Expediente Índice Editorial 02 Editorial TURANO, Fátima Multitextos das Faculdades Integradas Pitágoras Publicação Semestral das Faculdades Integradas Pitágoras Montes Claros - Minas Gerais - Brasil Ano: 8 - Nº 9 - Abril de 2010 ISSN 1808-6969 Cursos Integrados Periódicos EDITORES CIENTÍFICOS RESPONSÁVEIS Profa. Ms. Rosina Turano Mota Profa. Dra. Regina Célia Lima Caleiro Prof. Dr. Antônio Prates COMISSÃO EDITORIAL Prof. Ms. Achilles Gonçalves Coelho Júnior Profa. Ana Augusta Maciel de Souza Profa. Ana Beatriz César Rodrigues Profa. Dra. Dorothea Schmidt França 04 SOUZA, Ana Augusta Maciel; LEMOS, Manoel Henrique Mattos; MAIA, Roubilene Costa Soares; MARQUES, Ana Paula Monteiro Lima; SILVA, José Rodrigo da. 12 21 Contribuição do farmacêutico no diagnóstico e tratamento da Infecção do Trato Urinário (ITU) GUERRA JÚNIOR, Geraldo Edson Souza; ROCHA, Josiane Santos Brant; VELOSO, Daniela Araújo, FREITAS, Ronilson Ferreira 27 Análise de alguns parâmetros físico-químicos de amostras de mel comercializadas na cidade de Montes Claros - MG DAMASCENO, Eurislene Moreira Antunes; SILVA, Marley Garcia; NUNES COSTA, Mariana de Oliveira; SANTOS, Maria Thereza Ruas 35 Os Egressos do Curso de Psicologia das FIPMoc e o Mercado de Trabalho MACHADO, Jacqueline Simone de Almeida.; CAMARGO, Amanda Nogueira; FILHO, Laurindo Belém Ferreira; PIRES JUNIOR, Roberto Carlos; QUEIROZ, Aline Silva; SANTOS, Eduardo Calazans Quaresma dos EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Thaís Cristina Figueiredo Rego ASSESSORIA DE REVISÃO LINGÜÍSTICA Rosane Bastos Dificuldades Encontradas na Assistência de Enfermagem a Pacientes Queimados AMARAL, Edilene Oliveira; MARQUES, Franciane Pereira; VELOSO, Adryanna Soares; MOTA, Georgina Amaral EDITORA EXECUTIVA Maria de Fátima Turano CAPA Ilimitada Propaganda A Percepção da Criança e do Adolescente frente ao Processo de Hospitalização 45 A Relação Fisioterapeuta-paciente e os Desafios da Terapia: Atitude que se Constrói HELENO, Camila; CALDEIRA, Adriana; ROCHA, Valdicéia Pereira; NOGUEIRA, Viviane Dias; SOUZA, Fernanda Cristina; MALVEIRA, Cemylla Lopes 53 t Um elo indissociável: A biblioteca e a Vida Acadêmica ROCHA, Josiane Santos Brant ; CALEIRO, Regina Célia Lima; SARAIVA, Glayce Moura; VALVERDE, Ingridh Queiroz; BATISTA, Júnia Mendes Guimarães; DOMINGUES, Jussara Pereira ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros Av. Profa. Aída Mainartina Paraíso, 80 Ibituruna - Montes Claros/ MG CEP: 39.400-082 - Fone/Fax: 38-3214-7100 www.fip-moc.edu.br 59 O Juiz, a Emoção e o Princípio da Imparcialidade AMARAL, Rodrigo Santos; FERREIRA, Diogo Fraga 65 Gestão da Produção de Energia: Uma análise sobre o mercado da energia elétrica no Brasil FILHO, Pedro Cândido do Nascimento; ANDRADE, Guilherme Augusto Tolentino É permitida a reprodução de artigos desta revista mediante autorização dos editores e desde que citada a fonte. 74 Regras Editoriais para Publicação de Artigos na Revista Multidisciplinar das FIPMoc Editorial Editorial TURANO, Fátima Diretora Executiva das FIPMoc Na implantação do projeto pedagógico dos cursos da FIPMoc, procuramos romper com a fragmentação do conhecimento, e criamos uma metodologia própria, baseada na problematização da realidade, na metodologia de projetos proposta por Fernando Hernandez e na integração curricular expressa na interdisciplinaridade preconizada por Zabala. A palavra “projeto” vem de projetar, projetar-se, atirar-se para a frente. Sendo assim, ao mencionarmos elaborar um projeto, referimo-nos a elaborar um plano para realizar determinada ideia. Portanto, entendemos que um projeto supõe a realização de algo que não existe, um futuro possível. Tem a ver com a realidade em curso e com a utopia possível, realizável, concreta. Salientamos que um trabalho pedagógico a ser desenvolvido em uma instituição escolar, por intermédio da realização e desenvolvimento de projetos, exige um envolvimento muito grande de todos os parceiros e supõe algo mais do que apenas assistir a aulas ou ministrá-las. Ao eleger os projetos de trabalho como uma nova proposta de inovação pedagógica, estamos trabalhando numa intervenção pedagógica globalizante, entendida como mais que um somatório de disciplinas, mais que um lugar de interseção de várias disciplinas, numa visão interdisciplinar e um processo de formação, compreendendo não somente o ponto de vista do conteúdo a ser trabalhado, como também do processo de construção do conhecimento, de forma globalizada, pelo estudante. Nosso grande diferencial foi aliar o método educacional a uma investigação científica coletiva, elegendo um tema como eixo de integração 02 Editorial dos conteúdos das diversas disciplinas do semestre, condições, a partir da conscientização de um presentes em todos os cursos da instituição. Tal problema, de ir em busca das respostas ou soluções projeto alcançou, ao longo destes dez anos, todas as para ele. A atividade científica é, acima de tudo, o características da interdisciplinaridade, uma resultado de uma atitude do ser humano diante do exigência do conhecimento. mundo que o cerca, do qual ele mesmo é parte A perspectiva de articulação mencionada tem seus fundamentos na concepção de uma faculdade integrante, para entendê-lo, reconstruí-lo e, consequentemente, torná-lo inteligível. que defende o ensino com base em problemas reais, As FIPMoc se orgulham do projeto que articula o ensino e a pesquisa de forma pedagógico com todas as características aqui indissociável e viabiliza a relação transformadora entre universidade e a sociedade. Nessa perspectiva, as FIPMoc construíram um novo paradigma de educação superior, em que se mesclam o ensino, a pesquisa e a extensão, e o trabalho convida à renovação da inteligência, num encontro de pesquisas antes solitárias, agora solidárias. Considerados dessa maneira, os projetos contribuem para favorecer, nos acadêmicos: a aquisição de capacidades relacionadas com a iniciativa para levar adiante, por si mesmo e com outros, a tarefa de pesquisa; a utilização criativa de recursos, métodos e explicações alternativas; a resolução de problema, diagnóstico de situações e desenvolvimento de estratégias analíticas e avaliativas; a integração, pela propiciação, à síntese de idéias, experiências e informações de diferentes fontes e disciplinas; a tomada de decisões, dada a necessidade de escolha do que é relevante e do que se vai incluir no projeto; a comunicação interpessoal, em virtude da necessidade de se contrastarem as próprias opiniões e fontes de vida com outros. Com base nesses princípios, em métodos adequados e técnicas apropriadas, o acadêmico terá 03 Multitextos A Percepção da Criança e do Adolescente frente ao Processo de Hospitalização *LEMOS, Manoel Henrique Mattos; *MAIA, Roubilene Costa Soares; *MARQUES, Ana Paula Monteiro Lima; *SILVA, José Rodrigo da; **SOUZA, Ana Augusta Maciel. *Acadêmicos do Curso de Enfermagem das FIPMoc **Professora Disciplina Saúde da Criança do Curso de Enfermagem das FIPMoc RESUMO Objetivo: A proposta deste trabalho foi compreender como as crianças e os adolescentes enfrentam a doença e as circunstâncias da hospitalização, assim como a percepção do seu acompanhante e da equipe de enfermagem em relação a esse processo. Metodologia: Estudo de caráter qualitativo e descritivo, de natureza observacional e por saturação de respostas durante a entrevista. Realizado em uma Instituição de Saúde da cidade de Montes Claros – MG o qual abrangeu crianças/adolescentes internados. Resultados: O estudo revelou vários aspectos relacionados ao processo de hospitalização, observando que boa parte das crianças gosta do hospital, apesar de considerarem uma experiência ruim. Demonstraram também a falta dos pais e do ambiente familiar. Conclusão: Com este estudo tornou-se relevante a necessidade de um atendimento mais humanizado, bem como um ambiente que proporcione mais atividades recreativas. Dessa forma, percebe-se a necessidade do aprimoramento das ações profissionais. PALAVRAS-CHAVE: criança, adolescente, hospitalização, processo. INTRODUÇÃO A enfermagem é uma ciência que visa o paciente como um todo, preocupando-se com sua 04 saúde espiritual mental e física. (SOUZA, 1996) Segundo Lima (1994), a enfermagem é uma ciência humana de experiências com o campo do conhecimento, fundamentações e práticas do cuidar, que abrangem do estado de saúde ao estado de doença, mediada por transformações pessoais, profissionais, científicas, estéticas, éticas e políticas aparentes. O processo de adoecer e se hospitalizar configura situações que acarretam sofrimento psíquico aos envolvidos nesse processo. Diante disso, levantou-se a seguinte problemática: Quais as repercussões da hospitalização para a criança/adolescente? A questão faz supor que a criança/adolescente modifica seu comportamento frente sua enfermidade e internação; a família se desestrutura com a doença de um de seus membros; a equipe de saúde tem dificuldade em lidar com as emoções que surgem no contexto hospitalar; o apoio psicológico reduz os sentimentos dolorosos dos envolvidos nesses eventos. (FERRO & AMORIN, 2007) Segundo Ferro e Amorin (2007), as teorias revelam que o ambiente hospitalar é, para a criança/adolescente, um local de sofrimento físico e emocional. Lá, seu corpo é manipulado de forma Multitextos “invasiva” e dolorosa, havendo pouca ou nenhuma explicação em relação à necessidade do procedimento. É, para ela/ele um local hostil, desconhecido e “assustador”, onde pessoas não familiares impõem o cumprimento de regras e bom comportamento. Como consequência de seu sofrimento, pode manifestar-se irritabilidade, medo, raiva, desespero, ansiedade, estresse, culpa, depressão. Batista et al. (2003) salienta, ainda, que o adolescente se vê apartado do convívio social extrahospitalar, em um momento decisivo de sua vida, quando suas convicções estão sendo cada vez mais moldadas e as percepções/descobertas ocorrem em turbilhões. Os familiares da criança/adolescente enferma/enfermo sofrem ao perceberem a dor de seu ente querido e ao terem suas rotinas modificadas; e a equipe de saúde nem sempre está preparada emocionalmente para lidar com a dor do outro e com as pressões institucionais, podendo acarretar estresse. (BAPTISTA et al. 2003) MATERIAL E MÉTODOS Trata-se de um estudo observacional, transversal, descritivo, com abordagem qualitativa, desenvolvido na Pediatria do Hospital Aroldo Tourinho, situado no município de Montes Claros MG. A população do estudo contou com 8 crianças, 22 acompanhantes e 5 profissionais de saúde. A coleta de dados ocorreu entre o período de 04/05/2009 a 15/05/2009, em horários previamente estabelecidos. Escolheu-se buscar os dados por meio de uma entrevista semi- estruturada, uma vez que esse tipo de instrumento é bem adequado à pesquisa qualitativa. O roteiro de entrevistas constituiu-se de 15 questões abertas. Foi realizado um estudo antecipado com um número menor de entrevistados, objetivando verificar a eficácia do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE e do roteiro de entrevista. A presente pesquisa trabalhou por meio de amostragem por saturação. O processamento dos dados iniciou-se com a revisão de todas as entrevistas. Em seguida, foi feita a categorização dos dados, distribuindo-os em classes pré-definidas. Respeitando sempre os princípios éticos, o estudo iniciou-se somente depois da autorização da coordenação do HAT. Em seguida, foi aplicado um pré-teste, cuja utilidade já é sabida e, somente depois, este estudo se desenvolveu de fato. Percepção da criança e do adolescente frente às limitações no período de hospitalização A primeira percepção da criança, quando é internada em um hospital, é a sensação de estranhamento ao ambiente, aos procedimentos, aos medicamentos, equipamentos e as profissões. Há um desconhecimento do ato médico como um todo; surgem intervenções invasivas, com pouca ou nenhuma comunicação da equipe de saúde, dificultando que a criança perceba isso como parte de sua cura, associando mais a intenções punitivas e castigo (especialmente as que envolvem utilização de agulhas). (CHIATTONE, 2003) Para a criança, o ambiente hospitalar é um local de proibições; lá não se pode correr pelos corredores, jogar bola, falar alto e, dependendo das regras do hospital, também não se pode brincar. Esse lugar é em geral assustador, pois não há nada nele que possa identificar-se com suas experiências anteriores; e, somado a isso, o fato de sua debilitação física e emocional estarem presentes na situação, tornam a 05 Multitextos experiência ainda mais agravante. (AMORIM, 2004) Segundo Baldini e Krebs (1999), as reações apresentadas pela criança frente à doença e à hospitalização relacionam-se diretamente ao nível de desenvolvimento psíquico na ocasião, do grau de apoio familiar, do tipo de doença e das atitudes do médico. De acordo com Chiattone (2003), a doença, os procedimentos e a hospitalização podem-se apresentar como uma agressão externa, uma punição, podendo trazer sentimentos de culpa que repercutirão de forma desfavorável no processo de doença, internação e durante sua vida. Esse sentimento virá acompanhado de muito sofrimento, que poderá será aliviado quando entender o verdadeiro sentido do aparecimento de sua doença, da necessidade da hospitalização e dos procedimentos. Pinto et al. (2005), citado por Ferro e Amorin (2007), relata que muitas crianças, após a alta, apresentam alterações na dinâmica de apego aos pais (mais apegadas ou agressivas) e expressam comportamentos regressivos (voltar a utilizar chupeta). Essas mudanças psicológicas, além de se manifestarem durante a internação, podem ocorrer após a alta. Mecanismos adaptativos frente à doença e internação A criança busca formas de se adaptar diante do sofrimento advindo de sua doença e internação. Os mecanismos de defesa são formas que a psique tem de se proteger das tensões internas e externas, sendo necessários para que o indivíduo não seja dominado pela ansiedade. Essas manobras inconscientes que o ego utiliza para afastar a 06 ansiedade, falsificando ou distorcendo a realidade, são frequentemente observadas em crianças hospitalizadas. (CHIATTONE, 2003) A criança utiliza-se também do brinquedo como instrumento no enfrentamento de sua doença e internação. O processo de brincar é um meio de expressão através do qual comunica seus medos, angústias, afetos, alegrias, diminui sua ansiedade e expressa seus sentimentos enquanto está hospitalizada. Por meio da brincadeira, ela pode compreender o mundo que a cerca, elaborar conflitos e frustrações. (CREPALDI et al. 2006) Algumas crianças passam a apresentar hábitos e/ou condutas regressivas, retornando a uma fase anterior a sua idade real, podendo ocorrer sucção do polegar, balanços e retorno à mamadeira. (AMORIM et al. 2004) A adolescência como uma etapa no desenvolvimento psicológico, pode ser frustrante e difícil para jovens saudáveis. Para os adolescentes doentes, pode ser extremamente penoso, levando a uma grave frustração. As doenças são vivenciadas sempre como um ataque à sua integridade, situação que, na adolescência, assume peculiaridades das demandas dessa etapa da vida, e que, para muitos autores, já é definida como crise. (OLIVEIRA & GOMES, 1998, apud VOLPINI, 2007) Leitão (1993, apud VOLPINI, 2007) relata, ainda, que a hospitalização mobiliza profundamente o adolescente por seu processo de mudanças. Não lhe é fácil, nessa faixa etária, isolar-se e aceitar passivamente o tempo necessário para recuperação. Tende a ser impaciente, questionador e revoltar-se com facilidade. Também lhe é difícil admitir perdas físicas e psicológicas, bem como aceitar proibições. A necessidade de afirmação e independência frente à autoridade entra em choque com a rotina hospitalar, em que o paciente perde sua identidade ao ingressar Multitextos na instituição. O isolamento social e o afastamento dos amigos parecem ser um dos primeiros problemas causados pelas normas hospitalares ao adolescente hospitalizado, uma vez que impedem a visita de conhecidos que não sejam da família ou limitam sua presença aos horários de visita. (BESSA, 1997, apud GUZMAN & CANO, 2000) Intervenção psicológica O processo de doença e hospitalização infantil é frequentemente vivido com muito sofrimento pela criança e sua família. Essas situações são comumente desencadeadoras de desadaptação emocional, tornando necessária a atuação do psicólogo nas unidades de internação, para tentar diminuir o sofrimento inerente a esse processo. (BAPTISTA et al. 2003) Durante sua intervenção, o psicólogo, no hospital, deve sempre considerar o aspecto da imprevisibilidade do tempo em que o paciente ficará internado. Por isso, o atendimento psicológico deve ser breve e focal, objetivando o alívio do sofrimento vivido pela criança e pelos membros de sua família. (AMORIM, 2004) Consoante Vieira e Lima (2002), um importante aspecto que pouco se discute é o que se refere às condições emocionais da equipe de saúde e como ela se encontra psicologicamente, para executar sua função no ambiente hospitalar. Esses profissionais sofrem com pressões intensas devido a aspectos institucionais, e se aflingem ao ter que lidar com crianças que estão em situações que até podem levar à morte; sofrem com seus problemas pessoais e mesmo assim, têm que desempenhar bem sua função como membro da equipe de saúde. RESULTADOS E DISCUSSÃO Segundo Moreira e Macedo (2003), a percepção das crianças acerca do espaço hospitalar está relacionada também às suas posturas diante das enfermidades. De acordo com Helman (2007), tanto a criança assume um papel ativo na situação de adoecimento, que, da mesma forma que os adultos, especula sobre o porquê de estar naquela situação e se inteira dos cuidados que estão sendo dispensados a ela. As reações das crianças são influenciadas pela idade de desenvolvimento, experiência prévia com a doença, separação ou hospitalização, habilidades de enfrentamento inatas e adquiridas, a gravidade do diagnóstico e o sistema de suporte disponível (WONG, 1999). O processo de hospitalização sob o olhar da criança A criança não hospitalizada, em seu dia a dia, principalmente durante os anos escolares, tem toda uma programação de atividades a ser cumprida em tempo e data certos, com períodos para comer, vestirse, ir para a escola, brincar e dormir. Questionando as crianças sobre gostarem ou não do hospital, houve distintas respostas, com a expressão de: sentimento de contentamento, por estarem diante da possibilidade de cura e por se sentirem bem cuidadas pelos profissionais, subentendendo-se, assim, gratidão pelos que se dedicam a cuidar de suas moléstias com carinho e empenho; compreensão e entendimento diante das intervenções necessárias para a sua melhora; negação total em relação ao ambiente hospitalar, por 07 Multitextos algum motivo aversivo, como medo dos procedimentos invasivos e de agulhas. Diante disso, surgiram duas categorias: “Gostando do hospital” e “Sendo uma experiência ruim”. Gostando do hospital À medida que a criança amadurece, sua percepção da doença vai se tornando mais ampla e de acordo com a realidade. Esse fato explica o porquê de algumas das crianças entrevistadas gostarem da internação, demonstrando assim algum entendimento sobre a necessidade do processo de hospitalização, que lhe proporcionará a recuperação de sua saúde, como visto na falas de: PETER PAN: “... gosto... é quando eles não me deixam chorar quando eu machuco”, PINÓQUIO: “... eu gosto de tudo... quando aqui está cuidando de mim... ah! tem que furar, senão como é que eu vou sarar?” KIKO: “Gosto... que ajuda a gente se tratar, em casa a gente não tem condições..., aí eles tratam a gente aqui... eles dão comida pra gente... ajudam a gente, faz o medicamento, cuida, limpa, faz tudo”. Estas respostas expressam, por parte das crianças, uma ideia de compreensão e aceitação de sua atual situação, o que facilita muito o trabalho dos profissionais que as atendem. Contudo, é pertinente atentar para as falas: “em casa a gente não tem condições”, “eles dão comida pra gente”, que remetem à ideia de que os limites e soluções para o desfecho de uma recuperação satisfatória não se extinguem entre as paredes do hospital. Algumas crianças exteriorizam consciência tanto da necessidade de se recuperar, como da condição econômica que lhes é propiciada em casa. Daí demonstram, apesar dos reveses, preferência permanência pela permanência no hospital, dada a escassez de seus recursos domiciliares. 08 Diante disso percebemos que a criança espera, neste ambiente tão novo e incômodo, que pode até fazê-la chorar, proteção e amparo por parte de seus cuidadores. É pertinente o estabelecimento de um liame de confiança entre a enfermagem e a criança, a fim de obter o sucesso de sua recuperação e estimular sua maturação a respeito da hospitalização. A brincadeira é essencial para o bem-estar mental, emocional e social das crianças e, da mesma forma que suas necessidades de desenvolvimento, a necessidade de brincar não para quando as crianças estão doentes ou no hospital. (WONG, 1999) Tal afirmação é consumada na seguinte fala do pequenino SININHO: “... eu gosto de brincar”. Em suma, o brincar no hospital é uma forma de a criança lidar criativamente com sua realidade. Sendo uma experiência ruim Os pacientes hospitalizados expressam o medo de algum acidente decorrente da terapêutica; a dúvida sobre a competência dos profissionais, o temor do ambiente hospitalar e do equipamento; o medo de sentir dor, de ser manuseado, cortado e perder o autocontrole; o medo da dependência, da morte e de dar trabalho a outros (ALMEIDA, 2005) Sadala e Antônio (1995) contam que criança hospitalizada vivencia experiências dolorosas e desagradáveis, em ambiente estranho e muitas vezes agressivo. Diante de tais injunções causadas pelo processo de hospitalização, surgiu a categoria “Sendo uma experiência ruim”, evidenciada pelo relato de: JAIMINHO: “... eu não gosto porque eles me pegam e me furam... eu nunca gostei de hospital... eu não gosto de jeito nenhum”; Multitextos CINDERELA: “... aqui é ruim... dá agulhada em mim”. As falas acima revelam o sentimento de total negação ao processo de hospitalização. Em uma das falas (“... eu nunca gostei de hospital...”), nota-se um conceito preestabelecido - que precisa ser trabalhado de forma a ser combatido. Quando fizemos a seguinte pergunta: “O que você gostaria de que houvesse aqui?”, os pequenos responderam: CINDERELA: “Brinquedo”; JAIMINHOÇ “... minha camona”. Ainda que algumas crianças brinquem e que seja garantida por lei, a instalação de ambientes recreativos nas pediatrias dos hospitais, verifica-se que existe, ainda, uma carência de brinquedos a fim de preencher o tempo ocioso dos pequenos pacientes que se encontram hospitalizados. Para a pergunta: “Quem você gostaria que estivesse aqui como companhia sua?”, algumas crianças responderam da seguinte forma: CHAVES: “Minha mãe... ela fica comigo aqui só de noite e de manhã... a tarde ela trabalha”; CINDERELA: “Papai! É saudade! É que eu gosto dele.”; KIKO “Meu pai... Minha mãe e meus irmãos... eu sinto muita saudade deles, já faz muito tempo que eu estou aqui na cidade...”. As falas acima é percebemos revelam o extremo valor da família no apoio à criança hospitalizada, e como os familiares são lembrados, caso não estejam presentes. Com um familiar por perto, a criança sente-se querida, amparada e segura, para enfrentar o percurso da hospitalização. Essa presença permite que ela elabore, de um melhor modo, seus sentimentos e emoções, sua ansiedade, seus medos, temores e fantasias, organizando melhor o seu mundo interior. CONCLUSÃO Em consonância com trabalhos de outros autores, a criança e seus familiares apresentam sentimento de repúdio ao processo de hospitalização, e a presença de um ente querido, em particular da mãe, goza de grande influência para a minimização dos desprazeres ocasionados pela internação. Vale registrar a importância “do brincar” e do respeito ao mundo lúdico das crianças, como coadjuvantes do enfrentamento dos percalços da hospitalização, tornando-os bem menos dolorosos, como foi evidenciado em várias falas. A necessidade de mais entretenimento evidenciou-se em algumas falas, quando as crianças foram indagadas sobre o de que gostariam que houvesse no hospital. Portanto, as soluções/correções devem partir tanto da máquina administrativa, com investimentos na estrutura física para acomodação dos hospitalizados; e na capacitação dos profissionais que lidam diariamente com esses enfermos, a fim de proporcionar-lhes segurança e aptidão para lidar com a mais nobre dádiva - o ser humano - e, consequentemente, prestar aos pacientes e seus acompanhantes caução de que sua saúde está em boas mãos. REFERÊNCIAS ALMEIDA, I. S. Desvelando o cotidiano do adolescente hospitalizado. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 58, n. 2, p. 147-151, mar.-abr. 2005. AMORIM, S. F. Intervenção Psicológica no Hospital Geral. In: BENEDITTTI, C.; BRUSCATO, 09 Multitextos W. L.; LOPES, S. R. A. (Org.). A Prática da Psicologia Hospitalar na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo: novas páginas em uma antiga história. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004. Cap. 5. BALDINI, S. M.; KREBS, V. L. J. A criança hospitalizada. Pediatria, São Paulo, v. 21, n. 3, p. 182-190, 1999. BAPTISTA, A. S. D.; BAPTISTA, M. N.; DIAS, R. R. Enfermaria Pediátrica: avaliação e intervenção psicológica. In: BAPTISTA, M. N.; DIAS, R. R. Psicologia Hospitalar: teorias, aplicações e casos clínicos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. Cap. 4. BESSA, L.C.L. "Adolescer" do com câncer. Ribeirão Preto, 1997. 131. p. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto. Universidade de São Paulo apud GUZMAN, C. R.; CANO, M. A. T. O adolescente e a hospitalização. Revista Eletrônica de Enfermagem, Goiânia, v. 2, n. 2, jul.-dez. 2000. CHIATTONE, H. B. C.; MELETI, M. R. A psicologia no hospital. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003. 126 p. CREPALDI, M. A.; GABARRA, L. M.; RABUSKE, M. M. Modalidades de Atuação do Psicólogo em Pediatria. In: CREPALDI, M. A.; LINHARES, M. B. M.; PEDROSA, G. B. Temas em Psicologia Pediátrica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006. Cap.1 FERRO, F. O; AMORIN, V. C. O. As emoções da hospitalização infantil. Revista eletrônica de psicologia. Maceió, n. 1, jul. 2007. HELMAN, Cecil G. Cultura, saúde e doença. Porto Alegre: Artmed, 2007.408 p. LEITÃO, M. S. O psicólogo e o hospital. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 1993 apud VOLPINI, F. S. O adolescente frente ao câncer: hospitalização e processos psicológicos. 2007, 31 fls. Dissertação (Monografia Apresentada como Exigência Parcial do Curso de Especialização em Psicologia Hospitalar) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre-RS. 2007. 10 LIMA, M. J. O que é enfermagem. 2. Ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1994. 102 p. MOREIRA, M. C. N.; MACEDO, A. D. A construção da subjetividade infantil a partir da vivência com o adoecimento: a questão do estigma. Arquivos Brasileiros de Psicologia, v. 55, n. 1, p. 31-41, 2003 apud FERRO, F. O; AMORIN, V. C. O. As emoções da hospitalização infantil. Revista eletrônica de psicologia. Maceió, n. 1, jul. 2007. OLIVEIRA, V. Z.; GOMES, W. B. O adolescer em jovens portadores de doenças orgânicas crônicas. IN: GOMES, W. B. Fenomenologia e pesquisa em psicologia. Porto Alegre: Editora Universidade, 1998, p. 97-133 apud VOLPINI, F. S. O adolescente frente ao câncer: hospitalização e processos psicológicos. 2007, 31 fls. Dissertação (Monografia Apresentada como Exigência Parcial do Curso de Especialização em Psicologia Hospitalar) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre-RS. 2007. PINTO, J. P.; RIBEIRO, C. A.; SILVA, C. V. Procurando manter o equilíbrio para atender suas demandas e cuidar da criança hospitalizada: a experiência da família. Revista Latino- Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, n. 6, nov.-dez. 2005. SADALA, M. L. A.; ANTÔNIO, A. L. O. Interagindo com a criança hospitalizada: utilização de técnicas e medidas terapêuticas. Revista LatinoAmericana de Enfermagem - Ribeirão Preto, v. 3, n. 2 - p. 93-106, jul., 1995. SOUZA, E. F. Manual de Enfermagem. Rio de Janeiro: Editora Cultura Médica. 1996. 481 p. VIEIRA, M. A.; LIMA, R. A. G. Criança e Adolescentes com Doença Crônica: convivendo com mudanças. Revista Latino-Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, n. 4, jul.-ago. 2002. VOLPINI, F. S. O adolescente frente ao câncer: hospitalização e processos psicológicos. 2007, 31 fls. Dissertação (Monografia Apresentada como Exigência Parcial do Curso de Especialização em Psicologia Hospitalar) – Universidade Federal do Multitextos Rio Grande do Sul. Porto Alegre-RS. 2007. WONG, D. L. Enfermagem pediátrica: elementos essenciais à intervenção efetiva. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 1999. 1118 p. 11 Multitextos Dificuldades Encontradas na Assistência de Enfermagem a Pacientes Queimados AMARAL, Edilene Oliveira*; MARQUES, Franciane Pereira**; VELOSO, Adryanna Soares**; MOTA, Georgina Amaral** *Docente das FIPMoc **Acadêmicas do Curso de Enfermagem das FIPMoc RESUMO PALAVRAS-CHAVE: Queimaduras, equipe de O propósito deste trabalho é investigar as dificuldades que os profissionais de enfermagem enfrentam no tratamento e reabilitação do paciente queimado, durante a fase de atendimento préhospitalar e internação hospitalar, considerando que, nessa fase, a equipe de enfermagem deve incluir, em suas atividades, ações destinadas a reduzir a ansiedade e minimizar o sofrimento frente aos cuidados, além de propiciar calma, esperança e apoio para o paciente. Optou-se por realizar uma pesquisa descritiva com a utilização do método quantitativo. O presente estudo foi desenvolvido no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e Santa Casa de Misericórdia de Montes Claros, com a participação de 62 integrantes da equipe de enfermagem, representados por enfermeiros, técnicos e auxiliares. Além disso, foi aplicado um questionário envolvendo questões objetivas referentes ao tema. Os resultados mostraram que a maioria (56%) dos entrevistados classificou a assistência de enfermagem a pacientes queimados como difícil, entretanto apenas 21% informaram apresentar dificuldades relacionadas ao procedimento e, desses, 77% mencionaram a dificuldade no manejo da dor. Portanto, toda a equipe multidisciplinar, e a enfermagem em especial, devem buscar sempre estratégias humanizadas em suas práticas e habilidades para melhor atender o portador de lesão por queimadura, aumentando a sobrevida desse indivíduo, a fim de não deixar sequelas tão dolorosas que possam interferir em seu retorno para a família e a sociedade. 12 enfermagem, cuidados de enfermagem INTRODUÇÃO Segundo Freitas e Mendes (2006), a queimadura é entendida como lesão dos tecidos orgânicos em decorrência de um trauma de origem térmica, elétrica, radioativa ou química. É classificada em três graus: 1º grau - a lesão atinge apenas a epiderme, tendo como características eritema e ardor na pele, sem formação de flictemas; 2° grau - atinge a epiderme e parte da derme, caracterizada por ardor, eritema e presença de vesículas; 3º grau - atinge a epiderme, a derme e, às vezes, também o tecido subcutâneo, tendo como característica pele com aspecto esbranquiçado ou marmóreo, com redução da elasticidade tecidual, tornando-se rígida. O objetivo de assistência de enfermagem é o de manter controle ambiental e individual ao paciente queimado, no sentido de que a população microbiana, em geral, permaneça dentro dos limites controláveis. Segundo Freitas e Mendes (2006), para Multitextos orientar as intervenções, a partir das necessidades as dificuldades que os profissionais de enfermagem identificadas na avaliação, o enfermeiro utilizará o enfrentam no tratamento e reabilitação do paciente Diagnóstico de Enfermagem (DE), etapa do processo queimado, durante a fase de atendimento pré- de enfermagem para direcionar o planejamento das hospitalar e internação hospitalar. ações acreditando ser a oportunidade de expressar os cuidados na abordagem integral, humana e Cuidados de Enfermagem a Pacientes Portadores individualizada, possibilitando excelência na prática de Lesões por Queimaduras profissional. O profissional de enfermagem tem papel De acordo com Novaes (2003), o primeiro importante na reabilitação do paciente queimado, atendimento ao paciente queimado constitui durante a fase de internação hospitalar. Assim, é de determinante fundamental no êxito final do sua competência incluir atividades destinadas a tratamento, contribuindo decisivamente para a reduzir a ansiedade e minimizar o sofrimento frente à redução da morbidade e da mortalidade. A hospitalização, ao ambiente estranho, aos distúrbios abordagem inicial ao portador de queimaduras é de padrão do sono, à administração de medicamentos sempre feita em caráter emergencial e, na maioria e à dor. Cabe à equipe de enfermagem propiciar das vezes, em instituições específicas de tratamento calma, esperança e apoio para o paciente. desse tipo de ocorrência, porém muitas vezes requer (CARLUCCI et. al 2007) É nesse sentido que este um atendimento pré-hospitalar. estudo propõe o seguinte questionamento: Como está A lesão por queimadura nem sempre ocorre de sendo prestada a assistência de enfermagem a forma uniforme e pode modificar-se rapidamente, pacientes queimados, no município de Montes portanto a caracterização é muito importante para Claros? que se possa acompanhar sua evolução. A evolução Esta pesquisa se justifica por considerar que a da queimadura de segundo grau, por exemplo, enfermagem é de suma importância na prevenção e dependerá do grau de profundidade e da ocorrência tratamento de queimaduras. A equipe necessita de ou não de complicações, podendo aprofundar-se em perícia para lidar com as respostas emocionais do razão de infecção local. Queimaduras profundas que paciente e sua família, objetivando assegurar tomam toda a extensão do tórax ou de um membro, cuidados de qualidade e a continuidade, através de por exemplo, podem prejudicar a respiração ou a todas as evoluções pós-queimaduras. É também circulação e implicar a realização de escarotomias. importante que o paciente, com a ajuda desses (MENEGHETTI et al. 2005) profissionais e seus familiares, reintegre-se à O tratamento das lesões por queimaduras é um comunidade e a seu setor de trabalho. (MACEDO; grande desafio aos profissionais da saúde, sobretudo BARROS, 1999) no que se refere ao elevado potencial para Este trabalho, portanto, propõe-se, investigar desenvolver infecções. A terapêutica sistêmica ou 13 Multitextos local deve visar, fundamentalmente, o equilíbrio das tratamento da dor, pois ela terá início quando houver funções vitais, assim como a instalação de medidas excitação direta das terminações nervosas da pele de prevenção de complicações, dentre as quais estão pelo calor, devido à destruição das camadas das as infecções das lesões cutâneas. Cabe acrescentar superfícies da pele e, consequentemente, exposição que pacientes queimados internados, após as das terminações nervosas sensitivas traduzindo-se primeiras 48 horas, têm sua microbiota normal como dor para o paciente em estado de consciência. alterada, podendo albergar diferentes patógenos, As vias aferentes são imediatamente acionadas, incluindo aqueles resistentes a agentes estimulando uma série de reações destinadas a antimicrobianos. No tratamento ao paciente, deve-se manter a homeostasia. (ROSSI, 2000) estar sempre atento à prevenção de infecções às Depois de uma avaliação efetiva da dor, quais esse paciente está susceptível, por sua própria devem ser identificadas estratégias de tratamento condição. (MENEGHETTI et al., 2005) que promovam seu alivio satisfatório. Um dos O paciente vítima de queimaduras, ao adentrar modos de tratamento da dor do cliente pode ser a o hospital, é submetido a análises com possíveis opção farmacológica, envolvendo o uso de diagnósticos: o do tipo real (integridade tissular analgésicos, opioides e anestésicos. prejudicada, hipertermia, dor, ansiedade, padrão (KAZANEOWSKI, 2005) respiratório ineficaz, náusea e distúrbio no padrão do De acordo com Brandão (2007), quando se sono), e o do tipo de risco (risco para infecção, risco trabalha em equipe interdisciplinar, com para temperatura corporal alterada, risco para profissionais comprometidos, é possível prestar um aspiração, risco para deficit no volume de líquidos, atendimento de boa qualidade ao cliente. risco para disfunção neurovascular periférica e risco Identificando e registrando precocemente o risco de para trauma) como afirma Meneghetti et. al. (2005). desenvolvimento de feridas e o comprometimento A identificação rápida da gravidade do caso tecidual das lesões já existentes, é possível traçar, possibilita prevenir complicações e obter sucesso no também, condutas nutricionais, tópicas e tratamento e, para orientar as intervenções, a partir medicamentosas adequadas, reduzindo, dessa das necessidades identificadas na avaliação, o forma, o tempo de cicatrização e, enfermeiro utilizará os diagnósticos de enfermagem consequentemente, o tempo e o custo dessa (DE), etapa do processo de enfermagem para internação, além de até mesmo atuar na prevenção direcionar o planejamento das ações, acreditando ser das lesões, proporcionando melhor qualidade de a oportunidade de expressar o cuidado na abordagem vida – capacidade de exercer funções da vida diária, integral, humana e individualizada, possibilitando produtividade intelectual, estabilidade emocional e excelência na prática profissional. (FREITAS & satisfação de viver. MENDES, 2006) O planejamento das ações prioriza o 14 Multitextos METODOLOGIA instrumento. Foi aplicado um exemplar à equipe de enfermagem não pertencente ao universo da Para desenvolver este estudo, optou-se por pesquisa, escolhido por conveniência. O objetivo realizar uma pesquisa descritiva com a utilização do dessa etapa era apenas possibilitar a correção de método quantitativo. Segundo Leopardi (2001), estes questões confusas, inadequadas ou ineficazes em são estudos caracterizados pela necessidade de se explorar o tema pretendido, elevando a efetividade do explorar uma situação da qual se tem necessidade de instrumento para o estudo principal. maiores informações. A coleta de dados foi realizada na semana do dia O cenário escolhido foi o Serviço de 08 ao dia 15 de maio de 2009. Foi solicitado a dois Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e Santa acadêmicos que tinham maior acesso aos Casa de Misericórdia, todos localizados na cidade de coordenadores das instituições a aplicarem os Montes Claros – MG. Esses locais foram questionários em seus devidos estabelecimentos. A selecionados por se tratarem de serviços de referência atividade foi previamente agendada com os para atendimento de indivíduos queimados. coordenadores, momento em que se definiu o local, Os sujeitos da pesquisa foram a equipe de data e horário que melhor conviessem. Os enfermagem, representada pelos enfermeiros, questionários foram respondidos e recolhidos logo técnicos e auxiliares de enfermagem das instituições em seguida. Participou desse estudo uma população escolhidas, respeitando os critérios de inclusão e de 62 profissionais. exclusão. Os critérios de inclusão são relativos à Após o término da coleta de dados, foi realizada capacidade de manifestar-se, ser integrante da a tabulação e organização das informações coletadas, população escolhida, bem como a aceitação em tendo em vista os objetivos do trabalho. Em seguida, participar da pesquisa através da assinatura do Termo os dados foram organizados em forma de gráficos, de Consentimento Livre e Esclarecido. Sendo assim, para melhor visualização dos resultados. Procedeu-se o critério de exclusão se referiu a não estarem então, à análise e discussão dos dados, à luz do presentes, no local, no momento da coleta de dados. referencial teórico. O instrumento utilizado para a realização da A pesquisa seguiu as recomendações contidas coleta de dados foi um questionário semi-estruturado na resolução 196/96, (Diretrizes e Normas próprio, desenvolvido especificamente para esta Reguladoras de Pesquisas envolvendo Seres pesquisa, contendo 14 perguntas objetivas, que Humanos), de 10 de outubro de 1996, do Ministério abordaram o tema proposto: “Queimaduras”. da Saúde. A coleta de dados foi precedida pela realização de um estudo piloto para teste e acerto deste 15 Multitextos RESULTADOS E DISCUSSÃO equipe no enfermeiro, gerando um trabalho interdisciplinar eficaz, ao mesmo tempo em que Os resultados estão apresentados a seguir na forma de gráficos e acompanhados da respectiva compartilha responsabilidades, deveres e direitos. (ALMEIDA, 1986) discussão. Características da Assistência Categoria Profissional O GRAF. 01 mostra que 40 (64%) dos profissionais Ao analisar-se o GRAF. 02, relacionado à entrevistados são técnicos de enfermagem, 13 (21%) classificação do atendimento a pacientes queimados, são auxiliares de enfermagem e conclui-se que uma maioria significativa dos sujeitos 9 (15%) são enfermeiros. pesquisados - 35 (56%) - entende que é difícil; 26 9 (42%) considerem normal; e uma minoria afirma ser fácil 1 (2%). Técnicos Auxiliares Enfermeiros 13 1 40 26 35 GRÁFICO 01: Distribuição dos dados relativos à categoria profissional dos entrevistados Fácil Normal Difícil Os Técnicos e Auxiliares cresceram de forma mais acentuada que Enfermeiros, com o resultado das políticas educacionais de profissionalização de Técnicos de Nível Médio. Segundo Ramos (2003), vem crescendo a importância do reconhecimento técnico sobre a perspectiva do usuário, quando se aborda a qualidade de serviços de saúde. Seu papel como protagonista do sistema de saúde tem impacto direto na melhoria da relação entre ele e o serviço. Com relação à equipe de saúde, a atuação profissional do enfermeiro, pautada no conhecimento científico, permite a respeitabilidade mútua entre os profissionais e a confiabilidade da 16 GRÁFICO 02: Distribuição dos dados relativos à classificação do atendimento pelos participantes a pacientes queimados. Knobel (1998) afirma que paciente vítima de queimadura exige do enfermeiro algo mais que o desenvolver de técnicas e a vigilância contínua. Sua atuação como membro da equipe multidisciplinar no tratamento desses pacientes é de extrema importância, pois será sua capacidade de identificação dos problemas e estabelecimento de metas para a resolução dos mesmos que fará a diferença no tratamento do queimado. Assim, faz-se necessário que o enfermeiro conheça a patologia e o Multitextos melhor e mais eficaz cuidado a ser prestado ao De acordo com os GRAF. 03 e 04, 49 (79%) paciente considerado como grande queimado. dos entrevistados afirmaram não ter dificuldade em Devido à complexidade e gravidade das lesões por lidar com o individuo considerado como grande queimadura, a assistência de enfermagem ao grande queimado; e 13 (21%) afirmaram que sim, encontram queimado exige competência, habilidade e dificuldades no cuidado ao queimado; e 10 (56%) conhecimentos atualizados. julgaram como principal dificuldade a dor. Segundo Scherer (2000), existem vários 13 conceitos teóricos criados pela enfermagem salientando que a assistência ao ser humano deva ser globalizada. Entretanto, a prática tem demonstrado que a aplicação desses pressupostos não é tão simples Sim Não 49 quanto possa parecer. Nesse sentido, trabalhar com paciente em crise, como, por exemplo, o indivíduo queimado, requer do enfermeiro, além do conhecimento técnico especializado, a habilidade em 13 lidar com as emoções da pessoa doente. Na seção de 11 10 queimados, o lado psicológico é o mais difícil de lidar, principalmente, quando se trata de dor. 9 62 52 7 49 42 32 5 3 3 2 1 1 1 1 34 36 22 12 19 22 15 2 0 Alimentação balanceada e rica em nutrientes que facilitam a cicatrização 0 Escassez de recursos humanos Hidratação contínua Escassez de materiais e equipamentos Dor Boa higienização Infra-estrutura Troca de curativoso Falta de treinamento Mudança de decúbito Aspecto psicológico Outros: extensão da queimadura GRÁFICOS 03 e 04 : Distribuição dos dados relativos à dificuldade ao prestar cuidado a indivíduos queimados. Administração de medicamentos GRÁFICO 05: Distribuição dos dados relativos aos cuidados/orientações indicados a pacientes com lesões por queimadura que possibilita a qualidade da assistência de enfermagem 17 Multitextos De acordo com o GRAF. 05, obtiveram-se 49 Observa-se que 44 (57%) dos enfermeiros, (79 %) respostas, das 62 pessoas entrevistadas, que técnicos e auxiliares de enfermagem entrevistados priorizaram a hidratação contínua a pacientes com afirma que a qualidade do atendimento ao indivíduo lesões por queimaduras, em relação aos cuidados e considerado como grande queimado está relacionada orientações às vítimas. Esses dados são pertinentes a uma equipe bem treinada; 23 (30%) pensam que a quando relacionados com as informações dos qualidade esta relacionada com a existência de autores Wachtel (1985) e Ertz (1980), que afirmam protocolos de atendimento; e 10 (13%) deles que a queimadura constitui uma das maiores acreditam que a qualidade está no acesso fácil e agressões que o organismo pode suportar. O rápido a materiais e equipamentos. desequilíbrio hidro-eletrolítico decorrente do A qualidade da assistência de enfermagem está trauma térmico é tão intenso, que culmina no primeiramente relacionada ao treinamento da equipe estabelecimento de um quadro agudo de choque - é o que a pesquisa comprova. Qualidade é um hipovolêmico. Sendo assim, conclui-se que a conjunto de propriedades de um serviço que o tornam correta reposição agressiva de volume de líquido adequado à missão de uma organização concebida intra e/ou extracelular é de extrema importância como resposta às necessidades para evitar o choque hipovolêmico e a insuficiência (CARAVANTES, 2005). de seus clientes e necrose tubular aguda, restaurando-se o volume Caravantes (2005) propôs que a qualidade intra-vascular, perfundindo os tecidos e fosse gerenciada pelo uso de três processos aumentando a sobrevida dos pacientes. universais de gerenciamento: planejamento, controle e melhoramento. 62 52 Atender as necessidades e expectativas dos 44 clientes e garantir a satisfação profissional da equipe 42 32 23 assistência de enfermagem. Identificar, através de 22 12 são ações que têm o potencial de atribuir qualidade à 10 2 treinamento, como conhecer e atender a tais necessidades, para então garantir satisfação, pode 0 constituir o primeiro passo rumo à qualidade. O Equipe bem treinada treinamento é um fator primordial para a qualidade Acesso fácil e rápido a materiais e equipamentos da assistência de enfermagem ao indivíduo Existência de protocolos de atendimento queimado, é o que o gráfico comprova. (CARAVANTES, 2005) GRÁFICO 06: Distribuição dos dados relativos aos fatores que favorecem a qualidade da assistência de enfermagem. 18 Multitextos CONCLUSÃO É possível concluir, neste estudo, que o trabalho integrado da equipe que assiste o paciente queimado, é fator primordial, uma vez que foi possível constatar uma equipe completa com enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem em todos os serviços pesquisados. Os profissionais de enfermagem classificaram a assistência a pacientes queimados como difícil, porém a maioria não encontra dificuldades na execução do procedimento. Aqueles que referiram dificuldades associaram, principalmente, ao manejo da dor. Os cuidados prestados e orientações fornecidas pela equipe de enfermagem como forma de melhorar a qualidade da assistência também são dignos de louvor, pois prevaleceu, nos resultados, em ordem decrescente, a hidratação contínua, troca de curativo seguida de boa higienização, administração de medicamentos e alimentação balanceada, rica em nutrientes que facilitam a cicatrização. A contribuição maior que os profissionais pesquisados deram para este estudo foi a confirmação de que se deve, realmente, investir em treinamentos e capacitações da equipe de enfermagem, bem como na elaboração e revisão de protocolos assistenciais para os cuidados a pacientes vítimas de queimaduras, com o objetivo de minimizar as dificuldades relatadas. 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Ribeirão Preto (SP): Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP; 2000. 20 Multitextos Contribuição do farmacêutico no diagnóstico e tratamento da Infecção do Trato Urinário (ITU) GUERRA JÚNIOR, Geraldo Edson Souza*; ROCHA, Josiane Santos Brant*; VELOSO, Daniela Araújo*, FREITAS, Ronilson Ferreira** * Docentes das FIPMoc ** Acadêmico do curso de Farmácia das FIPMoc RESUMO A infecção do trato urinário ( ITU) é uma das infecções mais comuns que atingem a população. (VIEIRA NETO, 2003) Apesar de comum tanto em homens quanto em mulheres, estas são as mais afetadas, devido a fatores anatômicos, como a uretra mais curta e a maior proximidade do ânus com o vestíbulo vaginal. No homem, o maior comprimento uretral, maior fluxo urinário e o fator antibacteriano atuam como protetores, diminuindo a incidência de ITU. (VIEIRA NETO, 2003) No tratamento da ITU, é possível observar um considerado aumento na resistência das bactérias frente a alguns antimicrobianos, sendo de grande importância a busca por novas substâncias, para serem utilizadas no combate a esses microrganismos. (FURLAN, et al., 2004) Diante desse pressuposto, o objetivo do estudo foi verificar a contribuição do profissional farmacêutico no diagnóstico e tratamento da Infecção do Trato Urinário (ITU). Quanto à metodologia, trata-se de uma pesquisa bibliográfica. O estudo incluiu livros na área da saúde, bem como artigos de revisão e originais, fornecidos pelos professores do 1° período de Farmácia, sob a óptica das disciplinas. Os principais assuntos do presente estudo referem-se às definições e incidências das Infecções do Trato Urinário, sistema urinário e sua constituição, classificações, diagnósticos, tratamento da ITU e microbiologia. Conclui-se que o farmacêutico apresenta uma significativa atuação no que se refere à ITU, no diagnóstico, nas classificações, na identificação dos microrganismos causadores de ITU, na manipulação dos antimicrobianos utilizados no tratamento da ITU, na busca por novas substâncias químicas que possam ser utilizadas na produção de medicamentos antimicrobianos, bem como na assistência aos pacientes durante o tratamento. PALAVRAS-CHAVE: Farmacêutico; diagnóstico; tratamento; infecção do trato urinário INTRODUÇÃO A Infecção do Trato Urinário (ITU) é a segunda infecção mais comum que atinge a população em geral (HEILBERG; SCHOR, 2003), perdendo somente para doenças respiratórias (TEODOSIO; ORLOVSKI; NAKAMURA, 2006). É causa frequente de morbidade na população, representando um percentual significativo dentre as consultas em serviços médicos públicos; é responsável por 80 em cada 1000 consultas no país (MULLER; SANTOS; CORRÊA, 2008), constituindo um grave problema de saúde que afeta milhões de pessoas a cada ano. A Infecção do Trato Urinário (ITU) é causada pela presença de microrganismos, principalmente bactérias, nas vias urinárias, seja na bexiga, próstata, sistema coletor ou rins. (VIEIRA NETO, 2003) Esses microrganismos são principalmente germes gram-negativos, seguidos dos demais gram- 21 Multitextos positivos. A frequência dos germes causadores dessa patologia varia na dependência de onde foi adquirida a infecção, intra ou extra-hospitalar, e também difere em cada ambiente hospitalar considerado. (HEILBERG; SCHOR, 2003) É caracterizada como uma patologia frequente em todas as idades, sendo que no primeiro ano de vida acomete principalmente o sexo masculino; durante a infância e na fase pré-escolar, é predominante no sexo feminino, prevalecendo até a vida adulta (MULLER; SANTOS; CORRÊA, 2008), sendo comum tanto em homens quanto em mulheres, mas as mulheres são as mais afetadas, devido a fatores anatômicos, como a uretra mais curta e a maior proximidade do ânus com o vestíbulo vaginal e a uretra. No homem, o maior comprimento uretral, maior fluxo urinário e o fator antibacteriano atuam como protetores, diminuindo a incidência de ITU. (VIEIRA NETO, 2003) O curso de farmácia foi criado com o intuito de formar profissionais aptos a atuarem no desenvolvimento da saúde humana. Os acadêmicos dessa área devem ter uma formação básica acerca do o rg a n i s m o h u m a n o , s u a o rg a n i z a ç ã o e funcionamento nos diversos níveis e interações com os demais seres vivos. Diante do conhecimento adquirido pelo profissional farmacêutico durante sua formação, e da grande prevalência da Infecção do Trato Urinário (ITU), este estudo teve como objetivo verificar a contribuição do profissional farmacêutico no diagnóstico e tratamento da Infecção do Trato Urinário (ITU). METODOLOGIA Para atingir os objetivos propostos neste trabalho, foi realizada uma pesquisa com 22 procedimentos bibliográficos, exploratória de natureza qualitativa. (Gil ,2008) A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de materiais já elaborados, constituídos principalmente de livros e artigos científicos. Esse tipo de pesquisa é indicado a fim de proporcionar melhor visão do problema e torná-lo mais específico, possibilitando a construção de hipóteses e assumindo um caráter de estudo exploratório, visando conhecer os fatos e fenômenos relacionados ao tema. Na pesquisa qualitativa, o pesquisador é considerado um instrumento de coleta de dados, e sua principal característica é o conteúdo interpretativo; os pesquisadores devem analisar seus dados indutivamente. Foram utilizados como fontes de dados, artigos científicos originais e de revisão, no período de 2001 a 2008, bem como livros da área da saúde referentes ao tema proposto. Os artigos e livros foram fornecidos sob a óptica de cada disciplina do primeiro período do curso de Farmácia, no intuito de observar a importância de cada uma dessas disciplinas na formação do profissional farmacêutico para trabalhar com pacientes suspeitos de Infecção do Trato Urinário (ITU). A seleção de artigos foi definida pelo seguinte modelo: artigos em português, que discutiam a anatomia do trato urinário, bem como as principais patologias relacionadas à referida região; artigos que analisavam parâmetros normais e parâmetros alterados pela Infecção do Trato Urinário (ITU) através da urianálise, os tratamentos para Infecções do Trato Urinário e as principais substâncias químicas utilizadas no controle de ITU, a fim de observar a importância do farmacêutico no contexto de ITU. Após a obtenção do material, realizou-se uma leitura exploratória das obras bibliográficas, com o objetivo de verificar quais os conteúdos dos artigos consultados tinham relação com a pesquisa. Em seguida, procedeu-se à seleção Multitextos do material que de fato estava de acordo com os objetivos visados, seguindo-se de leitura analítica. A finalidade dessa etapa foi ordenar e sumarizar os dados contidos nas fontes, buscando a obtenção de respostas ao problema da pesquisa Finalmente, efetuou-se a leitura interpretativa,na qual se procurou conferir significado de maior dimensão aos resultados alcançados com a leitura analítica. Para isso, a análise foi realizada pela ligação dos resultados com conhecimentos de origem, em teorias baseadas nas evidências, e de pesquisas empíricas. DISCUSSÃO A Infecção do Trato Urinário (ITU) é uma patologia extremamente frequente, sendo uma das infecções mais comuns que atingem a população, perdendo somente para doenças respiratórias. (TEODOSIO; ORLOVSKI; NAKAMURA, 2006) Segundo Vieira Neto (2003), a ITU é causada pela presença de microrganismos, principalmente bactérias, nas vias urinárias, seja na bexiga, próstata, sistema coletor ou rins, respondendo por grande parte dos processos infecciosos, comunitários e hospitalares. Assim, entender a atuação do profissional farmacêutico na Infecção do Trato Urinário (ITU) é bem significativo. O sistema urinário é normalmente estéril e livre de bactérias, e as infecções urinárias, ou ITU, surgem quando ele é invadido por microrganismos, principalmente bactérias. (TEODOSIO; ORLOVSKI; NAKAMURA, 2006). Portanto, o farmacêutico, bem como qualquer outro profissional da área da saúde deve apresentar um prévio conhecimento sobre a anatomia do sistema urinário - que Spence (1991) descreve ser constituído por rins, ureteres, bexiga urinária e uretra -, a fim de um diagnóstico mais seguro e na busca de um tratamento mais eficaz. De acordo a Sociedade Brasileira de Urologia (2004), a ITU se classifica em baixas, que envolvem a bexiga (cistite), uretra (uretrite), nos homens, a próstata (prostatite) e o epidídimo (epididimite); e em altas, envolvendo o parênquima renal (pielonefrite) ou ureteres (ureterites). A partir disso, é possível observar a relevância de o farmacêutico conhecer os órgãos que compõem o sistema urinário, bem como as principais patologias relacionadas à referida região, com o objetivo de orientar os pacientes acerca das reações causadas no organismo pelos medicamentos utilizados no combate à ITU, levando em consideração que os medicamentos são escolhidos de acordo o diagnóstico clinico ou exame da doença, e ainda a classificação da ITU. Em se tratando de Infecção do Trato Urinário (ITU), é importante o farmacêutico atentar à microbiologia dos microrganismos, sendo que os maiores causadores da ITU são germes gramnegativos como a Escherichia coli, Klebsiella, E n t e ro b a c t e r , A c i n e t o b a c t e r , P ro t e u s , Pseudomonas entre outras, e a Staphylococcus saprophyticus, um germe gram-positivo como o segundo agente causador de ITU (HEILBERG; SCHOR, 2003), na perspectiva de escolher um tratamento mais viável, de acordo a sensibilidade d e s s e s m i c r o rg a n i s m o s f r e n t e a a l g u n s antimicrobianos. O tratamento da Infecção do Trato Urinário (ITU) se baseia na localização e presença de fatores complicantes, sendo realizado da seguinte forma: ITU baixa não complicada, ITU baixa comunitária em pacientes com sonda vesical, ITU baixa em gestantes - o tratamento deve ser realizado em sete dias. ITU alta comunitária (tratamento ambulatorial), ITU alta comunitária (tratamento 23 Multitextos hospitalar), ITU alta comunitária em gestantes - o tratamento deve durar quatorze dias (VIEIRA NETO, 2003). Observa-se, assim, a importância da atenção farmacêutica, pois cada classificação exige um tratamento especifico, e é dever do farmacêutico orientar os pacientes quanto à utilização medicamentosa durante o tratamento da ITU, e de qualquer outra doença. É muito importante a criação de um sistema onde se realiza o monitoramento da resistência bacteriana para a detecção do grau de resistência, ajudando o farmacêutico na escolha da terapia empírica local mais eficaz e permitindo a implementação de medidas de prevenção. Essa observação do comportamento de bactérias frente a alguns antimicrobianos ajuda a prever o futuro da resistência bacteriana, como também a patogenicidade desses isolados e a avaliação para a busca de uma terapia adequada. Dos medicamentos utilizados no tratamento da Infecção do Trato Urinário (ITU), segundo Carmago et al. (2002), os que apresentam maior eficácia frente aos microrganismos causadores de ITU são a amoxicilina, a ampicilina, cefalotina, cefuroxima, ceftriaxona, ceftazidima, gentamicina, entre outros; e é possível também observar, neste estudo, o aumento na resistência de bactérias a certos antimicrobianos utilizados no tratamento da Infecção do Trato Urinário (ITU), sendo as bactérias isoladas de infecções hospitalares mais resistentes aos antimicrobianos que as bactérias isoladas de infecções comunitárias. Torna-se relevante encontrar novas substâncias químicas antimicrobianas para serem utilizadas no combate a esses microrganismos, e a savana brasileira é uma boa fonte para essas pesquisas, por apresentar muitas plantas que podem ser utilizadas no tratamento de diversas doenças e infecções, inclusive infecções bacterianas. Nesse 24 sentido ,Furlan et al. (2004) descrê que pesquisas já foram realizadas com plantas da flora brasileira; e das ervas estudadas que produzem óleo essencial, destacam-se o alfavacão (Ocimum gratissimum), capim-limão (Cympopogon citratus) e sálvia (Salvia officinalis), apresentando a sálvia eficácia de 100%, quando testadas em espécies de Klebsiella e Enterobacter. A partir do contexto escrito acima, mais uma função é atribuída ao farmacêutico no tratamento da Infecção do Trato Urinário (ITU), que é a de pesquisar novas substâncias químicas que possam ser utilizadas na fabricação de novos antimicrobianos. Com base no elevado crescimento da resistência de algumas bactérias frente a alguns antimicrobianos, é viável realizar um monitoramento da microbiota patogênica que predomina em determinada região, bem como o comportamento dessas bactérias diante dos antimicrobianos utilizados, sendo de grande importância para o farmacêutico o acompanhamento terapêutico do paciente; além de que o farmacêutico já se responsabiliza pela produção dos medicamentos antimicrobianos, na orientação ao paciente e na realização de exames laboratoriais para um possível diagnóstico da ITU. De acordo Vieira Neto (2003), o diagnóstico laboratorial da ITU é baseado no crescimento de microrganismos na urocultura. Para diagnosticar a Infecção do Trato Urinário, é necessário realizar o exame de rotina de urina ou urinálise. Costava et al. (2001) argumenta que esse exame é composto de três etapas: o exame físico, o exame químico e a microscopia de sedimento. Cada um desses exames tem seu valor, sendo os dois primeiros de execução mais simples, e o último, considerado mais complexo. O farmacêutico analista clínico é o responsável pela liberação do laudo desses exames. Multitextos Segundo estudos realizados, os microrganismos causadores da ITU apresentam certas evoluções que podem influenciar no diagnóstico e tratamento da Infecção do Trato Urinário (ITU). O Manual de Procedimentos Básicos em Microbiologia Clínica para o Controle de Infecção Hospitalar (2006) define as seguintes evoluções dos microrganismos: episódio único ou isolada, recidiva ou recaída, crônica e recorrentes. O farmacêutico deve atentar para essas evoluções no momento de realizar o exame para diagnosticar a Infecção do Trato Urinário (ITU), com o objetivo de obter resultados satisfatórios no tratamento, caso haja evolução dos microrganismos. Com relação à temática focalizada nessas produções científicas referentes à atuação do profissional farmacêutico na identificação e tratamento da Infecção do Trato Urinário (ITU), destaca-se que essa atuação é significativa se faz desde o diagnóstico até o acompanhamento do paciente durante o tratamento. CONSIDERAÇÕES FINAIS A Infecção do Trato Urinário (ITU) é muito comum e atinge a população em todas as idades, especialmente as mulheres. A partir deste estudo, é possível perceber que a prevalência de ITU e os microrganismos relacionados a ela podem variar de acordo o local e a idade dos pacientes, concluindo que o estudo do predomínio da microbiota patogênica e o monitoramento do perfil de susceptibilidade em uma determinada região podem auxiliar os farmacêuticos no acompanhamento terapêutico e na orientação dos pacientes. É possível observar a importância da interação entre os profissionais da área da saúde para o diagnóstico e tratamento de Infecção do Trato Urinário (ITU), pois clínicos, farmacêuticos e microbiologistas atuam em conjunto na perspectiva de fazer a melhor escolha para a terapia antimicrobiana, visando sempre o bem-estar, a comodidade e a eficiência do tratamento para os pacientes acometidos por tal patologia. Diante de todos os aspectos que nortearam esta produção bibliográfica, fica evidente que o profissional farmacêutico pode realizar exames como o antibiograma ou um antifungigrama, na perspectiva de definir qual o melhor medicamento para combater o patógeno, evitando, assim, resistência desses microrganismos aos antimicrobianos utilizados. Além disso, é também responsável pela manipulação de medicamentos utilizados como antimicrobianos, devendo também assistir o paciente durante todo o tratamento. REFERÊNCIAS CAMARGO, C. B. S.; GIRONI, R. H. A.; LOURENÇO, D. 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Medicina, Ribeirão Preto, 36: 365-369. abr/dez. 2003. 26 Multitextos Análise de alguns parâmetros físico-químicos de amostras de mel comercializadas na cidade de Montes Claros - MG DAMASCENO, Eurislene Moreira Antunes*; SILVA, Marley Garcia*; NUNES COSTA, Mariana de Oliveira**; SANTOS, Maria Thereza Ruas** *Docentes dos cursos de Biomedicina e Farmácia das FIPMoc **Acadêmicas do Curso de Farmácia das FIPMoc Este trabalho foi realizado no Laboratório de Farmacognosia das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros e foi tema do Projeto Multidisciplinar dos alunos do 4º período do curso de Farmácia, desenvolvido de agosto a novembro de 2009. RESUMO O mel é considerado um dos alimentos mais puros da natureza, sendo apreciado por seu sabor característico e considerável valor nutritivo. Nos dias atuais, observa-se que apicultores e consumidores demonstram preocupação com a qualidade do produto e com as possíveis adulterações. O objetivo deste trabalho foi analisar alguns parâmetros físico-químicos de qualidade de amostras de mel comercializadas em Montes Claros. As análises físico-químicas compreenderam o teste de Fiehe, a reação de Lugol, reação de Lund, a acidez (pH), presença de adulterantes e índice de diástase. De acordo com os resultados obtidos, nas condições experimentais estabelecidas, oito amostras (53,3%) apresentaram algum tipo de variação na reação de colorimétrica (Fiehe), indicando uma possível adulteração. Foi observado que uma das amostras apresentou indícios de adulteração com a adição de xarope de milho hidrolisado. As amostras apresentaram ainda resultado negativo para a reação de Lugol e para possíveis acréscimos de corantes. Na reação de Lund, observou-se a formação de um precipitado de 0.6 a 3 mL, comprovando a pureza das amostras. Quanto à acidez das amostras, verificou-se que os valores de pH variaram de 4,0 a 5,0, estando em conformidade com os dados da literatura. O índice de diástase medido nas amostras revelou também a boa qualidade e procedência do mel, indicando que o tratamento recebido na produção do mel foi adequado. Dessa forma, os resultados mostraram que o mel comercializado na cidade de Montes Claros, de maneira geral, encontra-se dentro dos padrões exigidos pela CNNPA (Comissão Nacional de Normas e Padrões para Alimentos). PALAVRAS-CHAVE: mel, análise físico-química, adulterações INTRODUÇÃO Considerações gerais O mel é um produto viscoso, adocicado e geralmente de aroma agradável, apreciado, segundo alguns relatos, desde a Grécia antiga. Sua qualidade nutricional (vitaminas, minerais, valor energético elevado), propriedades medicinais e propriedades sensoriais têm atraído milhares de consumidores. (DUSTMANN, 1993) O mel é uma fonte natural de saúde, devido a suas qualidades terapêuticas, dentre as quais se ressalta a atividade antimicrobiana, proteção contra doenças gastrintestinais, propriedades antioxidantes, propriedades prebióticas, cicatrizantes, curativa, 27 Multitextos calmante, regenerativa dos tecidos, estimulante, antifúngica e antibacteriana, além de ser uma boa fonte de energia. (GONÇALVES, FILHO, MENEZES, 2005) A composição química do mel depende, em grande parte, das espécies vegetais visitadas pelas abelhas, natureza do solo, raça das abelhas e condições climáticas. Assim, está disponível no mercado uma infinidade de tipos de méis, com características peculiares (BARTH, 2004). A identificação das plantas visitadas pelas abelhas é de importância fundamental para os apicultores, por indicar as fontes de alimento utilizadas para coleta de néctar e pólen, visando maximizar a utilização dos recursos tróficos, principalmente em áreas de vegetação natural. (SANTOS-JÚNIOR, SANTOS, 2003) Muitas das substâncias presentes no mel, principalmente os ácidos fenólicos e flavonoides são conhecidos por apresentarem propriedades farmacológicas devido a sua ação sobre inúmeros processos fisiológicos no corpo, podendo beneficiar o coração, veias, rins, fígado, sistema imunológico, musculatura e sistema nervoso. (CARVALHO, 2005) Dos produtos fornecidos pelas abelhas, o mel é, sem dúvida, o mais conhecido e difundido. Foi um dos primeiros alimentos do homem e praticamente todas as civilizações antigas o utilizaram como alimento e recurso medicinal. A ação do mel sobre o organismo humano deve-se não só a sua alta ação energética, mas especialmente às enzimas, vitaminas e a presença de elementos químicos importantes para o bom funcionamento do organismo - os oligoelementos (selênio, manganês, zinco, cromo e alumínio). Parâmetros utilizados no controle de qualidade 28 O valor do pH do mel pode variar de acordo com o solo, com o pH do néctar, com a associação de vegetais para composição do mel e com as substâncias mandibulares das abelhas . Embora o pH não seja indicado como análise obrigatória no controle de qualidade dos méis brasileiros, mostra-se útil como variável auxiliar para avaliação da qualidade. (EVANGELISTA-RODRIGUES et al,. 2005) Geralmente os méis são ácidos, possuindo uma variação do pH de 3,95 a 4,09. Esses valores são devidos ao ácido glucônico, produzido pela enzima glicose-oxidase. A ação dessa enzima se mantém, mesmo após o processamento do mel. O mel possui, ainda, em sua composição, diversos ácidos, como: ácidos orgânicos, ácido glucônico, ácido tânico, ácido fosfórico e o ácido fórmico – com atuação na conservação do produto e contribuindo para os valores típicos de pH do mel. (EVANGELISTARODRIGUES et al,. 2005) É importante considerar que o pH influencia na formação do HMF (hidroximetifurfural). O HMF é um composto químico (aldeído cíclico) que se forma por desidratação da frutose em meio ácido (valor médio de pH 3,9), processo que é acelerado pelo calor, podendo ser utilizado como indicador de qualidade do mel. O superaquecimento do mel e/ou seu armazenamento inadequado ou por longos períodos resultam na formação desse composto. (ESTUPIÑAN et al., 1998) O escurecimento e a velocidade de síntese de HMF são favorecidos, caso o mel seja armazenado a temperaturas superiores a 27ºC. (BOGDANOV, 1999; MOLAN, 1992) Outro importante parâmetro de qualidade do mel é a presença da enzima á-amilase, denominada diástase. Essa enzima tem por função digerir o amido, e dados de literatura mostraram que é Multitextos proveniente principalmente das glândulas hipofaringeanas das abelhas, podendo ser encontrada também, em menor proporção, nos grãos de pólen (PAMPLONA, 1989). O índice de diástase é utilizado para avaliar a qualidade do mel, fornecendo indicações sobre o grau de conservação e superaquecimento, o que comprometeria seriamente o produto (WHITE JUNIOR, 1994). A ausência dessa enzima reflete procedimentos e/ou adulterações realizadas no mel, tal como uso de temperatura acima de 60ºC durante o beneficiamento, adição de açúcar invertido, condições de armazenamento inadequadas (tempo acima de seis meses e temperaturas elevadas). A atividade diastásica diminui devido à desnaturação parcial ou total das amilases. (AROUCHA et al., 2008) Nos dias atuais, existem padrões de identidade e qualidade do mel, em relação aos aspectos macroscópicos e microscópicos. O produto não pode conter substâncias estranhas de qualquer natureza, como, por exemplo: insetos, larvas, grãos de areia e outros. Os avanços consideráveis nas técnicas analíticas como cromatografia gasosa de alta resolução e espectrometria de massas possibilitam obtenção de informações químicas precisas que podem ser correlacionadas às informações sensoriais, originando metodologias analíticas para que os organismos de fiscalização possam, por exemplo, garantir ao consumidor seu direito de, ao adquirir mel, pagar por aquilo que está definido no rótulo do produto. (BASTOS et al., 1998) Com exceção dos trabalhos que utilizaram técnicas de headspace dinâmico para isolamento dos compostos voláteis de mel, a maioria das pesquisas realizadas sobre aroma e sabor de mel emprega a análise total, usando os processos de destilação e concentração. (BASTOS et al., 1998) De fato, o estudo dos compostos voláteis do mel tem gerado muitas pesquisas que visam caracterizar esses compostos com o objetivo de usálos como parâmetro de qualidade para o produto (BASTOS et al., 1998) Uma vez que esses compostos estão presentes em concentrações extremamente pequenas, e visto que a matriz desse produto é composta principalmente por frutose e glicose, ao empregarem-se técnicas de isolamento que utilizam calor, aumenta-se muito a possibilidade de introdução de artefatos, como os compostos furânicos, comprometendo-se, assim, os resultados obtidos (BASTOS et al., 1998) Os insetos e os ácaros, além de depositarem suas dejeções sobre os alimentos, causando doenças por fungos, bactérias, vírus, protozoários e helmintos, também podem contaminar os produtos com microrganismos que se encontram aderidos a seu corpo e pernas. Além disso, os ácaros podem desencadear processos alérgicos em indivíduos susceptíveis, quando ingeridos com alimentos. (CORREIA; RONCADA, 2002) MATERIAL E MÉTODOS Amostragem As 15 amostras de mel foram obtidas de fazendas ou da comercialização em mercados, supermercados e por ambulantes da cidade de Montes Claros - MG, cidades próximas (São João do Paraíso, Ponto Chique, Bocaiúva e Espinosa) e uma amostra do Estado da Bahia. As amostras foram codificadas de A-1 a A-15. Análise da qualidade físico-química do mel Reação de Lund O mel genuíno apresenta em sua composição 29 Multitextos pequenas quantidades de proteínas. O ácido tânico, composto de natureza polifenólica, da família dos taninos, é um agente precipitante, inclusive de proteínas. Foram pesados 2g de cada amostra. As amostras foram transferidas para uma proveta de 100 mL, com o auxilio de 20 mL de água. Em seguida, adicionaram-se, em cada recipiente, 5 mL de solução de ácido tânico 0,5% e água suficiente para completar o volume de 40 mL. Deixou-se em repouso por 24 horas. Decorrido o período de 24 horas, observou-se a formação de um precipitado. Na presença de mel puro, espera-se a formação de um precipitado de 0,6 a 3 mL. Reação de Fiehe Durante a obtenção de açúcar invertido por hidrólise ácida da sacarose, forma-se, também, hidroximetil furfural pela desidratação da frutose. Este aldeído pode reagir com resorcinol e, dependendo da quantidade presente, resulta uma coloração que pode variar do róseo ao vermelho intenso. Para a identificação de açúcar invertido das amostras, foram transferidos 5 mL de cada uma para uma proveta de 25 mL Adicionaram-se 10 mL de água. Misturou-se bem, adicionando-se 5 mL de éter. Deixou-se em repouso até a separação das camadas. Após este processo, transferiram-se 2mL da solução etérea (camada clara) para um tubo de ensaio. Adicionaram-se 2 gotas de resorcina, agitando-se. A presença de uma coloração vermelho-cereja indica a presença de açúcar invertido. Pesquisa de Amido – Reação de Lugol 30 Designa-se “glicose comercial” o produto obtido pela hidrólise de amidos extraídos de vegetais. Obtém-se, nesse caso, uma mistura de monossacarídios (glicose), dissacarídios e polissacarídios e, dentre esses, obtêm-se as dextrinas, as quais, em presença de iodo, desenvolvem cor vermelha ou violeta. As amostras de mel foram diluídas em pequena quantidade de água e submetidas diretamente à reação do lugol. Fermento diastático ou Diástase O mel natural apresenta atividade enzimática, se não for aquecido a temperaturas capazes de destruir essa enzima. Para determinar a presença de diástase, 5 mL de cada amostra de mel foram transferidos para uma proveta. Adicionaram-se 10 mL de água destilada. Em seguida, 10 mL dessa solução foram transferidos para um tubo de ensaio, onde se adicionou 1 mL de solução aquosa de amido a 0,5%. O tubo de ensaio contendo a solução foi colocado em banho-maria a 45oC, durante 1h. Após o banho-maria, foi adicionado 1 mL de solução iodo-iodeto. A presença de uma coloração verde oliva ou castanha indicam a diástase. Medida da acidez (pH) A acidez das amostras de mel foram realizadas através da medida direta, através de fitas indicadoras de pH. Determinação de xarope de milho hidrolisado Para a determinação de xarope de milho hidrolisado, pesou-se aproximadamente 1g de mel. Em seguida, adicionaram-se 5 mL de água destilada. Em um tubo de ensaio foi colocado 1 mL da solução obtida (mel e água), 2 gotas de ácido clorídrico Multitextos concentrado e 5 mL de álcool etílico absoluto. A ausência de xarope de milho mostra uma mistura límpida ou opalescência muito fraca após as reações. Pesquisa de substâncias corantes A presença de substâncias corantes estranhas (possíveis falsificações) foram analisadas através de algumas reações. Foram pesados 3g de cada amostra de mel, sendo em seguida diluídas em 5 mL de água destilada. Essa mistura foi dividida em 2 tubos de ensaio. Em um dos tubos foi adicionada 1 gota de ácido clorídrico concentrado e, no outro, 1 gota de amônia diluída. Na presença de substâncias estranhas, haveria alteração da cor da amostra. RESULTADOS E DISCUSSÃO Diferentes critérios de padrão de qualidade baseados em características físico-químicas podem ser utilizados na análise do mel. Tais parâmetros fornecem dados que podem revelar possíveis adulterações no produto ou manipulações indevidas, como um aquecimento excessivo. Segundo a Comissão Nacional de Normas e Padrões para Alimentos (CNNPA), proteínas e suas substâncias correlatas devem fazer parte da composição do mel, cuja determinação é realizada através da reação de Lund. A reação de Lund é baseada em uma precipitação de proteínas, através do ácido tânico. Dessa forma, a presença de proteínas resulta na formação de um precipitado, após 24 horas, indicando a qualidade do produto. De acordo com os resultados obtidos, as amostras de mel estão em conformidade com as normas estabelecidas pela CNNPA. Segundo a Resolução nº 12, de 1978, da CNNPA, o volume de precipitado formado na reação de Lund deve estar entre 0,6 e 3,0 mL. Os valores encontrados na pesquisa variaram de 1,0 a 1,5 mL. O teste de Fiehe deve ser negativo para as amostras de mel. O teste é baseado na detecção qualitativa de HMF, resultante da desidratação da frutose, derivada da hidrólise ácida da sacarose. O HMF reage prontamente com a resorcina, utilizada no teste, resultando na formação de uma coloração que varia do róseo ao vermelho intenso. Segundo resultados obtidos neste trabalho, oito amostras apresentaram algum tipo de variação na reação colorimétrica, indicando uma possível adulteração do mel O HMF é um importante parâmetro da qualidade do mel e indica se houve superaquecimento do mel ou se o mel está armazenado há muito tempo, uma vez que o HMF pode ser formado durante o período de armazenamento. (MARCHINI; MORETI, 2000) Deve-se destacar que a presença do HMF no mel faz com que seu valor nutricional seja alterado, uma vez que ocorre a degradação de substâncias constantes do mel, além da perda de algumas enzimas, devido a alterações de pH na mistura. Segundo Alves et al. (2005), o HMF pode ser encontrado, em pequenas concentrações, em um mel recém-colhido, devido à presença da frutose. Nesse caso, o HMF é formado devido a reações espontâneas da frutose do mel com ácidos da própria composição. Estudos desses mesmos autores mostraram também que méis com alta taxa de frutose também podem ter índices maiores de HMF. A reação de Lugol, de simples execução, é um importante método para a detecção de adulteração do mel. O princípio do método é a reação do iodo e iodeto de potássio com glicose, 31 Multitextos gerando uma coloração azul intensa no tubo teste. A intensidade da cor é diretamente relacionada à quantidade de dextrinas (derivada da hidrólise ácida do amido) presentes na amostra. As 15 amostras analisadas apresentaram resultado negativo para a reação de Lugol, indicando que os produtos não foram adulterados com adições de amido. Tais resultados estão em conformidade com o CNNPA e o Ministério da Agricultura e Pecuária, que estabelecem resultados negativos, sem faixa de tolerância, para presença de amidos no mel. O índice de diástase é indicado para avaliar a qualidade físico-química do mel, concernente a processos exagerados de aquecimento e está diretamente relacionado à presença de HMF na amostra. (MARCHINI; MORETI, 2000) O mel não adulterado possui atividade enzimática devido à ação da diástase, uma alfaamilase. Essa enzima, presente no mel, é originada de uma secreção salivar das abelhas. O aquecimento provoca a desnaturação dessa enzima, fazendo com que ela perca sua atividade catalítica. (WHITEJÚNIOR, 1994). Marchini; Moreti (2000) utilizaram o índice de diástase para a análise dos métodos de aquecimento empregados no processamento do mel, mostrando que o aquecimento solar é uma maneira segura de aplicar o calor sem alterar significativamente a diástase da amostra. Assim, a atividade enzimática da -amilase é um indicativo das condições de processamento do mel, bem como do seu armazenamento. As amostras analisadas neste trabalho apresentaram resultados positivos em relação à presença da diástase, confirmando a boa qualidade do mel. De acordo com os resultados, nas condições experimentais estabelecidas as amostras de mel apresentaram coloração tipicamente oliva, devido à degradação do 32 amido inserido na amostra. De acordo com os dados apresentados na tabela, os valores de pH das amostras variaram de 4 a 5, estando em conformidade com outros dados da literatura. Para este parâmetro, não existe uma legislação nacional ou internacional, padronizada, segundo relato de Alves et al. (2005) e Souza (2008). Os méis são produtos ácidos, devido à presença de ácido glucônico produzido pela ação da GOD, a glicose-oxidase. A acidez é também um importante parâmetro da qualidade microbiológica do mel, reduzindo a risco de desenvolvimento de microrganismos no material. (ALVES et al., 2005) O índice de acidez pode ser avaliado através das medidas do pH ou poderá ser expresso em miliequivalentes, através de dados experimentais realizados através de titulação. Nesse caso, o Codex Alimentarius preconiza uma acidez máxima de 50 meq/kg. (EVANGELISTA-RODRIGUES et al., 2003) Alguns fatores influenciam nos valores do pH em mel, como pH do néctar, solo ou associações de vegetais que compõem o mel. Além disso, substâncias mandibulares das abelhas também podem exercer tal influência. Deve-se ressaltar, ainda, que a acidez de uma amostra de mel está relacionada à formação do HMF, também formado devido à ação de ácidos constantes das amostras. (EVANGELISTA-RODRIGUES et al., 2003) Em estudos realizados com amostras de mel de Melípona mandacaia, Alves et al. (2005) encontraram uma variação de pH entre 3,16 e 3,54. Outra espécie de abelha, a M. quadrifasciata, produziu méis com valores de pH sensivelmente maiores. Uma terceira espécie, a M. beechei, os valores de pH foram ainda maiores, sendo encontrados valores entre 3,6 e 5,1. (ALMEIDA, Multitextos MARCHINI, 2004) As 15 amostras analisadas apresentaram resultado negativo para presença de xarope de milho hidrolisado, exceto a amostra 5, cujo resultado da reação revelou uma turbidez fraca. A coloração da amostra pode ser utilizada como parâmetro no teste de xarope de amido de milho hidrolisado. Quando a coloração da amostra se apresenta límpida, o mel é adequado para o uso; não tem problema de adulteração. Quando apresentar coloração turva, o mel estará levemente adulterado. Se a mistura apresentar coloração leitosa, o mel estará adulterado. A cor do mel pode ser determinada através de espectrofotometria, segundo Escobar-Martinez, Gimenezmeza (1992). A cor é dependente da composição do mel e das condições de processamento e armazenamento (SOUZA, 2008). A cor ainda está associada à origem botânica do produto, apesar de não existir um estudo apurado sobre as substâncias responsáveis pela cor do mel. (PAMPLONA, 1989) Possíveis falsificações podem ocorrer pela adição de corantes do mel, com o propósito de elevar o preço comercial do produto ou mascarar uma coloração indesejada. Neste trabalho, todas as amostras analisadas apresentaram resultado negativo quanto a possíveis adições de corantes. Tais resultados estão em conformidade com a Resolução nº 15, de 1994, do grupo Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). CONCLUSÃO Os aspectos metodológicos utilizados no decorrer deste trabalho são aplicáveis na análise do mel, para comprovação de sua qualidade. Os métodos utilizados mostram-se eficientes, a fim de determinar a qualidade dos méis, enquadrando-os dentro dos padrões de qualidade exigidos pelo Ministério da Agricultura, para comercialização no Brasil. A maioria das amostras analisadas demonstrou resultado negativo para adulteração, exceto para uma das amostras, que apresentou caráter duvidoso. Este trabalho fez uma grande diferença em nossa carreira profissional, uma vez que o profissional farmacêutico pode atuar no controle de qualidade, e todas as técnicas utilizadas para análise dos méis são eficazes. Quanto às perspectivas futuras, pode ser aprofundado o conhecimento relacionado à composição química do mel e sua análise microbiológica. REFERÊNCIAS ALMEIDA, D.; MARCHINI, L.C. Physicochemical and pollinic composition of honey samples of stingless bees (Hymenoptera: Apidae: Meliponini) from the “cerrado” of Pirassununga campus, University of São Paulo, in Pirassununga, State of São Paulo, Brazil. In: Proceedings of the 8th IBRA International Conference on Tropical Bees and VI Encontro sobre Abelhas, Ribeirão Preto, SP, 2004, p. 585. ALVES Características físico-químicas de amostras de mel de Melipona mandacaia Smith (Hymenoptera: Apidae). Ciênc. Tecnol. Aliment., Campinas, v. 25, n. 4, p. 644-650, out.-dez. 2005. , R. M. O. et al. AROUCHA E. M. 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Apresenta, de forma sintética, onde estão os profissionais formados entre dezembro de 2007 a julho de 2009, se estão trabalhando, e em qual área de atuação estão inseridos.O resultado da pesquisa aponta a grande inserção desses egressos nas Políticas Públicas de Assistência Social. PALAVRAS-CHAVES: Psicologia, Egressos, Políticas Públicas, Assistência Social, Saúde. INTRODUÇÃO O presente artigo tem por objetivo fazer um mapeamento das áreas de atuação dos egressos do curso de Psicologia das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, formados entre o segundo semestre de 2007 e o primeiro semestre de 2009. O problema proposto foi saber onde estão esses profissionais, no mercado de trabalho. A hipótese levantada é que grande parte desses egressos, hoje profissionais, estão atuando nas Políticas Públicas de Saúde e Assistência Social. O objetivo geral foi identificar a inserção dos psicólogos egressos do curso de Psicologia das FIPMoc no mercado de trabalho. Além disso, como objetivo específico, procedeu-se a um diálogo entre as disciplinas do primeiro período do curso de Psicologia - Antropologia, Filosofia, Epistemologia e História da Psicologia, Psicologia: Ciência e Profissão - baseado em referenciais teóricos que aduzem à identidade do psicólogo, compromisso ético, inserção da psicologia e suas áreas de atuação. A metodologia utilizada foi pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo com aplicação de questionário estruturado na coleta de dados, abordando aspectos qualitativos e quantitativos, orientados pela disciplina Metodologia Científica. A tabulação e análise dos dados levantados, apresentados em diversos modelos de gráficos, para uma melhor interpretação do leitor em relação às informações, foi orientada pela disciplina Estatística Descritiva. REVISÃO DE LITERATURA A Psicologia regulamentada como profissão no Brasil no início da década de 60 era predominantemente clínica, atendendo apenas uma pequena parcela da população - afirma Yamamoto 35 Multitextos (2003). A partir do compromisso social da Psicologia com o sujeito, a atuação do psicólogo se amplia para além do consultório. Há uma inserção desse profissional em diversas áreas, incluindo uma atuação nas políticas públicas. De acordo com Gonçalves, “a Psicologia tem muito a dizer nesse campo, não só porque as políticas são elaboradas para atender as necessidades de indivíduos e grupos, mas porque, para que sejam eficazes, devem contar com a adesão dos envolvidos.” (2003, p.290) Ainda para esse autor, as políticas públicas “devem ser democráticas, garantir os direitos sociais básicos, promover a cidadania, contar com a participação dos sujeitos a quem se destinam. Assim entendidas, envolvem as dimensões social e política, afeitas ao campo do poder público, responsável por sua implementação, e ao campo da participação social.” (GONÇALVES, 2003, p.290) Yamamoto acrescenta que “intervir como profissão no terreno do “A identidade somente se torna uma questão quando está em crise, quando algo que se supõe como fixo, coerente e estável é deslocado pela experiência da dúvida e da incerteza” (MERCER apud HALL, 1990, p. 43). O conceito de identidade na sociologia é multifacetado e pode ser abordado de inúmeras formas: bem-estar social, portanto, remete a Psicologia para a Giddens (2005) observa que a identidade se relaciona ao conjunto de entendimentos que as pessoas sustentam sobre quem elas são e sobre o que é expressivo para elas. Essas compreensões são formadas em relação a certas qualidades que têm prioridade sobre outras fontes de significação, as quais incluem gênero, orientação sexual, nacionalidade ou etnicidade e classe social. Para Hall (1990), o sujeito pós-moderno, uma vez conceptualizado como não tendo uma identidade definida, efetiva ou constante, torna-a uma “celebração móvel”, formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpretados nos sistemas culturais que nos rodeiam, sendo, assim, demarcada historicamente, e não biologicamente. O autor diz que o homem é formado de diferentes identidades, que se manifestam em diferentes ocasiões. Elas não estão unidas no entorno de um “eu” coerente, ação nas sequelas da questão social.” ( 2003, p.44) É necessário considerar a desigualdade social para se pensarem as políticas públicas - lembra Gonçalves (2003). É necessário atenção às necessidades das classes subalternas. Diz o autor: “o quadro de exclusão social que é a tônica das nações latino-americanas coloca em questão a possibilidade e a necessidade de ação de profissionais do setor bem-estar, no nosso caso, do psicólogo”. (2003, p. 50) A crise de identidade e o papel do psicólogo Segundo Hall (1990), o duplo deslocamento e descentralização das pessoas tanto de seu ambiente no mundo social e cultural quanto de si mesmas constitui uma “crise de identidade” para o indivíduo. 36 Os cenários culturais em que nascemos influenciam nosso comportamento, mas isso não significa que os humanos são privados da sua individualidade ou do seu livre-arbítrio. O fato de que, do nascimento até a morte, estejamos em interação com outros certamente condiciona nossas personalidades, os valores que sustentamos e o comportamento em que nos engajamos. Além disso, no decorrer da socialização, cada um de nós desenvolve um sentimento de identidade e a capacidade para o pensamento e ações independentes. (GIDDENS, 2005, p.43). Multitextos podendo, até, tornarem-se contraditórias, empurrando o sujeito em direções contrárias, de tal maneira, que suas identificações estão num contínuo deslocamento. No entanto, se uma pessoa sente que possui uma única identidade, em toda a sua vida, é porque construiu uma confortável história de si mesma. Giddens (2005), por sua vez, argumenta que há dois tipos de identidade frequentemente mencionados pelos sociólogos: a identidade social e a autoidentidade. Essas formas de identidade são analiticamente distintas, mas são intimamente relacionadas entre si. Diante dessa crise da identidade - resultante da modernidade -, Teles (1999) mostra o papel do psicólogo frente à sociedade moderna, caracterizada pela competição, pela busca constante do sucesso, e indivíduos temerosos às grandes mudanças, muitos deles levados a distúrbios psicológicos, uma vez que a vida moderna perpetua essas tensões, ocasionando a desorganização do sistema biopsíquico. “A sociedade, assim, vai sendo minada aos poucos por uma neurose coletiva, sendo difícil prever a que isso poderá levar-nos.” (TELES, 1999, p. 61) Segundo a autora, está havendo uma degradação da afetividade, a perda da unidade, levando as pessoas a procurarem os consultórios sem nenhuma doença real, mas, de certa forma, “adoecidos”. Encontra-se, também, a extrema alienação frente à realidade e o fanatismo religioso e político transparecendo a morbidez das pessoas, que buscam se sentirem vivas. Ademais, a competitividade e o consumismo mortificam intensamente o homem. Assim, diante de tantas problemáticas, Teles aponta a importante atuação do psicólogo, que é ajudar o homem na conquista da almejada paz, e que, além de ser um bom profissional, deve ser “uma pessoa plena, a serviço não do Sistema, mas do homem.” (1999, p. 64) O compromisso ético do psicólogo Frente ao questionamento do futuro da Psicologia e seu compromisso ético com a sociedade, Drawin (2003) deixa clara a impossibilidade de a Psicologia ser uma ciência unitária. Dado que sua história tem sido marcada pelas diferenças e pelos antagonismos, “então não podemos construir um discurso epistemológico que se imponha sub specie aeternitatis, e não podemos julgá-la, enquanto totalidade multiforme, em nome de alguma idealidade científica.” (DRAWIN, 2003, p. 56). Abandonando esse conceito, estar-se-á eliminando o que propriamente caracteriza a Psicologia em toda a sua história. Seu futuro, então, é diversificado, e não deve ter apenas um olhar questionador de seus princípios baseados na “pluralidade e da interlocução crítica que ela exige.” (DRAWIN, 2003, p. 57) Portanto, trata-se de um futuro incerto que pode conservar ou, até mesmo, desenvolver suas contestações. O autor atribui essa incerteza por caber à Psicologia um espaço “altamente complexo dos saberes contemporâneos.” (2003, p. 57). A complexidade, sendo oposta à previsibilidade, torna a Psicologia pouco previsível. Segundo Drawin, enquanto no passado é possível fazer diversas explicações, no futuro, essas explicações são “as nossas expectativas, nossas 'antecipações do devir'”. (2003, p. 59) As interpretações que surgem pelo presente em relação ao futuro não possuem dados. Trata-se de uma projeção de como nos acomodamos presentemente. Assim, para se ter uma visão do futuro, deve-se excluir o caráter cíclico e fechado em relação ao passado. O futuro passa a ser pensado como maneira 37 Multitextos de julgar o presente. Drawin (2003), mostra então, três modos possíveis de refletir o futuro a partir do presente: o primeiro modelo, abriga o conceito do “Futuro como Progresso e Emancipação”, numa visão otimista da racionalidade no meio social e político; o segundo modelo, de “Futuro como Decadência e Dominação”, pressupõe a racionalidade como um papel frustrante na emancipação do homem e como uma arma forte para a violência e a destruição; o terceiro modelo seria uma mescla dos dois modelos anteriores, em que o progresso é dominado pela tecnologia onde, por um lado, existe a evolução, e por outro, vive-se o caos, na ideia de um “futuro como indiferença ou do futuro sem devir.”. O autor aponta o ser humano caracterizado por ser racional, e isso o diferencia dos outros animais. A racionalidade deve abranger tudo o que é fundamentalmente humano, como a linguagem. Assim como a linguagem é racional, a narrativa seria também uma maneira racionalizada. Por esse motivo, a razão surgiu pelo mito, através do uso do discurso racional, que possuía categoria dialética. Na modernidade, a razão filosófica encontra sua contraposição na ciência, que prometia ser a única forma de racionalidade. Essa rigidez encontra obstáculo nas ciências humanas, com resistência à objetivação, além de apresentar fenômenos humanos “difíceis de serem assimilados pela objetividade científica, como a historicidade, a linguisticidade e a subjetividade.” (DRAWIN, 2003, p. 67) Destarte, dever-se-iam aceitar essas dimensões da complexidade do ser humano. Explicita o autor que as dimensões do ser humano se estranhariam através da racionalidade fundamentada na ideia sujeito/objeto, no entanto seria possível aproximá-la aos métodos alternativos de racionalidade. Mas a tese sujeito/objeto tem 38 prevalecido sobre a teoria sujeito/sujeito – considerada como não científica e, sim, política, prevalecendo uma ciência rude e com preconceitos. Assim sendo, Drawin afirma que é admissível pensar em um futuro, não unido a um único tipo de racionalidade, mas com vista a uma direção ética, que acolha, “além de uma abordagem epistemológica, o caráter pluridimensional do fenômeno humano.” (2003, p.69) A Psicologia vive uma crise epistemológica e resiste à objetividade, uma vez que lida com a subjetividade. Desse modo, deve ser considerada como “um modelo que não pode ser absolutizado”, afirma Drawin (2003, p.70). Isso visa mostrar que a positividade na Psicologia é arriscada: “é preciso preservar a pluralidade teórica no campo da psicologia contra o ideal de uma ciência unitária e a tentação de homogeneizá-la de acordo com algum modelo epistemológico hegemônico.” (2003, p.71) Deve ser entendida a riqueza que o âmbito acolhe, e deve ter conhecimentos que não se encaixem com a racionalidade científica. Drawin mostra que a Psicologia deve encontrar-se diante das doutrinas “suspeitas”, com olhar crítico, já que ambos surgem do “mundo da vida”, sendo que a Psicologia está direcionada a ela estruturalmente. No entanto, a pluralidade na Psicologia está marcada pela ética. A Psicologia, portanto, possui compromisso ético com o sujeito. O autor afirma que diante do “futuro como indiferença”, na era da ciência e tecnologia, os psicólogos devem exaltar a deficiência em sua epistemologia. “Celebração ética que vislumbre, na carência dos métodos, na incerteza das teorias e na angústia do não saber, as pistas de um futuro que não seja o da indiferença, mas o da realização do homo humanus, da humanidade do homem.” (2003, p.72). Em suma, para Drawin (2003) o futuro da Multitextos Psicologia já se faz na ação comprometedora e ética com a população que está marcada pela exclusão social, como: pobres, doentes, drogados, loucos, criminosos, moradores de rua, aidéticos etc. E assim, na sociedade dos “sem-futuro”, a Psicologia constrói o seu futuro, sem a certeza da ciência ou a colaboração do mercado. O processo de autonomização da Psicologia no Brasil Segundo Antunes (1998), a partir do final do século XIX, tanto o Brasil como a Psicologia passaram por grandes mudanças. O país adotou o padrão republicano, concomitante à efetivação do crescimento de sua economia. Ademais, os ideais de progresso e modernidade e a apreensão com a “questão social” - adotadas do ideário liberal na cultura e na política -, tiveram como palco o desenvolvimento da urbanização, principalmente na região sudeste. Houve desenvolvimento da psicologia no plano teórico e prático, e as mudanças, em ambos os casos, facilitaram um relacionamento mútuo. As necessidades do Brasil, no novo momento, trouxeram um avanço na atuação da Psicologia. Os problemas do país no século XIX agravaram-se, configurando um campo proveitoso para a Psicologia, que, quanto mais prosperava, mais tinha oportunidades para cooperar rumo a uma solução, contribuindo, assim, com a busca da modernidade na área da saúde, educação e na organização do trabalho. Os primeiros psicólogos brasileiros foram “principalmente médicos, educadores, bacharéis em direito e até engenheiros, sendo que muitos deles acabaram por dedicar-se exclusivamente à Psicologia .” (ANTUNES, 1998, p. 38) O autor explicita que, durante o século XIX, a Psicologia foi distinguindo-se da Psiquiatria nas instituições psiquiátricas, conforme mostra a construção de laboratórios de Psicologia dentro dos institutos. O governo deixou nas mãos da Medicina o cuidado com a higiene, a fim de minimizar as doenças, campo fecundo para a Psiquiatria e a Psicologia na higiene mental, que proporcionariam pesquisas práticas relacionadas à Psicologia. A Medicina Social propunha higienizar e disciplinar a sociedade, e a exclusão do “louco” como motivo de prevenção social da loucura atendia a demanda de controle das massas. O agravamento dos problemas urbanos poderiam adiar a chegada do Brasil ao patamar de industrializado, portanto priorizava-se a ordem urbana. A Psiquiatria aparece como peça fundamental nessa ordenação, através dos asilos e manicômios, “devendo excluir do convívio social aqueles que não se adaptassem às normas estabelecidas, isto é, os “desordeiros”, estando incluídos nessa categoria os indivíduos engajados n o s m o v i m e n t o s s o c i a i s o rg a n i z a d o s . ” (ANTUNES, 1998, p. 43) Segundo o autor, os hospícios foram fundamentais para que a Psicologia se desenvolvesse e atingisse sua autonomia, uma vez que reuniria seu objeto de estudo. Além disso, foram feitos laboratórios de estudos exclusivos da Psicologia, em muitos hospícios. Outro meio que contribuiu enormemente com o crescimento de difusão do conhecimento psicológico foi o aumento do número de teses, nas universidades de Medicina, que tratavam de questões psicológicas, a partir de 1890. Nessa época, a Psicologia já era uma ciência autônoma. Sendo ela considerada uma ciência (pelo menos em tese), foi inevitável seu processo de autonomização. Sua conquista firmou-se no desenvolvimento e na adequação à nova realidade por que o Brasil 39 Multitextos passava, além dos problemas sociais, na transferência da tendência humanista clássica para a nova - cientificista. Sua autonomia baseou-se na demarcação de seu espaço próprio, no caso nos laboratórios dentro dos manicômios. A Psicologia encontrou base também na Educação, que passava a ser uma preocupação importante para a sociedade brasileira; e na Psicologia no trabalho, com a apreensão do meio produtivo, da “racionalização do trabalho” e da “administração científica”. Percebe-se, aqui, que a Psicologia não se desenvolveu no interior de outra área do saber, mas continuou como ciência autônoma, colaborando em diversos campos do conhecimento. Nesse processo, ganhou impulso para seu desenvolvimento e, principalmente, para definir com clareza seu campo de ação profissional. ÁREAS DE ATUAÇÃO X MERCADO DE TRABALHO A Psicologia tem-se inserido em diversos contextos, ampliando a cada dia sua área de atuação. Isso se deve a diversos fatores, entre eles: o compromisso social da Psicologia com o sujeito e com a sociedade em geral; a evolução da Psicologia como ciência, através do conhecimento específico; o exercício político da Psicologia, que se posiciona criticamente frente ao cenário social, na busca de melhores condições de vida para o cidadão. Para discutir a inserção dos egressos de Psicologia no mercado de trabalho, foi levantada a hipótese de que grande parte destes profissionais estaria nas Políticas Públicas de Saúde e Assistência Social. O resultado apresentado confirma apenas que: dos 80 entrevistados, 36 estão atuando nesta área. Assim, torna-se mister conhecer um pouco 40 sobre a Assistência Social e o papel do psicólogo nesse contexto. Políticas Públicas de Assistência Social Por serem campos que lidam com um maior contingente de pessoas e que traduzem melhor as ideias de compromisso social, explicitadas durante todo o presente artigo, daremos ênfase às áreas de Políticas Públicas de Assistência Social. Segundo Spink (2004), a Psicologia apresenta um histórico inicial de atendimento às classes mais desenvolvidas economicamente: o psicólogo atuava como profissional liberal, autônomo e não atuava no campo dos serviços de saúde. Uma outra parte dos psicólogos estava inserida em hospitais e ambulatórios de saúde mental, submetida aos modelos da Psiquiatria, como o foco no tratamento médico e internação. Para se pensar a atuação do psicólogo na saúde, é necessária ainda, uma reflexão mais madura sobre o processo da doença e da saúde. Há uma interrelação entre o saber social, o saber popular e a sociedade. (SPINK, 2004) O foco central dessa nova área é a explicação do processo da doença e da saúde, em que as inter-relações orientam as ações individuais ou institucionais, para a prevenção das doenças e permanência da saúde. A autora destaca três aspectos importantes: a compreensão da doença como fenômeno coletivo (...); a construção do saber leigo ou modelos explicativos para se interpretarem as doenças e se buscarem alternativas terapêuticas (...); a interface entre o saber oficial e a representação da doença de acordo com a época/grupo. (SPINK, 2004, p.39) É importante perceber o deslocamento do foco individual para o coletivo, o que permite compreender o processo saúde/doença como método histórico e Multitextos multideterminado. Nessa perspectiva de se considerar a saúde como algo historicamente determinado, configurase uma importante área de atuação, não só para a Psicologia, mas para a saúde e outras áreas do conhecimento. Trata-se de uma área que se fundamenta na possibilidade de diálogo entre esses saberes, de forma a intervir nas questões sociais que esbarram nos problemas de saúde, educação, habitação, jurídicos etc. - a “Assistência Social”. Uma área complexa, que demanda uma interlocução entre as áreas do conhecimento, e que lida, de um modo geral, com a população em situação de vulnerabilidade social. Uma área que necessita do conhecimento psi para a entender e atender esse sujeito, e da flexibilidade do psicólogo para uma atuação multiprofissional. Segundo o Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (2007), a Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS nasce com a Constituição Federal de 1988. É o momento de criação do Sistema Único de Assistência Social – SUAS -, com a função de propagação do direito universal de proteção social dos cidadãos. Nesse sentido, a Assistência Social é uma política do Estado e busca o bem-estar social. A Seguridade Social se baseia em: Saúde, Previdência e Assistência Social. O SUAS rompe com a ideia de fragmentação das ações sociais e regula, em todo o Brasil, a política pública da assistência social. A atuação do psicólogo na assistência social tem com objetivo “o fortalecimento dos usuários com sujeitos de direitos e o fortalecimento das políticas públicas”. (CREPOP1, 2007, p.22), que são ações coletivas do Estado visando garantir os direitos sociais, estendidos a toda a população, pautados nos princípios da impessoalidade e universalidade. A Psicologia, nessa área, busca um 1 CREPOP - Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas compromisso com os usuários da assistência social. . Nesse aspecto, ela contribui com a Assistência Social, através da compreensão da subjetividade, almejando a autonomia e a cidadania. Através da Psicologia, é possível compreender os processos psico-sociais e suas interações, relacionado-as ao contexto social. Estando a categorização e fornecendo possibilidades de ir desenvolvimento e crescimento que privilegia a igualdade social. Para que aconteça uma verdadeira mudança na qualidade de vida das pessoas, deve-se intervir nos contextos social e político, pois eles interferem sobre os sujeitos, de acordo como CREPOP. As políticas públicas devem ter o foco na humanização. Os sujeitos têm desejos, vontades, sentimentos, ideologias, valores próprios, modos de ser que interferem e interagem com o mundo. Compreender o lugar do sujeito/cidadão e suas influências nas relações sociais proporciona a atuação profissional no sentido de transformar as desigualdades sociais. Dar valor à experiência subjetiva do sujeito/cidadão contribui para o reconhecimento de sua identidade, operando em “espaços” do campo simbólico, afetivo-emocional, da interpretação dialógica, com o intuito de fortalecer o pessoal e, assim, desenvolver as condições de inserção social. Essa transformação exige a ressignificação das práticas e conceitos, o que justifica o apoio psicológico para o desenvolvimento dos sujeitos e transformação do meio social em que vivem. Assim, a proposta das políticas públicas de Assistência Social prevê a inserção do psicólogo nessa área, através dos CRAS – Centro de Referência em Assistência Social. Os psicólogos nos CRAS buscam empreender ações correlatas, estabelecer vínculos sócio-afetivos, promover a independência e autonomia dos sujeitos, oferecer serviços de qualidade, diminuir o sofrimento; 41 Multitextos empenham-se, ainda, na defesa do processo democrático, na promoção da emancipação social, de respeito mútuo, do respeito a si próprio, do reconhecimento do outro - fatores importantes para a construção da relação entre o psicólogo e o usuário. É importante ao psicólogo compreender a necessidade do usuário em seus “aspectos históricos, sociais, pessoais e contextuais, para se realizar na intervenção psicológica mais efetiva e resolutiva”. (CREPOP, 2007, p.23) Dos 80 profissionais, 71 estão inseridos no mercado de trabalho, o equivalente a 89% dos entrevistados, sendo que apenas 11% não estão atuando (GRAF. 02). Trata-se de uma informação muito significativa, indicando a grande necessidade de psicólogos em nossa região, além de indicar como o mercado se apresenta favorável a esses profissionais. 11% DISCUSSÃO DE RESULTADOS Trabalham O questionário estruturado para a coleta de dados acerca da inserção dos egressos do curso de Psicologia das FIPMoc no mercado de trabalho foi aplicado a 80 dos 137 psicólogos formados entre dezembro de 2007 e julho de 2009. As entrevistas foram feitas por telefone, via e-mail, ou pessoalmente. O questionário constou das seguintes questões: 1) Em qual semestre você se formou? 2) No momento está trabalhando? 3) Há quanto tempo está atuando como psicólogo? 4) Em que área da Psicologia está inserido? Como vemos no GRAF. 01, a maior parte dos entrevistados se formou no segundo semestre de 2008, totalizando 36% formandos entrevistados: Não trabalham GRÁFICO 01: Semestre em que se formaram os egressos do curso de Psicologia das FIPMoc entrevistados - 2009 42 5 4 0 Esporte 1º semestre de 2009 4 Trânsito 2º semestre de 2008 6 Educacional 1º semestre de 2008 11 Orgnaizacional 2º semestre de 2007 23 Hospitalar 17 36 Clínica Particular 26 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Políticas Públicas de Ass. Social 29 26 GRÁFICO 02: Egressos do curso de Psicologia das FIPMoc no mercado de trabalho – 2009 Em relação à área de atuação desses profissionais, constata-se que realmente há predominância de profissionais nas Políticas Públicas de Assistência Social. Entretanto, apesar de apresentar um número significativo, as Políticas Públicas de Saúde não se sobressaíram, ficando atrás da área clínica, que ainda é muito procurada pelos profissionais em Psicologia. Políticas Públicas de Saúde 35 30 25 20 15 10 5 0 89% GRÁFICO 03: Áreas de atuação dos Egressos do curso de Psicologia das FIPMoc - 2009 Multitextos CONSIDERAÇÕES FINAIS As Políticas Públicas apresentam-se como um campo fértil para a atuação do psicólogo. Temse, assim, uma área do mercado de trabalho carente de uma mão de obra especializada, que tenha um olhar múltiplo, que valorize e favoreça a subjetividade. O Psicólogo tem um papel muito importante nessa área, o que se confirma no resultado da pesquisa. Ao se propor mapear os egressos do curso de Psicologia das FIPMoc, foi necessário pensar a profissão, a atuação e o papel ético pertinente a esse profissional, possibilitando, assim, uma análise do resultado. Há toda uma demanda que assegura esse espaço. As questões da pós-modernidade confrontam os sujeitos de tal forma, que esls se sentem perdidos, indefesos. Assim, a Psicologia ganhou espaço e autonomia nas áreas da saúde, educação, trabalho, entre outras. Esse processo de autonomização favoreceu a atribuição de um novo perfil ao profissional da Psicologia, permitindo, ainda, sua inserção nas políticas públicas, com base nos pressupostos da Antropologia, ciência das diferenças que busca compreender o homem em sua alteridade e subjetividade, considerando sua identidade, os aspectos culturais, sociais e políticos. Para além disso, a Filosofia alicerça o comprometimento ético do profissional com o usuário e a sociedade como um todo, e não apenas com a elite. Um número significativo dos egressos está trabalhando, e alguns, em mais de um campo de atuação. Quanto às hipóteses levantadas, confirma uma grande inserção desses profissionais na área da Assistência Social, o que se deve possivelmente ao fato de ser uma área emergente, que demanda um profissional voltado às questões sociais e problemas da região. Pensando, portanto, a partir da realidade da nossa região, onde a desigualdade social se revela no cotidiano através de uma grande população que vive em vulnerabilidade social, entende-se o porquê da grande inserção na área da Assistência Social, conforme análise dos dados. Esse resultado constata uma demanda profissional, com certeza, mas confirma também a credibilidade da instituição de ensino e o reconhecimento do mercado de trabalho pela competência profissional de seus egressos. REFERÊNCIAS ANTUNES, M.A.M. A psicologia no Brasil: leitura histórica sobre sua constituição. São Paulo: Educ, 1998. CENTRO DE REFERÊNCIAS TECNICA EM PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS (CREPOP). Referência técnica para a atuação do(a) psicólogo(a) no CRAS/SUAS/Conselho Federal de Psicologia (CFP). Brasília, CFP. 2007. (re-impressão 2008) DRAWIN, Carlos Roberto. O futuro da Psicologia: compromisso ético no pluralismo teórico. In BOCK, Ana M. Bahia (org.). Psicologia e o Compromisso Social. São Paulo: Cortez, 2003, p. 55 – 72. GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005. GONÇALVES, Maria da Graça Marchina. “A contribuição da Psicologia Sócio-histórica para a elaboração de políticas públicas”. In: BOCK, Ana M. Bahia (org.). Psicologia e o Compromisso Social. São Paulo: Cortez, 2003. Cap. 15. p. 277-293. HALL, Stuart. A identidade cultural na pósmodernidade. Tradução Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes Louro. 8 ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2003, p 97. 43 Multitextos SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – SUAS. Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do SUAS – NOB-RH/SUAS. Brasília. 2006. SPINK. Mary Jane P. Psicologia Social e Saúde: Práticas, saberes e sentidos, Ed. Vozes, 2004. 2 ed. TELES, Maria Luiza S. O que é psicologia. 10 ed. São Paulo: Brasiliense, 1999. YAMAMOTO, Oswaldo H.. “Questão social e políticas públicas: revendo o compromisso da Psicologia”. In: BOCK, Ana M. Bahia (org.). Psicologia e o Compromisso Social. São Paulo: Cortez, 2003. Cap. 3, p. 37-51. 44 Multitextos A Relação Fisioterapeuta-paciente e os Desafios da Terapia: Atitude que se Constrói Camila Heleno*; Adriana Caldeira**; Valdicéia Pereira Rocha***; Viviane Dias Nogueira***; Fernanda Cristina Souza***; Cemylla Lopes Malveira***. *Psicóloga, docente das FIPMoc; **Fisioterapeuta, docente das FIPMoc ***Acadêmicos de Fisioterapia das FIPMoc RESUMO A relação fisioterapeuta e paciente é de extrema importância para implementação e sucesso do tratamento. Assim, precisa ser compreendida, cuidada e construída de forma adequada. Muitas são as facilidades e dificuldades nesse processo. Assim, esta pesquisa visa conhecer os fatores internos (próprios da relação fisioterapeuta e paciente) e os fatores externos que facilitam ou dificultam essa relação. Esta é uma pesquisa descritiva que se configura em um levantamento resultante de uma entrevista semiestruturada repondida por seis fisioterapeutas, de clínicas credenciadas ao SUS em Montes Claros. Os dados foram analisados no programa Microsoft Excel e transformados em gráficos que evidenciam uma diversidade de facilidades e dificuldades. As facilidades relacionadas a fatores internos - mais importantes foram cooperação, confiança e satisfação do paciente. Quanto aos fatores externos, observamos dificuldades relativas à logística das clínicas. Assim, concluímos, mesmo com uma amostra reduzida, que profissionais bem capacitados e atentos à relação com o paciente propiciam uma melhor relação de confiança e cooperação, permitindo que o trabalho com o paciente seja mais bem desenvolvido. AGRADECIMENTOS Agradecemos aos acadêmicos do 6° período de Fisioterapia do segundo semestre de 2009, que contribuíram, de alguma forma, para a realização deste trabalho. INTRODUÇÃO Pesquisas sobre a relação fisioterapeuta e paciente são escassas na literatura; provavelmente por que a fisioterapia é uma área da saúde que teve crescimento e reconhecimento apenas no século passado (BIFULCO, 2006). Na relação fisioterapeuta-paciente, é comum encontrarmos dificuldades nas múltiplas vivências que norteiam essa relação. De fato, há uma enorme complexidade nessa ligação, o que naturalmente torna um desafio para o profissional manter uma conexão entre terapeuta-paciente, enquanto o verdadeiro agente transformador - o relacionamento terapêutico – germina (CANTO E SIMÃO, 2009). Essa relação precisa ser priorizada para a obtenção de um resultado satisfatório do processo terapêutico. Todos sofrem com as consequências dessa degradação, principalmente a eficácia da terapia. É prioridade que o paciente acredite e confie no fisioterapeuta, caso contrário a chance de insucesso será grande. (DE LA BARRA, 2006) Terapeutas e pacientes muitas vezes não concordam em suas conclusões sobre os aspectos úteis da terapia. Devido a sua própria formação, o fisioterapeuta oferece, muitas vezes, a seus pacientes um tratamento padronizado e uniforme. No entanto, 45 Multitextos esse mesmo ato de padronização torna a terapia menos real e menos eficiente . (YALON, 2006) Há uma perda de humanidade por parte do profissional causada por fatores como o tecnicismo e formação pouco direcionada para os aspectos humanos. Infelizmente, também o condicionamento a nossa cultura reflete-se diretamente na relação fisioterapeuta e paciente. (BIFULCO, 2006) Para o fisioterapeuta é extremamente difícil lidar e acompanhar esses conflitos, mas aqueles que transmitem ao paciente a ideia de construírem juntos uma relação geralmente alcançam resultados positivos. Uma investigação dos pequenos detalhes da vida do paciente não apenas leva a um material rico, como também oferece um bom início ao processo de criar laços. (YALON, 2006) Nas conversas desenvolvidas durante as sessões, o fisioterapeuta tem de ser capaz de ser claro em suas argumentações, indicar seus objetivos e habilidades (SIMÃO e CANTO, 2009). Uma das principais reclamações dos pacientes é a inabilidade dos profissionais em comunicar-se com ele; pouco tempo é dedicado em ouvi-lo. Na maioria dos casos, o diagnóstico e o tratamento da doença e suas consequências dependem da qualidade dessa relação; a falha do profissional em estabelecer essa conexão pode contribuir para o fracasso no atendimento ao paciente. (BIFULCO, 2006) De acordo com Davis (2007), no encontro inicial, o interesse, a autenticidade, a aceitação e a consideração positiva são fundamentais para que seja estabelecida uma relação de cura. Quando o paciente é submetido à entrevista, espera ser ouvido com atenção, uma vez que ele enxerga o profissional em questão como fonte da cura (DAVIS, 2007). Saber ouvir é uma atitude de respeito com o outro, para que se estabeleça uma comunicação que permita construir uma relação recíproca. Temos de 46 ter uma ação voltada para o outro, pois atuamos sobre o corpo do outro e, assim, focar em uma perspectiva humanizadora. (SIMÃO e CANTO, 2009) Yalom (2006), em seu livro Os Desafios da Terapia, ressalta: “a terapia será mais eficaz se o terapeuta entrar com precisão no mundo do paciente. Os pacientes lucram muito pela simples experiência de serem vistos em toda a sua plenitude e de serem compreendidos inteiramente”. (p.34) O processo de comunicação terapeuta-paciente pode ser afetado por vários fatores ou variáveis, que permitem trazer tanto benefícios como prejuízos para a compreensão das mensagens, podendo, daí, surgirem fatos que impeçam a evolução adequada do processo. As principais variáveis são o profissional e o paciente, a linguagem usada, o ambiente ou contexto, a disponibilidade de ambos e a oportunidade profissional. (CAMPOS, 2007) Campos (2007) afirma que é importante que o profissional faça uso consciente de sua competência em comunicação, pois tudo o que ele é, diz ou faz pode afetar o comportamento do paciente. O linguajar utilizado tanto pelo profissional quanto pelo paciente deve ter um significado comum, a fim de que a mensagem seja apreendida e compreendida por ambos. O profissional deve usar um vocabulário condizente com a origem, escolaridade, cultura e crenças do paciente, valendo-se do máximo de clareza possível ao empregar as palavras. O ambiente envolve não só o espaço físico utilizado pelas pessoas, como também as pessoas que interagem nele, sua cultura, mobilização, iluminação, arejamento, temperatura, ruídos, condições de tempo e espaço. A disponibilidade pessoal do profissional é necessária e deve existir para ser utilizada quando o paciente assim precisar. O senso de oportunidade diz respeito à sensibilidade do profissional em perceber se o momento é oportuno ou para dar orientação ao Multitextos paciente Entretanto, o silêncio, muitas vezes, também pode ser utilizado de forma terapêutica, como estratégia para estimular a expressão verbal de ideias e sentimentos do paciente, porém não se preconiza a permanência de duas pessoas em mutismo. O profissional tem de ter discernimento para saber quando falar e quando permanecer em silêncio. (CAMPOS, 2007) Portanto, reabilitar vai além da aplicação correta de uma técnica. Reabilitar é nunca mentir, é dizer sempre a verdade, pois uma relação sincera com o paciente resulta em sucesso, uma vez que, se o paciente confia no terapeuta, a relação estabelecida entre eles é inabalável (DE LA BARRA, 2006). E, também, devemo-nos lembrar sempre de que cada ser humano é único e, ao se beneficiar da assistência à saúde, ele tem de ser considerado como tal, o que requer uma assistência personalizada e humanizada. (CAMPOS, 2007) Cabe ao profissional atentar para os fatores internos (que se referem à relação fisioterapeutapaciente) para cuidar e promover um atendimento de qualidade e adequado ao paciente propiciando, o melhor tratamento possível em todas as esferas. O objetivo deste trabalho foi conhecer os fatores internos, que os profissionais fisioterapeutas das clínicas credenciadas ao SUS, em Montes Claros, identificam como facilitadores e inibidores no tratamento. Com o intuito de focar nos fatores internos foram também levantados os fatores externos que facilitam ou dificultam o tratamento para diferenciação. METODOLOGIA: Trata-se de uma pesquisa transversal e descritiva, e constitui-se em um levantamento quanto aos procedimentos utilizados. A pesquisa foi desenvolvida em seis clínicas de fisioterapia credenciadas ao Sistema Único de Saúde (SUS) de Montes Claros/ MG. A amostra foi constituída por seis fisioterapeutas, que prestam atendimento à população e que se prontificaram a participar do presente estudo. Para a coleta de dados, foi utilizado um formulário contendo questões abertas com dados relativos aos fatores internos e externos que poderiam afetar negativamente ou de forma positiva a relação entre fisioterapeuta e paciente, mediante entrevista direta, realizada pelos pesquisadores durante o atendimento normal nas seis clínicas, no período entre setembro e outubro de 2009. O questionário foi preenchido antes ou depois do atendimento, sem comprometer o funcionamento dos serviços. Para análise dos dados e confecção dos gráficos, foi utilizado o programa Microsoft Excel. Quanto aos cuidados éticos cabíveis, a todos os profissionais que concordaram em participar do estudo foi solicitada a assinatura no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. RESULTADOS E DISCUSSÕES: Determinar os fatores que podem interferir de maneira negativa ou positiva ao longo do tratamento não é uma tarefa simples. Ao entrar em contato com as diferenças, terapeuta e paciente são confrontados a criarem uma empatia mínima, para que haja uma convivência adequada entre as partes envolvidas. Através da pesquisa realizada, podem-se conhecer os principais fatores que acometem o tratamento. Quando analisados os fatores internos e que poderiam afetar negativamente o tratamento, temos os seguintes resultados: dos seis fisioterapeutas entrevistados, um profissional 47 Multitextos evidenciou as questões relativas à desconfiança por parte do paciente, dois não responderam a essa pergunta, outro relatou a presença de pacientes depressivos, um se referiu à intervenção familiar, outro comentou sobre a fibromialgia e um disse não haver qualquer fator que atue comprometendo essa relação. Esses resultados corroboram estudos recentes, que apontam, principalmente, uma grande dificuldade em estabelecer uma confiança com o paciente. Isso se deve, em muitos casos, às experiências vividas por cada um, em que o profissional se apresenta de uma forma pouco convincente para o paciente (CANTO E SIMÃO, 2009). Assim, a comunicação é fundamental para aproximar terapeuta e paciente, caracterizando uma fonte rica que oferece um bom início ao processo de criar laços. (YALON, 2006) Fatores internos (próprios da relação profissional-paciente) que mais interferem negativamente no tratamento 2,5 2 1,5 1 0,5 0 1 2 3 4 5 6 1. Não tem 2. Paciente com depressão 3. Fibromialgia 4. Intervenção familiar 5. Desconfiança 6. Não respondeu e não se aplica Muitas vezes o paciente encontra-se imerso numa situação que o oprime, em que o desejo de continuar igual ao que era se potencializa. Canto e Simão (2009) colocam que, em situações como essa, o paciente não se encontra focado no presente 48 e assim, desvia a atenção e a própria dedicação que o tratamento requer, comprometendo a relação e também a intervenção. O achado relacionado com a fibromialgia implica questões desafiadoras para o paciente e o fisioterapeuta, de maneira que esse resultado pode oferecer íntima relação com a depressão - fato que não passou despercebido pelo entrevistado, podendo, assim, haver uma associação entre essa síndrome e o referido sintoma. Santos et al (2006) acrescentam: “a depressão é um sintoma importante, sendo apontada como um dos sintomas mais frequentes em pacientes fibromiálgicos” (p.318). Os estudos apontam que a fibromialgia causa um impacto negativo na qualidade de vida de pacientes em idade produtiva, devido aos distúrbios decorrentes dessa condição. A comunicação pode, mais uma vez, ser considerada como um facilitador nessa relação, em que se dá o encontro dialógico entre interlocutores que buscam um entendimento recíproco sem imposição de um sobre o outro. Para isso, é fundamental que o terapeuta busque, através da fala do paciente, algo que seja mediador e que possa ser entendido e co-participado empaticamente por ambos. (FILHO, 2003) De maneira geral, o contato de familiares com o tratamento do paciente é visto como um fator positivo pelos terapeutas, entretanto na pesquisa ele foi colocado como um fator negativo. Esse achado é diferenciado e importante; assim, uma investigação mais detalhada seria fundamental para nos aprofundarmos em um embasamento mais consistente e confiável desse relacionamento mais amplo e, por que não, mais complexo? Sem as intervenções familiares, fica mais difícil a conscientização do paciente com relação à terapia e suas limitações. Por outro lado, o fato de um profissional relatar Multitextos não haver nenhum conflito durante o tratamento nos remete a uma reflexão a respeito dessa relação. Acreditamos que a existência de perspectivas diferentes seja construtora de um processo que estará sempre em desenvolvimento. Durante todo o processo da intervenção, tanto fisioterapeuta quanto paciente são exigidos de formas diferentes na construção de uma relação satisfatória. Canto e Simão (2009) acrescentam: “essa construção é um processo interativo que evidencia a assimetria inerente às relações sociais em geral" (p.308). Dessa forma, é compreensível que o profissional sinta um desconforto e até mesmo insegurança na elaboração desse equilíbrio. Fatores internos (próprios da relação profissional-paciente) que mais facilitam o tratamento 2,5 2 1,5 1 0,5 0 1 2 3 4 5 1. Falta de informação 2. Paciente cooperativo 3. Satisfação 4. Confiança 5. Não se aplica Uma vez analisados os fatores internos negativos, a investigação dos fatores internos positivos apresenta-se de forma mais clara. Assim, ficou bem demonstrado que, para os fisioterapeutas, a cooperação é sempre o principal facilitador na relação terapeuta-paciente. Martins (1997), em seu estudo sobre a relação terapeuta-paciente, argumenta que: “a qualidade de um serviço assistencial está diretamente associada à qualidade da relação interpessoal que ocorre entre os pacientes e os profissionais encarregados da assistência” (p.32). Os outros resultados correspondem a um fator interno relacionado à confiança, satisfação; e outro, com a falta de informação. O estabelecimento do vínculo profissional-paciente pressupõe a aproximação de ambos. E aqueles que conseguem acompanhar, de maneira mais humanizada, os detalhes da vida do paciente geralmente alcançam resultados positivos. (YALON, 2006) Dessa maneira, esses resultados podem apontar para uma relação de aproximação a respeito do sucesso dessa convivência, ou seja, pacientes que se encontram confiantes com o tratamento com certeza são mais cooperativos e, assim, a satisfação é o resultado desses fatores. Bifulco (2006) aponta com propriedade e clareza a importância dessas questões. Ele diz: uma relação baseada na confiança mútua propicia que o paciente participe ativamente do tratamento realizado e, assim, cada uma das partes assuma responsabilidades, a fim de restabelecer a saúde com uma visão completa do ser humano, baseada no bem-estar, autonomia, independência funcional, emocional, satisfação com a vida, e não só com o foco na doença. O achado relativo à falta de informação caracterizando um fator positivo no tratamento não foi abordado na pesquisa bibliográfica. Apesar da informação acerca de o tratamento constituir condição básica para a adesão do mesmo, não se tem dado a devida importância a isso. Assim, diversos estudos vêm alertando para melhorar os aspectos educacionais relacionados com o paciente e a conduta que lhe é destinada. Um entrevistado relatou, ainda, não se aplicar qualquer um desses fatores como aspectos positivos vivenciados em sua prática clínica. 49 Multitextos relacionados aos pacientes do SUS, evidenciando Fatores externos (p. ex., família, dinheiro, transporte ou outros) que mais interferem negativamente no tratamento um planejamento que carece de melhorias no acolhimento e encaminhamento desses pacientes. Reconhece-se, porém, que se trata de um problema complexo, que envolve questões políticas e administrativas que não foram o foco da pesquisa 5 apresentada. 4 Merece atenção também a falta de exames 3 complementares no processo do tratamento. A 2 investigação de fatores que podem estar 1 relacionados com a disfunção do paciente é 0 extremamente importante e, assim, esses exames são 1 2 3 4 5 1. Transporte 2. Situação sócio-econômica 3. Saúde 4. Falta de acompanhante 5. Falta de exames complementares considerados fundamentais no fechamento do diagnóstico e na fundamentação do tratamento. Um dos maiores desafios da saúde pública atualmente é o envelhecimento da população com qualidade de vida. As condições de saúde Na busca por fatores externos que interferem de satisfatórias para manter-se funcional é a grande maneira negativa no tratamento, obtivemos alguns questão a ser considerada. De fato, estudos apontam resultados já esperados, como: questões relativas ao um grande índice de co-morbidades que afetam a transporte, fatores econômicos, falta de população em geral e, assim, qualquer intervenção acompanhantes e de exames complementares e a em termos de tratamento pode ser comprometida. presença de uma saúde vista como um todo (LIMA-COSTA E VERAS, 2003) comprometido pelo paciente. Aqui, um mesmo entrevistado respondeu a mais de uma opção. Entendemos ser especialmente importante a presença de acompanhantes pelo paciente, não só no Desses resultados, o transporte e a situação primeiro encontro, mas também ao longo de todo o sócio-econômica foram citados como sendo os tratamento. Apesar de esse resultado não ter sido um principais fatores externos que interferem no consenso entre os profissionais, depreende-se que, tratamento. Esses achados podem ser decorrentes do em várias situações, a presença de um familiar se processo de encaminhamento à clínica, uma vez que soma ao tratamento, por transferir ao paciente apoio a maior parte dos pacientes dessas clínicas é do SUS. emocional, confiança e cuidados. Sua presença deve Assim, mesmo tendo uma clínica de fisioterapia no ser vista como um aliado do fisioterapeuta e, bairro, muitas vezes o paciente é direcionado para principalmente, como companheiro do paciente. outra, o que exige um meio de transporte. Essa (LAUTERT et al; 1998) situação, com certeza, afeta suas condições econômicas e, consequentemente, o tratamento. Esta pesquisa permitiu conhecer alguns aspectos 50 Multitextos Fatores externos (família, dinheiro, transporte ou outros) que mais facilitam o tratamento 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0 1 2 3 4 5 1. Família 2. Transporte 3. Situação sócio-econômica 4. Localização da clínica 5. Informação No que se refere aos fatores externos que facilitam o tratamento, os resultados apresentados apontam para uma relação de discernir o que compromete daquilo que facilita. Fatores antes citados como negativos aqui aparecem como facilitadores. Essa diferente dimensão vai depender da vivência e do relacionamento fisioterapeutapaciente. Dessa maneira, a família foi considerada como importante aliada ao tratamento, visto que sua ação é alicerçada no respeito e amor com o paciente. Diferente do que foi exposto anteriormente, o transporte e as condições sócio-econômicas não foram vistas como um fator negativo para o tratamento, demonstrando que realmente existem diferenças no poder aquisitivo e econômico da população. Um dos entrevistados citou a informação como um fator positivo no tratamento. Esse resultado encontra-se de acordo com os estudos mais recentes, segundo os quais, através da informação, o sentimento de isolamento do paciente diminui e, assim, ele passa a colaborar para uma cooperação mútua na relação terapeuta-paciente. No que se refere à localização da clínica, dois profissionais relataram ser essa uma facilidade para os pacientes e, consequentemente, na adesão do tratamento. Naturalmente, um local de fácil acesso facilita a vida dos pacientes que, em muitos casos, requerem um cuidado maior. Na tentativa de estabelecer um vínculo na relação profissional-paciente, o estudo abordou alguns dos fatores internos e externos que podem interferir de maneira positiva e ou/ negativa ao longo do tratamento. Vale ressaltar que a pesquisa foi realizada com um grupo pequeno de profissionais, mas que, ainda assim, permite uma reflexão da relação fisioterapeuta-paciente no tratamento de condições diversas. Assim, concluímos que, nesse processo de construção, é fundamental que o profissional se mantenha disposto em relacionar-se de forma mais personalizada, menos objetada e mais humanizada, características do profissional aberto para a exploração dos relacionamentos humanos e menos defendido pelos conhecimentos científicos. (BAZON et al, 2004) REFERÊNCIAS: BAZON, Fernanda Vilhena Mafra, CAMPANELLI, Eloísa Amicucci e BLASCOVI-ASSIS, Silvana Maria. A importância da humanização profissional no diagnóstico das deficiências. Psicologia teor. prat., dez. 2004, v.6, n.2, p.89-99. BIFULCO, Ana Maria da Silva. Envelhecimento e fisioterapia: um novo olhar sobre a relação com o paciente idoso. Pontifica universidade católica de São Paulo. São Paulo 2006. CAMPOS, Beatriz Calil Padis. Ensino de Massoterapia: habilidades envolvidas na relação fisioterapia-paciente. São Paulo, 2007. CANTO, Clóris Regina Elias de Moraes; SIMÃO, Lívia Mathias. Relação Fisioterapeuta-Paciente e a Integração Corpo-Mente: um estudo de caso. 51 Multitextos Revista Psicologia Ciência e Profissão, 29(2), p.306-317, 2009. DAVIS, Carol M. Fisioterapia: Interação profissional-paciente. Rio de Janeiro: Ed: Guanabara Koogan, 2007. DE LA BARRA, Luana Yheia. O Fisioterapeuta, o Paciente e a Doença. Dissertação de Mestrado. Universidade Metodista de São Paulo, 2006. FILHO, Nilson Gomes Vieira. O processo Dialógico na Atenção Terapêutica Psicossocial: Contribuições de Paulo Freire. Anais do III Colóquio Internacional Paulo Freire, 2003. YALON, Irvin D. Os desafios da Terapia: reflexões para pacientes e terapeutas. 1.ed. Rio de Janeiro: Ed. Ediouro Publicações, 2006. LAUTERT, Liana; ECHER, Isabel Cristina; UNICOVSKY, Margarita Ana Rubim. O Acompanhante do Paciente Adulto Hospitalizado. Revista Gaúcha de Enfermagem, Porto Alegre, v.19, n.2, p.118-131, 1998. LIMA-COSTA, Maria Fernanda; VERAS, Renato. Saúde Pública e Envelhecimento. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.19, n.3, 2003. MARTINS, Maria Cezira Fantini Nogueira. Relação Profissional-Paciente: subsídios para profissionais da saúde. Psychiatry On Line Brasil, 2(3), 1997. SANTOS, A.M.B.; ASSUMPÇÃO, A.; MATSUTANI, L.A.; PEREIRA, C.A.B.; LAGE, L.V.; MARQUES, A.P. Depressão e Qualidade de Vida em Pacientes com Fibromialgia. Revista Brasileira de Fisioterapia, São Carlos, v.10, n.3, jul/set, 2006. 52 Multitextos Um elo indissociável: A biblioteca e a Vida Acadêmica ROCHA, Josiane Santos Brant* ; CALEIRO, Regina Célia Lima*; SARAIVA, Glayce Moura**; VALVERDE, Ingridh Queiroz**; BATISTA, Júnia Mendes Guimarães** DOMINGUES, Jussara Pereira** * Docentes das FIPMoc ** Acadêmicas do curso de Publicidade e Propaganda das FIPMoc RESUMO A biblioteca é o ambiente que proporciona aprendizado e pressupõe reflexão; possui uma forma de apreensão crítica, objetiva e profunda. Essas informações adquiridas servem de base para a construção do conhecimento científico, que transcende o senso comum, permitindo, assim, aumentar os horizontes culturais possibilitando a prática desse aprendizado durante a vida profissional do acadêmico. Diante desses pressupostos, o objetivo deste estudo foi analisar a avaliação dos acadêmicos acerca dos produtos e serviços oferecidos na Biblioteca das FIPMoc. Realizou-se um estudo quantitativo, descritivo, pesquisa de opinião (survey) (GIL, 2008). A amostra do estudo foi composta por 1438 acadêmicos matriculados nas Faculdades Pitágoras no 2º semestre de 2009. Para o levantamento dos dados, foi utilizado um questionário com propostas fechadas, aplicado no período de setembro a outubro do corrente ano. A avaliação permitiu identificar pontos fortes e pontos fracos nos produtos e serviços oferecidos pela biblioteca das FIPMoc, possibilitando a definição de estratégias que culminaram com a produção de campanha jingles, spots para serem veiculados na Rádio Fip e folders a serem distribuídos no espaço FIPMoc, motivando o frequente uso da biblioteca das Faculdades Pitágoras. PALAVRAS-CHAVE: Biblioteca; Acadêmicos; Avaliação de qualidade. INTRODUÇÃO A biblioteca é uma agência social, criada para atender às necessidades da instituição à qual serve. Como tal, é um instrumento moldado e condicionado pela estrutura social, de acordo com os padrões e valores culturais que regem as instituições dessa estrutura. Por outro lado, é o repositório, um meio de difusão das experiências culturais desenvolvidas nos níveis adaptativo, associativo e ideológico, que determinam valores. (SILVA,1990) Também é vista como um lugar de silêncio, um espaço de pesquisa e uma possibilidade para novas descobertas e conexões. Sabendo que a busca pelo saber, pelo novo motiva cada vez mais o ser humano em seus anseios por conhecimentos, a biblioteca pode ser mais um instrumento que o auxilia em suas conquistas, promovendo uma abordagem mais humana e socializadora.Nela encontramos espaço para a convivência, diálogo e para a criação de impossíveis mundos, além do senso comum, segundo Oliveira (2003). Assim, o tema proposto neste semestre para o 5º período de Publicidade e Propaganda das Faculdades Integradas Pitágoras visa analisar a avaliação dos acadêmicos acerca dos produtos e serviços oferecidos 53 Multitextos na Biblioteca das FIPMoc e qual a influência que ela exerce em suas vidas, refletindo o posicionamento do acadêmico diante de si e da sociedade na qual está inserido. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O presente trabalho trata de uma pesquisa quantitativa e descritiva, do tipo pesquisa de opinião (survey). Esse tipo de pesquisa permite a obtenção de informações através de autorrelatos. Os dados assim coletados podem referir-se a ações, conhecimentos, opiniões, atitudes e valores dos participantes. (Gil,2008) O levantamento de dados ocorreu no período de setembro a outubro de 2009. A amostragem foi feita de forma aleatória ,o tamanho da amostra calculado foi de 1438 acadêmicos, correspondendo a 38,3% dos acadêmicos matriculados no 2º semestre de 2009, apresentando uma margem de erro de 2% na estimativa, e nível de confiança de 95%. Para o levantamento dos dados, foi utilizado um questionário contendo 15 propostas fechadas. A pesquisa foi realizada em três fases: na primeira, os acadêmicos do 5º período de Publicidade realizaram uma pesquisa bibliográfica acerca da temática. Na segunda fase, realizou-se um pré-teste do instrumento, cujo objetivo era testar a fidedignidade e objetividade. Em seguida, o questionário foi aplicado à amostra do estudo. A análise dos resultados foi efetuada considerando-se a ordem em que as questões aparecem nos questionários, os dados coletados foram digitados em uma planilha do programa Statistical Package Social Science (SPSS), que foi utilizado para os cálculos estatíticos do estudo. Optou-se por analisar a opinião geral de todos os acadêmicos consultados, independente do curso e turno em que estão matriculados. Após o 54 resultado do levantamento, aconteceu a terceira fase do projeto, que resultou na produção de campanhas de jingles, spots para serem veiculados na Rádio FIP, e folders a serem distribuídos no espaço FIPMoc, revelando o resultado da pesquisa e motivando o frequente uso da biblioteca. RESULTADOS E DISCUSSÃO Com a intenção de proporcionar maiores condições para uma ampla compreensão do estudo, o questionário foi dividido em cinco itens; Infraestrutura da biblioteca (I); utilização dos acervos e serviços (II); fontes de acesso as informações (III); considerações dos recursos e serviços (IV) e divulgação dos recursos (V). Os resultados serão apresentados de acordo com suas abrangências; e discutidas, simultaneamente, suas apresentações. Parte I Em relação à infraestrutura da biblioteca, dos 1438 alunos entrevistados (100%), 87% estão satisfeitos com as condições gerais do prédio, enquanto que apenas 12% considera as condições do prédio da biblioteca ruins, e 1% diz não conhecer ou não quis opinar. Quanto ao Ambiente de Leitura/ Estudo – Individual/ Grupo, dos entrevistados, 63% consideram o ambiente de leitura/ estudo individual/grupo, entre bom e médio. Esses resultados possibilitam uma maior motivação para a leitura na construção dos valores, sendo responsáveis pela transformação do conhecimento em ações que permeiam o ambiente acadêmico e profissional. A leitura é o verdadeiro elo integrador do ser humano e a sociedade em que se vive. A avaliação dos acadêmicos em relação à infraestrutura resultou extremamente favorável, o que permite afirmar que a qualidade desses recursos atende as expectativas dos Multitextos acadêmicos. Parte II 9% 0,1% 6,2% 42% Bom Médio Frequentemente Ruim Às vezes Raramente Não usa 34,9% 49% 58,8% GRAFICO 01: Utilização dos Acervos/Serviços da Biblioteca FONTE: Acadêmicos das FIPMoc Dos entrevistados, 58,8% usam frequentemente; 34,9, às vezes; e 6,2% raramente. Apenas 0,1% não faz uso dos acervos/serviços da biblioteca. Constata-se que o acervo e os serviços da biblioteca das Faculdades Pitágoras são evidentemente utilizados pelos acadêmicos. Nesse sentido, Freitas (1999) descreve que a biblioteca exerce um papel fundamental na formação acadêmica e profissional, principalmente com as crescentes mudanças nas instituições de ensino superior, onde há uma procura exacerbada pelo aprendizado rápido e contínuo. A frequência e o uso das bibliotecas representam elementos preponderantes na formação das elites intelectuais do país. Parte III: Fontes de acesso à informação Produtos/ Serviços Considerando a relevância das fontes de acesso à informação, uma vez que promover esse acesso é um dos momentos máximos da biblioteca, as fontes foram avaliadas separadamente (Referências, enciclopédias), (Revistas), como apresentado a seguir: GRAFICO 02:Referências, enciclopédias FONTE: Acadêmicos das FIPMoc Dos entrevistados, 91% estão satisfeitos com as fontes de informação (referências, enciclopédias); 42% consideram bons; e 49%, médio. Somente 9% dos acadêmicos acreditam que deve haver uma mudança nesse aspecto. Pode-se afirmar que as obras de referências são reconhecidas como relevantes para os acadêmicos. 15% 33% Bom Médio Ruim 52% GRAFICO 03: Revista FONTE: Acadêmicos das FIPMoc Dos entrevistados, 85% estão satisfeitos com as fontes de informação (revistas) disponíveis na biblioteca FIPMoc, 33% consideram essas fontes como boas; 52%, médias; e somente 15% consideram ruins, o que permite avaliar os itens citados acima como satisfatórios. Chama a atenção a 55 Multitextos fala de Oliveira (2003) - sendo a ciência cumulativa, a biblioteca possui também a função de preservar a memória, organizando as informações para que todo ser humano possa usufruir dela. 13% Bom 44% Médio Ruim 14% 43% 32% Bom Médio Ruim GRAFICO 05 : Empréstimo domiciliar FONTE: Acadêmicos das FIPMoc 54% Parte IV 5% GRAFICO 04: Obtenção de documentos (acervo) FONTE: Acadêmicos das FIPMoc 31% Bom Dos entrevistados, 86% consideram satisfatórios os recursos para obtenção de documentos (acervo); 32% consideram esse serviço bom; 54%, médio; 14% acreditam que esse serviço deve ser reestruturado. A reposição dos livros, periódicos e outros materiais satisfazem a necessidade dos acadêmicos entrevistados. Estudo realizado por Couto (2009) descreve acerca da familiaridade com a biblioteca. A facilidade de localização de um item no acervo tem sido incluída em diversos estudos, que consideram as atividades que extrapolam a leitura e análise das obras, enriquecem os trabalhos e agregam novas e diferentes informações para os acadêmicos. Dos entrevistados, 87% estão satisfeitos com os recursos para obtenção de documentos (empréstimo domiciliar); 44% consideram esses recursos bons e 43%, médio. Apenas 13% veem necessidade de melhoria nesse serviço. 56 Médio Ruim 64% GRAFICO 06: Atendimento geral FONTE: Acadêmicos das FIPMoc Dos entrevistados, 95% estão satisfeitos com os recursos e serviços de apoio à utilização da biblioteca (atendimento geral); 64% consideram esse recurso como bom; e 31%, como médio, o que permite afirmar que o atendimento oferecido pela biblioteca das Faculdades Pitágoras vai ao encontro das expectativas dos acadêmicos. No que diz respeito às visitas e palestras sobre o uso da biblioteca, 53% dos entrevistados consideram positivo esse tipo de serviço, devendo ser amplamente explorado; 15% o consideram bom; 38%, médio; e 47%; ruim, ou seja, deve haver mais Multitextos visitas e palestras sobre o uso da biblioteca. como ruim. 15% 26% 28% Bom Bom Médio Médio Ruim 47% Ruim 38% 46% GRAFICO 07: Visitas e palestras sobre o uso da biblioteca FONTE: Acadêmicos das FIPMoc GRAFICO 09: Divulgação dos Recursos/ Internet FONTE: Acadêmicos das FIPMoc CONCLUSÃO Parte V 18% 36% Bom Médio Ruim 46% GRAFICO 08: Divulgação dos Recursos/ Serviços da biblioteca FONTE: Acadêmicos das FIPMoc Com relação à divulgação de produtos e serviços da biblioteca por meio de cartazes e folhetos, 64% acreditam que é eficaz esse tipo de mídia; 36% acreditam que deveria haver maior divulgação dos serviços da biblioteca por meio de cartazes e folhetos. 74% dos entrevistados consideram importante a divulgação da biblioteca por meio da internet; 26% acreditam que deveria ser mais utilizado. Considerando a relevância da Internet como fonte de informação na atualidade, vale observar os 26% dos academicos que consideram esse meio de divulgação A análise da avaliação dos acadêmicos das Faculdades Pitágoras em relação aos produtos e serviços oferecidos pela biblioteca consultada permite afirmar que a qualidade da infraestrutura é identificada como satisfatória, pelos acadêmicos entrevistados. O acesso à informação e a utilização dos acervos e serviços receberam alta pontuação pelos acadêmicos, reforçando a excelência das coleções de livros e revistas das diversas áreas do conhecimento que estão disponíveis na biblioteca, e a facilidade de acesso a eles. Quanto aos recursos/serviços e divulgação da biblioteca, conclui-se que demandam atitudes próativas, como, por exemplo, ênfase na divulgação das visitas e palestra acerca da biblioteca, bem como maior divulgação dos serviços através da mídia impressa e a mídia virtual. REFERÊNCIAS COUTO, Mariza Leal de Meirelles do., Pilares da função da biblioteca universitária In: II Encontro do Sistema de Bibliotecas da UFMG, 2009 GIL, A.C.Como elaborar projetos de pesquisa. 57 Multitextos 4º ed.São Paulo: Atlas, 2008. OLIVEIRA, Leila Rabello de. Biblioteca universitária: Uma análise sobre os padrões de qualidade atribuídos pelo ministério da educação ao contexto brasileiro. São Paulo, 2003. OLIVEIRA, Sitas Marques de.,Marketing e sua aplicação em Bibliotecas: Uma abordagem preliminar;1985. SILVA, Gilda Olinto do Valle, Metodologia de Pesquisa: trabalhando o conceito de uso de biblioteca, 1990. 58 Multitextos O Juiz, a Emoção e o Princípio da Imparcialidade AMARAL, Rodrigo Santos*; FERREIRA, Diogo Fraga** *Docente do curso de Direito das FIPMoc ** Aluno do curso de Direito das FIPMoc RESUMO Com a Teoria Tridimensional do Direito, de Miguel Reale, em que há o reconhecimento da dimensão histórica e axiológica do direito, além da dimensão formal, e com a superação do pós-positivismo pelo neoconstitucionalismo, uma nova postura dos profissionais do direito se faz necessária, especialmente do juiz, devido a sua grande responsabilidade em julgar seus semelhantes, exigindo-se dele uma postura mais humana. Em vista disso, o objetivo deste artigo é demonstrar se há compatibilidade entre a emoção do juiz, sua sensibilidade, com o princípio constitucional da imparcialidade. P A L AV R A S - C H AV E : P r i n c í p i o d a Imparcialidade, Neutralidade, Positivismo, Neoconstitucionalismo, Personalidade do Juiz, Animus, Anima. INTRODUÇÃO Recentemente (junho/2009), o ministro do Supremo Tribunal Federal Celso de Mello se emocionou durante o julgamento de uma ação que pedia o pagamento de indenização para uma mãe que, em decorrência de uma infecção hospitalar, concebeu um filho com Síndrome de West, apresentando um quadro de paralisia cerebral, cegueira, tetraplegia, epilepsia e má-formação encefálica. A partir de então, passou-se a colocar em xeque o princípio da imparcialidade do juiz, questionando-se a atitude do ministro infringira esse princípio constitucional. Não se pode olvidar que, por trás daquele que decide, há o ser humano, dotado de paixões e de desejos, que podem ser conduzidos a favor de uma adequada prestação jurisdicional, já que o julgador lida exatamente com os dramas humanos e, segundo Nalini (in PRADO, 2009, XI), “para julgar um ser humano, o juiz precisa ser cada vez mais humano”. Sendo assim, o magistrado deixa de ser um mero operador do direito e passa a ter um relevante papel em sua construção,tornando-se, portanto, autor na realidade social. Destarte, considerando a atualidade do fato sob comento, bem como o dinamismo do direito e o papel do juiz, e observando sua condição humana na condução desse direito, o presente artigo busca demonstrar se a emoção do juiz é compatível com o princípio da imparcialidade, sendo pacífica e necessária sua coexistência, ou, se, por outro lado, essa emoção coloca em risco a salvaguarda desse princípio constitucional. Para isso, utilizou-se como método de abordagem, o dedutivo e, como técnica de 59 Multitextos pesquisa, a pesquisa bibliográfica. PRINCÍPIO DA IMPARCIALIDADE DO JUIZ Dentre os princípios norteadores do ordenamento jurídico brasileiro, vige o princípio da imparcialidade, especialmente na relação processual, como preleciona Cintra et al (2008, p. 58): “A imparcialidade do juiz é pressuposto para que a relação processual se instaure validamente”. Esse princípio se materializa por meio de critérios objetivos (impedimentos – situações previstas no art. 134 do CPC) e subjetivos (suspeição – de acordo com o art. 135 do CPC) disciplinados em lei, sendo aqueles requisitos de validade processual, segundo Cintra et al (2008). De acordo com Cintra et al (2008), a atual CRFB/88, ao instituir garantias e vedações aos magistrados, contempla o princípio em comento. O juiz, uma vez blindado pelas garantias de vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de subsídios (art. 95, CF/88), encontra-se livre para formar sua convicção no conflito que é posto sob sua apreciação. As vedações, em contrapartida, procuram resguardar o princípio da imparcialidade sob o ponto de vista dos jurisdicionados. Além disso, o princípio da imparcialidade é garantidor dos demais princípios constitucionais, haja vista que esse princípio vincula o juiz à fiel observância dos demais princípios, dentre eles, segundo Cintra et al (2008), o do juiz natural (art. 5º, XXXVII, CF/88) e o do contraditório (art. 5º, LV). Conforme asseveram esses doutrinadores, o princípio do juiz natural é entendido a partir de três acepções, quais sejam: reconhecimento dos órgãos jurisdicionais como tais, se previstos constitucionalmente, a preexistência desses órgãos a um fato a ser julgado; e a vinculação 60 do juiz à competência preestabelecida na Constituição. Quanto ao princípio do contraditório, “é constituído por dois elementos: a) informação; b) reação (meramente possibilitada nos casos de direitos disponíveis)”. (CINTRA et al, 2008, p. 63) Destarte, ainda de acordo com Cintra et al (2008), as partes se reservam o direito de exigir um juiz imparcial, visto que a imparcialidade do juiz é garantia de justiça, devendo, portanto, o Estado, já que lhe compete o exercício da função jurisdicional, agir com imparcialidade na solução das causas que lhe são submetidas. IMPARCIALIDADE X NEUTRALIDADE É imprescindível ressaltar que imparcialidade difere de neutralidade, conforme preceitua Donizetti (2009). Entretanto, De Plácido e Silva (2002), em seu Vocabulário Jurídico, define neutralidade, equiparando-a à imparcialidade: Neutralidade. Derivado do latim neutralis, de neuter (que fica indiferente), em sentido genérico quer significar o estado de neutro, ou seja, a situação daquele que se coloca indiferente ou fica imparcial diante de questão ou luta ferida entre outras.Assim, é a situação de quem não tem ou não mostra qualquer interesse a respeito do que outros estão fazendo (SILVA, 2002, p. 555). [grifo nosso] Ser neutro, de acordo com Silva (2002), é ser indiferente, é o juiz, portanto, afastar-se das partes e da situação fática sob a qual elas estão envoltas - definição incompatível com o princípio da imparcialidade, tal como preleciona Donizetti (2009, pp. 69/70), ao discorrer sobre o papel do juiz no processo contemporâneo: O juiz, no processo contemporâneo, é sujeito ativo do processo, e tem o dever de zelar pela justa composição do litígio. Ao magistrado cabe esclarecer pontos obscuros, advertir as Multitextos partes de suas condutas, requisitar provas e diligências, interpretar as normas e as especificidades de cada caso concreto, tudo com o objetivo de prestar adequadamente a tutela jurisdicional. A imparcialidade do juiz, assim, é uma garantia constitucional pela qual o juiz resguarda a igualdade de condições às partes, o tratamento isonômico, observando normas e princípios constitucionais, sem perder de vista sua condição humana, seu envolvimento com a causa que lhe é submetida. O juiz moderno compreende que só se lhe exige “imparcialidade” no que diz respeito à oferta de iguais oportunidades às partes e recusa a estabelecer distinções em razão das próprias pessoas ou reveladoras de preferências personalíssimas. Não se lhe tolera, porém, a “indiferença” (DINAMARCO, apud Marcato, 2003, p. 67). O entendimento de um judiciário neutro remonta ao momento histórico do positivismo (séc. XIX até meados do séc. XX), que, segundo Barroso (2001), apresentou algumas variações, porém seu apogeu se deu com o normativismo de Hans Kelsen (1881-1973). Nesse período, o direito reivindica para si o estatuto de ciência, requerendo uma legitimidade, credibilidade, uma vez que se mostra como uma forma de conhecimento sistematizado, elaborado, rigoroso. (REALE, 2002) Para isso, a ciência jurídica utiliza-se dos moldes científicos adotados pelas ciências naturais e exatas, quais sejam a objetividade, a neutralidade, o afastamento e o não envolvimento do cientista com o objeto de análise, com seu objeto de estudo (BARROSO, 2001). “Isso ocorreu porque se entendia, à época, que quanto mais o direito fosse estudado através de um método puramente científico, objetivo, matemático, entenda-se, próprio das ciências naturais, mais se teria assegurada a sua validade como ciência”. (ROCHA, 2008) Sendo assim, consequentemente, exigiase do juiz uma postura pouco reflexiva, criativa, inovadora, tendo em vista que estava adstrito, rigorosamente, ao texto legal, à letra fria da lei. “Para os positivistas, então, o papel do juiz se resume a aplicar a lei regedora da situação, quando se apresenta a ele o fato previsto na norma. Não há necessidade alguma de interpretação, assegurandose, assim, a neutralidade do direito”. (ROCHA, 2008) Direito e lei, portanto, confundiam-se. Além disso, houve uma cisão entre Direito e Moral (BARROSO, 2001). Após a Segunda Guerra Mundial, houve a decadência do positivismo - tendo o julgamento dos nazistas em Nurembergue como grande marco - emergindo, a partir de então, o póspositivismo, em que a concepção de direito, única e exclusivamente a partir da lei, passa a não mais subsistir. Trata-se, por conseguinte, de um momento de aproximação do direito com a moral, a ética e a justiça. Doravante, de acordo com a Teoria Tridimensional de Miguel Reale (2002), o direito não se restringe ao formalismo, apresentando, assim, três dimensões: normativa, factual e valorativa. É importante salientar que o direito, segundo Reale (2002), é uma ciência (forma de conhecimento) cultural (regida por leis éticas), normativa (visa intervir, de maneira efetiva, na realidade, remete à dimensão do “dever ser”; isso se faz através das normas), objetiva (independe do sujeito; é obrigatório, uma vez que apresenta um sentido – atingir o justo, a justiça social). Destarte, segundo lições de Prado (2008), faz-se necessário que o magistrado acompanhe essa 61 Multitextos evolução do direito, já que apresenta um papel de fundamental importância em sua construção, além de assumir uma grande responsabilidade, que é julgar, decidir sobre os rumos da vida das partes. “Infeliz o juiz que não percebe que há vida além do processo”. (OLIVEIRA, 1997, p. 03) PERSONALIDADE DO JUIZ O psiquismo do juiz é um dos fatores que influem nas decisões judiciais. O direito, hoje, tal como é entendido em sua integralidade, atribuindo fundamental importância, também, a sua esfera axiológica - a qual remete aos valores, ao fundamento último do direito, que é atingir a equidade, o justo, enfim, a justiça social -, exige do juiz, segundo Prado (2008), uma postura compatível com essa evolução. Prado (2008) relata o quão é fundamental o sentimento do juiz diante do caso concreto, sua emoção, tornando-o mais receptivo às partes, bem como contribuindo favoravelmente a sua prestação jurisdicional. No entanto, na prática, no que tange ao recrutamento de juízes, o Poder Judiciário, ao valorizar a capacidade de memorização de leis, não tem observado a relevância que deveria ser atribuída à personalidade do juiz. “A seleção prioriza a capacidade mnemônica do candidato. Melhor desempenho terão os que conseguirem memorizar um enorme banco de dados: a Constituição, as leis, a doutrina e a incidência desta nos julgamentos dos Tribunais (...)” (PRADO, 2008, p. IX). Se os concursos se preocupassem mais com o ser humano interessado em ingressar na Magistratura e menos com a sua possibilidade de decorar informações, teria início a verdadeira Reforma do Judiciário. Não haveria necessidade de se aguardar do Congresso o trâmite de emenda constitucional que ali se encontra há mais de dez anos. E que, uma vez aprovada, não 62 resolverá de imediato todas as mazelas judiciais detectadas pela lucidez nacional (NALINI, in Prado, 2008, p. XI) Com o fenômeno jurídico do Neoconstitucionalismo, que, no Brasil, se deu a partir da promulgação da CRFB/88, o Direito Constitucional se desloca para o centro do ordenamento jurídico, fazendo com que a Constituição deixe de ser uma mera carta de intenções, e seus princípios passem a ter força normativa, inclusive os implícitos (BARROSO, 2001). Nesse contexto, destaca-se o princípio da dignidade da pessoa humana, do qual, segundo Barroso (2001), decorrem os demais princípios. Sendo assim, diante de um princípio de tal magnitude, que serve como norte, inclusive para os demais princípios, surge a necessidade de um olhar mais humano por parte dos operadores do direito, especialmente dos juízes. Conforme ensina Prado (2008), é necessário que o juiz tenha sensibilidade suficiente para enfrentar a realidade social, cujo conteúdo é tecido de dramas, paixões, sofrimentos, catástrofes, observando, dessa forma, a alteridade, ou seja, o outro, colocando-se em seu lugar. A emoção, a sensibilidade, a criatividade e a espontaneidade são características próprias, conforme convenção cultural, do arquétipo 1 feminino, sendo, segundo Prado (2008), atributos indispensáveis à personalidade do julgador. Siches (apud PRADO, 2008, p. 20) atribui relevância à criatividade e a à intuição do magistrado nos julgados, os quais constituem o momento de individualização da norma aplicável ao fato submetido à jurisdição. Para o autor, na produção do julgado, destaca-se o papel do sentimento do juiz, cuja importância fica evidenciada até pela etimologia da palavra sentença, que vem de de sentire, isto é, experimentar uma emoção, uma intuição emocional. (sic) Multitextos Essas características, nos homens, foram reprimidas, recalcadas, fazendo-os exteriorizar essa repressão, ao se depararem com esses atributos tão aflorados nas mulheres, conforme retratam os duros anos em que as mulheres foram perseguidas, rotuladas como bruxas, feiticeiras ou um alguém submisso. Sendo assim, o juiz, devido a sua figura patriarcal, que remonta à Idade Média, passa a agir com indiferença perante os sentimentos não só das partes, como também dos seus. Se os atributos psíquicos próprios do arquétipo da anima forem reprimidos, eles podem reaparecer em seu aspecto negativo, nas fantasias e nos sonhos. Surgem, então, na bruxa, durante a Inquisição. Todas essas mulheres são – como as Eríneas que representam, na mitologia grega, o aspecto negativo do mencionado arquétipo – ligadas à força das trevas e ao “mundo dos espíritos” (o inconsciente). (PRADO, 2008, p. 71) Conforme defende Prado (2008), o juiz decide por intuição, deixando-se levar pela realidade construída nos autos, além do conjunto de elementos que participam na formação dessa intuição, dentre eles, sua personalidade e seu conhecimento jurídico. A dedução é imediata: o lidador jurídico, assim ao mesmo tempo reflexivo e intuitivo somente concilia o Direito legislado com a vida vivida porque antes disso se concilia consigo próprio. Se se prefere, o intérprete que faz uso dos dois elementares lados do cérebro somente tem a chance de apanhar o Direito por inteiro porque ele mesmo se permite encontrar-se em plenitude. Não incompleto ou mutilado, quando como refreia em si uma das duas elementares funções do seu próprio cérebro. (BRITO, 2007, p. 71) A aceitação da anima e o relacionamento consciente com essa figura interna, à qual o homem está ligado, transforma-a, muitas vezes, em uma parceira. Ao observar as reações imprevisíveis dessa figura, o indivíduo terá condições de melhor discriminar quais são as suas verdadeiras emoções. Tal consciência poderá ser um primeiro passo para a transformação de desejos cegos em sentimentos genuínos, abrindo as portas da psique para a espontaneidade, a sensibilidade, a receptividade e o entusiasmo (e também para a assimilação da agressividade, das funções inferiores e, portanto, da habilidade em dirigir de forma construtiva o temperamento). Se houver a integração dos conteúdos desse arquétipo à consciência do juiz, ele poderá ver o Outro como na realidade é e em sua originalidade única, com reflexos na prestação jurisdicional. Todavia, é importante ressaltar com Carlos Byingotn que, assim como os demais arquétipos, a anima não deve ser idealizada. Problemas causados por mecanismos de defesa e pela intrusão de outros arquétipos podem transformar em uma caricatura seu imenso potencial. Isso é verificado, por exemplo, quando se atenta para a demagogia e a corrupção que pretensamente existem em nome da democracia. (PRADO, 2008, p. 90) CONSIDERAÇÕES FINAIS Tendo em vista o atual contexto no qual se encontra o direito, em que a CRFB/88 exige uma postura mais humana do magistrado, mais preocupado e envolvido com as questões sociais, a emoção do juiz não só é compatível, como também é essencial à adequada tutela jurisdicional. Ao se preocupar com a sensibilidade, o juiz torna mais acurada a forma de enxergar a situação fática, passando a fazer a leitura dos fatos e dos sujeitos que os compõem a partir deles mesmos, desprendendo-se de seus preconceitos. A aceitação e desenvolvimento da 2 anima , no juiz, torna-o mais preparado para sua atividade jurisdicional, porquanto o faz mais humano. 63 Multitextos REFERÊNCIAS BARROSO, Luís Roberto. Fundamentos teóricos e filosóficos do novo direito constitucional brasileiro (Pós-modernidade, teoria crítica e pós-positivismo). Revista Diálogo Jurídico, Salvador, CAJ - Centro de Atualização Jurídica, v. I, n. 6, setembro, 2001. D i s p o n í v e l e m : < http://www.direitopublico.com.br/pdf_6/DIALOG O-JURIDICO-06-SETEMBRO-2001-LUISROBERTO-BARROSO.pdf>. Acesso em: 20 de setembro de 2009. ROCHA, Symeia Simião da. Evolução da força normativa da Constituição: breve histórico do jusnaturalismo, positivismo e pós-positivismo. D i s p o n í v e l e m : < http://www.lfg.com.br/public_html/article.php?stor y=20080213155034915>. Acesso em: 20 de setembro de 2009. SILVA, de Plácido e. Vocabulário jurídico. 19. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002. NOTAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Senado Federal, Centro Gráfico, 1988. BRASIL. Presidente da República. Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 17 jan. 1973. BRITO, Carlos Ayres. O Humanismo como categoria Constituicional. Belo Horizonte: Fórum, 2007. CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; Grinover, Ada Pellegrini; Dinamarco, Cândido Rangel. Teoria geral do processo. 24. ed. São Paulo: Malheiros, 2008. DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil. 11.ed. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2009. MARCATO, Antônio Carlos. A imparcialidade do juiz e a validade do processo. Disponível em: < http://www.mackenzie.br/fileadmin/Editora/Revist a_Direito/a_imparcialidade.pdf>. Acesso em: 20 de setembro de 2009. OLIVEIRA, Regis de. O juiz na sociedade moderna. São Paulo: FTD, 1997. PRADO, Lídia Reis de Almeida. O Juiz e a emoção: aspectos da lógica judicial. 4. ed. Campinas: Millennium, 2008. REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. 64 1. “O arquétipo equivale, para a Psicologia Analítica, ao gene para a Genética, ao padrão de comportamento para a Zoologia e ao instinto para a Fisiologia. De uma forma bastante simplificada, pode-se dizer que são formas de agir, pensar, sentir recorrentes e típicas, comuns à humanidade” (PRADO, 2008, p. 2007). 2. Para Jung (apud PRADO, 2008, p. 207), “é o arquétipo do feminino, influenciador da psique do homem. Contrapõe-se ao animus, atuante no psiquismo da mulher”. Multitextos Gestão da Produção de Energia: Uma análise sobre o mercado da energia elétrica no Brasil FILHO, Pedro Cândido do Nascimento; ANDRADE, Guilherme Augusto Tolentino* Alunos do curso de Engenharia de Produção das FIPMoc INTRODUÇÃO O Brasil dispõe de grande potencial energético, verificado através da grande disponibilidade de água corrente represável de seus rios, da quantidade de combustíveis fósseis e naturais ou dos índices de irradiação solar em todo o território. As fontes hidrelétricas suprem as demandas de quase todo o território nacional, principalmente onde estão alocadas as maiores demandas, compondo uma extensa matriz conhecida com sistema elétrico nacional. Essa matriz energética recebe e distribui racionalmente a energia gerada pelas centrais com o objetivo de eficientemente, e sem distúrbios maiores, garantir o fornecimento em todo o território nacional. Paradoxalmente, contudo, o governo e a população brasileira têm encarado constantemente as perdas econômicas, políticas e sociais causadas pelos “apagões” - instabilidades no fornecimento de energia que desencadeiam efeitos nocivos sobre a produtividade do país, com perdas incalculáveis, seja em investimento ou em segurança. Castro Silva (2008), em sua tese, diz que um dos fatores que reforçam o desenvolvimento econômico é a oferta energética, e que seus resultados podem gerar diferentes impactos conforme o contexto. Camacho (2009) destaca, ainda, que: No presente cenário de oferta de energia, seja no Brasil ou nos demais países, restrições de ordem financeira e ambiental se conjugam de modo a incrementar os custos energéticos e configuram perspectivas preocupantes de descompasso entre as disponibilidades e demandas energéticas, ampliando a importância da eficiência energética. O tratamento do controle de custos como uma questão estratégica é um assunto relativamente pouco explorado. Acredita-se que essa instabilidade exista devido a uma concatenação de causas, sendo as principais a falta de clareza administrativa e de uma estratégia de investimentos e gestão eficientes para esse setor, por parte do governo brasileiro. No presente trabalho, esse problema é apresentado com discussão acerca de prováveis causas, e proposições de possíveis soluções. Produção e Consumo de Energia A diversidade da produção de energia no Brasil e a variação dos métodos de produção são mostradas no levantamento do Balanço Energético Nacional1 apresentado no GRAF. 1. Observa-se um crescimento significativo da disponibilidade de energia fóssil com o desenvolvimento da extração do petróleo. Apesar 65 Multitextos desse aumento da disponibilidade do petróleo, a pesquisa e desenvolvimento de fontes alternativas de energia aumentaram desde 1973 (CAMACHO, 2009). Além disso, é curioso observar que em um país cujo consumo de energia provém, em maior parte, de fontes hidrelétricas, haja essa grande fonte disponível fóssil. Gráfico 1: Produção de Energia por Tipo de Fonte Energética entre 1970 e 2006 Fonte: BEN – Balanço Energético Nacional 2007, ano base 2006. O GRAF. 2, a seguir, mostra a produção específica de energia elétrica e ainda mostra a expressiva participação da geração hidrelétrica na matriz nacional. É expressivo o aumento da geração de energia por fontes hidrelétricas desde a metade dos anos 90 até 2006. E, embora o GRAF. 1 mostre um aumento da disponibilidade, ou seja, de potencial energético fóssil, as maiores fontes de geração acontecem por outros métodos, principalmente por hidrelétricos e gás industrial. Conforme descrito por Haddad et al (2006), 66 apud Camacho (2009), no ano de 1995, o setor de produção de energia no Brasil sofreu uma grave crise, com riscos de deficit de energia crescentes, e que poderiam ter comprometido o pleno atendimento do mercado. Apesar de medidas terem sido estruturadas e tomadas para evitar os piores efeitos dessa crise, essas ações se mostraram pouco eficiente diante das necessidades do mercado, ocasionando a saída de vários investidores do setor industrial nacional. Nos anos 2001-2002, novos problemas, talvez reflexos e resultados de falha na gestão, ocasionaram outra crise de energia, dessa vez Multitextos Gráfico 2: Produção de Energia por fonte Fonte: BEN – Balanço Energético Nacional 2007, ano base 2006. afetando o dia a dia dos brasileiros, quando foi instituída uma política de redução/racionamento de consumo, popularmente conhecida como “apagão”. Devido aos impactos dessa política restritiva, o governo brasileiro decidiu por uma mudança na política da energia e criou o Operador Nacional do Sistema Elétrico, responsável pela operação e controle do SIN2. Além disso, também criou o órgão regulador ANEEL3, com o objetivo de definir, através de planejamento, as normas e procedimentos para a eficiência energética. (CAMARGO, 2005) Recentemente, no mês de novembro de 2009, aconteceu uma suspensão inadvertida do fornecimento da energia elétrica em todo o território nacional (18 estados afetados) e todo o Paraguai, com duração média de 2 horas na região centro-sul do Brasil. Tal evento foi ocasionado devido a uma sobrecarga do sistema de distribuição vindo da usina binacional de Itaipu4. O clima de insegurança se espalhou diante da possibilidade de retorno do “espectro” do apagão dos anos 2001-2002. Uma reportagem veiculada pelo jornal eletrônico Folha Online, de 22/07/2004 17:05, registra a manchete: “Eletrobrás descarta risco de crescimento econômico provocar apagão”. A informação veio do diretor de Projetos Especiais e Desenvolvimento Tecnológico e Industrial da Eletrobrás, Aloísio Vasconcelos Novais. Foi afirmado por ele, em entrevista dada à repórter Ivonete Fortes, que “No curto prazo, temos um pequeno excedente de energia. No médio prazo, cerca de cinco anos, a projeção é de equilíbrio. Eu acho que a situação é tranquila e estável, até pelo menos 2008. A partir de 2009, será preciso fazer novos investimentos”. Ele ainda disse que, mesmo que o país tivesse um surto repentino de crescimento, o perigo de blackouts5 estaria descartado. Gestão do risco energético e a função produção A equalização entre a demanda e a oferta energética no Brasil ainda é motivo de preocupação [incerteza] no país (CASTRO SILVA, 2008). Por isso, a população e os investidores ainda têm razão de manter apreensão sobre a instabilidade do fornecimento de energia em todo o território nacional. A mídia propaga uma extensiva campanha do governo cujo slogan diz “Estamos Seguros”, mas a aparência parece melhor que a estarrecedora 67 Multitextos verdade: o país não vai bem nesse aspecto. O programa e racionamento entre os anos 2001-2002 foram considerados bem sucedidos, porém as metas econômicas de redução de 20% não foram alcançadas, conforme dados do BACEN6. Com esta perspectiva, deve-se avaliar racionalmente os investimentos que tenham riscos, de acordo com as possibilidades de falhas e de paradas de fornecimento. Acompanhamentos atuais realizados pela 7 EPE apontam a produção e distribuição de energia, e o mercado de energia como um todo, como fator de crescimento industrial e, consequentemente, econômico, considerando a produção como força motriz do crescimento econômico de um país. O GRAF. 3 mostra o crescimento do consumo energético de cada setor, onde se observa o aumento considerável do consumo de energia em consumidores industriais. O acompanhamento da produtividade energética deve ser sistêmico; a energia deve ser medida e sua demanda planejada de acordo com os impactos que ela causa às variáveis econômicas e vice-versa. Gráfico 3: Evolução do consumo final por setor (10³ Tep) Fonte: BEN – 2004 / MME. Compilado pela EPE. Verifica-se que os indicadores econômicos positivos para a população acompanham o crescimento da oferta interna de energia e especificamente de energia elétrica. Os impactos das falhas de fornecimento que causem perdas econômicas devido à insegurança são impactantes no crescimento do país como um todo. Ainda dessa forma, como o maior consumidor (e gerador de 68 rendas) é a área industrial, também se pode apontar essa área como a grande prejudicada pelas instabilidades de fornecimento, impactando diretamente na produção e certamente sobre a economia nacional como um todo, ou seja, é um ciclo onde os impactos se multiplicam nos diversos setores. O PNE 20308 aponta direções para a otimização dos recursos energéticos por meio de Multitextos Tabela 1 Evolução do consumo final por tipo de demanda (10³ Tep) Fonte: BEN – 2004 / MME. Compilado pela EPE. Tabela 2 Evolução dos parâmetros e indicadores de oferta (10³ Tep) Fonte: BEN – 2009 Balanço Energético Nacional. Ano Base 2008. medidas de conservação, sinalizando tais medidas como imperativo capaz de alavancar o crescimento econômico, seja pelo aumento da produtividade no uso dos recursos e ainda reduzindo os elevados investimentos em infra-estrutura, seja proporcionando a redução de impactos ambientais e contribuindo para o desenvolvimento sustentável. As indústrias deverão estruturar melhor suas demandas energéticas e deverão efetivar ações de gerenciamento de demanda – no âmbito de conservação de energia. (CAMACHO, 2009) Para a composição deste plano, foi feita uma retrospectiva, verificando os problemas do passado, seus impactos e suas causas, e as direções tomadas 69 Multitextos Flores (2003), as ferramentas convencionais de avaliação de viabilidade usualmente oferecem uma visão do desempenho, sem, no entanto, permitir a representação de aspectos probabilísticos inerentes do ambiente competitivo atualmente no Brasil. Alternativas à saturação e meios sustentáveis Além de indicadores que acompanhem e relacionem a Energia com o desenvolvimento da economia, que certamente dão orientações sobre quais direções seguir, o planejamento de uma política energética eficiente deve verificar a aplicação de alternativas à geração de energia, de forma a aumentar a disponibilidade de energia e seguramente reduzir seus custos. Fontes renováveis, quando aplicadas de forma racional, podem proporcionar esses ganhos e garantir geração de energia “limpa”, ou seja, livre de impactos ambientais de difícil administração e onerosos, como usinas hidrelétricas e termelétricas baseadas em combustíveis fósseis. No Brasil, há razões para crer que o investimento em fontes renováveis pode gerar retornos favoráveis, e alimentar a matriz energética sem impactos substanciais. É sabido também que o preço de equilíbrio é resultado da oferta e da demanda, ou seja, da interação diversa desses dois componentes para cada tipo de mercado (CASTRO SILVA, 2007). Verifica-se no GRAF. 4 a disponibilidade e o crescimento dessas fontes no Brasil. Distribuindo a matriz energética, veem-se os percentuais de oferta de cada fonte energética, incluindo a renovável (GRAF. 5). Para Castro Silva (2007), o atual programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energias Elétricas, apesar de instruir sobre o desenvolvimento das fontes alternativas, informa, de maneira racional, 2008 2000 45,3% 41,0% 1990 49,1% 1980 45,6% 1970 58,4% Renovável 54,7% 59,0% 50,9% 54,4% 41,6% Não Renovável Gráfico 4: Participação de fontes renováveis na Oferta Interna de Energia Fonte: BEN – 2009 Balanço Energético Nacional. Ano Base 2008. Gráfico 5: Participação por tipo na geração de energia Fonte: BEN – 2009 Balanço Energético Nacional. Ano Base 2008. que no mercado da energia, as fontes hidrelétricas e termelétricas alcançam maiores preços nas negociações dos leilões. Ou seja, é rentável produzir energia através de fontes renováveis para consumos específicos, mas ela ainda não possui grande atratividade econômica, e esse fato talvez seja um 71 Multitextos apontavam a contramão da falta de planejamento anterior. Estabeleceu-se articulação entre o governo e fabricantes de equipamentos e consumidores no sentido de estabelecer metas e compromissos para o aumento da eficiência energética desses equipamentos e contribuindo para a economia de energia. Em alguns equipamentos, como refrigeradores, o aumento da eficiência energética foi em torno de 48%, dada a expressividade desta campanha. (PNE 2030, 2009). Além disso, foram organizados dois programas de abrangência nacional orientados para as questões de eficiência energética; são eles o PROCEL9, e o CONPET10, de competência da Eletrobrás e Petrobrás, respectivamente. Esses programas focaram a publicação e distribuição de manuais destinados a orientar os consumidores, de vários segmentos – residências, comércio, indústria e setor publico, para o combate ao desperdício e uso racional de energia elétrica. (PNE 2030, 2009) [o grifo é nosso] Modelo de Indicador de Eficiência – BEU No PEN 2030 (2009), o planejamento de ações de qualquer proporção para a redução do consumo e eficiência energética deve ser feito e controlado através de indicadores específicos. O relatório PNE (2009) relaciona as variáveis de produtividade energética com diversas variáveis econômicas como PIB, renda per capita, com o objetivo de traçar parâmetros sobre os quais medir a efetividade global de quaisquer ações sobre o mercado da energia. O indicador BEU11 é um modelo que permite processar as informações setoriais do BEN para obter as estimativas da energia final destinada a 70 diferentes usos finais e, com base nos rendimentos do primeiro processo de transformação energética, estimar a energia útil. A energia útil é apurada considerando esses usos finais, as 18 diferentes formas de energia final e os 16 setores de atividade contemplados no BEN. O objetivo é construir um modelo matemático que represente essa relação entre a EU (Energia Útil) e a EF (Energia Final) para analisar a energia que se conserva entre os BEU. (PEN 2030, 2009) Um rendimento de referência representa o estado da arte da conversão de energia em cada processo contemplado no estudo. Esse percentual deve ser tomado como o rendimento médio no período analisado. A partir dessa média, pode-se estimar o volume total de energia elétrica conservada em um determinado período. Na tabela a seguir, pode-se demonstrar um resultado do modelo de cálculo de energia conservada, quando usado o período de consumo (1984-2004). Tabela 3 Resultados do modelo de cálculo entre 1984 e 2004 Energia Conservada (å) Período 103 tep GWh MWmédio 1984-1994 1.326 15.421 1.760 1994-2004 1.404 16.328 1.864 Total 2.730 31.749 3.624 1984-2004 2.139 24.877 2.840 Fonte: PEN 2030, Planejamento Nacional de Energia 2030, 2009. É confiável a aplicação de modelos matemáticos específicos, considerando que, segundo Multitextos inibidor do crescimento. Deve ser ampliada a tecnologia de energias renováveis, desde o projeto até sua aplicação, tendo como foco específico sua segurança de fornecimento. Conclusão Nesta avaliação, evidencia-se que o mercado brasileiro possui grande disponibilidade energética, atribuída a um variado espectro de geração de energia, distribuído conforme a necessidade em todo o território nacional. Apesar disso, há uma desconfiança perene sobre a segurança na distribuição de energia e em sua real proporcionalidade e alcance. O governo, apesar dos planos e instituições criadas para aprimorar a confiabilidade e segurança no fornecimento do Sistema Elétrico Nacional, ainda sofre com a instabilidade prática desse sistema, cujos impactos na economia nacional são enormes. Há perda de investimentos, insegurança e descrédito no fornecimento por parte da população e investidores. Além disso, o racionamento e eventos recentes de apagões contribuem para intensificar esse receio. Novas tecnologias de geração e distribuição de energia, aliadas a uma racionalização da distribuição, podem aperfeiçoar o sistema a ponto de torná-lo seguro para investimentos, e dissipar este “nevoeiro” de insegurança. As especulações políticas desse problema merecem um olhar crítico por parte da comunidade científica; e estudos aprofundados devem estabelecer parâmetros sobre os quais o fornecimento pode ou não ser considerado seguro. Instituições como a EPE demonstram, através dos indicadores e estatísticas, qual é o status atual e o desenvolvimento dos sistemas elétricos do país e estabelece regras para 72 controlar os impactos que as instabilidades causam na economia. Com este trabalho, pretendemos salientar que o fornecimento de energia em um sistema nacional de geração e distribuição é um fator crítico para o desenvolvimento da economia de um país, e que deve ser analisado de forma pragmática, com forte embasamento científico. Além disso, as autoridades políticas devem estar informadas sobre o funcionamento de tais ferramentas e dispositivos de controle e manutenção do Sistema Nacional de Energia de forma a garantir um planejamento racional. Esse planejamento deve ser conduzido com seriedade e também ser discutido com foco social, tecnológico e científico, evitando o empirismo sem embasamentos que a política nacional tem demonstrado nos veículos de comunicação sobre os eventos e incidentes recentes no fornecimento e distribuição da energia. REFERÊNCIAS CAMACHO, Mario Antônio da Gama. Modelo para implantação e acompanhamento de programa corporativo de gestão de energia. Campina Grande, 2009. 176p. CASTRO SILVA, Wendel Alex. Investimento, regulação e mercado: uma análise de risco no setor elétrico. UFLA – Lavras, 2007. 430 p. FLORES, Edson Marques. Modelo probabilístico de geração distribuída em ambiente competitivo. São Paulo, 2003. 151 p. CARNEIRO, Ricardo. Estado, mercado e o desenvolvimento do setor elétrico brasileiro. Belo Horizonte, 2000. 400p. ROSA, Victor Hugo da Silva. Energia elétrica renovável em pequenas comunidades no Brasil: em busca de um modelo sustentável. Brasilia, 2007. Multitextos 440p. Balanço Energético Nacional 2007 – Ano Base 2006. Rio de Janeiro, 2009. 48p Balanço Energético Nacional 2009 – Ano Base 2008: Resultados Preliminares. Rio de Janeiro, 2009. 48p Plano Nacional de Energia 2030 / Ministério de Minas e Energia; colaboração Empresa de Pesquisa Energética. Brasília, 2007. 12v Folha Online – Dinheiro – Eletrobrás descarta risco de crescimento econômico provocar “apagão” – 22/07/2004. D i s p o n í v e l e m : http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91 u87022.shtml, Acesso em 25/11/2009 às 22:49. NOTAS 1. BEN – Balanço Energético Nacional 2007, ano base 2006. 2. SIN – Sistema Interligado Nacional, sistema de Geração e Distribuição de Energia brasileiro. 3. ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. 4. A usina de Itaipu pertence ao Brasil e ao Paraguai, e gera energia elétrica para ambos os países. 5. Blackout, trad. Apagão, desligamento de energia. Lit. “às escuras” – tradução nossa. 6. Banco Central do Brasil. 7. EPE - Empresa de Pesquisa Energética, Ministério das Minas e Energia. 8. Plano Nacional de Energia 2030, PNE 2030 9. PROCEL – Plano Nacional de Conservação de Energia Elétrica, 1985. 10. CONPET – Programa Nacional de Racionalização do Uso de Derivados de Petróleo e Gás Natural, 1991 11. BEU – Balanço de energia útil. 73 Normas para Publicação Regras Editoriais para Publicação de Artigos na Revista Multidisciplinar das FIPMoc 1. INSTRUÇÃO AOS AUTORES outras categorias de artigos. A Revista Multidisciplinar das FIPMoc é um periódico especializado, nacional, aberto a contribuições da comunidade científica nacional, arbitrada e distribuída a leitores do Brasil. Esta revista tem por finalidade publicar contribuições científicas originais sobre temas relevantes para as áreas de Biomedicina Design, Direito, Enfermagem, Engenharia de Produção, Engenharia Civil, Farmácia, Fisioterapia, Medicina, Pedagogia, Psicologia, Publicidade e Propaganda e Turismo e Hotelaria, nos âmbitos nacional e internacional. Os manuscritos devem destinar-se exclusivamente à Revista Multidisciplinar das FIPMoc, não sendo sua apresentação simultânea a outro periódico, tanto do texto, quanto de figuras, tabelas, quer na íntegra ou parcialmente, excetuando-se resumos ou relatórios preliminares publicados em anais de reuniões científicas. O(s) autor(es) deverá(ão) assinar e encaminhar declaração de acordo com o modelo no Anexo. Os manuscritos deverão ser encaminhados em português em quatro vias para os Editores Científicos. Os manuscritos publicados são de propriedade da Revista, vedada tanto a reprodução, mesmo que parcial, em outros periódicos, como a tradução para outro idioma, sem a autorização do Conselho de Editores. Dessa forma, todos os trabalhos, quando submetidos à publicação, deverão ser acompanhados de documento de transferência de direitos autorais, contendo assinatura de cada um dos autores, cujo modelo está no Anexo. - Entrevista PERFIL INTERATIVO São entrevistas dinâmicas, interativas, realizadas com pessoas de destaque, pesquisadores, formadores de opinião, em cada curso ou áreas afins relacionadas com a Fisioterapia, Enfermagem, Farmácia, Biomedicina, Direito, Psicologia, Pedagogia, Turismo e Hotelaria, Engenharia de Produção, Design, Publicidade e Propaganda, Engenharia Civil e Medicina, nos âmbitos nacional e internacional. 2. CATEGORIAS DE ARTIGOS Além dos artigos originais, que têm prioridade, a Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras publica Entrevistas, Revisões de Literatura, Atualizações, Notas e Informações, Cartas ao Editor, Editoriais, além de 74 - Artigos Originais - MULTITEXTOS São contribuições destinadas a divulgar resultados de pesquisa original inédita, que possam ser replicados ou generalizados. Devem ter a objetividade como princípio básico. O autor deve deixar claro quais as questões que pretende responder. Devem ter de 2.000 a 4.000 palavras, excetuando-se Tabelas, Figuras e Referências. As Tabelas e Figuras devem ser limitadas a 5 no conjunto, recomendando incluir apenas os dados imprescindíveis, evitando-se tabelas muito longas, com dados dispersos e de valor não representativo. Quanto às figuras, não são aceitas aquelas que repetem dados de tabelas. As Referências estão limitadas a 20, devendo incluir aquelas estritamente pertinentes à problemática abordada, havendo, entretanto, flexibilidade. Devese evitar a inclusão de número excessivo de referências numa mesma citação. A estrutura dos artigos, a partir da Revista número 5, é a convencional: a Introdução deve ser curta, definindo o problema estudado, sintetizando sua importância e destacando as lacunas do conhecimento (“estado da arte”) que serão abordadas no artigo. O Desenvolvimento deve conter a metodologia empregada, os resultados e a discussão, que deve começar apreciando as limitações do estudo, seguidas da comparação com a literatura científica e da interpretação dos autores. Por fim, devem ser apresentadas as Conclusões da pesquisa. - Atualizações - UM PONTO À FRENTE São trabalhos descritivos e interpretativos baseados na literatura científica recente sobre a situação global em que se encontra determinado assunto investigativo. Sua extensão deve ser de até 3.000 palavras. - Notas e Informações MULTI-AÇÃO São relatos de casos curtos decorrentes de estudos originais ou avaliativos. Podem incluir também notas preliminares de pesquisa, contendo dados inéditos e relevantes para os temas referentes aos cursos abordados nesta revista. Devem ter de 800 a 1.600 palavras (excluindo-se tabelas, figuras e referências) - 1 tabela/figura e 5 referências. - Cartas ao Editor - RECIPROCIDADE Incluem cartas que visam discutir artigos recentes publicados na Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras ou relatar pesquisas originais ou achados científicos significativos. Não devem exceder a 600 palavras e 5 referências. 3. AUTORIA O conceito de autoria está baseado na contribuição substancial de cada uma das pessoas alistadas como autores, no que se refere, sobretudo à concepção do projeto de pesquisa, análise e interpretação de dados, redação e revisão crítica. Os trabalhos publicados restringem-se a, no máximo, 8 autores. Cada manuscrito deve indicar o nome de um autor responsável pela correspondência com a Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras, e seu respectivo endereço, incluindo telefone, fax e email. 4. PROCESSO DE JULGAMENTO Normas para publicação DOS MANUSCRITOS Os manuscritos submetidos à Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras, que atenderem às “instruções aos autores” e que se coadunem com sua política editorial, são encaminhados à Comissão Editorial, que considerará o mérito científico da contribuição. O anonimato é garantido durante todo o processo de julgamento. A decisão sobre aceitação é tomada pela Comissão Editorial. - Manuscritos Recusados Manuscritos não selecionados não serão devolvidos; a menos que sejam solicitados pelos respectivos autores no prazo de até seis meses. Manuscritos recusados, mas com a possibilidade de reformulação, poderão retornar como novo trabalho, iniciando-se outro processo de julgamento. - Manuscritos Aceitos Manuscritos aceitos ou aceitos sob condição poderão retornar aos autores para aprovação de eventuais alterações no processo de editoração e normalização, de acordo com o estilo da Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras. 5. PREPARO DOS MANUSCRITOS Os manuscritos devem ser preparados de acordo com as “Instruções aos Autores” desta revista. Os artigos devem ser digitados no programa Word (Windows), em uma só face, com letra tipo arial, corpo 12 em folha de papel branco, tamanho ofício, mantendo margens laterais de 3 centímetros, espaço um e meio em todo o texto, incluindo página de identificação, resumos, agradecimentos, referências e tabelas. Cada manuscrito deve ser enviado em 2 vias impressas e uma cópia em cd, programa Word. Todas as páginas devem ser numeradas a partir da página de identificação. - Página de Identificação Deve conter: 1. Título do Artigo, que deve ser conciso e completo, evitando palavras supérfluas. Recomenda-se começar pelo termo que represente o aspecto mais importante do trabalho, com os demais termos em ordem decrescente de importância. 2. Nome e sobrenome de cada autor pelo qual é conhecido pela literatura científica. 3. Instituição a que cada autor está afiliado, acompanhado do respectivo endereço. 4. Nome do Departamento e da Instituição em que o trabalho foi realizado. 5. Nome e endereço do autor responsável pela troca de correspondências e ainda, email, fone e fax. 6. Se foi subvencionado, indicar o tipo de auxílio, o nome da agência financiadora e o respectivo número do processo. 7. Se foi baseado em tese, indicar o título, ano e instituição onde foi apresentada. 8. Se foi apresentado em reunião científica, indicar o nome do evento, local e data da realização. - Resumos e Descritores Para os Artigos Originais, os resumos devem ser apresentados no formato estruturado, com até 250 palavras, destacando o principal objetivo e os métodos básicos adotados, informando sinteticamente local, população e amostragem da pesquisa, quando houver; apresentando os resultados mais relevantes, apontando as conclusões mais importantes, apoiadas nas evidências relatadas, recomendando estudos adicionais, quando for o caso. Para as demais seções, o formato do resumo deve ser o narrativo, com até 150 palavras. Basicamente devem ser destacados o objetivo, os métodos usados para o levantamento das fontes de dados, os critérios de seleção dos trabalhos incluídos, os aspectos mais importantes discutidos e as conclusões mais importantes e suas implicações. Abreviaturas e siglas devem ser evitadas. Descritores devem ser indicados entre 3 e 10. - Agradecimentos Contribuições de pessoas que prestaram alguma forma de colaboração intelectual ao trabalho como assessoria científica, revisão crítica da pesquisa, coleta de dados entre outras, mas que não preencham os requisitos para participar de autoria, devem constar dos “Agradecimentos” desde que haja permissão expressa dos nomeados. Também podem constar desta parte agradecimentos a instituições pelo apoio econômico, material ou outros. - Referências As referências devem ser ordenadas alfabeticamente, normalizadas de acordo com o estilo ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) vigente. A exatidão das referências constantes da listagem e a correta citação no texto são de responsabilidade do(s) autor(es) do manuscrito. - Tabelas Devem ser apresentadas em folhas separadas, numeradas consecutivamente com algarismos arábicos, na ordem em que foram citadas no texto. A cada uma deve-se atribuir um título breve, não se utilizando traços internos horizontais ou verticais. As notas explicativas devem ser colocadas no rodapé das tabelas e não no cabeçalho do título. Se houver tabelas extraídas de outros trabalhos, previamente publicados, os autores devem providenciar a permissão, por escrito, para a reprodução das mesmas. Essa autorização deve acompanhar os manuscritos submetidos à publicação. Tabelas consideradas adicionais pelo Editor não serão publicadas, mas poderão ser colocadas à disposição dos leitores, pelos respectivos autores, mediante nota explicativa. Quadros são identificados como Ta b e l a s , s e g u i n d o u m a ú n i c a numeração em todo o texto. - Figuras As ilustrações (fotografias, desenhos, gráficos etc.), citadas como Figuras, devem estar desenhadas e fotografadas por profissionais. Devem ser numeradas consecutivamente com algarismos arábicos, na ordem em que foram citadas no texto; devem ser identificadas fora do texto, por número e título abreviado do trabalho; as legendas devem ser apresentadas em folha à parte; as ilustrações devem ser suficientemente claras para permitir suas reproduções. Não se permite que as Figuras apresentem os mesmos dados das Tabelas. As Figuras coloridas não são publicadas, a não ser que sejam custeadas pelos autores do manuscrito. Nas legendas das figuras, os símbolos, flechas, números, letras e outros sinais devem ser identificados, e seu significado esclarecido. Se houver figuras extraídas de outros trabalhos, previamente publicados, os autores devem providenciar permissão, por escrito, para sua reprodução. Essas autorizações devem acompanhar os manuscritos submetidos à publicação. - Abreviaturas e siglas Deve ser utilizada a forma padrão. Quando não o forem, devem ser precedidas do nome completo, quando citadas pela primeira vez; quando aparecerem nas Tabelas e nas Figuras, devem ser acompanhadas de explicação, quando seu significado não for conhecido. Não devem ser usadas no título e no resumo, e seu uso no texto deve ser limitado. 6. ENVIO DOS MANUSCRITOS 75 Normas para publicação Os manuscritos devem ser endereçados aos Editores Científicos da Revista Multidisciplinar das Faculdades Pitágoras de Montes Claros, em duas cópias em papel e uma cópia em cd, formato MS Word, para o seguinte endereço: Profa. Regina Célia Lima Caleiro Editora Científica da Revista Multidisciplinar das Faculdades Integradas Pitágoras Avenida Professora Aída Mainartina Paraíso, 80 Bairro Ibituruna - Montes Claros/Minas Gerais. CEP: 39400-000Fone/Fax: 038XX3214-7100 - Endereço eletrônico: http\\www.fip-moc.edu.br 7 . D E C L A R A Ç Ã O D E RESPONSABILIDADE E TRANSFERÊNCIA DE DIREITOS AUTORAIS Cada autor deve ler e assinar os documentos (1) Declaração de Responsabilidade e (2) Transferência de Direitos Autorais. P r i m e i r o A u t o r : _____________________________ T í t u l o d o Manuscrito:_______________________ __ I - Declaração de Responsabilidade Todas as pessoas relacionadas como autores devem assinar declaração de responsabilidade nos termos abaixo: “Certifico que participei suficientemente do trabalho para tornar pública minha responsabilidade por seu conteúdo. Certifico que o manuscrito representa um trabalho original e que nem este manuscrito, em parte ou na íntegra, nem outro trabalho com conteúdo substancialmente similar, de minha autoria, foi publicado ou está sendo considerado para publicação em outra revista, quer seja no formato impressa ou no eletrônico, exceto o descrito em anexo. Atesto que, se solicitado, fornecerei ou cooperarei totalmente na obtenção e fornecimento de dados sobre os quais o manuscrito está baseado para exame dos leitores”. Assinatura do(s) autor(es) e Data _________________________________ _________________________________ ________________ II - Transferência de Direitos Autorais. “Declaro que, em caso de aceitação do 76 artigo por parte da Revista Científica das Faculdades Pitágoras de Montes Claros, concordo com que os direitos autorais a ele referentes se tornarão propriedade exclusiva das FIPMoc, ficando vedada qualquer produção, total ou parcial, em qualquer outra parte ou meio de divulgação, impressa ou eletrônica, sem que a prévia e necessária autorização seja solicitada e, se obtida, farei constar o competente agradecimento às Faculdades Pitágoras de Montes Claros e os créditos correspondentes”. Assinatura do(s) autor(es) e Data __________________________________ _______ 8. CONSIDERAÇÕES ÉTICAS E LEGAIS Evite o uso de iniciais, nomes ou número de registros dos pacientes/clientes avaliados no estudo. Os participantes do trabalho não poderão ser identificáveis por fotografias, exceto com consentimento expresso, por escrito, acompanhando o trabalho original. As Tabelas e/ou Figuras publicadas em outras revistas ou livros devem citar as respectivas referências e o consentimento, por escrito, do autor ou editores. Estudos realizados em seres humanos devem estar de acordo com os padrões éticos e com o devido consentimento livre e esclarecido dos pacientes (reporte-se à Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, que trata do código de “Ética para Pesquisa em Seres Humanos”). Para as pesquisas em humanos, deve-se incluir a respectiva aprovação pela Comissão de Ética em Pesquisa, devidamente registrada no Conselho Nacional de Saúde Hospitalar ou Universitária mais próxima de sua região. A Revista Multidisciplinar das Faculdades Pitágoras de Montes Claros reserva-se o direito de não publicar trabalhos que não obedeçam a essas normais legais e éticas para pesquisas em seres humanos. Para os experimentos em animais, considerem-se as diretrizes internacionais, por exemplo, a do Commitee for Research and Ethical Issues of International Association for the Study of Pain, publicada em PAIN, v. 16, p. 109-110, (1983). 9. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao enviar o original e as cópias do trabalho (na versão inicial), procure acondicioná-los adequadamente, para evitar rasuras e danos. As ilustrações, principalmente as fotografias, devem ser protegidas com material impermeável antes de serem postadas no correio. Prefira a remessa via Sedex ou carta registrada. Quando o artigo pertencer a mais de um autor, fica claro que os demais autores estão de acordo com a publicação da matéria, quando do aceite final dos editores.