UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA ENG 008 – Fenômenos de Transporte I A – Profª Fátima Lopes ________________________________________________________________________________________________ Tensão em um ponto A descrição do campo de tensões é desenvolvida a partir da análise da tensão em um ponto. Considerando um elemento de área como indicado a seguir. δA , no ponto C, sobre o qual atua a força δF A tensão em um ponto é definida por: Tensão = lim δ A →0 δF δA (1) δA y δF c x z A grandeza dé δA é a área do elemento e a direção é normal à superfície. Para definir a tensão é necessário avaliar a razão de dois vetores O vetor δF e δA . δA pode ser escrito: δA = δA x i + δA y j + δA z k y O elemento de área o elemento ABC. B 0 δA é A x C z 47 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA ENG 008 – Fenômenos de Transporte I A – Profª Fátima Lopes ________________________________________________________________________________________________ y δA y δA δA x x δA z z δA x = componente x de δA e é a projeção de δA sobre o eixo x. Em grandeza é a projeção de ABC sobre o plano yz (área OBC), isto é o plano perpendicular ao eixo x. Similarmente acha-se O vetor δA y e δA z . δF por sua vez pode ser representado nas suas componentes. δF = δFx i + δFy j + δFz k Para definir a tensão em um ponto, podemos considerar as componentes e δFz da força δF no ponto C atuando sobre as componentes δA x , δA y δFx , δFy e δAz da área A no ponto C. Então para definir o campo tensorial, a equação (1) é substituída por uma série de nove equações. Notação: τij : a tensão atua sobre um plano i na direção j. τij = lim δ Ai → 0 ou τxy = lim δ Ax → 0 δ Fj δ Ai δ Fy δ Ax Especificando as nove componentes do campo de tensões: 48 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA ENG 008 – Fenômenos de Transporte I A – Profª Fátima Lopes ________________________________________________________________________________________________ σ xx τ yx τ zx onde: τ xy τ xz τ yz σ zz σ yy τzy σ = tensão normal τ = tensão cisalhante σ yy y τ yz ∆y τ yx τ zy τ zx σ zz τ xy τ xz ∆z σ xx x ∆x z Revisão: Diádicas e Tensores Para os vetores a e b a = BT [a] b = [b]T B e a b = BT [a] [b]T B a 1 a b = BT a2 a 3 [b1 b 2 b 3 ] B a 1 b1 ab=B a b 2 1 a 3 b1 T a1 b 2 a 2 b2 a3 b2 a1 b 3 a 2 b3 B a 3 b3 a b = BT [a b] B Os termos da matriz [a b] denominam-se as “componentes” da diádica e a matriz se chama “matriz das componentes”. 49 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA ENG 008 – Fenômenos de Transporte I A – Profª Fátima Lopes ________________________________________________________________________________________________ ab= ab= ab [e1 e 2 e3 ] [e1 e 2 e3 ] = a1 b1 e1 e1 a 1 b1 a b 2 1 a 3 b1 a1 b3 a 2 b3 a 3 b 3 a1 b 2 a2 b2 a 3 b2 a 1 b1 e1 a b e 2 1 1 a 3 b1 e1 a1 b2 e2 a 2 b2 e2 a3 b2 e2 + a 1 b 2 e1 e 2 e1 e 2 e 3 a 1 b3 e3 a 2 b 3 e 3 a 3 b 3 e3 + a 1 b 3 e1 e 3 + a 2 b1 e 2 e1 + a 2 b2 e2 e2 + a 2 b3 e 2 e 3 a 3 b1 e 3 e1 + + a 3 b3 e 3 e 3 a3 b 2 e3 e2 + Esta é a chamada forma nonionica da diádica a b. Em termos de notação tensorial cartesiana, podemos escrever: a b = a i b j ei e j Em geral representamos por D D = Dij e i e j D = B T onde [D] B [D] é a matriz dos componentes Dij notação matricial Desenvolvendo, temos: D = [e1 e2 e3 ] D = [e1 e2 e3 ] Definindo: D1 = [D11 e1 D 2 = [D 21 e1 D3 = [D31 e1 D12 e 2 D 22 e 2 D32 e 2 D11 D 21 D31 D11 e1 D e 21 1 D31 e1 D12 D 22 D32 D13 e1 D 23 e 2 D33 e 3 D12 e 2 D 22 e 2 D32 e 2 D13 e 3 D 23 e 3 D33 e3 D13 e3 ] D 23 e 3 ] D33 e3 ] Podemos escrever: 50 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA ENG 008 – Fenômenos de Transporte I A – Profª Fátima Lopes ________________________________________________________________________________________________ D = [e1 e 2 e3 ] D = [e1 D1 + D1 D 2 D3 e2 D 2 + e3 D 3 ] e, finalmente, na forma nonionica: D = D11 e1 e1 + D12 e1 e 2 + D13 e1 e3 + D 21 e 2 e1 + D 22 e 2 e 2 + D 23 e 2 e3 + D31 e3 e1 + D32 e3 e2 + D33 e3 e 3 Forças de campo e forças de superfície: As forças de campo são todas as forças externas que atuam sobre um dado corpo sem contato físico. Por exemplo, a força devido a ação da gravidade. As forças de campo também chamadas forças de corpo são usualmente expressas por unidade de massa do corpo em que atua. As forças de superfície, por outro lado, incluem as forças que são aplicadas sobre o contorno de um corpo por suas vizinhanças, através de contato direto. Exemplo: força de pressão e tensão de cisalhamento. Para estudar as forças de superfície, seja um elemento de área δA da superfície de um corpo no qua l está atuando uma força de superfície δF como indicado na figura que se segue: δF δF δF n δA δF s δA (a) (b) Forças de superfície: tangenciais e normais 51 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA ENG 008 – Fenômenos de Transporte I A – Profª Fátima Lopes ________________________________________________________________________________________________ A força δF pode ser decomposta em uma componente normal ao elemento de superfície considerado, δF n e outra tangencial a este mesmo elemento de superfície, δ Fs . A tensão normal pelos seguintes limites: σnn e a tensão de cisalhamento num ponto são agora definidas σ nn = lim δA → 0 τss = lim δA→0 δ Fn d Fn = δA dA δ Fs d Fs = δA dA Então, σ nn e τss são na verdade componentes de força por unidade de área, em um dado ponto do corpo. Uma notação conveniente para as tensões será agora apresentada e discutida com o auxílio da figura que se segue, onde é mostrado um elemento de fluido na forma de um paralelepípedo retangular. σ zz z τ zy τ zx σ yy τ yx τ yz τ xy τ xz τ xz τ xy σ xx τ zy x σ xx τ yz τ yx τ zx σ yy y σ zz Tensões normais e de cisalhamento 52 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA ENG 008 – Fenômenos de Transporte I A – Profª Fátima Lopes ________________________________________________________________________________________________ O índice duplo tem sido utilizado para identificar as tensões. Genericamente tem-se τ ij . O primeiro índice indica a direção normal ao plano em que a tensão atua. O segundo índice indica a direção própria de tensão. Assim, τ yx indica uma componente do tensor tensão de cisalhamento, que atua num plano perpendicular ao eixo y (plano xz) na direção x. A tensão normal σ nn tem índice repetido pois a direção da normal ao plano sobre o qual a tensão atua e a própria direção da tensão são colineares, ou seja, a direção é a mesma. Por que definir o conceito de tensão? Sabe-se intuitivamente que forças aplicadas na superfície de um meio são transmitidas de alguma maneira através desse meio. O problema é de que maneira essas forças são transmitidas. Usando o conceito de tensão esta ação pode ser perfeitamente entendida. Deste modo, se a distribuição de tensão em um meio é conhecida, pode-se perfeitamente descrever a maneira pela qual a força é transmitida através do meio. Tensão em um ponto – pressão: Foi investigado até agora a relação entre a tensão em qualquer interface de um ponto com a tensão em um conjunto de interfaces ortogonais do ponto (figura anterior). Usando a lei de Newton e tomando o limite para o elemento de fluido tendendo a zero, pode-se chegar a relação que deve existir para a tensão em um ponto. Será considerado inicialmente o caso mais simples de fluidos estacionários ou em movimento uniforme. Uma vez que fluidos se movam sob a ação de tensões de cisalhamento, um fluido estacionário deve estar completamente livre deste tipo de tensão. No caso de movimento uniforme, como a velocidade é constante, a sua variação em qualquer direção d V d n é nula, ou seja, a taxa de deformação é nula e evidentemente a tensão de cisalhamento também será nula. ( (Ver caracterização de fluido: ) τ = µ D) 53 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA ENG 008 – Fenômenos de Transporte I A – Profª Fátima Lopes ________________________________________________________________________________________________ y σ nn α α ds σ xx dy x σ zz z dz dx σ yy γ (dx dy dz)/2 Considere o volume infinitesimal de fluido representado na figura acima, supondo que a única força de campo que atua é a força devido ao campo gravitacional. O elemento de fluido está estático ou em movimento uniforme. Efetuando-se o balanço de força tem-se: Na direção x − σ xx dy dz + σ nn dz ds cos α = 0 Como cos α = dy , vem: ds σ xx = σ nn Na direção y − σ yy dx dz + σ nn dz ds sen α − ρ g dx dy dz =0 2 Como sen α = dx , dividindo por dx dz, vem: ds − σ yy + σ nn − ρ g No limite, q uando dy → 0, tem-se dy =0 2 σ yy = σ nn Então σnn = σ xx = σ yy Assim, podemos concluir que em um fluido estacionário ou movendo-se com velocidade uniforme, a tensão em um ponto é independente da direção, isto é, é uma grandeza escalar. Esta grandeza é equivalente ao negativo da pressão termodinâmica. 54 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA ENG 008 – Fenômenos de Transporte I A – Profª Fátima Lopes ________________________________________________________________________________________________ O mesmo resultado é obtido se considerarmos um elemento de fluido com viscosidade nula, em escoamento. No caso de fluido viscoso em escoamento os efeitos viscosos são levados em consideração por causa das tensões de cisalhamento. Assim, quando os efeitos viscosos são significativos, a tensão deixa de ser um escalar como nos dois primeiros casos e passa a ser uma grandeza tensorial. Os nove componentes escalares do tensor tensão são geralmente indicados numa matriz onde o primeiro subscrito corresponde a uma dada linha e o segundo subscrito a uma dada coluna. σ xx τ xy τ xz τij = τ yx σ yy τ yz τ zx τzy σ zz Propriedade importante do tensor tensão a) É um tensor simétrico, ou seja: τxy = τyx τyz = τzy τ zx = τ xz Deste modo, o tensor tensão em um ponto apresenta somente três componentes independentes. b) A tensão normal média, freqüentemente chamada de “bulk stress” é dada por: σ= 1 (σxx + σyy + σzz ) 3 A magnitude da tensão normal média é igual à pressão termodinâmica. Como somente tensões normais negativas são possíveis em um fluido a afirmação acima é representada matematicamente por: −σ=p Propriedades do transporte molecular dos fluidos As propriedades de transporte molecular dos fluidos são aquelas relacionadas com os fenômenos de transferência de calor, massa e quantidade de movimento, por meio de mecanismos de ação molecular. As taxas de transferência de quantidade de movimento, calor e massa podem ser expressas por equações análogas pois, em geral, a taxa de transporte de uma quantidade conservativa (como é o caso da quantidade de movimento, da energia e da massa) é proporcional ao gradiente da grandeza que provoca esta transferência. A constante de proporcionalidade é uma propriedade física da substância em questão, também chamada de propriedade de transporte. 55 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA ENG 008 – Fenômenos de Transporte I A – Profª Fátima Lopes ________________________________________________________________________________________________ As equações de transferência de quantidade de movimento, calor e massa são: a) Transferência de quantidade de movimento: d vx (1) τ =−µ yx dy onde τyx = F = tensão de cisalhamento (força/unidade de área) A µ = viscosidade dinâmica do fluido d v x d y = gradiente da componente x da velocidade na direção y. A equação (1) é conhecida como a Lei da Viscosidade de Newton e pode ser entendida como: fluxo de quantidade de movimento = quantidade de movimento transportada (unidade de área ) (unidade de tempo ) = (vis cos idade) (gradiente da velocidade ) A viscosidade de um fluido dá uma medida da resistência desse fluido ao movimento relativo de suas partículas constituintes. b) Transferência de calor: qy = − k dT dy (q = − k ∇ T ) (2) onde qy = Q - fluxo de calor na direção y A Q – calor total transportado por unidade de tempo A – área através da qual Q é transportado k – condutividade térmica do material. dT/dy – gradiente de temperatura na direção y A equação (2) é conhecida como “Lei de Fourrier” e pode ser entendida como: fluxo de calor = calor transportado (unidade de área ) (unidade de tempo) = (condutivid ade térmica ) (gradiente de temperatur a ) 56 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA ENG 008 – Fenômenos de Transporte I A – Profª Fátima Lopes ________________________________________________________________________________________________ A condutividade térmica k é uma medida da resistência que uma substância oferece à transferência de calor. c) Transporte de massa: J Ay = − D AB d CA dy (3) onde J Ay = N A - fluxo molar do componente A na direção y A NA – número de moles de A transportado por difusão A – área através da qual A se difunde DAB – coeficiente de difusão mássica do componente A no componente B dCA /dy – gradiente da concentração molar do componente A na direção y A equação (3) é conhecida como a “Primeira Lei de Fick” e pode ser entendida como: fluxo molar de A = número de noles de A transportado (unidade de área ) (unidade de tempo) = (coeficient e de difusão ) (gradiente de concentração ) O coeficiente de difusão em um sistema de 2 componentes (A,B) é a medida da resistência à difusão molecular de um dos componentes (A) no outro (B). Analisando-se as equações (1), (2) e (3) pode-se verificar a analogia existente entre os 3 processos de transporte, isto é, transporte de calor, massa e quantidade de movimento. Deve-se salientar que o fluxo de calor q vetoriais, enquanto que a tensão de cisalhamento e o fluxo de massa J são grandezas τ é uma grandeza tensorial. Deste modo, a analogia que é perfeita entre calor e massa, só pode ser aplicada ao transporte de quantidade de movimento se este último for considerado em uma única direção. As equações (1), (2) e (3) podem então ser representadas por uma única equação desde que se tenha em mente a restrição acima: P = c∇G onde, P é o fluxo de uma certa quantidade, provocado pelo gradiente da grandeza G e c é a constante de proporcionalidade que é uma propriedade característica do material onde ocorre o processo de transporte em questão. 57 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA ENG 008 – Fenômenos de Transporte I A – Profª Fátima Lopes ________________________________________________________________________________________________ Observação: Transferência de quantidade de movimento: τ yx = −µ d vx dy (1) Na dedução da lei de Newton da viscosidade: τ yx = µ d vx dy (2) Deve-se salientar que a diferença de sinal entre as equações (1) e (2) deve-se ao fato de que a primeira (1) representa a tensão de cisalhamento no fluido e a segunda representa a tensão de cisalhamento na placa plana. Assim sendo, quando se deseja estudar os efeitos da tensão no fluido o sinal negativo da equação (1) deve ser levado em consideração. Condutividade térmica A condutividade térmica é a capacidade de uma substância transferir calor por condução molecular. A equação diferencial para condução molecular de calor unidimensional em uma substância já foi apresentada anteriormente. qy = − k dT dy O sinal negativo é devido ao fato do calor ser conduzido da região de altas temperaturas para baixas temperaturas ou seja, na direção contrária ao gradiente de temperatura. Para que a equação anterior seja dimensionalmente consistente, as dimensões da condutividade térmica (k) devem ser: k Como qy [= ] [=] qy dT d y (M L T ) L −2 L2 T 58 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA ENG 008 – Fenômenos de Transporte I A – Profª Fátima Lopes ________________________________________________________________________________________________ dy [= ] M L2 T − 2 L2 T θ L dT k [= ] θ L [= ] M T −3 θ L− 1 [= ] M L T −3 θ−1 A condutividade térmica (k) é uma propriedade de transporte que também depende da temperatura, sendo em geral independente da pressão, para pressões reduzidas abaixo de 0,2. Difusividade (ou coeficiente de difusão) A difusividade em um sistema de dois componentes é a medida da transferência de massa de qualquer dos componentes sob a influência de uma diferença de concentração. A difusão se dá na direção decrescente da concentração. Este fato explica o sinal negativo da equação diferencial que se segue. Esta equação é válida para transferência de massa por difusão em uma direção. J Ay = − D AB d CA dy A difusividade DAB é dependente dos dois componentes que compõem o sistema e, também é função da pressão e da temperatura. 59