Jogadores portugueses enganados em Chipre, Grécia, Turquia e

Propaganda
ID: 49357581
22-08-2013
Tiragem: 45640
Pág: 41
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 26,85 x 30,61 cm²
Âmbito: Informação Geral
Corte: 1 de 2
Jogadores portugueses enganados
em Chipre, Grécia, Turquia e Roménia
Riscos de incumprimento salarial, coacção física e psicológica a futebolistas estrangeiros levam FIPPro
e Sindicato dos Jogadores a lançar alerta aos seus associados. O PÚBLICO relata algumas experiências
PIERRE-PHILIPPE MARCOU/AFP
Futebol
Paulo Curado
Assinar um contrato para jogar nos
campeonatos de Chipre, Grécia ou
Turquia pode implicar grandes riscos para um jogador profissional,
especialmente se for estrangeiro. Os
casos de incumprimento salarial têm
aumentado, assim como situações de
coacção física e psicológica sobre os
atletas, entre os quais portugueses. A
FIFPro, confederação internacional
de sindicatos de jogadores profissionais, aconselhou ontem os associados
a terem cautelas antes de assinarem
um contrato com emblemas destes
países e o Sindicato dos Jogadores
Profissionais de Futebol (SJPF) português alarga o alerta à Roménia.
“Estive a jogar em Chipre na última
temporada e, no meu caso, não me
pagaram dois meses de ordenados”,
revelou ao PÚBLICO Rui Miguel, actualmente jogador do Paços de Ferreira, que alinhou em 2012-13 pelo
AEL Limassol. “Passei por algumas situações complicadas. Fui ameaçado
por dirigentes [um dos quais português] para rescindir o meu contrato
de dois anos e prescindir das verbas a
que teria direito”, denuncia o médio,
admitindo que o contexto de crise financeira que Chipre está a atravessar
tem agudizado a situação.
Também Paulo Sérgio, avançado que integrou esta temporada os
quadros do Arouca, viveu momentos
difíceis em Chipre no ano passado,
igualmente ao serviço do AEL Limassol. “Eles prometem, mas depois
não pagam os ordenados e ainda
ameaçam os jogadores”, lamentou
o avançado formado nas escolas do
Sporting, que aceitou rescindir o seu
contrato e regressar a Portugal.
“Sei do caso de um português, que
não vou referir o nome, que tinha
mais um ano de contrato e o clube
queria rescindir. Disseram-lhe que
se não saísse a bem, sairia a mal.
Uma noite conduzia um automóvel,
acompanhado pela esposa e filha,
e foi mandado parar por um carro
da polícia a poucos metros de casa.
Meteram-lhe dois cães dentro do veículo e disseram-lhe que aquilo era só
um aviso, que na próxima vez iriam
‘encontrar’ droga no carro. No dia seguinte aceitou rescindir, abdicando
de tudo o que teria a receber”, recordou Rui Miguel, que também passou
Conflitos laborais
com portugueses
Denúncias na última época
Chipre mais de 70
Roménia mais de 40
Grécia mais de 20
Turquia, Bulgária, Angola
e Irão mais de 10
Principais problemas
– O clube e o agente não
disponibilizam cópia do
contrato ao jogador
– Incumprimento salarial
– Contratos paralelos
– Ameaças e coacção física
– Retenção de passaporte e
documentação pessoal
– Abandono: despejo forçado,
corte de água e luz
– Rescisões sem justa causa
(visto de trabalho, exame
médico, lesões, etc.)
– Despromoção: treino à parte
O que deve fazer o jogador
– Contactar previamente o
SJPF para esclarecer dúvidas
– Ter acesso ao contrato na
língua do clube e numa das
línguas oficiais da FIFA
– Exigir sempre cópia do
contrato de trabalho
– Nunca entregar documentos
pessoais (bilhete de
identidade, passaporte) nos
clubes
– Exigir por escrito as
condições acordadas
(viagens, habitação, veículo,
prémios, etc.)
– Informar-se sobre a realidade
fiscal e económica do país
(IRS, IVA, taxa de câmbio, custo
de vida)
– Estar atento a cláusulas
que prevêem um período
experimental
– Procurar saber se está
perante um convite à
experiência ou uma proposta
de trabalho
– Evitar “empresários”
não licenciados ou já
“referenciados”
Na principal Liga de Chipre há actualmente 39 jogadores portugueses
por outras situações complicadas no
futebol romeno e russo.
A Roménia não está incluída no
alerta da FIFPro, mas é, segundo o
SJPF, outro destino problemático, pelo menos para os jogadores nacionais. “Na óptica dos futebolistas portugueses, os países onde se verificam
situações anómalas mais graves são
Chipre, Grécia e Roménia, mas não
tanto a Turquia”, garante Joaquim
Evangelista, presidente do SJPF. “A
maioria dos jogadores portugueses
que vai para estes campeonatos responde a uma oportunidade que lhe
é apresentada por um empresário,
que pode ou não ser certificado. Os
atletas não sabem muitas vezes que
proposta estão a assinar.”
Este não foi o caso de Rui Miguel,
que partiu para Chipre com um
contrato devidamente traduzido e
rubricado, mas nem isso permite
muitas vezes descansar. “Na Rússia
[onde representou o Krasnodar, em
2011-12] também tive problemas. No
acordo que assinei tinha direito a um
carro com motorista, mas foram-me
ambos retirados quando cheguei e
tinha de deslocar-me sempre de táxi.
Depois, também me tiraram a casa
que o clube tinha alugado, com as
minhas coisas lá dentro.”
Após esta experiência negativa em
terras russas, o médio, de 29 anos,
seguiu para a Roménia, mas o cenário não melhorou. “Estive lá cinco
meses [ao serviço do Astra Giurgiu]
e nunca recebi ordenado. Tive de levar o caso à FIFA e, como represália,
puseram-me a treinar com os juniores e nem me forneciam equipamento.” Mas a queixa terá sido a melhor
opção do jogador: “Como a equipa
tinha alcançado o segundo lugar no
campeonato e só poderia participar
nas competições da UEFA sem casos
pendentes de dívidas salariais, acabaram por pagar.”
A maioria dos casos anómalos com
estrangeiros nestas ligas verifica-se
em clubes que não lutam pelos lugares europeus, segundo denuncia
a FIFPro, já que não estão sujeitos
aos controlos de licenciamento da
UEFA. “Estes clubes oferecem salários estupendos, vivendas luxuosas,
planos ambiciosos e um prémio de
assinatura”, revela o relatório deste
organismo. Os jogadores têm encontrado uma realidade bem diferente.
“Há mais casos de insucesso do que
de sucesso”, alerta Evangelista.
ID: 49357581
22-08-2013
Tiragem: 45640
Pág: 48
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 5,03 x 3,54 cm²
Âmbito: Informação Geral
Corte: 2 de 2
Jogadores devem
evitar Turquia, Chipre,
Roménia e Grécia
O PÚBLICO relata (más)
experiências de futebolistas,
Foi lançado alerta p41
Download