PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA E MELHORAMENTO DE PLANTAS LGN 5799 – Seminários em Genética e Melhoramento de Plantas Departamento de Genética Avenida Pádua Dias, 11 - Caixa Postal 83, CEP: 13400-970 - Piracicaba - SP http://www.genetica.esalq.usp.br/semina.php MELHORAMENTO GENÉTICO DE Cucurbita pepo (“abobrinha”) Pós-graduando: José Manoel Colombari Filho Orientador: Isaias Olívio Geraldi A abobrinha de moita (Cucurbita pepo) pertence à família Cucurbitaceae que é constituída por 118 gêneros e cerca de 825 espécies. É uma espécie monóica, alógama e com polinização entomófila. As cucurbitáceas estão entre as mais importantes famílias de espécies cultivadas, visto que se destacam quando ao valor econômico e alimentar. O principal produto olerícola das cucurbitáceas é o fruto, que é consumido na forma imatura, sendo extremamente variável quanto às suas características. Também, podem-se consumir os ponteiros de ramas, as flores e as sementes, que contém entre 30 e 37% de proteína bruta. O gênero Cucurbita é considerado um dos gêneros com maior variabilidade morfológica do reino vegetal, sendo as espécies extremamente diversas quanto à cor, tamanho e forma dos frutos. O número de cromossomos para o gênero é constante e relativamente alto (2n = 40), e o padrão isoenzimático sugere que a origem destas espécies ocorreu através da alopoliploidia. C. fraterna Bailey e/ou C. texana (Scheele) Gray são considerados os possíveis ancestrais de C. pepo. Registros arqueológicos sugerem que a C. pepo foi uma das primeiras espécies a ser domesticada no Novo Mundo, entre 10.000 e 8.000 anos atrás, antecedendo o milho e o feijão por mais de 4.000 anos. O complexo cucurbitamilho-feijão constituíu a base alimentar das civilizações incas, astecas e maias. As cucurbitáceas selvagens possuem uma substância tóxica que produz um sabor amargo, denominada cucurbitacina. Em C. pepo, um único gene dominante é responsável pela síntese de tal substância e como os frutos são consumidos na forma imatura, houve seleção para polpa não amarga. Provavelmente, o primeiro produto a ser explorado para consumo humano foram as sementes, visto que os frutos geralmente amargos não possuíam sementes amargas. Até aproximadamente 60 anos atrás os cultivares de cucurbitáceas se caracterizavam por apresentar alta variabilidade genética atribuída em parte à alogamia. Em decorrência da demanda por uniformidade, precocidade e qualidade de fruto, buscou-se nos cultivares modernos uma alta homogeneidade. Nos últimos 35 anos, linhagens endogâmicas têm sido obtidas para o desenvolvimento de híbridos, por serem estes mais uniformes e mais produtivos que os cultivares de polinização aberta. Assim, o uso de sementes híbridas na produção comercial de hortaliças é hoje prática comum nos países desenvolvidos e naqueles em acelerado processo de desenvolvimento, motivado pelas vantagens oferecidas aos produtores e consumidores, destacando-se: (a) aumento da produtividade; (b) maior uniformidade e melhor padronização; e, (c) melhor qualidade dos frutos. Para as empresas de melhoramento e produção de sementes, os híbridos garantem um maior retomo econômico do investimento realizado em pesquisa, além de assegurar a exclusividade da oferta e comercialização do produto. A adoção de sementes híbridas de abobrinha por parte dos produtores brasileiros segue a mesma tendência que atinge a maioria das espécies de hortaliças de valor econômico. O hábito de crescimento tipo moita em C. pepo, foi obtido através da seleção de plantas com internódios curtos (gene Bu - “bush” - de dominância incompleta), resultante da menor concentração de giberelina endógena, melhorando assim a logística de plantio e colheita, através do crescimento mais uniforme e melhor resposta à alta densidade de plantio comparado a plantas rasteiras e trepadoras. PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA E MELHORAMENTO DE PLANTAS LGN 5799 – Seminários em Genética e Melhoramento de Plantas Departamento de Genética Avenida Pádua Dias, 11 - Caixa Postal 83, CEP: 13400-970 - Piracicaba - SP http://www.genetica.esalq.usp.br/semina.php Em C. pepo, os cruzamentos interespecíficos também têm sido utilizados na transferência de características desejáveis de genitores selvagens ou espécies relacionadas para os genótipos cultivados. C. moschata foi usada como uma ponte para transferir certos caracteres desejáveis entre espécies cultivadas, como resistência a doenças (“mofo pulverulento” e “vírus do mosaico do pepino”), qualidade de fruto e resistência à insetos de C. martinezii para C. pepo. Devido à ocorrência de heterose para precocidade e produtividade em cucurbitáceas, é comum o desenvolvimento de cultivares híbridos em abobrinhas, que é facilitado pela baixa depressão por endogamia nesta espécie. Além disso, muitos genes de resistência a doenças são dominantes, e os híbridos F1 com resistência a algumas doenças podem ser desenvolvidos através de cruzamentos, em que somente um dos genitores (linhagens) é resistente. Podem ser identificadas tendências específicas na domesticação e no melhoramento de cucurbitáceas. A seleção sob domesticação foi principalmente para o formato do fruto, polpa menos amarga, sementes maiores e maior tamanho de fruto. Quanto aos cultivares melhorado, a forma do fruto é a característica mais importante, seguido de seleção para sabor dos frutos e folhas (não amargo), resistência múltipla a insetos e doenças, e precocidade. O uso de cruzamentos entre espécies diferentes também é importante no melhoramento de C. pepo, e mais estudos devem ser feitos para identificar espécies selvagens que podem ser cruzadas com as espécies cultivadas, visando a introgressão de genes de resistência e outras características importantes. A identificação de espécies que servem de “ponte gênica” possibilitará um maior uso de genitores selvagens no melhoramento genético e facilitará a introgressão de genes. Existe, portanto, um grande potencial para aumentar o uso de hibridação interespecífica no desenvolvimento de novos cultivares. REFERÊNCIAS: BASRA, A.S. Hybrid Seed Production in Vegetables. Ed.: Haworth Press. 135p. 2000. BIRSOGNIN, D.A. Origin and evolution of cultivated cucurbits. Ciência Rural, Santa Maria, v.32, n.5, p.715-723, 2002. KOCH, P.S.; Análise genética de um cruzamento dialélico em abobrinha (Cucurbita pepo L.); Piracicaba; 1995. Dissertação de Mestrado- ESALQ. PARIS, H.S. Historical records, origins, and development of the edible cultivar groups of C. pepo (Cucurbitaceae). Econ Bot, v.43, n.4, p.423-443, 1989. SMITH, B.D. The initial domestication of C. pepo in the Anerucas 10,000 years ago. Science, v.276, p.932-934, 1997.