UM OLHAR NO BRASIL ANTES DA COPA E PREVISÃO PARA O FUTURO Alejandro Ortiz Diaz* RESUMO Em um panorama onde a taxa de impostos paga pelos brasileiros é elevada, podendo atingir até o dobro do valor dos produtos, e onde a dívida pública do Brasil continua aumentando, celebra-se a Copa do Mundo FIFA 2014. O maior evento esportivo do mundo é também, nessa edição, o evento com maiores polêmicas. A Copa possui muitos amigos e muitos inimigos. Mas afinal, quem está certo? Provavelmente o tempo será o encarregado de tirar as dúvidas sobre os efeitos dessa conjuntura. ABSTRACT In a context where the majority of Brazilians taxes are high and sometimes manage to double the cost of a product and where Brazil’s public debt continues increasing, the 2014 FIFA World is being celebrated as the largest sporting event in the world and also, in this edition, the event with the most controversy. These days the Cup has many friends and many enemies, but who is right? Time will probably be in charge of removing doubt about the effects of this conjuncture. Palavras chave: Brasil, dívida pública, Copa do Mundo, desenvolvimento Key words: Brazil, public debt, World Cup, Development. *Estudante de Economía e Administração de Empresas da Universidad Autónoma de Manizales – Colômbia INTRODUÇÃO O Brasil possui uma importância econômica significativa. É a 7ª maior economia do mundo, a 2ª da América e a 1ª da América Latina (dados do Banco Mundial). Além disso, é um dos maiores exportadores mundiais e muitos países dependem da sua produção, já que é uma nação rica em recursos e reservas naturais. Depois de ler essa breve introdução, qualquer pessoa poderia imaginar que o Brasil é o melhor lugar para se viver na América Latina, como aconteceu comigo, que há algum tempo em minha Universidade (Universidade Autônoma de Manizales Colômbia) comecei a investigar todos os dados relacionados ao “país do futebol”, com a pretensão de fazer um intercâmbio. Assisti a filmes e documentários sobre ele, onde só mostravam imagens bonitas, com as maiores universidades da América Latina (e as melhores), as belas praias do Rio e as cidades do Sul. Até as favelas cheias de cores pareciam receptivas e tranqüilas. Enfim, me apaixonei por esse Brasil e decidi fazer um intercâmbio nele. Após chegar, o meu conceito foi se modificando. Por exemplo, não entendia porque tinha que pagar R$ 5,00 por um suco, enquanto na Colômbia eu pagava apenas R$ 2,00. Não entendia porque tudo era mais caro que na Colômbia, sabendo que o Brasil exporta mais frutas que o meu país. Percebi então que o Brasil que eu vi nos filmes e documentários não era o país que eu estava conhecendo. A partir daí iniciei uma pesquisa muito profunda sobre o que estava acontecendo e decidi estudar matérias de economia na PUC, onde eu pudesse encontrar respostas a tantas perguntas que eu tinha. Estudei algumas, como Economia Internacional, com a finalidade de conhecer o desenvolvimento do Brasil no exterior. Outra matéria que também exerci chamava-se Economia do Setor Público. Foi a melhor disciplina que eu havia estudado em minha vida, já que o Professor Flávio Riani também foi o melhor professor que eu havia tido. Descobri, portanto, que o Brasil estava muito bonito por fora, mas economicamente não estava bem. De fato, eu não entendia como uma pessoa conseguia sobreviver com um salário mínimo de R$ 724,00 ao mês. Eu, por exemplo, morei em uma república onde só de aluguel, tinha que pagar R$425,00 (um preço baixo). Além disso, o transporte (que é muito caro) custa R$ 2,85. Diante disso, pude fazer alguns cálculos: Eu trabalhava como voluntário na SMCOPA (Secretaria Municipal Extraordinária da Copa), que fica no centro de Belo Horizonte. Gastava R$ 2,85 x 2 (ida e volta), ou seja R$ 5,70 por dia. Eu trabalhava cinco dias por semana, ou seja, R$ 28,58 (R$5,70 x cinco dias) de passagem. Contando que um mês normalmente tem quatro semanas, logo gastava R$ 114,00 com o transporte (R$28,50 x quatro semanas) ao mês. Somando o aluguel mais o transporte daria um total de R$ 539,00 por mês. Agora eu me pergunto: com o dinheiro que sobra (R$ 185,00), supondo que eu seja uma pessoa que receba um salário mínimo, quanto restaria para alimentar-me todos os dias? Para pagar o IPTU e as contas de água e luz? Concluo que o dinheiro seria insuficiente. Depois desses cálculos eu fiquei surpreendido, pois achava que era difícil viver com essa quantia de dinheiro ao mês, ainda mais quando os preços são tão elevados. Mas porque preços tão elevados? Essa questão me fez pesquisar a razão pela qual a primeira economia de América Latina e o pioneiro da América em recursos naturais era um país tão caro. Encontrei muita informação, das quais pude constatar que o principal motivo eram os tributos. Li notícias e artigos relacionados aos tributos, onde o que mais me impressionou foi um estudo feito pelo IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação) que leva por título: "Brasileiro trabalhará até 31 de maio de 2014 para pagar tributos, aponta IBPT" (www.ibpt.org.br). De acordo com o presidente-executivo do IBPT, João Eloi Olenike, "O brasileiro deverá destinar 41,37% do seu rendimento bruto para pagar os tributos". Ou seja, o brasileiro trabalha 150 dias para pagar tributos, e segundo o estudo o mesmo trabalha mais dias para pagar tributos que cidadãos onde a carga tributária é maior, como os húngaros, que trabalham 142 dias para pagar impostos, os alemães que trabalham 138 dias para pagar impostos, ou como os belgas, que trabalham em média 102 dias para o mesmo fim. Esses dados me fizeram descobrir que não é só a classe baixa sofre com alta taxa de impostos. A classe média e alta também é afetada pala elevada taxa tributária. Na próxima tabela estão alguns dos principais impostos no Brasil. Figura1 Eu tenho certeza, e para ninguém é um segredo, que nesses países com elevados impostos, como Alemanha, Bélgica e Hungria, há um alto nível de desenvolvimento, onde as pessoas recebem muito mais que R$ 724,00 de salário ao mês. Diante disso pensei: Se o brasileiro gasta tanto dinheiro pagando impostos, então o governo deve retorná-los em benefício deles, já que a maior parte do dinheiro dos gastos públicos provém desses tributos. Imaginava então que o Brasil utilizava essa grande carga de gastos públicos para investir em saúde, educação, projetos sociais e etc. Entretanto, pesquisando mais sobre o tema, descobri que o Brasil é muito falho retornando o imposto aos cidadãos. De fato achei um artigo no jornal Folha de São Paulo com o seguinte título: "Brasil é o pior em retorno de imposto à população, aponta estudo", nesse artigo, da autora Claudia Rolli, e onde são analisados 30 países, os Estados Unidos estão em primeiro lugar na lista de retorno da carga tributária à população. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) desse país é de 0.937, com uma carga tributária de 24,30% e com um índice de retorno do 165,78. Por outro lado o Brasil, que está em ultimo no ranking, tem esse índice no valor 135,34, com uma carga tributária do 36,27% e com um IDH de apenas 0,730, como é apresentado na seguinte tabela: Além dos dados da tabela, o estudo também explica que é a quinta vez consecutiva que o Brasil proporciona o pior retorno dos valores arrecadados com tributos em qualidade de vida para a sua população. Então, como ele utiliza esses recursos? Novamente fiz uma pesquisa onde dizia que a dívida pública era a culpada, uma vez que, como informa a ex-auditora Maria Lucia Fattorelli, "O governo federal enviou ao Congresso Nacional a previsão orçamentária para 2014 com a impressionante destinação de R$ 1, 002 trilhão de reais para o pagamento de juros e amortizações da dívida, sacrificando todas as demais rubricas orçamentárias ". Um trilhão de reais é muito dinheiro. Mas, quanto vai para a saúde e a educação, por exemplo? Tabela1: Comparação IDH- Carga Tributária - Índice de retorno, Fonte: IBPT abaixo mais uma tabela com alguns números que responderão a pergunta. Vejamos Imagem 1 Depois desse panorama econômico, qual vai ser o papel da Copa do Mundo? É nessa situação econômica atual que o Brasil recebe a Copa do Mundo de 2014. Um evento que custou mais de 10 bilhões de reais (fonte: Portal de Transparência do Governo Federal), valor este sem incluir as obras de mobilidade urbana, aeroportos, segurança, portos, telecomunicações, e outros, que embora ajudassem na realização da Copa, eram necessários às cidades e já eram necessários. O custo do maior evento esportivo mundial é realmente muito alto se comparado ao orçamento público brasileiro? Pesquisando um pouco mais, encontro outro artigo do jornal Folha de São Paulo, titulado: "Custo da Copa equivale a um mês de gastos com educação.” Neste trecho os autores defendem a ideia de que "os investimentos para a Copa representam parcela diminuta dos orçamentos públicos." Como foi mencionado anteriormente já sabemos para onde vai a maioria dos gastos públicos do Brasil. Por outro lado, segundo um artigo da CNBC (Consumer News and Business Chanel dos Estados Unidos), "A Copa no Brasil foi a mais cara do mundo desde que a Copa começo há 84 anos atrás.” Ou seja, por um lado temos que o investimento na Copa é muito menor que os orçamentos públicos, mas, é também o investimento mais elevado realizado na história da Copa do Mundo. Os estádios e as obras feitas neste ano de 2014 sem dúvidas deixaram um legado para o país e para as cidades sede. Segundo o site governamental Portal da Copa o "Brasil recebeu um milhão de turistas estrangeiros de 203 nacionalidades,” Nesse artigo também é citado que, segundo uma pesquisa realizada pelo Ministério do Turismo "95% dos visitantes internacionais tem intenção de retornar ao país.” Em matéria de empregos, segundo um estudo realizado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), a pedido do Ministério do Turismo, "A Copa do Mundo gerou mais de 1 milhão de empregos no Brasil" dos quais, segundo o mesmo estudo, das vagas de emprego, mais de 700 mil são fixas (com carteira assinada), o que significa que a Copa contribuiu muito na prática, não ficando somente na teoria. Mas será que tudo o que aconteceu nas cidades sede foi realmente bom? Vimos que os estádios ficaram bonitos e os shows foram ótimos. Mas, como ficou o Brasil por dentro? Se a dívida era alta antes da Copa (como mencionado anteriormente) como ficou depois ela? Encontrei a resposta para essa pergunta: "Próximo da Copa do Mundo, cresce a dívida pública das cidades-sede". Essa informação provém do Banco Central, que também diz que "em dois anos, as dívidas das 12 sedes do Mundial com o Tesouro Nacional ou bancos públicos cresceram, em média, 51%, enquanto as capitais sem Copa, no mesmo período, apenas 20%.” O gráfico abaixo pode explicar melhor essa situação: "Para o professor de administração pública José Matias-Pereira, da Universidade de Brasília, o endividamento preocupa porque as capitais terão pouca capacidade de investimento à frente". "São muitos anos para pagar, e débitos ficam para gerações futuras. Por isso, é preciso um freio para que, no futuro, não paguem por descontrole de um ou outro gestor.”, afirmou Aécio Prado Júnior, vice-presidente do Conselho Federal de Contabilidade. A situação, por fim, é preocupante, uma vez que anteriormente falamos da alta dívida pública que tinha o Brasil antes de receber a Copa do Mundo de 2014. Além disso, há também a questão do salário mínimo, que de tão baixo, como calculamos, não é suficiente para se viver bem. Provavelmente essas pessoas que foram empregadas durante o evento terão uma situação econômica muito diferente daquelas que não tiveram a mesma oportunidade, e que pelo contrário muitas vezes tiveram que pagar mais caro por alguns produtos ou serviços devido à conjuntura (a Copa). O Brasil se prepara agora para receber as Olimpíadas 2016, onde não serão disputados somente jogos de futebol, ou seja, provavelmente terá que fazer novos investimentos em arenas especializadas para cada esporte. Será que o palco das Olimpíadas de 2016 continuará se endividando para atingir todas as suas finalidades Figura2 esportivas? Quem pagará então a dívida deixada pela Copa e a anterior, que já atingia um trilhão de reais? A resposta é simples: a própria população brasileira, através das altas taxas de impostos embutidas nos produtos e serviços. Estes provavelmente aumentarão os seus preços, deixando o custo de vida cada vez mais alto e contribuindo ainda mais para uma crise econômica e social. REFERENCIAS • http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/04/1434959-brasil-e-o-pior-emretorno-de-imposto-a-populacao-aponta-estudo.shtml • http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/04/1442933-proximo-da-copa-dividapublica-das-cidades-sedes-aumenta.shtml • https://www.ibpt.org.br/noticia/1691/Brasileiro-trabalhara-ate-31-de-maio-de2014-para-pagar-tributos-aponta-IBPT • dados.bancomundial.org/pais/brasil • http://csbbrasil.org.br/divida-consumira-mais-de-um-trilhao-de-reais-em2014/