Maio 2015 - DeVry Brasil

Propaganda
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
a revista do conhecimento humano publicada pela FACID
Teresina - PI
Semestral
ISSN 2358-3142
Página 1
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Página 2
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
a revista do conhecimento humano publicada pela FACID
Teresina-PI
As opiniões e artigos expressos aqui são de inteira
responsabilidade dos autores.
Periodicidade Semestral
Rua Veterinário Bugyja Brito, 1354 - Horto Florestal
CEP: 64052-410 • Teresina (PI) • Brasil
Fone: (086) 3216-7900 / 3216-7901
www.facid.edu.br
Página 3
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Revista Facid
http://www.facid.edu.br
[email protected]
Editor - responsável
Maria Helena Chaib Gomes Stegun
Projeto Gráfico
Castino Martins da Silveira e Luiz Carlos dos Santos Júnior
Revisão
Antonia Osima Lopes, Maria Helena Chaib Gomes Stegun, Maria Rosilândia Lopes de Amorim.
Jornalista Responsável
Marcos Sávio Sabino de Farias - MTB 1005
Impressão
Gráfica
Capa
Amanda Paiva e Silva Martins
Catulo Coelho dos Santos
George Mendes Ribeiro Sousa
Juciara Freitas Ribeiro
(Egressos do Curso de Publicidade e Propaganda da FACID)
Revista Facid: Ciência & Vida / Faculdade Integral Diferencial.
V. 11, N. 1, 2015 / Teresina: FACID, 2015.
Semestral
ISSN 2358-3142
1. Pesquisa científica. 2. Desenvolvimento científico.
CDD 509
CDU 001.891
Página 4
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
a revista do conhecimento humano publicada pela FACID
Teresina-PI
FACID - Faculdade Integral Diferencial
Integral - Grupo de Ensino Superior do Piauí S/C Ltda.
Maria Josecí Lima Cavalcante Vale
Diretora Geral
Lucia Cristina Gauber
Coordenadora Geral Acadêmica
Maria Helena Chaib Gomes Stegun
Coordenadora de Pesquisa e Pós-Graduação
Conselho Editorial da Revista
Antonia Osima Lopes
Maria Helena Chaib Gomes Stegun
Hilris Rocha e Silva
Isabel Cristina Cavalcante Moreira
Maria do Carmo Bandeira Marinho
Maria Josecí Lima Cavalcante Vale
Nivea Maria Ribeiro Rocha da Cunha
Thais Barbosa Reis
Valéria de Deus Leopoldino de Arêa Leão
Bibliotecária
Marijane Martins Gramosa Vilarinho - CRB/3 – 1059
Página 5
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Página 6
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
EDITORIAL
Página 7
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Página 8
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
EDITORIAL
Na primeira edição de 2015, a Revista FACID Ciência & Vida traz treze artigos e uma
resenha.
Neste importante espaço, estão publicadas pesquisas realizadas por estudantes e
professores engajados em apresentar e discutir com a sociedade assuntos relacionados aos mais
diversos campos do saber científico, notadamente, relacionados à área de saúde.
São textos produzidos com o objetivo de proporcionar ao leitor a reflexão e a atualização
do conhecimento, tão necessárias para nossa atuação profissional. São trabalhos de pesquisa sempre
incentivados pelos Programas Institucionais de Iniciação Científica da Faculdade.
Excelente leitura a todos!
Lucia Cristina Gauber
Coordenadora Geral Acadêmica
Página 9
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Página 10
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
SUMÁRIO
Página 11
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Página 12
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
SUMÁRIO
ARTIGOS
A ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA NA FIBROMIALGIA- REVISÃO DE
LITERATURA
Carolina Nojosa Leódido; Marta Graciele da Silva Barbosa; Saulo Araújo de Carvalho....
17
A RELAÇÃO ENTRE A APENDICITE AGUDA E A POSIÇÃO DO APÊNDICE
CECAL
Ananda Serra Silva; Angélica Moura Lopes da Silva; Larisse Maria di Paula Alencar
Sousa; Vítor Monteiro Silva; Deuzuita dos Santos Oliveira...............................................
23
A SÍNDROME DO DESCONFORTO RESPIRATÓRIO AGUDO EM RATOS
TRATADOS COM LASER DE BAIXA POTÊNCIA
Raphaela Gonçalves Silva; Zilmar Wanderson Saraiva Torres; Esmeralda Maria Lustosa
Barros; Nayana Pinheiro Machado de Freitas Coelho........................................................
27
AVALIAÇÃO DAS MARGENS DE SEGURANÇA HISTOPATOLÓGICA EM
RESSECÇÃO CIRÚRGICA DE LESÕES CUTÂNES DE FACE
Samuel Gois Carneiro; Edison de Araujo Vale .................................................................
34
AVALIAÇÃO
DA
QUALIDADE
DE
VIDA
DE
MÉDICOS
ANESTESIOLOGISTAS DE TERESINA – PI
Alécio Fonseca Leite; Marcus Vinícius de Carvalho Souz ...............................................
41
CENOSTIGMA MACROPHYLLUM: INVESTIGAÇÃO DE POTENCIAL
ANTINOCICEPTIVO E ANTIINFLAMATÓRIO EM ROEDORES
Ana Luíza Silva Ferreira; Luciano da Silva Lopes; Tacianny Eva Araújo Passos; Talvany
Luis de Barros; Lana Mayara Meneses Lustosa Vargas ...................................................
48
CICATRIZAÇÃO
DE
QUEIMADURAS
DE
PELE
TRATADAS
TOPICAMENTE COM CHÁ DE CAMOMILA
Andréa Reis Costa; Karinne Sousa de Araújo ....................................................................
53
EFEITO DE ÓLEOS ESSENCIAIS NA SÍNDROME DA ANGÚSTIA
RESPIRATÓRIA EM RATTUS NORVERGICUS
Kátia Cronemberger Cruz; Osifrankly Couto Machado; Antônio Luiz Maia Filho;
Charllyton Luis Sena da Costa .........................................................................................
62
EFETIVIDADE DA TERAPIA POR ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA EM
PACIENTES COM DOR LOMBAR: REVISÃO SISTEMÁTICA
Clícia Alves da Silva e Silva; Silvia Francisca Oliveira Freire; Jean Douglas Moura dos
Santos; Saulo Araujo de Carvalho.....................................................................................
67
O DISCURSO MASCULINO SOBRE OS RELACIONAMENTOS AMOROSOS
NA CONTEMPORANEIDADE
Thádia Martins Neiva Eulálio; Carlange Silva de Castro .................................................
79
Página 13
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM
TUBERCULOSE
Patrícia Chaib Gomes Stegun; Jyselda de Jesus Lemos Duarte ........................................
88
PERFIL DOS PACIENTES DIAGNOSTICADOS COM MENINGITE NA
CIDADE DE TERESINA –PI
Fernanda Arias de Almeida; Paulo Pedro do Nascimento; Paulla Fernanda Bezerra
Moura; Larissa Cristina Teixeira Furtado Leite .................................................................
98
PREVALÊNCIA DOS MARCADORES DAS HEPATITES B E C ATRAVÉS DA
TESTAGEM RÁPIDA EM PACIENTES SOROPOSITIVOS PARA O HIV/AIDS
Aline Ferreira da Mata; Symonara Karina Medeiros Faustino; Paulo Pedro do
Nascimento; Thandara Carvalho Cipriano; Carlos Átila Amaral Valentim.......................
109
RESENHA
APRENDIZAGEM BASEADA EM PROBLEMAS NO ENSINO SUPERIOR.
ARAUJO, Ulisses F.; SASTRE, Genoveva (Orgs.) São Paulo: Summus, 2009. 236p.
Antonia Osima Lopes.........................................................................................................
123
NORMAS EDITORIAIS ................................................................................................
127
Página 14
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
ARTIGOS
Página 15
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Página 16
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
A ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA NA FIBROMIALGIA – REVISÃO DE
LITERATURA
A PHYSICAL THERAPY APPROACH TO FIBROMYALGIA - LITERATURE REVIEW
Carolina Nojosa Leódido1,
Marta Graciele da Silva Barbosa1,
Saulo Araújo de Carvalho2
RESUMO
Fibromialgia (FM) é uma síndrome de etiologia desconhecida, de caráter crônico e não articular, com
característica típica de dor difusa pelo corpo, presença de tender points específicos, fadiga muscular,
distúrbios do sono, sintomas depressivos e queixas cognitivas. A fisioterapia tem um importante papel
na melhora da sintomatologia da FM. Esse objetivou analisar as propostas terapêuticas a fim de
abordar a relevância do atendimento fisioterapêutico no tratamento de pacientes com fibromialgia. O
trabalho foi elaborado a partir de uma revisão da literatura do período de 2005 a 2013, realizada
através do uso da base de dados Scielo e Lilacs. Foram encontrados vários estudos, demonstrando a
eficácia das diferentes modalidades terapêuticas com comprovação científica. A fisioterapia tem
relevância significativa na melhora da sintomatologia da FM. Consequentemente, atua também como
um importante recurso para promoção do aumento da qualidade de vida, bem-estar do paciente e
restauração da funcionalidade.
Palavras-chave: Fibromialgia. Tratamento. Fisioterapia.
ABSTRACT
Fibromyalgia (FM) is a syndrome of unknown etiology, with a chronic not a joint nature, with a
typical characteristic of diffuse pain through the body, the presence of specific tender points, muscle
fatigue, sleep disturbances, depressive symptoms and cognitive complaints. Physical therapy plays
an important role in improving the symptoms of FM. The aim of this study is to analyze the
therapeutic approaches to address the relevance of physiotherapy in the treatment of patients with
fibromyalgia. The work was developed based on a literature review from 2005 to 2013, conducted
through the use of SciELO and LILACS databases. It could be observed that there are several studies
demonstrating the efficacy of different therapeutic modalities in the literature with scientific evidence.
Physical therapy has significant importance in improving the symptoms of FM. Consequently it is
also an important resource to promote the patient’s better life quality, well-being and functionality
restoration.
Keywords: Fibromyalgia. Treatment. Physiotherapy.
1
Graduandas do curso de Fisioterapia do Centro Universitário - UNINOVAFAPI, Teresina (PI), Brasil.
Professor Mestre em Engenharia Biomédica pela Universidade do Vale do Paraíba – UNIVAP, Professor efetivo da
Universidade Estadual do Piauí (UESPI), Professor da Faculdade de Saúde, Ciências Humanas e Tecnológicas do Piauí
(NOVAFAPI), Professor da Associação de Ensino Superior do Piauí (AESPI), especialista em Fisioterapia
Pneumofuncional pela Universidade de Brasília, UNB, Brasília – Brasil
2
Página 17
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
1 INTRODUÇÃO
A fibromialgia (FM) é uma síndrome de etiologia desconhecida, de caráter crônico e não
articular, com característica típica de dor difusa pelo corpo, presença de tender points específicos,
fadiga muscular, distúrbios do sono, sintomas depressivos e queixas cognitivas (FERREIRA,
MARINO; CAVENAGHI, 2011).
Segundo Weidebach, a SFM não era uma doença bem definida clinicamente antes da década
de 1970, quando foram publicados os primeiros achados que deram margem para pesquisas mais
aprofundadas sobre a doença. Contrariamente ao que se pensava, ela não é uma doença inflamatória,
não gera comprometimentos articulares, nem causa deformidades. Contudo, considerando seu caráter
crônico, a SFM causa impacto negativo na qualidade de vida de seus portadores (SILVA et al., 2012).
Segundo os critérios do Colégio Americano de Reumatologia, desde 1990 foi adotado como
padrão pela comunidade científica internacional especializada, o diagnóstico de fibromialgia, que
exige pelo menos três meses consecutivos de dor generalizada e dor à palpação, com cerca de 4 kg
de pressão pela ponta do dedo, em no mínimo 11 de 18 pontos pré-definidos (ROCHA et al 2006).
O sintoma mais importante da fibromialgia é dor musculoesquelética difusa que pode se iniciar
de forma generalizada ou em uma área determinada. Espasmos musculares estão presentes em alguns
casos. Também fazem parte da sintomatologia as alodíneas e as disestesias6, além da fadiga, que se
inicia ao despertar e perdura por longos período (SALVADOR; SILVA; ZIRBES 2005).
A prevalência para a raça branca é de 92 a 98%. A maior parte dos pacientes acometidos (88%)
são mulheres, sendo mais comum na faixa etária entre 40 e 50 anos. Estima-se que a prevalência na
população geral é de 2% a 5%, (HECKER et al, 2011).
Pouco se conhece sobre a etiologia e patogênese da FM. Estudos recentes sugerem uma origem
multifatorial na qual ansiedade prolongada e estresse emocional, traumas, doenças ocupacionais,
interrupção repentina de medicamentos, hipertireoidismo e infecções podem ser fatores de risco para
o início da doença (FERREIRA; MARINO; CAVENAGHI, 2011).
A fisioterapia atua no sentido de diminuir os sintomas, melhorando o controle da dor e
manutenção ou melhora das habilidades funcionais dos pacientes. Além disso, outra meta da
fisioterapia deve ser o papel educativo, para que os ganhos da intervenção possam permanecer em
longo prazo e os pacientes consigam se tornar menos dependentes dos cuidados de saúde. Incentivamse estilos de vida mais participativos e funcionais que contribuam no restabelecimento físico e
emocional do paciente (BATISTA, et al, 2012).
As opções terapêuticas para o tratamento da fibromialgia incluem medicações para reduzir a
dor e melhorar o sono, programas de exercícios para fortalecer a musculatura e melhorar a aptidão
cardiovascular, técnicas de relaxamento para combater a tensão muscular e programas educativos
para ajudar a entender e manejar a fibromialgia. A fisioterapia tem um importante papel na melhora
do controle da dor e no aumento ou na manutenção das habilidades funcionais do paciente em casa
ou no trabalho assim como na redução de outros sintomas que lhe causam sofrimentos (HECKER, et
al, 2011).
Sendo assim, o objetivo do presente estudo consiste em analisar as propostas terapêuticas a fim
de abordar a relevância do atendimento fisioterapêutico no tratamento de pacientes com fibromialgia.
2 METODOLOGIA
Este trabalho foi elaborado a partir de uma revisão da literatura do período de 2005 a 2013,
realizada através do uso da base de dados Scielo e Lilacs. As palavras-chave utilizadas na pesquisa
foram: fibromialgia, tratamento e fisioterapia. Foram encontrados 26 artigos, sendo selecionados 10
artigos de interesse para o estudo, ou seja, aqueles que faziam referência, em seus dados, a aspectos
relacionados aos recursos e métodos fisioterapêuticos relevantes no tratamento da fibromialgia.
Foram critérios de exclusão: os artigos que foram realizados antes de 2005 e que não se referiam ao
tratamento fisioterapêutico.
Página 18
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Podemos observar que há vários estudos demonstrando a eficácia das diferentes modalidades
terapêuticas na literatura (Tabela 1), com comprovação científica. A seguir discutiremos sobre essas
modalidades e os benefícios para os pacientes acometidos por essa doença.
Tabela 1 – Resumo dos artigos encontrados na literatura
Autor
Ferreira L. L et al
Silva T. F. G. et al
Maggi L. E.
Marques A. P.
Batista, J. S. et al
Silva, K. O. M. et al
Sanches, M. L. et al
Barbosa A. M. et al
Hecker, C. D. et al
Título
Recursos eletrotermofototerapêuticos no tratamento da
fibromialgia
Comparação dos efeitos do TENS
e da hidroterapia na dor,
flexibilidade e QV vida de
pacientes com FM.
Software didático para modelagem
do padrão de aquecimento dos
tecidos irradiados por U.S. T.
Exercício de alongamento ativo no
tratamento da fibromialgia
Tratamento fisiotera -pêutico na
SDM e FM
Efeito da hidrocinesioterapia na
QV, capacidade funcional e sono
na FM
Pompage no tratamento da FM.
Acupuntura no tratamento da FM
Análise dos efeitos da
cinesioterapia e hidrocinesioterapia
na QV de pacientes com FM
Ano
Resultados
2011
Eficácia e maior vantagem
2008
Ambos benéficos
2008
Benéfico
2007
Benéfico
2012
Melhora da sintomatologia
2012
Melhora da QV, capacidade
funcional e sono.
2008
2013
Benéfico
Inconclusivo
2011
Benéfico
Rocha M. O. et al
Hidroterapia, Pompage e
alongamento no tratamento da FM
2006
Eficaz na sintomatologia
Matsunami, L. A. et al
Exercício de alongamento e
aeróbico no tratamento da FM
2012
Alongamento mais eficaz que
exercícios aeróbicos na
sintomatologia
TENS: Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea
QV: Qualidade de vida
U.S. T.: Ultrassom Terapêutico
SDM: Sindome da dor miofascial
Segundo Ferreira, Marino Cavenaghí (2011) a eletrotermofototerapia (ETFT) é muito utilizada
na prática clínica da fisioterapia. As intervenções por meio da ETFT são utilizadas como parte do
programa global de reabilitação, principalmente para alívio da dor, o que leva consequentemente, a
aumento na amplitude de movimento, força muscular, mobilidade, resistência física, habilidade de
andar e estado funcional. Além disso, esses recursos oferecem muitas vantagens, pois são
intervenções não invasivas e rápidas de administrar, resultando em poucos efeitos adversos e
contraindicações, quando comparadas com as intervenções farmacológicas para a redução dos
sintomas da FM.
No estudo de Silva et al. (2012), a aplicação da TENS teve bons resultados no controle da dor,
depressão e qualidade de vida em pacientes com fibromialgia, embora a sua amostra não tenha sido
representativa. Sua ação mais reconhecida é a analgesia que ocorre por meio de corrente elétrica de
baixo limiar que inibe a transmissão dos estímulos dolorosos na medula espinhal e libera opiácios
endógenos, como as endorfinas.
Página 19
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Para a FM o laser é recomendado, principalmente para o alívio da dor. Como a dor crônica está
intimamente relacionada com os outros sintomas da FM, acredita-se que sua redução causaria um
efeito cascata para a melhora dos demais sintomas. Os efeitos terapêuticos desse tipo de laser são a
ação anti-inflamatória, a analgesia e a modulação da atividade celular (Ferreira, Marino, Cavenaghí
2012).
Segundo Maggi et al. (2008) O ultrassom (US) terapêutico é utilizado pela fisioterapia por seus
efeitos fisiológicos decorrentes tanto de sua ação mecânica como térmica. A ação mecânica aumenta
a permeabilidade celular, diminui a resposta inflamatória, reduz a dor por meio da diminuição da
velocidade de condução nas fibras nervosas e facilita o processo de cicatrização dos tecidos moles. O
US contínuo tem ação térmica que contribui para o aumento da vasodilatação local e melhora da
inflamação crônica, reduz o espasmo muscular e a dor.
No trabalho realizado por Marques et al (2007), avaliaram a eficácia de um programa de
alongamento muscular na melhora da dor, qualidade de vida, sono, ansiedade, depressão e
flexibilidade em pacientes com fibromialgia. Os dados mostraram que essa modalidade de exercício
melhorou todas as variáveis analisadas. A melhora da dor e consequente melhora da qualidade de
vida por meio dos exercícios de alongamento podem ser atribuídas à melhora da condição muscular
advinda dos alongamentos. O estresse muscular em posição de estiramento, realizado de forma
adequada, estimula a síntese de proteínas sarcomêtricas levando ao aumento do número de
sarcômeros em série e da área seccional das fibras musculares (Exercicio de along ativo).
Segundo Batista, Borges e Wibelinger et al (2012) o exercício é uma parte integral da terapia
física na FM. Estudos recentes indicam que o exercício aeróbico, na intensidade adequada para um
indivíduo, pode melhorar a função, os sintomas e o bem estar. O mecanismo responsável pelos efeitos
analgésicos ainda não está claro, mas estudos mostram que atividade física aeróbica acarreta
consistente ativação do sistema opioide endógeno que, por sua vez, ocasiona aumento no limiar de
dor e sua tolerância, resultando numa resposta analgésica. Outra contribuição da atividade física na
diminuição da dor está relacionada com a quebra do ciclo vicioso: dor – imobilidade – dor, que
proporciona ao paciente encorajamento para retornar as atividades diárias (Ttmt dor miofas e fibro).
A hidrocinesioterapia está bem indicada para pacientes com FM, sendo importante para a
melhora de qualidade do sono, capacidade funcional, situação profissional, distúrbios psicológicos e
sintomas físicos da síndrome. A avaliação da qualidade de vida antes e após a terapia indicou melhora
na percepção subjetiva das condições físicas e psicológicas. Desse modo, as intervenções destinadas
a melhorar a qualidade do sono e a capacidade funcional podem contribuir para a melhora da saúde e
qualidade de vida de pacientes com SFM. Os efeitos fisiológicos da hidrocinesioterapia advêm de
uma combinação dos efeitos físicos da água (térmicos/mecânicos) com os efeitos do exercício. De
fato, na piscina terapêutica as atividades podem ser executadas com maior facilidade devido à redução
da força gravitacional. Isso permite a realização de exercícios com menos dor e de execução mais
fácil que no solo. Portanto, a hidrocinesioterapia, além de permitir o relaxamento muscular por meio
da água aquecida, proporciona aos fibromiálgicos um tratamento com melhora da autoconfiança e
evolução mais rápida (Silva, et al. 2012).
No trabalho realizado por Sanches et al. (2008), as pacientes foram submetidas a 10 sessões de
tratamento. Em cada sessão foram realizadas as pompages: global, sacral, cervical, trapézio superior,
esterno-occipito-mastóideo e lombar, seguindo esta sequência. Foi verificado uma melhora da
maioria das pacientes quanto à qualidade do sono, rigidez, dor e diminuição no número de "tender
points" positivos. Sendo assim concluíram que a técnica de tratamento de pompage trouxe benefícios
às pacientes proporcionando melhora na sintomatologia, colaborando desta forma com o bem estar
geral das pacientes
Barbosa et al. (2013) realizaram um trabalho de revisão sobre a eficácia da acupuntura na FM
e concluíram que não há um consenso em relação à eficácia da acupuntura no tratamento da FM. A
literatura científica ocidental é controversa. Alguns ensaios clínicos randomizados apontam que a
acupuntura é efetiva no tratamento da FM, outros não. Da mesma maneira, as revisões sistemáticas
disponíveis são inconclusivas.
Página 20
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
O estudo realizado por Hecker et al. (2011), compararam a cinesioterapia e a
hidrocinesioterapia. Os resultados apresentados pelos dois grupos demonstraram grande eficácia no
incremento da qualidade de vida das pacientes e não evidenciaram diferença entre os dois métodos
empregados. Nesse sentido, concluiu-se que um programa de tratamento realizado uma vez por
semana, contendo exercícios aeróbios de baixa intensidade e exercícios de alongamento muscular,
sendo ou não realizados no ambiente aquático, é um recurso indispensável para o tratamento de
pacientes acometidas por fibromialgia, uma vez que permite melhora em praticamente todos os
aspectos referentes à qualidade de vida.
Rocha, et al. (2006), realizou um estudo de caso associando três terapias conjuntas para FM.
Foi possível observar, neste estudo, que o tratamento fisioterapêutico utilizado, no caso a atividade
aeróbica realizada na hidroterapia, associada às pompages e alongamentos, foi eficaz no tratamento
da sintomatologia da fibromialgia. Uma vez que proporcionou a melhora da qualidade do sono,
diminui ção da positividade dos “Tender Points” e da dor, com ganho da flexibilidade muscular,
melhora da postura e do bem-estar geral da paciente.
Matsunami, et al. (2012) associaram exercício de alongamento e aeróbico no tratamento da FM.
O programa de exercícios de alongamento utilizado neste estudo enfatizou a autopercepção do
alinhamento da coluna vertebral e da pelve durante a realização dos movimentos. Os pacientes que
realizaram os exercícios aeróbicos apresentaram melhor resultado somente na ansiedade, sendo
discreta. Este estudo sugere que os exercícios de alongamento são mais eficazes que os exercícios
aeróbicos na dor, no número de tender points, no sono e na depressão da FM. Os exercícios aeróbicos
parecem produzir um efeito mais importante na diminuição da ansiedade em comparação aos
exercícios de alongamento.
4 CONCLUSÃO
Após a análise dos resultados obtidos para confecção deste artigo conclui-se que diferentes
modalidades se mostraram benéficas para pacientes com fibromialgia.
Os programas de exercícios físicos, como alongamentos, hidrocinesioterapia, exercício
aeróbicos promovem os maiores ganhos na diminuição do impacto dos sintomas da fibromialgia na
vida dos pacientes.
A fisioterapia tem relevância significativa na melhora da sintomatologia da FM, atuando
também como um importante recurso para promover o bem-estar do paciente e restauração da
funcionalidade melhorando a sua capacidade funcional e contribuindo para a manutenção de sua
qualidade de vida.
REFERÊNCIAS
BARBOSA A. M. et al. Acupuntura no tratamento da fibromialgia: uma revisão de literatura. Revista
Movimenta, v. 6, n.2, p.1984-4298, 2013.
BATISTA, S.B; BORGES A.M; WIBELINGER, L.M. Tratamento fisioterapêutico na síndrome da
dor miofascial e fibromialgia. Revista da dor, São Paulo, v.13, n.2, abril/junho, 2012.
FERREIRA, L. L; MARINO, L. H. C; CAVENAGHI, S. Recursos eletrotermofototerapêuticos no
tratamento da fibromialgia, artigo de revisão. Revista da dor; São Paulo, v.12, n.3. julho/setembro,
2011.
HECKER, C. D. et al Análise dos efeitos da cinesioterapia e da hidrocinesioterapia sobre a qualidade
de vida de pacientes com fibromialgia – um ensaio clínico randomizado. Fisioterapia em
Movimento, Curitiba, v. 24, n. 1, p. 57-64, jan./mar. 2011.
Página 21
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
MAGGI L.E. et al. Software didático para modelagem do padrão de aquecimento dos tecidos
irradiados por ultrassom fisioterapêutico. Revista Brasileira de Fisioterapia, v.12, n.3. p. 204-14,
2008.
MARQUES, A. P. et al. Exercícios de alongamento ativo em pacientes com fibromialgia: efeito nos
sintomas e na qualidade de vida. Revista Fisioterapia e Pesquisa, v.14, n.3, p.:18-24, 2007.
MATSUNAMi, L. A. et al. Exercícios de alongamento muscular e aeróbico no tratamento da
fibromialgia: estudo piloto. Fisioterapia em Movimento, v.25 n.2; Curitiba abril/junho, 2012.
ROCHA M. O. et al. Hidroterapia, pompage e alongamento no tratamento da fibromialgia – Relato
de caso. Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v.19, n.2, p. 49-55, abr/jun, 2006.
SALVADOR J.P; SILVA Q.F; ZIRBES M.C.G.M. Hidrocinesioterapia no tratamento de mulheres
com fibromialgia: estudo de caso. Revista Fisioterapia e Pesquisa, v.11, n.1, p.27–36, 2005.
SANCHES, M. L. et al. Pompage no tratamento da síndrome de fibromialgia: estudo piloto. Revista
de Terapia Manual, v.6, n.28, p.347-352, nov-dez. 2008.
SILVA T.F.G. et al. Comparação dos efeitos da estimulação elétrica nervosa transcutânea e da
hidroterapia na dor, flexibilidade e qualidade de vida de pacientes com fibromialgia. Revista
Fisioterapia e Pesquisa, v.15, n.2. p.118-24, 2008.
SILVA, K. O. M. et al. Efeito da hidrocinesioterapia sobre qualidade de vida, capacidade funcional
e qualidade do sono em pacientes com fi bromialgia. Revista Brasileira de Reumatologia, v. 52,
n.6, p.846-857, 2012.
Página 22
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
A RELAÇÃO ENTRE A APENDICITE AGUDA E A POSIÇÃO DO APÊNDICE CECAL
THE RELATIONSHIP BETWEEN ACUTE APPENDICITIS AND THE POSITION OF
THE CECAL APPENDIX
Ananda Serra Silva1,
Angélica Moura Lopes da Silva1,
Larisse Maria di Paula Alencar Sousa1,
Vítor Monteiro Silva1,
Deuzuita dos Santos Oliveira2.
RESUMO
O apêndice pode ocupar múltiplas localizações como o ponteiro de um relógio, partindo da sua base
no ceco, o que leva a diferentes apresentações clinicas. A apendicite aguda é uma afecção do apêndice
cecal de alta prevalência, que resulta em apendicectomia. Esse estudo teve por objetivo relacionar a
posição do apêndice cecal com a apendicite aguda e assim contribuir para a literatura com novas
informações a cerca dessa afecção, trazendo um enfoque especifico do assunto que é tão pouco
discutido e catalogado na literatura existente atualmente. Foi feito um levantamento bibliográfico de
forma exploratória, utilizando uma busca por meio de consulta nas bases de dados eletrônicos Scielo,
MedLine e Lilacs, monografias, revistas cientificas e especializadas na área, periódicos e livros.
Concluiu-se que a posição retocecal é a mais comum encontrada das apendicites agudas.
Palavras-chave: Posição do apêndice. Apendicite aguda. Retrocecal.
ABSTRACT
The appendix may occupy multiple locations like the hand of a clock, from its basis in the cecum,
which leads to different clinical presentations. Acute appendicitis is a high prevalent disease of the
cecal appendix resulting in appendectomy. This study aims to relate the position of the cecal appendix
with acute appendicitis and thus contribute to the literature with new information about the condition,
bringing a specific focus of the subject once it is so little discussed and cataloged in the currently
existing literature. It was made a bibliographical study in an exploratory way, using a search through
the electronic databases SciELO, MEDLINE and Lilacs, monographs, scientific and specialist
journals in the field, periodicals and books. It was concluded that the retrocecal position is the most
common found in acute appendicitis.
Keywords: Appendix position. Acute appendicitis. Retrocecal.
1 INTRODUÇÃO
O apêndice é uma formação em forma de dedo de luva que se projeta do ceco, aproximadamente
a 2,5 cm abaixo da válvula íleo-cecal, na coalescência das 3 tênias colônicas, marco importante para
acha-lo durante as intervenções cirúrgicas. Seu tamanho varia de 1 até 3 cm, mas habitualmente é de
___________________
Acadêmicos de Medicina da FACID-DEVRY, Teresina – Piauí.
[email protected]
1 [email protected]
1 [email protected]
1 [email protected]
2 Doutora em Ciências pela USP. Mestrado em Engenharia Mecânica pela USP. Especialista em Meio Ambiente pela UFPI.
[email protected]
1
1
Página 23
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
5 a 10 cm. Seu diâmetro, geralmente, de até 0,5 cm. Esse órgão está sujeito ás variações de posição a
medida que a parte proximal do intestino grosso se alonga e o ceco, juntamente com o apêndice,
desloca-se para a fossa ilíaca direita. Durante este processo, o apêndice pode passar para trás do ceco
(retrocecal), atingir as bordas das pelves (pélvica ou descendente) ou tornar-se retroileal. Aspectos da
diferenciação do crescimento dos contornos do ceco, a variação do seu conteúdo e peristaltismo,
como o trajeto e o comprimento da artéria apendicular, fazem com que o apêndice vermiforme
modifique sua posição e forma anatômica ao longo do seu desenvolvimento (DANGELO; FATTINI,
2002; MOORE; DALLEY, 2011).
A apendicite aguda constitui a emergência cirúrgica mais comum no nosso meio. Seu
diagnóstico e o tratamento cirúrgico precoce influem diretamente no prognóstico dessa patologia. De
uma intervenção cirúrgica de execução fácil nas primeiras 24 horas, sua abordagem cirúrgica vai
progressivamente tornando-se mais complexa, sobretudo após as primeiras 48 horas. A partir do
terceiro dia de evolução do quadro, a frequência de complicações passa a ter um impacto cada vez
maior na forma de tratamento e, de uma simples apendicectomia, realizada nos casos de evolução
precoce, essa patologia, nas suas formas mais avançadas, pode exigir abordagem escalonada com
drenagens percutâneas e até laparotomias extensas (FREITAS, et al. 2009).
Devido a grande recorrência de casos de apendicite aguda em que a posição anatômica do
apêndice é a retrocecal, acredita-se que exista uma relação direta entre a ocorrência dessa patologia e
a posição anatômica que se encontra o referido órgão. Desta forma, o objetivo do estudo foi verificar
a relação entre a posição do apêndice cecal com a apendicite aguda descrita entre diversos autores.
2 MATERIAL E MÉTODOS
Para a realização deste trabalho, foi feito um levantamento bibliográfico de forma exploratória,
utilizando uma busca por meio de consulta nas bases de dados eletrônicos Scielo, MedLine e Lilacs,
monografias, revistas cientificas e especializadas na área, periódicos e livros. Como critérios de
inclusão, foram selecionados artigos publicados de 2000 a 2014, cujo acesso foi permitido. Foram
selecionados e analisados todos os artigos que falassem sobre definição, posição do apêndice,
etiologia, quadro clínico e fisiopatologia da apendicite, que foi o foco do trabalho. Os artigos que não
preenchiam todos os requisitos listados não foram incluídos. As palavras-chave utilizadas para
pesquisa foram: apêndice, apendicite, anatomia.
3 RESULTADO E DISCUSSÃO
Apêndice Cecal
O apêndice é um divertículo intestinal cego que contém massa de tecido linfoide. Origina-se na
face póstero-medial do ceco, inferiormente a junção iliocecal. O apêndice possui um mesentério
triangular curto, o mesoapêncide originado da face posterior do mesentério do ílio terminal. E sua
irrigação é realizada pela artéria apendicular que é um ramo da artéria íleo-cólica direita (MOORE;
DALLEY, 2011).
Essa estrutura ainda, devido as grandes concentrações de nódulos linfáticos, é responsável por
controlar a entrada de bactérias no intestino grosso via resposta imune (DERRICKSON; TORTORA,
2012).
Apendicite
A apendicite aguda é uma doença típica dos adolescentes e adultos jovens, e é incomum antes
dos cinco e após os 50 anos. O risco geral de apendicite é de 1/35 em homens e 1/50 em mulheres.
Ela resulta da obstrução da luz do apêndice provocada por fecalito ou hiperplasia linfoide e, mais
raramente, por corpo estranho, parasitas ou tumores. A opinião dos autores varia: Jaffe e Berger
Página 24
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
consideram que a maioria é provocada por fecalito; já Liu e McFadden relatam: 60% por hiperplasia
linfoide, fecalito em 35%, corpo estranho em 4% e tumores em 1,14% (MÉNDEZ, et al. 2012).
Classicamente, a apendicite aguda produz as seguintes manifestações: (1) dor, primeiro
periumbilical e depois, localizada no quadrante inferior direito; (2) náuseas, e/ou vômitos; (3) dor à
palpação do abdome, especialmente na região do apêndice; (4) febre baixa e (5) aumento dos
leucócitos periféricos (ROBBINS, 2005).
Esses sinais clínicos da apendicite aguda vão depender da localização do órgão e do momento
em que o paciente vai procurar assistência médica. Na inspeção, o paciente pode assumir a posição
fetal, ou manter os membros inferiores fletidos. Quanto maior o tempo de evolução, maior é a
tendência em manter defesa voluntária - ou involuntária - no quadrante inferior direito, evitando ao
máximo movimentos que possam exigir o trabalho da parede muscular do abdômen. O tratamento da
apendicite aguda é cirúrgico e deve ser efetuado tão logo o diagnóstico estiver estabelecido
(OLIVEIRA, et al. 2008).
Relação Entre Posição do Apêndice e Apendicite
Verdugo e Olave (2010) mostraram que a posição anatômica mais frequente encontrada nos
casos de apendicite aguda foi a posição retrocecal (47%) seguida da posição pélvica (29%). Este
resultado foi ratificado por Bhasin et. al(2007), no qual ele afirmava que a posição retrocecal é mais
frequente nos casos de apendicite aguda com 65,28%, já a posição pelvica é responsável por 31,01%
dos casos e a subcecal por apenas 1% dos casos.
Oruc (2013) também relacionou a posição do apêndice cecal com casos de apendicite aguda,
encontrando 65% dos casos com a posição retrocecal, seguida pela paracecal e as outras posições.
Méndez et. al (2012) encontraram a posição retrocecal em segundo lugar com apenas 23,94%
dos casos sendo superada pela posição mesocecal que aparece em 42,25% dos casos. E ainda segundo
Oliveira et. al(2008), a posição pelvica aparece em 84,29% dos casos e a retrocecal aparece em
segundo lugar com 7% dos casos.
4 CONCLUSÃO
A posição anatômica do apendice cecal pode estar relacionada com casos frequentes de
apendicite aguda. De acordo com o levantamento bibliográfico realizado constatou-se que a maioria
dos autores relacionam a posição retrocecal como a mais prevalente entre os casos de apendicite
analisados.
Nesse ínterim fazem-se necessários mais estudos clínicos para relacionar a anatomia do órgão
com as possíveis complicações da patologia, bem como, descobrir uma maneira de prevenir essa
afecção em pessoas que possuam a posição retrocecal.
REFERÊNCIAS
DANGELO, J.G.; FATTINI, C. A. Anatomia humana básica. 2.ed. São Paulo: Atheneu, 2002.
DERRICKSON, B.; TORTORA, G. J. Corpo humano: fundamentos de anatomia e fisiologia. 8.ed.
Porto Alegre: Artmed, 2012.
FREITAS, R. G de. et.al. Apendicite aguda. Revista Hospital Universitário Pedro Ernesto, Rio de
Janeiro, v.8, n.1, jan./jun.2009. Disponível em: <http:www.revista.hupe.uerj.br>. Acesso em: 12 mar.
2014.
Página 25
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
MENDÉZ, P.R.C. et al. Variantes antropométricas del apéndice vermiforme en el vivo. Cátedra
Santiago Ramón: Primer Congreso Virtual de Ciencias Morfológicas, 2012. Disponível em: <
http://morfovirtual2012.sld.cu/index.php/morfovirtual/2012/paper/viewFile/363/535>. Acesso em:
14 mar. 2014.
MOORE, K. L.; DALLEY, A. F. Anatomia orientada para clínica. 6.ed. São Paulo: Guanabara,
2011.
OLIVEIRA, de A. L. G. et al. Apendicectomia videolaparoscópica: análise prospectiva de 300
casos. São Paulo: Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva – CBCD, 2008. Disponível em: <
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-67202008000200006> . Acesso em:
12 mar. 2014
ORUC, M. et al. Retrocaecal Appendix Position: Findings During the Clasic Appendectomy. [S.I.:
s.n., 2013]. Disponível em: <http://www.scopemed.org/?mno=19815>. Acesso em: 12 mar. 2014.
ROBBINS, S. L. et al. Patologia: Bases Patlógicas das doenças. 7ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier,
2005.
VERDUGO, R.; OLAVE. E. Características anatómicas y biométricas del apéndice vermiforme
en niños chilenos operados por apendicitis aguda. Temuco: J. Morphol, 2010. Disponível em:<
http://www.scielo.cl/scielo.php?pid=S071795022010000200045&script=sci_arttext>. Acesso em:
14 mar. 2014
Página 26
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
A SÍNDROME DO DESCONFORTO RESPIRATÓRIO AGUDO EM RATOS TRATADOS
COM LASER DE BAIXA POTÊNCIA
THE ACUTE RESPIRATORY DISTRESS SYNDROME IN RATS TREATED WITH LOW
POWER LASER
Raphaela Gonçalves Silva1,
Zilmar Wanderson Saraiva Torres2,
Esmeralda Maria Lustosa Barros3,
Nayana Pinheiro Machado de Freitas Coelho4
RESUMO
Esse estudo teve como objetivo analisar o efeito anti-inflamatório do laser de baixa potência na
síndrome do desconforto respiratório (SDRA) induzida em ratos. Foram utilizados 24 ratos machos,
divididos em grupos: Controle (C), Falso-Operado (FO), Laser Pontual (LP) e Laser Varredura (LV).
Para induzir a SDRA, foi realizada laparotomia mediana e desviceração intestinal com pinça vascular,
sendo feito o pinçamento da artéria mesentérica superior por 45 min causando a isquemia e após
decorrido esse tempo a pinça vascular foi retirada para que ocorresse a reperfusão por 30 min. O
tratamento consistiu em aplicação do LASER de baixa potência por 15 minutos na forma LP e LV.
Posteriormente, os ratos foram sacrificados com aplicação intravenosa de pentobarbital, um
barbitúrico, em seguida dissecou-se e removeu-se o lobo inferior do pulmão esquerdo para viabilizar
a análise histológica com Hematoxilina & Eosina(HE). Para análise das peças histológicas foi
utilizado o microscópio LABOMED IVU3100 acoplado a uma câmera fotográfica NA030 utilizando
o programa PixelPro™ para análise estatística. As análises qualitativa e quantitativa do processo
inflamatório foram realizadas por meio do software Image J na sua função “cell conter”. Os resultados
mostraram que houve redução do número de células inflamatórias nos animais tratados com LP e LV
comparados ao C, com p<0,05. Em relação ao grupo FO, os grupos LP e LV não apresentaram
alteração significativa, p<0,01. Entre o LP e LV não ocorreu alteração significativa. Conclui-se que
o LASER de baixa potência diminuiu a inflamação na SDRA aguda induzida em ratos, porém entre
os grupos tratados com LP e LV não houve significância.
Palavras-chave: Inflamação pulmonar. Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo. Laser de
Baixa Potência.
ABSTRACT
To assess the anti-inflammatory effect of low power laser in respiratory distress syndrome (ARDS)
induced in rats. 24 male rats were divided into groups: control (C), Sham-Operated (FO), Laser Spot
(LP) and Laser Scanning (LV). To induce ARDS, laparotomy was performed and intestinal
evisceration with a vascular clamp, clamping being made of the superior mesenteric artery for 45 min
causing ischemia. After that time, the vascular clamp was removed for reperfusion to occur for 30
min. The treatment consisted of application of low-power laser for 15 minutes in LP and LV.
Subsequently, the mice were sacrificed by intravenous pentobarbital, a barbiturate, then, the lower
Aluna do Curso de Fisioterapia da Faculdade Integral Diferencial – FACID DeVry, Teresina, Piauí, Brasil. Email:
[email protected]
2 Aluno do Curso de Fisioterapia da Faculdade Integral Diferencial – FACID DeVry, Teresina, Piauí, Brasil. Email:
[email protected]
3 Enfermeira pela Associação de Ensino Superior do Piauí AESPI – Técnica em Fisiologia na Universidade Federal do Piauí e
Bioquímica na Facid/DeVry.
4 Doutora em Engenharia Biomédica pela Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP). Email: [email protected]
1
Página 27
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
lobe of the left lungwas dissected and removed to facilitate histological analysis using hematoxylin&
eosin (HE). For the analysis of the histological pieces, it was used a microscope LABOMED
IVU3100 coupled to a camera using the NA030 PixelPro ™ program for statistical analysis. The
qualitative and quantitative analysis of the inflammatory process were performed using Image J
software in its "cell conter". There was reduction in the number of inflammatory cells in treated
animals LV and LP compared to C with p <0.05. Regarding the FO group, LP and LV groups showed
no significant change, p <0,01.Between LP and LV there was no significant change. Conclusion:
The low power LASER decreased inflammation in acute ARDS induced in rats, but between the
groups treated with LP and LV it was not significant.
Keywords: Lung Inflammation. Acute Respiratory Distress Syndrome. Low Power Laser.
1 INTRODUÇÃO
A lesão de isquemia-reperfusão é um dos tipos mais comuns de lesão celular que ocorre em
uma variedade de práticas cirúrgicas. A reperfusão de órgãos isquêmicos pode resultar em lesão
tecidual, que se manifesta como disfunção celular microvascular e parenquimatosa. Os mecanismos
subjacentes à lesão de isquemia-reperfusão já foram descritos; apontou-se que leucócitos
polimorfonucleares e metabólitos reativos de oxigênio desempenham um papel fundamental na
etiologia (TAKHTFOOLADI et al., 2013; CHIMABUCURO et al., 2014).
A síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) é a tradução fisiopatológica de
alterações pulmonares causadas por lesão pulmonar difusa aguda, caracterizada por edema pulmonar
devido ao aumento da permeabilidade da microvasculatura pulmonar da membrana alvéolo-capilar
em resposta a vários fatores de risco pulmonares ou extrapulmonares. Independentemente da causa
desencadeante da lesão pulmonar, a membrana alvéolo-capilar é acometida com extravasamento de
fluido rico em proteínas para o espaço alveolar. A lesão no endotélio capilar é associada com
inúmeros eventos inflamatórios, como recrutamento, sequestro e ativação de neutrófilos; formação
de radicais de oxigênio; ativação do sistema de coagulação, levando à trombose microvascular e
recrutamento de células mesenquimais, com a produção de procolágeno. No espaço alveolar, o
balanço entre mediadores pró-inflamatórios (TNF–α, IL–1, IL–6 e IL–8) e anti-inflamatórios (IL–10,
antagonistas do receptor de IL–1 e do receptor do TNF solúvel) favorece a manutenção da inflamação
(AMATOM et al., 2007; AVILA; RIBEIRO, 2014).
A palavra LASER corresponde a uma sigla composta pelas primeiras letras de light
amplification by stimulated emission of radiation, a qual significa “amplificação da luz por emissão
estimulada de radiação” (LINS et al., 2010).
Quando o laser de baixa potência é usado em tecidos e células, não se baseia no aquecimento,
isto é, a energia dos fótons absorvidos não é transformada em calor, mas sim em efeitos fotoquímicos,
fotofísicos e/ou fotobiológicos. Quando a luz do laser interage com as células em uma dose
apropriada, certas funções celulares podem ser estimuladas, tais como estimulação de linfócitos,
ativação de mastócitos, aumento da produção de ATP mitocondrial e a proliferação de vários tipos
de células, promovendo desta forma efeitos anti-inflamatórios (NOGUEIRA et al., 2011; SILVEIRA,
2013).
Em vista desse contexto, o objetivo desse estudo foi avaliar o efeito do laser de baixa potência
na fase aguda do processo inflamatório na Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA) em
ratos.
2 MATERIAL E MÉTODOS
O projeto foi aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) da Faculdade
Integral Diferencial (FACID), Teresina-PI, Brasil (Protocolo n°11.794/2008). Foram utilizados 24
ratos machos da variedade Wistar (Rattus norvergicus), mantidos em gaiolas próprias no Biotério da
Página 28
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Faculdade, em um ciclo de claro e escuro de 12 horas, com alimentação e água “ad libitum” (à
vontade), com peso corpóreo entre 200 e 300g.
Grupos experimentais
Os animais foram aleatoriamente divididos em 4 grupos, com 6 animais cada, da seguinte
forma:
I – Controle (C) – Com SDRA;
II – Falso Operado (FO) – Sem SDRA;
III – SDRA + Laser Pontual (LP);
IV – SDRA + Laser Varredura (LV).
Indução da SDRA
Os animais foram inicialmente pré-anestesiados subcutaneamente com atropina injetável a 1%,
com dose de 0,2ml para cada 100g do animal.
Após 15 minutos, foram anestesiados por via intramuscular na região da pata direita traseira,
com Quetamina (10%) e Xilazina (20%), onde para cada 100 mg/kg foi induzido 0,1 ml.
Foi realizada a laparotomia mediana e desvisceração da isquemia intestinal, sendo induzida
pelo pinçamento da artéria mesentérica superior por 45 minutos (PELOSI et al., 2003).
Durante o período de pinçamento de 45 minutos da isquemia, a incisão abdominal foi coberta
com gases, umedecidas com soro fisiológico, e por um plástico transparente, para minimizar perdas
de líquido e calor causadas pela incisão abdominal. Decorrido o tempo desejado de isquemia, a pinça
vascular foi retirada para que ocorresse a reperfusão durante 30 minutos.
Procedimentos experimentais
No grupo Controle – com SDRA (C) foi realizada a laparotomia mediana e a desvisceração
com isquemia/reperfusão, porém não foi efetuado nenhum tratamento. No grupo Falso Operado - sem
SDRA (FO) foi realizada a laparotomia mediana e a desvisceração, porém a isquemia/reperfusão não
foi induzida.
Logo após o termino da reperfusão intestinal, os animais dos grupos SDRA + Laser Pontual
(LP) e SDRA + Laser Varredura (LV) respectivamente, foram tratados com o Laser Physiolux Dual,
com a densidade de potência média de120 MwSt; comprimento de onda de 904 nm e potência de 45
W.
O grupo LP foi tratado com o laser, sendo posicionado fixamente a caneta do aparelho,
formando um ângulo de 90º, sobre a região da carina do animal por 15 minutos. No grupo LV, foram
realizados movimentos circulares com a caneta do laser durante o tempo igual de tratamento.
Todos os animais, independentemente do grupo, foram sacrificados com dose elevada de
anestésico, através do pentobarbital com dose de 50mg/kg, após 90 – 95 minutos da realização da
laparotomia mediana.
Análise histológica
Após o sacrifício dos animais, a peça histológica de interesse, lobo inferior do pulmão esquerdo
foi retirada para a realização do processo de preparo das lâminas e posterior análise qualitativa e
histológica do processo inflamatório das mesmas.
As peças para a análise foram submetidas ao processo de fixação, permanecendo em formol a
10% por 48 horas. Após a fixação, o tecido pulmonar foi submetido ao processo de desidratação
permanecendo 24 horas em álcool 70% e mais 24 horas em álcool 96%. Posteriormente, o tecido
pulmonar ficou imerso em álcool absoluto (100%) durante o período de 8 horas. O tecido pulmonar
Página 29
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
foi diafanizado em xilol e emblocado em parafina. Por fim, o material foi processado em micrótomo,
com cortes histológicos no eixo digital de 3μm de espessura e corados com hematoxilina-eosina (HE).
Foram efetuadas três fotos, em campos diferentes, com foco objetiva de 40X, de cada lâmina
através do microscópio de marca LabomediVu3100 acoplado a uma câmera fotográfica NA030
utilizando o programa PixelPro™ para melhor análise das células inflamatórias e posterior estatística.
As análises qualitativa e quantitativa do processo inflamatório foram realizadas por meio do
software Image J na sua função “cell conter” para melhor analise das células inflamatórias.
Análise estatística
O estudo dos dados ocorreu após processamento histológico, através da análise das células
inflamatórias, que foram coradas em roxo e rosa através do HE.
Os dados foram coletados em planilhas padronizadas e organizadas no programa Microsoft
Office Excel 2010. Posteriormente, foram analisados a partir da estatística inferencial pelos testes de
variância para medidas repetidas, o One Way ANOVA Test Post Hoc TUKEY. O intervalo de
confiança utilizado foi de 95% ao redor da média, sendo efetuada a comparação em modo gráfico. A
análise estatística foi realizada pelo programa Graph Pad Prisma 5.0.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Figura 1 - Microfotografias de cortes representativos das alterações histológicas encontradas
(HE; aumento 400x)
Em A (grupo Controle - C), extensas áreas de infiltração leucocitária, principalmente neutrófilos,
evidenciando quadro de injúria pulmonar inflamatória. Em B, sem alterações significativas (grupo
Falso Operado – FO). Em C e D (grupo Laser Pontual – LP e grupo Laser Varredura – LV,
respectivamente) observa-se redução do processo inflamatório por diminuição das células
inflamatórias, sendo a redução mais evidente na figura D (grupo LV).
A Figura 1 apresenta os aspectos qualitativos do processo inflamatório agudo em ratos com
SDRA induzido, tratados com o laser de baixa potência. Observa-se que no grupo tratado com o laser
pontual (LP) e varredura (LV) houve uma redução do processo inflamatório, devido uma maior
diminuição das células inflamatórias, quando comparado com o grupo Controle (C). Observa-se que
o grupo LV apresentou significativa redução de células inflamatórias em relação ao grupo LP e
mesmo comportamento em relação ao número de células inflamatórias comparado ao grupo Falso
Operado (FO).
Página 30
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Figura 2 - Valores de células inflamatórias presentes nos 4 grupos avaliados após o
experimento
Legenda: C, controle; FO, Falso Operado; LP, Laser Pontual; LV, Laser Varredura.
A Figura 2 demonstra que se comparados os resultados dos grupos C e FO, como também, os
C e LP, observa-se que foram significativos (p <0,01), no que diz respeito à redução do processo
inflamatório. Quando se relacionam os grupos C e LV observa-se um resultado significativo também
(p<0,05). Porém, se comparados, os grupos LP e LV não apresentaram resultados significativos, ou
seja, para o tratamento do Laser de baixa potência em ratos com SDRA, não implica o tipo de laser
utilizado.
A SDRA é o aspecto mais grave da lesão pulmonar aguda (LPA), caracterizada patologicamente
por um dano alveolar difuso e, fisiopatologicamente, pelo desenvolvimento de edema pulmonar não
cardiogênico devido ao aumento da permeabilidade da membrana alvéolo-capilar pulmonar. A sua
expressão clínica é uma insuficiência respiratória hipoxêmica e infiltrado pulmonar bilateral
(PELOSI et al., 2003).
O protocolo de isquemia e reperfusão intestinal para indução da SDRA escolhido estão
evidenciados na literatura por ser um potente indutor de resposta do processo inflamatório sistêmico
(MELO, 2010).
Pesquisas realizadas em ratos já haviam demonstrado que o laser de baixa potência é eficaz na
redução de células inflamatórias em vários sistemas, necessitando, porém, de estudos acerca do modo
de utilização mais eficaz para que ocorresse tal redução (ATIHÉ, 2002; ANDRAUS; BARBIERI;
MAZZER, 2010). Na presente pesquisa ficou evidenciada a redução do processo inflamatório na fase
aguda da SDRA em ratos tratados com o uso do LASER, mostrando ainda que os efeitos na redução
inflamatória não apresentaram diferença significativa entre os dois métodos de aplicação (LP e LV).
A SDRA, apesar dos grandes problemas gerados, ainda encontra-se pouco debatida na
literatura, o que evidencia a importância em se discutir meios resolutivos para tal intercorrência, por
ser geradora de perda na qualidade de vida dos indivíduos e aumentar custos hospitalares. O LASER
de baixa potência foi demonstrado atuando como agente antálgico, proporcionando ao organismo
uma melhor resposta à quadros inflamatórios (MALUF et al., 2006). A presente pesquisa mostrou
que que houve redução do processo de inflamação na fase aguda, o que se evidencia na comparação
dos grupos C com LP e LV.
Página 31
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
O efeito fotoquímico do LASER de baixa potência já foi descrito na literatura como um redutor
da resposta inflamatória no Lavado Broncopulmonar, infiltração de neutrófilos no pulmão e na SDRA
(PIETA, 2012; CARVALHO FILHO; PAPALEO NETTO, 2006). O presente estudo corrobora com
os resultados encontrados na literatura, mostrando mais uma vez que o LASER possui efetividade na
redução da resposta inflamatória.
Em relação aos grupos LP e LV não se pôde afirmar qual a melhor técnica, pois os resultados
não foram significativos entre os grupos. Faculta-se ao fato, o tempo de aplicação do laser que foi
apenas de 5 minutos em cada animal, como também, o período de tratamento imediatamente após a
reperfusão. Então, tornam-se imprescindíveis futuras pesquisas levando-se em consideração a
variável tempo, para melhor investigação da relação entre os grupos tratados com laser pontual e
varredura (PIETA, 2012). Na presente pesquisa ficou evidenciado que mesmo aumentando o tempo
de tratamento para 15 minutos não foram encontrados resultados significativos entre os grupos LP e
LV, evidenciando que as diferentes modalidades de aplicação do LASER pouco influenciam no
resultado final de sua ação anti-inflamatória.
4 CONCLUSÃO
O LASER de baixa potência diminuiu a reação inflamatória na SDRA aguda induzida por
isquemia/reperfusão, porém entre os grupos tratados com as modalidades LP e LV não houve
diferença significativa, evidenciando que a opção entre os dois modos de aplicação pouco influenciam
no resultado anti-inflamatório final proporcionado.
REFERÊNCIAS
ANDRAUS, R. A. C.; BARBIERI, C. H.; MAZZER, N. A irradiação local com o laser de baixa
potência acelera a regeneração do nervo fibular de ratos. Acta Ortop Bras, v. 18, n. 3, p. 152-157,
2010.
AMATOM, B. P. et al. Ventilação mecânica na Lesão Pulmonar Aguda / Síndrome do Desconforto
Respiratório Agudo. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, v. 19, n. 3, julho-setembro, 2007.
ATIHÉ, M. M. Redução de processo inflamatório com aplicação de laser de arseneto de gálio
alumínio (830nm) em pós-operatório de exodontias de terceiros molares inferiores inclusos ou
semi-inclusos. São Paulo, 2002.
AVILA, P. E. S.; RIBEIRO, A. M. Recrutamento alveolar na Síndrome do Desconforto Respiratório
Agudo. Revista Paraense de Medicina, v. 28, n. 1, janeiro-março, 2014.
CARVALHO FILHO, E. T.; PAPALEO NETTO, M. Geriatria: fundamentos, clinica e terapeutica.
2 ed. São Paulo: Atheneu, 2006.
CHIMABUCURO, W. K. et al. O impacto das soluções hipertônica e salina fisiológica na reperfusão
do trato gastrintestinal pós-isquemia em ratos. Rev Bras Ter Intensiva, v.26, n. 3, p. 277-286, 2014.
LINS, R. D. A. U. et al. Efeitos bioestimulantes do laser de baixa potência no processo de reparo. An
Bras Dermatol, v. 85, n. 6, p. 849-55, 2010.
MALUF, A. P. et al. Utilizacao de laser terapeutico em exodontia de terceiros molares inferiores.
RGO, n. 54, p. 182-184, 2006.
Página 32
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
MELO, Y. D. Estudo do efeito antiinflamatório do LED sobre a inflamação pulmonar aguda
em modelo experimental de isquemia e reperfusão intestinal em ratos. Dissertação (Mestrado em
Bioengenharia) – Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Universidade do Vale da
Paraíba/FACID, São Paulo, 2010.
NOGUEIRA, G. T. et al. Effect of low-level laser therapy on proliferation, differentiation, and
adhesion of steroid-treated osteoblasts. Lasers Med Sci, 2011, in press.
PELOSI, P. et al. Pulmonary distress syndrome are diferente. Eur Respir J Suppl., n. 42, p. 8s-56,
2003.
PIETA, J. Laser de baixa potência na fase aguda da inflamação na Síndrome do Desconforto
Respiratório Agudo. Monografia (Graduação) – Faculdade Integral Diferencial. Curso de
Fisioterapia. Teresina, 2012.
SILVEIRA, P. C. L. Investigação do efeito do laser de baixa potência na recuperação de lesões
epidérmicas e musculares em roedores. Tese (Doutorado), UFSC. Florianópolis, SC. 2013.
TAKHTFOOLADI, M. A. et a. Efeito do tramadol na lesão pulmonar induzida por isquemiareperfusão de músculo esquelético: um estudo experimental. J Bras Pneumol, v. 39, n. 4, p. 434439, 2013.
Página 33
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
AVALIAÇÃO DAS MARGENS DE SEGURANÇA HISTOPATOLÓGICA EM
RESSECÇÃO CIRÚRGICA DE LESÕES CUTÂNEAS DE FACE
FACE EVALUATION OF HISTOPATHOLOGICAL RESECTION IN SAFETY MARGINS
OF SURGICAL SKIN INJURY
Samuel Gois Carneiro1,
Edison de Araujo Vale2
RESUMO
Atualmente a incidência geral de câncer é bastante elevada e dentre seus vários tipos destaca-se o de
pele, que se apresenta como duas variantes: melanoma e não melanoma. Esta, mais incidente,
apresenta baixa letalidade e tem melhor prognóstico. Existem vários tratamentos, mas reconstrução
após excisão cirúrgica é etapa fundamental, sendo os defeitos gerados corrigidos com retalhos ou
enxertos. Objetivando retirar toda a lesão e evitar recidivas, utilizam-se margens de segurança. No
entanto, há poucos estudos específicos relacionados ao seu uso, tornando-as mal documentadas. O
presente trabalho tem como objetivo avaliar as margens cirúrgicas das ressecções de lesões cutâneas
de carcinomas de face, de modo a atestar a confiabilidade da margem de segurança a 0,3cm e o melhor
resultado estético associado. Trata-se de pesquisa experimental, com abordagem qualitativa,
quantitativa e prospectiva, realizada no serviço de cirurgia plástica de uma instituição de ensino
superior de Teresina-PI no período de setembro a outubro de 2014. A pesquisa fundamenta-se na
ressecção cirúrgica das lesões malignas de face com margens demarcadas com pincel dermográfico
em 2 grupos: grupo 1 com as margens cirúrgicas de 0,3cm além da borda externa da lesão e grupo 2,
ampliação das margens cirúrgicas de 0,2cm, ou seja, 0,5cm além das bordas externas da lesão. Foram
realizadas 12 cirurgias, com 9 diagnósticos de CBC, 1 de CEC, 1 de ceratose seborreica e 1 como
dermatite actínica. No grupo 1 a margem a 0,3cm foi comprometida em apenas uma das cirurgias.
No grupo 2 houve 100% de margens livres. Conclui-se que o comprometimento histopatológico das
margens de segurança cirúrgica a 0,3cm foi mínimo no presente estudo e está dentro do aceitável
encontrado na literatura. Se enquadrando nesse limite, a margem de segurança a 0,3cm é tão efetiva
quanto a margem distante 0,5cm dos bordos da lesão. Com a retirada de menos tecido saudável a
margem de segurança cirúrgica a 0,3cm proporciona maior facilidade nas correções dos defeitos
gerados, usando técnicas da cirurgia plástica e melhor resultado estético final. Percebe-se, por fim,
que há pouca literatura especifica quanto ao enfoque do tema abordado, necessitando-se de mais
estudos.
Palavras-chave: Câncer de pele. Face. Ressecção cirúrgica. Margem de segurança.
ABSTRACT
Currently, the overall incidence of cancer is very high and the skin cancer stands out. It has two
variants: melanoma and non-melanoma. This, more common, has low mortality and has a better
prognosis. There are various treatments, but the reconstruction after surgical excision is a fundamental
step, once the defects are corrected with flaps or grafts. Aiming to remove the entire lesion and
prevent recurrence, safety margins are used. However, there are few specific studies related to its use,
making them poorly documented. This research aimed to evaluate the surgical margins of the facial
____________________
1
2
Aluno do Curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial – FACID/Devry. Email: [email protected]
Médico cirurgião plástico do Hospital Getúlio Vargas e Hospital Prontomed, docente de Cirurgia Plástica. Email: [email protected]
Página 34
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
skin cancer lesions to warrant the safety margin reliability in 0.3 cm and the best aesthetic result
regarding it. It is an experimental research, with qualitative, quantitative and prospective approach
carried out in the plastic surgery service of a higher education institution in Teresina-PI in SeptemberOctober 2014. The survey was based on the surgical resection of the facial cancer lesions with
margins marked with dermographic pencil into 2 groups: group 1 with 0.3 surgical margins beyond
the outer edge of the lesion and group 2, expanding 0.2 the surgical margins, that is, 0.5 cm beyond
outer edges of the lesion. 12 surgeries were performed, with 9 CBC diagnosis, 1 CEC, 1 seborrheic
keratosis and 1 as actinic dermatitis. In group 1 the 0.3 cm margin showed problems in only one of
surgeries. In group 2 there were 100% free margins. It can be concluded the histopathological
involvement of 0.3 cm surgical safety margins was minimal in this study and is within the acceptable
found in literature. Taking that into account, the 0.3 cm safety margin was as effective as the 0.5cm
far from the edges of the lesion. From the removal of less healthy tissue, the 0.3 cm surgical safety
margin provides greater ease in correcting the defects due to the surgery, using techniques of plastic
surgery and better final aesthetic result. It could be noticed, further studies are necessary due to little
literature on the specific theme.
Keywords: Skin cancer. Face. Surgical resection. Safety margin.
1 INTRODUÇÃO
A pele, maior órgão do corpo humano, com extensão de cerca de 2m², é órgão fundamental para
manter a homeostase no organismo. Esta proporciona papel importante na proteção, na regulação da
temperatura corporal, na sensibilidade e absorção de substâncias, no entanto, é exposta diariamente a
agressões, sobretudo, externas, sendo uma barreira física a agentes como a radiação ultravioleta
(RUV). Tal exposição gera efeitos positivos, como a produção de vitamina D, mas também pode ter
conseqüências negativas quando em excesso, como eritema, queimaduras, fotoenvelhecimento e
neoplasias cutâneas (BALK et al., 2011).
Sede de inúmeras patologias benignas e malignas, os cânceres cutâneos situam-se entre os mais
comuns e que causam maior preocupação. Entre os possíveis tipos de câncer, que podem afetar a pele,
o melanoma e o não melanoma são as variantes mais comuns. A variante não melanoma é uma doença
que acomete mais pessoas de pele clara, do tipo que queima e não bronzeia, sendo, no Brasil, o tipo
mais incidente. Sua letalidade é baixa, entretanto nas situações em que o diagnóstico é retardado pode
haver ulcerações e deformidades físicas graves. É representada pelos subtipos carcinoma basocelular
(70%) e carcinoma epidermóide (25%). Já para a melanoma, as taxas de letalidade são mais elevadas,
provocando a maioria dos óbitos por malignidade cutânea, mesmo representando apenas 4% dos
tumores de pele (BRASIL, 2012; DAZARD et al., 2000; FIGUEIREDO et al, 2003; NEVES et
al.,2002).
A maioria dos cânceres da pele localiza-se primariamente em áreas expostas mais intensamente
aos raios Ultra Violeta, particularmente cabeça e pescoço (BARIANI et al.,2006; NASSER, 2005).
Existem vários tipos de tratamentos para a neoplasia de pele, dentre eles podemos citar a
curetagem, eletrocauterização, cirurgia excisional, administração de fluorouracila, radioterapia,
terapia fotodinâmica e criocirurgia. No entanto, excisão cirúrgica da lesão com a devida margem de
segurança é o padrão-ouro de tratamento. Os defeitos gerados pelas ressecções cirúrgicas podem ser
corrigidos com retalhos ou enxertos cutâneos (PARK et al, 2011).
A ressecção cirúrgica da lesão neoplásica, respeitando as margens cutâneas, objetiva
fundamentalmente retirar toda a leão e evitar ao máximo sua recidiva. Nesse sentido, os achados
científicas para as margens de excisão usadas nos carcinoma de pele não melanocítico são mal
documentada, variando entre 2 e 15 mm (THOMAS; KING; PEAT, 2003).
O presente trabalho tem como objetivo avaliar, do ponto de vista histopatológico, as margens
cirúrgicas das ressecções de lesões cutâneas de carcinomas de face, de modo a atestar a confiabilidade
da margem de segurança a 0,3cm e o melhor resultado estético associado.
Página 35
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
2 MATERIAL E MÉTODOS
Pesquisa experimental, com abordagem qualitativa e quantitativa, prospectiva, que avaliou a
segurança histopatológica das margens cirúrgicas das ressecções de lesões cutâneas de carcinomas
primários de face em 12 cirurgias realizadas no período compreendido entre setembro e outubro de
2014. Foi realizada no serviço de cirurgia plástica de uma instituição de ensino superior (IES) de
Teresina-PI.
Procedimentos Éticos
Esta pesquisa foi realizada de acordo com as normas da Resolução 466/2012 do Conselho
Nacional de Saúde, que regulamenta a eticidade das pesquisas envolvendo seres humanos, e foi
aprovada pelo comitê de ética e pesquisa (CEP) da Faculdade Integral e Diferencial/Devry com o
CAAE: 35053414.8.0000.5211.
Foi utilizado um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para cada paciente
participante.
Os critérios de inclusão
a) Lesão ser primária;
b) Localizada na face;
c) Tamanho do maior diâmetro igual ou inferior a 2,0cm.
Critérios de exclusão
a) Tumor clinicamente sugestivo ou histologicamente diagnosticado de melanoma;
b) Condições clínicas do paciente contra indicando a realização da cirurgia em nível
ambulatorial;
c) Se pacientes fossem menores de 15 anos de idade. A pesquisa foi realizada em paciente de
ambos os sexos.
Distribuição dos grupos de margens cirúrgicas avaliadas
A pesquisa foi fundamentada na exérese cirúrgica das lesões cutâneas carcinomatosas primárias
de face dos pacientes que necessitaram de tratamento cirúrgico, cujas margens foram previamente
marcadas com pincel dermográfico preto estabelecidas para cada um dos dois grupos de margens
cirúrgicas.
a) Grupo 1: com as margens cirúrgicas de 0,3cm
b) Grupo 2: ampliação das margens cirúrgicas de 0,2cm, ou seja, 0,5cm além das bordas
externas da lesão carcinomatosa.
O material cirúrgico ressecado, após identificação, foi acondicionado em solução de formol e
enviado ao serviço de patologia da própria IES para análise histopatológica.
Página 36
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Figura 1 Modelo do experimento cirúrgico realizado. A: Demarcação das margens cirúrgicas; B:
Ressecada lesão com margem de 0,3cm(Grupo 1) e isolamento de halo de ampliação de 0,2cm,
representando margem de 0,5cm(Grupo 2); C: Defeito gerado pós ressecção cirúrgica; D e E: Uso da
técnica de retalho para correção cirúrgica; F: Resultado final
Organização e Análise dos Dados
Os dados coletados foram tabulados em planilha eletrônica específica (Microsoft Excel 2010)
e analisados por meio de estatística descritiva, obtendo média, percentual e desvio padrão. Os
resultados apresentados na forma de gráficos.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
No período estudado foram realizadas 12 cirurgias, sendo o diagnostico histopatológico de CBC
em 9 lesões, sendo as três restantes diagnosticadas como CEC, ceratose seborreica e dermatite
actínica.
Gráfico 1- Diagnósticos histopatológicos
8,33%
8,33%
CBC
8,33%
CEC
75%
Ceratose seborreica
Dermatite actínica
Fonte: CARNEIRO (2014)
Outros estudos evidenciaram que há predominância do CBC entre as lesões malignas de pele,
como nos dois estudos de Ferreira e Nascimento (2008) e Ferreira; Costa Nascimento; Rotta (2011),
nos quais foram descritos, respectivamente, 74,2% e 68,2% dos pacientes portadores de CBC.
Página 37
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Segundo Sampaio e Rivitti (2003) o diagnóstico das lesões malignas de pele é basicamente
clínico, porém confirmado por exame histopatológico. No presente estudo, os diagnósticos distintos
de neoplasia fazem parte do amplo diagnostico diferencial das lesões malignas não melanocíticas de
pele. Quando se pensa em CBC, lesões como queratoacantoma, CEC, queratose actínica, disqueratose
de Bowen, esclerodermia em placas, queratose seborréica, malanoma maligno, tricoepitelioma,
cilindroma e cistos epidérmicos devem ser consideradas na diagnose diferencial. Já quando a maior
suspeita é CEC o diagnóstico diferencial sempre deve envolver queratoses actínicas,
queratoacantoma, epitelioma basocelular, disqueratose de Bowen, queratoses seborréicas, melanoma
amelanótico, tumores de células de Merkel, além de tumores malignos de anexos.
Nas 12 cirurgias realizadas, no grupo 1, foram avaliados histopatologicamente as peças
cirúrgicas retiradas com margem de segurança a 0,3cm do bordo da lesão, sendo evidenciado apenas
1 resultado histopatológico com comprometimento de margem, este presente apenas na borda lateral
da peça, podendo representar falha na medida da margem.
Já no grupo 2 a ampliação da margem em 0,2cm, resultando em margem a 0,5cm, foi livre em
100% dos casos analisados pelo patologista.
Gráfico 2 – Resultados histopatológicos quanto a margem de segurança
14
12
12
11
10
8
Margem livre
6
Margem
comprometida
4
2
0
Grupo 1
Grupo 2
Fonte: CARNEIRO (2014)
De acordo com Rodrigues e Tejada (2011) a cura com o tratamento cirúrgico do CBC, principal
diagnóstico encontrado, através da ressecção usando margem cirúrgica confiável, é obtida em 95%
dos casos, atingindo valores próximos de 99% quando as margens histopatológicas são negativas.
Os resultados encontrados para a margem a 0,3cm estão dentro dos parâmetros aceitáveis na
literatura, pois a taxa de margem comprometida, 8,33%, se encontra dentro do limite esperado, uma
vez que, segundo Ritter et al. (2005), a incidência total de margens comprometidas varia entre 5,5%
e 12,5%.
Comprometida em apenas uma das cirurgias realizadas, a margem de 0,3cm foi afetada em sua
porção lateral, local que segundo Rodrigues e Tejada (2011), apresenta menores chances de
recorrência se comparada a tumores que permanecem comprometidos em margem profunda ou
quando ambos são afetados.
Comparando-se os resultados encontrados para a margem 0,3cm com os da margem 0,5cm,
pode-se observar segurança semelhante, uma vez que o percentil de comprometimento da margem a
0,3cm não ultrapassou o índice preconizado pela literatura citada anteriormente.
Nas bases de dados pesquisadas no período do estudo, não foram encontrados trabalhos que
associassem cirurgia usando margem cirúrgica 0,3cm ao melhor resultado estético e funcional, apesar
de essa associação parecer natural aos autores, uma vez que a retirada de menos tecido saudável
facilita a reconstrução cirúrgica, especialmente em áreas próximas de órgãos mais delicados, pois
Página 38
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
retirando maior área de tecido pode ser necessário, para Park et al. (2011), um enxerto de pele, um
retalho cutâneo ou mesmo músculo-cutâneo.
4 CONCLUSÃO
Conclui-se que o comprometimento histopatológico das margens de segurança cirúrgica a
0,3cm foi mínimo no presente estudo e está dentro do limite geral encontrado na literatura. Portanto,
a margem de segurança cirúrgica a 0,3cm foi tão segura quanto a margem de segurança distante 0,5cm
dos bordos da lesão.
Com a retirada de menor tecido saudável a margem de segurança cirúrgica a 0,3cm proporciona
maior facilidade nas correções cirúrgicas usando técnicas da cirurgia plástica e melhor resultado
estético final.
Tal estudo esboçou comprovação de que o tratamento cirúrgico das neoplasias de pele na face,
área tão delicada, pode ser menos agressivo e menos estigmatizante com a retirada de menos tecido
saudável e melhor estética final.
Percebeu-se que há pouca literatura especifica quanto ao enfoque do tema abordado,
necessitando-se de mais estudos para aperfeiçoamento das técnicas de tratamento do câncer de pele
na região facial.
REFERENCIAS
BALK, S. J. et al. Ultraviolet radiation: a hazard to children and adolescents.Pediatrics, v. 127, n. 3,
p. e791-e817, 2011. Disponível em: < http://www.scielo.br/acb.>. Acesso em: 20 set. 2014.
BARIANI, R. L. et al. Carcinoma basocelular: perfil epidemiológico e terapêutico de uma população
urbana. Acta Cir Bras, 2006. Disponível em: < http://www.scielo.br/acb.>. Acesso em: 21 set. 2013.
BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer. Estimativa 2012: Incidência de Câncer
no Brasil. Disponível em: < http//:www.inca.gov.br>. Acesso em: 21 set. 2013.
DAZARD, J.E. et al. Switch from p53 to MDM2 as differentiating human keratinocytes lose their
proliferative potential and increase in cellular size. Oncogenese, v.19, p. 3693-3705. 2000.
Disponível em: < http://www.bireme.com>. Acesso em: 18 set. 2014.
FERREIRA, F. R.; NASCIMENTO, L. F. C. Câncer cutâneo em Taubaté (SP)–Brasil, de 2001 a
2005: um estudo de prevalência Skin cancer in Taubaté (SP)–Brazil, from 2001 to 2005: a prevalence
study.An Bras Dermatol, v. 83, n. 4, p. 317-22, 2008. Disponível em: < http://www.scielo.br/acb>.
Acesso em: 21 jul. 2014.
FERREIRA, F. R; COSTA NASCIMENTO, L. F; ROTTA, O. Fatores de risco para câncer da pele
não melanoma em Taubaté, SP: um estudo caso-controle. Revista da Associação Médica Brasileira,
v. 57, n. 4, p. 431-437, 2011. Disponível em: < http://www.scielo.br/acb>. Acesso em: 21 jul. 2014.
FIGUEIREDO, L.C. et al. Câncer de pele: estudo dos principais marcadores moleculares do
melanoma cutâneo. Rev Bras de Cancerologia, v. 49, n.3, p. 179-183, 2003. Disponível em: <
http://www.scielo.br/acb>. Acesso em: 27 set. 2013.
NASSER, N. Epidemiologia dos carcinomas basocelulares em Blumenau, SC, Brasil, de 1980-1999.
An Bras Dermatol, 80:363-8, 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/acb>. Acesso em: 17 set.
2013.
Página 39
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
NEVES R.I; et al. Lesões cancerizáveis da pele. In: Anelli et al. Manual de condutas diagnósticas
e terapêuticas em oncologia. 2ª ed. São Paulo: Âmbito Editores, 2002. p. 351-352.
PARK, S.W. et al. Reconstruction of defects after excision of facial skin cancer using a venous free
flap. An Plast Surg., v.67, n.6, p. 608-11, 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/acb>. Acesso
em: 14 set. 2013.
RITTER, T. C., et al. Acompanhamento a longo prazo de carcinomas basocelulares com margens
comprometidas. Rev. Soc. Bras. Cir. Plást, v. 20, n.1, p. 8-11, 2005. Disponível em:
<http://www.scielo.br/acb>. Acesso em: 15 set. 2013
RODRIGUES, O.; TEJADA, V. F. S. Neoplasias Malignas de Pele: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
COM ÊNFASE À ABORDAGEM CIRÚRGICA. VITTALLE-Revista de Ciências da Saúde, v.
21, n. 1, p. 73-85, 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/acb>. Acesso em: 15 set. 2013
SAMPAIO, S.A.P.; RIVITTI, E.A. Dermatologia básica. São Paulo: Artes Médica; 2003.
THOMAS, D.J.; KING, A.R.; PEAT, B.G. Excision margins for nonmelanotic skin cancer. Plast
Reconstr Surg. v.112, n. 1, p. 57-63, 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/acb>. Acesso em:
15 set. 2013.
Página 40
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DE MÉDICOS ANESTESIOLOGISTAS DE
TERESINA – PI
EVALUATION OF THE QUALITY OF LIFE OF ANESTHESIOLOGISTS OF
TERESINA – PI
Alécio Fonseca Leite1,
Marcus Vinícius de Carvalho Souza2
RESUMO
Os anestesiologistas estão sujeitos ao estresse, este causa prejuízos cognitivos, esgotamento mental e
sobrecarga ocupacional e, portanto, interfere na sua qualidade de vida. O objetivo deste trabalho foi
avaliar a qualidade de vida dos médicos anestesiologistas de Teresina, Piauí, caracterizar o perfil
socioprofissional dos anestesiologistas, avaliar a percepção do anestesiologista sobre sua qualidade
de vida e correlacionar o perfil socioprofissional com a percepção do anestesiologista quanto sua
qualidade de vida. Trata-se de uma pesquisa descritiva de campo com abordagem quantitativa e
qualitativa, que ocorreu em hospitais públicos de Teresina. Participaram 44 anestesiologistas, para
quem foi aplicado um questionário para caracterização socioprofissional e o questionário World
Health Organization Quality of Life, versão abreviada, no período de julho a outubro de 2014. Para
a análise dos dados foi utilizado os programa estatístico SPSS 19.01, a correlação de Pearson, com
índice de confiança de 95% e p < 0,05 como significativos. Entre os anestesiologistas de Teresina, a
maioria é do gênero masculino, média de idade entre 40 e 50 anos, casado, especialista em
anestesiologia, praticante de atividade física, renda mensal de até 30 salários mínimos e exerce mais
de 60 horas de trabalho semanais. A média dos escores da qualidade de vida varia de 63,26 a 74,27,
com melhores escores aos que trabalham menos de 40 horas semanais. Portanto o perfil
socioprofissional e a qualidade de vida desses profissionais são semelhantes ao de anestesiologistas
de outras cidades do Brasil e só foi possível determinar influência pela variável “horas totais de
semanas trabalhadas”.
Palavras-chave: Avaliação. Qualidade de vida. Anestesiologistas.
ABSTRACT
Anesthesiologists are subject to stress, which causes cognitive impairments, mental exhaustion and
work overload and, therefore, interferes with their quality of life. This study aimed to evaluate
anesthesiologists’ quality of life in Teresina, Piauí, to characterize the anesthesiologists’ occupational
profile, to evaluate the anesthesiologist’s perception about their quality of life and to correlate the
socio-professional profile with the anesthesiologist’s perception about their quality of life. This is a
descriptive research with quantitative and qualitative approach, which was carried out in public
hospitals in Teresina. 44 anesthesiologists participated. They received a questionnaire for socioprofessional characterization and the World Health Organization Quality of Life questionnaire, short
version, from July to October 2014. The statistical program SPSS 19.1, the correlation Pearson, with
a confidence rating of 95% and p <0.05 as significant were used for the data analysis. Among the
anesthesiologists in Teresina, most are male, average age between 40 and 50 years old, married,
specialist in anesthesiology, physical activity practitioner, monthly income up to 30 minimum wages
_________________________
de graduação (10º período) do Curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial – FACID, Teresina, Piauí. Email:
[email protected]
2Professor do Curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial – FACID, Teresina, Piauí. Email: [email protected]
1Aluno
Página 41
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
and who work more than 60 hours a week. The average scores of the evaluation of quality of life
varies from 63.26 to 74.27, with best scores to those who work less than 40 hours a week. So, these
professionals’ occupational profile and quality of life are similar to the anesthesiologists of other
cities in Brazil and it was only possible to determine the influence through the variable "total hours
of weeks worked."
Keywords: Evaluation. Quality of life. Anesthesiologists.
1 INTRODUÇÃO
O termo “qualidade de vida” é uma expressão sem especificidade terminológica e de difícil
definição, pois em sua abordagem é necessário atentar-se à diversidade de questões que envolve seu
universo, o qual abrange parâmetros sociais, culturais, econômicos e de saúde. Baseado nesses
indicadores, variadas áreas do conhecimento podem analisá-los e vincular definições e concepções
diversas (ALMEIDA; GUTIERREZ; MARQUES, 2012).
Qualidade de vida em saúde é “a percepção do indivíduo de sua inserção na vida no contexto
da cultura e sistemas de valores nos quais ele vive e em relações aos seus objetivos, expectativas,
padrões e preocupações” (THE WHOQOL GROUP, 1994). Um conceito amplo, com uma tendência
mais genérica, o qual reflete a complexidade do construto e procura inter-relacionar o meio ambiente
com os aspectos físicos, psicológicos, nível de independência, relações sociais e crenças pessoais.
Para determinar isso, a OMS desenvolveu o questionário WHOQOL-100 que, através de cem
questões, aborda seis domínios. No entanto há o WHOQOL-bref, versão abreviado do questionário
com 26 questões que abordam quatro domínios: físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente
(FLECK et al, 2000).
Os anestesiologistas, assim como os demais profissionais, estão sujeitos a diversas agressões
psicológicas, causas muito importantes de estresse. Algumas são próprias da especialidade, como os
ruídos, condições materiais insuficientes, sobrecarga de plantões e jornadas maiores do que oito horas
diárias, poluição ambiental, privação do sono e pressões por parte do paciente. Estes estressores
geram intranquilidade, ansiedade e sobrecarga de responsabilidade ao anestesiologista, além de outras
consequências, como a diminuição da vigilância, indução ao erro médico, instalação de quadros de
ansiedade e depressão, o que leva a dependência de álcool e outras drogas e ao suicídio (BRAZ;
VANE; SILVA, 2004). O que causa prejuízos cognitivos, esgotamento mental e sobrecarga
ocupacional e interfere no seu equilíbrio e qualidade de vida (SANTOS; OLIVEIRA, 2011), já que
há influência sobre os domínios associados à qualidade de vida referidos pela OMS.
O objetivo geral deste estudo foi avaliar a qualidade de vida dos médicos anestesiologistas de
Teresina, Piauí. Enquanto que os objetivos específicos foram caracterizar o perfil socioprofissional
dos anestesiologistas, avaliar a percepção do anestesiologista sobre a qualidade de vida e
correlacionar o perfil socioprofissional com a percepção do anestesiologista quanto sua qualidade de
vida.
2 MATERIAL E MÉTODOS
Aspectos Éticos
O estudo baseou-se na resolução 466/2012 CNS, que incorpora o referencias básicos da bioética
bem como os princípios éticos de autonomia, não maleficência, beneficência e justiça. O estudo foi
aprovado pelo CAAE de número 25743714.3.0000.5211 e só iniciou após aprovação do comitê de
ética e pesquisa (CEP) da Faculdade Integral Diferencial.
Foi utilizado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, o qual foi assinado por todos os
participantes da pesquisa.
Página 42
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Métodos da Pesquisa
Trata-se de uma pesquisa descritiva de campo com abordagem quantitativa e qualitativa com o
objetivo de avaliar a qualidade de vida dos médicos anestesiologistas de Teresina, Piauí.
Cenário e Participantes do Estudo
A pesquisa ocorreu em hospitais públicos de Teresina, Piauí, em que havia a atuação de médicos
anestesistas.
Os participantes foram 44 médicos anestesiologistas selecionados de maneira não aleatória.
Para este trabalho os critérios de inclusão foram: médicos com especialização em anestesiologia
e atuantes em Teresina, Piauí. E teve como critérios de exclusão médicos especialistas em
anestesiologia não atuantes nesta área e os profissionais não encontrados.
Coleta de Dados
A coleta ocorreu no período de julho a outubro de 2014.
Foram aplicados um questionário para a caracterização social (idade, gênero, estado civil,
formação profissional, prática de atividade física, comorbidades, vício em substâncias lícitas e
ilícitas) e profissional (jornada de trabalho, escala de plantão, renda mensal, frequência em atividades
de atualização profissional, atividade profissional paralela) do sujeito da pesquisa (Apêndice B), além
do questionário World Health Organization Quality of Life (WHOQOL), versão abreviada, para
avaliação da qualidade de vida, o qual contém 26 questões escalonadas de um a cinco pontos.
Esse questionário é composto por duas perguntas gerais sobre satisfação com a saúde e sobre a
qualidade de vida e outras vinte e quatro relacionadas a perguntas básicas que envolvem os domínios
psicológico e físico, a relação social e o meio ambiente, o que possibilitam a análise subjetiva do grau
de satisfação do pesquisado com sua vida, capacidade de trabalho, aparência física, acesso a
informações, sono, lazer, situação financeira, vida sexual, moradia, dentre outros itens.
Organização e Análise de Dados
Os dados foram organizados previamente em uma planilha do programa Microsoft Excel
2010 .
Para a análise dos dados foi utilizado o programa estatístico SPSS 20.0 (Statistical Package for
the Social Science). Os dados descritivos foram expressos em valores percentuais, média e desviopadrão. As transformações das variáveis e os cálculos estatísticos serão realizados segundo as
orientações estabelecidas pelo Grupo de Qualidade de Vida da Organização Mundial de Saúde. Foram
utilizados a correlação de Sperman e os testes t de Student, Anova e de variância pelo teste de Scheffé,
adotando-se os valores de p < 0,05 como significativos.
®
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Responderam ao questionário 44 anestesiologistas, o que corresponde a 48,9% do total desses
profissionais cadastrados na Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas do Piauí e que exercem
atividade em Teresina, Piauí. Percentual superior às pesquisas de propostas semelhantes, como de
Albuquerque, Andrade e Albuquerque (2011) e de Calumbi et al (2010).
A respeito da frequência dos gêneros dos médicos anestesiologistas, foi encontrado predomínio
de profissionais do gênero masculino (64%). Resultado condizente com a literatura de Santos e
Oliveira (2011) e de Neves e Pinheiro (2012). A amostra é composta por profissionais do gênero
masculino com média de idade de 48,25 anos e desvio-padrão de ± 2,72, além de profissionais do
Página 43
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
gênero feminino com média de idade de 42,13 e desvio-padrão de 3,09, sem diferença estatística
significativa entre ambos, assim como demonstrado em outros trabalhos (CALUMBI et al, 2010;
SANTOS e OLIVEIRA, 2011), mas discordante de Neves e Pinheiro (2012).
Em relação ao estado civil dos profissionais de anestesia, 81,82% são casados, solteiros e
divorciados representam 6,82% cada um, enquanto que união estável corresponde a 4,55% e viúvo a
0%. Pode-se perceber também que 90,91% dos profissionais apresentam título de especialista em
anestesiologia, 4,55% possuem título superior de anestesiologia, 2,27% são membros adjuntos,
2,27% possuem doutorado incompleto e nenhum anestesiologista possuía mestrado completo ou
incompleto ou doutorado completo. Outras pesquisas também apontam que é mais frequente os
profissionais serem casados (CALUMBI et al, 2010; SANTOS e OLIVEIRA, 2011; NEVES e
PINHEIRO, 2012) e possuírem, principalmente, o título de especialista em anestesiologia
(CALUMBI et al, 2010).
Em relação aos fatores de risco que possivelmente possam afetar a qualidade de vida dos
médicos anestesiologistas, demonstra-se que 68,18% dos profissionais praticam atividade física,
valor inferior ao de médicos de outras cidades do Brasil (SANTOS e OLIVEIRA, 2011). Quanto à
comorbidade que os anestesiologistas possam apresentar, 50% não declararam possuírem alguma,
enquanto que 31,82% apresentavam hipertensão arterial, 13,64% insônia, 9,09% diabetes, 4,55%
dislipidemia e 2,27% depressão, semelhante aos achados da literatura (NEVES e PINHEIRO, 2012).
Através da caracterização profissional dos médicos anestesiologistas de Teresina, Piauí, notase que apenas 15,91% deles exercem alguma atividade profissional paralela à de anestesiologia, valor
inferior ao de anestesiologistas de outras cidades do Brasil (SANTOS e OLIVEIRA, 2011; NEVES
e PINHEIRO, 2012). Relacionado à renda mensal, o mais frequente é acima de 31 salários mínimos,
equivalente a 43,18% desses médicos, enquanto que em segundo lugar está a renda mensal de até 20
salários mínimos com 31,82% e de 21 a 30 salários mínimos em terceiro lugar com 25%, em outra
pesquisa o mais frequente é a renda mensal de 21 a 30 salários mínimos (SANTOS e OLIVEIRA,
2011). Quanto à quantidade total de horas trabalhadas por semana, é mais frequente acima de 60 horas
semanais (68,18%), em segundo lugar de 40 a 60 horas semanal (25%) e com 4,55% e 2,27%,
respectivamente, aqueles que trabalham 12 a 18 horas e 24 a 36 horas, semelhante a literatura
(CALUMBI et al, 2010; SANTOS e OLIVEIRA, 2011; ALBUQUERQUE, ANDRADE e
ALBUQUERQUE, 2011). Nesta pesquisa obteve-se que o turno mais trabalhado é o da manhã com
58,33%, em segundo lugar é o da tarde com 36,67% e em terceiro o da noite com 1,67%, 3,33% não
declararam, semelhante a outras pesquisas de mesma proposta (SANTOS e OLIVEIRA, 2011;
ALBUQUERQUE, ANDRADE e ALBUQUERQUE, 2011). Além do que 70,45% afirmam
participarem de alguma atividade de atualização profissional a cada ano, número superior ao da
literatura (ARESON-PANDIKOW et al, 2012).
A Figura 1 expressa a qualidade de vida subjetiva dos médicos anestesiologistas. A qualidade
de vida geral obteve média de 66,62, com desvio-padrão de 2,05. O domínio físico apresentou maior
média no valor de 74,27 ± 2,23, no psicológico, 65,53 ± 2,29, no domínio das relações sociais, 63,26
± 3,05, e no domínio do meio ambiente, média igual a 63,44 ± 1,86.
Página 44
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Figura 1 - Valores dos escores de qualidade de vida dos médicos anestesiologistas de Teresina.
Teresina, 2014
Escore de WHOQOL-Bref (100%)
80 74,27±2,23
66,62±2,05
65,53±2,29 63,26±3,05
63,44±1,86
60
40
20
0
D.Fs
D.Ps
D.S.
D.Amb.
QV
Fonte: LEITE (2014)
Os escores aqui mostrados são semelhantes aos da literatura (SANTOS e OLIVEIRA, 2011;
ARESON-PANDIKOW et al, 2012). E, de acordo com esta, significativamente inferior aos escores
de qualidade de vida de médicos não anestesiologistas (ARESON-PANDIKOW et al, 2012).
A tabela 1 compara a qualidade de vida dos anestesiologistas em relação ao gênero dos
profissionais. Nela fica expresso a semelhança entre a média e desvio padrão em ambos os gêneros,
no entanto sem significância.
Tabela 01 - Comparação entre os gêneros pelos valores dos domínios. Teresina, 2014
Gênero
DOMÍNIOS
Domínio Físico
Domínio Psicológico
Domínio Social
Domínio Ambiental
Qualidade de Vida
Masculino
M
DP
74,61
15
64,14
15,49
63,39
21,91
62,41
13,19
66,14
14,47
Feminino
M
DP
73,66
14,91
67,97
14,97
63,02
17,47
65,25
10,88
67,47
12,37
X²
0,8405
0,4291
0,9542
0,4695
0,7592
Legenda: M, média; DP, desvio padrão; N, frequência absoluta; Max, máximo; Min, mínimo; X², teste de
correlação de chi-quadrado com IC 95% e significância estabelecida em p<0,05. Fonte: LEITE (2014)
Há literatura em que os profissionais do gênero feminino apresentam escores significativamente
inferiores do que os dos homens (CALUMBI et al, 2010). Em outra o gênero masculino apresenta
escores maiores, mas sem significância (SANTOS e OLIVEIRA, 2011).
Quanto à avaliação de sua qualidade de vida, 36,36% dos entrevistados afirma possuírem uma
qualidade boa, o mesmo valor corresponde a aqueles que consideram nem boa nem ruim, 22,73%
consideram ruim, enquanto que consideram 2,27% muito boa e o mesmo valor considera muito ruim.
Portanto 61,36% dos anestesiologistas teresinenses avaliados consideram sua qualidade de vida nem
boa nem ruim, ruim ou muito ruim. Em relação ao quão satisfeitos estão com sua saúde, 54,55% estão
satisfeitos, 15,91% não estão nem satisfeito nem insatisfeitos, 11,36% estão insatisfeitos, o mesmo
valor para os muito insatisfeitos e 6,82% estão muito satisfeitos. Portanto 38,63% dos
anestesiologistas da cidade de Teresina, Piauí, não estão nem satisfeito nem insatisfeito, insatisfeito
ou muito insatisfeito com sua saúde. A literatura aponta valores superiores aos achados nesta pesquisa
Página 45
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
para aqueles que consideram sua qualidade de vida como boa ou muito boa (CALUMBI et al, 2010;
ALBUQUERQUE; ANDRADE; ALBUQUERQUE, 2011)
Quando comparado os escores de qualidade de vida entre os anestesiologistas de acordo com o
total de horas semanais trabalhadas (Tabela 2), percebe-se que os escores para todos os domínios são
significativamente superiores para aqueles que trabalham de 12 a 36 horas por semana quando
comparado aos que trabalham de 40 a 60 horas.
Tabela 2 - Correlação das horas trabalhadas por semana e os domínios de qualidade de vida.
Teresina, 2014
DOMÍNIOS
Domínio Físico
Domínio Psicológico
Domínio Social
Domínio Ambiental
Índice de Qualidade de Vida
Horas semanais de trabalho
De 12 a 36 horas
De 40 a 60 horas
M
DP
M
DP
91,05
7,57
73,47
14,63
85,45
8,84
64,59
14,88
83,30
0,00
62,30
20,18
71,90
0,00
63,04
12,50
82,90
4,10
65,85
13,43
p
< 0,0001***
< 0,0001***
< 0,0001***
< 0,0001***
< 0,0001***
Legenda: M, média; DP, Desvio Padrão; t Teste T de Student, com Intervalo de confiança em 95% e significância em
p<0,05. Fonte: LEITE (2014)
Os anestesiologistas que trabalharam de três a cinco dias por semana apresentaram os melhores
escores em todos os domínios, quando comparados aos que trabalham seis a sete dias, sem, no entanto,
diferença estatística significativa, o mesmo vale para aqueles que trabalham mais de 60 horas
semanais ou menos (CALUMBI et al, 2010; SANTOS; OLIVEIRA, 2011; ALBUQUERQUE;
ANDRADE; ALBUQUERQUE, 2011).
Para as outras variáveis não houve achados estatísticos significativos.
4 CONCLUSÃO
Os médicos anestesiologistas teresinenses avaliados são em sua maioria, através de uma
caracterização social, do gênero masculino, com média de idade entre 40 e 50 anos, casados, com
título de especialista em anestesiologia, praticantes de atividade física, metade dos quais apresentam
alguma comorbidade, principalmente hipertensão arterial sistêmica. Esses mesmos médicos são
caracterizados profissionalmente em sua maioria como praticantes exclusivos da anestesiologia como
profissão, com renda mensal até 30 salários mínimos, trabalham mais de 60 horas semanais,
principalmente no turno da manhã, participam de alguma atividade de atualização profissional
anualmente.
A qualidade de vida desses profissionais é semelhante ao de anestesiologistas de outras cidades
do Brasil, com médias de escores por domínios variando de 74,27, o que representa o domínio físico,
a 63,26, o qual corresponde ao domínio social.
Ao correlacionar os achados socioprofissionais com os escores de qualidade de vida, só foi
possível determinar influência pela variável “horas totais de semanas trabalhadas”, portanto quem
trabalhava por mais tempo tinha uma pior qualidade de vida, então não se pode determinar outros
fatores que interfiram na qualidade de vida através da correlação com as variáveis coletadas nesta
pesquisa.
Página 46
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, M. A. B; GUTIERREZ, G. L; MARQUES, R. Qualidade de vida: definição, conceito
e interfaces com outras áreas de pesquisa. São Paulo: Escola de Artes, Ciências e Humanidades –
EACH/USP, 2012.
ANDRADE, A. M. N; ALBUQUERQUE, M. A. C; ANDRADE, A. N. M. Avaliação do nível de
estresse do anestesiologista da cooperativa de anestesiologia de Sergipe. Revista Brasileira de
Anestesiologia; v. 61, n. 4, jul/ago. 2011.
ARENSON-PANDIKOW, H. M. et al. Percepção da qualidade de vida entre médicos
anestesiologistas e não anestesiologistas. Revista Brasileira de Anestesiologia, v. 62, n. 1, jan/fev.
2012.
BRAZ, J. R. C; VANE, L. A. Risco profissional. In: MANICA, J. Anestesiologia: princípios e
técnicas. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.
CALUMBI, R. A. et al. Avaliação da qualidade de vida dos anestesiologistas da cidade do Recife.
Revista Brasileira de Anestesiologia, v. 60, n. 1, jan/fev. 2010.
FLECK, M.P.A. et al. Aplicação da versão em português do instrumento abreviado de avaliação da
qualidade de vida “WHOQOL-bref”. Revista de Saúde Pública, v. 34, n. 2, abr. 2000.
NEVES, B. S; PINHEIRO, T. M. M. Perfil epidemiológico e ocupacional dos anestesiologistas
inseridos no mercado de trabalho de Belo Horizonte, Minas Gerais, em 2010. Revista Brasileira de
Anestesiologia, v. 62, n. 5, set/out. 2012.
SANTOS, M. F. O; OLIVEIRA, H. J. Influência de variáveis laborais na qualidade de vida dos
anestesiologistas da cidade de João Pessoa. Revista Brasileira de Anestesiologia, v. 61, n. 3,
mai/jun. 2011.
THE WHOQOL GROUP. The development of the World Health Organization quality of life
assessment instrument (the WHOQOL). In: Orley J, Kuyken W, editors. Quality of life assessment:
international perspectives. Heidelberg: Springer Verlag, 1994.
Página 47
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Cenostigma macrophyllum: INVESTIGAÇÃO DE POTENCIAL ANTINOCICEPTIVO E
ANTIINFLAMATÓRIO EM ROEDORES
Cenostigma macrophyllum: RESEARCH POTENTIAL ANTINOCICEPTIVE AND ANTIINFLAMMATORY IN RODENTS
Ana Luíza Silva Ferreira1,
Luciano da Silva Lopes2,
Tacianny Eva Araújo Passos3,
Talvany Luis de Barros4,
Lana Mayara Meneses Lustosa Vargas5
Lucas Noleto Lima e Marlon Marcelo Maciel Sousa6
RESUMO
A descrição e análise dos constituintes químicos presentes em extratos (matriz bruta, frações) da
espécie botânica Cenostigma macrophyllum e sua bioatividade antinociceptiva e anti-inflamatória
ainda não foram completamente desvendadas. Esse estudo teve como objetivo principal identificar
propriedades antinociceptivas e antiinflamatórias da espécie botânica Cenostigma macrophyllum em
roedores. Para avaliação do efeito antinociceptivo foram utilizados os métodos de formalina e
contorções abdominais; para a avaliação farmacológica, as drogas utilizadas como controles positivos
foram administradas uma hora antes da injeção de formalina ou de ácido acético; os extratos de
produtos naturais foram administrados 60 minutos (via oral) antes da injeção de formalina. Foram
observadas propriedades antinociceptivas relevantes da espécie botânica Cenostigma macrophyllum
em roedores através dos modelos de nocicepção induzida por formalina e induzida por ácido acético.
Palavras-chaves: Cenostigma macrophyllum. Antinociceptiva. Anti-inflamatória.
ABSTRACT
The description and analysis of chemical constituents present in extracts (crude matrix, fractions) of
botanical species Cenostigma macrophyllum and its antinociceptive and anti-inflammatory
bioactivity have not been fully elucidated. This study aimed to identify antinociceptive and antiinflammatory properties of botanical species Cenostigma macrophyllum in rodents. To evaluate the
antinociceptive effect we used the formalin and writhing methods; for the pharmacological
evaluation, the drugs used as positive controls were administered one hour before the formalin
injection or acetic acid; the natural product extracts were administered 60 minutes (oral route) before
the formalin injection. There were significant antinociceptive properties of botanical species in
rodents Cenostigma macrophyllum through the models nociception induced by formalin and by acetic
acid.
Keywords: Cenostigma macrophyllum. Antinociceptive. Anti-inflammatory.
__________________
1
Acadêmica de Medicina da FACID-DeVry, Teresina-PI; [email protected]
Professor da Universidade Federal do Piauí, Doutor em Biotecnologia pela RENORBIO, Teresina-PI.
3 Acadêmica de Medicina da FACID-DeVry, Teresina-PI
4 Assistente de laboratório da FACID-DeVry, Teresina-PI
5 Acadêmica de Medicina da FACID-DeVry, Teresina-PI
6 Acadêmicos de Medicina da FACID´DeVry, colaborados da pesquisa.
2
Página 48
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
1 INTRODUÇÃO
Comumente conhecida como “caneleiro”, a Cenostigma macrophyllum Tul. Var, acuminata
Teles Freire pertence à família Caesalpiniaceae e é encontrada em todo o Brasil, com exceção da
região sul (SOUSA, 2007).
A procura e a obtenção de fármacos, principalmente anti-inflamatórios e analgésicos, a partir
das plantas medicinais nos permitiu a descoberta de numerosos e interessantes compostos e deram
origem a muitos medicamentos modernos. Nos últimos cinco anos, novos fitoterápicos tem sido
lançado no mercado pela indústria farmacêutica, por exemplo: o “acheflan” (nome comercial) é um
fitoterápico, extraído da planta Cordia verbenacea, lançado no mercado pela empresa “Ache”, e já é
o 2º anti-inflamatório mais vendido no mundo inteiro (BRANDÃO et al., 2008).
A descrição e análise dos constituintes químicos presentes em extratos (matriz bruta, frações)
da espécie botânica Cenostigma macrophyllum e sua bioatividade antinociceptiva e anti-inflamatória
ainda não foram completamente desvendadas. Pelos próprios constituintes da planta e pela
observação em outras espécies com constituição semelhante, é possível que as frações da Cenostigma
macrophyllum apresentem efeito antinociceptivo, propriedade esta que ainda não foi avaliada.
Segundo Peraza et al. (2007), os nociceptores são terminações nervosas livres, não
especializadas, que respondem a estímulos nociceptivos, detectando, desse modo, lesão nos tecidos,
onde os estímulos desencadeantes podem ser mecânicos, térmicos ou químicos. Assim, o potencial
antinociceptivo de um composto pode ser medido pelo seu poder de aumentar o limiar de excitação
dessas terminações nervosas ao estímulo doloroso, ou então, fazer com que os nociceptores não
percebam ou não respondam ao estímulo doloroso.
Em levantamento etnobotânico, realizado na região do semi-árido piauiense (dados não
publicados), consta que as cascas do caule, folhas e flores da C. macrophyllum são usadas
popularmente para o tratamento de doenças estomacais e intestinais. Estudos com extrato de folhas
desta espécie revelaram a presença de atividades antioxidante, anti-inflamatória, antinociceptiva,
antibacteriana, antiulcerogênica e hepatoprotetora e a ocorrência de triterpenóides e biflavonas
(ROCHA E SILVA et al., 2007).
Com base nesse contexto, o objetivo do presente estudo foi avaliar os efeitos de uma emulsão
de Cenostigma macrophyllum em modelo de nocicepção, induzida por formalina e por ácido acético.
2 MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) da Faculdade
Diferencial Integral (FACID), Teresina-PI, Brasil (Protocolo nº. 035/13) e seguindo também as
normas internacionais para utilização de animais conscientes em modelos de dor. Quarenta
camundongos Mus musculus machos e pesando 20-30 g foram utilizados. Os animais foram mantidos
em gaiolas no Biotério da Faculdade, com livre acesso a ração e água.
No teste das contorções abdominais, foram utilizados quatro grupos em que cada grupo estava
em efeito, além de ácido acético, de um tipo diferente de substância ou sob outra dosagem, podendo
ser: morfina, soro fisiológico, emulsão do extrato na dose de 50mg/kg e emulsão do extrato na dose
de 100mg/kg. Cada grupo possuía quatro animais. Neste mesmo teste, também foram utilizados
quatro animais para grupo controle, no qual foi obtida a resposta esperada.
No teste da formalina, foram utilizados quatro grupos contendo quatro animais cada grupo.
Utilizaram-se as mesmas substâncias e dosagens que foram realizadas no teste das contorções
abdominais, exceto pelo ácido acético, que foi substituído pela formalina como substância indutora
de dor e inflamação. Da mesma forma, no grupo controle foram necessários quatro animais e no qual
foi obtida a resposta esperada.
A emulsão do extrato da planta utilizado foi administrada por via oral nas doses de 50mg/kg e
100 mg/kg através de método de gavagem uma hora antes da administração do agente álgico
(formalina ou ácido acético). Para avaliação do efeito antinociceptivo, foram utilizados os métodos
de formalina e contorções abdominais.
Página 49
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Os animais receberam 20μl da solução de formalina (1%), utilizando-se microsseringa. Logo
após a injeção, os animais foram colocados sob campânulas de vidro e observados individualmente.
O tempo que o animal passou lambendo, mordendo ou agitando vigorosamente a pata, foi
cronometrado nos primeiros cinco minutos seguintes à injeção e a partir do 20.º até o 25.º minuto. Os
resultados obtidos a partir dos grupos tratados foram comparados com os grupos controle.
Com o modelo da formalina subplantar, foi possível evidenciar as duas fases de sensibilidade
dolorosa: a primeira fase começou imediatamente após a injeção e perdurou por cerca de cinco
minutos (1ª fase). Essa fase foi seguida por um período de quiescência, de cerca de 5-10 minutos,
após o qual se desenvolveu a 2ª fase da resposta, que se iniciou 20-25 minutos após a injeção. A
primeira fase é de caráter neurogênico, sendo sensível a analgésicos opióides e a alguns agonistas das
vias descendentes, e a segunda fase é acompanhada de uma resposta inflamatória, relacionada à
liberação de mediadores inflamatórios, sendo sensível a analgésicos antiinflamatórios não esteroidais.
Induziu-se a resposta nociceptiva pela injeção intraperitoneal de ácido acético (0,3-1,8%; 0,1
ml/10g de peso corporal) nos camundongos. Uma hora antes da injeção de ácido acético,
administraram-se as drogas que serviram de controles (salina ou água destilada, morfina, etc.) e o
extrato a ser testado. Após a injeção, os animais foram colocados sob campânulas de vidro, para a
observação individual e o número de contorções foi quantificado cumulativamente, durante um
período de 20 minutos. Comparou-se o resultado obtido a partir dos grupos tratados com os grupos
controle.
A análise de dados foi apresentada como médias ± SEM de medições feitas em 6 animais em
cada grupo. As comparações entre três ou mais tratamentos foram feitos usando one-way ANOVA
com teste post hoc de Tukey. Todos os dados foram analisados usando Prism 3 software de
computador (GraphPad, San Diego, EUA).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Comparando o número de contorções abdominais induzidas por ácido acético em diferentes
grupos de substâncias, observou-se que o grupo de camundongos que recebeu EECM 100 (emulsão
etanólica de C. macrophyllum na dose de 100) obteve uma resposta mais eficaz, podendo ser
semelhante à resposta da morfina, excluindo a possibilidade de reações adversas. Já o grupo de
camundongos que recebeu EECM 50 (emulsão etanólica da C. macrophyllum na dose de 50)
equiparou-se à resposta do Soro fisiológico (Figura 1).
Figura 1 - Número de contorções abdominais em diferentes grupos experimentais, sob efeito
de diferentes substâncias, Teresina-PI, 2015
Na primeira fase do teste da formalina, comparou-se o tempo de lambidas em segundos em
diferentes grupos de camundongos; o grupo que recebeu EECM 50 obteve uma resposta melhor,
equiparando-se com a resposta da morfina (Figura 2).
Página 50
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Figura 2 - Tempo em segundos da ação da formalina em camundongos que estão sob efeito de
diferentes substâncias no mesmo intervalo de tempo
Na segunda fase do teste da formalina, observou-se uma resposta parecida com a resposta da
primeira fase. Comparando-se o tempo de lambida em segundos em diferentes grupos de
camundongos, observou-se que o grupo de camundongos que recebeu EECM 50 obteve uma resposta
melhor, equiparando-se com a resposta da morfina (Figura 3).
Figura 3 - Segunda fase do teste da formalina. Tempo em segundos da ação da formalina em
camundongos que estão sob efeito de diferentes substâncias
Segundo Coelho et al. (2013) Cenostigma macrophyllum Tul. é comum em diferentes regiões
do Brasil e é a árvore símbolo da cidade de Teresina, Piauí. Cenostigma macrophyllum Tul. var.
acuminata Teles Freire, que pertence à família Caesalpiniaceae, mostra propriedades bioquímicas,
anti-inflamatórios e curativas. Além das propriedades pesquisadas no presente trabalho, foram
estudadas experimentalmente outras propriedades do extrato da planta, como o seu efeito sobre a
cicatrização de feridas. Portanto, podendo resultar na aplicação desta planta na área da saúde.
Observou-se que com a utilização dos testes da formalina e de contorções abdominais induzidas
por ácido acético, que não foi possível chegar ao mecanismo de ação definitivo do extrato da planta
testado. Porém, a vantagem desses modelos é que representam o início para a caracterização
farmacológica de novas drogas capazes de interagir com os mediadores da dor e/ou inflamação.
4 CONCLUSÃO
A emulsão da espécie botânica Cenostigma macrophyllum apresentou propriedades
antinociceptivas relevantes em roedores, através dos modelos de nocicepção induzida por formalina
e induzida por ácido acético. Observou-se uma diminuição significativa no número de contorções
Página 51
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
abdominais e no tempo em segundos de lambida. Portanto, pode-se dizer que há propriedades
antinociceptivas nessa espécie botânica.
REFERÊNCIAS
BRANDAO, M. G. L. et al. Other medicinal plants and botanical products from the first edition of
the Brazilian Official Pharmacopoeia. Rev. bras. farmacogn. [online], v.18, n.1, p. 127-134, 2008.
Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0102-695X2008000100022. Acesso em: 10/04/2015.
COELHO, N. P. M. de F. et al. Cenostigma macrophyllum Tul. on the healing of skin wounds in rats
with Diabetes mellitus. Acta Cir. Bras. [online], v.28, n.8, p. 594-600, 2013. Disponível
em: http://dx.doi.org/10.1590/S0102-86502013000800007. Acesso em: 14/10/2015.
PERAZA, G. et al. O uso de modelos animais para avaliar o potencial antinoniceptivo dos produtos
de origem natural. VITTALLE, Rio Grande, v. 19, n. 1, p. 35-44, 2007. Disponível
em: http://www.seer.furg.br/vittalle/article/viewFile/698/192. Acesso em: 14/10/2015
ROCHA E SILVA, H. et al. Constituintes químicos das cascas do caule de Cenostigma
macrophyllum: ocorrência de colesterol. Quím. Nova [online], v. 30, n. 8, p. 1877-1881, 2007.
Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0100-40422007000800015. Acesso em: 14/10/2015.
SOUSA, C. M. de M. et al. Fenóis totais e atividade antioxidante de cinco plantas medicinais. Quím.
Nova [online], v. 30, n. 2, p. 351-355, 2007. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S010040422007000200021. Acesso em: 14/10/2015.
Página 52
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
CICATRIZAÇÃO DE QUEIMADURAS DE PELE TRATADAS TOPICAMENTE COM
CHÁ DE CAMOMILA
HEALING OF SKIN BURNS TREATED TOPICALLY WITH CHAMOMILE TEA
Andréa Reis Costa1,
Karinne Sousa de Araujo2
RESUMO
A procura pelos fitoterápicos é cada vez maior dentro da comunidade cientifica. O presente estudo
justifica-se por evidenciar os efeitos que a Camomila (Matricaria recutita) pode proporcionar na
cicatrização de queimaduras de pele e por possibilitar uma nova opção no tratamento desse agravo à
saúde. Este estudo teve como objetivo analisar histologicamente a cicatrização de queimaduras de
pele tratadas com chá de camomila. A pesquisa é do tipo qualitativo, de modo experimental e foi
aprovada com o parecer número 370/11. Foram utilizados 20 ratos Wistar machos submetidos à
queimadura de pele. No grupo 1, foi aplicado solução salina 0,9%, sendo este denominado grupo
controle; O grupo 2 foi tratado topicamente com chá de camomila. Após a eutanásia, em sete e
quatorze dias, as amostras de pele foram submetidas à análise histológica. No sétimo dia, os animais
dos grupos 1 e 2 apresentaram inflamação moderada, tecido de granulação imaturo, fibroplasia leve
e sinais de reepitelização. No 14º dia, foi verificada redução do infiltrado inflamatório e formação de
tecido de granulação maduro no grupo 2. Ambos os grupos apresentaram reepitelização parcial da
ferida. O uso tópico de chá de camomila (Matricaria recutita) favoreceu a cicatrização de
queimaduras de pele de ratos, por promover efeito antiinflamatório e beneficiar a fibroplasia nas
lesões cutâneas de ratos.
Palavras-chave: Cicatrização. Pele. Camomila.
ABSTRACT
The demand for herbal medicines has been growing within the scientific community. This study is
justified by the evidence that the effects of Chamomile (Matricariarecutita) can provide the healing
of skin burns and enable a new option in the treatment of this serious health hazard. This study aimed
to analyze histologically the healing of skin burns treated with chamomile tea. It is a qualitative
research with an experimental approach that was approved on the number 370/11. 20 male Wistar
rats subjected to skin burn were used. In group 1, it was administered a 0.9% saline solution, which
is called control group; Group 2 was treated topically with chamomile tea. After euthanasia, on the
seventh and fourteenth days, the skin samples were subjected to histological analysis. On the seventh
day, the animals in groups 1 and 2 had moderate inflammation, immature granulation tissue and
mild fibroplasy and reepithelization signs. On the 14th day, there was a reduction of the infiltrate
inflammatory and formation of mature granulation tissue in group 2. Both groups showed partial
reepithelization of the wound. The topical use of chamomile tea(Matricariarecutita) favored the
healing of skin burns in rats by promoting anti-inflammatory effect and promote fibroplasy in
cutaneous lesions of mice.
Keywords: Healing. Skin. Chamomile.
____________________________
Aluna de graduação( 8o período) do Curso de Enfermagem da Faculdade Integral Diferencial – FACID.
Email: [email protected]
2 Professora do Curso de Enfermagem da FACID, Mestre em Engenharia Biomédica – UNIVAP, São José dos campos, SP – Brasil.
Email: [email protected].
1
Página 53
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
1 INTRODUÇÃO
A pele humana é um órgão que reveste e delimita o organismo, corresponde a 15% de seu peso
corporal, protegendo-o e interagindo com meio exterior. Caracteristicamente dinâmica, a pele
apresenta modificações constantes, sendo dotada de grande capacidade renovadora e reparadora, além
de possuir grau de impermeabilidade (AZULAY, 2006).
Dentre as várias lesões que podem acometer a pele, estão as queimaduras. No Brasil, este tipo
de lesão tem alta incidência e estima-se que ocorrem em torno de 1.000.000 acidentes/ano por
queimaduras, sendo que 100.000 pacientes procuram atendimento hospitalar e destes, 2.500 vão a
óbito por consequências de suas lesões (GOMES, 2001).
A fitoterapia pode ser método terapêutico eficaz para o tratamento dessas injúrias, já que a
mesma consiste no uso interno ou externo de vegetais ‘’in natura’’ou sob a forma de medicamentos
no tratamento de doenças. No Brasil, o emprego de ervas medicinais era de prática indígena, que
associado a outras práticas trazidas por escravos africanos e pelos portugueses, geraram uma rica
cultura popular. Com o avanço da medicina alopata, esse método de cura foi deixado de lado. Até
que, devido aos efeitos colaterais e ao alto custo dos medicamentos, a fitoterapia foi novamente
destacada (ALVES; SILVA, 2003).
Sendo a fitoterapia uma nova opção no tratamento de queimaduras, pode-se destacar a
Matricaria recutita uma erva, popularmente denominada de camomila: é a quarta espécie medicinal
mais cultivada no mundo e o maior consumidor e importador propriamente dito é a Alemanha, sendo
que o maior produtor mundial é a Argentina. Além de ser empregada como anti-inflamatório,
antiespamódico, ansiolítico e carminativo, possuem constituintes químicos presentes como: óleo
essencial, flavonóides, cumarinas e mucilagem (DUARTE; LIMA, 2003; SILVA; SOUZA;
CORTEZ, 2009).
A procura pelos fitoterápicos é cada vez maior dentro da comunidade cientifica. O presente
estudo justifica-se por evidenciar os efeitos cicatrizantes que a Camomila (Matricaria recutita) pode
proporcionar no tratamento de queimaduras de pele, e por possibilitar uma nova opção terapêutica
desse agravo à saúde pelos profissionais de saúde, e em especial os da enfermagem.
Este estudo tem como objetivo verificar a cicatrização de queimaduras de pele tratadas
topicamente com chá de camomila (Matricaria recutita) por meio de análise histológica.
2 MATERIAL E METÓDOS
Aspectos Éticos
Neste estudo foram aplicados os princípios éticos da experimentação animal em conformidade
ao COBEA (Colégio Brasileiro de Experimentação Animal). O projeto foi encaminhado ao
CEP/FACID e foi aprovado após apreciação com o parecer número 370/11.
Tipo de Pesquisa
A pesquisa é do tipo experimental, destinada a analisar evidenciar e confirmar as variáveis de
interesse no estudo dos animais investigados. O estudo foi realizado no laboratório de pesquisa da
Faculdade Integral Diferencial – FACID.
Seleção e Manejo dos Animais
Para esse experimento foram utilizados roedores da espécie Rattus norvegicus, machos,
mantidos desde o nascimento no biotério da Faculdade Integral Diferencial – FACID (Teresina-PI),
com idade de 2 meses e pesando aproximadamente 300g. Os animais permaneceram em gaiolas de
Página 54
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
propileno (cinco animais por gaiola) com boas condições de higiene, alimentados com dieta padrão
do biotério, ração e água ad libidum
Foram utilizados 20 animais, divididos em 2 grupos de acordo com a intervenção terapêutica
utilizada, sendo o grupo 1(controle) tratado com solução salina a 0,9% e o grupo 2 tratado com o chá
de camomila (Matricaria recutita). Estes grupos foram subdivididos em dois grupos contendo 5
animais cada, conforme o período de eutanásia de 07 e 14 dias de pós- operatório respectivamente.
Obtenção da Infusão de Chá de Camomila
Foi preparado infusão de capítulos florais desidratados de Matricaria recutita. Inicialmente, os
capítulos florais foram pesados em uma balança analítica e obtido peso igual a 5 gramas. Em seguida,
foi medido um litro de água na proveta e colocado essa quantidade em um béquer. Logo após, o
béquer foi colocado em uma placa aquecedora por 40 minutos a uma temperatura de 135º C. A infusão
foi preparada adicionando-se água fervente sobre os capítulos florais desidratados, sendo a solução
homogeneizada e mantida em repouso por 15 minutos. Decorrido o tempo de descanso, a solução
com o chá de camomila passou por um processo de filtração. Ao final foi obtida solução na
concentração de 5g/L. (VIEIRA et al 2009; ZOPPA et al., 2008).
Realização das Queimaduras Experimentais e Intervenção Terapêutica
Para realização do procedimento experimental, os animais foram pesados e receberam por via
subcutânea, um pré-tratamento com atropina. Em seguida, os animais ficaram em repouso por 15
minutos aguardando o procedimento anestésico (SCHANAIDER; SILVA, 2004).
Foi utilizada uma droga anestésica por via intramuscular, cloridrato de ketamina 10% (Syntec),
utilizando a dose de 0,1 ml para cada 100g de peso corpóreo e cloridrato de xilazina 2% (Syntec),
com dose de 0,1ml para cada 100g (MASSONE, 2003).
Após anestesia, cada rato foi posicionado em decúbito ventral, imobilizado em prancha
operatória e submetido á depilação na região dorsal em área de 6 centímetros cúbicos e antissepsia
com polvidine tópico. Para o procedimento de queimadura da pele do animal, foi utilizada uma
proveta de 50ml, com uma coluna de água de 45 cm previamente aquecida á temperatura de ebulição,
posicionada em suporte universal e colocada em contato com a pele do dorso do animal por um
minuto. A pressão exercida sobre a pele foi determinada apenas pela coluna de água.
Após procedimento de queimadura, foi administrado Pentabiótico de amplo-espectro, via
intramuscular profunda em dose única com o volume de 0,02/100g (MASSONE, 2003).
Nos animais do grupo 1, foi utilizado gotejamento de 1 ml de solução salina a 0,9%. No grupo
2, foi realizado gotejamento de 1 ml de chá de Matricaria recutita. Em todos os animais, a intervenção
terapêutica foi realizada a cada 24h, durante os períodos de observação do estudo (7 e 14 dias), não
sendo utilizado qualquer tipo de curativo sobre a lesão.
A realização do experimento foi de acordo com a Lei 11.794 de 2008 e com os princípios éticos
na experimentação animal (COBEA, 1991).
Eutanásia
Após o período de intervenção terapêutica, os animais foram eutanasiados de acordo com os
princípios éticos adequados (COBEA) para a dissecação das amostras que foram submetidas á
análise.
Os animais receberam a aplicação via intracardíaca de anestésico Tiopental Sódico (Cristália),
na dose de 0,05 ml para cada 100g de peso corpóreo. Após 5 minutos, foi realizada a aplicação do
cloreto de potássio 19,1% (Equiplex), via intracardíaca, com dose única de 0,4 ml/100g (MASSONE,
2003)
Página 55
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Análise Histológica
Logo após a eutanásia dos animais, a peça cirúrgica foi retirada, sendo constituída da cicatriz
ou lesão cutânea, com margem de 1cm de pele em torno da lesão, com profundidade isoladamente.
Em seguida, as peças passaram pelo processo laboratorial de rotina para inclusão em parafina.
Obtidos os blocos, foram realizados cortes longitudinais com espessura de 5 micrômeros em um
micrótomo rotativo, resultando em cortes semi-seriados que foram corados em hematoxicilinaeosina(H.E). As lâminas foram codificadas de acordo com o número do animal e subgrupo ao qual
pertencia.
A análise histológica descritiva e comparativa foi baseada nos seguintes critérios: infiltrado
inflamatório, formação de tecido de granulação, deposição de colágeno e reepitelização.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Segundo a metodologia proposta neste estudo, foi realizada análise por microscopia de luz,
onde os achados histológicos mais frequentemente observados nas amostras foram destacados em
cada grupo de animais, de acordo com os períodos determinados no experimento. Na descrição dos
achados microscópicos, procurou-se ressaltar a comparação entre os grupos quanto à evolução do
processo de cicatrização após queimadura de pele no dorso de ratos.
Após sete dias de intervenção terapêutica, pode-se observar por análise microscópica que as
queimaduras dos animais de ambos os grupos experimentais apresentavam crosta fibrinosa
recobrindo a área lesada, com presença de moderado infiltrado inflamatório subjacente e tecido de
granulação imaturo, além de sinais de reepitelização nas bordas das feridas (Figuras 6 e 7). No grupo
2, foi possível evidenciar leve fibroplasia.
Figura 1 – Fotomicrografia do reparo cutâneo do grupo controle;
7 dias após a queimadura. Aumento de 100x; H.E.
*
(
*crosta fibrinosa,
infiltrado inflamatório)
Página 56
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Figura 2 – Fotomicrografia do reparo cutâneo do grupo tratado com chá de camomila;
7 dias após a queimadura. Aumento 100x; H.E.
*
*
( *crosta fibrinosa,
infiltrado inflamatório,
deposição de colágeno)
Na evolução do reparo tissular, ocorrem a infiltração de células circulantes (neutrófilos e
monócitos) e a migração de células das áreas adjacentes como células epiteliais, queratinócitos e
fibroblastos no tecido lesado. Estas últimas, em cooperação com as células locais, anteriormente
ativadas, serão as protagonistas da fibroplasia (produção de colágeno pelos fibroblastos) e deposição
de matriz extracelular, angiogênese (formação de novos vasos), cicatrização e reepitelização da região
da ferida (BALBINO; PEREIRA; CURI, 2005).
A Chamomilla recutita destaca-se pelas propriedades farmacológicas da flor, aquelas
relacionadas aos constituintes químicos que estão contidos no seu óleo essencial, (azuleno, matricina,
alfa - bisabolol, flavonoides e outros constituintes fenólicos (BRANDÃO; FREIRE; SOARES, 1998),
além de atividades anti-inflamatória e calmante. Os frutos secos provenientes dos capítulos florais da
camomila, não fogem a exceção, podendo extrair destes um óleo fixo de cor amarela clara, com
potencial aplicabilidade dermo-farmacêutica (PEREIRA; MIGUEL; MIGUEL, 2005). A camomila
tem usual aplicabilidade dermo-farmacêutica, devido a um constituinte químico presente em seu óleo
essencial, os flavonóides. Estes possuem elevada eficácia no processo de cicatrização, favorecendo a
diminuição do infiltrado inflamatório.
Hartmann e Onofre (2010) em seus resultados, analisando o teor químico do óleo essencial da
camomila, verificaram que o mesmo rendeu 0,55ml para cada 100 gramas de estruturas florais de
camomila. Esses valores encontrados na pesquisa são de acordo com a Farmacopeia Brasileira (1998).
Os autores testaram o óleo essencial produzido pela camomila Matricaria chamomilla L em bactérias
(S. Aureus e E.Coli,) e obtiveram resultados que demonstraram redução da atividade microbiana.
Essa redução enfatiza a atividade terapêutica da camomila, pois o óleo possui constituintes como:
camazuleno, matricina e alfa bisabolol.
Os flavonoides representam um dos principais grupos de substâncias com atividades
farmacológicas em plantas, e são utilizados para elevar a eficácia do processo de cicatrização em
feridas e úlceras. Agem como antioxidante, combatendo os radicais livres, possuem atividade
antimicrobiana e moduladora do sistema imune, apresentam ação anti-inflamatória, analgésica,
regenerativa de cartilagens, ossos e produzem vasodilatação (VIEIRA et al., 2009).
Aos 14 dias de intervenção terapêutica, pode-se observar por meio de análise microscópica que
as feridas do grupo controle (G1) apresentaram infiltrado inflamatório moderado, tecido de
granulação imaturo com leve deposição de fibras colágenas (Figura 8). Nos animais do grupo tratado
com a camomila, foi evidenciado redução do infiltrado inflamatório e presença de tecido de
Página 57
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
granulação maduro com maior deposição de fibras colágenas na matriz. Em ambos os grupos foi
verificada reepitelização parcial da área lesada (Figura 9).
Figura 3 – Fotomicrografia do reparo cutâneo do grupo controle; 14 dias após a queimadura.
Aumento 100x; H.E.
(
reepitelização,
colagenização)
Figura 4 – Fotomicrografia do reparo cutâneo do grupo tratado com chá de camomila; 14
dias após a queimadura. Aumento 100x; H.E.
(
reepitelização,
colagenização).
A fase de proliferação que inclui a fibroplasia e a formação da matriz é extremamente
importante na formação do tecido de granulação (coleção de elementos celulares, incluindo
fibroblastos, células inflamatórias e componentes neovasculares e da matriz como a fibronectina, as
glicosaminoglicanas e o colágeno). A constituição do tecido de granulação depende do fibroblasto,
célula crítica na formação da matriz, ele produz elastina, fibronectina, glicosaminoglicana e proteases,
estas responsáveis pelo debridamento e remodelamento fisiológico (MALDEBAUM; SANTIS;
MALDEBAUM, 2003).
De acordo com Malheiros et al. (2011), o extrato de camomila tem seus efeitos principais em
estágios iniciais da inflamação. É possível que seu uso na concentração de 10% tenha sido
Página 58
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
responsável na diminuição do processo inflamatório e consequentemente na otimização da
cicatrização. Falkowski, Jacomassi e Takemura (2009) afirmam que a camomila têm indicação
terapêutica como anti-inflamatório, podendo ser utilizado topicamente na forma de infusão, além
disso, a atividade anti-inflamatória da Matricaria recutita foi demonstrada experimentalmente em
animais de laboratório e está relacionada a presença de óleos essenciais constituídos de matricina e
alfa-bisabolol.
Segundo Busnardo; Simões (2010) a cicatrização de feridas pode ser beneficiada quando os
principais eventos que a possibilitam são estimulados, ou seja, nutrição, proliferação celular e
controle da inflamação e infecção. O uso tópico de fitoterápicos em queimaduras de pele diminui o
processo inflamatório, favorecendo a granulação e, posteriormente, a cicatrização.
Dutra et al. (2009) afirma que diversos fitoterápicos testados e usados no processo de
cicatrização de queimaduras cutâneas mostram-se promissores. A Aloe vera (babosa) foi eficaz no
tratamento de feridas cutâneas abertas em ratos diabéticos e normais. O extrato alcoólico de Ixora
coccínea facilitou os fatores de cicatrização, como aumento da granulação, força de tensão e
deposição de colágeno em feridas cutâneas abertas em ratos. O uso tópico de papaína também
apresentou bons resultados em feridas cutâneas abertas em ratos. Recentemente foi demonstrado que
o uso tópico do extrato de Passiflora edulis promove aumento da proliferação fibroblástica e
colagenização, melhor reepitelização e diminuição da reação inflamatória em feridas cutâneas abertas
em ratos.
Os trabalhos de Sérvio et al. (2011) e Lucena et al. (2006) concluem que o grau de intensidade
da reação inflamatória é de fundamental importância na cicatrização.
4 CONCLUSÃO
O uso tópico de chá de camomila (Matricaria recutita) favoreceu a cicatrização de queimaduras
de pele por promover efeito anti-inflamatório e favorecer a fibroplasia nas fases iniciais do processo
de reparação tecidual quando analisadas por microscopia de luz.
REFERÊNCIAS
ALVES, A. R.; SILVA, M. J. P. O uso da fitoterapia no cuidado de crianças com até cinco anos em
área central e periférica da cidade de São Paulo. Revista Escola de Enfermagem USP, São Paulo,
v. 37, n. 4, 2003. Disponível em :<http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v37n4/10>.pdf>.Acesso em :29
nov.2011.
AZULAY, R. D. Dermatologia. 4. ed. Rio de Janeiro; Guanabara Koogan, 2006.
BALBINO, C. A.; PEREIRA, L. M; CURI, R. Mecanismos envolvidos na cicatrização: uma revisão.
Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, v. 41, n. 1, jan/mar, 2005. Disponivel em:
<http://www.scielo.br/pdf/rbcf/v41n1/v41n1a03.pdf>. Acesso em 29 out.2012.
BRANDÃO, M. G. L.; FREIRE, N.; SOARES, C. D. V.; Vigilância de fitoterápicos em Minas Gerais.
Verificação da qualidade de diferentes amostras de camomila. Cad. De Saúde Pública, v. 14, n.3, p.
613-616, jul/set 1998. Disponível em: <http://www.scielosp.org/pdf/csp/v14n3/0098.pdf>. Acesso
em: 31 nov. 2012.
BUSNARDO, L. V.; SIMÕES, M. L. P. B. Os efeitos do laser hélio-neônio de baixa intensidade na
cicatrização de lesões cutâneas induzidas em ratos. Rev. Bras. Fisioter, v. 14, n. 1, p. 45-41, 2010.
Disponivel em: <http://www.scielo.br/pdf/rbfis/v14n1/08.pdf>. Acesso em: 30 nov. 2012.
Página 59
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Colégio Brasileiro de Experimentação Animal, 1991. Disponível em: < http://www.cobea.org.br/
> COBEA.Acesso em: 29 nov.2011.
DUARTE, M. R.; LIMA, M. P. Análise farmacopéica de amostras de camomila. Visão acadêmica.
Curitiba,
v.
4,
n.
2,
p.
89-92,
Jul/Dez
2003.
Disponível
em:
<http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/academica/article/view/527/440 >. Acesso em: 10 out. 2011.
DUTRA, R. C.et al., N. Efeito cicatrizante das sementes de Pterodon emarginatus Vogel em modelos
de úlceras dérmicas experimentais em coelhos. Latin American Journal Of Pharmacy, v. 28, n. 3,
2009. Disponível em: <http://www.latamjpharm.org/trabajos/28/3/LAJOP_28_3_1_8_0O4O1V30
HG.pdf>. Acesso em: 30de nov. 2012.
FALKOWSKI, G. J. S.; JACOMASSI, E.; TAKEMURA, O. S. Qualidade e autenticidade de amostras
de chá de camomila (MatricariarecutitaL- Asteraceae). Rev. Inst. Adolfo Lutz, São Paulo. v. 68, n.
1, p. 64-22, 2009. Disponível em <http://periodicos.ses.sp.bvs.br/pdf/rial/v68n1/v68n1a09.pdf>
Acesso em: 30 de nov. 2012.
Farmacopéia Brasileria. 4. ed. São Paulo, SP: Atheneu, 1998, v. 1.
GOMES, D. R. Condutas atuais em queimaduras. São Paulo; Revinter , 2001.
HARTMANN, K. C.; ONOFRE, S. B.Atividade antimicrobiana de óleos essenciais da camomila
(Matricaria chamomillaL). Saúde e Pesquisa, v. 3. n. 3. 2010. Disponivel em:
<http://cesumar.br/pesquisa/periodicos/index.php/saudpesq/article/viewArticle/1294>. Acesso em:
10 de dez de 2012.
LUCENA, P. L. et al. Avaliação da ação da aroeira (Schinustere binthifolius Reddi) na cicatrização
de feridas cirúrgicas em bexigas de ratos. Acta Cirúrgica Brasileira, v. 21, (suplemento 2) 2006.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/acb/v21s2/32162.pdf>. Acesso em: 29 out. 2012.
MASSONE, F. Anestesiologia Veterinária: Farmacologia e técnicas. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2003.
MALDEBAUM, S. H.; SANTIS, E. P.; MALDEBAUM, M. H. S. Cicatrização: conceitos atuais e
recursos auxiliares. AnBrasDermatol., Rio de Janeiro, v. 78, n. 4, p.393-410, jul/agos. 2003.
Disponivel em: <http://www.scielo.br/pdf/abd/v78n4/16896.pdfAcesso em: 29 out. 2012.
MALHEIROS, F. B. M. et al., Efeito cicatrizante do extrato fluido da Chamomilla recutita (L.)
Rauchert em fórmulas magistrais semissólidas aplicadas em lesões cutâneas de ratos. ConScientiae
Saúde, v. 10, n.3, p. 425-432, 2011. Disponível em: <http://scholar.google.com.br/scholar?
hl=ptR&as_sdt=0&q=Efeito+cicatrizante+do+extrato+fluido+de+Chamomilla+recutita+(L.)+Rausc
hert+em+f%C3%B3rmulas+magistrais+semiss%C3%B3lidas+aplicadas+em+les%C3%B5es+cut%
C3%A2neas+de+ratos>. Acesso em: 31 nov. de 2012.
PEREIRA, N. P.; MIGUEL, O. G.; MIGUEL, M. D. Composição química do óleo fixo obtido dos
frutos secos da Chamomilla recutita (L.) produzida no município de Mandirituba, PR. Revista
Brasileira de Farmacognosia, v. 15, n. 4, p. 334-337, out/dez. 2005. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rbfar/v15n4/a13v15n4.pdf>. Acesso em: 15 nov. 2011.
SCHANAIDER,A.; SILVA,P.C. Uso de animais em cirurgia experimental. Cirúrgica Brasileira,
São Paulo, v. 19 , n.4 , p. 441 – 447, ago. 2004.
Página 60
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
SILVA, P. A.; SOUZA, L. B. G.; CORTEZ, E. R. Análise microbiológica de amostras secas de
camomila comercializadas na cidade de Maringá-PR. VI Encontro Internacional de Produção
Científica
Cesumar.
27
a
30
de
outubro
de
2009.
Disponível
em:
<http://www.cesumar.br/epcc2009/anais/priscila_aparecida_silva.pdf >. Acesso em: 10 out. 2011.
SERVIO, E. M. L. et al., Cicatrização de feridas com a utilização do extrato de Chenopudium
ambrosioides (mastruz) e cobertura secundária estéril de gaze em ratos. ConScientiae, v. 10, n. 3, p.
441-448.
Disponivel
em:
<http://scholar.google.com.br/scholar?q=related:wp_cZ8U8hwJ:scholar.google.com/&hl=pt-BR&as_sdt=0> Acesso em: 14 nov. 2012
VIEIRA. A. et al. R.; Efeito genotóxico da infusão de capítulos florais de camomila. Revista Trópica
– Ciências agrárias e biológicas, v. 3, n. 1 , p .8 , 2009. Disponível em:
<http://www.ccaa.ufma.br/revistatropica/ArtigosV3N1/EfeitoGenotoxico.pdf> Acesso em: 24 nov.
2011.
ZOPPA, A. L. V. et al., Obstrução nasal por granuloma fúngico em eqüino:relato de caso.
Arq.Bras.Med.Vet.Zootec, v. 60, n. 2, p. 315-321 , 2008. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/abmvz/v60n2/a06v60n2.pdf>. Acesso em: 10 out. 2011.
Página 61
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
EFEITO DE ÓLEOS ESSENCIAIS NA SÍNDROME DA ANGÚSTIA RESPIRATÓRIA EM
Rattus norvergicus
EFFECT OF ESSENTIAL OILS ON RESPIRATORY DISTRESS SYNDROME IN Rattus
norvegicus
Kátia Cronemberger Cruz¹,
Osifrankly Couto Machado²,
Antônio Luiz Maia Filho³,
Charllyton Luis Sena da Costa4
RESUMO
Os óleos essenciais são misturas complexas e de alta volatilidade encontrados em partes de produtos
vegetais. O cravo-da-índia (Syzygium aromaticum) possui ação anticarminativa, antiespasmódica,
analgésica e antimicrobiana. A erva doce (Foeniculum vulgare) apresenta atividades biológicas
anticarminativa, expectorante, anti-espasmódica, antiinflamatória e antiséptica. O alecrim
(Rosmarinus officinalis) apresenta propriedade cicatrizante, antimicrobiana e antiinflamatória. O
presente trabalho teve como objetivo estudar a ação antiinflamatória de óleos essenciais em modelo
experimental de inflamação pulmonar. Foram extraídos os óleos essenciais dos materiais vegetais
pelo método de destilação por arraste a vapor em aparato Clevenger resfriado em água de banho
circulador termostatizado. Foram utilizados trinta animais divididos em seis grupos. Cinco grupos
sofreram isquemia/reperfusão da artéria mesentérica superior, dos quais três grupos foram tratados
com os óleos essenciais por nebulização para óleos essenciais, o quarto grupo foi tratado com
dexametasona e o quinto não passou por tratamento e foi identificado como o grupo de controle
negativo. O sexto grupo não sofreu isquemia. Os pulmões foram removidos para análise histológica
tanto no modelo de inflamação sistêmica quanto alérgica para avaliar o efeito do óleo no pulmão e
lavado brônquio alveolar. Observou-se que o quadro inflamatório do controle negativo deu abaixo do
esperado em relação ao falso operado. O sistema de indução não funcionou, não sendo possível
avaliar os efeitos dos óleos como antiinflamatório. Novos estudos são necessários para verificar o
tempo correto de isquemia /reperfusão que resultaria numa boa resposta de lesão inflamatória, bem
como se os óleos essenciais utilizados no experimento produzem os efeitos antiinflamatórios
esperados.
Palavras-chave: Óleos essenciais. Isquemia. Reperfusão. Inflamação.
ABSTRACT
Essential oils are complex mixtures of high volatility found in parts of vegetable products. The clove
(Syzygium aromaticum) has anticarminative, antispasmodic, analgesic and antimicrobial action. The
fennel (Foeniculum vulgare) has biological anticarminative, expectorant, anti-spasmodic, antiinflammatory and antiseptic activities. Rosemary (Rosmarinus officinalis) has healing, antimicrobial
and anti-inflammatory properties. This work aimed to study the anti-inflammatory action of essential
oils in experimental model of lung inflammation. We extracted the essential oils from plant material
by the steam distillation method in a Clevenger-type apparatus
________________________
¹ Aluna do Curso de Farmácia e PIBIC da Faculdade Integral Diferencial – FACID/DeVry.
E-mail: [email protected]
² Aluno do Curso de Farmácia e PIBIC da Faculdade Integral Diferencial – FACID/DeVry.
E-mail: [email protected]
³ Professor do Curso de Farmácia da FACID/DeVry, Doutor em Engenharia Biomédica.
E-mail: [email protected]
4 Professor Doutor em Biotecnologia. E-mail: [email protected]
Página 62
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
cooled in a circulating thermostatic bath. We used thirty animals divided into six groups. Five groups
underwent ischemia / reperfusion of the superior mesenteric artery, three groups were treated with
essential oils by nebulizer for essential oils, the fourth group was treated with dexamethasone and the
fifth did not undergo any treatment, the negative control group. The sixth group did not show
ischemia. The lungs were removed for histological analysis both for the systemic and allergic
inflammation model to evaluate the effect of the oil in the lung and bronchial alveolar lavage. It was
observed that the inflammatory condition of the negative control was lower than expected one
regarding the false operated. The induction system did not work so, it was not possible to evaluate
the effects of the oils as anti-inflammatory. Further studies are needed to verify the correct time of
ischemia / reperfusion resulting in a good response from inflammatory lesions, as well as whether the
essential oils used in the experiment have the desired anti-inflammatory effects.
Keywords: Essential oils. Ischemia. Reperfusion. Inflammation
1 INTRODUÇÃO
A síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) representa a forma mais grave da lesão
pulmonar aguda, e se caracteriza pela relação PaO2/FiO2 igual ou inferior a 200 mmHg. Em essência,
os mecanismos subjacentes ao desencadeamento da SDRA estão circunscritos à lesão do epitélio
alveolar e do endotélio capilar. Os pulmões são particularmente vulneráveis a lesões inflamatórias,
porque os mediadores são liberados na circulação e os pulmões recebem a totalidade do débito
cardíaco. Como conseqüência, neutrófilos são atraídos, tornando-se ativados, liberando mediadores
inflamatórios, que lesam diretamente o epitélio alveolar e o endotélio vascular propagando o processo
inflamatório. Admite-se que esta síndrome seja o principal componente da falência múltipla dos
órgãos e sistemas, observada em situações como, sepsis, choque hemorrágico, pancreatite aguda,
trauma e na I/R-intestinal.
Óleos essenciais são produtos metabólicos voláteis presentes em diversos órgãos vegetais. No
vegetal, estão associados a diversas funções necessárias à sobrevivência do mesmo, exercendo papel
fundamental na defesa contra microrganismos e na atração de polinizadores (LIMA et al., 2006;
CARDOSO et al., 2010). Tem sido estabelecido cientificamente que cerca de 60% dos óleos
essenciais possuem propriedades antifúngicas e 35% exibem propriedades antibacterianas e muitos
possuem atividade anti-inflamatória (LIMA et al., 2006; OLIVEIRA et al., 2009). Devido à natureza
inflamatória da síndrome do desconforto respiratório agudo e considerando-se as propriedades
biológicas dos óleos essenciais, tornou-se válido avaliar a atividade destes produtos naturais sobre o
modelo experimental de SDRA.
O cravo-da-índia (Syzygium aromaticum) é uma árvore de grande porte, podendo atingir de 12
a 15 m de altura e o seu ciclo vegetativo alcança mais de cem anos. É uma planta cultivada em regiões
tropicais do planeta e entre os principais fornecedores mundiais encontram-se Tanzânia, Indonésia,
Sri-Lanka e Malásia. No Brasil apenas a Bahia apresenta produção comercial. O óleo de cravo-daíndia é utilizado como aromatizante e possui ação anticarminativa, antiespasmódica, analgésica e
antimicrobiana (MIYAZAWA; HIZAMA, 2003; OLIVEIRA et al., 2009).
A planta conhecida como funcho, maratro, finoquio, anís ou erva doce é a Foeniculum vulgare;
pertence à Família Apiaceae e é nativa e da região do Mar Mediterrâneo. Possui grande emprego nas
indústrias de alimentos, cosméticos e perfumaria. O fruto desidratado apresenta atividades biológicas
carminativa, expectorante, anti-espasmódica, anti-inflamatória e antiséptica (SOUZA, 2008;
TINOCO et al., 2007).
O Alecrim (Rosmarinus officinalis), tem registro em análises fitoquímicas, com presença de
óleo essencial constituído de uma mistura de componentes voláteis que é responsável pelo seu odor
típico, dentro os quais os principais são cineol, alfa-pineno e cânfora e, entre os compostos não
Página 63
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
voláteis, o ácido caféico, disterpenos amargos, flavonóides e triterpenóides, com ações antiinflamatória e antibacteriana (LORENZI; MATOS, 2002).
Então adveio a hipótese de que os óleos essenciais que apresentam ação farmacológica antiinflamatória podem tratar a SDRA por nebulização. Dessa forma a pesquisa teve como objetivo geral
estudar a ação anti-inflamatória dos óleos essenciais de três plantas em modelo experimental de
inflamação pulmonar aguda. E como objetivos específicos extrair óleos essenciais do cravo-da-índia,
erva doce e alecrim; estabelecer sistema eficiente de nebulização para os óleos essenciais; e avaliar o
efeito do óleo por meio de histopatologia do pulmão e lavado brônquico alveolar.
2 MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizados como material vegetal, botões florais desidratados do cravo da índia, os frutos
desidratados da erva doce e folhas e galhos frescos recém colhidos de alecrim. A extração do óleo
essencial foi realizada no Laboratório de Química da Faculdade Integral Diferencial (FACID),
utilizando-se o sistema Clevenger modificado, cuja técnica foi a hidrodestilação por arraste a vapor.
Cada espécie vegetal foi depositada em um balão de fundo redondo com água destilada. O balão foi
aquecido por meio de uma manta aquecedora. À medida que a mistura ia entrando em ebulição, os
vapores de água e os voláteis eram conduzidos em direção ao condensador que, por sua vez, estava
conectado ao um sistema de resfriamento, que ao resfriar, ia se acumulando no tubo, o óleo e água.
O material era recolhido continuamente até a completa extração. Ao óleo volátil recolhido foi
adicionado o sulfato de sódio anidro, para absorver qualquer resíduo de água presente. O óleo extraído
foi armazenado em frascos de vidro e levado à refrigeração para ser utilizado posteriormente no
tratamento da SDRA.
No experimento foram utilizados trinta animais divididos em seis grupos. O primeiro grupo, o
falso operado, sofreu uma incisão no abdômen, porém não foi induzido isquemia. O segundo grupo
sofreu isquemia por quarenta e cinco minutos, depois reperfundido, mas não foi induzido qualquer
tratamento, sendo então designado como controle negativo. Os três grupos seguintes sofreram
isquemia e reperfusão e em seguida passaram por tratamento com os óleos essenciais em solução
fisiológica com o auxílio de um inalador/nebulizador uma hora após isquemia. O último grupo sofreu
isquemia e reperfusão e foi tratado com o anti-inflamatório dexametasona.
Para avaliar a reatividade brônquica e averiguar os parâmetros de inflamação pulmonar, os
pulmões esquerdos dos animais foram removidos para análise histológica. As lâminas obtidas foram
analisadas quantitativamente no que diz respeito ao infiltrado de células inflamatórias. A fim de
corroborar os resultados obtidos na análise histológica, foi realizado punção venosa para contagem
de leucócitos no processo inflamatório.
Por se tratar de experimento com o uso de animais, a pesquisa necessitou de aprovação prévia
junto à Comissão de Ética (no uso de animal (CEUA) da Facid).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após análise histológica de lesões inflamatórias pulmonar e análise hemográfica de contagem
leucocitária, os resultados encontram-se sumarizados nos Gráficos 1 e 2.
Página 64
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Gráfico 1- Análise histológica dos pulmões dos seis grupos analisados, quanto ao grau de
inflamação, com ou sem tratamento com óleos essenciais
Gráfico 2- Análise hemográfica quanto à contagem de leucócitos
Na análise histológica e hematográfica observou-se que o quadro inflamatório do controle
negativo deu abaixo do esperado em relação ao falso operado. A justificativa para esta diferença pode
estar relacionada à isquemia e reperfusão, que podem não ter ocorrido no tempo adequado. Contudo,
segundo Scarabelli et al (2002) qualquer redução ou obstrução do fluxo sanguíneo já deveria causar
alterações do metabolismo e consequente lesão pulmonar, tendo como sua forma mais grave a
síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) (UCHIDA et al, 2008).
Como o quadro inflamatório não ocorreu da forma que se esperava, não foi possível avaliar a
atividade anti-inflamatória dos óleos essenciais no modelo proposto.
4 CONCLUSÃO
O sistema de indução não funcionou, não sendo possível avaliar os efeitos dos óleos essenciais
como anti-inflamatório. Portanto, novos estudos são necessários para verificar o tempo correto de
isquemia e reperfusão, que resultaria numa boa resposta de lesão inflamatória, bem como se os óleos
essenciais utilizados no experimento produzem os efeitos anti-inflamatórios esperados.
Página 65
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
REFERÊNCIAS
CARDOSO, M. G. et al. Plantas aromáticas e condimentares: óleos essenciais. Editora da
Universidade
Federal
de
Lavras.
Disponível
em:
<http://www.editora.ufla.br/BolExtensao/pdfBE/bol_62.pdf>. Acesso: 09/09/2010.
LIMA, I. O. et al.Atividade antifúngica de óleos essenciais sobre espécies de Candida. Revista
Brasileira de Farmacognosia, abr/jun, 2006.
LORENZI, H.; MATOS, F. J. A. Plantas medicinais no Brasil – nativas e exóticas. São Paulo: Nova
Odessa, 2002.
MIYAZAWA, M.; HIZAMA, M. Antimutagenic Activity of Phenylpropanoids from Clove
(Syzigium aromaticum). Journal of Agricultural and Food Chemistry, 2003.
OLIVEIRA, R. A. et al. Constituintes químicos voláteis de especiarias ricas em eugenol. Revista
Brasileira de Farmacognosia, jul/set, 2009.
SOUZA, M. P. Marcas, patentes e propriedade industrial. Erva doce, Cadernos de Prospecção, v.1,
n.1, p. 28-29, 2008.
TINOCO, M. T. et al. Actividade antimicrobiana do óleo essencial do Foeniculum vulgare Miller.
Revista de Ciências Agrárias, 2007.
Página 66
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
EFETIVIDADE DA TERAPIA POR ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA EM PACIENTES COM
DOR LOMBAR: REVISÃO SISTEMÁTICA
EFFECTIVENESS OF ELECTRICAL STIMULATION THERAPY IN PATIENTS WITH
LOW BACK PAIN: A SYSTEMATIC REVIEW
Clícia Alves da Silva e Silva1
Silvia Francisca Oliveira Freire2
Jean Douglas Moura dos Santos 3
Saulo Araujo de Carvalho4
RESUMO
A TENS e a corrente interferencial são os recursos elétricos mais utilizados no alívio da dor lombar,
que é considerada um problema que mais acomete a população no mundo atualmente. O objetivo
desse estudo foi avaliar estudos publicados sobre a efetividade da terapia por estimulação elétrica em
pacientes com dor lombar. Uma busca sistematizada foi realizada nas bases de dados PubMed,
LILACS, SCIELO e PEDro, nos meses de outubro e novembro de 2014, reunindo ensaios clínicos
randomizados, publicados entre 2005 a 2013, que documentassem os efeitos da terapia por
estimulação elétrica na dor lombar. Todos os estudos tiveram suas qualidades metodológicas
avaliadas pela escala de PEDro e somente os estudos com notas acima de cinco, foram revisados.
Foram analisados oito estudos que, juntos, incluiram 943 participantes. Foi possível identificar os
efeitos positivos na redução da dor, do consumo de analgésicos e melhora da qualidade de vida dos
participantes, porém tais resultados não apresentaram diferença estatística significativa entre os
grupos TENS e corrente interferencial no alívio da dor lombar. A comparação com alguns estudos
expôs que a terapia por estimulação elétrica em curto prazo tem efeitos positivos, porem há evidências
limitadas de sua eficácia a longo prazo. Mesmo com a boa qualidade metodológica dos artigos, não
foi possível provar que a TENS é superior a corrente interferencial no tratamento da dor lombar e
virse-versa. Dessa forma, verifica-se a necessidade de novos ensaios clínicos randomizados
controlados, a fim de elucidar os reais efeitos desses recursos no tratamento da dor lombar a curto e
longo prazo.
Palavras-chave: Dor lombar. Terapia por estimulação elétrica. Eletroterapia. Ensaio clínico.
ABSTRACT
TENS and interferential current are electric resources more used to relieve back pain which a problem
that most affects the world today is considered. Objective: to evaluate the effectiveness of electrical
stimulation therapy in patients with low back pain. A systematic search was performed in the
databases PubMed, LILACS, SCIELO and PEDro in October to November 2014, bringing together
randomized controlled trials published between 2005 to 2013, documenting the effects of electrical
stimulation therapy in low back pain. All studies had methodological quality evaluated by the PEDro
scale and only studies with more than five notes were reviewed. We analyzed eight studies comprising
943 participants. We observed positive effects in reducing pain, analgesic consumption and improves
_________________________
1Aluna do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina–PI, Email: [email protected]
2Aluna do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina–PI, Email: [email protected]
3 Professor do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina – PI, Email: [email protected]
4 Professor do curso de Fisioterapia do Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina – PI, Email: [email protected]
Página 67
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
the quality of life of the participants, but the results showed no significant statistical difference
between the groups TENS and interferential current to relieve back pain. The comparison with some
studies states that electrical stimulation therapy in the short term has positive effects, however there
is still limited evidence of their long-term effectiveness. Despite good methodological quality of the
articles, it was not possible to prove that TENS is superior interferential current in the treatment of
low back pain and virse-versa. Thus, there is a need for new randomized controlled trials, in order to
elucidate the actual effect of these features the treatment of short and long term back pain.
Keywords: Low back pain. Electric stimulation therapy. Electrotherapy. Clinical trial.
1 INTRODUÇÃO
A dor é caracterizada como um fenômeno perceptivo complexo, com componentes sensitivos,
emocionais e cognitivos. A Associação Internacional para o Estudo da Dor, a caracteriza como uma
experiência desagradável, emocional e sensorial, ligada ou não a um dano orgânico (GOMES, et al.,
2014). A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que 85% da população sofrem ou vão sofrer
deste incômodo.
As causas da dor lombar podem decorrer de doenças degenerativas, inflamatórias, hipotonia
muscular, alterações congênitas, predisposição reumática, neoplasias, degeneração dos discos
intervertebrais que são responsáveis pela mobilidade da coluna, os quais tendem a se desintegrar
conforme a idade, o que diminui a capacidade de absorção de impacto, dentre outras. A dor lombar é
o problema que mais acomete população no mundo atualmente, e pode ser influenciada por fatores
constitucionais, posturais, individuais, dentre as causas tem-se a altura, o ganho exagerado de peso,
a postura incorreta, o déficit de força dos músculos abdominais e espinhais e a falta de
condicionamento físico e, por fim, os ocupacionais onde pode-se destacar as sobrecargas na coluna
lombar, geradas pelo levantamento de peso excessivo, deslocamento de objetos pesados, permanência
numa determinada posição e submetimento a estímulos vibratórios por longos períodos de tempo
(STEFANE et al., 2013; ZAVARIZE; WECHSLER, 2012; BARROS et al. 2011).
Segundo Zavarize et al., (2014) nos dias atuais, aproximadamente cerca de 60 a 80% da
população são acometidas pelo quadro de dor lombar durante a vida. A prevalência elevada desses
casos dá-se em função de novos hábitos de vida, maior expectativa de vida e das atividades de vida
diária. Na Suíça, a prevalência da dor lombar crônica foi avaliada em 20 a 29% nos homens e entre
31 a 39% nas mulheres; já no Reino Unido foi de 59% entre sua população com predomínio de faixa
etária entre 45 a 49 anos. Nos Estados Unidos, é caracterizada como a segunda causa mais frequente
de consultas médicas e a quinta causa de internação hospitalar. E cerca de 10 milhões de brasileiros
ficaram incapacitados por causa desta morbidade. Observou-se ainda que mais de 26 milhões de
pessoas entre 20 a 64 anos de idade, sofrem com frequência de dores na coluna lombar, sendo a
responsável por 3 a 6% da incapacidade ao trabalho anual.
Utiliza-se atualmente as correntes elétricas como recurso terapêutico para promover o controle
da dor lombar, seja ela aguda ou crônica. Além de ser um tratamento não invasivo, tem ainda a
vantagem de reduzir a necessidade de administração de fármacos, promovendo, desse modo, o bemestar do paciente e a redução de custos com o tratamento, propiciando analgesia por meio da melhora
da circulação local e exercendo, por efeito contrairritativo, a ativação do sistema supressor de dor. As
correntes que habitualmente são utilizadas na prática clínica para analgesia são a TENS e a corrente
interferencial (GOMES et al., 2014; KESKIN et al., 2012).
A estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) é uma corrente com propriedades
analgésicas. Os impulsos elétricos produzidos por ela estimulam as fibras mecanorreceptoras e
reduzem a percepção dolorosa, que por sua vez produz impulsos elétricos de várias frequências, sendo
eficaz no tratamento de desordens musculoesqueléticas, por influenciar e modular processos de
neurocondução da dor (SCHULZ et al., 2011).
Página 68
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
A Corrente interferencial é uma corrente de média frequência (4.000 Hz) e tem como princípio
terapêutico a produção de duas correntes de média frequência, com intensidades levemente diferentes,
que interferem uma com a outra, dando origem a uma nova corrente, com amplitude resultante da
soma de duas amplitudes de correntes individuais. Pressupõe-se que a corrente interferencial
apresenta os efeitos de redução da intensidade da dor por aumento significativo do limiar de dor,
produzindo um bloqueio periférico da atividade nas fibras nervosas portadoras de impulsos nocivos.
Na pratica clinica, a escolha da frequência a ser utilizada dependerá da natureza, estágio, gravidade e
do local do problema (PEREIRA et al. 2011; PIVETTA; BERTOLINI, 2012)
Diante do exposto, a presente revisão sistemática teve por objetivo avaliar estudos sobre a
efetividade da terapia por estimulação elétrica em pacientes com dor lombar.
2 MATERIAL E MÉTODOS
Identificação
Realizou-se uma busca sistemática de artigos publicados entre os anos de 2005 a 2013, nas
bases de dados PubMed, LILACS, SCIELO e PEDro. A busca foi realizada nos meses de outubro e
novembro de 2014, utilizando-se as seguintes palavras-chaves em inglês: ‘Low Back Pain’,
‘Intervertebral Disc Displacement’, ‘Pain’, ‘Electric Stimulation Therapy’, ‘Electric Stimulation’,
‘Therapeutics’, ‘eletrotherapies’, ‘Lumbar spien’, ‘sacro-iliac’, ‘joit or pelvis’. Também realizou-se
uma busca em língua portuguesa. As palavras-chave foram combinadas utilizando-se os operadores
booleanos OR e AND, sem restrição linguística.
A seleção dos artigos teve sua qualidade metodológica avaliada por dois revisores
independentes, e as discordâncias foram discutidas com um terceiro revisor. Os títulos e os resumos
dos artigos identificados pela busca, foram avaliados segundo os critérios de elegibilidade acima
cita¬dos, e aqueles que geraram dúvidas, foram analisados com o texto na íntegra. Os selecionados
para inclusão tiveram sua qualidade metodológica avaliada por: randomização, sigilo de alocação,
mascaramento e análise por intenção de tratar. Foram con-siderados os seguintes critérios: adequado,
inadequado, não realizado e não referido. Os artigos considerados relevantes para o estudo, segundos
os critérios de inclusão e exclusão, foram adquiridos em sua versão completa para análise mais
criteriosa (Figura 1).
Figura 1 - Busca e seleção dos estudos para a revisão sistemática
Estudos potencialmente relevantes identificados por meio da busca
eletrônica nas bases de dados com um total de 1021 sendo:
PubMed/MEDLINE (n=895), LILACS (n=97), SCIELO (n=15) e PEDro (14)
*Duplicados = 24
Incluídos
Elegibilidade
Triagem
Estudos removidos (n= 980)
Estudos selecionados para uma
avaliação mais criteriosa (n=41)
Artigos de textos completos avaliados
para elegibilidade (n=14)
*Fuga ao tema = 918
*Desenhos
inapropriados de
inapropriados = 36
Estudos excluídos
pelo resumo (n=27)
Textos completos
excluídos (n=7) - por
não preencher os
critérios de inclusão.
Estudos incluídos na síntese da
revisão sistemática (n=7)
Página 69
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Para então fazerem parte da presente revisão sistemática, os estudos identificados pela
estratégia de busca deveriam apresentar os seguintes critérios de inclusão, con¬sistir em ensaios
clínicos randomizados que utilizassem terapia por estimulação elétrica tais como estimulação elétrica
transcutânea (TENS) e/ou corrente interferencial como forma de analgesia para pacientes com dor
lombar, sempre realizando uma comparação com grupo da estimulação elétrica e um grupo placebo,
ou a comparação entre a TENS e a corrente interferencial. Foram excluídos estudos que comparavam
a terapia por estimulação elétrica com métodos farmacológicos de analgesia, ou a correntes como
ultrassom, e aqueles es¬tudos em que os eletrodos não estavam localizados na coluna toracolombar
e/ou sacral.
Os estudos selecionados para a revisão sistemática foram submetidos à avaliação da qualidade
metodológica de acordo com a escala PEDro, utilizada para identificar estudos clínicos com boa
validade interna e com informações estatísticas suficientes para que os resultados desses estudos
sejam interpretáveis. Sendo dividida em 11 itens, abordado à exceção do item 1, que ao contrário dos
outros itens da escala, refere-se à validade externa, por isso a contagem total da escala de 0 a 10
pontos (SHIWA et al., 2011).
Considerou-se, como desfecho primário, o alívio da dor lombar em pacientes que utilizavam
como método de tratamento a terapia por correntes elétricas; como desfechos secundários, o uso de
analgesia complementar, a satisfação do paciente após as intervenções e as possíveis repercussões da
dor na qualidade de vida dos pacientes.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
De 1.021 artigos inicialmente identificados por meio das bases de dados pesquisadas, 41 foram
retirados para uma avaliação criteriosa, sendo 27 deles excluídos pela análise de resumos. Desses, 14
textos foram considerados potencialmente relevantes e avaliados com o texto na integra, porém, 7
estudos foram excluídos por não relatarem os desfechos de interesse, não preen¬chendo assim os
critérios de inclusão. Foram incluídos então um total de 7 estudos de diferentes países sendo todos
randomizados controlados.
A escala PEDro avalia os níveis de evidência dos artigos de forma qualitativa e é muito utilizada
em revisões sistemáticas para sintetizar a efetividade das intervenções. A qualidade metodológica dos
artigos, avaliada por essa escala, mostrou-se no presente estudo com uma variação entre 4 e 9, sendo
que a pontuação máxima é de 10 pontos. Os dados sobre a escala está disponível no endereço
eletrônico da base de dados.
Os estudos selecionados investigaram 880 participantes: 332 recebendo terapia por estimulação
elétrica nervosa transcutânea (TENS); 210 recebendo corrente interferencial (CI); e 338 não
recebendo nenhum tipo de terapia por corrente elétrica ou recebendo um tratamento placebo.
Os estudos de Buchmuller et al. (2012), Warke et al. (2006) e Bertalanffy et al. (2005),
utilizaram a TENS e placebo. O estudo de Facci et al. (2011) utilizou a TENS comparada a corrente
interferencial e o placebo. Palomo et al. (2012), Correa et al. (2013) e Zambito et al. (2006), utilizaram
a corrente interferencial e o placebo. No entanto, no estudo de Zambito et al. (2006) não foram dadas
informações quanto aos parâmetros.
Apenas três estudos (BUCHMULLER et al. 2012, BERTALANFFY et al. 2005, PALOMO et
al.2012) relataram as orientações dadas às pacientes do grupo placebo. No estudo de Palomo et al.,
(2012) os participantes foram informados que poderiam ou não sentir alguma sensação na área dos
eletrodos, porém não sentiriam dor; essa informação foi dada de forma verbal e escrita.
Buchmuller et al., (2012) e Bertalanffy et al., (2005) orientaram aos pacientes através de
folhetos, que o aparelho iria transferir energia elétrica para as costas e que poderiam ou não sentir
sensações de formigamento na pele, porém que não aconteceriam em todos os casos e que não haveria
correlação entre formigamento e a eficácia da TENS. Os outros estudos, Corrêa et al. (2013), Facci
et al. (2011) e Zambito et al. (2006), não especificaram quais informações foram fornecidas aos
participantes, quanto ao grupo sem terapia por estimulação elétrica ou ao grupo placebo.
Página 70
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Quanto a outros aspectos da qualidade metodológica, em todos os artigos houve mascaramento
e o sigilo de alocação o qual foi realizado/adequado (Tabela 1). As características basais dos
participantes foram semelhan¬tes nos estudos incluídos, ou seja, o estudo foi composto por pacientes
com dor na região lombar, bem como os detalhes metodo-lógicos e a localização dos eletrodos.
Entretanto, os estudos utilizaram parâmetros diferentes de TENS e corrente interferencial (Tabela 1).
Na tabela 2 foi demonstrado os métodos aplicados para mensurar o alívio da dor e resultados.
Tabela 1 - Características dos estudos incluídos
Autor, Ano
(País)
Corrêa et
al. 2013
(BRASIL)
Escore
PEDro
5
Mascaramento
Adequado
(duplo- cego)
Sigilo de
Alocação
Realizado
Amostra
Intervenção
Total:
150
participantes
*G1: Intensidade: 1 kHz
AMF: 100 Hz
Varrer: 50 Hz
1:1 padrão de balanço
*G2: Intensidade 4 kHz
AMF: 100 Hz
Varrer: 50 Hz
*G3: Placebo
G1: CI (n=50)
G 2: CI (n= 50)
Placebo: (n=50)
Buchmuller
et al. 2012
(França)
9
Adequado
(duplo-cego)
Realizado
/Adequad
o
Total:
pacientes.
236
GT: 117 (TENS
ativa);
GC: 119 (TENS
sham).
Palomo et
al. 2012
(Espanha)
Facci et al.
2011
(Brasil)
Warke et al.
2006
6
7
6
Adequado
(Duplo- cego)
Adequado
(single-cego)
Adequado
(simples-cego)
Realizado
Realizado
/
Adequad
o
Realizado
/adequad
o
Total:
62
participantes.
GT:
31
participantes (CI)
GP:
31
participantes.
Total:
150
participantes.
G1:
50
participantes
(TENS);
G2:
50
participantes (CI)
G3:
50
participantes
(controle)
Total:
90
participantes.
G1:
30
participantes
(TENS de baixa
frequência)
Duração
total
4 semanas
(30 minutos
cada
intervenção)
*GT: TENS convencional:
Estimulação contínua em
altas frequências:
Intensidade: 30 mA;
Frequência: 80-100 Hz;
Duração da onda: 50-100
ms;
*GC: TENS sham
Intensidade: 25 mA;
Frequência: 1-4 Hz;
Duração da onda: 100-400
ms;
*G1: Intensidade: 30 até 50
mA;
Freqüência: 4000 Hz;
Amplitude: 80 Hz;
*GP: não refere.
3 meses
(60 minutos
de
intervenção)
*G1: TENS
Intensidade: Não refere
Frequência: 20 Hz
Largura de pulso: 330 ms
com dois canais.
*G2: CI
Intensidade: Não refere
Frequência de base: 4000
Hz;
Faixa de frequência de
modulação: 20 Hz, Δ F de
10 Hz
Inclinação: 1/1 modo
quadripolar.
*G1:
Intensidade: Não
refere;
Frequência: 4 Hz;
Largura de pulso: 200 ms.
*G2: Intensidade: não
refere;
Frequência: 110 Hz;
10
intervenções
(30 minutos)
9 semanas
(30 minutos)
6 semanas
(45 minutos)
Página 71
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
7
Zambito, et
al. 2006
(Itália)
Adequado
(Simples cego)
Realizado
/Adequad
o
G2:
30
participantes
(TENS de alta
frequência)
G3:
TENS
placebo.
Total:
120
participantes.
GT:
participantes
(CI);
GC:
participantes
(TH).
Bertalanffy
et al. 2005
(Áustria)
8
Adequado
(duplo-cego)
Realizado
/Adequad
o
60
60
Total:
72
participantes.
GT:
36
participantes
(TENS
verdadeiro).
GP:
36
participantes
(TENS sham).
Largura de pulso: 200 ms.
*G3: placebo.
*GT:
Corrente
Interferencial.
Intensidade: não refere;
Frequência: modulada de
200 Hz;
Largura de pulso: não
refere;
Duração: 10 min.
*GC: Terapia horizontal
(HT)
3 almofadas cutâneas
electrodal (8 x 13 cm).
Intensidade: não refere;
Frequência: oscilação de
estimulação a 100 Hz entre
4400 e 12300 Hz nos
primeiros 20 min.
Frequência fixa: 4400 Hz.
Largura de pulso: não
refere;
*GT: TENS verdadeiro
Intensidade: 15 Ma.
Freqüência: 0,5-120 Hz,
Largura de pulso: 60-300
ms.
Entrada de energia: 15 mA;
GP: TENS sham
Intensidade: 2 mA.
Frequência: 100 Hz
Largura de pulso: 200 ms
2 semanas
Durante o
transporte de
emergência
até chegar ao
hospital
(30 minutos)
No estudo de Buchmuller et al. (2012) os próprios participantes controlavam o aparelho, porém
os artigos de Corrêa et al. (2013), Palomo et al. (2012) Facci et al. (2011) e Bertalanffy et al. (2005)
relataram que o aparelho era controlado por um ajudante, que não participava do estudo, mas estava
auxiliando na pesquisa. Já o estudo de Zambito et al. (2006) não mostrou clareza quanto a esse
procedimento.
Quanto aos instrumentos utilizados para avaliar a dor e qualidade de vida dos participantes,
observou-se homogeneidade dos questionários nos artigos selecionados (Tabela 2). Contudo no artigo
de Bertalanffy et al. (2005) não foi realizado a avaliação da qualidade de vida dos participantes.
Página 72
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Tabela 2 - Tempo de início da estimulação por terapia por corrente elétrica, mensuração da
dor nos estudos incluídos
Autor
Instrumentos de avaliação
de
Corrêa el al. *Questionário
incapacidade de Roland
2013
Morris (RMDQ).
(Brasil)
*Escala analógica visual
(VAS).
Buchmuller et *Questionário de Roland
Morris (RMDQ).
al. 2012
*Escala analógica visual
(França)
(VAS).
Palomo
et *Escala analógica visual
(VAS).
al.2012
*Questionário de Roland
(Espanha)
Morris (RMDQ).
*Índice de incapacidade
Oswestry.
Facci et al., *Escala visual analógica
(VAS).
2011
*Questionário McGill de dor.
(Brasil)
*Questionário de RolandMorris (RMDQ).
*Escala Visual Analógica
Warke et al.
(VAS).
2006
de
Dor
(Irlanda
do *Questionário
McGill.
Norte)
*Questionário Roland Morris
(RMDQ).
*Índice
de
Mobilidade
Rivermead.
*Multiple
Sclerosis
Qualidade de Vida-54.
Zambito et al., *Questionário de Backill.
*Questionário de McGill,
2006
*Escala analógica visual
(Itália)
(VAS).
Bertalanffy
al., 2005
(Áustria)
et *Escala visual analógica
(EVA)
Resultados
O presente estudo, mostrou que quanto ao G1: 1
kHz e 4kHz não tiveram diferenças estatisticas,
apenas o grupo placebo mostrou-se inferior.
O grupo Tens ativo mostrou-se superior ao Tens
sham. Porém entre os grupos não houve
diferença no limiar de significância.
O desfecho do grupo da corrente interferencial
demonstrou superioridade em relação ao grupo
placebo.
Houve uma diferença entre primeira sessão de
grupo 1, em comparação com o grupo 2. Porém
o estudo tornou-se homogéneo entre os grupos a
partir da segunda sessão.
Os resultados indicaram um efeito interativo
estatisticamente significativo entre os grupos. O
grupo TENS de alta freqüência apresentou a
maior redução nos escores de dor a curto prazo,
ja a TENS de baixa frequencia apresentou um
melhor resultado a longo prazo.
A IFT e terapia HT não apresentam diferença
significativa na eficácia para o alivio da dor e
incapacidade em pacientes com dor lombar
crônica, já o efeito do placebo mostra-se notável
no início do tratamento, porem tende a
desaparecer mais rapidamente.
Houve uma representação vantajosa do G1 em
relação ao G2.
A duração da analgesia foi questionada no decorrer dos estudos selecionados. Facci et al. (2011)
comparou o efeito da corrente interferencial, TENS e placebo, tendo esse estudo apresentadi bons
resultados nos grupos experimentais em relação ao controle, porém em relação ao grupo de
tratamento, não houve diferença estatisticamente significativas.
Nos estudos com TENS e placebo, os resultados foram heterogêneos, pois Bertalanffy et al.
(2005), e Warke et al. (2006), apresentaram bons resultados em sua pesquisa, considerados
estatisticamente significativos. Já no artigo de Buchmuller et al. (2012), a diferença entre os grupos
não atingiram um limiar de significância estatística.
Página 73
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Nos estudos que utilizaram a corrente interferencial e o placebo, como Zambito et al. (2006), a
diferença em relação ao grupo controle mostrou-se significantemente eficaz apenas durante o período
pós-tratamento para aliviar a dor e incapacidade em pacientes com dor lombar crônica. Palomo et al.
(2012), em sua pesquisa alcançou uma melhora significativamente maior na incapacidade, dor e
qualidade de vida, em comparação com o grupo controle.
Em três estudos houve questionamento sobre a necessidade da utilização de analgesia adicional.
Facci et al. (2011), em seu estudo observou que cerca de 84% dos participantes do grupo 1, e 75% no
grupo 2, e 34% no grupo 3, pararam de usar medicamentos após o tratamento, apresentando reduções
no consumo de drogas não esteroides, anti-inflamatórios não esteroides e analgésicos. Warke et al.
(2006), relatou que houve uma quantidade limitada de dados qualitativos em relação a ingestão de
analgésicos e percepções gerais de dor e capacidade funcional. Zambito et al. (2006), mencionou que
o uso de medicamentos analgésicos teve uma redução em seu consumo de forma significativa, com
cerca de 57,8% em relação ao grupo controle. Já Buchmuller et al. (2012), relatou que mais de 50%
dos pacientes não modificaram seu uso de medicamentos ao final do período da pesquisa,
independente da sua designação para o grupo TENS ativa ou simulada.
Quanto a avaliação da dor e qualidade de vida nos pacientes com dor lombar, no artigo de
Zambito et al. (2006), durante a avaliação pré-tratamento, foi observado nos questionários de EVA.
A pontuação Backill revelou que a qualidade de vida desta população foi severamente deteriorada,
contudo já na segunda semana de intervenção, verificou-se uma melhora significativa e semelhante
em ambos os instrumentos de avaliação, EVA e pontuação Backill , observada em todos os três
grupos.
No estudo de Warke et al. (2006) todos os três grupos relataram uma diminuição percebida na
rigidez e uma melhora na função, equilíbrio e mobilidade dos pacientes. A escala analogica de dor
(EVA) mostrou uma redução nos níveis de dor e espasmo relatados durante a fase de tratamento do
julgamento, apresentando uma diminuição dos piores índices de lombalgia, sendo de 52% no grupo
TENS de alta frequência, onde os pacientes deste grupo apresentaram uma diminuição clinicamente
importante em comparação com EVA de 50% dos pacientes no de baixa frequência e grupos tratados
com placebo. Contudo, na semana 32, o grupo TENS de baixa frequência apresentou a maior redução
na pontuação de EVA, onde em cada grupo, neste ponto, apresentou 17% de alta frequência TENS e
48% TENS de baixa frequência.
No estudo de Facci et al. (2011), houve uma redução média na escala analógica visual no grupo
que utilizou a corrente interferencial (grupo 2) em relação a TENS (grupo 1) e o grupo controle (grupo
3). No questionário de Roland Morris, o grupo 1 teve redução média de 6,59%, o grupo 2 de 7,20%
e o grupo 3 de 0,70%. Mostrando assim melhoria em todos, porém sendo significativa nos grupos 1
e 2, com maior evidencia no grupo 2. No estudo de Bertalanffy et al. (2005), o grupo experimental
registrou um aumento significativo na redução da ansiedade durante o transporte em relação ao grupo
controle.
No estudo de Buchmuller et al. (2012) foi observada uma redução do estado funcional em seis
semanas, apresentando uma pontuação média no questionário (RMDQ) de 12 no grupo TENS ativa
e 13 no grupo placebo. A melhora foi alcançada por 29,9% dos pacientes no grupo de TENS ativa e
24,3% no grupo TENS sham.
No artigo de Warke et al. (2006), foi questionado sobre a satisfação com o tratamento recebido,
onde a maioria dos participantes, 69% considerou que as TENS tinha ajudado na redução da dor
lombar durante o julgamento e 80,8% afirmaram que consideram o uso de TENS novamente.
No presente estudo, apenas o artigo de Facci et al., (2011) realizou análise por intenção de
tratar. Esta estratégia compara pacientes no grupo no qual foram originalmente randomizados,
independente de sua permanência ou saída do estudo. Este feito torna-se adequado quando existem
dados de resultados completos em relação a todos os participantes randomizados. Esses autores
analisaram o efeito da estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) e da corrente interferencial
(IC) em 150 pacientes com dor lombar por 10 atendimentos; observaram efeitos positivos em ambos
os grupos, onde o grupo TENS atingiu uma média de 39,18 mm, a corrente interferencial de 44,86
Página 74
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
mm e o placebo de 8,53 mm, demonstrando assim um resultado mais evidente no grupo tratado com
CI em relação aos outros. Contudo, após uma análise estatística verificou-se que não houve diferença
significativa dos resultados entre os grupos de tratamento. Os dados mostram que a CI apresentou
bons resultados, porem com evidência limitada de que seja mais eficaz que a TENS em reduzir dor e
incapacidade nos participantes do estudo.
Tais dados não coincidem com o proposto por Solano et al. (2006), em seu estudo que realizou
a comparação da TENS contra CI, em 30 pacientes com lombalgia por um periodo de 3 semanas;
após a avaliação, observaram que a magnitude dos efeitos do tratamento para TENS foi de 18,4%, e
31,5% para o IC; ambos demonstraram ser eficazes no tratamento da dor lombar, evidenciado maiores
resultados para o grupo que utilizou a terapia por corrente interferencial. Ao contraio do exposto pelo
estudo supra citado, o presente trabalho elucidou uma diferença estatisticamente significativa com
uma média na redução da dor entre os dois grupos de 0,94 cm com maior evidência nos efeitos da
corrente interferencial em relação a TENS.
Warke et al. (2006) sugeriram que a TENS teve efeito positivo em todos os grupos de
intervenção, porem no grupo de alta freqüência a redução foi mais eficaz para o alívio da dor a curto
prazo, onde 52% dos pacientes deste grupo apresentaram uma diminuição clinicamente importante.
A longo prazo, 48% do grupo de TENS de baixa freqüência demostraram um efeito hipoalgésico mais
sustentado, assim como melhorias na função também foram observados neste grupo. Acrescentando
ainda que ambos os grupos de TENS ativo mostraram os maiores escores nos questionarios de
qualidade de vida. No entanto, também deve ser reconhecido que um efeito placebo foi observado
durante todo o julgamento. No estudo de Buchmuller et al. (2012), foram observadas melhorias de,
pelo menos, 50% nas queixas de dor entre as primeiras e últimas avaliações, sendo 33,8% dos
pacientes no grupo TENS de alta intensidade e 15,0% no grupo de baixa intensidade. Já a melhora do
estado funcional avaliado pelo questionario de RMDQ, apresentou uma pontuação média de 12 no
grupo de TENS de alta intensidade e 13 no grupo de baixa intensidade em comparação com um escore
mediano de 15 em ambos os grupos. Porém, a diferença entre os grupos não atingiu o limiar de
significância estatística.
No estudo de Bertalanffy et al. (2005) os autores avaliaram a eficácia da TENS em 72 pacientes
com dor lombar durante o transporte de emergência, sendo registrado as variaveis dor e ansiedade. A
TENS foi considerada uma terapia eficaz e de ação rápida na redução da dor lombar, onde o grupo 1
apresentou uma média que foi de 79,2 para 48,9 superando o grupo 2 que passou de 75,9 para 77,1.
Da mesma forma, os escores de ansiedade foram reduzidos passando de 81,7 para 62,2 na média do
grupo 1; já no grupo 2, nenhuma mudança significativa foi observada, apresentando uma media de
84,5 para 83,5. Assim, verifica-se que o grupo experimental superou significativamente o grupo
controle na análise dos resultados das variáveis da dor e ansiedade. Um fator importante para a
efetividade do tratamento com a TENS foi o número de aplicações.
Koke et al. (2004) apresentaram dados que não corroboraram com o estudo de Bertalanffy et
al. (2005), pois ao conduzirem um estudo com 180 pacientes, tratados com TENS de alta intensidade
(G1), baixa intensidade (G2) e um grupo controle (G3), verificaram após a avaliação global dos
participantes, que nos escores de EVA a diferença não foi expressiva entre os grupos, apresentando
os seguintes valores G1 3,6 mm, G2 2,5mm e G3 0,4mm, evidenciando assim que a TENS não
apresentou resultados satisfatórios nos grupos estudados. Partindo da avaliação mencionada, Thiese
et al. (2013), contribuiu afirmando que após 12 semanas da utilização da TENS (G1), do dispositivo
H- WaveW (G2) e grupo controle (G3), os grupos 1 e 2 apresentaram uma melhora funcional, porém
os mesmos mantiveram-se em um patamar de igualdade, sendo superior apenas ao grupo controle.
A ingestão de medicamentos durante essas pesquisas foi motivo de monitorização, por isso o
consumo médio de analgésicos foi avaliado nos estudos de Corrêa et al. (2013), que obtiveram a
redução do consumo de analgésicos significativamente em relação ao grupo controle após intervenção
com corrente interferencial. Zambito et al. (2006) também relataram uma melhora significativa no
uso de medicamentos com uma proporção de 57,8% em relação ao placebo. Yokoyama et al. (2004)
complementaram ainda que a terapia por estimulação elétrica proporcionou uma diminuição
Página 75
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
significativa na utilização de medicamentos. A redução da dor ocorreu pelo princípio da teoria das
comportas da dor, a qual relata que as fibras aferentes A-beta de grande diâmetro, exercitam
interneurônios no corno dorsal da medula espinhal, normalmente responsivos aos nervos aferentes
nociceptivos, fechando assim a comporta para os impulsos.
No estudo conduzido por Palomo et al. (2012) foram observados resultados positivos
produzidos pela corrente interferencial em relação ao placebo, o qual mostrou-se significativamente
eficaz para redução da dor, incapacidade e qualidade de vida imediatamente após o tratamento. Os
resultados obtidos por Pereira et al. (2011) corroboraram com o presente estudo, pois apontaram para
uma propiciação do alivio da dor promovido pela corrente interferencial. Gomes et al. (2005) no
entanto apontaram que a corrente interferencial, é apenas uma abordagem elétrica alternativa não
mais efetiva que o TENS para se alcançar as mesmas respostas fisiológicas.
O conceito atual da utilização da terapia por estimulação elétrica na prática, baseada em
evidências, requer o uso consciencioso e judicioso das melhores evidências de estudos clínicos, para
então poder orientar a escolha dos recursos elétricos mais eficazes para alcançar o melhor resultado
no que diz respeito a analgesia e, consequentemente, melhora da qualidade de vida desses pacientes.
No entanto, isso não foi confirmado nesta revisão sistemática, pois uma terapia não se sobrepõe a
outra, com isso se faz necessário estudos futuros, que tragam dados que evidenciem o recurso mais
efetivo.
4 CONCLUSÃO
A presente revisão sistemática analisou estudos que focassem o efeito da terapia por
estimulação elétrica como tratamento para alivio da dor lombar. Os artigos analisados evidenciaram
melhora no quadro álgico dos participantes do estudo, tanto para os que utilizaram as intervenções
com estimulação elétrica transcutânea (TENS) quanto para os usuários da corrente interferencial (CI),
porém a grande maioria dos estudos não apresentou diferenças estatisticamente significativas entre
os grupos experimentais e controle. Além do mais, não foi possível observar padronização quanto aos
parâmetros, como largura de pulso, frequência da corrente, tem¬po e o número de sessões.
Mesmo com a boa qualidade metodológica dos estudos analisados, não foi possível provar que
a TENS é su¬perior a corrente interferencial no tratamento da dor lombar. Até agora há poucos
estudos publicados que comparem a eficácia de ambos os métodos de eletroanalgesia juntos. Dessa
forma, verifica-se a necessidade de novos ensaios clínicos randomizados controlados de forma
adequada e com alta qualidade metodológica, com análise por intenção de tratar, mos¬trando clareza
nos parâmetros utilizados, a fim de elucidar os reais efeitos desses recursos no tratamento da dor
lombar a curto e longo prazo.
REFERÊNCIAS
BARROS, S. S. de et al. Lombalgia ocupacional e a postura sentada. Rev Dor, São Paulo, v. 12, nº
3, p.226-30, jul./set. 2011.
BERTALANFFY, A. et al. Transcutaneous Electrical Nerve Stimulation Reduces Acute Low Back
Pain during Emergency Transport. Acad emerg med, Vienna, Áustria, v. 12, n. 7, p.607-611, july.
2005.
BUCHMULLER, A. et al. Value of TENS for relief of chronic low back pain with or without radicular
pain. Eur J Pain, Saint-Etienne, France, v. 16, n.5, p. 656–665, may. 2012.
Página 76
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
CORRÊA, J. B. et al. Effects of the carrier frequency of interferential current on pain modulation in
patients with chronic nonspecific low back pain: a protocol of a randomised controlled trial. BMC
Musculoskeletal Disorders, São Paulo, SP, v. 14, p. 2-7, 2013.
FACCI, L. M. et al. Effects of transcutaneous electrical nerve stimulation (TENS) and interferential
currents (IFC) in patients with nonspecific chronic low back pain: randomized clinical trial. Med J,
São Paulo, SP, v. 129, n. 4, p. 206-16, 2011.
GOMES, A. de O. et al. As influências de diferentes frequências da estimulação elétrica nervosa
transcutânea no limiar e intensidade de dor em indivíduos jovens. Einstein, Cascavel, PR, v. 12, n.
3, p. 318-22, fev./jul. 2014.
GOMES, M. C. de S. M. et al. Comparação do grau de agradabilidade na aplicação da estimulação
elétrica nervosa transcutânea e da corrente interferencial comparison of the degree of agradability in
the application of the electrical stimulation nerve transcutaneous and of current interferencial. Rev.
Brasileira de Ciências da Saúde, São Caetano do Sul, v. 3, n. 6, jul/dez. 2005.
KESKIN, E.A. et al. Transcutaneous Electrical Nerve Stimulation Improves Low Back Pain during
Pregnancy. Gynecol Obstet Invest, v.74, p.76-83, jun. 2012.
KOKE, A. J. A. et al. Pain reducing effect of three types of transcutaneous electrical nerve stimulation
in patients with chronic pain: a randomized crossover trial. Pain, v.108, n. 1-2, p. 36-42, mar. 2004.
PALOMO, I. C. L. et al. Short-term effects of interferential current electro-massage in adults with
chronic non-specific low back pain: a randomized controlled trial. Clin Rehabil, v. 27, p. 439-449,
out. 2012.
PEREIRA, G. D. et al. Efeito da corrente interferencial, 2000Hz, no limiar de dor induzida. Rev Bras
Med Esporte, São Paulo, SP, v.17, n.4, p. 257-260, jul./ago. 2011.
PIVETTA, K. M; BERTOLINI, G. R. F. ΔF effects on the interferential current accommodation in
healthy subjects. Rev Bras Med Esporte, São Paulo, v.18, n.5, p. 330-332, sept./oct. 2012.
SCHULZ, A. P. et al. Ação da estimulação elétrica nervosa transcutânea sobre o limiar de dor
induzido por pressão. Rev Dor, v. 12, n 3, p. 231-4, 2011.
SHIWA, S. R. S. et al. PEDro: a base de dados de evidências em fisioterapia. Fisioter Mov, v.24,
n.3, p.523-533, jul/set. 2011.
SOLANO, R. L. et al. Electroanalgesia en el Síndrome de Dolor Lumbar Agudo: Efectividad
Comparativa de TIF versus TENS: Estudio Preliminar. Reumatología, Temuco, Chile, v.22, n.4,
p.142-146, 2006.
STEFANE, T. et al. Dor lombar crônica: intensidade de dor, incapacidade e qualidade de vida. Acta
Paul Enferm, São Carlos, SP, v. 26, n. 1, p.14-20, 2013.
THIESE, M. S. et al. Electrical stimulation for chronic non-specific low back pain in a working-age
population: a 12-week double blinded randomized controlled trial. BMC Musculoskeletal
Disorders, v.14, p.109-117, 2013.
Página 77
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
WARKE, K. et al., Efficacy of Transcutaneous Electrical Nerve Stimulation (TENS) for Chronic
Low-back Pain in a Multiple Sclerosis Population - A Randomized, Placebo-controlled Clinical Trial.
Clin J Pain, v. 22, n. 9, nov./dec. 2006.
YOKOYAMA, M et al. Comparison of Percutaneous Electrical Nerve Stimulation with
Transcutaneous Electrical Nerve Stimulation for Long Term Pain Relief in Patients with Chronic
Low Back Pain. Anesth Analg, v. 98, p.1552-1556, 2004.
ZAMBITO, A. et al. Interferential and horizontal therapies in chronic low back pain: a randomized,
double blind, clinical study. Clinical and Experimental Rheumatology, Verona, Itália, v. 24, p.
534-539, 2006.
ZAVARIZE, S. F. et al. Dor lombar crônica: implicações do perfil criativo como estratégia de
enfrentamento. J Manag Prim Health Care, Campinas, SP, v.5, n.2, p. 188-194, jun. 2014.
ZAVARIZE, S. F.; WECHSLER, S. M. Perfil criativo e qualidade de vida: implicações em adultos e
idosos com dor lombar crônica. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol, Rio de Janeiro, v. 15, n. 3, p. 403414, 2012.
Página 78
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
O DISCURSO MASCULINO SOBRE OS RELACIONAMENTOS AMOROSOS NA
CONTEMPORANEIDADE
MALE DISCOURSE ON LOVING RELATIONSHIPS IN CONTEMPORANEITY
Thádia Martins Neiva Eulálio1;
Carlange Silva de Castro2
RESUMO
As mudanças sociais ocorridas nas últimas décadas do século XX acarretaram transformações nos
papéis sociais e nas formas como os sujeitos se colocam em suas relações interpessoais. A partir da
mútua influência exercida entre sujeito e meio social, buscou-se trazer à tona as questões envolvidas
na articulação entre novas formas de discurso e as mudanças nos lugares ocupados pelos sujeitos
dentro da teia social. Esse estudo teve como objetivo geral analisar o mal-estar do homem
contemporâneo frente às mudanças que afetam a identidade sexual do sujeito masculino, dentro dos
relacionamentos amorosos; os objetivos específicos foram: detectar as identificações psíquicas que
atuam no processo de constituição do homem; verificar quais imaginários sociais definem a virilidade
na atualidade; averiguar como o homem moderno percebe-se dentro dos relacionamentos amorosos.
Foi realizada uma pesquisa descritiva de cunho qualitativo. Os participantes do estudo foram seis
homens, heterossexuais, solteiros, independentes financeiramente, nascidos em Teresina-PI e com
residência permanente nessa mesma cidade. O método utilizado na análise dos dados foi a Análise
do Discurso. A partir dessa análise foi possível enunciar as identificações psíquicas, bem como os
fatores que promovem aparecimento do mal-estar no homem contemporâneo frente aos
relacionamentos amorosos. Conclui-se que os homens querem amar e ser amados também, buscam
cumplicidade, carinho e respeito; procuram, ainda que confusos, a possibilidade, mas não qualquer
possibilidade, mas a possibilidade de amar, que para a psicanálise, é um a um.
Palavras-chave: Masculino. Discurso. Identificações psíquicas. Mal-estar. Relacionamentos
amorosos.
ABSTRACT
The social changes that have occurred in the last decades of the 20th century led to transformations
in social roles and in the way subjects behave in their interpersonal relations. From the mutual
influences exerted between subject and social environment, we sought to highlight from a closer look
the issues involved in linking new forms of discourse and changes in positions held by the individuals
within the social web. This research aimed to examine the discomfort of the contemporary man
regarding the changes that affect the sexual identity of the male subject in his loving relationships as
well as to detect the psychic identifications which play a role in the process of man’s constitution, to
verify which social imaginaries define manhood today, to find out how modern man notice himself
in loving relationships. It is a qualitative study with a descriptive approach. The sample comprised 6
(six) men who are heterosexual, single, financially independent, born and raised in Teresina-PI. The
data were analyzed through the Discourse Analysis. From this analysis, it was possible to enunciate
the psychic identifications, as well as the factors that promote the onset of discomfort in contemporary
man concerning loving relationships.
Keywords: male, discourse, contemporary, discomfort, loving relationships
_______________
1Graduanda
2
em Psicologia pela Faculdade Integral Diferencial- FACID. E-mail:[email protected]
Psicóloga, Professora do Curso de Psicologia da FACID, Mestre em Antropologia. E-mail:[email protected].
Página 79
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
1 INTRODUÇÃO
As mudanças ocorridas nas últimas décadas do século XX acarretaram uma série de
transformações na sociedade ocidental, dentre elas, a que afeta os modelos definidores das identidades
sexuais dos sujeitos. As nuances do masculino e do feminino na atualidade se encontram em
metamorfose.
O masculino se pauta no conceito de virilidade, conceito este produzido socialmente, pois cada
sociedade e cultura produz sua própria definição acerca do que é ser ou de quais características o
indivíduo do sexo masculino deve apropriar-se para ser considerado pertencente ao universo
masculino. As características para tal desígnio passam tanto pelas identificações psíquicas de cada
sujeito quanto pelas normas sociais que definem a virilidade; por esta razão as mudanças nas normas
sociais afetam diretamente os conceitos masculino/feminino que, por sua vez, influenciam
inteiramente a psiquê do sujeito, ocasionando mudanças nas formas de pensar, sentir e se posicionar
nas relações. O mal-estar gerado com a perda de algumas referências sociais que moldam as
identificações sexuais traz à tona um conflito nas identificações psíquicas, um conflito no sujeito
masculino que não encontra um modelo fidedigno e concreto na contemporaneidade que o possibilite
sentir-se seguro acerca de seu pertencimento ao universo do masculino.
A identificação, segundo Freud (1996), é a mais antiga ligação de sentimentos por uma pessoa
e é peça fundamental dentro do Complexo de Édipo. A partir disso, o menino, via de regra, toma o
pai como ideal, em nível inconsciente, para assim assumir uma posição masculina.
O conceito de virilidade, segundo Ramos (2000), é algo mais ligado às condutas sociais e aos
aspectos psicológicos. Desde criança, o menino já escuta sobre a diferença sexual e sobre que tipos
de comportamentos devem ser assumidos para que possa situar-se do lado dos “homens”.
Neste contexto, o problema da pesquisa foi que relação as mudanças no contemporâneo
possuem com o mal-estar do homem pós-moderno dentro dos relacionamentos amorosos? As
questões norteadoras da pesquisa foram: quais identificações psíquicas atuam na concepção de
masculinidade para o homem contemporâneo? Qual o impacto das mudanças sociais na concepção
de virilidade para o homem contemporâneo? Como o homem tem se percebido nos relacionamentos
amorosos na contemporaneidade?
O objetivo geral deste estudo foi analisar o mal-estar do homem contemporâneo frente às
mudanças que afetam a identidade sexual do sujeito masculino dentro dos relacionamentos amorosos.
Para tanto, foram enunciados os seguintes objetivos específicos: detectar as identificações psíquicas
que atuam no processo de constituição do homem; verificar quais imaginários sociais definem a
virilidade na atualidade; averiguar como o homem moderno se percebe dentro dos relacionamentos
amorosos.
2 MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa se configurou como um estudo descritivo do tipo qualitativo. O método de captação
dos participantes para a pesquisa foi o Método Bola de Neve ou snowball. Participaram deste estudo
6 (seis) homens, heterossexuais, solteiros, com idades entre 25 e 35 anos, de classe média,
independentes financeiramente, nascidos e residentes na cidade de Teresina-PI. Os critérios de
exclusão indicaram homens naturais de outra cidade, ou que nasceram em Teresina, entretanto,
residiram em outra cidade por tempo superior a um ano e nunca estiveram em um relacionamento
amoroso.
A pesquisa foi orientada pela Resolução do Conselho Nacional de Saúde nº 466/2012, que se
reporta aos aspectos éticos da pesquisa. O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa
(CEP) da Faculdade Integral Diferencial (FACID), sendo iniciada a coleta de dados apenas após a
autorização do mesmo.
Os dados foram coletados através de entrevista semi-estruturada, posteriormente tratados
utilizando-se a técnica da Análise do Discurso.
Página 80
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os participantes foram identificados por codinomes sugeridos pelos próprios, conforme mostra
o Quadro 1, que também apresenta as idades e ocupações.
Quadro 1 - Caracterização dos sujeitos da pesquisa
PARTICIPANTE
IDADE
OCUPAÇÃO
Casanova
25
Marketing pessoal, assessoria, produção de
eventos.
Dorian Grey
27
Filósofo.
Duque de Copas
29
Assessor de comunicação, músico e ativista.
Janjão
25
Fotógrafo
Jim Morrison
29
Vigilante Noturno
Ted
29
Técnico em informática, professor de dança.
Os dados foram divididos em eixos, constituídos pelos recortes das falas dos participantes. Os
eixos correspondem aos objetivos da pesquisa. O primeiro eixo refere-se às identificações psíquicas,
aquilo que fora marcado a fim de que o sujeito pudesse assumir uma posição masculina. O segundo
eixo se reporta à concepção dos ideários sociais acerca do masculino. O terceiro eixo refere-se às
inferências sobre a mulher. O quarto e último eixo descreve o desdobramento dos relacionamentos
amorosos na contemporaneidade.
EIXO 1: O primeiro homem: o pai como modelo.
Casanova - “(...) Geralmente o pai da gente, tem aquela pessoa masculina, mais agenciada pelo pai
por conta das influencia em casa, costumo falar pro papai, quando ele toca no assunto, que tudo que
ele me ensinou de bom eu carrego comigo e tudo que carrego de ruim foi com ele que aprendi.”
Dorian Gray - “(...) Ele é uma pessoa determinada, que assim, é muito firme, muito firme, não
costuma ficar passando a mão na cabeça de ninguém, meu pai é inconformado, assim como eu.”
Duque de copas - “(...) Acho que essas duas coisas de me calar pra não causar constrangimento e
buscar uma solitude assim mesmo, solitude, são algo que talvez a gente de aproxime.”
Janjão - “(...) De fato nunca parei pra pensar nisso... mas, provavelmente o meu... pai, desde o início
é a figura masculina que eu tenho mais próximo até hoje. (...) Meu pai, ele é curto e grosso, direto e...
e sem rodeios, acho que é isso, meu pai, acho que é isso.”
Jim Morrison - “(...) Me identifiquei porque ele é um cara esforçado nessa parte. Eu queria, não, eu
quero ser ele! Se eu pudesse, eu queria ser a cópia fiel do meu pai. (...) essa parte eu puxei dele, ele é
radical e eu sou, nossos nomes são iguais, o meu nome não tem “júnior” nem nada, só que algumas
coisas a gente se parece, só que algumas coisas dele que eu não concordo, se chama: mulheres.”
Ted - “(...) Vamos dizer que eu fiz um comparativo dele com o meu pai, as atitudes do meu pai, por
exemplo, como eu te falei e falei a questão até de filhos, o meu avô nunca seria capaz, vamos dizer,
de deixar a mulher dele, entendeu? Pra aventu... Pra um relacionamento fictício, digamos assim, não
deixaria... enfim, vamos dizer assim, o lado família né? Ele não deixaria a família dele pra aventurar
com qualquer outra coisa né? Digamos assim.”
Página 81
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Nas falas dos participantes, a figura principal é sempre o pai. Desta forma, pode-se pensar numa
identificação, onde os modelos paternos exercem influência sobre o desenvolvimento de uma postura
masculina, não só no que diz respeito ao objeto de escolha sexual, mas também aos modelos de
comportamento, ideais morais e ética, a serem seguidos ou rejeitados.
A identificação, por ser algo inconsciente, deixa impresso no participante os signos de seus
pais, mesmo as características descritas como negativas nos pais aparecem no discurso dos sujeitos
quando falam de si e de sua postura frente ao Outro. Desta forma, trazendo luz ao que foi dito por
Fink (1998), o sujeito é marcado por essa linguagem do Outro, o inconsciente se estrutura desta forma,
ou seja, numa cadeia de significantes que obtém seu significado a partir do Outro. Observa-se, no
discurso dos participantes, as marcas das ações paternas que hoje respaldam sua forma de agir e
posicionar-se frente ao Outro, sendo esta posição ser definida como Fálica.
Remetendo-nos às ideias de Lacan (1999), o sujeito masculino, o jovem garotinho que ao passar
pelo complexo edipiano, acaba por adquirir o status de homem graças à atuação da metáfora paterna.
O menininho terá em si a marca do pai, algo do significante e graças a essa marca, a essa identificação,
o menino se transforma no pai.
E é a partir dessa identificação com o pai que o sujeito adquire uma identidade sexual masculina.
Como ressalta Rosa (2008), algo de uma virilidade idealizada, nos parâmetros de um ideal do Eu que
fora internalizado a partir da identificação. Por esta razão, aquilo que no sujeito advém da
identificação paterna é sempre algo que este sujeito almeja justamente por ser da ordem de um “Ideal
do Eu”.
Percebe-se no discurso dos participantes a importância do pai nessa concepção de uma
identidade masculina, desde uma identificação inconsciente, até a idealização de um modelo
masculino a ser adquirido.
EIXO 2: O que é ser homem.
Casanova - “(...) Os homens da minha idade têm ainda um resquício dos homens da geração anterior,
dos nossos pais e avós, é uma coisa bizarra, não tá fácil não, ser homem na faixa dos 25 anos hoje em
dia, porque a gente tem os exemplos dos avós, dos pais, mas a gente tá sendo exposto a uma, não vou
dizer “frescuraiada”, porque vai ficar um termo pejorativo e preconceituoso, mas de certo assim
desnecessária, rapaz, porque é música, é uma sentimentalidade da pessoa deixar de ser si própria pra
querer ser outra pessoa.”
Dorian Grey - “(...)Ele ainda é muito do “eu vou à caça, eu vou à caça e eu vou usar a melhor arma
que eu tenho” e qual a melhor arma que você tem? Um Camaro amarelo, por exemplo. Ah!
Geralmente é dinheiro, infelizmente, é dinheiro. (...) Assim, a força física, óbvio que ela vai se
transformando em muitas coisas, poder de decisão, “quem manda aqui sou eu”, “a última palavra é
minha”, “eu tenho que fazer com que minha vontade triunfe sobre a sua”. Aí se vê que tudo isso ele
estrutura de uma maneira que não combina com a palavra “relacionamento”.”
Duque de Copas - “(...) Aí vem aquela coisa, que o homem pra se firmar num espaço, ele tem que ter
aquela confirmação do que ele tá falando é uma coisa massa, aí vem aquele tapinha nas costas num é
não cara? Tá ligado? E eu só hahaha. (...) Força, por exemplo, demonstração de força, querer tipo
demonstrar o poder, questão das habilidades, a gente vive em função de se afirmar. (...)homem muito
machista ele se afirma muito pela sexualidade, a questão do falo e tal. Falando a grosso modo, a
questão do órgão que é ereto, forte, que é viril e coisa e tal.”
Janjão - “(...) Só quer transar mesmo, no sentido de quanto mais ele come melhor ele é.”
Jim Morrison - “(...)O homem não só tem que ser homem na cama “ah eu vou ser homem só na cama”
não, o homem tem que ser no dia-a-dia, tem que ser um cara trabalhador, um cara honesto, um cara
Página 82
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
que tem um caráter forte que tem personalidade, que saiba usar as palavras na hora certa, falar
somente o necessário, ter suas responsabilidades, ter suas obrigações.”
Ted - “(...) O homem hoje, vamos dizer que ele tá bem irresponsável certo? É irresponsável, assim
dificilmente você vê o homem com uma mulher só. (...) O homem assim de sexo, entre o homem
falando de sexo, ele não tem aquela trava, ele fala tudo, O homem gosta de contar os detalhes nesse
ponto. É... Não que tenha necessidade, mas vamos dizer, que o homem se sinta bem.”
No que diz respeito aos atributos inerentes ao homem, dentro de uma perspectiva de um
universo masculino, os entrevistados trouxeram uma gama de características, comportamentos e
ideias. Dentre os fatores que compõem esse ideário de um universo do masculino, predominam as
questões ligadas ao conceito de virilidade como: a força física, o desempenho sexual, conquistas
amorosas e a demonstração de poder. Sendo que esta última aparece intimamente ligada ao financeiro;
em todos os sujeitos, o trabalho aparece como algo de suma importância para o homem.
Em consonância com o que foi trazido por Ramos (2000) sobre a aquisição da virilidade, esta
ocorre tanto pela via das aspirações psicológicas do sujeito, quanto pelo que é transmitido no social.
Observa-se nas falas dos participantes, que as características enunciadas para o homem são, em linhas
gerais, as mesmas presentes nos primeiros modelos; ou seja, no pai de cada um dos sujeitos, além das
ideias trazidas pelo patriarcado, o ranço do machismo ainda impera nos discursos.
No que concerne aos fatores associados à virilidade, vale salientar a demonstração fálica que
pode ocorrer de diversas formas, tanto de uma dominação financeira quanto ideológica, advindos de
uma força física ou de uma influência dentro de seu meio social. Em consonância, encontrou-se
também a fantasia imaginária do homem, como aquele que completa a mulher, numa posição bastante
fálica. É particularmente importante, dentro da concepção do homem, destacar as afirmações de Freud
(1996) e Lacan (1999), segundo as quais, o sujeito masculino está sempre posicionado de uma
maneira fálica, no que diz respeito ao falo como uma significação de poder dentro de uma perspectiva
do inconsciente. Desta forma, o homem se coloca nessa posição, daquele que pode, daquele que detém
o falo, sempre na tentativa de fazer valer sua vontade, algo que, segundo Muraro (1991), lhe fora
assegurado historicamente, com o advento da sociedade patriarcal. Sendo assim, essa posição está
intimamente ligada ao conceito de homem, tanto por seu status psíquico, quanto pela ideologia social
sustentada pelo patriarcalismo.
O machismo apropria-se destas condições para afirmar-se como tal, o homem como o centro
de tudo, homem que vem para completar o que falta à mulher, o homem como aquele que é o provedor
tanto financeiro como emocional, a base, o pilar fundamental da estrutura social. Esse egocentrismo
é no que se apoia a noção de virilidade, a posição masculina, bem como seu status de “homem de
verdade”.
A partir dessas concepções, observa-se que as compreensões sobre o que se definiria como
“homem” estão pautadas, principalmente, nessas demonstrações de poder, até porque, aquele que
pode, deve “poder” sobre algo ou alguém e, para tanto, este outro alguém deve reconhecê-lo como
tal; ou seja, como aquele que pode. E isto ocorre via relações interpessoais, das quais são exemplos
os relacionamentos amorosos.
Com as mudanças que ocorreram na sociedade, segundo Muraro (1991), em meados do século
XX, a emancipação feminina trouxe mudanças nas formas da mulher se colocar socialmente.
Goldemberg (2000) traz a importância dessa mulher que passa a implicar as mudanças no homem,
uma mulher mais dona de sua sexualidade, que não mais aceita ser chamada de o “sexo frágil”.
Eixo 3: Quem é essa mulher?
Casanova - “(...) Ela é independente, ela busca a satisfação mental dela, busca a satisfação sexual, ela
não precisa do homem pra quase nada, com o advento dos sexshops, quase nada mesmo.”
Página 83
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Dorian Grey - “(...) Se as mulheres agissem assim, (super-mulher) isso iria assustar os caras, eles iam
sair correndo, porque aí você desloca a função de homem, entendeu? Não é o homem mais que caça,
que procura, ele virou alvo agora.”
Duque de Copas - “(...) E isso é lindo, sabe, então, é uma mulher que se liberta, é uma mulher que...
E ela se liberta, ela se ama e ela pode amar quem ela quiser, tá ligado?”
Janjão - “(...) Ah vou abrir as pernas e dar o tanto que eu quiser, sei lá, não é bem isso não, a mulher
tá se vulgarizando demais, tá querendo se igualar ao um status homem, e eu acho isso ridículo e banal,
e isso tá estragando muito a mulher ela querer se igualar a um ser que sempre a subjugou, a um ser
que sempre a menosprezou, a um ser que sempre lhe machucou, lhe maltratou e acho isso ridículo
por parte das mulheres.”
Jim Morrison - “(...) Ah vamos dizer a chamada mulher alfa, mulher alfa quer dizer o que, ela quer
competir com o homem no mercado de trabalho, quer competir com o homem na cama, nos trabalhos
domésticos, em cursos, ela quer ser mais avançada que o próprio homem.”
Ted - “(...) Assim a mulher tá muito homem, tu pode ver que em alguns casos, hoje, eu digo até por
mim mesmo, essa questão sexual, tem mulheres que ensinam os homens a fazer as coisas entendeu?”
Observa-se que no discurso dos entrevistados existe uma denominação específica para dizer
sobre essa nova postura feminina, seja a mulher fálica, a super-mulher, a mulher-homem. Descrevem
um padrão de comportamento feminino muito diferente daquele pregado pelo patriarcado, de uma
mulher submissa e entregue ao bel prazer masculino. Esse novo comportamento feminino implica em
uma série de fatores no sujeito masculino, entre eles o temor e a repulsa por certos comportamentos,
revelando assim um mal-estar no sujeito, pois ainda não sabe muito bem lidar com essa nova mulher.
Ressalte-se que as mudanças nos papéis de gênero trazem justamente esse mal-estar para ambos
os sexos, e que ele afeta diretamente a forma como homem e mulher se relacionam. Isso está explícito
na fala dos entrevistados, quando trazem a descrição dessa nova mulher e quando falam como está
difícil se relacionar com ela.
Essa mulher, que ocupa uma posição mais masculina, onde ela é aquela que “pode”, acaba por
retirar o homem desta posição, o que gera nele um mal-estar, pois só se é “homem” quando se está
na posição viril, conforme afirmado no eixo anterior. Desta forma, a mulher toma para si e se coloca
nesta posição e o homem se percebe usurpado de seu lugar, não conseguindo assumir outra posição
frente a essa mulher fálica. Desta forma, como se dá a relação amorosa entre estes dois sujeitos que
tentam ocupar a mesma posição, essa posição fálica, daquele que tem o falo? Negando a castração,
assim possibilita-se o encontro amoroso.
Eixo 4: Relacionamentos amorosos: por que são tão difíceis?
Casanova - “(...) Melhor coisa do mundo é quando se juntam duas pessoas pra se divertirem sem
amarras sociais, sem preconceito e sem aquela coisa de esperar muito além.”
Dorian Grey - “(...) Olha, eu vou desligar os sistemas, os sensores, eu vou simplesmente ir, vou
continuar, vou aceitar isso assim, a gente ia acabar ficando loucos, numas relações bem loucas e
estranhas. Relação de poder, tipo... uma boa parte das relações se estabelecem como relações de
poder, é um desejando sobrepujar o outro, mesmo quando não está evidente isso. O grande problema
é que numa boa parte das relações isso é evidente. (...) O relacionamento amoroso é um exercício, a
afetividade é um exercício, que a gente precisa se dispor a empreender na nossa vida.”
Página 84
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Duque de Copas - “(...). Eu acho que não, eu acho que você, sensível, pode externar seu carinho por
uma pessoa de diversas formas. A gente não dá uma cabeça de elefante de presente pra uma mulher,
a gente dá um... uma tulipa? Depende da flor que a pessoa goste e tudo.”
Janjão - “(...) Porque a mulher quer se impor sempre agora, o homem não quer ser deixado ser
imposto. (...) a mulher tá sabendo se sair muito bem, o homem nem tanto, mas o homem ele acaba se
adaptando, o homem é mais fácil de se adaptar, ele, de certa forma, ele é mais frágil que a mulher,
por deixar, é, deixar como se, por se deixar ser subjugado pela mulher, e antes quem era subjugado
era a mulher, ao invés dele tentar parar essa subjugação ele está deixando ser subjugado. Acho que é
isso um relacionamento.”
Jim Morrison - “(...) O que tá acontecendo que tanto a mulher perdeu seus valores e ideais.”
“(...) Quanto mais você faz por uma pessoa mais a pessoa ela quer te dominar, ela quer montar a
cangalha, quer pintar o sete o bordar o oito contigo. (...) Então antigamente que era louca apaixonada
era a mulher, hoje é ao contrario o homem que quer ir atrás da mulher ideal.”
Ted - “(...) porque existe a questão de se apaixonar. (...) Aí é difícil se relacionar com essa mulher
homem porque é que nem um imã, as partes iguais elas não encaixam né? (...) E o relacionamento
acaba no bater de frente de novo é vago, vamos dizer que as mulheres tão batendo de frente com os
homens e os homens estão apanhando até porque estão em minoria.”
Percebe-se nas falas desses participantes, esse anseio de se relacionar afetivamente; o
relacionamento é algo importante para esses homens, o amor está presente em suas pretensões.
Todavia, a nova posição assumida pela mulher, a posição fálica na esfera do encontro amoroso, acaba
por suscitar no homem um desconforto, justamente por este não conseguir lidar com esse novo lugar
ocupado pela mulher.
As relações afetivas, para os homens, ainda permanecem atreladas a uma posição fálica, isso
denota que a necessidade masculina de afirmação se reflete na forma como se relaciona
amorosamente com alguém. Em contrapartida, na contemporaneidade, a conduta feminina ganha esse
mesmo status fálico. Ocasionando, justamente, um confronto de interesses, uma disputa por este lugar
fálico dentro do relacionamento.
Tal fenômeno torna-se incompatível com a ideia do que seria relacionar-se. Bauman (2004)
traduz o amor como o desejo de doar-se ao outro, de cuidar do objeto amado e, dentro de um
relacionamento amoroso, que visa a preservação desse sentimento, levar em conta a satisfação do
sujeito. Satisfação esta que é proporcionada pela gratificação de livrar-se de uma necessidade, pela a
companhia e intimidade. Essa ideia se mostra congruente ao que fora trazido por Lacan (1999), em
que o sujeito demanda saber o que ele representa dentro do desejo do Outro, de desejar ser desejado
pelo Outro.
Entretanto, o que se observa nas falas dos participantes é que o homem já não tem ideia de seu
lugar dentro do desejo feminino, de que posição deveria tomar para pertencer ao escopo desse desejo,
e por não saber, acaba por imprimir os ideais pregados pela sociedade do patriarcado. Apesar disso,
almeja uma mulher nos moldes antigos para estabelecer um vínculo amoroso significativo. Em
contrapartida, a mulher de hoje se posiciona de outra forma, trazendo para o campo do relacionamento
dúvidas e incertezas sobre o real papel masculino dentro do jogo da conquista.
Simmel (2006) rememora, com seu conceito de coquetismo, justamente essa posição, dizendo
que quando a mulher ocupa um lugar que não o de detentora das regras do jogo da conquista, mas de
implicar no homem a dúvida acerca do quase conseguir. Essa nova mulher, essa mulher fálica acaba
por posicionar o homem contemporâneo no lugar de objeto de desejo, o objeto de conquista não mais
o de conquistador e este já não sabe como fazê-lo, como administrar esse suave limite de despertar o
desejo pela antítese de sim/não, acarretando assim um mal-estar masculino.
Página 85
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Por esta razão, muitas vezes, nota-se o homem a esquivar-se de um relacionamento amoroso,
justamente por este colocá-lo frente a uma série de questões profundamente angustiantes: as
definições de sua virilidade, a satisfação de seus desejos e o seu papel de sujeito masculino.
Pode-se dizer que a via erótica pela qual o homem consegue administrar o amor, agora se faz
presente nessa mulher fálica; ou seja, coloca-se o homem numa posição castrada perante a máscara
de uma feminilidade fálica, levando a uma “desvirilização” do homem, que agora se coloca a mercê
do desejo feminino, numa súplica de apelo ao romantismo, dependente do amor de uma mulher
(GUIMARÃES, 2010).
Aí jaz o conflito do homem, que em sua potência fálica não deseja ausentar-se de sua posição,
alcançada pelas vias da identificação inconsciente. Todavia ainda deseja relacionar-se amorosamente,
mas de que modo fazê-lo se para tornar-se parceiro dessa mulher fálica, teria de abdicar de seu próprio
falo? Esse mal-estar ocasionado traz à tona esse questionamento, sobre como administrar, ao mesmo
tempo, a posição que ocupa e o seu desejo de amar.
4 CONCLUSÃO
A questão do lugar masculino dentro dos relacionamentos abrange um leque muito maior de
significados do que se possa imaginar, especialmente no sentido de um mal-estar para o sujeito.
Constatou-se que, a nível inconsciente, o homem ainda preserva, como principal componente
psíquico, uma identificação paterna, ou seja, tem como modelo de uma postura masculina aquilo que
foi introjetado a partir do pai. Sendo seu pai o principal arquétipo de homem.
No que diz respeito aos imaginários sociais acerca da virilidade, eis que se apresenta o
estereótipo do “macho”, do homem que vem para sanar todos os males, daquele que é o centro de
tudo, numa fantasia egocêntrica em torno daquilo que diz respeito ao homem (masculino). Desta
foram, ainda se preserva no imaginário coletivo masculino, a ideia de que a postura do homem é
aquela que o patriarcalismo afirmava como tal, ou seja, do homem ocupando a posição fálica. Em
decorrência das conquistas femininas, o que pode ocasionar na mulher uma posição fálica como a do
homem, gera no sujeito masculino um mal-estar no que concerne aos relacionamentos amorosos.
Observou-se ainda uma ambiguidade dentro do discurso masculino onde, em primeira instância,
coloca-se nessa posição fálica, entretanto, por desejar um relacionamento, cogita a possibilidade de
ocupar outro lugar. Decorrente desta ambiguidade, surge, no sujeito masculino, um mal-estar, pois
ao mesmo tempo em que deseja estar em um relacionamento amoroso, é implicado a abrir mão de
sua posição fálica.
O homem atual passa por esse momento de ressignificação de sua posição e da forma como se
relaciona com o Outro, movido pelos novos arranjos socais. Nas mudanças dos paradigmas, eis que
aquele relacionado ao amor, ainda permanece intacto. O amor ainda move o sujeito, o desejo de
relacionar-se afetivamente ainda está presente. Os homens querem amar e ser amados e também
buscam cumplicidade, carinho e respeito. Procuram, ainda que confusos, a possibilidade, mas não
qualquer possibilidade, mas sim a possibilidade de amar, que para a psicanálise, é um a um.
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Z. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.
FINK. B. O sujeito lacaniano: Eentre a linguagem e o gozo. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
FREUD, S. Contribuições à psicologia do amor I (1902). In: Obras psicológicas completas de
Sigmund Freud. Edição Standard brasileira, Vol.XI. Rio do Janeiro: Imago, 1996.
Página 86
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
GOLDENBERG, M. (Org.). O macho em crise: um tema em debate dentro e fora da academia.
In: GOLDENBERG, M. Os novos desejos: das academias de musculação às agências de encontros.
Rio de Janeiro, Record, 2000.
GUIMARÃES, L. O parceiro amoroso da mulher atual. ALEPH Revista da Delegação Paraná da
Escola Brasileira de Psicanálise, n 1, p.13-17, novembro de 2010.
LACAN, J. O seminário, livro 5: as formações do inconsciente (1957-1958). Rio de Janeiro, Zahar,
1999.
MURARO, R. M. Breve introdução histórica. In: KRAMER, H; SPRENGER, J. O martelo das
Feiticeiras: Malleus maleficarum. 4.ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos,1991.
RAMOS, M. S. Um olhar sobre o masculino: reflexões sobre os papéis e representações sociais do
homem na atualidade. In: GOLDENBERG, M. Os novos desejos: das academias de musculação às
agências de encontros. Rio de Janeiro: Record, 2000.
ROSA, M. Ser um homem segundo a tradição? Revista de Psicologia, v. 20, n.2, p. 437– 446, jul/dez,
2008.
SIMMEL, G. Filosofia do amor. 3 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
Página 87
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM TUBERCULOSE
EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF CHILDREN AND ADOLESCENTS WITH
TUBERCULOSIS
Patrícia Chaib Gomes Stegun1;
Jyselda de Jesus Lemos Duarte2
RESUMO
A tuberculose em crianças apresenta algumas peculiaridades como, geralmente são mais graves do
que nos adultos e apresentam maior proporção de acometimento extrapulmonar e formas
disseminadas. A confirmação bacteriológica nessa faixa etária é difícil quer pelas características das
lesões pulmonares, em geral não cavitárias e, portanto com baixa população de bacilos, quer pela
dificuldade de obtenção de amostras para exames de escarro. Sendo assim, esta pesquisa teve como
objetivo geral caracterizar o perfil epidemiológico das crianças e adolescentes com tuberculose,
buscou-se também avaliar o gênero, a faixa etária, a procedência e a situação vacinal das crianças e
adolescentes com tuberculose, bem como identificar a forma clínica, o tratamento e as complicações
ocasionadas pela doença. Realizou-se uma análise retrospectiva dos prontuários de pacientes de 0 á
14 anos com tuberculose, no período de fevereiro a junho de 2014. A partir dos dados coletados
observou um predomínio do gênero masculino, na sua maioria provindos do interior do Piauí,
pertencentes a faixa etária de 0-4 anos. A taxa de associação da tuberculose com o HIV foi de 9,1%.
Através dos dados obtidos podemos concluir que a tuberculose acomete comumente a faixa etária
entre 0 à 4 anos, principalmente o gênero masculino vacinados com BCG e procedentes de Teresina
e do interior do Piauí. A forma clínica mais comum foi a pulmonar, os pacientes foram tratados
preferencialmente com o esquema RIP.
Palavras-chave: Tuberculose. Criança. Adolescente. Perfil epidemiológico.
ABSTRACT
Tuberculosis in children presents some peculiarities such as they are generally more severe than in
adults and have a higher proportion of extrapulmonary involvement and disseminated ways. The
bacteriological confirmation in this age group is difficult, because the characteristics of pulmonary
lesions, in general non-cavitary and, therefore, low number of bacilli and also due to the difficulty of
obtaining samples for examination of sputum. Thus, this study aimed to characterize the
epidemiological profile of children and teenagers with tuberculosis, as well as investigate the gender,
the age, the origin and the vaccination status of children and adolescents with tuberculosis, and also
to identify the clinical form, the treatment and complications caused by the disease. A retrospective
analysis of the medical records of the patients with tuberculosis, aged 0 to 14 years, from February
to June 2014 was made. From the data collected, it was observed a predominance of male patients,
most from the countryside of Piaui, at the age group of 0-4 years. The association rate of tuberculosis
with HIV was 9.1%. Through the data, it could be concluded that TB commonly affects the age group
0 to 4 years, mainly male vaccinated with BCG and from Teresina and the countryside of Piaui. The
most common clinical form was pulmonary, patients were treated preferably with RIP scheme.
Keyword: Tuberculosis. Child. Teenager. Epidemiological Profile.
_________________
1 Aluna
de graduação (10ª período) do Curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial – FACID. Email: [email protected]
Professora do Curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial – FACID
2 Orientadora:
Página 88
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
1 INTRODUÇÃO
A tuberculose é uma doença infecto contagiosa causada pelo Mycobacterium tuberculosis,
também conhecido por bacilo de Koch (BK) que atinge, principalmente, o pulmão (BRASIL, 2010).
Através do contágio por este bacilo, pode se desenvolver uma doença progressiva, como também uma
infecção latente, sendo seu principal reservatório o homem (SANTOS; BECK, 2009).
Dentre os sintomas da tuberculose estão o comprometimento do estado geral, a febre baixa
vespertina, a sudorese noturna, a inapetência e o emagrecimento. Podendo, ainda, apresentar dor
torácica e tosse, inicialmente, seca e, quando produtiva, acompanhada ou não de escarros
hemoptoicos, isso quando a doença acomete os pulmões (BRASIL, 2010).
As crianças apresentam peculiaridades relacionadas à doença, geralmente, desenvolvem formas
mais graves e apresentam maior proporção de acometimento extrapulmonar e formas disseminadas
quando comparadas com os adultos (ZOMBINI, 2013).
Além disso, deve ser observado que o diagnóstico na faixa etária pediátrica torna-se difícil, e
isto decorre da dificuldade de confirmação bacteriológica da doença, seja pelas características das
lesões pulmonares nesta faixa etária, em geral não cavitárias e, portanto, com baixa população de
bacilos, seja pela dificuldade de obtenção de amostras para exames de escarro. Some-se isso ao fato
da doença na infância apresentar-se com sinais e sintomas bastante inespecíficos, levando a um
diagnóstico, e consequentemente tratamento, tardio (SZTAJNBOK et al, 2009).
A tuberculose ainda merece total atenção da sociedade e dos profissionais de saúde, pois é
considerada um agravo em saúde pública, já que tem grande incidência e vulnerabilidade. Ainda não
há perspectiva para erradicá-la como um problema de saúde pública, mesmo havendo recursos
tecnológicos para seu controle. Além disso, a associação com a infecção pelo HIV ainda é um desafio
para o mundo (BRASIL, 2013).
Após este breve detalhamento da dimensão de tal problemática, pontua-se a necessidade de
pesquisar sobre o assunto. Esta pesquisa teve como objetivo geral caracterizar o perfil epidemiológico
das crianças e adolescentes com tuberculose, buscou-se também avaliar o gênero, a faixa etária, a
procedência e a situação vacinal das crianças e adolescentes com tuberculose, bem como identificar
a forma clínica, o tratamento e as complicações ocasionadas pela doença.
Os sintomas da tuberculose são inespecíficos, como febre baixa, inapetência, emagrecimento
e tosse, podendo ser facilmente mascarados ou confundidos com outras patologias infantis, dessa
maneira, muitas crianças são subdiagnosticadas ou diagnosticadas erroneamente. Com este propósito,
os resultados desse estudo poderão contribuir como subsídios para ampliar novas pesquisas na área
de vigilância, prevenção, diagnóstico e tratamento precoce.
2 MATERIAL E MÉTODOS
Foi realizada uma análise retrospectiva dos prontuários de pacientes de zero á quatorze anos
com tuberculose em dois hospitais de referência na cidade de Teresina-PI, atendidos no período de
fevereiro a junho de 2014. O estudo foi quantitativo ao se analisar as variáveis: procedência, idade,
gênero, estado vacinal (BCG), história de contato com portador de tuberculose, prova tuberculínica,
sorologia para HIV, forma clínica, tratamento, complicações e desfecho.
A quantidade de participantes foi composta por todos os pacientes com faixa etária de 0 a 14
anos, diagnosticados com tuberculose, atendidos no período de janeiro de 2008 a dezembro de 2013,
perfazendo um total de 30 pacientes.
Foi utilizada uma ficha para coleta dos dados, a análise estatística foi realizada através de
médias e percentagens, para avaliação do nível de significância dos dados obtidos, e a apresentação
dos resultados deu-se por meio de gráficos e tabelas.
Para coleta dos dados foi solicitado autorização tanto do diretor geral do hospital em questão,
como do guardião dos prontuários. Este trabalho foi então aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
Página 89
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
da FACID – CEP/FACID, de acordo com a Resolução 466/2012 CNS, sob o CAAE de número
25884513.5.0000.5211.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram avaliados 30 (trinta) prontuários de pacientes acometidos por tuberculose com idade de
0 (zero) a 14 (quatorze) anos.
Os achados revelam que maioria dos pacientes foram do sexo masculino, (60%) como se pode
observar no Gráfico 1.
Gráfico 1 – Distribuição de gênero dos casos atendidos por
tuberculose em crianças e adolescentes, Teresina – Piauí,
janeiro de 2008 a dezembro de 2013
40% (12)
60% (18)
Masculino
Feminino
Fonte: Dados da pesquisa (2014)
Quanto à procedência, 13 casos (43,3%) eram do interior do Piauí, 12 casos (40%) de Teresina
e 5 (16,7%) de outro Estado – Gráfico 2.
Gráfico 2 – Distribuição da procedência dos casos atendidos por
tuberculose em crianças e adolescentes, Teresina – Piauí, janeiro
de 2008 a março de 2013
14
13
12
12
10
8
6
5
4
2
0
Interior
Teresina
Outro Estado
Fonte: Dados da pesquisa (2014)
Página 90
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Baseado no exposto, observou-se que não houve diferença relevante entre os valores do interior
e da capital, fato explicável através da observação dos fatores de disseminação da patologia, que são:
falta de infraestrutura, grande aglomeração humana, fome, falta de acesso a saúde; esses fatores
coincidem com a situação do interior e também podem ser encontrados na capital. Além disso, em
Teresina os serviços de saúde são mais acessíveis, possibilita a realização de diagnóstico precoce da
doença, não havendo resultados significativos na diferença entre a capital e o interior.
O Gráfico 3 expõe sobre a variação acerca da idade, os dados encontrados variaram de 7 (sete)
meses a 13 (treze) anos, com idade média de 5 (cinco) anos.
A maioria dos casos apresentados foram de crianças na faixa etária de 0-4 anos (43,2%) seguido
pelas faixas etárias 5-9 anos (40%) e pela faixa etária 10-14 anos (16,7%), conforme o Gráfico 3.
Gráfico 3– Distribuição da idade dos casos atendidos por
tuberculose em crianças e adolescentes, Teresina – Piauí, janeiro
de 2008 a março de 2013
17% (5)
43% (13)
40% (12)
0-4 anos
5-9 anos
10-14 anos
Fonte: Dados da pesquisa (2014)
Esse fato pode ser explicado, já que crianças menores de 2 anos de idade tem o dobro das taxas
de adoecimento em relação às crianças maiores, pois o sistema imunológico é imaturo. Além disso,
essa faixa etária permanece mais tempo em contato com adulto bacilífero, no qual, geralmente, exerce
o papel de cuidador e cujo são totalmente dependentes (SANT'ANNA, et al. 2002).
Em relação à vacinação com BCG, em 17 (56,7%) casos não pode ser informado o estado
vacinal da criança, porém em apenas 12 (40%) casos eram vacinadas (Gráfico 4).
Página 91
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Gráfico 4 – Distribuição dos casos atendidos por tuberculose
em crianças e adolescentes de acordo com a vacinação com
BCG, Teresina – Piauí, janeiro de 2008 a março de 2013
20
17
15
12
10
5
1
0
Não informado
Sim
Não
Fonte: Dados da pesquisa (2014)
A vacinação tem por função impedir a disseminação bacilar, que é condição fundamental para
o surgimento da doença, contribuindo assim para a redução de sua incidência. Pode-se observar isso
em relação à meningoencefalite que teve diminuição importante, após instituição da vacinação BCG
ao nascimento (BRASIL, 2008).
A forma clínica mais comum de apresentação foi a pulmonar com 54,8% dos casos (Gráfico 5),
apesar da forma extrapulmonar ser mais frequente na infância. Das formas extrapulmonares, seis
casos (20%) foram diagnosticados com tuberculose ganglionar, dois (6,7%) casos com forma
intestinal, seguidos da forma meníngea, óssea, pleural, cerebral, epidídimo com um caso (3,3%).
Gráfico 5 – Distribuição da forma clínica dos casos atendidos por
tuberculose em crianças e adolescentes, Teresina – Piauí, janeiro de
2008 a março de 2013
45% (14)
Pulmonar
55% (17)
Extrapulmonar
Fonte: Dados da pesquisa (2014)
A primo-infecção ocorre nos pulmões, órgão que apresenta condições propícias para o
desenvolvimento e proliferação do bacilo, desta forma há um predomínio da forma pulmonar
(BRASIL, 2002). Esses casos, quando não tratados adequadamente, são os principais responsáveis
pela manutenção da cadeia de transmissão da patologia, segundo Matos, Kritski e Netto (2012).
No presente estudo, a febre foi o sintoma mais frequente com 31,4% (22) dos casos, seguida de
tosse com 17,1% (17) dos casos, dispnéia com 10% (7), linfonodomegalia com 8,5% (6) dos casos e
emagrecimento com 8,5% (6) dos casos – informações na Tabela 1.
Página 92
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Tabela 1 – Distribuição dos sintomas dos casos atendidos por tuberculose em crianças e
adolescentes, Teresina- Piauí, Janeiro de 2008 a março de 2013
Sintomas
Frequência
Porcentagem
Febre
22
31,4%
Tosse
12
17,1%
Dispnéia
7
10%
Linfonodomegalia
6
8,5%
Emagrecimento
6
8,5%
Outros
17
24,2%
Fonte: STEGUN (2014)
Fonte: Dados da pesquisa (2014)
De acordo Sant'anna (1998), a tuberculose na infância apresenta-se com sinais e sintomas
inespecíficos dificultando e retardando seu tratamento. As manifestações clínicas vão desde
oligossintomáticos com pouca tosse, irritabilidade até formas mais graves como queda do estado
geral, chegando à caquexia e à morte.
Nove (30%) dos pacientes acometidos pela tuberculose tinham história de contato com adulto
portador de tuberculose, enquanto três (10%) não tinham contato e dezoito (60%) não souberam
informar – Gráfico 6.
Gráfico 6 – Distribuição do contato com portador de tuberculose
dos casos atendidos por tuberculose em crianças e adolescentes,
Teresina – Piauí, janeiro de 2008 a março de 2013
10% (3)
30% (9)
60%
(18)
Não informa
Sim
Não
Fonte: Dados da pesquisa (2014)
A possibilidade de um indivíduo menor de 15 (quinze) anos de idade vir a infectar-se é em
torno de 73%, quando existe o contato com doente bacilífero intradomiciliar e a chance de
adoecimento é dez vezes maior, sendo que 30% desenvolvem a doença (ZOMBINI, 2013). Por esse
motivo, fica claro o papel importante do controle de comunicantes no diagnóstico de tuberculose
nessa faixa etária.
Página 93
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
O isolamento bacteriológico nessa faixa etária é difícil, devido a isso o diagnóstico é baseado
na presença de contato com adulto bacilífero, associado à prova tuberculínica positiva (reatora),
sintomas sugestivos de tuberculose e alterações radiológicas (ROSSONI; ROSSONI; RODRIGUES,
2013).
O teste tuberculínico foi realizado em 26 (vinte e seis) casos do total de 30 (trinta) casos de
tuberculose. Destes, 11 casos eram reator, 6 (seis) não reator e 9 (nove) não informaram – Gráfico 7.
Gráfico 7 – Distribuição da prova tuberculínica dos casos
atendidos por tuberculose em crianças e adolescentes, Teresina –
Piauí, janeiro de 2008 a março de 2013
12
11
10
9
8
6
6
4
4
2
0
Reator
Não informa
Não reator
Não realizou
Fonte: Dados da pesquisa (2014)
Sant'anna et al, (2002) afirma que a prova tuberculínica é auxiliar no diagnóstico de tuberculose
quando associada a algum outro dado sugestivo da doença (sintomas clínicos e epidemiologia)
(SANT'ANNA,2002). Em crianças com idade igual ou menor a 10 (dez) anos, um resultado de prova
tuberculínica igual ou superior a 5 mm em não vacinados com BCG ou vacinados há mais de 2 (dois)
anos, bem como um resultado superior a 10 mm em vacinados com BCG há menos de 2 (dois) anos
são indicativos de infecção por M. tuberculosis (BRASIL, 2011).
A taxa de associação da tuberculose com o HIV vem se mantendo em torno de 8% (HIJJAR et
al, 2005), o que condiz com o presente estudo no qual houve uma taxa de 13,3% dos casos (Gráfico
8).
Há grande risco para o desenvolvimento de tuberculose ativa na infecção pelo HIV devido à
imunodeficiência celular progressiva. Em todos os casos de tuberculose infantil existe a necessidade
de pesquisar antecedentes de transfusões sanguíneas e fatores de risco para HIV entre os pais.
Recomenda-se para todos os casos diagnosticados a sorologia para HIV (ZOMBINI, 2013).
Página 94
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Gráfico 8 – Distribuição dos casos atendidos por tuberculose em
crianças e adolescentes de acordo com a sorologia para HIV,
Teresina – Piauí, janeiro de 2008 a março de 2013
14
12
10
8
6
4
2
0
13
11
4
2
Negativo
Positivo
Não fez
Não informa
Fonte: Dados da pesquisa (2014)
Nesse estudo, 80% dos pacientes foram tratados com o esquema RIP, 6,7% dos casos utilizaram
o esquema RIP associado a ceftriaxone, 3,3% dos casos o esquema RIPE, 3,3% dos casos rifampicina
associado a pirazinamida e 3,3% dos casos apenas a isoniazida (Gráfico 9).
Gráfico 9 – Distribuição do tratamento dos casos atendidos por
tuberculose em crianças e adolescentes, Teresina – Piauí, janeiro
de 2008 a março de 2013
30
24
25
20
15
10
5
2
1
0
RIP
RIP + Ceftriaxone
RIPE
1
Rifampicina+pirazinamida
1
Isoniazida
Fonte: Dados da pesquisa (2014)
O tratamento de tuberculose preconizado para crianças pelo Ministério da Saúde compreende
o uso de rifampicina, isoniazida e pirazinamida (esquema RIP) por 2 (dois) meses e mais 4 (quatro)
meses de rifampicina e isoniazida. Para maiores de 10 (dez) anos, o tratamento é feito com 4 (quatro)
meses de rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol (esquema RIPE), seguido de rifampicina
e isoniazida por 6 (seis) meses.
Em 86,7% dos casos não houve complicações e em 13,3% não foram informados (Gráfico 10).
Página 95
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Gráfico 10 – Distribuição de complicações relacionadas ao
tratamento dos casos atendidos por tuberculose em crianças e
adolescentes, Teresina – Piauí, janeiro de 2008 a março de 2013
26
30
20
4
10
0
Não
Não informa
Fonte: Dados da pesquisa (2014)
4 CONCLUSÃO
A tuberculose ocorre em diferentes proporções em todo o mundo e é a doença infecciosa mais
comum da espécie humana. Aproximadamente, um terço da população mundial apresenta-se
infectada com o bacilo de Koch.
A tuberculose em crianças é de difícil diagnostico, pelo fato das lesões pulmonares em geral,
serem não cavitárias e, portanto, com baixa população de bacilos, além do contratempo na obtenção
de amostras para exame escarro, dificultando assim a confirmação bacteriológica.
Neste sentido, através dos dados obtidos relativos à patologia em crianças e adolescentes, pôde
ser identificado que os casos notificados no Estado são provenientes do interior do Piauí e da capital,
não havendo diferença significativa nos indicando que os fatores de risco podem ser encontrados em
ambos.
Constatou-se que, a predominância dos casos acometidos foram do gênero masculino, na faixa
etária de 0 a 9 anos, sendo este dado explicado devido às crianças ficarem mais tempo em contato
com adultos bacilíferos do qual são totalmente dependentes, via de regra.
Foi possível identificar que a vacinação com BCG intradérmico é eficaz contra formas graves
da doença como meningoencefalite e miliar. O fato da maioria dos indivíduos da pesquisa ser
vacinados com BCG explica o não aparecimento das formas graves. Diferentemente da literatura,
houve um predomínio da forma pulmonar com 55% dos casos, enquanto a forma extrapulmonar
representou 45% dos casos, nesta pesquisa.
Identificou-se que, grande parte dos pacientes que foram tratados de acordo com a
recomendação do Ministério da Saúde com esquema RIP, durante 2 (dois) meses e rifampicina
associado a isoniazida por 4 (quatro) meses não desenvolveram complicações.
Destarte, encerra-se esse trabalho com a compreensão que a tuberculose ainda merece total
atenção da sociedade e dos profissionais de saúde, pois é considerada um agravo em saúde pública,
já que tem grande incidência e vulnerabilidade. Ainda não há perspectiva para erradicá-la como um
problema de saúde pública, mesmo havendo recursos tecnológicos para seu controle.
Página 96
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz. Controle da tuberculose: uma proposta
de integração ensinoserviço. 6ª edição. Rio de Janeiro, RJ, 2008.
BRASIL.Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância
Epidemiológica. Guia de bolso. Brasília, DF, 2010.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância
Epidemiológica. Manual de recomendações para o controle da tuberculose no brasil. Brasília,
DF, 2011.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde, Departamento de Atenção Básica.
Manual técnico para o controle da tuberculose: cadernos de atenção básica. Brasília, DF, 2002.
HIJJAR et al, M. A. Epidemiologia da tuberculose: importância no mundo, no Brasil e no Rio
de Janeiro. Revista Pulmão RJ, v. 14, n. 4. 2005.
MATOS, T.P.; KRITSKI, A.L. ; NETTO, A.R. Aspectos epidemiológicos da tuberculose em
crianças e adolescentes no Rio de Janeiro. Jornal de Pediatria, v. 88, n. 4, jul/ago. 2012.
SANT'ANNA, C. C. et al. Diagnóstico e terapêutica da tuberculose infantil – uma visão
atualizada de um antigo problema. Jornal de Pediatria, v. 78, n. 2, novembro. 2002.
SANT'ANNA, C. C. Tuberculose na criança. Jornal de Pediatria, v.74, n. 1, jan/fev.1998.
SANTOS, J.S; BECK, S. T. A coinfecção tuberculose e HIV: um importante desafio. Revista
brasileira de análises clínicas. v. 41, n.3, julho/setembro. 2009.
ROSSONI, A.M.O; ROSSONI, M.D, RODRIGUES, C.O . Critérios de Pontuação para
Diagnóstico de Tuberculose em Crianças. Revista Pulmão RJ, v. 22, n. 3. 2013.
SZTAJNBOK, F. R.et al. O desafio da tuberculose na faixa etária pediátrica frente a novas técnicas
diagnósticos. Jornal da Pediatria, v. n.3, maio/junho, 2009.
ZOMBINI, E. V. et al. Clinical and epidemiological profile of tuberculosis in childhood and
adolescence. Journal of Human Growth and Development, v.23, n. 1. 2013.
Página 97
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
PERFIL DOS PACIENTES DIAGNOSTICADOS COM MENINGITE NA CIDADE DE
TERESINA –PI
PROFILE OF PATIENTS DIAGNOSED WITH MENINGITIS IN TERESINA - PI
Fernanda Arias de Almeida ¹,
Paulo Pedro do Nascimento ²,
Paulla Fernanda Bezerra Moura3
Larissa Cristina Teixeira Furtado Leite4
RESUMO
O termo meningite refere-se a um processo inflamatório das meninges, de origem infecciosa ou não
infecciosa. As de origem infecciosa são as mais comuns e tem, principalmente, como agente
etiológico as bactérias, fungos ou vírus, e estas constituem um problema de saúde pública nacional e
mundial, por sua capacidade de produzir surtos, sendo necessária a notificação compulsória pelo
serviço de saúde. Com o objetivo de conhecer o perfil dos pacientes diagnosticados com meningite,
através do exame de líquor, foram analisados, retrospectivamente , todos os prontuários dos pacientes
diagnosticados com meningite no Hospital de Referência em doenças tropicais na cidade de Teresina
- Piauí, durante o período de Janeiro à Dezembro de 2013. Como resultados obteve-se 138 resultados
positivos para meningite, 73 (52,9%) meningite inespecífica, 37 (26,8%) meningite bacteriana, 24
(17,4%) meningite viral, 03 (2,2%) meningite fúngica e 01 (0,7%) meningite não infecciosa. A
maioria eram do gênero masculino (62,9%), residiam em Teresina (34,8%) e faixa etária de 12 a 30
anos (28,3%). O isolamento do microorganismo em cultura possibilitou a identificação da etiologia
dos casos de meningite bacteriana em apenas 2 (12%) amostras do líquor. Já a imunologia pelo látex
permitiu a identificação de 12 (70,59%) casos e a bacterioscopia 3 (17,64%) casos. As dosagens
bioquímicas (glicose, cloretos e proteínas) e citológicas (contagem total e diferencial de leucócitos)
foram bastante útil para o fechamento dos casos de meningite. Com a realização do estudo, pôde-se
concluir que é preciso uma atenção para a coleta, transporte e armazenamento da amostra do líquor,
além da necessidade de melhorar os procedimentos técnicos de rotina laboratorial.
Palavras-chave: Meningite. Agente etiológico. Líquor.
ABSTRACT
The term Meningitis refers to an inflammatory process of the meninges, an infectious or noninfectious origin. The infectious meningitis is the most common one whose etiologic agents are
mainly bacteria, fungi or viruses. They are a national and global public health, for their ability to
cause outbreaks, which makes it necessary the mandatory report by the health service. This research
aims to understand the profile of patients diagnosed with meningitis. Through the cerebrospinal
__________
¹, 3Aluna do Curso de Farmácia da Faculdade Integral Diferencial – FACID/DeVry
Email1: [email protected]
Email3: [email protected]
² Professor do Curso de Farmácia da FACID, Mestrado em Farmacologia Clínica
Email: [email protected]
4
Bacharel em Farmácia pela FACID/DeVry
Página 98
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
fluid test, we analyzed, retrospectively, the medical records of all patients diagnosed with meningitis
at Hospital de Referência em doenças tropicais in the city of Teresina - Piauí, from January to
December 2013. We obtained 138 results positive for meningitis, 73 (52.9%) nonspecific meningitis,
37 (26.8%) bacterial meningitis, 24 (17.4%) viral meningitis, 03 (2 , 2%) fungal meningitis and 01
(0.7%) non-infectious meningitis. Most of patients were male (62.9%), living in Teresina (34.8%)
and aged 12-30 years (28.3%). The isolation of the microorganism in culture allowed the
identification of the etiology of bacterial meningitis in only 2 (12%) of the CSF samples. However,
the latex Immunology by latex allowed the identification of 12 (70.59%) cases and bacterioscopy
test, 3 (17.64%) cases. Biochemical (glucose, chlorides and proteins) and cytological (total and
differential leukocyte counts) testing were quite helpful for the closure of the meningitis cases. In the
study, we concluded that we need attention for the collection, transportation and storage of the
cerebrospinal fluid sample, and also the need to improve the laboratory routine for technical
procedures.
Keywords: Meningitis. Etiologic agent. Cerebrospinal fluid.
1 INTRODUÇÃO
O termo meningite refere-se a um processo inflamatório das meninges, de origem infecciosa ou
não infecciosa. As de origem infecciosa são as mais comuns e tem, principalmente, como agente
etiológico as bactérias, fungos ou vírus. As meningites não infecciosas são causadas por traumas,
tumores.
As meningites têm distribuição mundial e sua expressão epidemiológica depende de vários
fatores, como por exemplo: o agente infeccioso, a existência de aglomerados populacionais,
características socioeconômicas dos grupos populacionais e clima (BRASIL, 2009).
O líquido cefalorraquidiano (LCR) ou líquor é um fluido biológico, que envolve o cérebro e a
medula espinhal. Esse líquido apresenta diversas funções, entre elas, o fornecimento de nutrientes
essenciais para o tecido nervoso, a remoção de produtos da atividade neuronal do Sistema Nervoso
Central (SNC) e a proteção mecânica tanto ao cérebro como à medula espinhal contra traumas
(COMAR et al., 2009).
O diagnóstico laboratorial dos casos suspeitos de meningite é realizado através do estudo do
liquor, sangue e raspado de lesões petequiais. Na avaliação dos parâmetros do líquor incluem:
contagem global e diferencial de leucócitos, dosagens de glicose, proteínas, cloretos, bacterioscopia,
cultura (BRASIL, 2009).
O exame do líquor é o teste de laboratório mais importante para o diagnóstico de meningite.
Este permite determinar: a intensidade do processo inflamatório, agente etiológico, anticorpos
específicos, os quais informam indiretamente a etiologia da infecção (FOCACCIA, 2005).
Meningites são doenças potencialmente graves. Algumas etiologias podem determinar quadros
fulminantes, com óbito em poucas horas. A identificação do agente etiológico das meningites é de
suma importância, pois a gravidade da doença, o comportamento epidemiológico e o tratamento
específico estão ligados diretamente ao agente. Visto que as meningites infecciosas constituem um
problema de saúde pública nacional e mundial, por sua capacidade de produzir surtos, sendo
necessária a notificação compulsória pelo serviço de saúde (LOPES, 2010).
O estudo da meningite é importante, especialmente nos países em desenvolvimento, devido a
diversos fatores, como o potencial epidêmico, a alta morbimortalidade, os altos gastos no tratamento,
e a frequência de sequelas (FREITAS, 2007).
Diante das considerações, surgiu o seguinte problema da pesquisa: Qual o perfil dos pacientes
diagnosticados com meningite no Hospital de Referência em doenças tropicais, Teresina-PI?
Tendo como objetivo geral avaliar o perfil dos pacientes diagnosticados com meningites no
Hospital de Referência em doenças tropicais, Teresina-PI. E objetivos específicos: Caracterizar os
tipos de meningite pelas dosagens bioquímicas (glicose, cloretos e proteínas), citológicas (contagem
Página 99
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
total e diferencial de leucócitos); Identificar o agente etiológico causador da meningite através de
bacterioscopia, cultura e aglutinação pelo látex; Correlacionar as variáveis constitucionais: gênero,
faixa etária, região geográfica e sazonalidade com os tipos de meningite.
2 MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho atendeu todos os requisitos da Resolução nº 466/12 que trata da participação
de seres humanos em pesquisas. O projeto foi submetido à Plataforma Brasil e encaminhado ao CEP
da FACID/DeVry para apreciação e parecer. Foi aprovado pela Plataforma com o número do parecer:
25762214.8.0000.5211 e posteriormente o projeto foi inicado.
O trabalho foi realizado e tratou-se de uma pesquisa de estudo restrospectivo, observacional,
descritivo, quantitativo e analítico, com a análise direta de prontuários internados no período de
janeiro à dezembro de 2013 no Hospital de Referência em doenças tropicais. A coleta dos dados
foram feitas em março à julho de 2014.
Os pacientes incluídos no estudo foram todos os diagnosticados com meningite no Hospital de
Referência em doenças tropicais, Teresina-PI, e que foram submetidos ao exame do líquor. Este
Hospital é o segundo maior do Brasil, em capacidade de atendimento à pacientes com doenças
infectocontagiosas. O Ministério da Saúde coloca este Hospital como um dos melhores de referência
em Medicina Tropical das regiões Norte e Nordeste.
Foram analisados todos os prontuários de pacientes internados com diagnóstico de meningite
através do exame do líquor. Em seguida, foram coletados todos os resultados disponíveis dos exames
bioquímicos (glicose, cloreto e proteínas), citológicos (contagem total e diferencial de leucócitos) e
microbiológicos (bacterioscopia e cultura) do líquor. Apenas a primeira amostra do líquor de cada
paciente foi considerada.
Foram considerados variáveis demográficas (gênero e idade), região geográfica e sazonalidade.
Em relação a idade os pacientes foram divididos: 0 – 28 dias, 29 dias – 3 meses, 3 meses – 5 anos, 5
– 12 anos, 12 – 30 anos, 30 – 65 anos e acima de 65 anos. A sazonalidade será dividida em período
chuvoso (para verão) e seco (inverno). As informações foram anotadas de acordo com o Instrumento
de Avaliação.
Os resultados foram trasportados para uma planilha de Excel versão 2010 e analisados por meio
de estatística descritiva (média, desvio padrão). Os resultados foram apresentados na forma de
gráficos e tabelas.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na análise foram utilizadas variáveis, que foram divididas em dois grupos: As variáveis
relacionadas ao paciente (frequência das meningites, etiologia das meningites, gênero, distribuição
geográfica, faixa etária, sazonalidade) e características do líquor (citológicas, bioquímicas).
Foram identificados 303 pacientes diagnosticados com meningite no Hospital de Referência em
doenças tropicais, Teresina-PI, de janeiro a dezembro de 2013, porém devido as dificuldades do
SAME (Serviços de Arquivo Médico e Estatísticas) nem todos os prontuários foram encontrados,
desde total de pacientes identificados foram encontrados 140 prontuários (46,2%), no entanto dois
prontuários foram desconsiderados pois no diagnóstico não confirmava meningite.
De acordo com o Gráfico 1 pode-se perceber que dos 138 resultados positivos para meningite,
foram 73 (52,9%) meningite inespecífica, 37 (26,8%) meningite bacteriana, 24 (17,4%) meningite
viral, 03 (2,2%) meningite fúngica e 01 (0,7%) meningite não infecciosa.
Página 100
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Gráfico 1 - Distribuição da frequência dos tipos de meningites registradas no Hospital de
Referência em doenças tropicais, Teresina, 2014
80
número de casos
70
60
73
50
40
30
37
20
24
10
3
1
Fúngica
Não
infecciosa
0
Inespecifica
Bacteriana
Viral
Tipos de meningite
Fonte: Dados da pesquisa (2014)
De acordo com Freitas (2007) e Piauí (2009) as meningites virais constituem a etiologia
predominante de meningites. Os casos podem ocorrer isoladamente, embora um aglomerado de casos
(surtos) seja comum. Entre 2003 e 2008, foram notificados 2.448 casos de meningite no Piauí, 1.864
deles (76%) confirmados, sendo 482 (26%) casos de meningite bacteriana, 890 (48%) meningite
asséptica, 419 (22%) meningite não especificada e 73 (4%) meningite de outra etiologia.
Porém na pesquisa realizada predominou-se a meningite inespecífica, diferente do que relata a
literatura, este fato pode ter ocorrido pois no laboratório não se faz a identificação viral, pois esta
técnica é cara e precisa de laboratório especializado.
O Gráfico 2 mostra que dos 37 pacientes com meningite bacteriana 08 casos tiveram como
agente etiológico Neisseria meningitidis, 08 casos Streptcoccus pneumoniae, 01 paciente teve
meningite bacteriana por Klebsiella e 20 não foram identificados a etiologia da meningite, no entanto,
por causa da condição clínica do paciente, alterações de celularidade e dosagens bioquímicas obtevese o diagnóstico presuntivo de meningite bacteriana
Gráfico 2 - Etiologia da meningite bacteriana registrados no Hospital de Referência em
doenças tropicais, Teresina, 2014
3%
21%
N. meningitidis
S. pneumoniae
55%
Não identificados
21%
Klebsiella
Fonte: Dados da pesquisa (2014)
Página 101
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Os trabalhos de Brasil (2009) e Brasil (2011) demonstraram que N. meningitidis é a principal
bactéria causadora de meningite, responsável por aproximadamente 3 mil casos por ano no Brasil.
Tem distribuição mundial e potencial de ocasionar epidemias, os surtos estão relacionadas a esta
etiologia. O pneumococo é a segunda maior causa de meningite bacteriana no Brasil, ocorrendo em
média 1.100 casos de meningite pneumocócica por ano. Os dados apresentados no gráfico 2
concordam com a literatura consultada.
A DM é a meningite de maior importância para a saúde pública, por se apresentar sob a forma
de epidemias que podem durar de 2 a 5 anos. Tem distribuição universal e os casos ocorrem durante
todo o ano (forma endêmica) (BRASIL, 2010).
De todos os prontuários do estudo percebeu-se que os casos de meningite viral não tiveram o
seu agente etiológico isolado, devido o serviço de referência não possuir tal estrutura laboratorial. No
entanto, os três casos de meningite fúngica contabilizados no estudo apresentaram como agente
etiológico o Cryptococus neoformans.
A evolução da doença fornece a indicação da etiologia, pois na meningite viral as manifestações
agudas são observadas em poucas horas, na meningite bacteriana de horas a um dia e na meningite
fúngica ou tuberculosa de dias a duas semanas (BRASIL, 2010; DAVIS, 2003).
O diagnóstico da etiologia dos casos de meningite é muito importante para o tratamento do
paciente, para a vigilância epidemiológica. Desta forma diminui os números de óbitos e as
deficiências neurológicas que podem ser prevenidas pelo diagnóstico rápido e preciso com tratamento
imediato (NAGARATHNA; VEENAKUMARI; CHANDRANUKI, 201-?).
No entanto esse diagnóstico algumas vezes é difícil de ser estabelecido, isso se deve a alguns
fatores, como o uso prévio de antimicrobianos, a técnica da amostra puncionada, a necessidade de
melhorar a estrutura e os procedimentos no laboratório (SURINDER; BINEETA; MEGHA, 2007).
Pode-se obrservar que a meningite é mais frequente nos homens (52%) do que nas mulheres
(48%). A literatura diz que o predomínio masculino é evidente e surge a hipótese de uma
suscetibilidade de base genética, o que torna o sexo masculino mais vulnerável a infecção (FREITAS,
2007).
No trabalho de Freitas (2007) em que foram avaliados 1411 casos de meningite observou-se
ocorrência predominante no gênero masculino (62,9%), o que demontra que este gênero é mais
afetado no diagnóstico de meningite. Dados estes, que corroboram com o presente trabalho.
Observa-se na Tabela 1 que a maioria dos pacientes 63 (43,7%) diagnosticados com meningite
moravam em Teresina. 48 (34,8%) residiam em outros municípios do Piauí 48 (34,8%), e o restante
27 (19,6%) eram oriundos de outros estados, destacando-se o Maranhão. Este fato se deve por
Teresina se destacar como referência em serviços de saúde, o que atrai pacientes dos mais distantes
Estados da Federação e até de outros países.
Tabela 1 - Distribuição do quadro clínico de pacientes diagnosticados com meningite no
Hospital de Referência em doenças tropicais segundo a região geográfica, Teresina, 2014
Distribuição
geográfica
Teresina
Municípios
do Piauí
Outros
Estados
Total
MI
f (%)
29 (21,0)
23 (16,7)
MB
f (%)
16 (11,6)
16 (11,6)
MV
f (%)
16 (11,6)
7 (5,1)
MF
f (%)
2 (1,4)
1 (0,7)
MNI
f (%)
0 (0,0)
1 (0,7)
Total
f (%)
63 (43,7)
48 (34,8)
21 (15,2)
5 (3,6)
1 (0,7)
0 (0,0)
0 (0,0)
27 (19,6)
73 (52,9)
37 (26,8)
24 (17,4)
3 (2,1)
1 (0,7)
138 (100,0)
Fonte: Dados da pesquisa (2014)
Legenda: MI: Meningite inespecífica; MB: Meningite bacteriana; MV: Meningite viral; MF: Meningite fúngica; MNI:
Meningite não-infecciosa.
Página 102
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Levando-se em conta a faixa etária, os perfis etários predominantes foram os que estavam entre
12 a 30 anos e de 5 a 12 anos, com um total de 39 (28,3%) e 34 (24,6%) dos pacientes respectivamente,
como pode ser observado na tabela 2.
A meningite inespecífica teve a maioria dos pacientes com idade de 5 a 12 anos (15,2%). A
meningite bacteriana, viral e fúngica tiveram a maioria dos pacientes com idade de 12 a 30 anos,
respectivamente com 12 (8,7%), 9 (6,5%) e 2 (1,4%).
Tabela 2 - Distribuição do quadro clínico de pacientes diagnosticados com meningite no
Hospital de Referência em doenças tropicais segundo a faixa etária, Teresina, 2014
Faixa etária
MI
f (%)
MB
f (%)
MV
f (%)
MF
f (%)
MNI
f (%)
Total
f (%)
0 – 28 dias
0 (0,0)
0 (0,0)
0 (0,0)
0 (0,0)
0 (0,0)
0 (0,0)
29 dias – 3
meses
2 (1,4)
1 (0,7)
0 (0,0)
0 (0,0)
0 (0,0)
3 (2,2)
3 meses – 5
anos
16 (11,6)
10 (7,2)
6 (4,3)
0 (0,0)
0 (0,0)
32 (23,2)
5 – 12 anos
21 (15,2)
6 (4,3)
6 (4,3)
1 (0,7)
0 (0,0)
34 (24,6)
12 – 30
anos
16 (11,6)
12 (8,7)
9 (6,5)
2 (1,4)
0 (0,0)
39 (28,3)
30 – 65
anos
17 (12,3)
6 (4,3)
3 (2,2)
0 (0,0)
1 (0,7)
27 (19,6)
Acima de
65 anos
1 (0,7)
2 (1,4)
0 (0,0)
0 (0,0)
0 (0,0)
3 (2,2)
Total
73 (52,8)
37 (26,8)
24 (17,4)
3 (2,2)
1 (0,7)
138 (100)
Fonte: Dados da pesquisa (2014)
Legenda: MI: Meningite inespecífica; MB: Meningite bacteriana; MV: Meningite viral; MF: Meningite fúngica; MNI:
Meningite não-infecciosa.
Não teve nenhum paciente diagnosticado com meningite na idade de 0 a 28 dias, o que coincide
com a literatura, relatando que os neonatos raramente adoecem, em virtude da proteção conferida
pelos anticorpos maternos, sendo que esta imunidade vai declinando até os três meses de idade, com
o conseqüente aumento da susceptibilidade (MANTESE et al., 2002).
No Brasil, à semelhança de outros países em desenvolvimento, a meningite bacteriana acomete
indivíduos de todas as faixas etárias, porém ocorre com grande freqüência e atinge em maior número
crianças de menos idade. O grupo de menores de cinco anos é o mais vulnerável, especialmente
aqueles abaixo de um ano, porém a partir dos 5 anos a resistência adquirida fará com que esse índice
baixe. Durante epidemia, observam-se mudanças nas faixas etárias afetadas, com aumento de casos
entre adolescentes e adultos jovens (MANTESE et al., 2002; SANTOS, 2007; BRASIL, 2009;
BRASIL, 2011). O que contradiz com o trabalho, pois neste foi detectado que a maioria dos pacientes
com meningite bacteriana tinha de 12 a 30 anos, isto pode ter ocorrido devido à queda de imunidade
dos pacientes ou porque houve uma epidemia.
Página 103
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
A etiologia das meningites bacterianas varia segundo a idade dos pacientes. A partir do terceiro
mês até os cinco anos os patógenos mais frequentes são S. pneumoniae e N. meningitidis. Em crianças
maiores de cinco anos, adolescentes e adultos jovens, os agentes mais comuns são N. meningitidis e
S. pneumoniae; e no idoso S. pneumoniae e L. monocytogenes (LOPES, 2010).
Aproximadamente 40% da meningite causada por N. meningitidis ocorrem em crianças
menores de 5 anos, com incidência de 07 casos/100 mil habitantes. Entre os menores de 1 ano, a
incidência é de 13 casos/100 mil habitantes. Em 2010, a vacina contra o meningococo do sorogrupo
C foi disponibilizada no calendário de vacinação da criança para os menores de 2 anos. Após a
introdução da vacina, observou-se uma redução de 29% no número de casos de DM para a faixa etária
de crianças com 2 anos ou menos (BRASIL, 2011).
As crianças de até 2 anos de idade são as mais afetadas pela doença pneumocócica, com
incidência de 3,5 casos/ 100 mil habitantes. Em 2010, a vacina conjugada 10 – valente, que protege
contra 10 sorotipos do pneumococo, foi disponibilizada no calendário de vacinação da criança para
estas com 2 anos ou menos. Em 2011, observa-se redução de 30% no número de casos de meningite
pneumocócica para crianças dessa mesma faixa etária (BRASIL, 2011).
Segundo Santos (2007) as meningites virais acometem qualquer idade, com freqüência máxima
na infância, entre 5 e 10 anos e são raras após os 40 anos. O que contradiz com a pesquisa realizada,
pois a maioria dos pacientes tinham idade de 12 a 30 anos na meningite viral.
A meningite fúngica geralmente, acomete adultos e é duas vezes mais frequente no gênero
masculino. A suscetibilidade aumenta com o uso prolongado de glicocorticosteróides, na vigência da
AIDS, Hodgkin e sarcoidose. Os resultados são concordantes com a literatura pois a maioria dos
casos tinha idade acima de 25 anos (BRASIL, 2010).
De acordo com o Gráfico 3 pode-se observar que a meningite inespecífica é a mais frequente
em todos os trimestres. No entanto, a meningite não especificada, bacteriana, viral e fúngica tiveram
mais pacientes diagnosticados no último trimestre do ano com 26, 20, 13 e 02 pacientes
respectivamente.
Gráfico 3 - Número de casos de meningite dividos por trimestre de acordo com os pacientes
diagnosticados com meningite no Hospital de Referência em doenças tropicais, Teresina, 2014
NÚMERO DE CASOS
26
23
20
16
15
13
8
8
0
0
0
0
JANEIRO - MARÇO
2
3
0
ABRIL - JUNHO
0
1
1
JULHO - SETEMBRO
2
0
OUTUBRO - DEZEMBRO
MESES/2013
Meningite inespecifica
Meningite bacteriana
Meningite fungica
Meningite nã0-infecciosa
Meningite viral
Fonte: Dados da pesquisa (2014)
Página 104
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Em países tropicais as condições geo-climáticas favorecem a presença de meningites, que
podem se apresentar como casos esporádicos ou picos epidêmicos. De modo geral, a sazonalidade da
doença caracteriza-se pelo predomínio das meningites bacterianas no inverno e das meningites virais
no verão (LOPES, 2010).
Os dados acima apresentam um viés muito importante a ser esclarecido, visto que, não se pode
afirmar qual o tipo de meningite predominou em cada trimestre, pois nem todos os prontuários
existentes no Hospital de Referência em doenças tropicais foram encontrados e disponibilizados para
este estudo. Mas proporcionalmente os dois últimos trimestres refletem bem a amostra investigada,
visto que, de um total de 65 prontuários do terceiro trimestre foram encontrados somente 48, ao passo
que o quarto trimestre teve uma representatividade maior, pois foram encontrados 61 prontuários.
Deve-se ressaltar que baseado nos dados dos prontuários disponibilizados não se pode afirmar
qual meningite realmente predomina considerando a sazonalidade no Estado do Paiuí.
A meningite viral tem distribuição mundial e potencial de ocasionar epidemias, principalmente
relacionadas a Enterovírus. Sua frequência aumenta no final do verão e começo do outono. Nas
infecções primárias, o citomegalovírus, o vírus Epstein Barr (EB) e os arbovírus são responsáveis por
5% a 10% dos casos de meningite (BRASIL, 2010; SANTOS, 2007).
Para a identificação da etiologia da meningite bacteriana, utilizou-se três parâmetros: cultura,
aglutinação pelo látex e bacterioscopia. Sendo escolhido o mais específico possível para a
identificação do agente etiológico. Quando se obteve vários resultados de exames disponíveis e foi
positivo, considerou-se uma ordem de prioridade, por especificidade: cultura, aglutinação pelo látex
e bacterioscopia.
Lembrando que dos 37 casos de meningite bacteriana, apenas 17 casos tiveram sua etiologia
determinada. O isolamento do microorganismo em cultura possibilitou a identificação da etiologia
dos casos de meningite bacteriana em apenas 2 (12%) amostras do líquor. Já a imunologia pelo látex
permitiu a identificação de 12 (70,59%) casos e a bacterioscopia 3 (17,64%) casos.
O método imunológico foi responsável pela identificação de 5 casos de N. meningitidis e 7
casos de S. pneumoniae, a bacterioscopia identificou 2 casos de N. meningitidis e 1 de S. pneumoniae,
e a cultura teve como resultado 1 caso de N. meningitidis e 1 de Klebsiella.
A meningite fúngica teve sua etiologia determinada nos seus 3 casos pelo método da Tinta da
China, o qual foi detectada o Cryptococus neoformans. Essa técnica é consagrada para o diagnóstico
das meningites criptocócicas.
De acordo com o trabalho de Lopes (2010), a cultura foi responsável pela definição do agente
etiológico bacteriano em apenas 20,6% dos casos, sendo que foram confirmados 354 casos de
meningite bacteriano. O que condiz com o trabalho realizado, pois a cultura não identificou a maioria
da etiologia, isso pode ter sido ocasionado por alguns fatores tais como: coleta, armazenamento e
transporte inadequado da amostra de líquor e dificuldades técnico operacionais dos próprios
laboratórios, pois os exames microbiológicos foram realizados em um laboratório terceirizado devido
reformas estruturais no laboratório de microbiologia do referido Hospital, o que proporciona o
aumento do número de interferentes para a realização desses testes.
Outro motivo que pode interferir na positividade da cultura é o uso de antimicrobianos antes da
coleta, pois a estrutura celular bacteriana pode ainda estar preservada, possibilitando a visualização
na bacterioscopia pelo método de Gram, mas o comprometimento metabólico não favorece mais a
multiplicação celular e o cultivo é negativo.
A cultura (padrão ouro) de líquor é um importante recurso laboratorial para o diagnóstico
etiológico das meningites. A cultura é um exame com alto grau de especificidade e sensibilidade e
pode conduzir ao esclarecimento do agente etiológico ao nível de espécie, mesmo havendo um
pequeno número de microrganismos (BRASIL, 2009; MANTESE et al, 2002).
A detecção de antígenos bacterianos solúveis no líquor é considerada uma ferramenta rápida e
extremamente útil para o diagnóstico laboratorial, com importantes vantagens clínicas, boa
sensibilidade e especificidade, rapidez na realização e liberação dos resultados e, por prescindir da
Página 105
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
presença da bactéria viável, pode permanecer positiva por dias após o início da antibioticoterapia
(BRASIL, 2009; LOPES, 2012; MANTESE et al, 2002).
A técnica de bacterioscopia é de execução relativamente simples e rápida, e de grande valor
diagnóstico pois permite uma identificação presuntiva do agente etiológico, capaz de auxiliar na
orientação da antibioticoterapia empírica inicial (FOCACCIA, 2005).
A amostra coletada deve chegar ao laboratório o mais rápido possível, no máximo em 2 horas,
pois, após esse tempo, podem ocorrer degradação e/ou alterações morfológicas de hemácias,
leucócitos e outros tipos celulares, diminuição da glicose, aumento de concentração das proteínas e
de bactérias (COMAR et al, 2009).
A contagem diferencial de leucócitos é uma etapa fundamental da análise laboratorial, pois,
conforme a linhagem celular predominante nessa contagem, estabelece-se uma conduta terapêutica
adequada, de acordo com o significado clínico do resultado (COMAR et al, 2009).
Na Tabela 3 observa-se que a meningite inespecífica obteve – se a média de leucócitos de
733,73 cel/mm3 e Polimorfonucleares (PMN) de 24%. A meningite bacteriana teve a média de
leucócitos de 2742,19 cel/mm3 e PMN de 47%. Na meningite viral observou-se a média de leucócitos
de 136,41 cel/mm3 e PMN de 22%. Já a meningite fúngica teve a média de leucócitos de 53 cel/mm3
e PMN de 4%.
Tabela 3 - Distribuição dos tipos de meningite de acordo com as caraceterísticas citológicas do
líquor no Hospital de Referência em doenças tropicias, Teresina, 2014
Tipo de
Leucócitos
PMN
MN
meningite
(cel/mm3)
(%/mm3)
(%/mm3)
M
DP
M
DP
M
DP
MI
733,73
58,68
24%
0,08
76%
0,08
MB
2742,19
558,61
47%
0,49
53%
0,49
MV
136,41
328,09
22%
0,06
78%
0,06
MF
53,00
4,24
4%
0,05
96%
0,06
MNI
992,00
0,00
80%
0,00
20%
0,00
Fonte: Dados da pesquisa (2014)
Legenda: MI: Meningite inespecífica; MB: Meningite bacteriana; MV: Meningite viral; MF: Meningite fúngica; MNI:
Meningite não-infecciosa; M: média; DP: desvio padrão; PMN: polimorfonucleares; MN: mononucleares.
De acordo com Lopes (2010) e Brasil (2010) é relatado que a meningite bacteriana com relação
aos parâmetros citológicos ocorre uma pleocitose elevada, acima de 1000 células/mm3, com
predomínio de PMN. No trabalho realizado houve uma pleocitose elevada, porém não teve
predomínio de PMN, este fato se explica porque o exame pode ter sido realizado no início da doença,
e neste momento há predominância de mononucleares (MN).
Relatos na literatura informam que o líquor nas meningites virais apresentam baixa
celularidade, um número inferior a 500 cel/mm3, e predomínio de MN. O que condiz com os dados
obtidos na pesquisa (SANTOS, 2007; FREITAS, 2007).
No trabalho de Batista, Souza, Sacramento (2013) foram identificados 47 pacientes com
meningite criptocócica, evidenciando uma celularidade média de 204,66 cel/mm3 e predominância
de MN em 78% das amostras, o que comprova os relatos da literatura que informam que o líquor na
meningite fúngica tem celularidade acima de 10 cel/mm3 e predomínio de MN, e dados semelhantes
foram encontradas nesta pesquisa.
A meningite é considerada inespecífica quando os dados da ficha epidemiológica resumem-se
em: sinais e sintomas compatíveis com a definição de caso de meningite e/ou somente celularidade
alterada (porém, menor do que 4.000 células). Quando não é possível concluir pela provável etiologia
(bacteriana ou viral) mesmo com o resultado do quimiocitológico do líquor (SANTOS, 2007).
Verificou-se que a média dos valores das dosagens de proteína, glicose e cloro das meningite
inespecífica, bacteriana, viral e fúngica foram respectivamente: 62,73 mg/dl, 57,28 mg/dl e 113
Página 106
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
mEq/L; 107,96 mg/dl, 46,77 mg/dl e 122,61 mEq/L; 60,62 mg/dl; 65,37 mg/dl e 113 mEq/L; 79
mg/dl, 53,50 mg/dl e 109,00 mEq/L.
Na literatura é relatado que na meningite bacteriana o nível da proteína geralmente está elevado
(> 100 mg%), o de glicose baixo (< 50 mg%). Dados que corroboram com a pesquisa realizada
(FREITAS, 2007).
Na meningite viral é descrito que a proteína é normal ou ligeiramente elevada, e a glicose
mantém dentro dos níveis da normalidade e há pesquisa negativa de bactérias e fungos. Este estudo
confirma esses dados (SANTOS, 2007).
O exame bioquímico do líquor mostrou resultados semelhantes com a literatura para a
meningite fúngica, em que são encontrados glicose e proteína normal.
A dosagem de cloretos no líquor vem sendo muito discutida, inclusive dentro do próprio serviço
de saúde onde este estudo foi realizado, devido a pouca relevância clínica que o valor desse teste vem
oferecendo no diagnóstico diferencial das meningites.
4 CONCLUSÃO
Quanto ao perfil dos pacientes diagnosticados com meningite no Hospital de Referência em
doenças tropicais, pôde-se observar que a maioria dos casos de meningite houve uma indeterminação
etiológica, havendo dificuldades no fechamento dos casos e, consequentemente, falhas nas
notificações e vigilância epidemiológica.
A maioria dos pacientes eram do sexo masculino, tinham a faixa etária de 12 a 30 anos. Houve
pacientes provenientes de Teresina, municípios do Piauí e outros Estados, porém se destacaram os de
Teresina.
De acordo com os prontuários disponibilizados não se pode afirmar qual meningite realmente
predomina a sazonalidade no Estado do Paiuí, pois 163 prontuários não foram encontrados em virtude
do grande volume de trabalho do setor específico.
A cultura (padrão ouro), principal método utilizado para identificar a etiologia da meningite
bacteriana, teve pouco presença na pesquisa. O mais utilizado para a identificação do agente
etiológico foi o método de imunologia pelo látex.
Os exames citológicos e bioquímicos do líquor foram bastante útil para o fechamento dos casos
de meningite, já que a maioria não teve sua etiologia determinada.
Com a realização do estudo, pôde-se concluir que é preciso refletir sobre a realidade com a qual
os hospitais públicos de referência tem-se deparado. É preciso uma atenção para a coleta, transporte
e armazenamento da amostra do líquor, além da necessidade de melhorar os procedimentos técnicos
de rotina laboratorial.
REFERÊNCIAS
BRASIL.. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância
Epidemiológica. Guia de vigilância epidemiológica. 7. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2009.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância
Epidemiológica. Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso. 8 ed. rev. Brasília: Ministério da
Saúde, 2010.
BRASIL. Ministério da Sáude. Secretaria de Vigilância em Saúde. Análise da situação das doenças
transmissíveis no Brasil no período de 2000 a 2010. Ministério da Saúde, 2011
COMAR et al. Análise citológica do líquido cefalorraquidiano. Estud Biol, p.93-102, jan/dez, 2009.
Página 107
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
DAVIS, L. E. Infecções do Sistema Nervoso Central. In: WEINER, W. J.; GOETZ, C. G. Neurologia
para o não-especialista. 4. ed. São Paulo: Santos, 2003, p. 397-401.
FOCACCIA, R. Tratado de infectologia. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2005.
FREITAS, C.A.P. Estudo da ocorrência de meningites não meningocócicas no município de
Ribeirão Preto – SP, no período de 1998 a 2005, 2007. 66 f. Dissertação (Área de Concentração:
Saúde da Comunidade, Departamento de Medicina Social) – Faculdade de Medicina de Ribeirão
Preto da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2007. Disponível em:
file:///C:/Users/Fernanda/Downloads/tese%20(2).pdf. Acesso em: 22/10/14.
LOPES, F.A. Avaliação de parâmetros liquóricos utilizados no diagnóstico de meningites
bacterianas em hospitais de grande porte de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, 2005-2008.
2010. 70 f. Dissertação (Mestrado em Doenças Infecciosas e Parasitárias) - Faculdade de Medicina
“Doutor Hélio Mandetta, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, 2010.
Disponível em: http://www.ppgdip.ufms.br/imgs/f78ae1d402eff8bcda6ecaff8ea1dc21.pdf. Acesso
em: 02/09/2013.
MANTESE et al. Perfil etiológico das meningites bacterianas em crianças. Jornal de Pediatria,
Porto Alegre, v. 78, n. 6, p. 467-474, nov./dez. 2002.
NAGARATHNA S.; VEENAKUMARI H.B; CHANDRANUKI A. Laboratory Diagnosis of
Meningitis. Department of Neuromicrobiology, National Institute of Mental Health and
Neurosciences (NIMHANS), Bengaluru Karnataka, India. [201-?].
PIAUÍ. Ministério da Saúde. Sistema Nacional de Vigilância em Saúde: Relatório de Situação.
Brasília: Ministério da Saúde, 2009.
SANTOS, A.V. Meningites. 2007. 72 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Farmácia)
- Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas, São Paulo, 2007. Disponível em:
http://arquivo.fmu.br/prodisc/farmacia/avs.pdf. Acesso em: 01/10/2013.
SURINDER, K.; BINEETA, K.; MEGHA, M. Latex particle agglutination teste as an adjunct to the
diagnosis of bacterial meningitis. Indian Journal of Medical Microbiology, Bhubaneswar, v. 25,
n. 4, p. 395-397, Oct./Dec. 2007.
Página 108
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
PREVALÊNCIA DOS MARCADORES DAS HEPATITES B E C ATRAVÉS DA
TESTAGEM RÁPIDA EM PACIENTES SOROPOSITIVOS PARA O HIV/AIDS
PREVALENCE OF HEPATITIS B AND C MARKERS THROUGH RAPID TESTING IN
HIV / AIDS SEROPOSITIVE PATIENS
Aline Ferreira da Mata1 ,
Symonara Karina Medeiros Faustino2,
Paulo Pedro do Nascimento3,
Thandara Carvalho Cipriano4,
Carlos Átila Amaral Valentim5
RESUMO
A co-infecção entre o HIV e as hepatites B e C possui os mesmos fatores de transmissão e como
consequência os fatores de risco associados. Os objetivos foram estimar a prevalência da co-infecção
HIV/HBV/HCV em pacientes com HIV/AIDS através da realização de testes rápidos para os
marcadores HBsAg e Anti-HCV, definir o perfil sócio-epidemiológico de todos os pacientes que
aceitaram participar da pesquisa, confirmar os resultados reagentes nos testes rápidos para a HBV
através da realização dos marcadores sorológicos da HBV, confirmar os resultados reagentes para a
HCV através de testes moleculares. O estudo foi composto por 200 pacientes com o HIV/AIDS. A
maioria possuía baixo nível de escolaridade 33,5%, vivia com seus parceiros (as) 41%, trabalhava em
casa como domestica 26,5% e era de pouco poder aquisitivos 59,5%. Para os fatores e exposição de
risco 58% eram heterossexuais, 68% usava às vezes preservativo nas relações sexuais antes da
infecção pelo HIV/AIDS, 21,5% nunca fizeram uso do preservativo antes da infecção, 14,5% recebeu
transfusão de sangue e 1,5% era UDE. A prevalência da co-infecção encontrada HIV/HBV foi 1%,
HIV/HCV 0,5%. Apesar do baixo percentual de co-infectados é de fundamental importância à
pesquisa dos marcadores sorológicos das hepatites virais, pois a presença do vírus da hepatite B e/ou
de hepatite C nos portadores do HIV reveste-se de importância clinica, na medida em que a ocorrência
de tais co-infecções parece favorecer um pior prognostico dos pacientes, bem como interferir nos
critérios da terapêutica aplicada e na qualidade de vida dos pacientes.
Palavras-chave: Hepatite B. Hepatite C. Co-infecção. HIV/AIDS
ABSTRACT
The co-infection between HIV and hepatitis B and C has the same transmission factors and, as a
result, the associated risk factors. The objectives were to estimate the prevalence of co-infection HIV
/ HBV / HCV in patients with HIV / AIDS by carrying out rapid tests for HBsAg and anti-HCV
markers, to set the socio-epidemiological profile of all patients who agreed to take part in the research,
to confirm the positive results in rapid tests for HBV by conducting serological markers of HBV and
also to confirm the positive results for HCV by molecular tests. The study consisted of 200 patients
__________________
Aluna de graduação (10º período) do Curso de Farmácia da Faculdade Integral Diferencial – FACID/DEVRY, Teresina-PI. Email:
[email protected]
2 Professora do Curso de Farmácia da FACID/DEVRY, Mestre em Farmacologia Clinica, Teresina-PI. Email: [email protected]
3 Professor do Curso de Farmácia da FACID/DEVRY, Mestre em Farmacologia Clinica, Teresina-PI.Email: [email protected]
4 Aluna de graduação (10o período) do Curso de Farmácia da Faculdade Integral Diferencial – FACID/DEVRY, Teresina-PI. Email:
[email protected]
5 Aluno de graduação (10° período) do Curso de Farmácia da Faculdade Integral Diferencial – FACID/DEVRY, Teresina-PI.Email:
[email protected]
1
Página 109
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
with HIV / AIDS. Most of them had low level of education 33.5%, lived with their partners 41%,
worked at home as housemaid 26.5%, and had low income 59.5%. For factors and risk exposure 58%
were heterosexual, 68% sometimes used condoms during sexual intercourse before HIV / AIDS,
21.5% had never used a condom before infection, 14.5% received blood transfusion and 1.5% were
ESU. The prevalence of co-infection found HIV / HBV was 1%, HIV / HCV 0.5%. Despite the low
percentage of co-infected patients, the research on serological markers of viral hepatitis, because the
presence of hepatitis B and / or hepatitis C in HIV patients has clinical importance, once the
occurrence of such co-infections seems to favor a worse prognosis of patients as well as interfere with
the criteria of the applied therapy and the patients’ quality of life.
Keywords: Hepatitis B. Hepatitis C. Co-infection. HIV / AIDS
1 INTRODUÇÃO
A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) é uma doença infectocontagiosa, causada
pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), com aspecto crônico e progressivo que é
caracterizada por apresentar, nos estágios finais, infecções oportunistas, neoplasias ou outras doenças
decorrentes do comprometimento do sistema imunológico (SOUZA, 2009).
O vírus da hepatite B (VHB) é a causa principal de hepatopatia crônica no mundo. Dados
epidemiológicos estimam que cerca 400 milhões de pessoas estejam infectadas por este agente
etiológico e que de 14 a 40% desses indivíduos iram desenvolver cirrose, insuficiência cardíaca ou
carcinoma hepatocelular (FERNANDES et al., 2014).Estima-se que a prevalência da coinfecção
HIV/HBV no Brasil é em torno de 5,3% a 24,3% (BELOTO, 2014).
O vírus da hepatite C (VHC) constitui um grave problema de saúde pública devido ao seu
grande potencial de evolução para cirrose e hepatocarcinoma. Segundo a Organização Mundial de
Saúde (OMS) há cerca de 180 milhões de pessoas infectadas no mundo, constituindo a causa mais
comum de doença hepática crônica assim como a mais frequente indicação para transplante hepático
(PICELLI, 2013). No Brasil, estudos realizados em diferentes unidades de saúde e regiões apontam
a taxa de prevalência de co-infecção HIV/HCV em torno de 4% a 16,7% (RODRIGUÊS et al., 2013).
Para efetuar o diagnóstico precoce das hepatites B e C, o ministério da saúde disponibiliza testes
rápidos para triagem, favorecendo o resultado de forma rápida e precisa (BRASIL, 2011). Em se
tratando do diagnóstico do HIV, dispõe-se de testes rápidos qualitativos para a detecção de anticorpos
anti-HIV, os mesmos produzem resultados em, no máximo, 30 minutos (BRASIL, 2010).
Pressupõe-se que a co-infecção de vírus por estas hepatites, em associação com o HIV, poderá
ser encontrada, pois estes compartilham formas parecidas de transmissão, com isto surgiu o seguinte
questionamento: Qual o percentual de pacientes portadores do vírus HIV/AIDS, assistidos em um
Hospital de Referência Estadual de Doença Infectocontagiosas, que apresentam co-infecção com os
vírus das hepatites B e/ou C?
O estudo apresenta como objetivos: Estimar a prevalência da co-infecção HIV/HBV/HCV em
pacientes com HIV/AIDS através da realização de testes rápidos para os marcadores HBsAg e AntiHCV,definir o perfil sócio-epidemiológico de todos os pacientes que aceitaram participar da pesquisa,
confirmar os resultados reagentes nos testes rápidos para a HBV através dos marcadores sorológicos
HBsAg, HBeAg, Anti HBe, Anti HBs, Anti HBc total e Anti - HBc IgM, confirmar os resultados
reagentes para a HCV através do teste molecular RT PCR em Real Time e a realização da sua
genotipagem.
2 MATERIAL E MÉTODOS
Realizou-se a pesquisa respeitando os princípios éticos estabelecidos pela Resolução 466/12 do
Conselho Nacional de Saúde (CNS), que trata da participação de seres humanos em pesquisas. Foi
Página 110
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
submetido à Plataforma Brasil e encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa - CEP da FACID/
DEVRY, sendo iniciado após aprovação.
Tratou-se de um estudo observacional, transversal com componentes analítico e qualitativo. A
população da pesquisa foi composta pelo universo de 200 pacientes com HIV/AIDS atendidos em
um Hospital de Referência Estadual de Doenças Infectocontagiosas do Piauí, que fazem
acompanhamento através das dosagens de CD4+/CD8+ e Carga Viral do HIV/AIDS no Laboratório
Central de Saúde Pública do Estado do Piauí. Os dados foram coletados no SAE (Serviço de
Assistência Especializada em HIV/AIDS) localizado no Hospital de Referência Estadual de Doenças
Infectocontagiosas do Piauí.
Os dados foram organizados em planilha do programa Microsoft Office Excel 10.
Posteriormente os dados foram submetidos aos testes “t” de Studant, para as variáveis aleatórias
contínuas e o teste de correlação de X² (qui-quadrado) para as variáveis aleatórias discretas, ambos
com Intervalo de Confiança em 95% e significância em p<0,05. Para tanto, os dados foram
transferidos para o programa estatístico SPSS 20.0 no qual foram expressos em tabelas, com respostas
fornecidas por meio de entrevista usando questionários, tais como: O gênero, idade, situação conjugal,
escolaridade, situação ocupacional, renda familiar, data do diagnóstico sorológico da infecção pelo
HIV, doenças oportunistas, preferência sexual, número de parceiros nos últimos 12 meses, transfusão
sanguínea, uso passado ou atual de droga ilícita não endovenosa e/ou endovenosa, os tipos de
relacionamento sexuais, uso de preservativo (camisinha) nas relações sexuais antes e após a infecção
pelo HIV e se possuíam ou não alguma doença venérea.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
No presente trabalho foram encontradas as seguintes informações através dos questionários
epidemiológicos, a média de idade variou de 18 a 70 anos; sendo que houve predominância na faixa
etária de 34 a 39 anos (24%); 52,5% eram do gênero masculino e 41% vivem com o (a) parceiro (a).
O perfil demográfico social indicou que 26,5% eram donas de casa, 16,5% estavam desempregados
ou trabalhavam por conta própria; 59,5% possuíam renda mensal entre 1 a 2 salários mínimos; 33,5%
não haviam concluído ou estavam cursando o ensino fundamental (Tabela 1).
A falta de informação associada a baixa escolaridade e a baixa renda familiar são fatores que
conferem risco de exposição a infecção pelo HIV/AIDS em nosso país (MOURA et al., 2012). E não
difere do encontrado no presente estudo, uma vez que a maioria dos participantes apresentava baixa
escolaridade, baixa renda familiar e era donas de casa, o que reflete a parcela da população mais
atingida pelo HIV/AIDS. Tendo em vista as informações adquiridas pelos questionários
epidemiológicos o baixo nível de escolaridade detectado torna-se relevante ao passo que a
conscientização sobre a enfermidade requer um nível satisfatório de escolaridade. Uma possível
explicação é que populações com mais anos de estudo têm maior acesso as informações, métodos de
prevenções e consciência do impacto positivo do tratamento na evolução clínica da doença (PIERI;
LAURENTI 2012). Neste estudo foi possível observar o maior número de casos de HIV/AIDS em
individuos do gênero masculino. Estes dados são confirmados em estudos anteriores no Brasil
(RAVETTI; PEDROSO, 2009).
Página 111
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Tabela 1 – Características epidemiológicas da população estudada, Teresina, 2014
Variáveis
FAIXA ETÁRIA
18 a 22 anos
23 a 28 anos
29 a 33 anos
34 a 39 anos
40 a 45 anos
46 a 50 anos
51 a 55 anos
56 a 70 anos
Acima de 70 anos
GÊNERO
Gênero
Masculino
Feminino
n
%
n
%
4
2
18
24
16
14
9
15
3
105
2,00
1,00
9,00
12,00
8,00
7,00
4,50
7,50
1,50
52,50
3
8
13
24
15
9
12
11
0
95
1,50
4,00
6,50
12,00
7,50
4,50
6,00
5,50
0,00
47,50
TOTAL
n
%
7
10
31
48
31
23
21
26
3
200
3,50
5,00
15,50
24,00
15,50
11,50
10,50
13,00
1,50
100
X²
0,750
-
SITUAÇÃO CONJUGAL
Com companheiro
44
22,00
38
19,00
82
41,00
Sem companheiro
36
18,00
28
14,00
64
32,00
Separado
19
9,50
13
7,00
32
16,50 <0,001***
Viúvo
5
2,50
16
8,00
21
10,50
Outros
1
0,50
0
0,00
1
0,50
SITUAÇÃO OCUPACIONAL
Aposentado
11
5,50
17
8,50
28
14,00
Desempregado
10
5,00
23
11,50
33
16,50
Dona de casa
0
0,00
53
26,50
53
26,50
Em beneficio pela
4
2,00
12
6,00
16
8,00
AIDS/HIV
<0,001***
Estudante
5
2,50
3
1,50
8
4,00
Empregado
10
5,00
17
8,50
27
13,50
Trabalha por conta própria
17
8,50
16
8,00
33
16,50
Outros
0
0,00
2
1,00
2
1,00
RENDA FAMILIAR
7 a 10 salários
1
0,50
0
0,00
1
0,50
4 a 6 salários
6
3,00
1
0,50
7
3,50
3 a 4 salários
2
1,00
0
0,00
2
1,00
3 a 4 salários
13
6,50
6
3,00
19
9,50
0,0201*
1 a 2 salários
63
31,50
56
28,00
119
59,50
Menos de 1 salário
18
9,00
32
16,00
34
25,00
Não sabe
2
1,00
0
0,00
2
1,00
ESCOLARIDADE
Analfabeto
10
5,00
8
4,00
18
9,00
Alfabetizado
6
3,00
5
2,50
11
5,50
Fundamental incompleto
36
18,00
31
15,50
67
33,50
Fundamental completo
9
4,50
13
6,50
22
11,00
0,172
Médio incompleto
10
5,00
0
0,00
10
5,00
Médio completo
17
8,50
21
10,50
38
19,00
Superior incompleto
5
2,50
1
0,50
6
3,00
Superior completo
15
7,50
13
6,50
28
14,00
Legenda: n, frequência absoluta; %, frequência relativa; X², Qui-quadrado com Intervalo de
confiança de 95% e significância em *p<0,05. Fonte: Dados originais
Página 112
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Para a opção sexual do grupo examinado, cento e setenta e dois (86%) dos indivíduos relataram
serem heterossexuais; vinte e um (10,5%) homossexuais e seis (3%) bissexuais (Tabela 2). Em
relação ao comportamento sexual, nosso estudo revelou um número bastante significativo no
percentual de indivíduos que possivelmente foram contaminados, em uma relação heterossexual,
mostrando a importância desta subcategoria na transmissão sexual do HIV/AIDS, aspecto este bem
esclarecido no boletim epidemiológico/2013 (Ministério da Saúde, 2013). No estudo de Toledo et al.,
(2010), os grupos heterossexual e homossexual foram os mais prevalentes; fortalecendo a comparação
com o estudo atual onde a frequência variou conforme a idade, mostrando que a via de transmissão
heterossexual entre os de idade avançada foi mais prevalente que nos jovens. Já a via de transmissão
homossexual ocorre em maior parte entre os jovens.
Tabela 2 – Preferência sexual da população estudada, Teresina, 2014
PREFERÊNCIA SEXUAL
Gênero
Feminino
n
%
Total
Masculino
N
%
n
%
Bissexual
0
0,00
6
3,00
6
3,00
Heterossexual
92
46,00
80
40,00
172
86,00
Homossexual
2
1,00
19
9,50
21
10,50
Sem experiência
1
0,50
0
0,00
1
0,50
Legenda: n, frequência absoluta; %, frequência relativa; X², Qui-quadrado com Intervalo de confiança
de 95% e significância em *p<0,05. Fonte: Dados Originais
No que se referem às doenças sexualmente transmissíveis (DST), 23 individuos relataram já ter
tido algum tipo, e apenas um individuo mencionou a ocorrência de mais de uma DST (linfogranuloma
venéreo e gonorreia). A gonorreia foi a DST de maior frequência 11,5%, seguido pela sífilis 5% e
herpes 3% (Tabela 3). Estes dados reforçaram um estudo realizado em, Fortaleza no Ceará, utilizando
oitenta e um pacientes, destes, treze (16,0%) relataram história de DST ou dos sintomas associados.
Dos treze, oito (61,5%) a definiram como “esquentamento” gonorreia (AQUINO et al., 2008). Em
outro estudo realizado, em Salvador na Bahia, ocorreu divergência nos dados, sendo que a clamídia
foi relatada por 55,7% dos individuos, seguida pela gonorreia 36,5% e sífilis 17,7% (CODES et al.,
2006).
Tabela 3 – Doenças sexualmente transmissíveis (DST) relatadas pelos pacientes estudados,
Teresina, 2014
Gênero
DOENÇAS VENÉREAS
Feminino
n
Total
Masculino
%
n
X²
%
n
%
Não
81
40,50b
73
36,50
154
77,00
Gonorreia
3
1,50
20
10,00
23
11,50
Herpes
4
2,00
2
1,00
6
3,00
Lgv
2
1,00
0
0,00
2
1,00
Sífilis
3
1,50
7
3,50
10
5,00
Lgv. e gonorreia
0
2
1,00
2
1,00
0,50
2
Mais de uma DST
0,00
1,00
3
1,50
1
0,003*
Legenda: n, frequência absoluta; %, frequência relativa; X², Qui-quadrado com Intervalo de confiança de
95% e significância em *p<0,05. Fonte: Dados Originais
Quanto ao comportamento e exposição de riscos dos participantes do estudo, 55% afirmaram
ter possuído apenas um parceiro nos últimos 12 meses; 58% mantiveram relações sexuais com
Página 113
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
parceiros heterossexuais, 15,5% parceiros heterossexuais que possuem HIV/AIDS, 8% parceiros
homossexuais e 4,5% parceiros bissexuais; 68% afirmaram que usavam às vezes preservativos
durante a relação sexual antes de terem sido infectados pelo HIV/AIDS, 21,5% afirmaram nunca
terem usado 77,5% afirmaram o uso constante de preservativo após serem infectados pelo mesmo
(Tabela 4). Este estudo demostrou que a principal forma de transmissão da doença foi a prática de
sexo sem proteção, em decorrência das situações de maior vulnerabilidade estarem voltadas para
mulheres, por desigualdade nas relações de poder e maior dificuldade de negociação com o parceiro
quanto ao uso de preservativo (BASTIANI, 2010). Fato este comprovado no estudo de Mesenburg
(2012), em que 72% das mulheres afirmaram não ter feito uso do preservativo na ultima relação
sexual, sendo que 7% afirmaram terem possuído dois ou mais parceiros nos últimos três meses. No
estudo de Simon et al., (2010) 95,1% das mulheres afirmaram manter relações heterossexuais,
proporção significativamente maior do que entre os homens que referiram a mesma pratica 78,1%.
Entre os homens 20,5% afirmaram manter relações bissexuais e 7,7% homossexuais. Relação
homossexual e bissexual não foi relatada por as mulheres. Tendo em vista a transmissão sexual foi à
forma provável de infecção referida com maior frequência 86,3%, seguida do compartilhamento de
seringas 8,8%, transfusão sanguínea e objetos cortantes 2,5%.
Tabela 4: Distribuição de acordo com o fator de risco ou comportamento sexual dos
portadores de HIV/AIDS, Teresina 2014
EXPOSIÇÃO DE RISCOS
Gênero
Masculino
Feminino
N
%
n
%
RELACIONAMENTO SEXUAL
Nenhum
0
0,0
1
Múltiplos parceiros
1
0,5
0
Múltiplos parceiros/ UDE
1
0,5
0
Parceiro bis
8
4,0
1
Parceiro com HIV+/AIDS
6
3,0
14
Parceiro heter
59 29,5
57
Parceiro heter /HIV+/AIDS
12 6,0
19
Parceiro heter /de outro país
1
0,5
0
Parceiro heter/UDE
1
0,5
0
Parceiro homos
13 6,5
3
Parceiro homos/heter/biss
1
0,5
0
Parceiros promíscuos
1
0,5
0
Prostituta
1
0,5
0
NÚMERO DE PARCEIROS
1 parceiro
59 29,50
51
2 a 5 parceiros
8
4,00
23
6 a 10 parceiros
0
0,00
2
Mais de 10 parceiros
0
0,00
2
Não se aplica
1
0,50
2
Nenhum
27 13,50
25
USO DE PRESERVATIVO ANTES DO HIV
Não se aplica
4
2,00
1
Nunca usa
1
0,50
0
Nunca usava
29 14,50
14
Usava às vezes
56 28,00
80
Usava sempre
5
2,50
10
USO DE PRESERVATIVO APÓS O HIV
Não se aplica
11 5,50
3
Usa às vezes
7
3,50
11
Usa sempre
69 34,5
86
Usava sempre
1
0,50
1
Legenda: n, frequência absoluta; %, frequência relativa; UDNE. Uso
de drogas endovenosa. Fonte: Dados Originais
Total
n
X²
%
0,5
0,0
0,0
0,5
7,0
28,5
9,5
0,0
0,0
1,5
0,0
0,0
0,0
1
1
1
9
20
116
31
1
1
16
1
1
1
0,5
0,5
0,5
4,5
10,0
58,0
15,5
0,5
0,5
8,0
0,5
0,5
0,5
0,029*
25,5
11,5
1,00
1,00
1,00
12,50
110
31
2
2
3
52
55,00
15,50
1,00
1,00
1,50
26,00
0,189
0,5%
0%
7,00
40,00
5,00
5
1
2,50%
0,50%
43
136
15
21,50
68,00
7,50
0,092
1,50
14
7,00
5,50
18
9,00
0,104
43,00 155
77,50
0,50
2
1,00
de drogas não endovenosa; UDE Uso
Página 114
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Com relação ao uso de drogas, 4% eram usuários de droga não endovenosa (UDNE) e 1,5%
droga endovenosa (UDE) de forma individual; 14,5% afirmaram ter recebido sangue através de
transfusões sanguíneas (Tabela 5). Estes resultados diferem dos encontrados em outro estudo
realizado, em Feira de Santana na Bahia, onde os participantes do gênero masculinos 6,7% UDNE;
16,7% UDE. O gênero feminino 58,1% UDNE e 35,3% UDE (PEREIRA et al., 2010). Em individuos
que participaram de um estudo realizado em Anápolis, Goiás, 29% fizeram transfusão sanguínea e
17,4% eram usuários drogas ilícita não endovenosa (PEREIRA, 2010).
Tabela 5: Distribuição dos portadores de HIV/AIDS segundo os fatores de risco relacionado
ao uso de drogas e transfusão sanguínea, Teresina 2014
Gênero
EXPOSIÇÃO DE RISCOS
USO DE DROGAS
UDNE
Não
Sim
UDE
Ambos
Coletiva
Individual
Nunca
Masculino
n
%
92
3
2
0
0
93
46,00
1,50
1,00
0,00
0
46,50
Feminino
n
%
100
5
0
1
3
101
50,00
2,50
0,00
0,50
1,50
50,50
TRANSFUSÃO DE SAGUE
Não
85 42,50
83
41,50
Não sabe
2
1,00
1
0,50
Sim
18 9,00
11
5,50
Legenda: n, frequência absoluta; %, frequência relativa; UDNE. Uso de
Uso de drogas endovenosa. Fonte: Dados Originais
Total
X²
n
%
192
8
2
1
3
194
96,00
4,00
1,00
0,50
1,50
97,00
168
3
29
drogas
0,4897
0.1194
84,00
1,50
0,4605
14,50
não endovenosa; UDE,
Quanto ao histórico de doenças oportunistas 10% dos individuos relataram ter possuído
tuberculose; 2% pneumonia e toxoplasmose. Somente três individuos relataram mais de uma doença
oportunista. O primeiro afirmou ter possuído tuberculose e neurotoxoplasmose; O segundo
apresentou tuberculose e toxoplasmose, já o terceiro confirmou diagnostico de toxoplasmose e
citomegalovírus ambas ao mesmo tempo. Os demais 85% se declaram em ótimo estado de saúde e
nunca ter possuído nenhuma doença oportunista (Tabela 6). Os dados do presente estudo estão
divergindo com os dados encontrados em outro estudo, em Londrina no Paraná, onde foi relatado
28,2% tuberculose; 27,1% candidíase oral; 22,5% neurotoxoplasmose (PIERI; LAURENTI, 2012).
Tabela 6: Doenças oportunistas apresentadas pelos pacientes avaliados, Teresina, 2014
DOENÇAS OPORTUNISTAS
Não
Candidiase oral
Pneumonia
Toxoplasmose
Tuberculose
Tb. e neurotoxopl.
Tb. e toxoplasmose
Toxopl. e citomegalovís
Tb. e pneumonia
Feminino
n
%
83
0
4
2
5
0
0
1
1
95
41,50
0,00
2,00
1,00
2,50
0,00
0,00
0,50
0,50
47,50
Gênero
Masculino
n
%
86
1
0
2
15
1
1
0
0
105
43,00
0,50
0,00
1,00
7,50
0,50
0,50
0,00
0,00
52,50
Total
X²
n
%
169
1
4
4
20
1
1
1
1
200
84,50
0,50
2,00
2,00
10,00
0,50
0,50
0,50
0,50
0,120
TOTAL
100,00
Legenda: n, frequência absoluta; %, frequência relativa; X², Qui-quadrado com Intervalo de confiança de
95% e significância em *p<0,05. Fonte: Dados Originais
Página 115
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
No que concerne aos resultados positivos dos testes rápidos HBsAg e Anti-HCV, foram obtidos
em dois pacientes (1%) para o HBsAg e apenas um (0,5%) para Anti-HCV (Tabela 7).
Tabela 7: Distribuição dos marcadores sorológicos para HBV e HCV em pacientes com
HIV/AIDS, Teresina, 2014
Pesquisa
Sorológica
Gênero
Feminino
n
n%
Total
Masculino
N
n%
N
X²
n%
HBV (HBsAg)
Não reagente
94
47,00
104
52,00
198
99,00
0,943
Reagente
1
0,5
1
0,5
2
1,00
HCV (Anti-HCV)
Não reagente
95
47,5
104
52,00
199
99.5
0,340
Reagente
0
0
1
0,5
1
0,5
Legenda: n, frequência absoluta; %, frequência relativa; X², Qui-quadrado com
Intervalo de confiança de 95% e significância em *p<0,05. Fonte: Dados Originais
No momento em que houve a aplicação dos questionários apenas um dos pacientes (2/200) com
teste rápido HBsAg positivo, relatou ter conhecimento de ser portador do vírus da hepatite B,
enquanto o outro paciente ficou sabendo de seu estado sorológico no momento da execução do teste.
Com isto foram coletadas novas amostras sorológicas e encaminhadas para a realização de todos os
marcadores sorológicos da HBV cujos resultados estão expostos no Quadro 1.
Quadro 1 – Diagnóstico dos marcadores sorológicos para os pacientes com HIV/AIDS que
obtiveram teste rápido HBsAg positivo, Teresina, 2014
PACIENTES
Paciente 1
Paciente 2
HBsAg
AntiHBs
HBeAg
AntiHBe
R
R
NR
N.R
NR
R
R
N.R
AntiHBcIgM
N.R
N.R
AntiHBc
Total
R
N.R
Legenda: R - Reagente; NR - Não Reagente
Fonte: Dados da pesquisa (2014)
Diante dos resultados concluiu-se que: O paciente 1 encontrava-se na fase crônica da doença e
sem replicação viral e o paciente 2 encontrava-se no inicio da infecção com replicação viral,
possivelmente na fase de incubação. O único individuo (1/200) que apresentou sorologia positiva
para o anti-HCV relatou por meio da aplicação do questionário ter conhecimento de que era portador
do vírus e havia feito o tratamento. Diante do exposto foi realizado o Teste Molecular (RT-PCR) com
resultado, indetectável exposto no Quadro 2, no qual confirmou que o paciente evoluiu para a cura.
Página 116
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Quadro 2: Diagnóstico molecular para o pacientes com HIV/AIDS que obtive teste
rápido anti-HCV positivo, Teresina, 2014
PACIENTE
RT-PCR
Paciente 1
ND
Legenda: RT- Real time, PCR- Reação em Cadeia de Polimerase, ND – Não detectável.
Fonte: Dados da pesquisa (2014)
No presente estudo a prevalência da coinfecção HIV/HBV foi 1% e HIV/HCV 0,5%, valor este
considerado coerente, quando comparado com o estudo de Sousa (2009) realizado na região Serrana,
do estado de Santa Catarina, onde foram examinados cento e sessenta e cinco pacientes com
HIV/AIDS destes a prevalência da co-infecção entre HIV/HBV foi 0,61%, HIV/HCV 10,30% e
nenhuma HIV/HBV/HCV.
4 CONCLUSÃO
Na população estudada, a maioria possuía baixo nível de escolaridade 33,5%, vivia com seus
parceiros (as) 41%, trabalhava em casa como domestica 26,5% e era de pouco poder aquisitivos
59,5%.
Para os fatores e exposição de risco 58% dos parceiros eram heterossexuais, 68% usava às vezes
preservativo nas relações sexuais antes da infecção pelo HIV/AIDS, 21,5% nunca fizeram uso do
preservativo antes da infecção, 14,5% recebeu transfusão de sangue e 1,5% era UDE.
A prevalência da co-infecção encontrada HIV/HBV foi 1%, HIV/HCV 0,5% e nenhuma coinfecção HIV/HBV/HCV.
Apesar do baixo percentual de co-infectados apresentados no presente estudo é de fundamental
importância à pesquisa dos marcadores sorológicos das hepatites virais, pois a presença do vírus da
hepatite B (HBV) e/ou de hepatite C (HCV) nos portadores do vírus da imunodeficiência humana
(HIV) reveste-se de importância clinica, na medida em que a ocorrência de tais co-infecções parece
favorecer um pior prognostico dos pacientes, bem como interferir nos critérios da terapêutica
aplicada, causando impacto na sobrevida e na qualidade de vida dos pacientes.
REFERÊNCIAS
AQUINO, P. S. et al. Perfil Sociodemográfico e comportamento sexual de prostitutas de FortalezaCE. Revista: Texto & Contexto Enfermagem, Florianópolis, v.17 n.3 p. 427-434, 2008.
BASTIANI, J. A .N. Trajetória histórica da aids em Florianópolis (1986-2006). 2010.169 f.
Dissertação (Mestrado em Enfermagem) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de
Ciências da Saúde, Florianópolis, 2010.
BELOTO, N. C. P. Pacientes coinfectados com HIV e Hepatite B e/ou C aspectos clínicos,
epidemiológicos, subtipagem do HIV-1 e impacto na evolução clinica para a AIDS. 2014. 123f.
Dissertação (Mestrado em Medicina Interna) - Programa de Pós-Graduação em Medicina Interna.
Setor de Ciências da Saúde. Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2014.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretara de Vigilância em Saúde. Departamento de DST, Aids e
Hepatites Virais. Boletim Epidemiológico HIV-AIDS. Ano II. n 01. Brasília 2013.
Página 117
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST, Aids e
Hepatites Virais, Serie TELELAB, 82p. HIV: Estratégias para utilização de testes rápidos no
Brasil. Brasília: Ministério da Saúde 2010.
_____. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde Departamento de DST/Aids e
Hepatites Virais. Manual de treinamento para teste rápido Hepatites B (HBsAg) e C (anti-HCV)
–Secretaria de vigilância em saúde, 2011
FERNANDES, C. N. S. et al. Prevalência de soropositividade para hepatite B e C em gestantes.
Revista da Escola de Enfermagem da USP, Goiás, v. 48, n. 1, p. 89-96. 2014.
MESENBURG, M. A. Avaliação temporal de comportamentos de risco e percepção de
vulnerabilidade para DST/AIDS em mulheres na cidade de Pelotas: 1999-2012. 2012. 93f.
Dissertação (Mestrado em Epidemiologia) - Centro de Pesquisas Epidemiológicas, Universidade
Federal de Pelotas, Pelotas, 2012.
MOURA, E. R. F. et al . Aspectos sexuais e perspectivas reprodutivas de mulheres com HIV/aids, o
que mudou com a soropositividade. Revista Cubana de Enfermería, Fortaleza, v.28 n.1, p.37-48,
março. 2012.
PEREIRA, B. S. et al. Fatores associados à infecção pelo HIV/AIDS entre adolescentes e adultos
jovens matriculados em Centro de Testagem e Aconselhamento no Estado da Bahia, Brasil. Revista
Ciência & Saúde. Feira de Santana, v.19, n. 3, p. 747-758. 2014.
PEREIRA, G. S. Conhecimento sobre HIV/AIDS de participantes de um grupo de idosos, em
Anápolis-Goias. Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, Anápolis, v. 14, n. 4, p. 720-725, outdez. 2010.
PICELLI, N. Coinfecção pelos Vírus da Hepatite C (VHC) e Vírus da Imunodeficiência Humana
(HIV): Polimorfismo dos Sistemas HPA -1, -3 e -5. 2013. 83f. Dissertação (Mestrado em
Fisiopatologia em Clínica Médica) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Medicina de
Botucatu, Batucatu, 2013.
PIERI, M.F; LAURENTI, R. HIV/AIDS: Perfil epidemiológico de adultos internados em Hospital
Universitário. Revista: Ciência, Cuidado e Saúde, Paraná, v. 13, n.3, p. 144-152, jan-mar, 2012.
RAVETTI, G. C; PEDROSO, P. R. R. Estudo das características epidemiológicas e clínicas de
pacientes portadores do vírus da imunodeficiência humana em Pronto Atendimento do Hospital das
Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina
Tropical, Uberaba, v.42, n. 2, p.114-118, mar, 2009.
RODRIGUÊS, M. P. S. et al. Custo-efetividade da inclusão dos respondedores virológicos lentos no
tratamento da hepatite C na presença da coinfecção com o HIV. Cadernos de Saúde Pública, Rio
de Janeiro, v. 29, p. 146-158. 2013.
SIMON, D. et al. Prevalência de subtipos do HIV-1 em amostra de pacientes de um centro urbano no
sul do Brasil. Revista Saúde Publica, Rio Grande do Sul, v.44, n.6, p.1094-1101, junho. 2010.
Página 118
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
SOUZA, S. E. . Prevalência dos marcadores da hepatite b e c em pacientes soropositivos para
HIV da região serrana do estado de Santa Catarina. 2009. 107f. Dissertação (Mestrado em
Farmácia) – Universidade Federal de Santa Catarina – Florianópolis, 2009.
TOLEDO, L. S. G. et al. Características e tendência da AIDS entre idosos no Estado do Espírito
Santo. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v.43 n.3, p.264-267, mai-jun, 2010.
Página 119
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Página 120
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
RESENHA
Página 121
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Página 122
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
APRENDIZAGEM BASEADA EM PROBLEMAS NO ENSINO SUPERIOR.
ARAUJO, Ulisses F.; SASTRE, Genoveva (Orgs.) São Paulo: Summus, 2009. 236p.
Antonia Osima Lopes1
A aprendizagem baseada em problemas é uma metodologia ativa de ensino-aprendizagem, na
qual situações-problema são utilizadas para estimular o aprendizado de conteúdos curriculares e o
desenvolvimento de habilidades e atitudes no contexto acadêmico. Conhecida como PBL, sigla do
nome original – problem based learning – foi concebida na Universidade de McMaster, no Canadá,
para o ensino de Medicina. No entanto, os princípios dessa metodologia mostraram-se também
eficientes no ensino de outras áreas do conhecimento.
Os organizadores desse livro destacam que a aprendizagem baseada em problemas promove a
autonomia e a responsabilidade do aluno em seu processo de aprendizagem, por meio de diferentes
procedimentos, tais como: o trabalho em pequenos grupos; identificação e análise de problemas da
realidade; elaboração de questões e busca de informações para ampliá-las e respondê-las.
Dividido em nove capítulos, cada um escrito por autores diferentes, os temas tratados abordam
a aprendizagem baseada em problemas no ensino superior em variados contextos e foram organizados
com base em dois eixos. Um, voltado para o relato de experiências de algumas universidades
estrangeiras e brasileiras que já adotam essa metodologia em seus cursos de graduação. O outro eixo
promove uma discussão sobre o uso dessa metodologia no Brasil desde a década de 1960. Os estudos
apresentados, são resultantes de um movimento internacional pela inovação no ensino superior,
visando promover mudanças nas práticas pedagógicas dos professores e nas instituições em que
atuam.
Os capítulos 1 e 2 abordam a experiência da Universidade de Aalborg, na Dinamarca. No
primeiro, são apresentadas as bases teóricas que justificaram a adoção da aprendizagem baseada em
problemas nessa Universidade, exemplificando com a experiência desenvolvida em cursos da área de
Engenharia. No segundo capítulo são discutidas as fases para a implantação de inovações em uma
instituição de ensino superior, mostrando o processo pelo qual passou essa Universidade quando
adotou a metodologia da aprendizagem baseada em problemas.
O terceiro capítulo relata a experiência da Universidade de Maastricht, na Holanda, nas
Faculdades de Medicina e de Administração. De acordo com os autores desse capitulo, esta instituição
é considerada a segunda referência internacional mais importante na prática da aprendizagem baseada
em problemas, sendo a primeira a Universidade de McMaster.
No quarto Capítulo há o relato de uma experiência brasileira com aprendizagem baseada em
problemas, que vem sendo desenvolvida no ciclo básico dos cursos oferecidos no Campus Leste da
Universidade de São Paulo.
O Capítulo 5 apresenta a experiência da Faculdade de Medicina da Universidade de Linkoping,
na Suécia.
Os Capítulos 6 e 7 tratam da experiência em Barcelona, Espanha, em instituições diferentes;
uma Faculdade isolada, a Escola de Enfermagem Vall d’Hebron, e a Universidade Autônoma de
Barcelona.
No oitavo Capítulo os autores trazem um elemento novo na discussão quando fazem uma
comparação entre a aprendizagem baseada em problemas e a metodologia da problematização. Com
experiências na Holanda, África do Sul e Brasil, os autores desse Capítulo mostram ao leitor as
semelhanças e diferenças entre essas duas metodologias, destacando suas bases teóricas e históricas.
O nono e último Capítulo foi escrito por um dos professores que integrou a equipe que
implantou a aprendizagem baseada em problemas na Universidade de McMaster, a pioneira na
1
Pedagoga; Mestre em Educação; Faculdade Integral Diferencial (FACID); e-mail: [email protected];
[email protected]
Página 123
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
aplicação dessa metodologia e sua grande divulgadora no mundo acadêmico. Em seu relato, apresenta
um breve histórico dessa experiência, ressaltando os desafios e dilemas enfrentados no processo de
implantação da metodologia.
Em síntese, o livro proporciona uma base conceitual e prática para os professores interessados
em adotar a aprendizagem baseada em problemas, visando promover mudanças em suas práticas de
ensino, de modo a tornar o aprendizado de seus alunos mais significativo e articulado com a realidade
de sua futura profissão.
É uma leitura instigante para os professores que estão inquietos com sua prática e que buscam
mais informações sobre as metodologias ativas de ensino-aprendizagem, podendo encontrar nesse
livro um estímulo para a utilização da aprendizagem baseada em problemas.
Página 124
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
NORMAS EDITORIAIS
Página 125
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Página 126
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
NORMAS EDITORIAIS DA REVISTA FACID CIÊNCIA & VIDA
A Revista FACID Ciência & Vida objetiva a divulgação da produção científica e técnica dos
professores, alunos e técnicos da Faculdade Integral Diferencial, bem como de profissionais da
comunidade.
A Revista tem periodicidade semestral e está aberta à publicação de trabalhos na forma de
ARTIGOS, ENSAIOS e RESENHAS, os quais devem falar sobre temas nas áreas da Saúde,
Ciências Humanas, Ciências Sociais, Tecnologia, dentre outros, fomentando a análise e reflexão de
idéias, experiências e resultados de pesquisas, experiências de vida e manifestações artísticoculturais,
contribuindo para o desenvolvimento científico e cultural do País.
ARTIGOS – Texto que discute um tema investigado para publicação de autoria declarada, que
apresenta título em português e em inglês, nome dos autores, resumo e abstract do texto, palavraschave e key-words, introdução, material e métodos, resultados e discussão, conclusão, referências ,
apêndices e anexos (opcionais). Serão considerados “artigos de revisão” os textos que discutam temas
com base em informações já publicadas. Quando se tratar de artigo de revisão esta deverá ser,
preferencialmente, do tipo sistemática e deverá apresentar: título, autor, resumo, palavras chave,
abstract, key-words, introdução, discussão do tema com base na pesquisa bibliográfica, conclusão, e
referências.
O artigo não deve ultrapassar 15 (quinze) laudas.
Título - Deve ser conciso, claro e objetivo, evitando-se excesso de palavras ou expressões como:
“Avaliação de...,” “Considerações acerca de.....” “Estudo sobre ....”. Deve ter no máximo 15 palavras.
Apenas a primeira letra da primeira palavra deve ser maiúscula.
Título em inglês - Transcrição do título em português.
Nome dos autores - Devem ser apresentados os nomes completos, sem abreviatura, abaixo do título
com somente a primeira letra maiúscula, um após outro, separados por vírgula e centralizados. Em
nota de rodapé na primeira página deve-se apresentar de cada autor a afiliação completa (Titulação/
vinculação, instituição, cidade e Estado, endereço eletrônico). O número de autores não deverá ser
maior que cinco. Os autores pertencentes a uma mesma instituição devem ser mencionados em uma
única nota, utilizando o sobrescrito correspondente.
Resumo e Abstract - Devem ter no máximo 250 palavras, descrevendo o objetivo, material e
métodos, resultados e conclusão em um só parágrafo. O Abstract deve ser a transcrição do resumo.
Palavras-chave e key words - Devem ser no mínimo três e no máximo cinco termos para indexação,
que identifiquem o conteúdo do artigo, os quais não deverão constar no título. Para a escolha dos
termos para indexação (descritores) na área de saúde, deve-se consultar a lista de “Descritores em
Ciências da Saúde – DECS” , elaborado pela BIREME (disponível em http://decs.bus.br) ou na lista
da “Mesh-Medical Subject Headings” (disponível em http:// nlm.nih.gov/mesh/mbrowser.html).
Introdução - Deve ser compacta e objetiva, definindo o problema estudado, demonstrando sua
importância e lacunas do conhecimento que serão abordadas no artigo. As citações presentes devem
ser atualizadas e pertinentes ao tema, adequadas à apresentação do problema, sendo empregadas para
fundamentarem a discussão. Os objetivos e hipóteses deverão ser contextualizados nesta sessão. Não
deve conter mais de 550 palavras.
Página 127
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Material e Métodos - Os métodos bem como os materiais devem ser detalhados de modo que possam
ser confirmados, incluindo os procedimentos utilizados, universo e amostra. Indicar os testes
estatísticos utilizados. As questões éticas devem ser apresentadas nesta sessão.
Resultados e Discussão podem conter figuras e/ou tabelas, contudo os dados nesta forma não devem
ser repetidos no texto. Os resultados devem ser apresentados em uma sequência lógica. As tabelas e
figuras devem trazer informações distintas ou complementares entre si. Os dados estatísticos devem
ser descritos nesta sessão. A discussão deve ser pertinente apenas aos dados obtidos, evitando-se
hipóteses não fundamentadas nos resultados. Deve-se relacionar-se aos conhecimentos existentes e
aos apresentados por outros estudos relevantes. Deve, sempre que possível, incluir novas perspectivas
de pesquisas.
Conclusão - Deve estar fundamentada nas evidências disponíveis e pertinentes ao objeto de estudo.
As conclusões devem ser claras e precisas. Deve-se relacionar os resultados obtidos com as hipóteses
apresentadas. Podem ser apresentadas sugestões para outras pesquisas que complementem o estudo
ou para outros problemas surgidos no desenvolvimento.
Referências - O artigo deverá apresentar no máximo 25 citações, sendo a maioria, preferencialmente,
em periódicos dos últimos cinco anos. No caso de artigos de revisão, deverão ser apresentadas no
máximo 35 citações. Devem incluir todos os autores referenciados no texto.
Apêndice - Informações complementares produzidas pelo autor, como o questionário aplicado, termo
de consentimento livre e esclarecido, roteiro de entrevistas. É opcional.
Anexos - Informações complementares, como documentos e ilustrações, retiradas da bibliografia.
Ítem opcional.
ENSAIOS – Texto que expõe estudos realizados com as conclusões a que se chegou. Pode ser de
caráter informal, no qual se destaca a liberdade e emoção criadora do autor e pode ser caracterizado
como formal, onde a brevidade, serenidade e o uso da primeira pessoa podem ser utilizados. Neste
tipo de publicação é marcante a presença do espírito problematizador, sobressaindo o espírito crítico
e a originalidade do autor. Deve apresentar temas atuais e de interesse coletivo. Pode ter até 10 (dez)
páginas.
RESENHAS – resumo crítico de livros publicados ou no prelo que podem suscitar no leitor o desejo
de ler a obra integralmente. Este texto deve ter, no máximo 5 laudas e deve ser escrito informando o
título da obra, nome completo do autor, editora e ano publicado.
Instruções aos Colaboradores
1 Os trabalhos devem ser preferencialmente inéditos e redigidos em língua portuguesa, sendo seu
conteúdo de inteira responsabilidade dos autores.
2 Os textos para publicação devem ser acompanhados de uma correspondência ao Editor solicitando
que o texto seja publicado. Uma vez recebidos, os textos serão submetidos à apreciação do Conselho
Editorial e dois conselheiros, no mínimo, decidirão sobre sua aprovação para publicação, podendo
ocorrer que o texto seja devolvido ao seu autor para alterações e/ou correções.
3 O texto deve ser digitado na fonte Times New Roman tamanho 12, espaço 1,5 entre linhas, margens
superior e esquerda de 3 cm, margem inferior e direita de 2 cm, papel formato A-4. No resumo e
abstract o espaçamento deverá ser simples.
Página 128
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
4 As tabelas para apresentação de dados devem ser numeradas consecutivamente com algarismos
arábicos, encabeçadas pelo título, com indicação da fonte após a linha inferior. Todas as tabelas
inseridas devem ser mencionadas no texto. O texto deve ser em fonte Times New Roman, estilo
normal e tamanho 12.
5 Para a inserção de ilustrações (quadros, gráficos, fotografias, esquemas, algoritmos etc), deve-se
numerá-las consecutivamente com algarismos arábicos, com indicação do título na parte superior e
da fonte após o seu limite inferior e indicadas no texto em que devem ser inseridas. Gráficos,
fotografias, esquemas e ilustrações devem ser denominados como figuras. O texto deve ser em fonte
Times New Roman, estilo normal e tamanho nove. Devem ser inseridas logo abaixo do parágrafo em
que foram citadas pela primeira vez. As figuras agrupadas devem ser citadas no texto como: Figura
1A; Figura 1B; Figura 1C; etc. As figuras devem ter no mínimo 300dpi.
6 As citações no texto devem ser organizadas de acordo com as normas vigentes da Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT - 10520) - formato autor-data.
7 A lista de referências deve ser organizada em ordem alfabética e de acordo com as normas ABNT
– 6023 (espaço simples entre linhas e um espaço simples entre uma referência e outra).
Modelos de referências bibliográficas
Livros (um autor)
SOARES, L. S. Educação e vida na República. 4.ed. São Paulo: Letras Azuis, 2004.
Livros (dois autores)
ROCHA, B.; PEREIRA, L. H. Cuidando do enfermo. São Paulo: Manole, 2001.
Livros com mais de três autores
POUPART, J. et al. A pesquisa qualitativa: enfoques epistemológicos e metodológicos. Rio de
Janeiro: Vozes, 2008.
Capítulos de livros
OLIVEIRA, A. A. S. de; VILLAPOUCA, K. C. Perspectivas epistemológicas da bioética brasileira
a partir da teoria de Thomas Kuhn. In: GARRAFA, V.; CORDÓN, J. (Orgs.). Pesquisa em bioética:
bioética no Brasil hoje. São Paulo: Gaia, 2006. p.35-50.
Artigos de periódicos empressos com mais de três autores
PEREIRA, Q. L. C. et al. Processo de (re)construção de um grupo de planejamento familiar: uma
proposta de educação popular em saúde. Texto e Contexto Enferm, Florianópolis, v. 16, n. 2, p. 3205, abr/jun. 2007.
Teses
ABBOTT, M.P. Modificações oxidativas de proteínas em presença de complexos de cobre(II).
2007. 130f. Tese de doutorado (Programa de Pósgraduação em Química) Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2007.
Artigo de jornal assinado
DIMENSTEIN, G. Escola da Vida. Folha de São Paulo, São Paulo, 14 jul. 2002. Folha Campinas,
p. 2.
Página 129
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Artigo de jornal não assinado
FUNGOS e chuva ameaçam livros históricos. Folha de São Paulo, São Paulo, 5 jul. 2002. Cotidiano,
p. 2.
Artigo de periódico formato eletrônico
VRAKEN, M. V. Prevention and treatment of sexuality transmitted diseases: an updates. American
Family Physican. v. 76, n. 12, p. 1827-1832, dez. 2007. Disponível em: < www.aafp.org/afp>.
Acesso em: 29 de março de 2010.
Decretos, Leis
BRASIL. Decreto n. 2.134, de 24 de janeiro de 1997. Regulamenta o art. 23 da Lei n. 8.159, de 8 de
janeiro de 1991, que dispõe sobre a categoria dos documentos públicos sigilosos e o acesso a eles, e
dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, n. 18, p.
1435- 1436, 27. jan. 1997. Seção 1.
Constituição Federal
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:
Senado Federal, 1988.
Trabalho publicado em Anais de Congresso
MARTINS, I. S.; SILVA FILHO, F. J. V.; ALVES NETO, F. E. Abordagemcirúrgica em
ginecomastia gigante em pseudo-hermafrodita masculino. In: I JORNADA DE MEDICINA DA
FACID, 2005, Teresina. Anais da I Jornada de Medicina da FACID. Teresina, Gráfica do Povo,
2006, p.212.
8 Acompanha o texto uma folha com o título e nome completo do autor e/ou autores com a filiação
profissional e a qualificação acadêmica do(s) autor(es), os endereços postal e eletrônico, inclusive o
telefone (folha modelo).
9 O original do trabalho a ser publicado deve ser entregue em uma via impressa e em CD (processador
Word for Windows), pelos correios ou via e-mail: [email protected]. Ao Conselho Editorial é
reservado o direito de publicar ou não o trabalho.
10 A publicação do trabalho não implicará na remuneração de seus autores. O autor responsável pela
submissão do artigo receberá um exemplar do fascículo por artigo publicado.
11 A revista não se obriga a devolver os artigos recebidos, publicados ou não.
12 O artigo a ser publicado deve ser entregue na FACID. O autor responsável pela submissão do
artigo deverá anexar e assinar os seguintes documentos: Declaração de Responsabilidade e
Transferência de Direitos Autorais.
Página 130
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
Modelos de páginas (em separado) que devem acompanhar o artigo
Página 131
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 1, Maio 2015
OBS: As submissões que não atenderem às normas acima apresentadas não serão encaminhadas para
análise dos consultores, sendo imediatamente recusadas para publicação na Revista FACID Ciência
& Vida.
Conselho Editorial da Revista FACID Ciência & Vida
A/C Esp. Maria Helena Chaib Gomes Stegun
Rua Veterinário Bugyja Brito, 1354 - Horto Florestal.
Cep: 64052-410/ Teresina-PI.
Tel.: 3216-7931 • Email: [email protected]
Página 132
Download