Artigo de Revisão Pós-graduação Lato Sensu em Fisiologia e Avaliação Morfofuncional - Universidade Gama Filho TREINAMENTO DE FORÇA E POTÊNCIA PARA IDOSOS Antônio Evaldo dos Santos Anderson Oliveira Santos Mário Sérgio da Silva Bancilon Nailson Batista de Santana Zerbine Pimentel C. Costa ARACAJU -SE RESUMO Este estudo tem como objetivo evidenciar a importância do treinamento de força e potência muscular como um meio seguro e efetivo para a melhoria das várias capacidades funcionais, bem como, no aumento da massa muscular relacionado à idade, o que resulta em melhor qualidade de vida para os indivíduos desta população.Nos últimos anos um fenômeno tem sido marcante nas sociedades modernas: o aumento da população de idosos. Por outro lado este envelhecimento da população aliado a hábitos de vida inadequados tais como: tabagismo, alimentação inadequada, sedentarismo, produz como conseqüência uma série de alterações morfo-funcionais: redução da força e massa muscular, velocidade, flexibilidade, VO2máx, etc., que dificultam a realização das atividades diárias e a manutenção de um estilo de vida saudável, bem como diminuem o grau de independência destes indivíduos.Destas alterações, a redução da força e massa muscular, aqui tratada como sarcopenia, tem recebido uma atenção especial por vários pesquisadores preocupados em elaborar estratégias para sua estabilização ou reversão. Pesquisas concluem que um treinamento de força e potência muscular bem planejado, pode e deve ser incluído nos programas de condicionamento físico para idosos, como uma forma segura e eficiente na minimização e até mesmo na reversão da sarcopenia e seus efeitos negativos para a saúde destes indivíduos. Palavras Chave: Envelhecimento, Redução da força, Treinamento de força. ABSTRACT This study has as objective to evidence the importance of the strength training and muscular potency as a safe and effective middle for the improvement of the several functional capacities, as well as, in the increase of the muscular mass related to the age, what results in better life quality for the individuals of this population. In the last years a phenomenon has been marcante in the modern societies: the increase of the population of senior. On the other hand this aging of the population ally the inadequate life habits such an as: tobaccoism, inadequate feeding, sedentary, produces as consequence a series of morfo-functional alterations: reduction of the force and muscular mass, speed, flexibility, VO2máx, etc., that they hinder the accomplishment of the daily activities and the maintenance of a healthy lifestyle, as well as they decrease the degree of these individuals' independence. Of these alterations, the strength reduction and muscular mass, here negotiated as sarcopenia, it has been receiving a special attention for several researchers worried in elaborating strategies for its stabilization or reversion. Researches conclude that a training of force and potency muscular planned good, cannot and it should be included in the programs of physical conditioning for seniors, as a safe and efficient form in the reduction and even in the reversion of the sarcopenia and its negative effects for the these individuals' health. Key Words: Aging, Strength reduction, Strength training. INTRODUÇÃO incremento Nos últimos anos, na maioria das pertencentes à terceira idade (MATSUDO sociedades, tem havido um aumento na & MATSUDO, 1992). Por outro lado, sabe- expectativa de vida, repercutindo num se que o processo de envelhecimento é do número de pessoas acompanhado por uma série de alterações as melhores estratégias de treinamento fisiológicas ocorridas no organismo, bem físico para esta finalidade. como pelo surgimento de doenças crônico- Pelos relatos até aqui expostos, e degenerativas advindas de hábitos de vida interessados inadequados como: tabagismo, ingestão conhecimento acerca de alguns aspectos alimentar inerentes a pessoa idosa, foi que nos laboral, incorreta, ausência tipo de de atividade atividade física regular, etc (FARO Jr., LOURENÇO & em propusemos obter a e gerar estudar mais profundamente sobre o assunto. BARROS BETO, 1996 a). Portanto, este trabalho tem como O envelhecimento é marcado por objetivo evidenciar a importância do um decréscimo das capacidades motoras, treinamento de força e potência muscular, redução da força, flexibilidade, velocidade como um meio seguro e efetivo para a e dos níveis de Vo2 máximo, dificultando a melhoria de várias capacidades funcionais. realização das atividades diárias e a Bem manutenção de um estilo de vida saudável muscular relacionada à idade, o que (MARQUES, resulta em melhor qualidade de vida aos 1996). Estudos mais recentes, de acordo com ARAUJO (2002), tem demonstrado envelhecimento é claramente que acompanhado como, no aumento da massa indivíduos desta população. o REVISÃO BIBLIOGRÁFICA por significativas modificações na composição corporal, isto é, redução da massa A redução na força muscular é um muscular e aumento da gordura corporal. componente De forma que mesmo quando o peso envelhecimento normal. O declínio da corporal se mantem constante ao longo força dos anos, é possível que algum grau de envelhecimento sarcopenia esteja ocorrendo. Ainda de significativas sobre a capacidade funcional acordo com ARAUJO (2002), vários outros (MAZZEO estudos a pesquisadores tentaram em seus estudos, sarcopenia pode ser consideravelmente encontrar explicações científicas para a minimizada e quiça revertida por um redução da força muscular e da potência treinamento físico que inclua exercícios de com a idade, assim, LARSON (1983), fortalecimento muscular, muito embora, concluiu que muito da redução da força ainda não estejam claramente identificadas muscular é devido à atrofia seletiva das têm demonstrado que importante muscular et relacionado produz al. do com o conseqüências 1998). Vários fibras musculares do tipo II. Completando esta informação EVANS e CAMPBELL e da potência com a idade (FLECK & (1993), sugeriram que a sarcopenia – KRAEMER, 1999). diminuição da massa muscular – é a principal razão para a redução na Durante o processo de envelhecimento, estes fatores isolada ou capacidade de produção de força com a associadamente idade. A atrofia das fibras musculares leva significativamente a capacidade funcional a uma perda das unidades motoras, o que, do mesmo em indivíduos saudáveis e ativos, MATSUDO (1992), ocorre uma perda de é um fator primário fundamentando as 10-20% na força muscular e menor reduções em força muscular associadas à capacidade para hipertrofia em indivíduos idade (DOHERTY et al. 1993, apud FLECK idosos. & KRAEMER, 1999). representa uma medida mais dinâmica da Outros achados idoso. reduzem Segundo A potência MATSUDO de perna, & que científicos função muscular, pode ser um preditor útil importantes revelaram que com a idade, o da capacidade funcional em indivíduos sistema endócrino perde a sua habilidade muito idosos. Isto sugere que com o de alterar as concentrações de repouso avanço da idade e baixos níveis de dos hormônios anabólicos (FLECK & atividade, KRAEMER, 1999), e que o metabolismo componente energético diário declina progressivamente caminhada (MAZZEO et al. 1998). Ainda (Mc GRANDY et al. 1966). Em indivíduos em relação à capacidade funcional do sedentários, o principal determinante do idoso WEINECK (1999), afirma que 70% gasto energético é a massa livre de dos casos de acidentes de pessoas idosas gordura (RAVUSSIN et al. 1986), que podem ser atribuídos a uma redução de declina aproximadamente 15% entre a sua capacidade de coordenação e à terceira e a oitava década de vida, redução de atividades como, andar correr contribuindo e saltar. para uma menor taxa metabólica basal em pessoas idosas (COHN et al. 1980). a força crítico muscular na é habilidade um de Baseado nas informações até aqui expostas, o conhecimento pormenorizado Além destes mecanismos, outros das conseqüências do envelhecimento é fatores como o acúmulo de doenças obrigatório, quando da elaboração de um crônicas, medicamentos necessários para programa de treinamento de força para o o tratamento, atrofia por desuso; também idoso. contribuem para a perda de força muscular ORIENTAÇÕES BÁSICAS PARA A capacidade mais baixa para reagir aos MONTAGEM DE UM PROGRAMA DE exercícios de força do que uma pessoa TREINAMENTO mais jovem. No entanto, vários estudos DE FORÇA PARA IDOSOS demonstram que o treinamento de força de alta intensidade, além de ser seguro, é Um programa de treinamento de força planejado adequadamente bastante eficaz no incremento da força pode muscular, tendo sido observado ganhos de resultar em aumentos significativos na até 200% de 1RM, porém sem ganhos de massa muscular, na hipertrofia das fibras hipertrofia substanciais (FRONTERA et al. musculares, na densidade óssea e nos 1988; FIATARONE et al.1990; CHARETTE aperfeiçoamentos et al.1991; apud no desempenho relacionados à força (FLECK e KRAEMER, FLECK & KRAEMER, 1999; FIATARONE et al.(1994)). 1999). Como conseqüência das alterações Como resultado da perda de massa muscular e de força envelhecimento, associada muita ao morfofuncionais advindas envelhecimento o com programa o de atenção treinamento deve ser individualizado; e concentrou-se nas estratégias para a uma atenção especial deve ser dada ao prevenção ou reversão destas perdas (id, período de adaptação, antes de iniciar o 1999). Há uma crescente conscientização, treinamento propriamente dito (FLECK & expressa KRAEMER, 1999). em institucionais, artigos Considerando o elevado grau de muscular sedentarismo que caracteriza grande parte dentro do contexto de um programa de dos indivíduos desta população, e por exercícios físicos voltados para a saúde é conseqüência mandatória, especialmente nos indivíduos condicionamento de força perto de zero; a com idade. escolha da carga necessária no início do Provavelmente contribuindo para minimizar programa, bem como, do equipamento ou da correto exige cuidados especiais para uma sarcopenia (ARAUJO, 2002). ANIANSSON melhor otimização dos resultados (id, & GUSTAFSSON (1981) demonstram que 1999). de mais impedir que a documentos de exercícios de e inclusão fortalecimento de o 40 anos de desenvolvimento o nível inicial de quando a intensidade do exercício é baixa, Em linhas gerais, o planejamento de somente modestos incrementos na força um programa de treinamento de força para são alcançados por sujeitos idosos, o que idosos segue as mesmas orientações para os levou a concluir que os idosos têm uma montagem de um programa de treinamento para qualquer outra faixa Normalmente são realizadas de etária. Assim sendo, a consulta ao médico uma a três séries durante o tempo de e a sua aprovação; a ficha de anamnese e treinamento; um levantamento dos fatores de risco, bem - exercícios como a realização de testes funcionais de exercício, faz-se necessário (ACMS, Descanso entre as séries e Normalmente tem-se usado de 2 a 3 minutos; 1995). Um programa de força para idosos O treinamento de força, além de deve incluir exercícios para todos os seus efeitos positivos sobre a capacidade principais grupos musculares, de tal modo funcional, pode ser uma das maneiras que muitas fibras musculares recebam um mais efetivas e de menor custo para estímulo para reestruturação e hipertrofia; preservar uma vida independente para um sendo assim FLECK & KRAEMER (1999) amplo segmento da população (ROGER & apresentam algumas características de um EVANS, 1993; FIATARONE et al.1996; programa de treinamento de força para SHEPPARD, 1991). De acordo com MAZZEO et al. idosos: - Escolha do exercício Os exercícios básicos concentramse nos exercícios para os grandes grupos (1998), os principais benefícios do treinamento de força são: - O treinamento de força musculares; acrescentando-se exercícios progressivo melhora o equilíbrio suplementares para os pequenos grupos nitrogenado, que melhorar muito musculares; a retenção de nitrogênio em - Ordem de exercício qualquer ingestão de proteína, e Em síntese a ordem de exercício isto pode significar a diferença compreende: aquecimento, exercício para entre a redução continuada ou a os grandes grupos musculares, exercício retenção para os pequenos grupos musculares e proteína corporal (primariamente atividades muscular); de desaquecimento respectivamente; - Carga usada O percentual - estoques de O treinamento de força pode ser um importante coadjuvante para mais intervenção de redução de peso comumente no idoso; usado é de 80% de 1RM para 8-12 repetições; - dos Número de séries - O treinamento de força é um meio efetivo para aumentar os energéticos, Portanto, os esforços para reverter estes diminuir a massa de gordura déficits e minimizar as conseqüências corporal, e manter a massa clínicas (declínio funcional, imobilidade, muscular em indivíduos idosos equilíbrio saudáveis; requerimentos requerimentos - - O treinamento força de podem e quedas e ingestão energética) sobre estratégias focalizar baixos resistência também melhora a experimentadas ação da insulina em pessoas programas idosas; específicos para a idade. Melhoras na O treinamento de força intenso caminhada, sobre a densidade óssea em habilidade para se levantar de uma indivíduos pode cadeira, típico capacidade aeróbica, testes baseados em relacionado com a idade na performance da independência funcional, saúde óssea pela manutenção disposição, ou incremento na densidade ingestão energética são associados com mineral óssea, ou no conteúdo ganhos na força após treinamento de força mineral corporal total; no idoso frágil (FIATARONE et al.1990; O treinamento de força também FISHAR et al.1991; apud MAZZEO et aumenta a massa e a força al.1998). muscular, equilíbrio dinâmico e durante os 10 últimos anos demonstram os níveis totais de atividade que o treinamento de força pode ser física. Todos esses benefícios implementado com sucesso e segurança podem resultar na diminuição do nas populações mais velhas. Até mesmo risco e os idosos frágeis e muito doentes podem conseqüentemente na melhoria se beneficiar e melhorar sua qualidade de da qualidade de vida dos idosos. vida. compensar - de ruim, de idosos, o declínio fraturas ósseas “movimento” não velocidade, de As planejamento um escadas, depressivos investigações de equilíbrio, subir sintomas adequados CONSIDERAÇÕES FINAIS que de potência O cientificamente e e científicas progressão programa de treinamento de força para adultos mais velhos é vital para que haja benefícios A debilidade e a atrofia muscular são provavelmente os parâmetros mais relevantes funcionalmente e reversíveis relacionados ao exercício nesta população. ótimos a partir dos exercícios de força (FLECK & KRAEMER, 1999). De acordo com as colocações apresentadas neste trabalho, parece evidente que o treinamento de força e na qualidade de vida dos indivíduos por potência muscular para o idoso é um meio eles orientados. Sendo o profissional de seguro e eficaz para o aumento da força e Educação Física o elemento final nesta da massa muscular, o que resulta numa cadeia de conhecimento (pois é ele o maior independência dessa população na responsável pela prescrição da carga de realização na treinamento para idosos sadios ou com diminuição do risco de quedas e demais restrições estáveis), o mesmo deverá efeitos atentar para os detalhes que envolvem das negativos tarefas do diárias; processo de envelhecimento. Assim sendo, cabe aos profissionais este aluno especial. Detalhes estes que foram apresentados ao longo do texto (ver que atuam na manutenção da saúde física FIATARONE et al. 1990; do idoso (profissional de Educação Física, KRAEMER, 1999) e que quando incluídos Médico e Fisioterapeuta) adequarem-se a no programa de treinamento de força esta nova realidade e, dessa forma, contribuem buscarem caminhos não apenas seguros, maximização dos efeitos positivos do mas também efetivos para a real melhora exercício físico na saúde do idoso. significativamente FLECK para & a REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS desportiva. São Paulo, v.04, p. 17-22, 1996 a. 1. Acsm. Prova de esforço e 7. Fiatarone, M. Physical activity and prescrição de exercícios. 5ª ed., functional independence in aging. Rio de Janeiro: Revinter, Research Quartely for Exercise 1995. 2. Aniansson, A. & Gustafsson, E. Physical training in elderly men with special reference and Sports. v. 67(3), p. 70, 1996. 8. Fiatarone, M. A. & Evans, W. J. to Exercise in the oldest old. 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