o que pode o corpo. - PUC-Rio

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Departamento de Direito
O QUE PODE O CORPO.
Aluna: Jessica Santos Antunes
Orientador: Mauricio Rocha de Albuquerque
Introduc
O presente trabalho visa enfrentar qual papel desempenha o corpo na filosofia
desenvolvida por Spinoza. Busca-se relacionar os conceitos utilizados em relação ao corpo e
as experiências atuais que este pode sofrer, indagando o que pode o corpo, do que ele é capaz
no contexto proposto pelo seu livro “Ética”.
Metodologia
A metodologia utilizada é, dentre os conceitos utilizados pelo próprio autor e suas
definições do corpo, analisar o que responderia a indagação que faz ele mesmo propõe no
Escólio da Proposição 2 da Parte III da Ética, "O que pode o corpo? ", qual submerge de sua
filosofia uma ideia de “estrutura” ou “fábrica” do corpo humano.
O conceito de corpo é formulado nas definições que iniciam a 2ª parte da Ética - A
natureza e a origem da mente - assim como após a Proposição 13, desta mesma parte. No
entanto, já no Apêndice, da Parte I da Ética, quando Spinoza afirma que "É assim que também
pasmam de ver a estrutura (fabrica) do corpo, e porque ignoram as causas de tão acabada obra
(tanta artis), concluem que ela esta disposta por parte divina e sobrenatural, e não
mecanicamente, de forma que as suas partes se não lesem mutuamente", alguns elementos
sobre a estrutura do corpo humano se encontram antecipados, como a causa do corpo e sua
composição.
Opta o autor em definir e conceituar primeiramente os corpos simples, em seguida
trata dos corpos compostos e, por fim, do corpo humano. Na parte inicial, afirma: "Por corpo
entendo um modo que exprime, de maneira certa e determinada, a essência de Deus, enquanto
esta é considerada como coisa extensa (Definição 1 - Parte II). Eis, o primeiro apontamento
do local que habita o corpo para Spinoza, entendendo o corpo como modo, sendo modo a
modificação da substância através de seus atributos, que exprime a essência de Deus. E logo
em seguida, na Definição 2 (Parte II), afirma que por essência entende por "aquilo sem o qual
a coisa não pode existir e nem ser concebida e vice-versa". Dessa forma, a expressão do que
faz existir e ser concebido Deus é o modo, que por conseguinte é o corpo.
Após as considerações sobre os corpos compostos, percebe-se que estas não revelam
de todo as características do corpo humano, nelas o autor, contudo, sinaliza as alterações
sensitivas que o corpo humano pode sofrer quando afetado por outro corpo. O que alerta para
a segunda potencialidade do corpo em Spinoza, o de ser afetado por outro corpo. Nessas
considerações, evidencia também a necessidade da interação, de integração de outros corpos
para a conservação saudável do corpo humano, como também alude à capacidade do corpo
humano de dispor e mover os corpos exteriores de acordo com sua conveniência. É nesse
momento, por estes postulados, que é apontado a ideia de individuação. Dessa maneira, ainda
que não suficientes, é possível perceber que apenas pela pressuposição de corpos compostos,
e a complexidade de ideias, é que se dá a definição de indivíduo, posto que é pela ocorrência
em um único corpo da união de vários outros corpos, que se caracteriza o indivíduo. "Quando
certo número de corpos da mesma ou de diversas grandezas são constrangidos pela ação de
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outros corpos a aplicar-se uns sobre os outros; ou, se eles se movem com o mesmo grau ou
com graus diferentes de rapidez, de tal maneira que comunicam entre si segundo uma relação
constante, diremos que esses corpos estão unidos entre si que, em conjunto, formam todos um
corpo, isto é, um indivíduo que se distingue dos outros por essa união de corpos." (Preposição
13, Definição, Parte II)
Após a demonstração de como se dá a individuação, Spinoza sinaliza, como dito, a
capacidade do corpo em ser afetado e, além disso, que o corpo humano pode ser afetado de
inúmeras maneiras. Aqui cabe um salto para que seja certamente compreendido, pois "Por
afeto entendo as afecções do corpo, pelas quais a potência de agir desse corpo é aumentada ou
diminuída, favorecida ou entravada, assim como as ideias dessas afecções. Quando, por
conseguinte, podemos ser a causa adequada de uma dessas afecções, por afeto entendo uma
ação; nos outros casos, uma paixão (Definição 3, Parte III). Assim, em terceiro lugar, pode o
corpo aumentar ou diminuir a potência de agir, por ser afetado.
Vê-se, portanto, que se afecções são o encontro dos corpos, “Em outras palavras, as
afecções do corpo são imagens que, na alma, se realizam como ideais afetivas ou sentimentos.
Assim, a relação originária da alma com o corpo e de ambos com o mundo é uma relação
afetiva” (Chauí, 2005: p. 59), é a alma que percebe essas afecções, pois ela é, como bem
afirma Spinoza, a ideia do corpo. Assim, ainda que haja uma autonomia entre corpo e mente,
conforme afirma, posto que o corpo não pode determinar a mente a pensar, nem a mente pode
determinar o corpo ao movimento ou o repouso ou a qualquer outra coisa, tem o corpo aqui
sua outra capacidade de levar idéias afetivas a mente.
É neste binômio e capacidade relacional, que conforme Chauí salienta, quanto mais
apto estiver o corpo para afetações múltiplas e simultâneas, mais a alma poderá se
compreender como poder de reflexão e atingir o sentido de si mesma pelo pensamento
(Chauí, 2005: p. 65-66). É por esta via que entende-se a importância do corpo para chegar-se
aos conceitos claros e distintos: " A mente humana é capaz de perceber muitas coisas e é tanto
mais capaz quanto maior for o número de maneiras pelas quais seu corpo pode ser arranjado."
(Preposição 14, Parte II). Em resumo, o corpo deve buscar a pluralidade de afecções para
aumentar sua potência de agir, importando em relevância a vida comum para alcance da
liberdade.
Objetivos
O principal objetivo foi em mostrar em diferentes passagens o espaço que Spinoza dá
ao corpo em sua filosofia, assim como, em medida, sua relação com a mente e portanto com a
liberdade do homem.
A conclusão se relaciona à divergência contemporânea para importância do corpo para
o conhecimento e a liberdade que pode atingir o homem.
Referência bibliografia:
SPINOZA, Benedictus de. Ethica/Ética. Edição bilíngue Latim-Português. Tradução
e Notas de Tomaz Tadeu. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
CHAUÍ, Marilena. Espinosa: uma filosofia da liberdade. São Paulo: Moderna, 2005.
MACHEREY, P., Introduction à 1'Ethique de Spinoza, La deuxil~me partie:
Ia réalité mentale. Paris, PUF, 1997.
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