LUTA CONTRA DOPING É TRUNFO DE LONDRES Rio, 29 de junho de 2005 http://oglobo.globo.com/jornal/esportes/ Jorge Antonio Barros LONDRES. O caso Dwain Chambers — velocista britânico e campeão europe u dos 100m rasos que foi suspenso em 2003 por uso do esteróide anabolizante THG (tetrahidrogestrinona) — abriu uma ferida no movimento olímpico do Reino Unido, que só agora parece começar a ser cicatrizada. Por isso mesmo, a luta contra o doping, a tragédia das Olimpíadas, acabou se tornando uma das maiores bandeiras britânicas em defesa da candidatura de Londres como sede dos Jogos de 2012. Em Atenas, mesmo após entrar em vigor o Código Mundial Antidoping da WADA (Agência Mundial Antidoping, criada em 1999), as Olimpíadas registraram a desclassificação de pelo menos 16 atletas acusados de uso de substâncias proibidas, um recorde olímpico. Embora com o desenvolvimento da engenharia genética seja praticamente inevitável o surgimento de atletas de laboratório, o antidoping é considerado um trunfo importante pelo governo britânico na disputa pela sede das Olimpíadas. Desde 1978 funciona o Centro de Controle de Drogas da Universidade King’s College London, um dos 33 laboratórios credenciados no mundo pela WADA. Por lá, passam anualmente entre 7 e 8 mil amostras ou 650 litros de urina de atletas de mais de 40 modalidades esportivas. Além disso, o governo lançou no fim do mês passado uma grande campanha educativa e de conscientização de atletas contra o doping, a “100% Me” (100% eu), que mobilizou as maiores estrelas dos esportes da Grã-Bretanha. Na Inglaterra, o escândalo Chambers trouxe decepção e tristeza aos apaixonados pelo atletismo. Uma das maiores esperanças britânicas de medalhas de ouro em Atenas, o velocista foi flagrado com traços de THG numa amostra de urina colhida durante treinos na Alemanha. Depois disso, o país resolveu fazer pré-testes em todos os seus atletas enviados a Atenas. A transparência nos exames se tornou até mesmo uma questão estratégica para garantir a idoneidade dos atletas britânicos. A iniciativa, a cargo do Centro de Controle de Drogas do King’s College, faz parte do Programa Antidoping do UK Sports (Esportes do Reino Unido), entidade governamental encarregada da política de esportes e do combate ao doping naquele país. Credenciado pela WADA, o Centro funciona em instalações com tecnologia de ponta, em um edifício inteligente e com acesso altamente restrito na Rua Stanford, perto do Rio Tâmisa. Entre amostras de urina recebidas de federações esportivas, o diretor do centro, professor David Cowan, falou sobre a importância do laboratório para as olimpíadas. — Estamos colocando todo nosso conhecimento à disposição da candidatura de Londres — afirmou Cowan, professor de Toxicologia Farmacêutica, considerado um dos maiores investigadores de substâncias tóxicas do Reino Unido. Ele dirige o centro desde 1990 e foi membro da Comissão Médica do Comitê Olímpico Internacional (COI) nas Olimpíadas de Sidney-2000. Chefe dos analistas do laboratório, Paul Levy informou que, em média, apenas 2% das amostras apresentam resultado positivo e que esse é um bom indício: — Estamos convencidos de que os testes ajudam bastante a controlar o abuso de drogas nos esportes. Justamente por isso, segundo ele, exige-se maior preciosismo na análise, com o uso de um sistema sofisticado, todo computadorizado, que tem capacidade de apontar mais de 500 substâncias proibidas pela agência antidoping. As amostras são identificadas somente por códigos, de mo do que o laboratório saiba apenas a modalidade esportiva e suas substâncias químicas proibidas. Segundo o UK Sports, aumentou em 20% o volume de exames entre 2002 e 2003. — Somos desafiados a contribuir para a formação de uma geração de atletas que acreditem nos velhos e bons valores do esporte, para que a competição seja a mais justa e bonita possível — observou a secretária de estado de Cultura, Mídia e Esporte do governo britânico,Tessa Jowell. Presidente da candidatura de Londres e campeão olímpico com duas medalhas de ouro nos 1.500 metros, lorde Sebastian Coe concorda. — O esporte deve ser baseado no talento natural e no trabalho duro dos treinos — completou o presidente da candidatura londrina. Uma pesquisa feita pelo UK Sports junto a 874 atletas no Reino Unido revelou que 89% acham importante a existência de um eficiente sistema de testes antidoping. Sessenta e cinco por cento deles já foram submetidos a algum tipo de teste antidoping. Mas ninguém revela se usa drogas. É um trabalho para o pessoal do professor Cowan. JORGE ANTONIO BARROS viajou a convite do Ministério das Relações Exteriores do governo britânico