CLAUDIO HENRIQUE MAGALHÃES ARANHA INFLUÊNCIA DA SENESCÊNCIA SOBRE ASPECTOS HISTOPATOLÓGICOS HEPÁTICOS E ESPLÊNICOS NA ESQUISTOSSOMOSE MANSONI MURINA GOVERNADOR VALADARES AGOSTO DE 2009 CLAUDIO HENRIQUE MAGALHÃES ARANHA INFLUÊNCIA DA SENESCÊNCIA HISTOPATOLÓGICOS HEPÁTICOS SOBRE E ASPECTOS ESPLÊNICOS NA ESQUISTOSSOMOSE MANSONI MURINA Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Ciências Biológicas da Universidade Vale do Rio Doce, para obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas na área de Imunopatologia das Doenças Infecciosas e Parasitárias. ORIENTADORA: Drª Elaine Speziali CO-ORIENTADORAS: Drª Cláudia Martins Carneiro Drª Alda Maria Soares Silveira GOVERNADOR VALADARES AGOSTO DE 2009 CLAUDIO HENRIQUE MAGALHÃES ARANHA INFLUÊNCIA DA HISTOPATOLÓGICOS SENESCÊNCIA HEPÁTICOS SOBRE E ASPECTOS ESPLÊNICOS NA ESQUISTOSSOMOSE MANSONI MURINA Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Ciências Biológicas da Universidade Vale do Rio Doce, para obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas na área de Imunopatologia das Doenças Infecciosas e Parasitárias. Governador Valadares, ___ de ________________ de ______. Banca Examinadora: _____________________________________________ Examinador(a) ____________________________________________ Examinador(a) Dedico esse trabalho a Deus, Pai sempre presente, por me dar forças e me permitir buscar a felicidade e a meus pais por sempre estarem ao meu lado, me mostrando o caminho certo, e me ajudarem incondicionalmente nessa busca. AGRADECIMENTOS À minha orientadora, professora doutora Elaine Speziali, cuja orientação permitiu a realização deste estudo. Às minhas co-orientadoras, professora doutora Cláudia Martins Carneiro e Alda Maria Soares Silveira, pelas informações, ensinamentos e pela amizade. Aos amigos do Laboratório de Pesquisa em Imunologia da UNIVALE e do Laboratório de Imunopatologia, Núcleo de Pesquisas em Ciências Biológicas Instituto de Ciências Exatas e Biológicas da UFOP pelo constante apoio e incentivo. Aos professores do curso de Mestrado em Ciências Biológicas da UNIVALE pelos ensinamentos que contribuíram para meu crescimento e formação profissional. À minha irmã Thereza pelo exemplo em toda vida. Aos meus pais e familiares, por sempre acreditarem em mim. Àqueles participantes deste estudo, pela oportunidade de me integrar ao projeto e adquirir conhecimento. E a todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho. EXECUÇÃO DO TRABALHO: Laboratório de Pesquisa em Imunologia da Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE), Governador Valadares, MG. Laboratório de Imunopatologia, Núcleo de Pesquisas em Ciências Biológicas Instituto de Ciências Exatas e Biológicas da Universidade Federal de Ouro Preto (NUPEB – ICEB UFOP), Ouro Preto, MG. COLABORADORES: Dra. Ana Maria Caetano de Faria Depto de Bioquímica e Imunologia - UFMG Dr. Paulo Marcos Z. Coelho Centro de Pesquisas René Rachou – Fiocruz- MG Dra. Andréa Teixeira de Carvalho Centro de Pesquisas René Rachou Dr. Olindo Assis Martins Filho Centro de Pesquisas René Rachou- Fiocruz- MG Dra. Débora Negrão Corrêa Grupo Intradepartamental de Estudos sobre Esquistossomose (GIDE) - UFMG ÓRGÃOS FINANCIADORES: Fundação de Amparo a Pesquisa de Minas Gerais – FAPEMIG Centro de Pesquisas René Rachou – CPqRR / FIOCRUZ Fundação Oswaldo Cruz/Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – FIOCRUZ/CNPq (PAPES IV) Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE RESUMO A senescência e o processo de envelhecimento são o resultado complexo de interações entre a genética do indivíduo e o meio ambiente. Esse processo é marcado por alterações funcionais bem descritas tanto em humanos quanto em uma variedade de animais, principalmente em roedores. As alterações funcionais e estruturais dos tecidos associadas ao processo de envelhecimento indicam uma menor capacidade de fornecer um ambiente propício para respostas imunes. Essas alterações são observadas em infecções por doenças parasitárias e a esquistossomose é uma das doenças parasitárias humanas de maior distribuição, acometendo histopatologicamente o fígado e o baço. Evidenciam-se diferenças em aspectos relacionados tanto à prevalência quanto à intensidade de infecção da esquistossomose com o envelhecimento. O modelo murino é importante nesse aspecto, pois apresenta semelhanças aos acometimentos demonstrados em humanos e vantagens para realização dos estudos. O objetivo do presente estudo foi avaliar a influência da senescência sobre os aspectos histopatológicos hepáticos e esplênicos na esquistossomose mansoni murina. Os resultados demonstraram que jovens apresentam maior número de granulomas hepáticos na fase crônica em relação aos jovens na fase aguda. Em relação à área dos granulomas hepáticos, jovens na fase crônica apresentaram granulomas com menor área que jovens na fase aguda e que idosos na fase crônica. Quanto ao processo inflamatório no fígado, idosos na fase aguda apresentaram maior inflamação que jovens na mesma fase de infecção. Em relação à neoformação de colágeno, no tecido hepático não houve diferença entre os grupos de animais infectados jovens e idosos. Entretanto, no baço, animais idosos na fase aguda de infecção apresentaram maior neoformação de colágeno que jovens na mesma fase. Além disso, animais jovens na fase crônica da infecção apresentaram maior neoformação de colágeno no baço que jovens na fase aguda. O estudo fornece evidências que suportam a hipótese de uma capacidade do organismo senescente de modular sua resposta já no início da infecção por S. mansoni e uma menor capacidade desse organismo de amplificar sua resposta a novos antígenos. Palavras chave: senescência, esquistossomose, granuloma, fígado, baço, inflamação, colágeno. ABSTRACT Senescence and aging are the result of complex interactions between genetic individual and the environment. This process is marked by functional changes well described both in humans and in a variety of animals, especially rodents. The functional and structural changes of the tissues associated with the aging process indicate a lower capacity to provide an environment conducive for immune responses. These changes are observed in infections and parasitic diseases and the schistosomiasis is a human parasitic diseases of major distribution, affecting histopathologically the liver and spleen. Are striking differences in aspects related to both prevalence and intensity of schistosomiasis infection with aging. The mouse model is important in this aspect, because it shows similarities to the affection demonstrated in humans and advantages for the studies. The aim of this study was to evaluate the influence of senescence on the histopathological hepatic and splenic aspects of the murine schistosomiasis mansoni. The results showed that young animals have a higher number of hepatic granulomas in chronic phase in comparison to animals in the acute phase. Regarding the area of the hepatic granulomas, animals in chronic phase showed smaller granulomas area than youth in the acute phase and than elderly animals in chronic phase. On the hand, elderly animals in the acute phase showed more inflammation than young animals in the same stage of infection. Regarding the neoformation of collagen, in the liver tissue, there was no difference between young and old infected groups. However, in the spleen, the elderly animals in the acute phase of infection had higher neoformation of collagen than young animals in the same phase. Furthermore, young animals in the chronic phase of infection showed larger amount of neoformation of collagen in the spleen than young animals in the acute phase. The study provides evidence supporting the hypothesis that a senescent organism has the ability to modulate its response in the early phase of the infection by S. mansoni and has also a lower capacity to amplify its response to new antigens. Key words: senescence, schistosomiasis, granuloma, liver, spleen, inflammation, collagen. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Quantificação dos granulomas hepáticos em camundongos jovens e idosos infectados por Schistosoma mansoni-------------------------------------------------------------------------------------- 31 Figura 2 – Fotos da quantificação dos granulomas hepáticos em camundongos jovens e idosos infectados por Schistosoma mansoni-------------------------------------------------------------------- 32 Figura 3 – Determinação da área dos granulomas presentes no fígado de camundongos jovens e idosos infectados por Schistosoma mansoni-------------------------------------------------------------------- 33 Figura 4 – Fotos da área dos granulomas presentes no fígado de camundongos jovens e idosos infectados por Schistosoma mansoni-------------------------------------------------------------------- 34 Figura 5 – Análise da inflamação no fígado de camundongos jovens e idosos infectados por Schistosoma mansoni-------------------------------------------------------------------------------------- 36 Figura 6 – Fotos da inflamação no fígado de camundongos jovens e idosos infectados por Schistosoma mansoni------------------------------------------------------------------------------------------------------ 37 Figura 7 – Análise da neoformação de colágeno no fígado de camundongos jovens e idosos infectados por Schistosoma mansoni---------------------------------------------------------------------------------- 39 Figura 8 – Fotos da neoformação de colágeno no fígado de camundongos jovens e idosos infectados por Schistosoma mansoni---------------------------------------------------------------------------------- 40 Figura 9 – Análise da neoformação de colágeno no baço de camundongos jovens e idosos infectados por Schistosoma mansoni---------------------------------------------------------------------------------- 42 Figura 10 – Fotos da neoformação de colágeno no baço de camundongos jovens e idosos infectados por Schistosoma mansoni---------------------------------------------------------------------------------- 43 Figura 11 – Análise dos dados parasitológicos referentes à infecção por Schistosoma mansoni em animais idosos e jovens------------------------------------------------------------------------------------ 44 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO----------------------------------------------------------------------------------- 10 2 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA-------------------------------------------------------- 20 3 OBJETIVO GERAL---------------------------------------------------------------------------- 22 3.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS----------------------------------------------------------------- 22 4 METODOLOGIA------------------------------------------------------------------------------- 23 5 RESULTADOS---------------------------------------------------------------------------------- 30 5.1 NÚMERO E TAMANHO DE GRANULOMAS HEPÁTICOS DE CAMUNDONGOS JOVENS E IDOSOS ------------------------------------------------------------------------------ 30 5.2 ANÁLISE DA RESPOSTA INFLAMATÓRIA PRESENTE NO FÍGADO DE CAMUNDONGOS JOVENS E IDOSOS------------------------------------------------------ 35 5.3 ANÁLISE DA NEOFORMAÇÃO DE COLÁGENO NO FÍGADO DE CAMUNDONGOS JOVENS E IDOSOS------------------------------------------------------- 38 5.4 ANÁLISE DA NEOFORMAÇÃO DE COLÁGENO NO BAÇO DE CAMUNDONGOS JOVENS E IDOSOS------------------------------------------------------------------------------- 41 5.5 ANÁLISE DOS DADOS PARASITOLÓGICOS---------------------------------------- 44 6 DISCUSSÃO------------------------------------------------------------------------------------ 45 6.1 NÚMERO E TAMANHO DE GRANULOMAS HEPÁTICOS DE CAMUNDONGOS JOVENS E IDOSOS ----------------------------------------------------------------------------- 47 6.2 ANÁLISE DA RESPOSTA INFLAMATÓRIA PRESENTE NO FÍGADO DE CAMUNDONGOS JOVENS E IDOSOS----------------------------------------------------- 50 6.3 ANÁLISE DA FORMAÇÃO DO PROCESSO FIBRÓTICO NO FÍGADO DE CAMUNDONGOS JOVENS E IDOSOS----------------------------------------------------- 52 6.4 ANÁLISE DA FORMAÇÃO DO PROCESSO FIBRÓTICO NO BAÇO DE CAMUNDONGOS JOVENS E IDOSOS----------------------------------------------------- 52 6.5 ANÁLISE DOS DADOS PARASITOLÓGICOS--------------------------------------- 53 7 CONCLUSÃO---------------------------------------------------------------------------------- 54 REFERÊNCIAS----------------------------------------------------------------------------------- 55 10 1 INTRODUÇÃO 1.1 ALTERAÇÕES ASSOCIADAS AO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO O envelhecimento é o resultado complexo de interações entre a genética do indivíduo e o meio ambiente no qual está inserido. Esse processo afeta uma grande variedade de funções fisiológicas, incluindo o desenvolvimento e manutenção do sistema imune. O processo de senescência, como fonte de alterações funcionais, tem sido bem descrito em humanos e em uma variedade de espécies animais, principalmente em roedores. Essas modificações podem ser observadas tanto nos órgãos linfóides quanto em células do sistema imune. Um dos principais efeitos do envelhecimento pode ser observado no timo. Tal órgão representa o sítio de maturação dos linfócitos T a partir de seus precursores da medula óssea. O timo é dividido em medula interna e córtex externo, sendo a ultima, a porção que sofre atrofia com o processo de senescência. A atrofia tímica associada ao progressivo envelhecimento, leva a redução do tecido tímico funcional e ao declínio na geração de células T aí presentes (Takeoka et al., 1996;Gruver et al., 2007;Jenkinson et al., 2008). Há evidências na literatura de que o envelhecimento também estaria relacionado a mudanças arquiteturais nos tecidos linfóides secundários como o aumento do peso do baço devido à infiltração de fibroblastos, além da diminuição do córtex linfóide e dos centros germinativos com a idade. Além disso, nos linfonodos há um declínio nas zonas medular e paracortical, aumento do tecido adiposo e uma menor evidência de formação de centros germinativos em idosos. Essas mudanças indicam uma menor capacidade de fornecer um ambiente propício para respostas imunes, mas o impacto disso na resposta efetiva ainda é desconhecido (Gruver et al., 2007). Existem relatos de alterações no fenótipo das células T periféricas com a idade em modelo murino. Tais alterações poderiam incluir mudanças em receptores de adesão (CD44), receptores ligados a migração de linfócitos para linfonodos periféricos (CD62L) e marcadores característicos dos fenótipos de “memória” ou “virgem” (CD45R) das células T CD4+ e CD8+. Connoy e colaboradores (2001) encontraram mudanças associadas ao envelhecimento na composição de esplenócitos (em murinos), incluindo aumento na freqüência de células B e células TCD4 de memória, diminuição nas células T γ/δ e células T CD4 virgem. Outras mudanças também foram documentadas em células do sistema imune de camundongos 11 associadas ao envelhecimento, tais como mudanças na quantidade de linfócitos T CD4+ e na proporção de células CD4+/CD8+ em tecidos periféricos (Ernst et al., 1993;Barrat et al., 1995;Kurashima and Utsuyama, 1997;Timm and Thoman, 1999;Gruver et al., 2007;Pinchuk and Filipov, 2008). Como relatado anteriormente, há uma modificação no percentual de células T virgens e de memória na periferia. Há relatos de que células T virgens de camundongos idosos exibam uma ativação, diferenciação e produção de citocinas reduzidas. Especificamente, células Th1 e Th2 de memória derivadas de células T virgens de animais idosos produzem muito menos IL-2, IL-4 e IL-5, respectivamente, que células jovens (Haynes et al., 2003;Haynes et al., 2005). O aumento dramático na produção constitutiva de IL-6 e IL-10 observada em animais e humanos idosos parece estar relacionado a vários distúrbios na reatividade imunológica relacionados ao processo de senescência (Daynes et al., 1993). Além disso, observou-se que as alterações no perfil de citocinas relacionadas ao envelhecimento ocorrem gradualmente ao longo da vida do animal ou do indivíduo e não abruptamente no animal já senil (Hobbs et al., 1993). Essa alteração no perfil de citocinas produzidas reflete mudanças importantes observadas durante o envelhecimento como: o acúmulo de linfócitos T expressando um fenótipo de células ativadas, resultado do processo natural e cumulativo de ativação e da diminuição no aporte de células virgens do timo; mudanças nas interações com as células apresentadoras de antígeno que também apresentam alterações com o envelhecimento; alterações na transmissão de sinais nos linfócitos durante o envelhecimento que poderiam afetar a forma como o indivíduo ou animal interagem com o ambiente externo, principalmente no caso de injúrias (Daynes et al., 1993; Hobbs et al., 1993; Gruver et al., 2007). Uma série de trabalhos tem relatado também modificações na resposta humoral associadas ao envelhecimento. Essa resposta reduz com a idade, mesmo que não haja mudanças no número de células B periféricas. Ocorrem modificações no repertório de anticorpos com o envelhecimento, diminuição na produção de células B virgens na medula óssea (Shi and Miller, 1992;Miller and Cancro, 2007;Gruver et al., 2007). A literatura também aponta uma forte associação entre resistência a infecções e reinfecções por parasitos helmínticos, especialmente por helmintos do gênero Schistosoma e senescência em humanos (Ndhlovu et al., 1996), entretanto há uma escassez de trabalhos na literatura com essa associação em camundongos. Foi demonstrado que a prevalência e a intensidade de infecção, dada pela presença e quantificação, respectivamente, dos ovos nas fezes ou urina dos indivíduos infectados, aumentam progressivamente com a idade 12 alcançando um pico máximo entre dez e vinte anos. Nas subseqüentes décadas de vida, tanto a prevalência quanto a intensidade de infecção diminuem progressivamente (Wilkins et al., 1987;Butterworth et al., 1988;Gryseels, 1994;Fulford et al., 1998;Ouma et al., 1998;Naus et al., 2003). A explicação para essa característica epidemiológica ainda é controversa. Alguns autores acreditam que essa diferença se deve a uma mudança de comportamento, ou seja, uma redução dos níveis de exposição à água contaminada com a idade. Embora haja um consenso que ocorra uma pequena redução nos níveis de exposição dos indivíduos com a idade, ela é insuficiente para explicar a grande redução na intensidade de infecção, cuja causa foi atribuída ao desenvolvimento de uma resistência adquirida com a idade (Butterworth et al., 1988). Diante dessas evidências, fica clara a necessidade de se estabelecer correlações entre o processo de senescência e o desenvolvimento das lesões associadas à esquistossomose (Wilkins et al., 1987;Butterworth et al., 1988;Gryseels, 1994;Fulford et al., 1998;Ouma et al., 1998;Naus et al., 2003). Além disso, trabalhos que associem o desenvolvimento da morbidade da esquistossomose com o envelhecimento no modelo murino podem ser muito úteis na investigação dessa doença, pois vários trabalhos mostram semelhanças tanto no desenvolvimento da doença, quanto nas alterações associadas ao envelhecimento entre humanos e murinos. 1.2 A ESQUISTOSSOMOSE MANSONI A esquistossomose mansônica é uma das doenças parasitárias humanas de maior distribuição, sendo a segunda doença tropical em importância em todo o mundo, precedida apenas pela malária (WHO 1985). Cerca de 200 milhões de pessoas estão infectadas e 700 milhões sob risco de infecção, causando em torno de 500 mil mortes anualmente (Chitsulo et al., 2000;Wilson et al., 2007). É uma doença prevalente em várias regiões do mundo e no Brasil, particularmente no estado de Minas Gerais, e representa um dos principais problemas de saúde pública (Savioli et al., 1997;Chitsulo et al., 2000b). De acordo com a Organização Mundial de Saúde, 74 países são endêmicos para a esquistossomose mansônica (WHO 1985). No Brasil, cerca de 12 a 14 milhões de pessoas estão infectadas pelo Schistosoma mansoni (S. mansoni), (Conceição et al., 2007). 13 Além do Schistosoma mansoni, única espécie encontrada no Brasil, outras espécies do gênero Schistosoma também podem infectar o homem como Schistosoma haematobium, Schistosoma japonicum, Schistosoma intercalatum e Schistosoma mekongi (Neves 2005). Sua transmissão ocorre pelo contato com água contaminada com a forma infectante do parasito, a cercária que penetra ativamente na pele do hospedeiro definitivo, perde a cauda e transforma-se em esquistossômulo. Este migra através da corrente sanguínea e/ou vasos linfáticos para os pulmões, e localizando-se, posteriormente, na veia porta, onde se transformam em vermes adultos, macho e fêmea. Nas veias mesentéricas inferiores, os vermes se acasalam e as fêmeas iniciam a postura de ovos. Cada fêmea elimina aproximadamente 400 ovos por dia na parede de capilares e vênulas, sendo que a maioria chega à luz intestinal (esse período dura aproximadamente seis dias), onde são eliminados junto com o bolo fecal. Parte dos ovos fica retido nos tecidos onde se tornam alvo da resposta imune do hospedeiro, induzindo uma reação inflamatória do tipo granulomatosa. Quando eliminados pelas fezes e em contato com a água, os ovos eclodem liberando o miracídio que infecta o caramujo, seu hospedeiro intermediário (Biomphalaria glabrata). No caramujo, há o desenvolvimento do esporocisto em cercária, a forma infectante da esquistossomose. Ao entrar em contato com a água contaminada, a cercária penetra na pele do indivíduo reiniciando o ciclo. (BOGLIOLO, 1959;Warren, 1968;Pearce and MacDonald, 2002). As manifestações clínicas da esquistossomose variam, dependendo da localização e intensidade do parasitismo, da capacidade de resposta do indivíduo à infecção ou do tratamento prescrito. A doença em humanos é caracterizada clinicamente pelas fases aguda e crônica. A fase aguda pode ser dividida em pré e pós-postural. Na fase pré-postural, que ocorre cerca de 10-30 dias após a infecção e algumas horas após a penetração das cercarias na pele, observa-se um infiltrado de leucócitos polimorfonucleares ao redor dos parasitos. Inicialmente, após a penetração das cercárias, pode ocorrer um quadro de dermatite cercariana, caracterizado por dermatite urticariforme com eritema, edema e prurido (Torres, 1976;Boros, 1989). A fase aguda propriamente dita aparece em torno de 50 dias e dura até cerca de 120 dias após a infecção. Na fase pós-postural ocorre a disseminação dos ovos, principalmente na parede do intestino e no fígado, provocando, então, a formação de granulomas cujo volume pode chegar até 100 vezes o volume do ovo. Os sintomas característicos desta fase são: febre acompanhada de sudorese, calafrios, emagrecimento, diarréia, cólica e alterações nas funções hepáticas. Também são observadas lesões hepatoesplênicas, devidas principalmente a uma reação de hipersensibilidade do hospedeiro aos antígenos solúveis secretados pelos ovos presentes no fígado. Essa reação que é mais 14 intensa no início da infecção decresce espontaneamente na fase crônica da doença. A fase crônica apresenta variações clínicas dependendo dos órgãos atingidos. Inicia-se por volta do 6º mês após a infecção e é caracterizada pela redução do tamanho dos granulomas em torno dos ovos, por uma modulação da reatividade imunológica inflamatória, que aparece de maneira mais esparsa no fígado e também na mucosa e submucosa do intestino. As principais formas clínicas da fase crônica são: intestinal, hepatointestinal e hepatoesplênica. A forma intestinal é a mais freqüentemente encontrada em pacientes infectados. Nesta forma, os sintomas são geralmente brandos: com perda de apetite, dispepsia e desconforto abdominal. Embora não existam estudos detalhados relacionados à forma hepatointestinal, pacientes portadores dessa forma clínica apresentam uma hepatomegalia não associada à esplenomegalia. A forma hepatoesplênica é a forma mais grave da esquistossomose mansoni e caracteriza-se pelo aumento considerável do baço e do fígado em conseqüência da fibrose periportal, central e periférica, que pode levar a complicações significativas como hipertensão porta e pulmonar (Lambertucci et al., 2000). O estabelecimento da doença em camundongos infectados também se dá pelo desenvolvimento de uma resposta granulomatosa, caracterizada pela formação de granulomas, induzidos por antígenos solúveis do ovo (SEA), compostos por linfócitos T, linfócitos B, macrófagos, eosinófilos e células epitelióides e gigantes. Ao longo do curso da infecção, na qual há a passagem da fase aguda (70 dias) para a fase crônica (120 dias) também se observa a modulação desses granulomas. Os animais apresentam alguns sintomas, tais como diarréia durante a fase aguda e, pequenas lesões na mucosa intestinal que podem levar a morte através do seu sangramento. Além disso, observam-se lesões glomerulares e insuficiência renal. Mas, não são observadas varizes esofageanas. Em relação à hipertensão portal, ela está associada ao número e tamanho dos granulomas (Wynn et al., 2004). 1.3 ASPECTOS HISTOPATOLÓGICOS DA ESQUISTOSSOMOSE Parasitos adultos de Schistosoma mansoni vivem na vasculatura portal, onde as fêmeas realizam a ovoposição. Os ovos passam da parede intestinal para o lúmen desse órgão e a partir daí para meio externo juntamente com as fezes. Além disso, como o sistema porta é responsável pela irrigação sanguínea do fígado, com a oviposição que ocorre nessa 15 vasculatura muitos dos ovos são transportados para esse órgão (Dunne and Doenhoff, 1983;Amiri et al., 1992;Cheever et al., 2000;Pearce and MacDonald, 2002). O fígado é um órgão bem localizado e recebe 25% do debito cardíaco e é a maior fonte de linfa do corpo, contribuindo com 25 a 50% do fluxo do Ducto Torácico. Ele tem sido considerado um órgão relativamente inerte no seu estado normal, não inflamado, sob ponto de vista imunológico. Entretanto essa visão tem mudado nos últimos anos. Pesquisadores têm observado que o fígado possui propriedades distintas (Bertolino et al, 2002 apud Crispe IN & Mehal WZ, 1996; O’Farrelly C & Crispe IN, 1999; Bertolino P et al, 2000). A função fisiológica do fígado – tais como remover patógenos e antígenos do sangue, síntese de proteínas e metabolismo – requer uma resposta imune que é adaptada a essas necessidades e é localmente regulada (Knolle & Gerken, 2000). A maior parte do suprimento sanguíneo hepático é provido pela veia Porta, que leva nutrientes, toxinas e antígenos derivados do trato gastrointestinal, assim como substâncias derivadas do baço. Isso permite que moléculas absorvidas pelo intestino passem pelo fígado, onde são metabolizadas ou degradadas se tóxicas. Como o fígado recebe uma variedade de antígenos estranhos, é importante evitar uma ativação desnecessária do sistema imune. Isso é conseguido através da tolerância a esses antígenos. O contato com esses antígenos leva a uma tolerância antígeno-específico que previne uma ativação excessiva do sistema imune evitando dano tecidual. A infecção do fígado por microrganismos patogênicos deve levar a uma indução de uma resposta imune efetiva que elimina a infecção e previne o desenvolvimento de cronicidade. Assim, o fígado parece ser um órgão imune privilegiado que favorece a indução da tolerância periférica assim como a indução da imunidade (Bertolino et al, 2002; Knolle & Gerken, 2000). O fígado é constituído principalmente por células hepáticas, os hepatócitos. Estes se agrupam em placas que se anastomosam entre si formando unidades morfológicas chamadas lóbulos hepáticos. Estas placas possuem capilares, chamados de sinusóides, que se caracterizam pelas suas dilatações irregulares. Suas paredes são revestidas de células endoteliais típicas e macrófagos que, no fígado, recebem o nome de células de Kupffer e possuem função fagocitária. Além dos hepatócitos e células de Kupffer, o fígado possui um subtipo incomum de linfócitos; mais de 50% dos linfócitos intra-hepáticos em um fígado de camundongo normal expressa níveis intermediários de receptor de células T α/β (TCR) e o marcador de células NK, NK1.1 (células T NK). Uma população equivalente também é descrita em humanos (Bertolino et al, 2002 apud MacDonald, 2002; Bertolino et al, 2002 apud Doherty et al, 1999). Essa intrigante população de células T NK é também encontrada com alta freqüência no timo e medula óssea. A maioria das células T CD4+NK são CD1- 16 restritas e podem prontamente secretar ambos os tipos de citocinas Th1 e Th2 após o estímulo (Bendelac et al, 1997). A interação entre essas diferentes populações celulares encontradas no fígado e os antígenos liberados pelos ovos do parasito, também presentes nesse órgão, favorece uma adequada modulação da resposta granulomatosa desenvolvida durante o processo da esquistossomose. Além disso, recentes relatos têm mostrado que a falta de células T NK favorece a autoimunidade, entretanto a função dessas células no fígado ainda é desconhecida (Bertolino et al, 2002 apud Hammond et al, 1998). As lesões histopatológicas da esquistossomose são resultantes da reação inflamatória granulomatosa aos ovos do parasito localizados nos tecidos hepáticos (Boros, 1989;Abath et al., 2006;Gryseels et al., 2006;Lins et al., 2008). Essa resposta inflamatória granulomatosa, o granuloma, resulta da reatividade do hospedeiro aos antígenos solúveis do ovo (Weinstock and Blum, 1987). Antígenos liberados pelos de ovos induzem uma marcada resposta imune caracterizada pela presença de células Th2 que guia o desenvolvimento de lesões granulomatosas no fígado. A natureza protetora dessas lesões tem sido demonstrada por estudos no modelo de infecção em camundongos (Dunne and Doenhoff, 1983;Amiri et al., 1992;Cheever et al., 2000;Pearce and MacDonald, 2002). Inflamação é uma resposta protetora do organismo à lesão tecidual e celular por patógenos, sendo uma resposta primordial para eliminar ou neutralizar organismos ou substâncias estranhas (Lawrence and Gilroy, 2007). Na esquistossomose mansônica, a reação inflamatória granulomatosa tem uma função protetora para o hospedeiro, pois caso os ovos de S. mansoni e suas toxinas não sejam neutralizados ou seqüestrados efetivamente, podem causar danos aos tecidos afetados (Damian et al., 1984;Pearce and MacDonald, 2002). Os granulomas hepáticos são iniciados após os ovos serem depositados nos capilares pré-sinusoidais (Boros, 1989). Os ovos do S. mansoni excretam um antígeno solúvel responsável pelo desencadeamento de um complexo fisiopatológico reacional que promoverá a formação do granuloma em torno dos ovos (Lukacs et al., 1993;Lins et al., 2008). O granuloma esquistossomótico é uma coleção compacta e organizada de células migrantes, que junto com as células do órgão afetado, dispõem-se em meio a componentes de uma matriz extracelular heterogênea, formando uma estrutura esférica que circunda cada ovo individualmente (Lenzi et al., 1991). Nos estágios iniciais de formação do granuloma, há uma produção de citocinas que certamente é importante para o desenvolvimento do granuloma por recrutar células inflamatórias para o local de seqüestro do ovo do parasito (Lukacs et al., 1993;Pearce and MacDonald, 2002;Wynn et al., 2004;Lins et al., 2008). Esse granuloma é caracterizado pela presença de macrófagos, eosinófilos e linfócitos (Weinstock and Blum, 17 1987;Weinstock, 1992). Tal inflamação gera uma resposta de reparo tecidual, desencadeando a deposição de colágeno tecidual, que quando em excesso é a expressão da fibrose (Warren, 1968;Cheever et al., 1985;Chiaramonte et al., 2001). No início da resposta granulomatosa, a síntese de colágeno e a atividade das colagenases ocorrem de forma equilibrada. Com o progresso da inflamação, a atividade dessas colagenases diminui, mas a síntese de colágeno continua, levando a uma fibrose pronunciada (Dunn et al., 1979;Takahashi et al., 1980;Singh et al., 2004). A lesão da esquistossomose resulta de um excessivo depósito de colágeno nos espaços periportais, levando ao desenvolvimento de uma fibrose periportal (fibrose de Symmer) característica da esquistossomose mansônica (Cheever, 1968;Abath et al., 2006). Essa fibrose pode levar a uma progressiva oclusão dos vasos portais, hipertensão portal, esplenomegalia e hepatomegalia (Costa et al., 2003;Gryseels et al., 2006). 1.4 SENESCÊNCIA E ESQUISTOSSOMOSE Existem algumas evidências na literatura mostrando modificações no desenvolvimento de doenças parasitárias ao longo do processo de envelhecimento no que diz respeito a gravidade e intensidade de infecção (Ndhlovu et al., 1996;Ouma et al., 1998;Naus et al., 1999). Na esquistossomose humana, em particular, a intensidade de infecção, medida por número de ovos nas fezes, geralmente aumenta muito nas duas primeiras décadas de vida como resultado do contato com águas contaminadas pelos indivíduos vivendo em áreas endêmicas. A partir de 30-40 anos de idade, esses mesmos indivíduos apresentam um declínio progressivo na intensidade de infecção que aparentemente é concomitante à aquisição de mecanismos de imunoproteção e ao desenvolvimento da fase crônica da doença (Naus et al., 1999). Em estudos realizados em uma comunidade rural localizada no Zimbabwe (África), mostrou-se que indivíduos jovens entre 10 e 14 anos de idade apresentaram um pico máximo na intensidade da infecção pelo parasito S. haematobium (30,4 ovos/ml de urina) acompanhado pela diminuição gradual da intensidade da infecção em indivíduos acima de 44 anos de idade (5,3 ovos/ml de urina) (Ndhlovu et al., 1996). A ênfase dos estudos relacionando a idade e infecção pelo Schistosoma sp. tem sido nesse perfil: um aumento na intensidade de infecção nas duas primeiras décadas de vida e o declínio subseqüente. Essa diminuição poderia ser devido a uma resposta imune adquirida 18 pelos indivíduos idosos. Há alguns relatos mostrando que, em indivíduos acima de 60 anos, especificamente, ocorre também um súbito aumento na intensidade de infecção (Fulford et al., 1998). No entanto, a ausência de estudos sistemáticos da reatividade imunológica de indivíduos idosos à infecção por S. mansoni tem impedido o entendimento dessa aparente perda da imunidade adquirida em indivíduos vivendo em áreas endêmicas por toda a sua vida. Um estudo importante realizado em populações africanas sugere uma relação entre idade, intensidade da infecção e duração da infecção (Naus et al., 1999). Nesse estudo, os autores foram capazes de se aproveitar de uma situação rara: analisar os índices de infecção entre indivíduos de diversas idades de uma população recentemente assentada em uma área endêmica. O fato de que os indivíduos infectados vivem na área desde a infância geralmente impede uma correlação direta entre infecção e idade, pois os dados obtidos pela contagem de ovos nas fezes normalmente se referem a re-infecção. Nos estudos relatados por Naus e colaboradores, duas populações foram avaliadas: um “grupo estabelecido” que era exposto durante anos ao parasito e um “grupo imigrante” vindo de uma área não endêmica. No “grupo estabelecido”, observou-se um pico máximo da infecção nos indivíduos jovens (15-20 anos) acompanhada de uma drástica diminuição a partir dos 30 anos que se manteve constante até os 55 anos de idade. Já no “grupo imigrante”, o padrão da intensidade da infecção foi bem mais baixo. Além disto, esse grupo apresentou um pico na intensidade da infecção mais tardiamente (indivíduos adultos de 30 anos). Similarmente ao “grupo estabelecido”, a partir dos 30 anos ocorria um declínio nessa intensidade que se mantinha constante até os 55 anos de idade. Um ano após a chegada do “grupo imigrante”, os estudos mostraram um aumento acentuado na intensidade da infecção nos indivíduos jovens (10 anos) desse grupo em relação aos primeiros estudos, com uma diminuição dessa intensidade a partir dos 20 anos de idade. Esses resultados sugerem que os indivíduos jovens do “grupo imigrante” apresentaram possivelmente um padrão de resposta aguda para a infecção pelo S. mansoni. Alguns trabalhos também demonstraram que a reatividade imunológica do indivíduo frente aos antígenos liberados pelo parasito também pode ser influenciada pelo envelhecimento. Webster e colaboradores (1997), estudando populações de áreas endêmicas, mostraram alterações nos níveis de anticorpos em indivíduos jovens e idosos infectados pelo parasito S. mansoni. Foi observado um aumento significativo nos níveis de IgE nos indivíduos idosos (50 anos) quando comparado àqueles apresentados por indivíduos jovens (10-20 anos). Entretanto, esse aumento foi evidenciado somente para os antígenos do verme adulto (SWAP) já os níveis de IgE produzido por indivíduos idosos (50 anos) frente aos antígenos do ovo (SEA), apresentaram-se mais baixos quando comparados com aqueles produzidos pelos 19 indivíduos jovens. Com relação aos níveis de IgG4, houve um aumento significativo na produção deste isotipo para ambos os antígenos em indivíduos idosos (50 anos). Esses resultados mostram a influência do envelhecimento na resposta imune do individuo frente à esquistossomose (Webster et al., 1997). Bethony e colaboradores (2001) também obtiveram resultados interessantes em relação à intensidade de infecção por S. mansoni em indivíduos idosos na região endêmica de Melquíades, Minas Gerais. Os autores estudaram uma população de 634 indivíduos distribuídos em intervalos de 10 anos. Eles observaram, em acordo com a literatura, um aumento na intensidade da infecção, medida pela contagem de ovos nas fezes, em indivíduos jovens (10-20 anos), seguida de um declínio em indivíduos adultos (30-49 anos) e idosos (5059 anos) sugerindo novamente a aquisição de imunidade adquirida na idade adulta. Surpreendentemente, eles também observaram que indivíduos acima de 60 anos de idade apresentaram um novo pico da intensidade de infecção, sugerindo uma possível perda dessa imunidade com o envelhecimento (Bethony et al., 2001). Uma hipótese plausível para explicar esse aumento súbito poderia ser um maior contato com águas contaminadas por parte dos indivíduos mais idosos. No entanto, dados do próprio autor e de outros mostram, ao contrário, uma diminuição drástica no contato com águas contaminadas em indivíduos acima de 60 anos (Ouma et al., 1998;Gazzinelli et al., 2001). Como a esquistossomose é uma doença crônica cujo desenvolvimento se sobrepõe ao processo também progressivo do envelhecimento, a avaliação da resposta granulomatosa desenvolvida em camundongos jovens e idosos é de grande importância, uma vez que poderemos analisar parcialmente o real impacto do envelhecimento durante o desenvolvimento da esquistossomose mansoni experimental. Assim, o estudo de parâmetros histopatológicos apresentados por camundongos jovens e idosos infectados, nos permite traçar associações mais claras entre envelhecimento e o desenvolvimento da resposta granulomatosa. 20 2 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA Recentemente, estudos em populações de áreas endêmicas brasileiras têm demonstrado alterações associadas à intensidade de infecção em indivíduos idosos. Bethony et al.(2001) mostram em Melquíades, uma área endêmica para a esquistossomose localizada no Estado de Minas Gerais, o aumento da intensidade da infecção (ovos por grama de fezes) de uma população de 634 indivíduos. Nessa população ocorre um pico na intensidade da infecção entre 10-19 anos, um declínio após os 20 anos, uma diminuição acentuada entre 50-59, e outro aumento estatisticamente significativo na intensidade da infecção (p< 0.005) após os 60 anos de idade. Quando foram analisados os mesmos grupos de indivíduos, o grupo acima de 60 anos que tem um comportamento de contato com águas contaminadas menor em relação às outras faixas etárias, apresentou um aumento na quantidade de ovos presentes nas fezes quando comparado com o grupo de indivíduos entre 20 e 49 anos. Essa diferença foi mais acentuada quando comparada com os indivíduos entre 50-59 anos de idade (Bethony et al., 2001). As evidências citadas acima mostram um aumento na intensidade da infecção durante o envelhecimento frente à infecção pelo S. mansoni, o que nos leva a acreditar que o envelhecimento afeta o curso da doença e que alterações biológicas ocorridas durante a senescência também podem interferir na forma pela qual o indivíduo responde à esquistossomose. Entretanto, existem poucos dados na literatura mostrando quais as diferenças no desenvolvimento da patologia da esquistossomose entre indivíduos jovens e idosos, assim como em modelo murino. Entender a histopatologia da esquistossomose, especialmente os mecanismos associados ao granuloma e conseqüente formação da fibrose é de suma importância. Esses mecanismos não são facilmente pesquisados em humanos por questões éticas e operacionais (Abath et al., 2006). Não é possível definir claramente quando o indivíduo idoso se infectou, tornando, então mais difícil a avaliação do real impacto do envelhecimento na patologia da esquistossomose em seres humanos. Infecções esquistossomóticas experimentais têm sido freqüentemente utilizadas como modelo das características anatomopatológicas e fisiopatológicas da infecção em seres humanos, bem como para o estudo da imunidade e tratamento (Costa et al., 2003;Abath et al., 2006). Em camundongos infectados, o estabelecimento da patologia também se dá pelo desenvolvimento de uma resposta granulomatosa, caracterizada pela formação de granulomas, 21 induzidos por antígenos solúveis do ovo (SEA), compostos por linfócitos T, linfócitos B, macrófagos, eosinófilos e células epitelióides e gigantes. Ao longo do curso da infecção, na qual há a passagem da fase aguda (70 dias) para a fase crônica (120 dias) também se observa a modulação desses granulomas. Os animais apresentam alguns sintomas, tais como diarréia durante a fase aguda e, pequenas lesões na mucosa intestinal que podem levar a morte dos animais através do seu sangramento. Além disso, observam-se lesões glomerulares e insuficiência renal. Mas, não são observadas varizes esofageanas. Em relação à hipertensão portal, ela está associada ao número e tamanho dos granulomas (Wynn et al., 2004). Portanto, o estudo da infecção pelo parasito S. mansoni em modelos murinos é fundamental, uma vez que ela reproduz, em muitos aspectos, a patogenia em humanos, permitindo desta forma, estudar mais detalhadamente todas as fases da doença e avaliar o real impacto da senescência nessas fases (Cheever et al., 2000;Singh et al., 2004). Neste trabalho, estudamos o papel das alterações associadas com a senescência no que diz respeito à histopatologia da infecção por S. mansoni em camundongos idosos. Para isso, a utilização do modelo murino possui algumas vantagens em relação ao modelo humano, tais como: a) possuir menor período entre a juventude e a senescência (1 ano e meio); b) poder sacrificar os animais e avaliar vários órgãos; c) poder caracterizar histológica e morfometricamente os granulomas presentes no fígado de animais idosos comparando-os com animais jovens; d) e o mais importante, poder avaliar separadamente as duas variáveis infecção e envelhecimento, permitindo estudar a influência da senescência na resposta granulomatosa e na evolução do processo fibrótico desenvolvidos por camundongos idosos frente à infecção pelo parasito S. mansoni. Neste modelo foi analisado o desenvolvimento da resposta granulomatosa em camundongos jovens e idosos, nas fases aguda e crônica de infecção por S. mansoni, o que nos permitiu avaliar as alterações histológicas apresentadas por animais jovens e idosos e associá-las aos parâmetros referentes à proteção em diferentes momentos da infecção. 22 3 OBJETIVO GERAL Estudar aspectos histopatológicos compartimentalizada durante o relacionados desenvolvimento à resposta granulomatosa da esquistossomose mansoni em camundongos jovens e idosos nas fases aguda e crônica da infecção. 3.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS A) Avaliar a resposta granulomatosa através da quantificação do número de granulomas e mensuração da área dos mesmos; B) Analisar o processo inflamatório hepático; C) Avaliar a neoformação de colágeno nos tecidos hepático e esplênico. 23 4 METODOLOGIA 4.1 ANIMAIS, PARASITOS E INFECÇÃO Nesse estudo foram utilizados camundongos C57BL/6 jovens (7 semanas de idade) fêmeas e camundongos idosos (70 semanas de idade) fêmeas, obtidos no Biotério do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (ICB – UFMG) e mantidos no biotério do Grupo Intradepartamental de Estudos sobre Esquistossomose da Universidade Federal de Minas Gerais (GIDE - UFMG) sob a Coordenação da Professora Doutora Débora Negrão. Os animais foram infectados com 19 cercárias de S. mansoni por inoculação subcutânea. Para a infecção foram utilizadas cercárias da cepa LE do S. mansoni, obtidas a partir de caramujos (B. glabrata) infectados experimentalmente, mantidos no mesmo Biotério. Para a análise comparativa entre camundongos jovens e idosos e entre infecção aguda (70 dias de infecção) e crônica (120 dias de infecção), os animais foram agrupados da seguinte maneira: 1) grupo de camundongos jovens infectados com o S. mansoni, eutanasiados 70 dias após a infecção (J70); 2) grupo de camundongos jovens infectados com o S. mansoni, eutanasiados 120 dias após a infecção (J120); 3) grupo de camundongos idosos infectados com o S. mansoni, eutanasiados 70 dias após a infecção (I70); 4) grupo de camundongos idosos infectados com o S. mansoni, eutanasiados 120 dias após a infecção (I120); e seus respectivos controles negativos. Cada grupo representa a análise de 3 animais. O fígado desses animais foi analisado para os parâmetros referentes a número e tamanho de granulomas em cada animal, aumento da celularidade dos infectados frente aos respectivos grupos controle e aumento da neoformação de colágeno dos infectados frente aos respectivos grupos controle. O baço desses animais foi analisado para o parâmetro de aumento da neoformação de colágeno dos infectados frente aos respectivos grupos controle. 24 4.2 NECROPSIA, COLETA, FIXAÇÃO E PROCESSAMENTO DO MATERIAL PARA MICROSCOPIA ÓPTICA Os animais foram eutanasiados em dois períodos distintos. Para definição de animais no período agudo da infecção por S. mansoni, os mesmos foram eutanasiados no 70° dia após a infecção (DAI). Nesse período, foram também eutanasiados animais não infectados para definição de um grupo controle 70 dias. Para definição de animais no período crônico da infecção por S. mansoni, outros animais também infectados foram eutanasiados no 120° dia após infecção (DAI). Nesse período, foram também eutanasiados animais jovens e idosos não infectados para definição de um grupo controle 120 dias. Os animais foram sacrificados com 0,5 mL/Kg de massa corporal de tiopental sódico (0,03g/ml de solução salina 0,8%), por via endovenosa. Durante a necropsia foram coletados o fígado, o baço, além do intestino, linfonodo inguinal, linfonodo mesentérico e placa de Peyer. Neste trabalho, foram analisados somente fígado e baço. As amostras foram fixadas em formol a 10% tamponado (pH 7.2). 4.3 HISTOPATOLOGIA E COLORAÇÕES EMPREGADAS Um segmento de aproximadamente 0,5 cm foi retirado da amostra de fígado e baço previamente fixado em formol 10% tamponado e processado, conforme a técnica descrita a seguir para tecidos em parafina. As amostras foram desidratadas em concentrações crescentes de álcool (70, 80, 90 e 100%), diafanizadas em dois banhos de xilol, e embebidas em parafina. Após o processamento, as amostras foram incluídas em parafina. Os blocos obtidos foram submetidos à microtomia para a obtenção de quatro cortes com espessura de quatro µm e para cada análise foi utilizado um único corte histológico de fígado e de baço por animal. Dos dois cortes obtidos para o estudo do fígado e do baço, o primeiro foi corado pelo método de Hematoxilina-Eosina (HE) para análise rotineira das alterações histopatológicas, tais como presença de granuloma hepático, análise da quantidade e da área desses granulomas e análise do infiltrado celular inflamatório local no fígado por animal; o segundo foi corado pelo método Tricrômico de Gomori (TG) para detecção da neoformação de colágeno no fígado e no baço por animal. 25 4.3.1 Hematoxilina-Eosina (HE) A coloração de HE foi utilizado para análise rotineira das alterações histopatológicas, incluindo a quantificação do processo inflamatório. Os cortes foram desparafinizados em duas trocas de xilol, hidratados em concentrações decrescentes de álcool (100, 90, 80 e 70%) e então lavados em água corrente. Em seguida, foram corados pela Hematoxilina, por 10 minutos e lavados em água corrente, para retirada do excesso do corante. Os cortes foram diferenciados em álcool acidulado (100 mL de álcool absoluto e 10 gotas de ácido clorídrico) e novamente lavados em água corrente para evitar acidificação excessiva. Posteriormente, foram corados pela Eosina, por 30 segundos. Após a última lavagem em água corrente, foram desidratados, em 2 banhos de álcool absoluto e levados à estufa a 56º C para secagem e montados com lamínula e Entellan (Caliari et al., 2002). 4.3.2 Tricrômico de Gomori (TG) Para observação do processo de neoformação de colágeno, os cortes histológicos do fígado e do baço foram corados pela técnica de Tricrômico de Gomori. Essa técnica permitiu a identificação do tecido conjuntivo fibroso pela sua tonalidade azul. Após desparafinização e hidratação, os cortes foram corados pela Hematoxilina de Harris, por 5 minutos e lavados em água corrente. Em seguida, os cortes foram mantidos, por 15 minutos, imersos em solução de Tricrômico de Gomori, lavados em água corrente, desidratados e levados à estufa a 56°C para secagem e montados com lamínula e Entellan (Caliari et al., 2002). 26 4.4 ANÁLISE QUANTITATIVA DE GRANULOMAS Para quantificação dos granulomas hepáticos presentes nas amostras de fígado foram contados o número de granulomas visualizados por microscopia óptica. A contagem foi realizada em 20 campos microscópicos aleatórios (objetiva de 20X) de cada animal infectado do estudo. As imagens visualizadas pela objetiva de 20x em microscópio Leica DM5000B foram digitalizadas através da microcâmera Leica e do programa Leica Application Suite (Versão 2.4.0 R1). Para a análise das imagens obtidas foi utilizado o programa Leica QWin V3. A média do número de granulomas de cada grupo foi comparada entre os animais jovens infectados e os animais idosos infectados com S. mansoni, tanto na fase aguda quanto na fase crônica de infecção. 4.5 ANÁLISE HISTOPATOLÓGICA DA ÁREA DO GRANULOMA HEPÁTICO O processo de formação do granuloma foi avaliado, nesse estudo, através da medição da área dos granulomas hepáticos apresentados pelos animais infectados, tanto jovens quanto idosos. A área dos granulomas, em cada animal infectado do estudo, foi observada em cada corte histológico de fígado obtido. As imagens visualizadas pela objetiva de 20x em microscópio Leica DM5000B foram digitalizadas através da microcâmera Leica e do programa Leica Application Suite (Versão 2.4.0 R1). Para a análise das imagens obtidas foi utilizado o programa Leica QWin V3. A média das áreas dos granulomas hepáticos do grupo de animais infectados jovens foi comparada com a média das áreas dos granulomas hepáticos do grupo de animais infectados idosos, nas fases aguda e crônica da infecção por S. mansoni. 27 4.6 ANÁLISE DA CELULARIDADE E DO INFILTRADO CELULAR PRESENTE NOS CORTES HISTOLÓGICOS HEPÁTICOS Os cortes histológicos para a análise da celularidade de cada animal foram submetidos à coloração pelo método de Hematoxilina-Eosina (HE) conforme descrito anteriormente. Para quantificação da celularidade e do infiltrado de células inflamatórias presentes nos cortes histológicos do fígado de cada animal, foi definida uma marcação que possibilitasse capturar, processar imagens e definir condições morfométricas para contagens de todos os núcleos contidos em cada imagem. Os núcleos de células residentes do tecido hepático, bem como os leucócitos recentemente recrutados foram, então, contados (Pacheco et al., 2008). Os núcleos celulares presentes nesses segmentos foram quantificados em 20 imagens (campos) aleatórias (área total percorrida igual a 1,5 x 106 µm2) de cada animal do estudo. As imagens visualizadas pela objetiva de 20x em microscópio Leica DM5000B foram digitalizadas através da microcâmera Leica e do programa Leica Application Suite (Versão 2.4.0 R1). Para a análise das imagens obtidas foi utilizado o programa Leica QWin V3. O processo inflamatório foi determinado pela diferença entre o número de núcleos das células presentes nos animais infectados com o S. mansoni e o número de núcleos celulares dos animais nãoinfectados ± desvio padrão evidenciados em toda a amostra de tecido de cada animal, não somente nos granulomas. Os resultados apresentados graficamente referem-se aos valores de aumento da celularidade apresentado pelos grupos de animais infectados quando comparados com seus respectivos grupos controle (média do valor total da celularidade do grupo infectado menos a média do valor total da celularidade do respectivo grupo controle). Portanto os gráficos mostram apenas as barras referentes aos valores de aumento da celularidade média dos grupos de animais infectados jovens e idosos nas fases aguda e crônica da doença. 28 4.7 ANÁLISE DO PROCESSO DE NEOFORMAÇÃO DE COLÁGENO NO FÍGADO E BAÇO DOS ANIMAIS A área ocupada por tecido conjuntivo fibroso foi obtida por análise de imagem de 20 campos aleatórios por lâmina dos cortes corados por TG de cada animal do estudo. As imagens visualizadas pela objetiva de 20x em microscópio Leica DM5000B foram digitalizadas através da microcâmera Leica e do programa Leica Application Suite (Versão 2.4.0 R1). Para a análise das imagens obtidas foi utilizado o programa Leica QWin V3. Os pixels com tons de azul foram selecionados para a criação de uma imagem binária e posterior cálculo da área total ocupada por fibrose ou tecido conjuntivo fibroso normal. O processo fibrótico foi determinado pela diferença estatisticamente significativa entre as áreas de neoformação de colágeno presentes nos animais infectados com o S. mansoni e as áreas de colágeno dos animais não-infectados ± desvio padrão evidenciados em toda a amostra de tecido do fígado e do baço de cada animal, não somente nos granulomas. Os resultados apresentados graficamente referem-se aos valores de neoformação de colágeno apresentado pelos grupos de animais infectados quando comparados com seus respectivos grupos controle (média do valor total de colágeno do grupo infectado menos a média do valor total de colágeno do respectivo grupo controle). Portanto os gráficos mostram apenas as barras referentes à média dos valores de neoformação de colágeno dos grupos de animais infectados jovens e idosos nas fases aguda e crônica da doença, tanto do fígado quanto do baço. As áreas obtidas foram comparadas entre os camundongos jovens infectados, camundongos idosos infectados e animais do grupo controle estudados, tanto na fase aguda quanto na fase crônica da infecção (Caliari et al., 2002). 29 4.8 ANÁLISE ESTATÍSTICA Os testes estatísticos foram realizados com o apoio instrumental do software GraphPad Prism 4.03 (Prism Software, Irvine, CA, USA). Para comparação do processo inflamatório, número de granulomas, área ocupada por granulomas hepáticos e neoformação de colágeno foi realizada análise estatística pelo teste t de Student para determinar as diferenças estatísticas entre as médias de dois grupos. As comparações foram realizadas entre camundongos de mesma faixa etária em fases diferentes da doença (jovens na fase aguda e na fase crônica ou idosos na fase aguda e na fase crônica), ou na mesma fase da doença sendo de faixas etárias diferentes (jovens e idosos na fase aguda ou jovens e idosos na fase crônica). As análises de correlação foram executadas através do teste t de Student com intervalo de confiança de 95%. Diferenças entre médias com valores de p menores que 0,05 foram consideradas estatisticamente significativas. 30 5 RESULTADOS A apresentação dos resultados foi realizada em três partes: a primeira refere-se aos dados obtidos através da quantificação do número e tamanho dos granulomas hepáticos; a segunda refere-se aos dados obtidos através da quantificação do processo inflamatório, avaliando-se a celularidade e o infiltrado celular presente no tecido hepático como um todo; e a terceira refere-se aos dados obtidos através da quantificação do processo de neoformação de colágeno no fígado e no baço de camundongos infectados pelo Schistosoma mansoni. Animais não infectados foram utilizados como controle negativo (dados não mostrados). 5.1 ANÁLISE DO NÚMERO E TAMANHO DE GRANULOMAS HEPÁTICOS DE CAMUNDONGOS JOVENS E IDOSOS. Os cortes histológicos de fígado de camundongos jovens e idosos infectados por Schistosoma mansoni foram avaliados quanto ao desenvolvimento dos granulomas esquistossomóticos. O número de granulomas no fígado durante as fases aguda e crônica da infecção por Schistosoma mansoni foi quantificado em 20 campos microscópicos por camundongo (Figuras 1 e 2). O grupo de camundongos jovens eutanasiados com 120 dias (J 120) apresentou maior número de granulomas que o grupo de camundongos jovens eutanasiados em 70 dias (J 70) (p=0,0008). Os grupos de camundongos idosos não apresentaram diferença. 31 Número de Granulomas hepáticos/campo P= 0,0008 3 2 1 0 J 70 I 70 J 120 I 120 Figura 1 - Quantificação dos granulomas hepáticos em camundongos jovens (J) e idosos (I) infectados por Schistosoma mansoni, eutanasiados durante as fases aguda (70 dias) e crônica (120 dias) da doença. Diferenças significativas foram determinadas por valores de p<0,05 pelo Teste t de Student. Diferença entre J 120 e J 70 (p=0,0008). As barras representam a média dos 3 animais de cada grupo ± desvio padrão. 32 Figura 2 – Fotos representativas da quantificação dos granulomas hepáticos em camundongos jovens (J) e idosos (I) infectados por Schistosoma mansoni, eutanasiados durante as fases aguda (70 dias) e crônica (120 dias) da doença. Hematoxilina Eosina, 330X. A: fígado de jovens infectados eutanasiados em 70 dias (J 70). B: fígado de idosos infectados eutanasiados em 70 dias (I 70). C: fígado de jovens infectados eutanasiados em 120 dias (J 120). D: fígado de idosos infectados eutanasiados em 120 dias (I 120). 33 Analisando-se a área do granuloma hepático presente em camundongos jovens e idosos, observam-se diferenças significativas entre esses dois grupos (Figuras 3 e 4). O grupo de camundongos jovens infectados eutanasiados em 120 dias (J120) apresentou granulomas com área menor que camundongos jovens eutanasiados em 70 dias (J 70) (p= 0,0486). Além disso, camundongos idosos infectados eutanasiados em 120 dias (I 120) apresentaram granulomas maiores que os camundongos jovens eutanasiados em 120 dias (J 120) (p=0,0022). Por outro lado, não foram observadas alterações com relação a área do granuloma hepático entre a fase Area do granuloma (µm2) aguda e crônica da doença, no grupo de animais idosos. P= 0,0486 40000 30000 P= 0,0022 20000 10000 0 J 70 I 70 J 120 I 120 Figura 3 – Determinação da área dos granulomas presentes no fígado de camundongos jovens (J) e idosos (I) infectados por Schistosoma mansoni, durante as fases aguda (70 dias) e crônica (120 dias) da doença. Diferenças significativas foram determinadas por valores de p<0,05 pelo Teste t de Student. Diferença entre J 120 e J 70 (p=0,0486). Diferença entre I 120 e J 120 (p=0,0022). As barras representam a média dos 3 animais de cada grupo ± desvio padrão. 34 Figura 4 – Fotos representativas da área dos granulomas presentes no fígado de camundongos jovens (J) e idosos (I) infectados por Schistosoma mansoni, durante as fases aguda (70 dias) e crônica (120 dias) da doença. A: fígado de jovens infectados eutanasiados em 70 dias (J 70). B: fígado de idosos infectados eutanasiados em 70 dias (I 70). C: fígado de jovens infectados eutanasiados em 120 dias (J 120). D: fígado de idosos infectados eutanasiados em 120 dias (I 120). 35 5.2 ANÁLISE DA RESPOSTA INFLAMATÓRIA NO FÍGADO DE CAMUNDONGOS JOVENS E IDOSOS NAS FASES AGUDA E CRÔNICA DE INFECÇÃO. Sabe-se que a maioria do sangue proveniente do intestino passa pelo fígado via sistema porta antes de atingir a circulação periférica e grandes quantidades de antígenos entram nesse órgão, podendo ser capturados por células apresentadoras de antígeno. No fígado, são encontradas várias populações celulares residentes, incluindo células de Kupffer, células estreladas, células dendríticas e linfócitos (Tsutsui, et al., 1996, Matsui, et al., 1997, Doerty, et al., 1999). Entretanto, durante o desenvolvimento da resposta granulomatosa na esquistossomose, observa-se principalmente eosinófilos, neutrófilos, macrófagos e linfócitos (Weinstock, 1992, Rumbley, et al., 1999). Nesse contexto, após a análise do número e tamanho dos granulomas hepáticos, nosso próximo objetivo foi avaliar a resposta inflamatória caracterizada pelo aumento da celularidade em todas as amostras de tecido hepático dos animais infectados em relação à celularidade presente também nas amostras de tecido hepático dos respectivos animais do grupo controle. Observamos diferenças significativas entre os grupos de animais, com relação ao processo inflamatório gerado pela formação dos granulomas durante a fase aguda e crônica da infecção. A análise da celularidade e do aumento do infiltrado celular no fígado dos camundongos foi observada, inicialmente, comparando-se os grupos infectados com os grupos controle (dados não mostrados graficamente). Os camundongos jovens infectados eutanasiados em 70 dias (J 70) apresentaram celularidade maior que os jovens não infectados eutanasiados no mesmo período (p=0,0168). Da mesma maneira, camundongos idosos infectados eutanasiados em 70 dias (I 70) apresentaram maior celularidade que os idosos não infectados eutanasiados no mesmo período (p=0,0022). Entre os animais eutanasiados em 120 dias, camundongos jovens infectados (J 120) apresentaram maior celularidade que camundongos jovens não infectados (p=0,0312) e camundongos idosos infectados (I 120) apresentaram a mesma tendência em comparação com idosos não infectados (p=0,0835) (dados não mostrados graficamente). Comparando-se os aumentos na celularidade apresentados pelos grupos infectados (Figuras 5 e 6), observou-se que idosos infectados eutanasiados em 70 dias (I 70) apresentaram celularidade maior que jovens infectados eutanasiados em 70 dias (J 70) (p=0,0305). Essa diferença é observada como tendência entre o grupo de idosos infectados 36 eutanasiados em 70 dias (I 70) e idosos infectados eutanasiados em 120 dias (I 120) (p=0,0582). Inflamação no fígado (infiltrado inflamatório) 8000 P= 0,0305 6000 4000 2000 0 J 70 I 70 J 120 I 120 Figura 5 - Análise da inflamação no fígado de camundongos jovens (J) e idosos (I) infectados, eutanasiados durante a fase aguda (70 dias) e crônica (120 dias) da esquistossomose. Diferenças significativas foram determinadas por valores de p<0,05 pelo Teste t de Student. Diferença entre I 70 e J 70 (p=0,0305). As barras representam a média de células inflamatórias dos 3 animais de cada grupo ± desvio padrão. 37 Figura 6 – Fotos representativas da inflamação no fígado de camundongos jovens (J) e idosos (I) infectados, eutanasiados durante a fase aguda (70 dias) e crônica (120 dias) da esquistossomose, demonstrada pelo aumento da celularidade desses grupos em relação aos respectivos grupos controle. A: fígado de jovens infectados eutanasiados em 70 dias (J 70). B: fígado de idosos infectados eutanasiados em 70 dias (I 70). C: fígado de jovens infectados eutanasiados em 120 dias (J 120). D: fígado de idosos infectados eutanasiados em 120 dias (I 120). 38 5.3 ANÁLISE DA NEOFORMAÇÃO DE COLÁGENO NO FÍGADO DE CAMUNDONGOS JOVENS E IDOSOS NAS FASES AGUDA E CRÔNICA DE INFECÇÃO. A análise do aumento da neoformação de colágeno no fígado dos camundongos foi observada, inicialmente, comparando-se os grupos infectados com os grupos controle negativo (dados não mostrados graficamente). Os camundongos jovens infectados eutanasiados em 70 dias (J 70) apresentaram maior neoformação de colágeno que os jovens não infectados eutanasiados no mesmo período (p=0,0448). Da mesma maneira, camundongos idosos infectados eutanasiados em 70 dias (I 70) apresentaram maior neoformação de colágeno que os idosos não infectados eutanasiados no mesmo período (p=0,0032). Entre os animais eutanasiados em 120 dias, camundongos jovens infectados (J 120) apresentaram maior neoformação de colágeno que camundongos jovens não infectados (p=0,0237) e camundongos idosos infectados (I 120) apresentaram maior neoformação de colágeno que camundongos idosos não infectados (p=0,0275) (dados não mostrados graficamente). Comparando-se os aumentos na neoformação de colágeno apresentados pelos grupos infectados (Figuras 7 e 8), não foi observada diferença entre os grupos de animais jovens (J) e idosos (I) nas fases aguda (70) e crônica (120) da infecção. Neoformação de colágeno no fígado (µ m2) 39 8.0×10 07 6.0×10 07 4.0×10 07 2.0×10 07 0.0 J 70 I 70 J 120 I 120 Figura 7 - Análise da neoformação de colágeno no fígado de camundongos jovens (J) e idosos (I) infectados, eutanasiados durante a fase aguda (70 dias) e crônica (120 dias) da esquistossomose, demonstrada pelo aumento da presença de colágeno nesses grupos em relação ao colágeno constitutivo dos respectivos grupos controle. Diferenças significativas foram determinadas por valores de p<0,05 pelo Teste t de Student. As barras representam a média de colágeno dos 3 animais de cada grupo ± desvio padrão. 40 Figura 8 – Fotos representativas da neoformação de colágeno no fígado de camundongos jovens (J) e idosos (I) infectados, eutanasiados durante a fase aguda (70 dias) e crônica (120 dias) da esquistossomose, demonstrada pelo aumento de colágeno nesses grupos em relação ao colágeno constitutivo dos respectivos grupos controle. A: fígado de jovens não infectados eutanasiados em 70 dias (controle). B: fígado de jovens infectados eutanasiados em 70 dias (J 70). C: fígado de jovens não infectados eutanasiados em 120 dias (controle). D: fígado de jovens infectados eutanasiados em 120 dias (J 120). E: fígado de idosos não infectados eutanasiados em 70 dias (controle). F: fígado de idosos infectados eutanasiados em 70 dias (I 70). G: fígado de idosos não infectados eutanasiados em 120 dias (controle). H: fígado de idosos infectados eutanasiados em 120 dias (I 120). 41 5.4 ANÁLISE DA NEOFORMAÇÃO DE COLÁGENO NO BAÇO DE CAMUNDONGOS JOVENS E IDOSOS NAS FASES AGUDA E CRÔNICA DE INFECÇÃO. Analisando-se a deposição de colágeno no baço como aspecto determinante da fibrose tecidual, foi possível observar alterações significativas quando os grupos foram comparados. A análise do aumento da neoformação de colágeno no baço dos camundongos foi observada, inicialmente, comparando-se os grupos infectados com os grupos controle (dados não mostrados graficamente). Os camundongos jovens infectados eutanasiados em 70 dias (J 70) não apresentaram maior neoformação de colágeno que os jovens não infectados eutanasiados no mesmo período. Diferentemente, camundongos idosos infectados eutanasiados em 70 dias (I 70) apresentaram maior neoformação de colágeno que os idosos não infectados eutanasiados no mesmo período (p=0,0430). Entre os animais eutanasiados em 120 dias, camundongos jovens infectados (J 120) apresentaram maior neoformação de colágeno que camundongos jovens não infectados (p=0,0220) enquanto camundongos idosos infectados (I 120) apresentaram a mesma tendência de maior neoformação de colágeno que camundongos idosos não infectados (p=0,0583) (dados não mostrados graficamente). Comparando-se os aumentos na neoformação de colágeno no baço apresentados pelos grupos infectados (Figuras 9 e 10), observou-se que idosos infectados eutanasiados em 70 dias (I 70) apresentaram maior neoformação que jovens infectados eutanasiados em 70 dias (J 70) (p=0,0107). Além disso, camundongos jovens infectados eutanasiados em 120 dias (J 120) apresentaram maior neoformação de colágeno que jovens infectados eutanasiados em 70 dias (J 70) (p=0,0088). Entre os grupos de jovens e idosos infectados eutanasiados em 120 dias (J 120 e I 120, respectivamente) não houve diferença. Neoformação de colágeno no baço (µ m2) 42 8.0×10 07 6.0×10 07 P= 0,0088 P= 0,0107 4.0×10 07 2.0×10 07 0.0 J 70 I 70 J 120 I 120 Figura 9 - Análise da neoformação de colágeno no baço de camundongos jovens (J) e idosos (I) infectados, eutanasiados durante a fase aguda (70 dias) e crônica (120 dias) da esquistossomose, demonstrada pelo aumento da presença de colágeno nesses grupos em relação ao colágeno constitutivo dos respectivos grupos controle. Diferenças significativas foram determinadas por valores de p<0,05 pelo Teste t de Student. Diferença entre I 70 e J 70 (p=0,0107). Diferença entre J120 e J 70 (p=0,0088). As barras representam a média de colágeno dos 3 animais de cada grupo ± desvio padrão. 43 Figura 10 – Fotos representativas da neoformação de colágeno no baço de camundongos jovens (J) e idosos (I) infectados, eutanasiados durante a fase aguda (70 dias) e crônica (120 dias) da esquistossomose, demonstrada pelo aumento de colágeno nesses grupos em relação ao colágeno constitutivo dos respectivos grupos controle. A: baço de jovens não infectados eutanasiados em 70 dias (controle). B: baço de jovens infectados eutanasiados em 70 dias (J 70). C: baço de jovens não infectados eutanasiados em 120 dias (controle). D: baço de jovens infectados eutanasiados em 120 dias (J 120). E: baço de idosos não infectados eutanasiados em 70 dias (controle). F: baço de idosos infectados eutanasiados em 70 dias (I 70). G: baço de idosos não infectados eutanasiados em 120 dias (controle). H: baço de idosos infectados eutanasiados em 120 dias (I 120). 44 5.5 ANÁLISE DOS DADOS PARASITOLÓGICOS. A análise dos dados parasitológicos, referentes à carga parasitária, foi realizada por parte dos colaboradores, simultaneamente a este projeto. Essa análise permitiu avaliar a real influência do processo de senescência sobre os dados e análises obtidos por este projeto, excluindo diferenças na carga parasitária como causa dos resultados observados. Analisando-se os dados referentes à carga parasitária nos animais jovens e idosos, não foi observada diferença estatística entre os grupos. Número de ovos Dados Parasitológicos do Fígado 18000 16000 14000 12000 10000 8000 6000 4000 2000 0 jovens velhos Animais Figura 11 - Análise dos dados parasitológicos no fígado de animais jovens e velhos referentes à infecção por Schistosoma mansoni. 45 6 DISCUSSÃO O objetivo desse trabalho foi estudar aspectos relacionados à resposta granulomatosa compartimentalizada durante o desenvolvimento da esquistossomose mansoni em camundongos jovens e idosos nas fases aguda e crônica da infecção. Para tal foram utilizadas infecções por Schistosoma mansoni de camundongos jovens (7 semanas de idade) e idosos (70 semanas de idade) eutanasiados com 70 dias de infecção (fase aguda) ou 120 dias de infecção (fase crônica) e seus respectivos controles. Infecções de camundongos têm sido freqüentemente utilizadas como modelos de características anatomopatológicas e patofisiológicas de infecções parasitárias, como a esquistossomose, em humanos assim como no estudo do tratamento e das características imunes dessas infecções (Cheever et al., 2000;Cheever et al., 2002). Muitos estudos têm demonstrado a semelhança no padrão da resposta imune frente à infecção pelo Schistosoma mansoni, bem como na patologia associada a ela em camundongos e humanos (Cheever et al., 2000;Cheever et al., 2002). Portanto optou-se por utilizar o modelo murino de infecção esquistossomótica experimental, pois o mesmo permite avaliar, de maneira geral, o efeito direto e isolado do envelhecimento sobre a resposta imune à infecção, fibrose e o detalhamento da ativação inflamatória em vários órgãos, inclusive o fígado e o baço que foi nosso objeto de estudo. Como já mencionamos, o envelhecimento está associado a várias modificações funcionais do sistema imune. Tais alterações podem estar relacionadas à involução tímica, bem como às alterações no fenótipo, perfil de citocinas e no repertório de linfócitos. De um modo geral, animais e seres humanos idosos apresentam uma reatividade imunológica comprometida e uma diminuição na sua capacidade de reagir a antígenos novos. Está bem documentada na literatura a dificuldade em vacinar indivíduos idosos assim como sua maior suscetibilidade a infecções (Miller, 1996). E, todas essas alterações poderiam, de alguma maneira, influenciar na forma como o indivíduo ou o animal responderia às doenças de caráter infeccioso ou não. Estudos também relatam modificações no desenvolvimento de doenças parasitárias durante o processo de envelhecimento (Ndhlovu et al., 1996; Ouma et al., 1998; Naus et al., 1999). Na esquistossomose humana, por exemplo, a intensidade de infecção geralmente aumenta nas duas primeiras décadas de vida diminuindo progressivamente a partir da segunda década de vida (Naus et al., 1999). Na literatura existe um consenso de que, embora ocorra 46 uma pequena redução nos níveis de exposição dos indivíduos com a idade, ela é insuficiente para explicar a grande redução na intensidade de reinfecção, cuja causa foi atribuída ao desenvolvimento de uma resistência adquirida com a idade (Butterworth et al., 1985). Conseqüentemente, esforços têm sido realizados no sentido de elucidar os diferentes mecanismos envolvidos na resistência ao Schistosoma mansoni (Butterworth et al., 1985;Wilkins et al., 1987;Gryseels, 1994;Ndhlovu et al., 1996). A morbidade da esquistossomose resulta da infecção com o parasito Schistosoma mansoni e a severidade da doença é conseqüência da fibrose causada pela resposta imune aos ovos que se encontram presos no sistema porta hepático, seqüestrados em lesões granulomatosas (Cheever and Andrade, 1967;Warren, 1968;Chiaramonte et al., 2001;Abath et al., 2006). O principal papel da reação granulomatosa na esquistossomose é proteger os tecidos do hospedeiro, isolando as toxinas em potencial secretadas pelo ovo. Essa inflamação gera uma resposta de reparação tecidual, desencadeando a deposição de colágeno tecidual, que quando em excesso é a expressão da fibrose. Esse é um processo dinâmico em que o tamanho e a composição celular das lesões variam com o tempo e é coordenado pela influência de uma rede de mediadores inflamatórios como células inflamatórias e citocinas (Conlon, 2005; Chiaramonte et al. 2001; Wynn & Cheever, 1995; Weinstock, 1992; Warren, 1972; Warren 1968; Cheever & Andrade 1967). A resposta granulomatosa crônica que ocorre em torno dos ovos do parasito, agravada pela fibrose, é o maior responsável pelo desenvolvimento da patologia. Os ovos do Schistosoma mansoni excretam um antígeno solúvel responsável pelo desencadeamento de um complexo fisiopatológico reacional que promoverá a formação do granuloma em torno dos ovos (Lenzi et al., 1991;Lukacs et al., 1993;Pearce and MacDonald, 2002;Lins et al., 2008). A resposta granulomatosa, e não somente a ação direta dos antígenos dos ovos do parasito, pode ser responsável pelas manifestações patológicas teciduais. Estudos em microcirculação têm mostrado que os granulomas formados em torno dos ovos nos capilares présinusoidais impedem o fluxo de sangue hepático. Tal bloqueio no sistema Porta hepático induz a hipertensão portal (Boros, 1989). Outro fator que contribui para hipertensão portal é a fibrose de Symmers, que desenvolve em torno de ramos da veia porta. Com o desenvolvimento do granuloma e da fibrose, juntamente com valores elevados de pressão portal e intensa atividade imunológica do hospedeiro, pode levar ao desenvolvimento de hepatosplenomegalia, forma clinica mais grave da doença (Boros, 1989). Apesar do papel na patologia da esquistossomose, o granuloma também possui um papel protetor para o hospedeiro. Os ovos do S. mansoni liberam toxinas que são tóxicas para as células teciduais. 47 Portanto, caso os ovos de S. mansoni e suas toxinas não sejam neutralizados ou seqüestrados efetivamente, podem causar danos aos tecidos afetados (Damian et al., 1984;Pearce and MacDonald, 2002). Nesse contexto foi de interesse analisar a histopatologia do fígado e baço dos grupos de camundongos jovens e idosos. Avaliou-se o número e tamanho dos granulomas, o infiltrado celular (expressão da inflamação) e depósito de colágeno (expressão da fibrose) nesses órgãos. 6.1 NÚMERO E TAMANHO DE GRANULOMAS HEPÁTICOS DE CAMUNDONGOS JOVENS E IDOSOS NAS FASES AGUDA E CRÔNICA DE INFECÇÃO. Na presente análise, os camundongos jovens apresentaram maior número de granulomas durante a infecção crônica (J 120) quando comparado a infecção aguda (J 70) (p=0,0008). Entretanto, não foi observada essa diferença nos animais idosos (I 70 - I 120) (Figuras 1 e 2). Segundo Hernandez e colaboradores (Hernandez et al., 2004), o desenvolvimento dos parasitos da forma de cercária infectante para vermes adultos produtores de ovos depende de um sistema imune intacto. Esses autores demonstraram que em camundongos imunodeficientes, o sistema imune do hospedeiro tem um papel fundamental no desenvolvimento dos machos de S. mansoni e este, por sua vez, são essenciais ao desenvolvimento da fêmea do parasito. O envelhecimento está associado a mudanças no sistema imune, tanto na arquitetura dos tecidos dos órgãos linfóides, como no fenótipo de células do sistema imunológico e alterações no padrão de citocinas produzidas, tais mudanças poderiam afetar, de alguma forma, a postura de ovos nos animais idosos (Ernst et al., 1993;Barrat et al., 1995;Kurashima and Utsuyama, 1997;Timm and Thoman, 1999;Gruver et al., 2007). Isso permitiria uma maior retenção dos ovos no tecido hepático já no início da infecção, que se mantém na fase crônica nos animais idosos. Embora não se tenha observado um aumento significativo entre J 70 e I 70, o que poderia ser explicado pelo número de animais estudados. Com relação à área dos granulomas, camundongos jovens apresentaram granulomas menores na fase crônica (J 120) quando comparado com a fase aguda (J 70) (p= 0,0486) (Figuras 3 e 4). Essa diferença não foi observada no grupo de camundongos idosos (I 70 – I 120). Durante a infecção por Schistosoma mansoni, há o desenvolvimento de uma resposta 48 inflamatória granulomatosa devido à deposição de ovos no tecido. Ao longo do curso da infecção, durante a passagem da fase aguda para a fase crônica, observa-se uma modulação desse granuloma, exercida por diversos fatores dentre eles a interleucina-10. A IL- 10 é uma citocina moduladora produzida por uma diversidade de células tais como células TCD4+CD25+ (células T reguladoras – Treg) além de macrófagos e células TCD4+ e TCD8+. As células T reguladoras têm papel crucial na supressão da resposta imune a auto-antígenos e na prevenção de doenças auto-imunes, além de controlarem a resposta imune a bactérias, vírus, parasitos e fungos (de Waal et al., 1991;Mills, 2004). Em indivíduos idosos, não está claro se o pool de Treg é significativamente diferente daquele encontrado em indivíduos jovens, entretanto, alguns autores têm demonstrado que idosos têm um aumento nas Tregs em comparação aos jovens (Kozlowska et al., 2007). Além disso, pode ocorrer uma produção aumentada de IL-10 em animais idosos. Spencer e colaboradores (1996) demonstraram que o tratamento de animais idosos com sulfato dehidroepiandosterona (DHEAS), um esteróide natural, reverteu as alterações associadas ao envelhecimento na produção de citocina, rendendo ao camundongo tratado total similaridade a adultos maduros controle (Spencer et al., 1996). Sugere-se então que em animais idosos ocorreria uma modulação do granuloma já na fase aguda da infecção que é mantida na fase crônica, enquanto que em animais jovens tal modulação ocorreria na fase crônica. Tal fato estaria relacionado à patologia, e em animais idosos a modulação possivelmente estaria associada tanto à patologia quanto ao microambiente senescente, sabidamente alterado nesses animais. Interessantemente, em animais jovens com 120 dias de infecção ocorre uma modulação da resposta granulomatosa ao ponto que o seu granuloma fica significativamente menor que dos idosos no mesmo período (p=0,0022) (Figuras 3 e 4). Esse fato pode ser explicado pelo grande pool de células virgens de camundongos jovens comparado aos idosos. Isso possibilita ao animal jovem ampliar sua resposta moduladora frente à inflamação granulomatosa existente em comparação aos animais idosos. O principal efeito do envelhecimento no sistema imune pode ser observado no timo (sítio de maturação das células T). A atrofia tímica associada ao progressivo envelhecimento, leva a uma redução de tecido tímico funcional e um declínio na geração de células T. Há então, uma diminuição no aporte de células virgens desse órgão. Associado a essa diminuição, o acúmulo de linfócitos T expressando um fenótipo de células ativadas - resultado do processo natural e acumulativo de ativação - as mudanças nas interações com as células apresentadoras de antígeno que também apresentam alterações com o envelhecimento, sugerem que animais idosos possuam um perfil de citocinas diferente do perfil de animais 49 jovens, uma vez que as células T "virgens" secretam um perfil de citocinas diferente das células T memória. Isso leva a crer que animais idosos apresentariam uma diminuição na sua capacidade de reagir a antígenos novos (Jenkinson et al, 2008; Gruver et al, 2007; Miller, 1996; Takeoka et al., 1996; Hobbs et al., 1993, 1994). Assim, sugere-se que, por possuírem um repertorio de células T memória inicial maior que o de animais jovens, os camundongos idosos responderiam aos antígenos de ovo do S. mansoni já durante a fase aguda de infecção, inclusive através de citocinas moduladoras como a IL-10, que já sabidamente se encontra elevada no envelhecimento. Entretanto, animais jovens possuem uma maior capacidade de responder a novos antígenos e evoluem para um granuloma com área menor que a de idosos na infecção crônica. Além disso, estudos sugerem que animais idosos possuem um maior pool de células T reguladoras, principal fonte de IL-10 - uma citocina reguladora produzida por varias células tais como macrófagos e células TCD4+ (Kozlowska et al, 2007; Saverino et al, 2008). Isso sugere que os animais idosos podem ter uma regulação da resposta inflamatória granulomatosa, mantendo assim a mesma área de granuloma durante a evolução da infecção aguda para a crônica. O presente estudo faz parte de um projeto mais abrangente que analisa a influência da senescência na resposta imune frente à esquistossomose em modelo murino. Outros dados foram obtidos pelos estudos adjacentes referentes ao mesmo projeto, determinando uma análise fenotípica das populações celulares e das citocinas presentes no fígado de animais jovens e idosos, nas fases aguda e crônica da esquistossomose experimental. Observou-se que animais idosos apresentaram elevada concentração de interleucina-10 (IL-10) desde a fase aguda de infecção, mantendo esses altos níveis na fase crônica de infecção. Já animais jovens apresentaram maior flexibilidade, com aumento da IL-10 frente à exposição ao novo antígeno, tanto do ovo (SEA) quanto do verme (SWAP) de S. mansoni. Em relação ao IFNγ, altos níveis foram apresentados pelos animais idosos, sugerindo uma ativação precoce, com pequena alteração frente ao antígeno e leve aumento na fase crônica de infecção, enquanto que animais jovens apresentaram aumento de IFNγ frente aos antígenos tanto na fase aguda quanto na fase crônica de infecção por S. mansoni. Dados complementares forneceram informações referentes ao percentual de células virgens e ativadas nos animais. Animais jovens apresentaram maior nível percentual de células virgens que animais idosos (T CD4+CD62L+, por exemplo). Além disso, há leve diminuição desse percentual nos animais jovens da fase aguda para a fase crônica, demonstrando mais uma vez a flexibilidade, em contraste a uma manutenção de mesmos níveis percentuais de células virgens em animais idosos nas fases aguda e crônica de infecção. Em relação às células ativadas (T 50 CD4+CD45RBhi+, por exemplo), jovens apresentam a mesma característica de flexibilidade demonstrada pelo aumento no percentual dessas células da fase aguda para a fase crônica de infecção enquanto animais idosos apresentaram pequena alteração nesse percentual de células ativadas. Esse perfil apresentado pelos animais jovens sugere então maior adaptabilidade e flexibilidade fenotípica frente a um novo antígeno e um padrão parcialmente modulado e refratário por parte dos animais idosos, que pode ser explicado em parte pela supressão de moléculas co-estimuladoras devidos aos altos níveis de IL-10 (Speziali et al., 2009). 6.2 ANÁLISE DA RESPOSTA INFLAMATÓRIA PRESENTE NO FÍGADO DE CAMUNDONGOS JOVENS E IDOSOS NAS FASES AGUDA E CRÔNICA DE INFECÇÃO. Após a deposição dos ovos nos tecidos, eles são rapidamente cercados por infiltrados de células inflamatórias, resultando no granuloma. Esse é um processo dinâmico no qual o tamanho e a composição celular do granuloma variam com o tempo sendo regulado por uma rede de mediadores inflamatórios. Durante o desenvolvimento da resposta granulomatosa na esquistossomose, observa-se um recrutamento celular intenso (infiltrado inflamatório) cuja composição principal é de eosinófilos, neutrófilos, macrófagos e linfócitos (Conlon, 2005; Rumbley, et al., 1999; Wynn & Cheever, 1995; Weinstock, 1992). O extenso infiltrado celular (expressão da inflamação) foi avaliado, neste estudo, através da diferença entre a celularidade presente no tecido hepático dos animais infectados em relação ao tecido hepático dos animais não infectados (controle). Ao analisar a celularidade tecidual de animais jovens e idosos com 70 e 120 dias de infecção, notou-se que a celularidade e infiltrado celular foi maior nos camundongos infectados que no grupo controle, exceto para o grupo de idosos durante a fase crônica de infecção (dados não mostrados graficamente). A análise realizada dessa maneira permite caracterizar como processo inflamatório, o aumento da celularidade, marcado pelo aumento do infiltrado celular no tecido hepático. Esse resultado já era esperado, uma vez que a presença dos ovos do parasito desencadeia uma resposta inflamatória do tipo granulomatosa caracterizada pela presença de macrófagos, eosinófilos e linfócitos (Chiaramonte et al. 2001; Weinstock, 1992; Warren, 1972; Warren 1968; Cheever & Andrade 1967). 51 Comparando-se os grupos de camundongos infectados durante a fase aguda da infecção, observou-se que a celularidade tecidual foi maior nos camundongos idosos (I 70) quando comparado à celularidade tecidual dos animais jovens (J 70) (p=0,0305) (Figuras 5 e 6). Não houve diferenças entre os grupos de camundongos jovens e idosos com 120 dias de infecção (J 120 – I 120). Entretanto, pode-se notar uma leve tendência de diminuição de celularidade no grupo de animais idosos da fase aguda para a fase crônica de infecção (P= 0,0583) (Figuras 5 e 6). Corroborando com a hipótese de que os animais idosos, por terem um repertório de células T de memória maior que o de indivíduos jovens, poderiam responder à infecção de uma forma mais rápida. E que a redução na geração de células T virgens, poderia levar a uma incapacidade parcial do sistema imune senescente de amplificar a sua resposta. Além disso, existem relatos de alterações nos fenótipos das células T periféricas com a idade, tais como mudanças em receptores de adesão (CD44), nos receptores ligados a migração de linfócitos para linfonodos periféricos (CD62L) e a diminuição na expressão das cadeias γ e β do receptor de IL-2 (importante na proliferação celular). Essas alterações poderiam justificar a diferença de migração leucocitária para o local da infecção entre animais idosos e jovens. Vale salientar que o aumento de células inflamatórias ocorre para aumentar a modulação do granuloma e diminuir seu tamanho (Timm & Thoman, 1999; Kurashima & Utsuyama, 1997; Wakikawa et al, 1997; Barrat et al., 1995; Ernst, 1993). É importante salientar que alterações nos fenótipos de células T podem levar a uma mudança no perfil de citocinas, gerando assim, uma alteração da resposta aos antígenos pela modificação no ambiente imunológico. Estudos sugerem que células T virgens de camundongos idosos tenham uma reduzida ativação, diferenciação e produção de citocinas. Células Th1 e Th2 de memória derivada de células T virgens senescentes produzem muito menos IL-2 e, IL-4 e IL-5, respectivamente, que células jovens (Haynes et al, 2005, 2003). 52 6.3 ANÁLISE DA FORMAÇÃO DO PROCESSO FIBRÓTICO NO FÍGADO DE CAMUNDONGOS JOVENS E IDOSOS NAS FASES AGUDA E CRÔNICA DE INFECÇÃO. A análise da neoformação de colágeno no fígado dos animais infectados mostrou que animais infectados apresentaram um maior deposito de colágeno quando comparado aos seus controles (dados não mostrados graficamente). Resultado esperado, pois a neoformação de colágeno ocorre em resposta aos antígenos do ovo durante a infecção pelo S. mansoni. Entretanto não houve diferenças entre os grupos de animais infectados jovens e idosos, durante infecção aguda e crônica (Figuras 7 e 8). Houve uma leve tendência de aumento de depósito de colágeno tecidual em animais idosos na fase crônica (I 120), entretanto não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas, devido, provavelmente, ao número de animais. 6.4 ANÁLISE DA FORMAÇÃO DO PROCESSO FIBRÓTICO NO BAÇO DE CAMUNDONGOS JOVENS E IDOSOS NAS FASES AGUDA E CRÔNICA DE INFECÇÃO. O baço é um órgão linfóide secundário que responde a antígenos sistêmicos por receber antígenos drenados pelo sistema vascular (Pinchuk and Filipov, 2008). O sangue entra no baço por uma rede de vasos, esses antígenos são seqüestrados e concentrados por células dendríticas e macrófagos, e então apresentados aos linfócitos, iniciando assim uma resposta ao antígeno apresentado (Pinchuk and Filipov, 2008). Comparando a neoformação de colágeno no baço, observou-se que todos os animais infectados apresentaram maior deposição de colágeno comparado aos seus controles, com exceção do grupo de jovens eutanasiados com 70 dias de infecção. Da mesma forma que nos outros aspectos histopatológicos já analisados, a resposta de deposição de colágeno é esperada que seja maior nos infectados que nos animais não infectados, sugerindo que essa deposição seja desencadeada pela infecção (dados não mostrados graficamente). Ao analisar os grupos de animais infectados entre si, observou-se que os animais jovens apresentaram uma maior deposição de colágeno no baço durante a infecção crônica (J 120) quando comparado a jovens 53 na fase aguda (J 70) (Figuras 9 e 10). Durante a infecção aguda de animais jovens, a resposta é observada mais localmente no tecido hepático e não sistemicamente. Mas com a passagem da fase aguda para a fase crônica, inicia-se, então uma maior resposta no baço. Isso sugere que, enquanto na fase aguda, os antígenos estimulariam células mais localmente no tecido hepático, com o decorrer da infecção, esses antígenos se espalhariam pelo sistema vascular, gerando assim, uma resposta mais sistêmica expressa pela resposta esplênica a esses antígenos, como por exemplo, ativação de fibroblasto e conseqüente produção de colágeno. Durante a fase aguda de infecção, o grupo de camundongos idosos (I 70) apresentou maior neoformação de colágeno quando comparado com camundongos jovens (J 70) (Figuras 9 e 10). Reforçando, então, a idéia de que o sistema imune senescente possui um repertório de células ativadas maior, possibilitando a esses animais responderem precocemente já numa fase aguda da infecção. Diferentemente do observado em animais jovens, os animais idosos não apresentam modificação no que diz respeito à deposição de colágeno. Tal resultado sugere que os animais jovens com maior pool de células virgens amplificariam sua resposta ao longo da infecção enquanto os idosos possuem uma menor capacidade de aumentar sua resposta, permanecendo com a mesma resposta da fase aguda para a crônica. Isso pode ser reflexo de uma adaptabilidade e flexibilidade do jovem de uma fase aguda para crônica. Sabe-se que o processo de envelhecimento é acompanhado de uma modificação no padrão celular quando comparamos animais jovens e idosos. Há uma modificação de um padrão de maior quantidade de células virgens, maior contribuição do Timo, maior diversidade celular e menor quantidade de células de memória em animais jovens, passando para um padrão de maior fenótipo de células de memória, mínima contribuição do Timo e pequena diversidade celular nos animais idosos (Berzins et al., 2002). 6.5 ANÁLISE DOS DADOS PARASITOLÓGICOS. Os dados parasitológicos demonstraram que as diferenças observadas no presente estudo não se devem à carga parasitária. Dessa forma, torna-se ainda mais relevante o processo de senescência como fator responsável pelas alterações observadas. 54 7 CONCLUSÃO O estudo proposto fornece evidências que suportam a hipótese de uma capacidade do organismo senescente de modular sua resposta já no inicio da infecção por S. mansoni e uma menor capacidade desse organismo de amplificar sua resposta a novos antígenos. Além disso, sugere que essa menor capacidade pode ser resultado das mudanças no sistema imune, tanto na arquitetura de tecidos de órgãos linfóides, como no fenótipo de células do sistema imunológico. Sugere-se também uma refratariedade parcial no que diz respeito à resposta imune apresentada pelos animais idosos frente à resposta granulomatosa. Essas características determinam o desenvolvimento histopatológico diferenciado da resposta granulomatosa e inflamação no fígado, e da fibrose hepática e esplênica de animais idosos quando comparados com animais jovens, possibilitando inferir uma grande influência do processo de senescência no desenvolvimento da esquistossomose mansoni murina. 55 REFERÊNCIAS ABATH, F. G. C. N.; Morais, C. E.; Montenegro, T. A. Wynn, and S. M. Montenegro, 2006, Immunopathogenic mechanisms in schistosomiasis: what can be learnt from human studies?: Trends Parasitol, v. 22, no. 2, p. 85-91. AMIRI, P., R. M. Locksley, T. G. Parslow, M. Sadick, E. Rector, D. Ritter, and J. H. McKerrow, 1992, Tumour necrosis factor alpha restores granulomas and induces parasite egglaying in schistosome-infected SCID mice: Nature, v. 356, no. 6370, p. 604-607. ANDRADE, Z. A., 2008, Schistosomiasis and hepatic fibrosis regression: Acta Trop., v. 108, no. 2-3, p. 79-82. BARRAT, F., H. Haegel, A. Louise, S. Vincent-Naulleau, H. 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