228 DISTÚRBIOS DA ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR Rômulo Elias Roberto Elias O D O N T O L O G I A P A R A P A C I E N T E S C O M N e c e s s i d a d e s E s p e c i a i s Capítulo 13 ANATOMIA A articulação temporomandibular é uma ar- A cavidade mandibular ficara na parte ticulação que se encontra entre a parte es- anterior ao músculo auricular externo, camosa do osso temporal e o processo con- sendo limitada anteriormente pela ver- dilar da mandíbula, chamada de diartrose, tente posterior do tubérculo articular, lo- compreendida por dois tipos de articulação calizado na parte lateral da eminência sinovial - uma dobradiça e uma de desliza- articular e também, posteriormente, pela mento, sendo formada pelo disco articular, parede timpânica ou pós-glenoide. O teto processo condilar da mandíbula, ligamen- será formado por uma lâmina óssea fina, tos e a parte escamosa, ou seja, o tubérculo com mais ou menos 1 mm, separando os articular do osso temporal. O côndilo man- lobos temporais e a eminência articular dibular tem uma morfologia muito variada por duas paredes ou vertentes - a ante- em relação à forma e às medidas do côndilo rior, sendo mais rasa, e a posterior, sendo humano sendo, no entanto, sempre conve- mais íngreme com variações acentuadas. xa em todos os planos. No plano sagital, o A união dessas duas vertentes formara a côndilo varia em muito poucos graus. crista articular. Se avaliarmos frontalmente, notaremos Na parte escamosa do temporal, existe duas proeminências nas suas extremida- uma superfície avascular composta de des - o polo lateral e o polo medial. Entre tecido conectivo fibroso em vez de car- esses dois polos há uma ligeira concavida- tilagem hialina. As principais áreas de de chamada fóvea pterigóidea, aonde irão suporte de carga localizam-se na vista se inserir as fibras do músculo pterigoide lateral da parte escamosa, na cabeça lateral inferior e a parte superior. A super- da mandíbula e no disco articular. O fície funcional da articulação corresponde denso tecido conectivo fibroso é mais à parte anterior do teto da fossa mandibu- espesso nas áreas de suporte de car- lar, à vertente posterior do tubérculo e á ga. Anteriormente as fibras escamosas face superior e anterior do côndilo, estan- do músculo temporal se relacionam com do todas essas revestidas por tecido fibro- a eminência articular condilar, em ou- so denso que as protege de atrito durante tra parte intermediária dentro da fossa os movimentos mandibulares. mandibular e posteriormente na região 229 230 O D O N T O L O G I A P A R A P A C I E N T E S C O M N e c e s s i d a d e s E s p e c i a i s timpânica. A eminência articular é uma Sabe-se que os ligamentos são meios de forte proeminência óssea na base do união dessa articulação e que cada um processo zigomático. possui uma extrema importância para o funcionamento de toda a ATM. Eles são O tubérculo articular fornecerá fixação compostos pela cápsula articular ou li- para a cápsula articular e para o liga- gamento capsular, ligamento lateral, mento lateral. A fossa mandibular é uma ligamentos esfenomandibular e estilo- depressão na qual se localiza o processo mandibular, que pertencem ao sistema condilar da mandíbula. Superiormente a mastigatório, ligamentos colaterais, liga- esta fina lâmina de osso encontramos a mento do disco mamelar, pela zona bila- fossa média do crânio. A parte timpâni- minar e pelo disco articular. ca é uma lâmina vertical localizada anteriormente ao meato acústico externo. O A cápsula articular é uma membrana tubérculo articular posterior irá ser uma fina, resistente e relativamente laxa que extensão inferior da parte escamosa do circunda completamente a superfície temporal, formando a face posterior da articular do osso temporal e do proces- fossa mandibular e fornecendo fixação so condilar da mandíbula, recobrindo para a cápsula articular. toda a articulação, se inserindo superiormente ao longo de toda a circunfe- Em relação à localização das estruturas rência da fossa mandibular e tubérculo ósseas, temos visto que a posição do articular e, inferiormente ,ao longo do côndilo em relação à eminência articular colo do côndilo no nível da fóvea pteri- tem sido um assunto bastante discutido góidea. A sua camada externa é forma- há anos. De um ponto de vista estrita- da por tecido conjuntivo rico em fibras mente estático, a posição do disco de- de colágeno. A camada interna é reves- pende da forma da fossa, da inclinação tida por células endoteliais específicas da eminência e da forma do côndilo. Nos que formam a estrutura da membrana anos 70, localizou-se o côndilo em uma sinovial. Os tecidos sinoviais ricamente posição geometricamente cêntrica na vascularizados e inervados segregam fossa. Já as definições atuais orientam o líquido sinovial e fornecem nutrientes essa relação (côndilo-disco-fossa) para e capacidade imunológica aos tecidos conceitos funcionais. intra-articulares. Capítulo 13 Do ponto de vista histopatológico, deve- feixe mais profundo estende-se do tubér- se realçar a importância do líquido si- culo e do arco zigomático até o polo late- novial e que alterações do seu fluxo ou ral do côndilo e parte posterior do disco. comprometimento do seu metabolismo Devido à sua posição, alguns movimentos bioquímico podem predispor os tecidos são limitados do complexo côndilo/disco. articulares a malformações adaptativas Suas fibras mais superficiais impedem o e degenerativas. Uma propriedade bio- abaixamento excessivo do côndilo, impe- química relevante neste processo é a dindo a abertura bucal excessiva; já as viscosidade necessária para a ação lu- fibras mais profundas impedem o movi- brificadora das superfícies articulares, mento posterior do disco e do côndilo. possibilitando os movimentos de deslizamento com o mínimo de fricção, proporcionada pela presença de ácido hialurônico. A membrana sinovial é constituída por duas camadas: uma celular, que contém vasos sanguíneos, fibroblastos, macrófagos, mastócitos, células adiposas e fibras elásticas, que se misturam com a MÚSCULOS DA MASTIGAÇÃO IMPORTANTES PARA O DESENVOLVIMENTO DA ATM Músculo Temporal: Tem origem na fossa temporal e face profunda da fáscia temporal, dirigindo-se para baixo e para fren- cápsula articular; e outra camada forma- te, passa por baixo do arco zigomático e da por tecido conjuntivo fibroso laxo que se insere na apófise coronoide e no bor- se serve de apoio para a camada celular. do anterior do ramo da mandíbula quase Vale lembrar que umas das funções da até o terceiro molar. Tem função de ele- cápsula articular é a propriocepção. var a mandíbula (fechamento da boca) e a parte posterior de retrair a mandíbula. O ligamento lateral é formado por uma É inervado pelo ramo anterior e posterior camada superficial em forma de leque do temporal profundo (ramo mandibular e orientado obliquamente para baixo e do trigêmeo). D O Z E R O A O S D E Z O I T O A N O S para trás e outra mais profunda em direção mais horizontal. O feixe mais super- Músculo Masseter: É um músculo espesso ficial estende-se do tubérculo articular e e quadrilátero constituído por dois feixes; do arco zigomático até à parte externa e o feixe profundo com origem no terço o bordo posterior do colo do côndilo; o posterior do bordo inferior e toda a face 231 232 O D O N T O L O G I A P A R A P A C I E N T E S C O M N e c e s s i d a d e s E s p e c i a i s medial do arco zigomático, dirigindo-se Músculo Pterigoideo Lateral: É um músculo para frente e para baixo para se inserir grosso que se estende praticamente ho- na metade superior do ramo e face lateral rizontalmente entre a fossa infra-tempo- do processo coronoide. Já o feixe super- ral e o côndilo, também possuindo dois ficial tem origem no processo zigomático feixes- um chamado feixe superior, com da maxila, dois terços anteriores do bordo origem na parte inferior da face lateral da inferior do processo zigomático, dirigindo- grande asa do esfenoide e na crista in- -se para baixo e para trás para se inserir fra-temporal, e o feixe inferior que se ori- no ângulo e na metade inferior da face ex- gina na face lateral da lâmina pterigoide terna do ramo da mandíbula. Sua função lateral do esfenoide. Ambos irão se diri- é de elevar a mandíbula e é inervado pelo gir para trás, para fora e horizontalmente nervo massetérico. para se unir na parte anterior do colo do côndilo e margem anterior do disco. Sua Músculo Pterigoideo Medial: É um músculo função é de abertura bucal, protrusão e espesso e quadrilátero, que possui dois lateralidade, sendo inervado pelo nervo feixes, ocupando o espaço da face in- pterigoideo lateral. terna do ramo da mandíbula por baixo do masseter. O feixe profundo se origi- Músculo Supraioideo: É formado por quatro na na face medial da lâmina do pteri- músculos que se situam entre a mandíbu- goide lateral do esfenoide e processo la e o osso hioide, com uma grande par- piramidal do palatino; já o feixe super- ticipação no movimento de abaixamento ficial se origina na face lateral do pro- mandibular. cesso piramidal do palatino e na tuberosidade maxilar. Esses dois feixes se Entre eles podemos citar: músculo digás- direcionam para baixo, para fora e para trico, formado por dois feixes: o ventre trás e se encontram na parte inferior e anterior, com origem em uma depressão posterior da superfície medial do ramo no lado interno da mandíbula junto à e ângulo da mandíbula. Sua função é sínfise, com direção para baixo e para o fechamento bucal e é inervado pelo trás para se unir ao ventre posterior, nervo pterigoideo medial. que tem origem na apófise mastoide do temporal, com sua direção voltada para baixo e para frente unindo-se ao Capítulo 13 ventre anterior pelo tendão, se fixando VASCULARIZAÇÃO E INERVAÇÃO DA ATM no corpo e no grande corno do hioide. O músculo miloioideo se insere na linha A vascularização da articulação temporo- miloioidea na face interna da mandíbu- mandibular é basicamente fornecida pela la, com sua direção voltada para baixo e artéria maxilar e pela artéria temporal su- para dentro, se unindo no corpo do hioi- perficial em razão de serem os ramos mais de. Na linha média ele irá se juntar com importantes da carótida externa, através o contralateral formando o pavimento da dos ramos auricular profundo, meníngea cavidade bucal. média, temporal posterior, auricular posterior e occipital. A inervação é fornecida Já o músculo genioioideo é um músculo por todos os ramos da divisão mandibu- com características de ser estreito com lar do trigêmeo, ou seja, principalmente origem na face interna da sínfise men- pelos nervos auriculotemporal, masseté- toniana, com sua direção voltada para rico, temporal profundo e pterigoideo. No baixo e para trás para pode se unir na espaço ou fossa retromandibular, o nervo face anterior do osso hioide, ficando em auriculotemporal é responsável pela sen- contato com o oposto. O músculo es- sibilidade da articulação e os outros ra- tiloioideo tem sua origem na superfície mos desviam-se para inervar o tímpano posterior e lateral do processo estiloide, e a parede anterior do conduto auditivo com sua direção voltada para baixo e externo. O estímulo intenso e contínuo de para frente, para poder se unir no corpo um nervo por meio de sinais no núcleo do hioide. central, junto aos neurônios intimamente relacionados com o nervo estimulado, irá Músculo Infraioideo: Conjunto de quatro produzir uma dor refletida, que é um fenô- músculos localizados abaixo do osso meno central com um estímulo de origem hioide, que auxiliam na abertura forçada periférica. Como exemplo, a dor intensa da boca, fixando o hioide para permitir em um dente na mandíbula (zona do ner- uma maior ação dos músculos supra-hi- vo dental inferior) pode levar à trigemial- óideos. Os quatro músculos que citamos gia. Isto explica, sob o ponto de vista da acima são: esternoioideo, esternotireoi- neurologia, dores na região do trigêmeo deo, tiroioideo e omoioideo. oriundas na ATM, que pode confundir o D O Z E R O A O S D E Z O I T O A N O S diagnóstico correto. 233 234 ETIOLOGIA DAS DISFUNÇÕES TEMPOROMANDIBULARES O D O N T O L O G I A P A R A P A C I E N T E S C O M N e c e s s i d a d e s E s p e c i a i s As disfunções temporomandibulares apre- Alguns pesquisadores acreditam que to- sentam um caráter multifatorial pois ainda das as teorias propostas possuem uma existe uma concordância sobre a etiologia base hipotética e não têm necessaria- de uma disfunção da ATM e vários pesqui- mente qualquer significado clínico, como sadores tentam encontrar origens para jus- diz Zarb e Mohl22. Já Schiffman, Fricton tificar essa patologia devido à mesma estar e Haley18 ressaltam que uma teoria não associada à hiperatividade muscular, trau- pode explicar adequadamente a ocor- ma, estresse, emocional, maloclusão, além rência de todas estas disfunções. A ori- de inúmeros outros fatores predisponentes, gem multifatorial das DTMs é citada por precipitantes ou perpetuantes dessa con- muitos pesquisadores como Bianchini3 e dição. Há teorias que explicam a etiologia os mesmos enfatizam a maloclusão, o es- da DTM, como a do deslocamento mecâ- tresse e os hábitos parafuncionais como nico, acreditando-se que ocorra um deslo- fatores de risco importantes. camento condilar decorrente de problemas oclusais; a neuromuscular propõe que a O pesquisador Okeson15 cita que os fa- maloclusão traz como consequência hábi- tores etiológicos de uma DTM podem ser tos orais nocivos alterando a musculatura devido a um trauma (direto e indireto), al- ou a ATM além de produzirem mudanças terações anatômicas, alterações fisiopato- na oclusão. Já a psicofisiológica acredita lógicas, como fatores sistêmicos ou locais que o principal fator causador das DTMs e alterações psicossociais. O trauma pode é o estresse ou outros desajustes emocio- ocorrer quando há uma força aplicada nas nais, sendo que os hábitos parafuncionais estruturas anatômicas que ultrapassa a são consequências do estado emocional carga funcional normal. Quanto maior for a do indivíduo, que levam à hiperatividade duração e a intensidade desta força, pior muscular e podem causar DTM; a psicoló- será o trauma resultante. O autor divide os gica atribui a DTM a uma origem psicológi- traumas em três tipos: direto, que é quan- ca, sem haver uma relação importante com do acontece um golpe súbito e isolado nas as disfunções orgânicas. estruturas, podendo aparecer inflamação Capítulo 13 e perda da função; indireto, quando ocor- DTM podem apresentar características re um golpe súbito, sem contato direto en- de personalidade que tornem as situa- tre as estruturas envolvidas, como no caso ções da vida complicadas. Geralmente, de trauma por aceleração-desaceleração; esses indivíduos são mais ansiosos e e os microtraumas, que ocorrem devido às podem possuir outras desordens rela- forças repetitivas e prolongadas durante cionadas com o estresse. De Boever 5 um determinado tempo, como os hábitos faz algumas referências sobre as DTMs parafuncionais. Outros fatores que podem que aparecem devido à profissão do agravar o quadro da DTM são os atos indivíduo exercer uma força maior so- de comer, bocejar, gritar ou abrir a boca bre a articulação temporomandibular; já exageradamente, quando realizados com autores como Schiffman, Fricton e Ha- muito estiramento ou compressão e o bru- ley 18 acreditam que os hábitos parafun- xismo. Os fatores etiológicos anatômicos, cionais são fatores etiológicos para al- como desproporções e malformações es- guns indivíduos, sendo que os mesmos queléticas, podem provocar deslocamen- podem desencadear ou agravar esta to de componentes articulares. Há referên- patologia. Okeson 15 sugere que a com- cias de que a ingremidade da eminência binação de dois aspectos como a hiper- articular possa ser um fator etiológico da mobilidade articular e uma parafunção DTM, além dos efeitos da radiação e das podem ser fatores muito predisponen- doenças sistêmicas como desordens de- tes a uma patologia na ATM. Com isso, generativas, infecciosas, metabólicas e em virtude de toda esta complexidade vasculares, também podem influenciar no etiológica e da variedade dos sinais e aparecimento das DTMs. sintomas que podem, genericamente, D O Z E R O A O S D E Z O I T O A N O S também representar outras patologias, Muito se discute e se comenta que os o reconhecimento e a diferenciação das fatores etiológicos psicossociais podem disfunções temporomandibulares po- desencadear ou manter a DTM em al- dem apresentar-se de forma não muito guns indivíduos e que os pacientes com clara ao profissional. 235 236 O D O N T O L O G I A P A R A P A C I E N T E S C O M N e c e s s i d a d e s E s p e c i a i s V I S T A Ligamento Lateral (temporomandibular) Cápsula Articular L A T E R A L Ligamento Esfenomandibular Processo Estilóide Ligamento Estilomandibular Artéria Meníngea Média V I S T A Cápsula Articular Nervo Mandibular e Gânglio Ótico Nervo Auriculotemporal Artéria Maxilar M E D I A L Nervo Alveolar Inferior Nervo Lingual Ligamento Esfenomandibular Artéria e Nervo Milo-hióideos Ligamento Estilomandibular 01 Vista lateral ATM. Capítulo 13 02 Vista óssea da articulação temporomandibular. D O Z E R O A O S D E Z O I T O A N O S Fossa Osso Temporal Disco Côndilo Músculo Masséter Mandíbula 03 Esquema topográfico região condilar. 237 238 LEMBRAMOS O D O N T O L O G I A P A R A P A C I E N T E S C O M N e c e s s i d a d e s E s p e c i a i s SINAIS E SINTOMAS DA DISFUNÇÃO DAS ATMS NÃO DEIXAR DE FAZER AS SEGUINTES PER- PODEM INCLUIR GUNTAS NA ANAMNESE 25 Dificuldade para abrir a boca de manhã, ao acordar; Dores no maxilar e no osso da bochecha; Sentir dores ou cansaço no maxilar ao comer; Dores ou zumbido nos ouvidos; Dores de cabeça; Dores atrás dos olhos; Alterações na mordida; Ruídos na articulação do maxilar como estalos ou cliques ou chiados ao abrir e fechar a boca; Travamento do maxilar quando fechado; Deslocamento do maxilar quando aberto; O maxilar não se movimenta de um lado para o outro e nem para frente corretamente; Dores quando a área das ATMs ou os músculos do maxilar são tocados Inchaço ao redor das ATMs. Origem do problema; Duração, caráter e localização de qualquer dor que esteja sentindo; Consciência de que seu maxilar esteja sendo cerrado ou triturado durante a noite e/ou dia; Se você acorda de manhã com o maxilar rígido; Sintomas que se intensificam quando está sob estado de maior estresse; Histórico de artrite em outra parte do corpo; Histórico familiar de algum problema similar; Histórico de traumas no maxilar, na cabeça ou no pescoço; Ruídos nas articulações (como cliques, estalos ou chiados); Limitações nos movimentos do maxilar inferior; Qualquer desconforto relacionado; Tratamentos atuais ou anteriores. Capítulo 13 ALERTAMOS MECANISMO DA CREPITAÇÃO LUXAÇÃO - REDUÇÃO ESPONTÂNEA O estalo ou click da articulação ouvido Na abertura máxima da boca, o disco pelo paciente, e às vezes pelo exami- interarticular se interpõe entre o côndilo nador, é uma crepitação articular pouco e a eminência articular. Quando ultra- esclarecida. Surge e desaparece es- passa este limite, o côndilo fica luxado pontaneamente em 50% da população. e o paciente fica de boca aberta, não Ocorre por uma descoordenação entre conseguindo fechá-la. É preciso que se o côndilo e o disco durante o movimento faça a redução manual ou cirurgia. En- de translação, no qual perdem por um tretanto, em 35% da população geral, momento a sua relação de alinhamento. normalmente ocorre a luxação com a Em casos mais severos de bloqueio da redução espontânea sem que se perce- ATM, o disco articular pode estar des- ba. Dependendo de a cápsula ser mais locado em direção anterior ou dobrado ou menos frouxa e de maior ou menor sobre si mesmo, como demonstram ar- proeminência da eminência articular, o trografias feitas com radiografias com- disco, nesta passagem, pode ou não putadorizadas ou na ressonância mag- ser traumatizado, resultando em dor. nética dinâmica. A presença do “estalo” na articulação sem acompanhamento de bloqueio ou de dor não tem o menor significado patológico uma vez que não produz disfunção que justifique tratamento mais enérgico. É muito frequente D O Z E R O A O S D E Z O I T O A N O S como o é na coluna cervical durante os seus movimentos. 239 240 O D O N T O L O G I A P A R A P A C I E N T E S C O M N e c e s s i d a d e s E s p e c i a i s ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR - Posição fechada normal. Osso do maxilar é separado do crânico por um disco flexível que age como um amortecedor quando você mastiga, fala e engole. ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR - Posição aberta normal. Disco permanece no lugar quando o maxilar está em uso. ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR - Posição anormal. Disco é puxado para frente quando o maxiliar está em uso, obrigando as estruturas ósseas a atritarem entre si. Capítulo 13 D O Z E R O A O S D E Z O I T O A N O S Placas relaxantes ou aparelhos noturnos são geralmente usados em seus dentes para o tratamento das disfunções das ATMs. 04 Esquema ilustrativo da ATM. 241 242 TRATAMENTO DAS DISFUNÇÕES TEMPOROMANDIBULARES O D O N T O L O G I A P A R A P A C I E N T E S C O M N e c e s s i d a d e s “O tratamento imediato da dor na sua fase fatores fundamentais para um possível aguda é eminentemente conservador, e diagnostico e tratamento correto. Por- deve ser sempre considerado e praticado tanto, o tratamento de DTM é voltado antes de qualquer outro mais agressivo, tanto para alívio da sintomatologia como não importa a etiologia. O tratamento con- para identificação dos fatores predis- servador consiste em repousar a articula- ponentes, iniciadores e perpetuantes. ção sem imobilizá-la”. O importante, e lógico, é uma abordagem inicial voltada para a disfunção e As alternativas de tratamento sempre dor e nenhum tratamento invasivo como devem ser baseadas em evidências cirurgias, ortodontias, próteses e apa- científicas e tratamentos conservadores relhos ou dispositivos interolcusais co- pouco invasivos são sempre a primei- nhecidos como placas de uso contínuo, ra escolha, pois o arsenal terapêutico encontram respaldo científico como te- descrito na literatura para tratamento rapia inicial para as disfunções tempo- das disfunções temporomandibulares romandibulares e para a dor orofacial. é bastante diverso, incluindo aconse- E s p e c i a i s lhamento para mudança de hábitos Um aspecto bastante importante é que nocivos, fisioterapia, modificações re- as dores manifestas no complexo crâ- versíveis do padrão oclusal, como dis- nio-cérvico-orofacial nem sempre serão positivos interoclusais, Ortodontia, Re- originárias nas estruturas do aparelho da abilitação oral e Cirurgia. Okeson cita mastigação, sendo formada pelos dentes, que vários fatores devem ser conside- músculos e ATM. Muito embora as dores rados para o tratamento de DTM, onde orofaciais mais frequentes sejam as de o padrão oclusal (relação das arcadas origem dentária, deve-se tomar muito cui- dentárias), trauma, estresse emocional dado no diagnóstico diferencial das dores e atividade parafuncional (hábitos no- que se manifestam na região da cabeça, civos como bruxismo, entre outros) são do pescoço e da face. Capítulo 13 Uma opção bastante utilizada por especialistas é o tratamento dividido em duas partes: diurno e/ou noturno, onde o tratamento diurno, dependendo do tipo de disfunção, vai desde o comportamental cognitivo, correção da postura de boca, hábitos parafuncionais, terapia muscular, desativação dos pontos gatilhos existentes na musculatura da mastigação, avaliação da mordida para verificação de interferências oclusais, até um tratamento oclusal. Já o tratamento noturno, se necessário, é o uso de uma placa estabilizadora, ou seja, um dispositivo intra-oral que é usado para proteger os dentes, os músculos e a ATM, e sua indicação deve ser realmente precisa, selecionando conforme a disfunção que o paciente apresenta. PLACA ESTABILIZADORA A placa estabilizadora é um dispositivo interoclusal rígido e removível, onde é importante salientar que deve ser rígida, confeccionada em acrílico, não podendo ser macia (de silicone), pois esta aumenta a parafunção do paciente, piorando assim, o seu quadro clínico, levando o paciente perpetuar a sua disfunção da ATM, recidivando frequentemente os sintomas. A mesma necessita de ajustes sucessivos e contínuos, devolvendo contatos bilaterais e simultâneos e tem suas finalidades de distribuir as forças oclusais, promover estabilidade oclusal, proteger os dentes de cargas que venham a ser traumáticas, reduzir desgaste dental nos pacientes que rangem os dentes à noite, no caso do bruxismo, e estabilizar os dentes que não possuem os seus antagonistas. D O Z E R O A O S D E Z O I T O A N O S 243 244 TIPOS Vários autores relacionam diversos ti- O D O N T O L O G I A P A R A P A C I E N T E S C O M pos de placas oclusais e estabelecem N e c e s s i d a d e s classificações segundo a finalidade e as características das mesmas. Procurando simplificar a compreensão desta afirmação relacionaremos abaixo a classificação estabelecida por Dawson, com pequenas modificações: E s p e c i a i s 05 Placa estabilizadora DTM. 1.Placa Permissiva: Os côndilos ficam livres para excursionar sem restrições de movimento. 1.1. Placa Miorrelaxante: (estabilizadora) cobertura total e cobertura parcial (anterior); 2. Placa Directiva: tem por objetivo posicionar a mandíbula em uma relação específica com a maxila, alinhando côndilo e disco. Capítulo 13 PRINCÍPIO DE AÇÃO ACUPUNTURA A razão da eficiência na redução de sinto- Uma alternativa complementar para o possí- mas não está totalmente clara, mas várias vel tratamento das disfunções, evitando cau- teorias foram propostas para tentar expli- sar desconforto e perda do sono é a famosa car seu mecanismo de ação. terapia com acupuntura que, diferentemente das placas estabilizadoras, possui a vanta- Clarck enumera 5 teorias que explicam o me- gem de proporcionar um sono melhor e uma canismo de ação das placas interoclusais: melhor qualidade de vida; além de aliviar a Teoria do desengrenamento oclusal, que proporciona ao paciente, através da placa, uma oclusão “ideal”; Teoria da restauração da dimensão vertical, que devolveria ao paciente a dimensão vertical de oclusão (DVO) que foi perdida, reduzindo ou eliminando todas as atividades musculares anormais; Teoria do realinhamento maxilomandibular, que preconiza o alinhamento da posição mandibular em relação à maxila através de placas interoclusais baseando-se em detalhes anatômicos que orientariam a montagem dos modelos em articulador; Teoria do reposicionamento da ATM para uma posição determinada através de imaginologia; Teoria da consciência cognitiva, que se baseia no conceito de que a presença de qualquer tipo de aparelho interoclusal na boca alerta o paciente constantemente a alterar os comportamentos anormais ou danosos ao sistema estomatognático. dor, a técnica se vale de pontos que reduzem o estresse e a ansiedade, condições que agravam a DTM e trazem um efeito muito semelhante ao da placa. A acupuntura é uma técnica de tratamento da Medicina tradicional chinesa que consiste no estímulo de pontos determinados da superfície da pele, denominados “meridianos”, que são canais de energia, onde se localizam pontos que deverão ser estimulados tanto para sedação como para tonificação, com o objetivo de equilibrar a energia vital do ser humano. Podem ser utilizados neste processo agulhas, ventosas, cromoterapia, auriculoterapia, massagens, e até o calor proveniente D O Z E R O A O S D E Z O I T O A N O S da queima da moxa, preparada a partir da erva artemísia. Esta técnica, através do seu mecanismo de analgesia, colabora para a diminuição do consumo de medicamentos, assim como analgésicos e anti-inflamatórios. Também é um ótimo auxílio no alívio da dor pós-operatória em cirurgias odontológicas assim como as de terceiros molares inclusos. 245 ISBN 978-85-60842-68-1