- Conclusões da Investigação e Reflexão Pessoal

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Animador Sociocultural: Revista Iberoamericana
Contributos da Animação Socioeducativa
vol.3, n.1, out.2008/abr.2008
Fachada
CONTRIBUTOS DA ANIMAÇÃO SOCIOEDUCATIVA PARA UMA
PEDAGOGIA DE LAZER1
António Fachada
Animador Socioeducativo
APDASC-DRC
APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS
“Animação é aquele estímulo na vida mental, física e emocional das pessoas, num
determinado território, que as leva a desenvolver uma vasta gama de experiências,
através das quais vão alcançar um grau mais elevado de auto-realização, autoexpressão e consciência de pertença a uma dada comunidade que pretendem
melhorar” .
(definição da Fundação Cultural Europeia, em 1973)
As abordagens reconhecidas por Paulo Freire desviaram o foco da actividade de uma
intervenção directa sobre as pessoas para, conjuntamente com elas, a construção de situações, de
contextos e de relações em que as pessoas possam “crescer” e sentir-se interdependentes e
solidárias umas das outras. Neste entendimento, animação e educação informal são praticamente
sinónimos.
Alberto Melo, que vou citar nos próximos parágrafos, defende que “a vida é uma
forma deveras improvável de existência” e por isso incute, necessidade de aprendizagem por
parte de todos os seres vivos – para manter e melhorar a sua vida - o que implica aprendizagens
como processo de harmonização, de reacção-adaptação aos diversos contextos, colectiva e
individual. Mas o que é aprendizagem? Existem diferentes noções de aprendizagem? Na
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II Encontro Nacional “A Pedagogia em Contexto de Lazer” – O Enriquecimento Curricular ESE de Coimbra – 16 e
17 de Maio de 2008
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realidade existem fases em que estas aprendizagens são ou não operacionalizadas e aí podem
definir-se cinco conceitos: a mudança de comportamento por inclusão de informação, o processo
de aquisição desse conhecimento; o conhecimento adquirido; o processo pelo qual se alterou o
comportamento; e o processo individual de construir a compreensão, assente num leque diverso
de experiências. E onde podem acontecer essas aprendizagens? Passeando pelos campos e pelas
cidades; trabalhando (nas suas várias formas, com materiais, com pessoa, com ideias, com formas
e emoções – incluindo o trabalho desportivo, artístico, etc.); a conversar; a ler; a ver cinema,etc.
Ou seja, as aprendizagens dependem da origem e do contexto em que se vai operar uma mudança
de comportamento e isso depende da abordagem à intelegência e raciocinio lógico de cada
individuo. Cada pessoa tem as suas abordagens preferenciais para aprender, possuindo maior ou
menor receptividade a estímulos variados (aprendentes visuais, aprendentes auditivos,
aprendentes manuais, entre outras). Cada individuo tem o seu próprio perfil de inteligência,
resultante de uma combinatória das suas diferentes capacidades: linguística, matemática, física,
emocional, etc. Daí uma maior ou menor facilidade de compreensão (aprendizagem) consoante a
forma como as situações / problemas se apresentam.
ESTUDO DE CASO - CONCLUSÕES DA INVESTIGAÇÃO
Da investigação que realizei no ano de 2007 sobre o desenvovlimento das AEC,
denominada “Crianças, Escola e Actividades de Enriquecimento Curriular em tempo de Lazer –
Estudo e análise dos tempos não curriclares das crianças”, tentei responder ás seguintes
questões:
- Qual a avaliação das crianças em geral às Actividades de Enriquecimento
Curricular?
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- Que metodologias foram seguidas pelos Professores e Animadores do EC?
- Que tipo de competências adquiriram as crianças nas AEC?;
- O tempo livre das crianças é passado onde e a fazer o quê? - Os pais acompanham
os filhos nos tempos livres?
- O que falta para que as aprendizagens das crianças na Escola, nas AEC, nos tempos
livres e na relação com a família, seja uníssona?
REFLEXÃO PESSOAL DAS PROPOSTAS DEFENDIDAS NO DESENVOLVIMENTO
DAS AEC
O papel da Animação
A proposta para a organização das Actividades de Enriquecimento Curricular deve
passar pela apologia de uma estratégia de desenvolvimento de competências pessoais e sociais da
criança, fundamentais para a sua formação e para a integração na vida activa, num contexto
lúdico suportado pelas características do Lazer. Partilhando e assumindo a ideia de Victor Melo
(2007), o tempo de duas horas a mais, concebido pela nova proposta de Enriquecimento
Curricular, algo que aparentemente parece pouco, pode, se bem encaminhado, ser transformando
em espaço lúdico de “diversão educativa” (expressão criada por Lucília Salgado, 2007). Desta
forma, a Escola tem uma responsabilidade cada vez maior para garantir que as crianças não sejam
privadas das oportunidades de descobrir e do direito de aprender de uma forma apropriada para
elas, ou seja, respeitando o seu ritmo de aprendizagem, o seu tempo de brincar, o incentivo à
pesquisa e à descoberta e ao trabalho em cooperação, no seio de uma relação pedagógica de
monitorização. Cabe ao educador também o acompanhamento e o incentivo às aprendizagens
diversificadas e graduais.
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Ultrapassadas que estão pedagogias de disciplina rigorosa e controlo comportamental
assertivos, a escola deve criar espaços para a auto-descoberta dos indivíduos, ajudando-os no
despertar de novas formas de prazer, enquanto motor das aprendizagens e aquisição de
competências. Propomos, assim, que o educador (professor/animador) suscite vivências que
possibilitem, entre outras coisas, prazer e alegria, estimulando as crianças nos seus momentos de
lazer e que, dessa forma, sejam introduzidos temas ou actividades que permitam a exploração e a
aquisição de novas competências. Mas, este trabalho de promoção do bem-estar, da alegria e do
prazer, deve orientar-se pela promoção da ideia de construção da satisfação colectiva e não
individual.
Neste processo, o papel da família não pode ser o de aceitar que o seu educando
realize um conjunto de actividades diversas, com o intuito de o manter ocupado e disciplinado,
não respeitando o seu tempo de brincar livre (e acompanhado). Se assim acontecer, corre-se o
risco de a criança aprender a fazer, sem sequer adquirir a competência de saber o que é, e porque
se faz de determinada maneira. Assim, defendemos práticas educativas que apostem, em primeiro
lugar, no reforço do desenvolvimento de competências, em desfavor de conhecimentos
meramente superficiais. Práticas essas baseadas em pedagogias alternativas e auto pedagogias
que respeitem as diferenças e os ritmos de aprendizagem e que possibilitem o trabalho em grupo
e a experimentação, desenvolvendo a cooperação e entreajuda, a promoção e defesa da cultura e
do património local, do meio ambiente e ainda no apoio às aprendizagens básicas de leitura,
escrita, cálculo e estudo do meio.
Isayama (2007) expõe uma ideia a partilhar - o facto de a Animação, enquanto
método de trabalho baseado nas práticas não-formais de ensino, dever alicerçar-se na vontade
social e no compromisso pedagógico de promover mudanças nos planos cultural e social. Deve
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também revelar preocupações efectivas do exercício de cidadania e com a melhoria da qualidade
de vida e representar uma acção educativa preocupada com a emancipação das próprias crianças.
Nesta perspectiva, é relevante entender que o propósito central da Animação é fomentar nas
pessoas, grupos ou comunidades atitudes abertas e orientadas para o envolvimento nas dinâmicas
e nos processos sociais e culturais que os constituem. Defende-se, assim, a promoção das práticas
do lazer na Escola, enquanto tempos promotores de “diversão educativa”, orientada por
profissionais de Animação Socioeducativa e Cultural. Por outro lado, o método e o objecto de
trabalho em Animação proporcionam ao indivíduo tempos de descoberta e de aprendizagens em
grupo, proporcionam a defesa de aprendizagens diferenciadas, a defesa da cultura e do
património local, a promoção da igualdade e o respeito pelas diferenças. Proporcionam também a
defesa do meio ambiente e a criação do gosto por aprender numa perspectiva de educação ao
longo da vida.
EDUCAÇÃO NÃO-FORMAL COMO INSTRUMENTO DA EDUCOGENIA
Assume-se actualmente uma necessidade de um trabalho diversificado, quando se
pretende promover a aprendizagem, num sentido integral e integrado. Por um lado, existem
momentos em que se procuram abrir oportunidades e encorajar pessoas a envolverem-se em
determinada actividade, experiência, projecto e outras vezes, tenta-se criar um ambiente em que
as pessoas possam desenvolver competências específicas (na esperança também de que possam
vir a articulá-las com sentidos e finalidades mais vastos). Por outro lado, estimulam-se as pessoas
a reflectir sobre os seus sentimentos, experiências e ideias. Convergem assim a animação
(atitudes), a educação (conhecimentos) e a formação (competências). No desenvovlimento deste
tipo de trabalho, é possível adoptar abordagens passivas (prestar serviços, trabalhar para clientes;
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relação diferenciada) ou abordagens activas (pessoas como sujeitos, como participantes;
interacção). Nesse sentido, defende-se a busca da educogenia nos diversos espaços e acções do
quotidiano. A educação não-formal como método de desenvolvimento de competências é um
processo de aprendizagem contínuo e espontâneo que se realiza tanto fora como dentro da
educação formal. É uma dimensão da educação que duplica o campo de acção dos educadores. A
educação não-formal é uma dimensão educativa e incompreendida muitas vezes pelo sistema
educativo, pelo que se entende como um campo alargado para realizar investigação educativa e
social que nos permita erradicar, na medida do possivel, o mau uso que fazemos dos elementos e
factores que compôem a sua dinâmica natural.
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