Setembro

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Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa
Pró-Reitoria de Graduação
Pró-Reitoria de Extensão
Carta Econômica
Informativo do Curso de Ciências Econômicas
SEÇÕES
Inflação
Mercado de
trabalho
5
Finanças
públicas
6
Ano XVII, no 3 - setembro de 2011
Comércio
exterior
7
Mercado
financeiro
Análise dos impactos da oferta de TV a cabo sobre a
penetração de Banda Larga nos municípios brasileiros1
Atualmente, pouco mais de 270 dos mais de 5.500 municípios
brasileiros contam com ofertas de serviços de TV a cabo. Esta baixa
oferta do serviço está diretamente relacionada com as condições
legais e regulatórias para a entrada neste mercado.
Carlos Manuel Baigorri*
Thiago Cardoso H. Botelho*
Alexandre L. Henriksen**
A Portaria no 399/1997, conhecida como Planejamento de
Outorgas de TV a Cabo (TVC) e Serviço de Distribuição de Sinal
Multiponto Multicanais (MMDS), define as condições para a oferta
de outorgas de TV a cabo, prevendo um limite para o número
de prestadoras em cada município, bem como estabelecendo o
processo licitatório como forma de adjudicação dessas outorgas.
Banda Larga por meio da tecnologia de cable modem, que cresce
à taxa média anual de 44%. Além disso, pode-se observar que a
tecnologia de cable modem é a segunda tecnologia em termos de
quantidade de assinantes de Banda Larga2.
Do ponto de vista econômico, o previsto no referido
planejamento estabelece uma barreira à entrada ao mercado,
associada ao limite de ofertantes. Por outro lado, a venda de
outorgas em leilões (licitações) tem efeitos positivos do ponto de
vista de arrecadação tributária. Assim, a questão básica que se
apresenta é se os ganhos decorrentes do fim do limite de outorgas,
que chamaremos de “abertura” do mercado, compensam a perda
de arrecadação obtida por meio da licitação dessas outorgas.
Nesse contexto, a Agência Nacional de Telecomunicações
(Anatel) identificou a limitação da oferta de serviços de TV a cabo
como um fator que restringia os investimentos em redes de cabo,
que podem ser utilizadas para ofertar serviços de acesso à internet
em Banda Larga. Assim, iniciou-se, no âmbito da Anatel, uma série
de medidas com o objetivo de acabar com as limitações impostas
pelo Planejamento de Outorgas de TV a Cabo e pelo MMDS, tendo
em vista que uma expansão do serviço de TV a cabo facilita o
acesso à internet, aumentando a penetração da Banda Larga nos
domicílios brasileiros.
Nos últimos anos, o Brasil tem observado um crescimento da
participação do acesso à internet em banda larga na vida dos seus
cidadãos. Apesar do vigoroso crescimento do acesso à internet, por
meio de Banda Larga nos últimos anos, dados da Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada pelo IBGE, indicam
que, em 2008, apenas 23,8% dos domicílios brasileiros possuíam
acesso à internet.
Conforme é possível verificar no Gráfico 1, a partir de 2005
observamos um crescimento acentuado da base de assinantes de
1
Gráfico 1 – Evolução dos assinantes da Banda Larga
Fonte: Anatel
O Gráfico 2 apresenta a penetração domiciliar da Banda Larga
nos municípios com e sem outorga de TV a cabo. Destaque-se que
a penetração alcança mais que o dobro nas cidades com TVC.
Conforme se observa no Gráfico 2, a penetração domiciliar de
banda larga é de 48% nos municípios em que há outorga de TV a
cabo. Já nos municípios em que há oferta de banda larga, mas não
há outorga de TV a cabo, a penetração domiciliar é de apenas 19%.
Além disso, analisando as tecnologias que concorrem na oferta de
banda larga, conforme apresentado no Gráfico 3, percebe-se que,
nos municípios em que há outorga de TVC, a tecnologia de acesso
do cable modem representa mais de 26% dos acessos em banda
larga, o que significa que é o segundo meio mais utilizado.
Gráfico 2 – Penetração domiciliar da Banda Larga nos municípios
com e sem outorga de cabo
Este artigo contém as principais análises apuradas no documento ‘Radar: Tecnologia, Produção
e Comércio Exterior’, no 15”, publicado pelo IPEA. As opiniões emitidas nesta publicação são de
exclusiva e de inteira responsabilidade do(s) autor(es), não exprimindo, necessariamente, o ponto
de vista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, da Secretaria de Assuntos Estratégicos
da Presidência da República, da Agência Nacional de Telecomunicações ou do Ministério da
Justiça.
* Alunos do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Católica de Brasília e
Especialista em Regulação da Agência Nacional de Telecomunicações – Anatel.
** Aluno do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade de Brasília e CoordenadorGeral de Análise Econômica da Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça – SDE/
MJ.
2
Para cômputo da evolução dos assinantes de banda larga, consideramos tanto os usuários de SCM
quanto os assinantes de Serviços de Valor Adicionado (SVA), associados ao Serviço de TV a Cabo.
Fonte: Anatel
2
h�p://www.ucb.br/economia – www.economia.ucb.br
Gráfico 3 – Tecnologias de acesso utilizadas nos municípios com
outorga de cabo
e tamanho do mercado (consumo autônomo). Já do lado dos
consumidores, a decisão de consumo é feita essencialmente com
base no preço do serviço e na renda do consumidor. Pode-se ainda
afirmar que o preço de equilíbrio resultante das decisões individuais
de empresas e de consumidores está associado ao número de
empresas atuantes no mercado.
Assim, utilizou-se um modelo para estimar os impactos
de cada uma dessas variáveis sobre a quantidade de clientes de
Banda Larga em cada município brasileiro. Especificamente, foram
considerados os custos de produção, o tamanho do mercado, a
renda do consumidor e a existência de oferta de TV a cabo.
Fonte: Anatel
Os gráficos de 1 a 3 indicam que a presença de outorga de
TVC em um município está intimamente relacionada ao número
de acessos em Banda Larga, uma vez que a tecnologia do cable
modem representa um eficaz concorrente da tecnologia xDSL.
Objetivando avaliar os impactos da “abertura” do mercado
de TV a cabo sobre o mercado de acesso à internet em Banda
Larga, aplicou-se um modelo econométrico que utiliza dados
socioeconômicos e de infraestrutura de telecomunicações
referentes a 411 municípios brasileiros.
Diante disso, é necessário analisar os fatores que afetam a
quantidade de domicílios que utilizam o serviço de acesso à internet
em Banda Larga. Evidentemente, a quantidade de clientes dessa
modalidade de serviço em um município é basicamente o resultado
da interação entre a oferta e a demanda por esse serviço.
Do lado das empresas, temos que a curva de oferta é afetada
por variáveis relacionadas ao custo de produção, preço de venda
INFLAÇÃO
Os resultados econométricos indicam que a presença de
um prestador de serviços de outorga de TV a cabo aumenta em
35% a base de clientes em Banda Larga. Diante desses resultados,
crê-se que haja evidências suficientes quanto à razoabilidade e à
conveniência das medidas regulatórias tomadas pela Anatel para
permitir uma maior abertura do mercado de TV a cabo.
Assim, fica evidente que o movimento de abertura do
mercado de TV a cabo está diretamente relacionado com os
objetivos estipulados no Plano Nacional de Banda Larga (PNBL).
A evidência da aderência da atuação regulatória da Anatel aos
objetivos do governo federal pode ser observada claramente do
ponto de vista da penetração domiciliar do acesso à internet em
Banda Larga nos municípios em que há um prestador de TV a cabo,
quando comparados com os municípios em que não há outorga
para prestação de tal serviço.
Entretanto, tal constatação não é suficiente para avaliar
os efeitos econômicos e sociais decorrentes da abertura
desse mercado, principalmente quando se considera a perda
de arrecadação decorrente do fim do processo licitatório de
adjudicação de outorgas.
Diego Cezar Gomes Magalhães*1
Lucikelly dos Santos Lima*1
Carta Econômica – Ano XVII, nº 3 – Setembro de 2011
Após sete anos, inflação escapa ao controle do Banco Central
O Banco Central surpreendeu o mercado ao reduzir a meta
anual da taxa Selic em 0,5%, na reunião do COPOM em 31 de
agosto. Por que houve essa surpresa? Pois a taxa Selic é a principal
ferramenta do Banco Central para controlar a inflação e, de acordo
com o Gráfico 1, a inflação acumulada em 2011 tem se revelado a
maior dos últimos sete anos, ultrapassando o teto da meta, ou seja,
o valor máximo de 6,5%. A última vez que a inflação ultrapassou
esse limite foi em 2004.
As instituições financeiras elevaram a previsão da inflação para
este e o próximo ano, segundo o boletim Focus, divulgado pelo Banco
Central no final do mês de setembro. A escalada da inflação ocorre
num momento em que também caem as expectativas de crescimento
econômico, colocando a autoridade monetária num impasse entre sua
responsabilidade para com o controle da inflação e as pressões do
governo federal para buscar taxas de crescimento maiores.
De acordo com o IBGE, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo
(IPCA) registrado até agosto de 2011 indica uma inflação de 4,42% no
acumulado do ano, o maior valor dos últimos sete anos, com exceção
de 2008 (Gráfico 2), que foi o ano de maior intensidade da crise
financeira. A aceleração inflacionária fica evidente ao se analisar o IPCA
acumulado em 12 meses, que chega a 7,23% em agosto, desafiando o
Banco Central a cumprir com sua meta de inflação definida em 4,5%,
com tolerância de 2 pontos percentuais (Gráfico 1).
Gráfico 1 – Inflação de 12 meses nos últimos 7 anos contra a meta
inflacionária do Banco Central
Fonte: IBGE (elaboração própria)
Gráfico 2 – IPCA acumulado no ano (2005 – 2011)
Em relação às principais cidades brasileiras (Gráfico 3), a
inflação acumulada mais alta foi na cidade de Curitiba, onde, a partir
de fevereiro de 2011, aumentou consideravelmente. É importante
observar que a inflação de Curitiba está bem maior que aquela
registrada nacionalmente, em julho de 2011 – 8,26% e 6,87%,
respectivamente. As menores taxas, em certos períodos, pertencem
às cidades de Recife, Salvador e Belém, enquanto Brasília está na
média, registrando 7,44% em agosto.
* Graduandos do Curso de Ciências Econômicas da Universidade Católica de Brasília.
1
Os autores agradecem ao Prof. José Angelo C. do Amor Divino pela leitura crítica do texto e sugestões.
Fonte: IBGE (elaboração própria)
h�p://www.ucb.br/economia – www.economia.ucb.br
Gráfico 3 – IPCA acumulado em 12 meses nas principais cidades
do Brasil
3
Gráfico 4 – Cesta básica (R$) nas principais cidades brasileiras, em
agosto de 2011
Fonte: IBGE (elaboração própria)
Fonte: IBGE (elaboração própria)
O custo de vida mais alto foi registrado em Porto Alegre (R$
271,25), contra Aracaju (R$ 187,73) – o mais baixo, segundo o
cálculo da cesta básica feito pelo Dieese no mês de agosto. Isso
significa que a cesta básica em Porto Alegre é R$ 83,52 mais cara
que em Aracaju. O custo de vida em Brasília (R$ 244,24) está R$
10,67 acima da média (R$ 233,57).
Reduzir a taxa de juros pode ser uma atitude compreensível
na atual conjuntura, considerando as fracas perspectivas de
crescimento da economia brasileira para 2011 e 2012, bem como
o risco de contágio pela crise que se desenha no cenário externo.
No entanto, é difícil justificar a medida adotada pelo Bacen, em um
regime de metas de inflação, quando a economia brasileira sofre
o processo inflacionário mais intenso dos últimos anos, tendose em conta que o objetivo da autoridade monetária, em tese, é
proteger o poder de compra da moeda nacional. Falhar com este
compromisso coloca em dúvida a credibilidade do Banco Central.
Referências
BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN). Disponível em: <http://
www.bcb.gov.br/> . Acesso em: 28 set. 2011.
DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICAS E ESTUDOS
SOCIOECONÔMICOS – Disponível em: <http://www.dieese.org.
br/>. Acesso em: 28 set. 2011.
Mercado de Trabalho
Cristiano Nascimento Pombo da Paz*
Gilson Geraldino Silva Jr.**
Falta de mão de obra qualificada no Brasil e suas oportunidades
A economia do Brasil está crescendo e o país vem ganhando
destaque no cenário internacional principalmente nos últimos
oito anos, após seu ingresso no grupo de países com economias
emergentes, o BRIC. Apesar de os dados apresentados em setembro
de 2011, pelo FMI e pelo BACEN, terem apontado uma redução das
projeções do crescimento econômico brasileiro para 3,8% e 3,52%,
respectivamente, o valor se mantém superior à previsão de 1,6%
para as economias avançadas.
Gráfico 1 – Número de trabalhadores empregados nas Regiões
Metropolitanas (RMs)¹ pesquisadas
A economia brasileira está aquecida e isto tem refletido nas
condições de emprego, conforme mostra o Gráfico 1 do Ipea, que
apresenta dados de 2002 a 2011 referentes à população ocupada
nas regiões metropolitanas¹ pesquisadas, onde o Brasil manteve o
crescimento ao longo das crises dos Estados Unidos e da Grécia.
Em contrapartida, as potências econômicas mundiais tiveram
índices históricos de desemprego, como os EUA, cuja média de
demissão foi de meio milhão de trabalhadores por mês no final de
2008, conforme dados do U.S. Department of Labor (Departamento
de Trabalho dos Estados Unidos).
Tabela 1 – Estimativa do total da demanda e da oferta de trabalho,
com qualificação e experiência profissional em 2011
Regiões
Norte
Demanda
Oferta
1.019.676
Nordeste
2.878.626
3.283.674
Centro-Oeste
1.689.159
1.837.799
11.245.225
11.573.758
4.299.323
4.354.734
21.020.861
22.069.641
Sudeste
Sul
Total
Fonte: Ipea (elaboração própria)
Fonte: Ipea (elaboração própria)
¹ Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.
*
Graduando do Curso de Ciências Econômicas da Universidade Católica de Brasília.
Professor do Curso de Ciências Econômicas da Universidade Católica de Brasília.
**
Apesar desses dados positivos, há ainda um problema a ser
resolvido que é a falta de mão de obra qualificada no país. Em
um comunicado divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada – IPEA, em 28 de abril de 2011, sobre as projeções para
a oferta e a demanda de mão de obra no Brasil neste ano, esta
evidência ficou clara. Como se vê a seguir, na Tabela 1, haverá em
2011 no Brasil um excedente de mão de obra com algum tipo de
qualificação e experiência profissional, o que pode não ser suficiente
para sanar as necessidades específicas do mercado.
Carta Econômica – Ano XVII, nº 3 – Setembro de 2011
908.528
4
h�p://www.ucb.br/economia – www.economia.ucb.br
Conforme dito pelo presidente do Ipea, Márcio Pochmann, em
coletiva de imprensa no lançamento do comunicado no dia 28 de
abril de 2011, apesar do excedente supracitado, a falta de mão de
obra qualificada e especializada ainda é sentida em diversos setores
no Brasil, tais como na siderurgia, construção naval, construção
civil, tecnologia da informação, nuclear, automação, agronegócios,
petróleo e gás, entre outros.
O principal motivo para este problema é a divergência
entre a qualificação dos trabalhadores brasileiros e a qualificação
exigida pelos empregadores, que têm dificuldades em contratar
profissionais especializados, em face das tecnologias empregadas
para a modernização da grande maioria dos setores da economia.
Em um artigo divulgado pela revista The Economist, sob
o título The Global Talent Index Report: The Outlook to 2015
(Relatório do Índice Global de Talentos: as perspectivas para 2015),
que qualifica 60 países em um ranking mundial de formadores de
talentos humanos e faz também uma perspectiva para 2015, o Brasil
foi avaliado em 2011 e classificado na 42ª posição, atrás de países
como Argentina, Malásia, Venezuela e Colômbia. Na projeção para
2015, o Brasil subiu quatro posições, como pode ser observado na
Tabela 2, passando a ocupar então a 38ª colocação, embora muito
aquém de uma economia emergente que busca figurar entre as
grandes potências do mundo.
Tabela 2 – Índice de talentos globais 2011/2015
RANKING
2015
VARIAÇÃO
PAÍS
SCORE/
100
2011-2015
SCORE
RANKING
2015
1
-
Estados Unidos
74.5
+0.3
31
2
-
Dinamarca
65.4
+0.7
3
-
Finlândia
64.2
+1.0
4
+3
Suécia
63.4
VARIAÇÃO
PAÍS
SCORE/
100
2011-2015
SCORE
+2
China
46.3
+5.2
32
-4
Argentina
46.2
+1.6
33
-10
Grécia
45.7
-1.0
+3.9
34
-
Rússia
43.1
+2.3
5
-1
Noruega
62.3
+0.4
=35
-
Índia
42.2
+1.7
=6
-
Austrália
61.9
+1.8
=35
+3
México
42.2
+2.5
=6
-1
Cingapura
61.9
+1.7
37
-1
Romênia
41.8
+1.7
8
+6
Canadá
61.3
+3.5
38
+4
Brasil
41.7
+3.5
9
-
Suíça
60.9
+2.4
10
-2
Hong Kong
60.8
+1.7
58
-2
Argélia
28.0
+1.0
=11
+2
Alemanha
59.9
+2.0
59
+1
Nigéria
27.7
+4.6
60
-6
Azerbaijão
26.3
-3.5
...
...
Fonte: Economist Intelligence Unit, 2011
Em uma análise da situação dos países emergentes membros
do atual BRICS, o Brasil foi o pior colocado, ainda que tenha, em uma
projeção futura de quatro anos, uma perspectiva de crescimento
inferior somente à China e à frente de Rússia, Índia e África do Sul
(Gráfico 2).
Gráfico 2 – Índice de Talentos Globais dos países do BRIC 2011/2015
Outra prática comumente adotada por grandes empresas
é a garimpagem de funcionários no mercado ainda jovens. Com
processos seletivos longos e concorridos, as empresas contratam
tais jovens como estagiários ou trainees, de acordo com o perfil
desejado pela empresa, oferecendo-lhes diversos treinamentos,
qualificações, plano de carreira por metas e muitas vantagens
competitivas em comparação às outras empresas de menor
expressão. O objetivo é manter o jovem promissor motivado para
que continue na empresa por longos períodos, garantindo, assim, no
futuro, um profissional com qualificação e experiência necessárias
para assumir cargos de liderança dentro da empresa. Esta vem
sendo uma prática cada vez mais comum em multinacionais.
No entanto, não é das tarefas mais fáceis ingressar nesse
mercado de trabalho. A alta concorrência e o perfil específico exigido
dos jovens dificultam na hora da seleção. A KPMG, multinacional de
auditoria, contratou, no ano de 2011 no Brasil, o número recorde
para a empresa de 683 novos profissionais para participar do
programa de trainee, número 47% superior aos 466 contratados
em 2010. O processo de seleção teve início com um total de 38 mil
inscritos, sendo convocados 22 mil profissionais para participar do
processo de seleção após teste on-line.
Carta Econômica – Ano XVII, nº 3 – Setembro de 2011
Fonte: Economist Intelligence Unit, 2011 (elaboração própria)
Gráfico 3 – Relação entre salário e formação linguística em cargos
de liderança
É inconcebível que um país da magnitude do Brasil seja um
formador tão tímido de talentos. O mercado nacional está aquecido
e demanda pessoal capacitado. O Brasil não está suprindo essa
necessidade.
A grande dificuldade em alguns setores da economia em
encontrar mão de obra especializada no curto prazo tem feito as
empresas se movimentarem. Em determinados setores, a formação
de um profissional capacitado demanda, pelo menos, seis anos de
estudos e experiência profissional, prejudicando as necessidades
imediatas do setor. Empresas como a Petrobrás investem em
parcerias com grandes universidades do Brasil criando laboratórios
de pesquisas, contribuindo não só para a formação de recursos
humanos na universidade, como também para treinamento de
profissionais da Petrobrás. Atualmente a empresa conta com
laboratórios em convênio com a UFRJ de Engenharia, Aplicação e
Desenvolvimento em Instrumentação, Automação e Biologia.
Fonte: Catho Online (elaboração própria)
h�p://www.ucb.br/economia – www.economia.ucb.br
Na seleção são analisadas principalmente características
intrínsecas ao jovem, tais como criatividade, proatividade, boa
comunicação e outras como aptidão para trabalho em equipe, visão
de negócio global, foco na entrega de resultados com qualidade
e no autodesenvolvimento e habilidade para lidar com o cliente,
entre outras.
As línguas estrangeiras continuam sendo um diferencial, não
só para jovens trainees mas para todo o mercado de trabalho,
constituindo-se, cada vez mais, em exigência ao contratar
um profissional, principalmente para cargos de liderança. Um
levantamento da empresa de consultoria Bernt Entschev Human
Capital mostrou que mais de 64% das contratações em níveis
gerenciais, feitas no primeiro trimestre do ano de 2010 na região
sul do país, exigiram do contratado o domínio da língua inglesa.
que o combate a esse déficit passa por grandes investimentos em
formação universitária e ensino profissionalizante. A falta de mão
de obra qualificada é um efeito colateral do crescimento econômico
rápido do Brasil e do elevado grau de inovação tecnológica que
permeia as economias modernas, o que requer atenção e medidas
urgentes para sanar o problema a médio e longo prazos, haja vista
que ajustes de curto prazo não têm efeito estrutural.
Referências
ADMINISTRADORES. Disponível em: <www.administradores.com.
br>. Acesso em: 22 set. 2011.
BANCO CENTRAL. Disponível em: < http://www.bcb.gov.br/>.
Acesso em: 21 set. 2011.
De acordo com uma pesquisa realizada, em junho de 2010, pela
empresa Catho Online, maior classificado online de currículos da
América do Sul, considerado-se apenas cargos de liderança, como
diretor, gerente, coordenador, supervisor ou chefe, profissionais que
falam inglês e espanhol, estes chegam a ganhar até 21,78% a mais
que os demais trabalhadores, conforme mostrado no Gráfico 3.
CATHO ONLINE. Disponível em: <http://blog.catho.com.br/>.
Acesso em: 22 set. 2011.
O Brasil vive um período de carência de mão de obra
qualificada, o que é visto como oportunidade para muitos. Há
setores da economia com falta de pessoal em todos os níveis
da cadeia produtiva, já outros necessitam principalmente de
profissionais especializados.
INTERNATIONAL MONETERY FUND. Disponível em: <http://www.
imf.org/external/index.htm>. Acesso em: 21 set. 2011.
O governo brasileiro já acenou que está atento ao problema
da falta de mão de obra qualificada no país. O ministro da Fazenda,
Guido Mantega, anunciou que está em fase de preparação um
programa de formação de profissional e que o governo entende
Finanças Públicas 5
HEIDRICK & STRUGGLES. The Economist – Economist Intelligence
Unit - The Global Talent Index Report: The Outlook to 2015.
INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS AVANÇADAS. Disponível
em: < http://www.ipeadata.gov.br/>. Acesso em: 21 set. 2011
IPEA. Comunicado nº 89 – Emprego e oferta qualificada de mão de
obra no Brasil: projeções para 2011. 28 abr. 2011.
KMPG. Disponível em: <www.kpmg.com/br>. Acesso em: 21 de
set. de 2011.
UNITED STATES DEPARTMENT OF LABOR. �����������������������
Disponível em: <http://
www.dol.gov/>. Acesso em: 21 set. 2011.
Sandro Soares de Souza*
Evolução das despesas de comunicação do governo do Distrito Federal no período 2005-2010
Segundo Joseph Stiglitz (1986), o gasto do governo afeta uma
gama diversa de atividades, algumas das quais, em algum momento,
provavelmente tiveram, têm ou terão algo a ver com a vida de cada
um de nós. Justamente por essa influência em nosso cotidiano, a
eficiência do gasto público sempre é questionada, tornando senso
comum reclamar dos gastos públicos, em especial as despesas que
não estão relacionadas à prestação de serviços públicos, tais como
as relacionadas à educação, saúde, segurança e justiça.
Hugo Borsani, citado por Biderman e Arvate (2004), defende
que as decisões políticas e econômicas dos governos democráticos
dependem das instituições políticas existentes e das decisões dos
agentes ou atores políticos, econômicos e sociais que intervêm
nessas decisões. Dessa forma, as decisões sobre o quê e como
gastar são totalmente influenciadas pela estrutura política dos
governos. Essa decisão sobre o gasto está intimamente ligada
à questão de manutenção de estruturas de poder. Segundo
Nordhaus, conforme os citados autores (2004, p. 121-122), atingir
o poder (ou permanecer nele) é o único objetivo dos partidos
políticos. Essa perspectiva é conhecida como modelo de “ciclos
eleitorais oportunistas”, que utiliza como pressuposto que os
partidos políticos não ganham eleições para formular políticas, mas
formulam políticas para ganhar eleições.
* Graduando do Curso de Ciências Econômicas da Universidade Católica de Brasília.
Um bom exemplo dessa situação pode ser dado por intermédio
da análise das despesas de comunicação do Governo do Distrito
Federal – GDF, no período 2005 a 2010 (Tabela 1). Segundo dados
disponibilizados pela Companhia de Desenvolvimento do Planalto Central
– CODEPLAN, os gastos com a Secretaria de Estado de Comunicação
Social, transformada em 2007 em Agência de Comunicação, saiu de
um patamar de R$ 5,2 milhões em 2005 para inacreditáveis R$ 188,6
milhões em 2009, ou seja, uma variação de 3.526%.
Ao se analisar também os dados fornecidos pelo Portal
da Transparência do GDF, que contém informações um pouco
mais detalhadas sobre esse tipo de despesa, percebeu-se que
o GDF liquidou, em 2010, R$ 114,3 milhões em despesas com
comunicação. Desse total, 59,9% correspondem a despesas
contabilizadas na rubrica “Publicidade Institucional”, ou seja, sem
a devida discriminação da destinação dos recursos, o que dificulta
uma análise mais apurada desse item de despesa. Entretanto, é
possível mesmo assim inferir sobre o desinteresse dos nossos
governantes pelos gastos nas rubricas consideradas de utilidade
pública, especialmente quando identificamos que apenas 3,2%
foram destinados a campanhas de utilidade de trânsito, 1,1% em
promoção do turismo, 0,1% para a Agência de Fiscalização, 0,2%
em campanhas de doação de sangue (Fundação Hemocentro),
entre outras divulgações de interesse da sociedade. Com base
nessa perspectiva, nota-se que a comunicação do governo é mais
utilizada como um instrumento de promoção dos governantes e dos
políticos do que para mostrar suas ações com caráter de utilidade
pública. Essa situação demonstra, claramente, uma ineficiência na
utilização dos gastos públicos no setor de comunicação do GDF.
Conforme defende Hugo Borsani, nos processos de decisão
coletiva das democracias, produzem-se determinadas “ineficiências”
ou “custos” para o conjunto da sociedade. Essas ineficiências
deveriam servir como alerta para a sociedade, no sentido de
exigir dos seus governantes maior comprometimento, visando à
Carta Econômica – Ano XVII, nº 3 – Setembro de 2011
Por essa perspectiva, os gastos com comunicação são muito
importantes no sentido de aumentar a visibilidade dos governos,
contribuindo assim para a perpetuação dos políticos no poder. Em
tese, a comunicação do governo deveria ser utilizada como instrumento
de utilidade pública, especialmente na disseminação de informações
de interesse público, tais como as relacionadas à prevenção de
epidemias, acesso a serviços públicos, estímulo à cidadania, entre
outros assuntos de interesse coletivo. Todavia, é interessante notar que
qualquer tipo de governo eleito, seja ele com orientação de esquerda
ou de direita, nunca abre mão desse importante instrumento que,
muitas vezes, é utilizado na promoção dos políticos, em vez de serem
utilizados aos fins que se destinam. Evidências empíricas demonstram
a preocupação dos governantes muito mais com a divulgação e a
promoção das suas realizações de governo do que com a divulgação
de informações de interesse público.
6
h�p://www.ucb.br/economia – www.economia.ucb.br
otimização no uso dos escassos recursos públicos, de maneira a
beneficiar os membros dessa mesma sociedade. Além disso, uma
melhor transparência na divulgação desse tipo de despesa, com
detalhamento da alocação desses recursos, também ajudaria no
processo de melhoria contínua da utilidade do gasto público.
Tabela 1 – Despesas com Comunicação do Governo do Distrito Federal. 2005-2009 (Em R$1,00)
Órgão
2005
Secretaria de Comunicação Social
5.268.449,75
Agência de Comunicação
2006
2007
6.849.117,21
-
-
341.077,15
72.871.341,36
2008
2009
-
-
144.101.661,31
188.672.515,82
Fonte: Codeplan
Referências
BIDERMAN, Ciro; ARVATE, Paulo (Orgs.). Economia do setor
público no Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
CODEPLAN – Companhia de Desenvolvimento do Planalto Central.
Anuário Estatístico do DF - 2010. Disponível em: <http://www.
codeplan.df.gov.br/>. Acesso em: 13 set. 2011.
PORTAL DA TRANSPARÊNCIA FISCAL DO GDF. Disponível em:
<http://www.transparencia.df.gov.br/SIREP/VPaginas/PortaL.
aspx>. Acesso em: 13 set. 2011.
STIGLITZ, Joseph. Economics of the public sector. ���������
Londres:
Norton&Company, 1986.
COMÉRCIO EXTERIOR
Bruno de Paula Moraes*1
Protecionismo: aumento de IPI afeta automóveis importados
O governo brasileiro anunciou no dia 15 de setembro
um aumento de IPI em cerca de 30 pontos percentuais sobre os
automóveis comercializados no país. Porém, os veículos que
possuírem no mínimo 65% de componentes nacionais, que
cumprirem pelo menos 6 de 11 processos de produção no Brasil
além de investirem 0,5% do faturamento bruto em ciência e
tecnologia estarão isentos desse novo aumento de imposto.
Com validade até dezembro de 2012, essa medida
aparentemente parece difícil de ser cumprida, porém as montadoras
instaladas no Brasil há mais tempo, principalmente a GM, Fiat,
Volkswagen e Ford, preenchem perfeitamente os requisitos para a
isenção do aumento do imposto, ficando claro que a medida visa
atingir os veículos importados, excluindo os provenientes de países
membros do MERCOSUL e México que também possuem a isenção
desse aumento de IPI.
Tabela 1 – Alíquotas de IPI para automóveis
Veículos
Até 1.0 Flex Gasolina
Até 1.0 Gasolina
De 1.0 até 2.0 Flex
De 1.0 até 2.0 Gasolina
Acima de 2.0 Flex
Acima de 2.0 Gasolina
O governo não esconde que esse aumento de IPI foi
direcionado aos carros importados, ainda afirmando que a medida
foi emergencial e tem como objetivo proteger a indústria nacional e
os empregos dos brasileiros. O Ministro da fazenda Guido Mantega
e o Ministro do desenvolvimento Fernando Pimentel se mostraram
preocupados com o aumento das importações brasileiras de
automóveis.
As importações de automóveis realmente estão crescendo em
ritmo acelerado nos últimos anos, principalmente os originários da
Ásia, como os chineses, cuja importação cresceu 683% nos oito
primeiros meses de 2011, em relação ao mesmo período de 2010.
As importações totais de veículos cresceram cerca de 45,2% nesse
mesmo período.
Gráfico 2 – Taxa de crescimento da importação de veículos no
Brasil (agosto 2011)
Pré-requisito para desconto
Se enquadra
Não se enquadra
7%
37%
7%
37%
11%
41%
13%
43%
18%
48%
25%
55%
Fonte: Revista Autoesporte
Carta Econômica – Ano XVII, nº 3 – Setembro de 2011
Gráfico 1 – Importação de automóveis no Brasil
Fonte: Secex/MDIC
Fonte: Secex/MDIC
Graduando do Curso de Ciências Econômicas da da Universidade Católica de Brasília.
O autor agradece ao Prof. Tito Belchior S. Moreira pela leitura crítica do texto e sugestões.
* 1
Apesar da alta taxa de crescimento, mostrada pela China,
e da aparente “invasão” de veículos asiáticos no Brasil, a grande
maioria dos automóveis importados ainda vem dos países do
MERCOSUL (principalmente Argentina) e do México. Considere-se
que eles possuem acordos comerciais com o Brasil, a partir do que
é eliminada a alta taxa de importação que incide sobre veículos,
35%. No período de janeiro a agosto de 2011, a participação dos
automóveis importados do MERCOSUL/México ultrapassou os
50% do total de veículos importados. Já os países asiáticos (China,
Coréia e Japão) registraram uma participação de aproximadamente
30%, enquanto os veículos originários de outros países somaram
cerca de 18% do total importado.
h�p://www.ucb.br/economia – www.economia.ucb.br
Gráfico 3 – Importações de veículos no Brasil por origem
Fonte: Secex/MDIC
Outro dado importante, esse divulgado pela Associação Brasileira
das Empresas importadoras de Veículos Automotores – ABEIVA,
mostra que a participação dos carros importados fora do MERCOSUL/
México no mercado brasileiro ainda é muito pequena em relação aos
veículos nacionais e importados do MERCOSUL/México.
De janeiro a agosto de 2011, a participação dos importados extra
MERCOSUL/México foi de 5,9% do total de emplacamentos feitos
no Brasil, durante esse período. A relevância desses automóveis no
mercado nacional ainda é muito pequena. O Gráfico 4 mostra que
não haveria nenhuma necessidade de uma medida emergencial.
Gráfico 4 – Participação no total de emplacamentos (jun-ago 2011)
Fonte: ABEIVA
Realmente há uma pressão das montadoras externas
sobre o mercado nacional. O grande aumento das importações,
principalmente dos asiáticos, não nos deixa dúvidas de que, a longo
prazo, esses veículos tendem a dominar o mercado doméstico.
Porém, na atual conjuntura, uma medida protecionista como essa
não pode ser justificada como medida emergencial para proteger a
indústria nacional.
A medida apresentada pelo governo, a curto prazo, será
bastante eficaz para interromper o grande crescimento das
importações de veículos extra MERCOSUL/México. Contudo,
essa atrapalhada medida traz consigo diversas consequências
que poderão afetar o desenvolvimento de tecnologia e inovação
na indústria brasileira, a criação de novos postos de trabalho, os
investimentos futuros no país, não só no setor automobilístico,
mas também os investimentos em geral e, principalmente, os
consumidores brasileiros.
Com esse aumento de IPI, a comercialização dos automóveis
que vem de fora do eixo MERCOSUL/México, principalmente os
originários da China, que entraram no país visando ao mercado de
veículos populares, poderá ficar inviável. Um exemplo é o carro
J3 Turin da JAC Motors que, antes do aumento de IPI, era vendido
MERCADO FINANCEIRO
por R$39.900. Com o aumento, o mesmo veículo passaria a ser
vendido por mais de R$ 51.000. Ou seja, um carro de nível popular
será vendido por um preço de um carro de uma categoria superior,
tornando o negócio inviável.
Como consequência, as montadoras há mais tempo instaladas no
país não terão concorrência, logo, além de poder aumentar os preços,
não haverá incentivo para que haja desenvolvimento tecnológico no
setor, fazendo com que a indústria se acomode e continue vendendo
automóveis de baixíssima qualidade a preços absurdos.
Outro ponto a ser discutido é o de investimento no país. As
duas principais montadoras chinesas que entraram no mercado
brasileiro, Chery e JAC Motors, possuem planos já em níveis
avançados de investimentos em construções de novas fábricas no
Brasil. Essa nova medida pode espantar os investidores. O próprio
ex-Ministro do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior,
Miguel Jorge, afirmou que essa medida é estranha e desnecessária,
podendo afetar as montadoras que planejavam investir no Brasil.
O Jornal O Estado de São Paulo publicou, em sua edição do
dia 17 de setembro, uma entrevista com o ex-Ministro, em que ele
afirma: “Acredito que a indústria brasileira não precisa disso. A
parcela dos veículos importados nas vendas no País é pequena”;
e completou: “Isso vai desestimular a entrada de novas fábricas no
Brasil. Eu, se fosse presidente de uma montadora que estava para
entrar no País, reveria minha posição”.
Considere-se que são prejudicados não só os investimentos
no setor automobilístico, a medida acaba espantando também
os investimentos em outros setores da economia. Que investidor
colocaria seu dinheiro em um país cujo governo pode mudar a
legislação a qualquer momento prejudicando assim seu negócio?
Além de todas essas consequências negativas, essa medida
ainda fere diretamente uma regra básica da Organização Mundial
do Comércio – OMC, segundo a qual não pode haver um tratamento
diferenciado entre produtos importados e nacionais, após o
pagamento do imposto de importação, cuja alíquota já é a máxima
permitida pela organização.
Uma medida de incentivo à indústria nacional deveria sim
ter sido utilizada, porém com mais estratégia de longo prazo,
podendo, assim, trazer benefícios para a economia brasileira. Uma
medida que aumentasse a competitividade da indústria mantendo
a concorrência de montadoras do exterior, por exemplo, uma
diminuição na carga tributária das empresas instaladas no país.
Com um maior nível de competitividade e com a concorrência
externa pressionando, haveria incentivos naturais para a inovação
industrial, o desenvolvimento de novas tecnologias, a instalação de
novas fábricas por outras montadoras além dos preços que iriam
ser puxados para baixo. O protecionismo não é a melhor solução.
Referências
Associação Brasileira de Empresas Importadoras de Veículos Automotores.
Disponível em: <www.abeiva.com.br>. Acesso em: 23 set. 2011.
Brasil Econômico. Disponível em: <www.brasileconomico.com.br> .
Acesso em: 23 set. 2011.
Folha de São Paulo. Disponível em: <www.folha.uol.com.br>. Acesso
em: 23 set. 2011.
Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio exterior. Disponível
em: <www.mdic.gov.br> . Acesso em: 20 set. 2011.
O Estado de São Paulo. Disponível em: <www.estado.com.br>. Acesso
em: 23 set. 2011.
Revista Autoesporte. Disponível em: <revistaautoesporte.globo.com>.
Acesso em: 24 set. 2011.
Valor Econômico. Disponível em: <www.valor.com.br>. Acesso em: 23
set. 2011.
Clarissa Medeiros Borges*
Rogério Boueri Miranda**
*
Graduanda do Curso de Ciências Econômicas da Universidade Católica de Brasília.
Professor do Curso de Ciências Econômicas da Universidade Católica de Brasília.
** guerra entre o presidente Barack Obama e o Congresso estadunidense
para aumentar o teto da dívida pública americana. Depois de uma
negociação longa e desgastante, os partidos republicano e democrata
deixaram para o último dia a aprovação do aumento do limite de
endividamento do país, que foi elevado em US$ 2,1 trilhões, seguido de
um corte de gastos no valor de US$ 2,4 trilhões.
Essas medidas, porém, não foram suficientes para camuflar os
sinais de que a economia da maior potência do mundo não estava
muito bem. Os altos índices de desemprego, os claros indícios de
desaceleração do crescimento do país e uma nítida crise política entre
o presidente e o congresso foram mais do que suficientes para a
agência de rating S&P surpreender o mercado financeiro, rebaixando
a nota americana. Segundo a agência, o plano de consolidação fiscal
americano não atinge o que seria necessário para estabilizar a dinâmica
da dívida no médio prazo.
A Europa também não vem passando por bons momentos.
Carta Econômica – Ano XVII, nº 3 – Setembro de 2011
Efeitos remanescentes da crise de 2008 voltam a ser sentidos pela economia global
Quando já não se acreditava que ainda caberiam mais protagonistas
para o ano de 2011, além das catástrofes naturais ocorridas no Japão
e da primavera árabe ocorrida no mundo islâmico, a agência de rating
Standard & Poor’s rebaixa, pela primeira vez na história, o rating dos
Estados Unidos de AAA para AA+. Além dos EUA, a Europa também
passa por um momento delicado, com diversas incertezas por conta da
dívida fiscal de alguns países como Grécia, Espanha, Irlanda e Itália, e,
caso se concretizem, podem afetar drasticamente a zona do euro.
Ainda afetados por reflexos da crise de 2008, os Estados Unidos
têm enfrentado sérios problemas de ordem econômica e política ao
longo deste ano. Claros sinais desses problemas foram explicitados na
7
8
http://www.ucb.br/economia – www.economia.ucb.br
A formação de uma instabilidade na zona do euro surgiu devido a
problemas de ordem fiscal. Países como Grécia, Espanha, Irlanda e
Itália gastaram, nos últimos anos, mais dinheiro do que conseguiram
arrecadar por meio de impostos para financiar esses gastos e passaram
a acumular dívidas. Dessa forma, a relação endividamento/PIB de
muitos países do continente europeu ultrapassou significativamente o
limite de 60% estabelecido no Tratado de Maastricht, de 1992, que criou
a zona do euro. Com relação à Grécia, que vive atualmente a situação
mais grave, a razão dívida/PIB é mais do que o dobro daquele limite.
A desconfiança da capacidade desses países europeus de
honrarem suas dívidas fez com que os investidores passassem a temer
possuir ações, bem como títulos públicos e privados europeus. Essa
desconfiança, somada à crise vivida pelos Estados Unidos, derrubou as
bolsas no mundo inteiro. Mas, apesar de as bolsas acumularem queda
maior nos EUA, as perdas, de modo geral, são menores que aquelas
verificadas no mercado brasileiro. Isso se dá porque os investidores
retiram dinheiro da bolsa brasileira, durante o período de instabilidade,
aplicando-o em renda fixa, já que o Brasil possui uma das maiores taxas
de juros do mundo. Somente neste ano, embora a redução na última
reunião do COPOM, a Selic subiu 1,25 ponto percentual.
No cenário nacional, não se pode negar que o Brasil esteja
mais preparado para enfrentar as turbulências do que esteve em
2008. Ressalte-se que em agosto de 2008, pouco antes do pedido de
concordata, feito pelo grupo Lehman Brothers, o Banco Central brasileiro
possuía um pouco mais que US$ 205 bilhões em reservas cambiais
(Tabela 1). Hoje, o país conta com a robustez representada por um nível
maior de reservas e esta, apesar de não se constituir em blindagem
para nenhuma crise – afinal o mundo está demasiadamente globalizado
– oferece mais segurança para o enfrentamento de momentos mais
delicados na economia.
Tabela 1 – Evolução das reservas cambiais brasileiras, em US$ milhões
Agosto/ 2008
Agosto/2009
Agosto/2010
Agosto/2011
205.116
215.744
261.320
353.397
Fonte: BACEN (elaboração própria)
Em meio a tanta apreensão dos mercados, em função da
instabilidade na economia dos EUA e da Europa, o Ibovespa tem
tido um desempenho pior que as demais bolsas, sofrendo quedas
constantemente, desde o início de 2011 (Gráfico 1). O ano começou de
forma conturbada, com as ações da Petrobrás (que detém a segunda
maior participação no Ibovespa), bastante penalizadas por conta de
dúvidas em relação ao processo de capitalização da Companhia.
O Ibovespa também sofreu com a segunda maior empresa de
peso no índice, a Vale, que também acabou afetando o índice de uma
forma geral. A saída de Roger Agnelli (antigo presidente) fez o mercado
penalizar as ações da empresa com fortes baixas. Dessa forma, o Índice
Bovespa começou o ano em desvantagem, e, quando a crise mundial
se deflagrou, a bolsa brasileira sofreu quedas ainda maiores.
Gráfico 1 – Desempenho do Ibovespa nos últimos 12 meses
Fonte: ADVFN
Gráfico 2 – Comportamento do dólar em um ano
Fonte: ADVFN
Devido a esse movimento de forte valorização da moeda norteamericana frente ao real, chegando a bater a casa dos 13,34% de alta
acumulada, muitos bancos e consultorias revisam suas previsões e
acreditam que, caso o dólar continue nesse nível, é inevitável que ele
ultrapasse a meta de inflação para este ano, que deveria ser de 4,5%.
Em suma, o sistema financeiro brasileiro está sólido; e a
situação fiscal, longe de estar tão desajustada quanto a dos países que
desencadearam a atual crise. A instabilidade econômica externa não
está sendo sentida em grande escala por aqui, pois grande parte das
exportações de commodities do Brasil é voltada para China, que está em
franco crescimento. Entretanto, essa situação pode não se manter tão
estável, uma vez que a China possui uma relação comercial forte com
os Estados Unidos. Para tanto, uma possível desaceleração da economia
estadunidense pode afetar a China e, em um efeito dominó, pode também
afetar o Brasil. Portanto, é preciso ficar atento às novas movimentações da
economia global para evitar ou, quem sabe, amenizar efeitos em cadeia.
Referências
ADVFN. Disponível em: <http://br.advfn.com>. Acesso em: 28 set. 2011.
Banco Central do Brasil. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br> Acesso
em: 28 set. 2011.
BM&FBovespa. Disponível em: <http://www.bmfbovespa.com.br> Acesso
em: 28 set. 2011.
Folha de São Paulo. Disponível em: <http://www.folha.uol.com.br> Acesso
em: 28 set. 2011.
G1 Economia. Disponível em: <http://g1.globo.com/economia> Acesso
em: 25 set. 2011.
Infomoney. Disponível em: <http://www.infomoney.com.br>. Acesso em:
26 set. 2011.
O Estado de São Paulo. Disponível em: <http://www.estadao.com.br>
Acesso em: 24 set. 2011.
O Globo. Disponível em: <http://oglobo.globo.com> Acesso em: 27 set.
2011.
Portal Exame. Disponível em: <http://www.exame.abril.com.br>. Acesso
em: 26 set. 2011.
UOL Economia. Disponível em: <http://economia.uol.com.br> Acesso em:
27 set. 2011.
Valor Econômico. Disponível em: <http://www.valor.com.br>. Acesso em:
28 set. 2011.
A Carta econômica é um boletim trimestral com tiragem de quinhentos exemplares, produzido pelo Curso de Ciências Econômicas (graduação, mestrado e doutorado em
Economia de Empresas).
Ano XVII, no 3 – setembro de 2011
Prof. MSc. Amairte Benevenuto ([email protected])
Editor da Carta econômica do DF
Coordenador da Seção de Finanças Públicas
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Prof. Dr. Tito Belchior S. Moreira ([email protected])
Coordenador da Seção de Comércio Exterior DF
Prof. Dr. Rogério Boueri Miranda ([email protected])
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Diagramação: Francisco Claudimar Bezerra Sousa/Editora Universa – UCB
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Curso de Ciências Econômicas da Universidade Católica de Brasília – UCB
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EXPEDIENTE
CARTA ECONÔMICA – Ano XVII, nº 3 – setembro de 2011
Não podemos deixar de observar um fato que ocorreu nos
últimos dois meses (agosto e setembro): a repentina alta do dólar, que
saiu de R$1,59, no fim de agosto, para em média R$ 1,84 em setembro,
chegando a atingir a casa de R$ 1,91 (Gráfico 2), assustando a indústria.
Enquanto os exportadores nacionais comemoram a desvalorização do
real, muitas indústrias estão preocupadas com seus caixas, pois, nos
últimos anos, as companhias se endividaram em dólar e desenvolveram
uma extensa rede de fornecedores no exterior.
Se a reviravolta do mercado de câmbio não for um ponto fora da
curva, como na crise de 2008, as empresas vão sofrer com a alta dos
insumos importados e das despesas financeiras em dólar. Companhias
relatam que os custos já estão subindo à medida que faturam os insumos
nos portos. Até agora, as companhias optaram por absorver a alta dos
custos com redução do lucro, mas, se o real ficar acima de R$ 1,80, os
reajustes serão incontornáveis, com reflexos nos índices inflacionários.
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