A Justificação: Se a regeneração é o início da santificação, a justificação é o fundamento judicial da santificação. A justificação e a santificação não podem ser separadas, sem se perder de vista a verdadeira dimensão da vida cristã. Na justificação, por graça, fomos declarados livres da culpa, amparados na justiça de Cristo. Na santificação, a santidade de Cristo é-nos aplicada internamente pelo Espírito de Cristo, o Espírito de santidade. Na regeneração recebemos um coração novo, com uma santa disposição; na justificação Deus nos declara justos, perdoando todos os nossos pecados, os quais foram pagos definitivamente por Cristo; por isso, já não há nenhuma condenação sobre nós; estamos em paz com Deus, amparados pela justiça de Cristo. Na justificação Deus declara que já não há mais culpa em nós; na santificação Ele nos purifica da corrupção. Na justificação temos uma mudança em nossa condição legal; a santificação envolve uma transformação moral. Enquanto não formos gerados por Deus, declarados justos, por intermédio da justificação, não há santificação. "Aqueles que são justificados, também são sempre santificados; aqueles que são santificados sempre foram justificados". Somos declarados justos pela justiça de Cristo. A justificação nos transfere de uma condição de condenado para a de herdeiro de Deus (Jo 3.18; At 13.39; Rm 3.28,30; 5.1; Gl 2.16; 3.24/Rm 8.1,7). A justificação que ocorre fora de nós não produz nenhuma transformação espiritual em nosso ser; no entanto, é uma vocação incondicional à santificação, conforme a vontade de Deus. Deus chama pecadores, todavia, não deseja que eles continuem assim; antes, infunde neles a justiça de Cristo, dando-lhes um novo coração, mudando as inclinações de sua alma, habilitando os a toda boa obra (Ef 2.8-10). Fazendo outro paralelo entre a justificação e a santificação, podemos dizer que enquanto a justificação nos livra da condenação do pecado, a santificação nos livra de sua contaminação. Na justificação, Deus imputa a justiça de Cristo; e na santificação, o Seu Espírito infunde a graça e dá forças para ser praticada. Na justificação, o pecado é perdoado; na santificação, ele é subjugado.A nossa justificação é pela graça mediante a fé (Gl 3.11; Fp 3.9; Tt 3.4-7). ".A fé é o instrumento pelo qual o pecador recebe e aplica a si tanto Cristo como sua justiça". Paulo, diante do rei Agripa, testemunhando a sua conversão e o seu chamado ministerial para trabalhar entre os gentios, relata as palavras de Cristo a ele dirigidas: "Para lhes abrir os olhos e convertê-los das trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam eles remissão de pecados e herança entre os que são santificados pela fé em mim. (At 26.18). 3. A Trindade e a Santificação: As Escrituras Sagradas nos ensinam que o Deus que nos chama à santidade está comprometido com a nossa santificação. A Santíssima Trindade opera eficazmente em nós para que sejamos santos. Por isso, fundamentados na Palavra de Deus, podemos dizer que o Deus Trino é o Autor de nossa santificação. Creio também, que deve estar claro, que todos nós somos responsáveis por nossa santificação, no sentido de usarmos os meios concedidos por Deus para este fim. No entanto, agora a nossa ênfase, é na ação primeira de Deus. Apesar de sabermos que não podemos separar a obra da Trindade de forma arbitrária, para uma visão melhor do assunto, mostraremos biblicamente, como as três pessoas da Trindade agem de forma eficaz em prol de nossa santificação. A) O Pai: Jesus orou ao Pai para que santificasse os seus discípulos: "Santifica-os na verdade" (Jo 17.17). Do mesmo modo orou Paulo: .O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo. (1Ts 5.23). Ambas as orações além da confiança, ressalta o fato de que o Deus Pai é poderoso para nos santificar, o que de fato Ele faz. O Pai que nos escolheu em Cristo, nos disciplina (Hb 12.5-11), propicia todos os meios para que cresçamos em nossa fé, desenvolvendo a nossa salvação (Fp 2.13/Hb 13.20-21). B) O Filho: O Filho além de orar ao Pai para que nos santificasse, Ele mesmo se ofereceu por nós para que a nossa santidade fosse real. Sem a obra do Filho, a Sua oração em nosso favor não teria eficácia. Nós somos santos e santificados em Cristo Jesus. Por isso, Paulo, escrevendo à Igreja de Corinto, pôde dizer: "À Igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus. (1Co 1.2). Em outro lugar, Paulo, inspirado por Deus, declara: "Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra. (Ef 5.25-26. Vd. Tt 2.14). A santificação é algo tão vital para a Igreja que Cristo se entregou por nós, a fim de que sejamos santos; Ele não se limitou a exigir isto de nós; Cristo se entregou para que este propósito fosse possível. Entre a realidade terrível de nosso pecado e um alvo, que poderia ser etéreo, Cristo se entrega por nós para que a nossa realidade seja transformada, cumprindo assim, o Seu propósito de santificação em nós. Jesus Cristo tornou-se também, para nós, o exemplo perfeito de santificação, o qual devemos perseguir (Hb 12.2/1Pe 2.21; 1Jo 2.6). C) O Espírito Santo: A Bíblia atribui mais especificamente a nossa santificação ao Espírito Santo.Ele nos regenera e renova (Jo 3.3,5; Tt 3.5), guiando-nos a fazer a vontade de Deus (Rm 8.14). Ele habita em nós, testificando que somos filhos do Deus Santo (Rm8.16), capacitando-nos a desejar agradar a Deus através da nossa obediência. Paulo, falando aos coríntios, faz um rol de pecados que caracterizavam a vida de alguns daqueles irmãos antes de se converterem a Cristo; depois conclui: .Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados, em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus. (1Co 6.11). Aqui temos a oportunidade de ver a relação entre a obra do Filho e a do Espírito. Somos santificados no nome de Cristo, pela operação do Espírito. O Espírito aplica nos salvos de Deus os méritos redentores de Cristo. Deus leva a efeito o objetivo de nossa salvação, de forma especial, através do Espírito: "....Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade. (2Ts 2.13). "Eleitos, segundo a presciência de Deus Pai,em santificação do Espírito, para obediência..... (1Pe 1.2). Nesta operação, o Espírito tem como objetivo nos tornar santos conforme Ele o é, visto ser Ele "O Espírito de Santidade" (Rm 1.4); Por outro lado, a Palavra de Deus também nos mostra que devemos estar comprometidos com a santificação de nossos irmãos, intercedendo por eles, para que Deus realize a Sua obra em sua vida: "O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo, sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo., ora Paulo (1Ts 5.23). Considerações Finais: Concluindo estas anotações, destacamos: A santificação é um processo que tem início no ato de Deus. Em outras palavras, estamos dizendo que fomos separados do mundo (sendo santificados), para crescermos, progredirmos em nossa fé (santificação). O Espírito opera em nós a salvação a qual se evidencia em santificação (1Co 6.11; 2Co 3.18; 1Pe 1.2/Jo 17.17). O mesmo Espírito que nos regenerou por meio da Palavra (Tg 1.18; 1Pe 1.23), age mediante esta mesma Palavra, para que vivamos de fato, como novas criaturas que somos. A Bíblia é o instrumento eficaz do Espírito, porque Ela foi inspirada pelo Espírito Santo (2Pe 1.21). Portanto, o Espírito não somente testifica que somos filhos de Deus, mas, também, nos ensina pela Palavra a nos comportar como filhos (Rm 8.14).