universidade metodista de são paulo

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA DA SAÚDE
Escola de Ciências Médicas e da Saúde
RICARDO SILVA DOS SANTOS DURÃES
IDENTIFICAÇÃO DE DISTORÇÕES COGNITIVAS EM CASAIS E
INTERVENÇÃO COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
São Bernardo do Campo
2016
1
RICARDO SILVA DOS SANTOS DURÃES
IDENTIFICAÇÃO DE DISTORÇÕES COGNITIVAS EM CASAIS E
INTERVENÇÃO COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
Dissertação de Mestrado apresentado ao
Programa
de
Pós-Graduação
em
Psicologia da Saúde da Escola de
Ciências Médicas e da Saúde da
Universidade Metodista de São Paulo –
UMESP.
Orientador: Prof. Dr. Antonio de Pádua
Serafim.
São Bernardo do Campo, 2016
2
A dissertação de mestrado sob o título “Identificação de distorções cognitivas
em casais e intervenções cognitivo-comportamentais”, elaborada por Ricardo
Silva dos Santos Durães foi apresentada e aprovada em 16 de novembro de
2016, perante a banca composta por Prof. Dr. Antonio de Pádua Serafim
(Presidente/UMESP), Profa. Dra. Maria Geralda Viana Heleno (Titular/UMESP) e
Profa. Dra. Priscila Dib Gonçalves (Titular/Ipq-HCFMUSP).
________________________________________
Prof. Dr. Antonio de Pádua Serafim
Orientador e Presidente da Banca Examinadora
________________________________________
Profa. Dra. Maria do Carmo Fernandes Martins
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação
Programa: Pós-Graduação em Psicologia da Saúde
Área de Concentração: Psicologia da Saúde
Linha de Pesquisa: Prevenção e Tratamento
3
Epígrafe
“Em última análise, precisamos amar para não adoecer”.
Freud
“Os psicólogos interessam-se,
sobretudo, por saber em que ocasiões há, ou não, tomada de consciência, mas
negligenciam demasiadamente a outra questão, que lhe é complementar e consiste
em estabelecer ‘como’ ela se processa”.
Jean Piaget
“O autoconhecimento tem um valor especial para o próprio indivíduo. Uma pessoa
que se tornou consciente de si mesma, por meio de perguntas que lhe foram feitas,
está em melhor posição de prever e controlar seu próprio comportamento”.
Skinner
“Se nossos pensamentos forem limpos e claros, estaremos melhor preparados para
alcançar nossos objetivos.”
Aaron Beck
4
RESUMO
Durães, R. S. S. (2016). Identificação de distorções cognitivas em casais e
intervenções cognitivo-comportamentais. Dissertação de mestrado, Programa de
Pós-Graduação em Psicologia da Saúde da Escola de Ciências Médicas e da
Saúde da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), São Bernardo do
Campo – São Paulo.
Os pensamentos automáticos, as emoções, os comportamentos e as respostas
fisiológicas têm relações entre si e estão diretamente ligados às atribuição das
causas, crenças, valores, atitudes e expectativas na relação dos casais e estão
associados à satisfação conjugal e sofrimento psíquico. O objetivo desse estudo
foi identificar distorções cognitivas em casais e intervir a partir da terapia cognitivocomportamental e aumentar os níveis de satisfação conjugal. A amostra foi
composta por 16 casais heteroafetivos, brasileiros, maiores de 18 anos,
alfabetizados e com no mínimo um ano de união. Assim, a idade média da amostra
foi de 30,4 (DP=4,13) anos e a maioria (37,5%) relatou ter ensino médio completo.
Foram utilizados os seguintes instrumentos: Escala de Satisfação Conjugal
(ESC); Escala de Ajustamento Diádico (DAS); Inventário de Crença Sobre
Relacionamento (RBI); Inventário de Habilidades Sociais Conjugais (IHSC);
Questionário de Pensamentos Automáticos (ATQ); Escala de Atitudes
Disfuncionais (EAD); Inventário Back de Depressão – (BDI) e Inventário Beck de
Ansiedade
(BAI) aplicados antes e depois da intervenção cognitivo
comportamental, além de um Questionário Sociodemográfico. Quanto ao
procedimento, os casais passaram por 12 sessões de terapia de 50 minutos com
base cognitivo-comportamental. Somente a segunda sessão foi individual. No
entanto, a primeira e as demais sessões foram conjuntas. Os resultados
mostraram que as distorções cognitivas mais frenquentes foram a Leitura de
pensamento 34,4% (n=11) e de hipergeneralização 31,3% (n=10). Foi possível
observar que a intervenção cognitivo comportamental se mostou eficaz,
corroborando melhora nas satisfação conjugal da maioria dos casais. As
correlações de amostras emparelhadas apresentaram significância estatística
(p=0,00) na melhora dos níveis de satisfação conjugal, depressão, ansiedade,
habilidades sociais conjugais e pensamentos automáticos comparado com o antes
e depois da intervenção.
Palavras-chave: Terapia cognitivo-comportamental; distorções cognitivas; relações
conjugais.
Apoio: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)
5
ABSTRACT
Durães, R. S. S. (2016). Identification of cognitive distortions in marital relationship
and cognitive-behavioral interventions. Master’s dissertation, Programa de PósGraduação em Psicologia da Saúde da Escola de Ciências Médicas e da Saúde da
Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), São Bernardo do Campo, São
Paulo, Brazil.
Automatic thoughts, emotions, behaviors and physiological responses have
relationships with each other and are directly linked to the attribution of the causes,
beliefs, values, attitudes and expectations in the relationship of couples and are
associated with marital satisfaction and psychological distress. The aim of this
study was to identify cognitive distortions couples and intervene from cognitivebehavioral therapy and increase levels of marital satisfaction. The sample
consisted of 16 heteroafetivos couples, Brazilian, 18 years, literate and at least one
year of marriage. Thus, the average age of the sample was 30.4 (SD=4,13) years
and the majority (37.5%) reported having completed high school. The following
instruments were used: Marital Satisfaction Scale (ESC); Dyadic Adjustment Scale
(DAS); Relationship Belief Inventory (RBI); Marital Social Skills Inventory (IHSC);
Automatic Thoughts Questionnaire (ATQ); Dysfunctional Attitude Scale (EAD);
Back Depression Inventory - (BDI) and Beck Anxiety Inventory (BAI) applied before
and after cognitive behavioral intervention, and a Questionnaire Sociodemographic.
In the procedure, the couples came by 12 therapy sessions for 50-minutes weekly
with cognitive-behavioral approach. Only the second session was individual.
However, the first and the other sessions were combined. The results discloused
as the most frenquentes cognitive distortions have the Mind Reading 34.4% (n =
11) and Hipergeneralization 31.3% (n = 10). In terms of final considerations it was
observed that the cognitive behavioral intervention showed its effective, and then,
corroborating improvement in marital satisfaction of most couples. Thus, the
correlations of paired samples showed statistical significance (p=0,00) in the
improvement of the levels of marital satisfaction, depression, anxiety, marital social
skills and automatic thought compared to before and after the intervention.
Keywords: Cognitive-behavioral therapy; cognitive distortions; marital relations.
Support: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)
6
DEDICATÓRIA
À minha querida esposa, Luziane Durães, com amor,
admiração, apreço e gratidão, por sua compreensão, carinho,
insentivo, presença constante e incansável e apoio ao longo do
período da elaboração deste trabalho.
7
AGRADECIMENTOS
A Deus,
Aos meus pais, irmãos e irmã, Sogra, Sogro, cunhados e cunhadas,
Ao meu orientador Prof. Dr. Antonio de Pádua Serafim,
À banca de qualificação composta pelo Prof. Dr. Antonio de Pádua Serafim, Profa.
Dra. Miria Benincasa Gomes e Profa. Dra. Maria GeraldaViana Heleno,
À banca de defesa da dissertação que foi composta pelo Prof. Dr. Antonio de Pádua
Serafim, Profa. Dra. Priscila Dib Gonçalves e Profa. Dra. Maria GeraldaViana
Heleno,
À Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde, Profa.
Dra. Maria do Carmo Fernandes Martins,
A todos/as os/as professores/as do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da
Saúde da Universidade Metodista de São Paulo,
À Coordenadora do curso de Psicologia da Escola de Ciências Médicas e da Saúde
da Universidade Metodista de São Paulo, Profa. Me. Mariantonia Chippari,
À Coordenadora do curso de Teologia da Escola de Teologia da Universidade
Metodista de São Paulo, Profa. Dra. Blanches de Paula.
8
SUMÁRIO
1. JUSTIFICATIVA .................................................................................................... 15
2. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 16
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 20
3.1. Satisfação conjugal ............................................................................................ 20
3.2. Satisfação conjugal e habilidades sociais ......................................................... 21
3.4. Satisfação conjugal, ansiedade e depressão ..................................................... 22
3.5. Satisfação conjugal e pensamentos automáticos negativos .............................. 23
3.6. Satisfação conjugal e ajustamento diádico......................................................... 24
3.7. Satisfação conjugal e crenças sobre o relacionamento ..................................... 26
3.8. Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) ......................................................... 27
3.9. Terapia cognitivo-comportamental com casais .................................................. 29
3.10. Distorções cognitivas e identificação ................................................................ 30
3.11. Pensamentos automáticos, pressupostos subjacentes e crenças centrais ...... 32
3.12. Regulação emocional e reestruturação cognitiva ............................................. 32
3.13. Questionamento socrático ................................................................................ 34
3.14. Seta descendente ............................................................................................ 34
3.15. Psicoeducação ................................................................................................. 35
3.16. Role-playing ..................................................................................................... 36
3.17. Treino em comunicação ................................................................................... 37
3.18. Conceitualização de caso cognitivo-comportamental ....................................... 38
3.19. Estrutura das sessões ...................................................................................... 41
3.20. Tarefas de casa ................................................................................................ 42
3.21. Sessões conjuntas e individuais na terapia com casais ................................... 43
3.22. Prevenção de recaída ...................................................................................... 44
4. OBJETIVOS .......................................................................................................... 45
4.1. Geral.................................................................................................................. 45
4.2. Específicos ........................................................................................................ 45
5. HIPÓTESE ............................................................................................................ 45
6. MÉTODO............................................................................................................... 45
6.1. Participantes...................................................................................................... 45
6.2. Obtenção da amostra ........................................................................................ 45
9
6.3. Critérios de Inclusão .......................................................................................... 46
6.4. Critérios de Exclusão......................................................................................... 46
6.5. Local .................................................................................................................. 46
6.6. Procedimentos .................................................................................................. 46
6.7. Aspectos Éticos ................................................................................................. 46
6.8.1. Questionário Sociodemográfico ....................................................................... 47
6.8.2. Inventário Back de Depressão (BDI – Beck Depression Inventory) .......... 47
6.8.3. Inventário Beck de Ansiedade (BAI – Beck Anxiety Inventory) .................. 47
6.8.4. Escala de Satisfação Conjugal (ESC)- (Pick de Weiss e Andrade Palos
(traduzida e adaptada por Dela Coleta, 1989). ........................................................ 47
6.8.5. Escala de Ajustamento Diádico (DAS – Dyadic Adjustment Scale)
(Spainer, 1976 (traduzida por Bernard, 2007). .......................................................... 48
6.8.6. Inventário de Habilidades Sociais Conjugais (IHSC)- (Del Prette - Del
Prette & Del Prette, 2001). ............................................................................................ 48
6.8.7 Inventário de Crença Sobre Relacionamento (RBI – Relationship Belief
Inventory) (Eidelson e Epstein,1982 (traduzido por Peçanha e Rangé, 2008). ... 49
6.8.8. Questionário de Pensamentos Automáticos (ATQ – Automatic Thought
Questionnaire) - (Philip C. Kendall and Steven D. Hollon, 1980). .......................... 49
6.8.9. Escala de Atitudes Disfuncionais (EAD – Dysfuctional Attitudes Scale)
(Arlene Weissman - adaptado por Orsini, Tavares e Trccoli, 2005). ..................... 49
6.8.10. Registro Pensamentos Disfuncionais (RDT - Record of Dysfunctional
Thoughts)(Whight, Beck, Rust at al, 1979). ............................................................... 50
6.9. Descrição do protocolo da terapia ...................................................................... 50
6.9.1. Protocolo piloto de atendimento ...................................................................... 50
6.10. Descrição dos procedimentos de atendimento por sessão .............................. 51
6.10.1. 1ª sessão – Rapport; Avaliação (conjunta) - Questionário
sociodemográfico; ESC; BDI; BAI ............................................................................... 51
6.10.2. 2ª sessão – Avaliação (individual); DAS; QPA; EAD ................................. 51
6.10.3. 3ª sessão – Avaliação conjunta e plano de tratamento, IHSC, RBI ....... 52
6.10.4. 4ª sessão – Role playing (dramatização) ..................................................... 52
6.10.5. 5ª sessão – Psicoeducação sobre pensamentos automáticos, resposta
comportamental, resposta fisiológica, estratégia compensatória de
enfrentamento, regulação emocional .......................................................................... 53
6.10.6. 6ª sessão – Treino em comunicação e habilidades sociais conjugais .... 54
10
6.10.7. 7ª sessão – Treino em comunicação, identificação de distorções
cognitivas ......................................................................................................................... 54
6.10.8. 8ª sessão – Treino em resolução de problemas baseado em evidências
........................................................................................................................................... 55
6.10.9. 9ª sessão – Treino em resolução de problemas, plano de ação ............. 56
6.10.10. 10ª sessão – Reestruturação cognitiva, RPD ........................................... 56
6.10.11. 11ª sessão – Prevenção de recaída ........................................................... 57
6.10.12. 12ª sessão – Feedback geral, devolução dos inventários, questionários
e avaliações finais .......................................................................................................... 57
6.11.1 1º – 10’ - Cumprimento ao casal; obteção de uma atualização da sessão
anterior até a atual e revisão do exercício de casa .................................................. 58
6.11.2 2º – 2’ - Verificação do humor ......................................................................... 58
6.11.3 3º – 5’ - Definição da pauta, embora pré-programada, acontece
colaborativamente com os casais ................................................................................ 58
6.11.4 4º – 25’ – O desenvolvimento da pauta, definida em colaboração –
terapeuta-casal ............................................................................................................... 58
6.11.5 5º – 3’ – A definição das tarefas de casa ...................................................... 58
6.11.6 6º – 5’ – É solicitação um resumo e feedback da sessão atual ................ 59
7. ANÁLISE DOS RESULTADOS ............................................................................. 60
8. RESULTADOS ...................................................................................................... 61
9. DISCUSSÃO ......................................................................................................... 71
9.1. Comunicação e satisfação conjugal ................................................................... 71
9.2. Distorções cognitivas e funcionamento conjugal ................................................ 74
9.3. Satisfação conjugal ............................................................................................ 78
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 80
10.1. Limitações ........................................................................................................ 81
10.2. Orientações para futuras pesquisas ................................................................. 81
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 82
ANEXOS ................................................................................................................... 92
1 Termo de autorização da instituição ................................................................................ 93
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) ................................................ 94
2 Questionário Sociodemográfico ....................................................................................... 96
3 Descrição de expectativas do casal ................................................................................. 100
3 Registro de Pensamentos Disfuncionais (RDT - Record of Dysfunctional Thoughts) ..... 101
11
13. Princípios Para Quem Fala e Para Que Ouve ................................................................ 102
Lista de Atribuições Disfuncionais ...................................................................................... 106
Lista de Expectativas Irrealistas .......................................................................................... 107
Distorções Cognitivas Comuns............................................................................................ 108
Regras Para Resolução de Problemas ................................................................................. 109
Modelo dos resultados de um caso ......................................................................... 110
Caso 1 ..................................................................................................................... 110
Resultados das avaliações – antes e depois da intervenção ............................... 116
Síntese dos resultados do caso 1 .............................................................................. 117
12
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
A
AS
ATQ
BAI
BDI
Cc
D
DAS
Dc
DP
EAD
ESC
FA
FI
H
HG
IHSC
LP
M
MD
MH
MM
p
PA
PD
PL
RBI
RL
RPD
RS
T
TAG
Tc
TCC
TCLE
Antes da intervenção terapêutica
Abstração seletiva (distorção cognitiva)
Questionário de Pensamentos Automáticos (Automatic Thought Questionnaire)
Inventário Beck de Ansiedade (Beck Anxiety Inventory)
Inventário Back de Depressão (Beck Depression Inventory)
Comunicação (queixas)
Depois da intervenção terapêutica
Escala de Ajustamento Diádico (Dyadic Adjustment Scale)
Desconfiança (queixas)
Desvio padrão
Escala de Atitudes Disfuncionais (Dysfuctional Attitudes Scale)
Escala de Satisfação Conjugal
Falta de afeto (queixas)
Falta de iniciativa (queixas)
Homem
Hipergeneralização (distorção cognitiva)
Inventário de Habilidades Sociais Conjugais
Leitura de pensamento (distorção cognitiva)
Mulher
Média
Mau humor (queixas)
Minimização e maximização (distorção cognitiva)
Valor
Pensamentos Automáticos
Pensamento dicotômico (distorção cognitiva)
Personalização (distorção cognitiva)
Inventário de Crença Sobre o Relacionamento (Relationship Belief Inventory)
Rotulação (distorção cognitiva)
Registro Pensamentos Disfuncionais (Record of Dysfunctional Thoughts)
Relações sexuais (queixas)
Total da média geral
Transtorno de Ansiedade Generalizada
Traição (queixas)
Terapia Cognitivo-Comportamental (Cognitive Behavioral Therapy)
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
13
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Composição da amostra (n=32 casais heteroafetivos). .......................... 61
Tabela 2 – Frequência das principais queixas entre os 32 participantes. ................. 63
Tabela 3 – Frequências das distorções cognitivas nos 32 participantes. ................. 63
Tabela 4 – Resultados das tabelas cruzadas para verificação de dependência entre
variáveis sociodemográficas e distorções cognitivas. ............................ 64
Tabela 5 – Resultados da análise univariada das VD’s, antes da intervenção, entre
as distorções, covariada por gênero. ..................................................... 66
Tabela 6 – Resultados das correlações das amostras emparelhadas – antes e
depois da intervenção para todas as escalas......................................... 67
Tabela 7 – Resultados das correlações das amostras emparelhadas – antes e
depois da intervenção. ........................................................................... 68
Tabela 8 – Resultados de teste não-paramétrico de BAI e RBI, antes e depois da
intervenção. ............................................................................................ 69
Tabela 9 – Resultados das correlações de Pearson das variáveis por gênero – antes
e depois da intervenção terapêutica. ...................................................... 69
14
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Descrição das distorções cognitivas e seus respectivos significados e
exemplos.............................................................................................. 31
Quadro 2 – Registro de Pensamentos Disfuncionais .............................................. 33
Quadro 3 – Exemplo da utilização da seta descendente até a implicação do
pensamento ......................................................................................... 35
Quadro 4 – Modelo de conceitualização de caso cognitivo-comportamental com
casais ................................................................................................... 39
Quadro 5 – Passos importantes de uma sessão cognitivo-comportamental .......... 41
Quadro 6 – Descrição do protocolo piloto de atendimento da terapia .................... 50
Quadro 7 - Conceitualização do caso de Allinson .................................................. 111
Quadro 8 - Conceitualização do caso de Allan ....................................................... 113
Quadro 9 - Descrição de registro de pensamentos disfuncionais do caso Allan .. 116
Quadro 10 - Descrição de registro de pensamentos disfuncionais do caso Allinson
........................................................................................................... 117
15
1. JUSTIFICATIVA
Esta pesquisa foi motivada a partir da percepção dos grandes e constantes
conflitos entre casais bem como a dificuldade destes em resolverem seus
problemas que, às vezes se mantêm por falta de habilidades sociais ou por
padrões de pensamentos rígidos e irraizados, expectativas irrealistas sobre
relacionamento conjugal, atribuições disfuncionais. Além disso, estes desajustes e
insatisfações
conjugais
são
fatores
de
risco
para
transtornos
mentais,
principalmente a depressão.
Após trabalhar com casais por uma década, percebi que, além de ser um
tema relevante, havia a necessidade de se fazer um estudo de intervenção
terapêutica com este público a fim de investigar as distorções cognitivas que
interfem na dinâmica dos casais e o impacto que estas têm na satisfação conjugal
e a relação com as suas crenças, habilidades sociais, pensamentos automáticos,
padrões de comportamentos.
Uma vez que a terapia cognitivo-comportamental tem sido eficaz no
atendimento a casais, resolvemos utilizar desta abordagem a fim de reestruturar as
cognições distorcidas dos casais participantes da pesquisa, melhorar a satisfação
destes e, por consequência, aumentar os níveis de qualidade de vida, bem-estar e
percepção de si próprio, do outro e do próprio futuro, além de propor um protocolo
de atendimento para casais.
16
2. INTRODUÇÃO
De acordo com Zordan, Wagner e Mosmann (2012), pesquisas demonstram
que
as
pessoas
consequentemente,
continuam
querendo
considerando
casar-se.
o
casamento
Entretanto,
algumas
importante
e,
características
tradicionais das uniões como, por exemplo, a estabilidade e durabilidade da
relação, não têm sido mais uma premissa básica do casamento. Desta forma, há
uma crescente diminuição das relações conjugais duradouras.
A partir desses pressupostos, tem-se observado que nos últimos anos as
uniões conjugais são múltiplas e a separação um fato recorrente. Entre as
possíveis variáveis que podem contribuir para essas mudanças estão os fatores
socioeconômico-culturais que têm atravessado um processo cada vez mais
constante de transformações entre os casais (Wagner e Falcke, 2002).
Além disso, tem o fato de que os interesses pessoais tendem a ser mais
valorizados que os conjugais na relação, ou seja, relacionamentos marcados por
demandas ou sobreposição dos interesses têm a tendência de reduzir os espaços
e disponibilidade para compartilhar, dividir e socializar (Zordan,
Wagner, &
Mosmann, 2012). A “cultura do eu” toma o lugar da “cultura do nós”,
estabelecendo, então, dificuldades nas relações conjugais e afetivas, pois, há um
distanciamento e esfriamento emocional por estes viverem em constante busca de
prazer próprio e nunca se satisfazerem (Perez-Alvarez, 2003).
Outra questão que tem sido discutida sobre o divórcio, compreensão e razões
predominantes às separações conjugais é a ascensão do status feminino e o fato
de ambos os cônjuges poderem ser bem-sucedidos de forma igualitária (Zordan,
Falcke, & Wagner, 2009; Zordan,
Wagner, & Mosmann, 2012). Não obstante,
aspectos como valores, hábitos, interesses, exercício de papéis familiares e
domésticos, bem como a ruptura com a família extensa e o isolamento social,
também tem sido pesquisado. No entanto, é difícil compreender ou indentificar
apenas um motivo que implique na dinâmica do casal e leve à dissolução das
relações (Wagner & Falcke, 2002).
Segundo Rizzon, Mosmann e Wagner (2013), causas psicossociais permeiam
os conflitos conjugais e podem levar ao divórcio. Associado a isto, estão fatores
psicológicos e, em destaque, a influência da família de origem e do meio social.
17
Em consequência, as pessoas que vivenciam o processo de separação também
sofrem (Rizzon, Mosmann, & Wagner, 2013).
Sobre a família de origem, Dattilio e Padesky (1995) acreditam que essa
exerce um papel importante no modo como o indivíduo se relaciona e nas crenças
que este carrega consigo. Geralmente, se ouve afirmações como, “Bem que minha
mãe dizia”, “Meus pais nunca discutiram estas coisas” ou “Eu aprendi desta forma
com o meu pai”. Assim, conversar sobre o relacionamento dos pais, como, por
exemplo, costumes, valores, crenças pode ajudar o casal a compreender melhor
alguns dos seus próprios padrões e tentar modificá-los, se necessário, e adotar
novas diretrizes. Também, reforça a percepção da compreensão sobre o outro, as
crenças derivadas da família de origem e a verificação do seu grau de
funcionalidade em detrminada situação.
Assim, cada cônjuge leva consigo uma bagagem de conteúdos para o
relacionamento conjugal, por exemplo, conflitos, padrões de certo e errado,
esquemas rígidos de valores, crenças. Estes podem ser aprendidos ou
experienciado na convivência familiar de origem ao longo da vida, tanto entre os
pais e irmãos como entre si. Às vezes, estes esquemas estão profundamente
internalizados, enraizados e reforçados no indivíduo, que o torna cada vez mais
resistente à mudanças (Dattilio, 2009).
Segundo Sana e Scribel (2003), estas experiências podem aparecer na troca
de mensagem entre os cônjuges e no padrão de atitudes que, muitas vezes, não
comportam a realidade da vida conjugal, gerando assim, outros conflitos. No
entanto, (Dattilio & Padesky, 1990) o reconhecimento por parte dos cônjuges sobre
certos padrões ou esquemas serem derivados da família de origem, os ajuda a
comprender melhor as suas interações conjugais e a funcionalidade dessas no
relacionamento, podendo adotar novas diretrizes em busca da satisfação conjugal.
De acordo com Rizzon, Mosmann e Wagner (2013), cônjuges com maiores
índices de escolaridade relatam melhores níveis de satisfação conjugal, e, por
outro lado, casais com menores oportunidades econômicos reportam maiores
níveis de conflito conjugal e menores níveis de satisfação na relação.
Segundo Dattilio (2009), os índices de novas uniões e as taxas mundiais de
recasamento tem sido crescente ano após ano. Este fenômeno mostra que as
pessoas têm buscado encontrar relacionamentos mais satisfatórios. Entretanto, as
mesmas problemáticas têm sido observadas nos relacionamentos seguintes.
18
Zordan, Wagner e Mosmann (2012) concordam que as pessoas somente trocam
de parceiros, no entanto, os problemas continuam. Assim, possivelmente, os
motivos que levaram ao fim da primeira união podem se repetir nos
relacionamentos sucessivos.
A fim de aliviar o sofrimento dos cônjuges dentro da relação é necessário
desenvolver um projeto piloto de intervenção com casais que indique alternativas
de promoção de saúde e bem-estar, além de oferecer recursos que os auxiliem nos
seus relacionamentos amorosos, desenvolvendo habilidades de comunicação e
resolução de problemas, melhorando assim, a satisfação conjugal (Zordan,
Wagner, & Mosmann, 2012). Casais que recebem orientações profissionais sobre
relacionamento conjugal e resolução de possíveis conflitos, antes dos primeiros
cinco anos de união, têm menor probabilidade de divórcio (Dattilio, 2009).
As intervenções que têm uma perspectiva de psicoeducação, treinamento de
habilidades sociais conjugais são alternativas cada vez mais relevantes na
atualidade. Essa forma de intervenção terapêutica têm ajudado os casais nos
processos de aprendizagem, reflexão, conscientização, empatia e, além disso,
tende a melhorar níveis de saúde e bem-estar (Zordan, Wagner, & Mosmann,
2012).
Ao longo da história humana, a família e o convívio conjugal nunca
permaneceram na forma estacionária, ou seja, com as mesmas práticas, modelos
e crenças, mas, a medida que a sociedade evolui, a família, também se estrutura
de forma mais elevada. Sendo assim, estão em constante movimento de
adaptação e sobrevivência. Em cada novo modelo há, também, novos desafios
para as diversas áreas do conhecimento e para a sociedade (Engels, 2010).
Segundo Dattilio (2009) e Lipp (2010), diante das mudanças no sistema
familiar, especialmente na vivência conjugal, os conceitos, crenças e valores têm
levado casais a se separarem ou viverem em constantes conflitos (o que é um
agente estressor catastrófico capaz de levar os envolvidos a um estado de crise).
Segundo Lipp (2010), quanto mais mudanças bruscas acontecerem no
relacionamento e na sociedade, maior será a probabilidade de acontecer um stress
que pode gerar conflitos e crises nos relacionamentos. Consequentemente, devido
ao pouco conhecimento que cada cônjuge tem sobre suas próprias reações diante
dos agentes estressores e da compreensão da relação entre pensamentos
19
automáticos,
emoções,
comportamentos
e
respostas
fisiológicas,
estas
dificuldades podem levar à perda de controle, atitudes irracionais e até ao divórcio.
Os processos cognitivos, emocionais, fisiológicos e comportamentais estão
interligados (Lipp, 2010). O processo de informações do sistema nervoso se
constitui de estruturas e funções de células que transmitem sinais elétricos neurais
de um local para o outro do corpo humano. A maior concentração de neurônios
está no neocórtex, parte associada ao complexo cognitivo, formando redes de
transmissão de informações emocionais, sentimentais e fisiológicas (Sternberg &
Sternberg, 2011).
Assim, segundo Peçanha (2005), as intervenções terapêuticas cognitivocomportamentais, têm sido eficazes no tratamento das crenças disfuncionais,
comunicação inadequada e resolução de problemas conjugais.
20
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1. Satisfação conjugal
Segundo Wagner e Falcke (2002), a satisfação conjugal está associada às
expectativas sobre o casamento e seus resultados e custos representados. Assim,
a satisfação na relação conjugal é mais uma conceito intrapessoal que
interpessoal, isto, devido a quantidade de crenças disfuncionais entre as
expectativas que um cônjuge tem sobre o outro e a relação e recompensas
recebidas na realidade.
Dentre os diversos tipos de estudos realizados, a abordagem cognitivista da
Psicologia tem utilizado as teorias e modelos baseados na percepção de si e do
outro, na avaliação do relacionamento, na atribuição das causas, crenças, valores,
atitudes e expectativas, para melhor entender as questões associadas a relação
conjugal e seus conflitos (Machado, 2007).
Nesta perspectiva, um cônjuge que obtém mais ganhos que perdas, tanto
pessoais quanto no seu relacionamento, ou seja, menos exigência, pode ser
considerada satisfeita na sua relação. Por outro lado, quando uma pessoa percebe
que recebe muito menos do que ela doa na relação, esta possivelmente sentir-se-á
insatisfeita com o/a parceiro/a (Wagner e Falcke, 2002).
Os resultados obtidos pelos cônjuges em suas avaliações, do ponto de vista positivos ou negativos estão relacionados com o padrão interno de satisfação. Isto
varia de acordo com as experiências passadas de cada indivíduo. Quanto mais
resultados satisfatórios forem obtidos, maior será o nível de esperança na relação,
ou seja, o indivíduo terá maiores expectativas racionais quando os benefícios
superarem os custos (Sardinha, Falcone, & Ferreira, 2009; Machado, 2007).
Sendo assim, satisfação conjugal, sobretudo, é uma relação subjetiva, pois
envolve diferentes variáveis como características de personalidade de ambos os
cônjuges, experiências vivenciadas ao longo da vida familiar, a forma como
interpretam os eventos diários de uma relação conjugal. Neste escopo, as causas
atribuídas para a satisfação conjugal são variadas (Wagner e Falcke, 2002).
As variáveis para a satisfação conjugal podem estar no nível macro, ou seja,
influências que estão fora do indivíduo, como família, condições de trabalho,
pressões sociais ou, ainda, no nível micro que são características particulares do
21
indivíduo, como traços de personalidade, habilidades em diferentes áreas da vida,
na qual, a comunicação é de importância considerável (Wagner e Falcke, 2002;
Rizzon, Mosmann, & Wagner, 2013).
De acordo com Epstein (2010), casais infelizes tendem a ter interações e
comportamentos mais
disfuncionais do que aqueles que convivem num
relacionamento feliz. Além disso, os casais que vivem em conflitos tendem a ter
déficits de habilidades comunicativas e de resolução de problemas, bem como
atitudes defensivas e afastamento.
3.2. Satisfação conjugal e habilidades sociais
Problemas de relacionamentos conjugais e de insatisfação com o casamento
têm sido apontados como um dos maiores estressores da vida, levando a
sofrimentos psíquicos e enfermidades físicas (Machado, 2007). O estresse na
relação conjugal pode levar à violência entre os parceiros e, até consequências
mais extremas como, por exemplo, o homicídio ou suicídio. Estes problemas
podem afetar os filhos, familiares, amigos. A crise conjugal e o divórcio têm
ocupado um papel importante na literatura psicológica. Por isso, há uma grande
busca de protocolo de intervenções para tratar os conflito entre casais (Sardinha,
Falcone, & Ferreira, 2009).
Segundo Dela Coleta (1992), as pesquisas buscam compreender quais os
principais fatores que contribuem para a satisfação conjugal, como também sobre
os ganhos na saúde do indivíduo. Pois, esta satisfação fortalece o sistema
imunológico e aumenta a longevidade do indivíduo.
Para Dela Coleta (1992), satisfação conjugal envolve a relação de diversas
variáveis,
como:
características
de
personalidade,
valores,
atitudes
e
necessidades, sexo, momento do ciclo da vida familiar, presença de filhos, nível de
escolaridade, nível socioeconômico, nível cultural, trabalho remunerado e
experiência sexual anterior ao casamento.
Entretanto, a capacidade para se comunicar, que é um dos pontos principais
para a resolução de problemas, sofre influência destas variáveis. Pois, as
habilidades de manejo de críticas, de direitos e deveres, expressão de
assertividade e sentimentos positivos, valorização do cônjuge e feedback de
sentimentos e desejos, estabelecem um ambiente de satisfação na convivência
conjugal (Del Prette, Villa, Freitas & Del Prette, 2008).
22
Pesquisas mostram que a satisfação conjugal depende de habilidades de
interação como, por exemplo, capacidade para lidar com conflitos; consultar o
parceiro no momento da tomada de decisões; boa comunicação; valores como a
confiança, respeito, compreensão e equidade; intimidade sexual e psicológica.
Também, indivíduos que relatam maiores níveis de satisfação conjugal são mais
habilidosos socialmente e comunicam mais adequadamente. Estes estudos
mostram que a capacidade de escuta e de resolução de conflitos, além de levar ao
aumento da satisfação conjugal, também reduz o índice de divórcio (Sardinha,
Falcone, & Ferreira, 2009; Dela Coleta, 1992; Zordan, Wagner, & Mosmann, 2012).
Neste cenário, terapeutas de base cognitivo-comportamental propõem que o
desenvolvimento de habilidades sociais entre os casais em crise contribui
significativamente para a maior eficácia da comunicação e resolução de problemas
conjugais e, consequentemente, a prevenção de transtornos mentais como a
depressão e a ansiedade (Dattilio, 2009; Epstein & Schlesinger, 2000).
3.4. Satisfação conjugal, ansiedade e depressão
A ansiedade e a depressão têm afetado a satisfação nos relacionamentos
entre os casais. As dificuldades conjugais relacionadas com a depressão e a
ansiedade têm sido consideradas uma das maiores fontes de stress (Del Prette,
Villa, Freitas, & Del Prette, 2008).
Assim, pessoas com maiores níveis de
ansiedade, geralmente têm mais prejuízos na relação conjugal. Um dos
influenciadores é a grande expectativa de receber muito mais do que a relação
oferece. Por outro lado, a depressão também tem afetado fortemente tanto homens
como mulheres em suas relações conjugais, levado a relatos de baixos níveis de
satisfação ao apresentarem sintomas depressivos (Wagner & Falcke, 2001). As
crenças disfuncionais e os pensamentos automáticos negativos são fatores de
vulnerabilidade para a depressão (Dezois & Beck, 2008).
A prevalência de Depressão Maior é consistente ao redor do mundo,
principalmente em países em desenvolvimento. Em uma revisão sistemática com
26 estudos focados na prevalência e incidência de depressão e fatores associados,
Lima e Soares (2005) mostraram que as condições sociais, como sexo feminino,
idade, baixa renda, educação e ocorrência de estresse na relação conjugal podem
levar à depressão.
23
Além disso, a dificuldade em manter a satisfação conjugal, a insatisfação com
o funcionamento conjugal também são fatores de risco para a depressão (Whisman
& Kaiser, 2008; Miller, Mason, Canlas, Wang, Nelson, & Hart, 2013). Em um estudo
(Rehman, Ginting, Karimiha & Goodnight, 2010) sobre os efeitos específicos da
depressão sobre a satisfação conjugal foram identificados correlações entre os
efeitos dos sintomas depressivos com uma comunicação disfuncional e
insatisfação conjugal.
De acordo com Cohen, O'Leary e Foran (2010), a melhora na percepção de
satisfação conjugal tem impacto significativo na redução dos níveis de depressão
em mulheres. Por consequência, os homens relatam maior satisfação conjugal com
a mudança de percepção da mulher. Por outro lado, as mulheres relatam que as
mudanças positivas em seus pensamentos, atitudes e comportamentos estão
relacionados com a percepção de aumento da positividade e apoio aos seus
maridos (Cohen, Daniel, O'Leary, Foran, & Kliem, 2014).
3.5. Satisfação conjugal e pensamentos automáticos negativos
Segundo Beck (2011), os pensamentos automáticos (PA) é um fluxo de
pensamentos que coexistem com outros que são manifestos em palavras, por
exemplo, e não são baseados em reflexões nem deliberações. Geralmente, não se
tem consciência destes pensamentos, contudo, pode-se treinar para trazê-los à
consciência,
questioná-los
pensamentos
automáticos
e
modificá-los,
sejam
somente
pois,
embora
espontâneos,
pareça
estes
que
os
tornam-se
previsíveis após crenças subjacentes serem identificadas. Na maioria das vezes,
estes pensamentos são negativos.
Para Banaco (2001), os PA são acessos imediatos que percorrem a mente
sem o mínimo de esforço por parte do indivíduo. Portanto, são ideias, crenças e
imagens específicas a determinadas situações. É um diálogo interno que parece
claro e natural para o próprio indivíduo. Assim, o reconhecimento destes conteúdos
permitem a descoberta de suposições e respectivas estruturas ou esquemas que
se encontram no núcleo deste processo, que são as crenças centrais.
Os PA’s causados por crenças centrais e intermediárias desadaptativas
geram emoções adversas que podem ser, na maioria dos casos, negativas (Beck,
Rush, Shaw, & Emery, 1997). Nesse sentido, diversos problemas conjugais estão
relacionados a um padrão cognitivo peculiar, ou seja, são mantidos por certas
24
crenças centrais disfuncionais que acabam por desencadear PA que comprometem
a qualidade de vida e, consequentemente a vida conjugal (Dattilio, 2009).
Segundo Beck et al. (1997), os sintomas depressivos estão relacionados com
a ativação de três padrões cognitivos, chamados de tríade cognitiva, que
conduzem o indivíduo a ter uma visão negativa do self, ou seja, de si próprio, do
mundo e do futuro.
A maioria dos casais insatisfeitos com a relação conjugal relatam mais
eventos e pensamentos negativos do que positivos. Assim, as estruturas cognitivas
e padrões de pensamentos
influenciam na dinâmica e interação do casal. Os
conteúdos negativos afetam as reações cognitivas, emocionais e comportamentais
levando assim, o casal a vulnerabilidade para conflitos (Dattilio, 2009; Beck, 1989).
Os esquemas ou padrões de pensamentos influenciam na maneira como o
indivíduo processa as informações em diferentes situações (Leahy, 2003; Dattilio,
2009). Desta forma, as diferentes perspectivas são centrais nos conflitos conjugais.
Sendo assim, é de suma importância trabalhar os PA’s individuais entre o casal,
pois as brigas e desentendimentos geralmente estão relacionados ao significado
ou interpretação que um cônjuge tem da atitude do outro (Beck, 1989).
3.6. Satisfação conjugal e ajustamento diádico
A
expressão
“ajustamento
conjugal”
propõe
harmonia,
comunicação,
felicidade, integração e satisfação na relação conjugal. No entanto, a constituição e
manutenção do relacionamento conjugal tem sido influenciada por valores
individualistas vigentes na sociedade contemporânea. Por outro lado, esta
constituição demanda a avaliação de fatores como, interação conjugal, resolução
de problemas conjugais, significados, expectativas e percepção da união de ambos
os cônjuges, custos e benefícios e dificuldades no estabelecimento dessa
conjugalidade (Scorsolini-Comin, & Santos, 2010).
Entretanto, associadas a esta avaliação podem haver influências de respostas
fisiológicas dos cônjuges, variáveis sociodemográficas, como renda, escolaridade,
idade, questões religiosas, filosofia de vida, confiança sobre o/a parceiro/a, senso
de compartilhamento emocional e expressão de amor afeto entre o casal, questões
relacionadas a vida sexual ou, ainda, a saúde física de ambos, psicopatologia
como a depressão, transtorno de estresse pós-traumático, traços de personalidade
25
ou combinações entre essas variáveis (Scorsolini-Comin, & Santos, 2010; Ahmady,
Karami, Noohi, Mokhtari, Gholampour, & Rahimi, 2009).
A partir de uma pesquisa com amostra de 106 casais heteroafetivos foram
apresentados resultados que indicam correlação entre satisfação conjugal e
consenso e (r=-0,25; p<0,01), satisfação conjugal e coesão (r=0,55; p<0,01) e
satisfação conjugal e expressão do afeto (r=0,45; p<0,01). Desta forma, a eficácia
na interação não envolve apenas a troca de informações, sentimentos e
expectativas, mas também o diálogo que promove bem-estar e satisfação na
relação do casal (Scorsolini-Comin, & Santos, 2010).
Outro estudo incluindo 1.800 casais heteroafetivos com idades entre 28 e 59
anos (M = 42, SD = 5.24) com o objetivo de medir a concepção de ajustamento
diádico entre gênero em diferentes grupos e analisar se há invariância nas
subscalas (consenso diádico, satisfação diádica, coesão diádica e expressão
afetiva) da Escala de Ajustamento Diádico (DAS), mostrou baixa significância entre
os homens nos fatores consenso (0.10 DP abaixo das mulheres; Z=− 2.14 p≤0.05)
e na expressão de afeto (0.13 DP; Z=−2.66, p≤0.01). Por outro lado, não houve
diferença entre gênero nos valores de satisfação e coesão (South, Krueger, &
Iacon, 2009).
De acordo com a pesquisa acima, há uma maior confiança de que a DAS
fornece utilidade clínica, tanto para homens quanto para mulheres. Entretanto,
também existe a necessidade de réplica de pesquisa utilizando a DAS com
amostras clínicas de casais em crise (South, Krueger, & Iacon, 2009).
Em outro estudo incluindo 188 mulheres e 35 homens com média de 28,9
anos de idade, a fim de examinar mediadores entre ajustamento diádico e
sintomas
depressivos,
foram
encontrados
resultados
que
demonstraram
significante associação entre baixos níveis de ajustamento entre casais e sintomas
depressivos. No entanto, os autores ampliaram a pesquisa a fim de identificarem a
mediação de sintomas depressives e ansiedade e ajustamento diádico por
subscalas (Satisfação, consenso e coesão) da DAS revisada (RDAS). Assim, a
depressão e a ansiedade mediaram somente na coesão, porém não houve
influência na associação entre satisfação e consenso com sintomas depressivos.
(Parker, Tambling, & Campbell, 2013).
26
3.7. Satisfação conjugal e crenças sobre o relacionamento
Desde que foi criado o Inventário de Crenças Sobre o Relacionamento (RBI)
(James, Hunsley, & Hemsworth, 2002) muitos pesquisadores fizeram diversos
estudos a fim de investigar a relação entre crenças disfuncionais e fatores como,
por exemplo, a comunicação, o auto-conceito sobre o papel sexual, a percepção
sobre a comunicação do cônjuge, desejabilidade social e ajustamento conjugal.
Entre os mitos e crenças mais encontrados entre os casais estão: há uma
pessoa no mundo separada para casar-se comigo; Enquanto a pessoa não
encontrar o/a parceiro/a perfeita/a para casar-se não será possível estar satisfeita;
A pessoa deve sentir-se totalmente competente sobre o cônjuge, mesmo antes de
casar-se; A pessoa somente será feliz no casamento se o/a parceiro/a for
escolhido arduamente; Uma pessoa tem que se casar com alguém que tenha
características opostas a dela; Amar alguém é a razão suficiente para casar-se; A
escolha do/a parceiro/a deve ser algo que “venha do coração”; Viver juntos leva
os/as parceiros/as a uma preparação para o casamento, além de aumentar as
chanches de serem felizes; Escolher o/a parceiro/a e preparar-se para o
casamento é algo fácil e que acontece naturalmente; Não sabemos nada sobre os
fatores que levam um casal a felicidade no casamento, então, vamos nos dar uma
chance (Edmundson, 2005; James, Hunsley, & Hemsworth, 2002).
Em uma pesquisa (James, Hunsley, & Hemsworth, 2002) visando identificar
evidências da existência de falsas crenças e mitos sobre relacionamentos e
casamento, com uma amostra composta de 210 participantes, sendo 110 mulheres
e 99 homens, dos quais todos tinham sido casados ou conviviam com um
parceiro/a do sexo oposto durante pelo menos 6 meses. Verificou-se os seguintes
fatores: Desacordo é destrutivo, Leitura de pensamento, Parceiros não podem
mudar e, Perfeccionismo Sexual e, ainda, a subscala sexos foi dividida em dois
fatores: Sexos são diferentes em necessidades e Dificuldade em entender o sexo
oposto.
O resultado mais surpreendente foi a de que os sexos são diferente. Assim,
dividido em dois fatores foram encontrados: Sexos são diferentes em necessidades
e Dificuldade em entender o sexo oposto foi responsável por 39% da variância
total. Além disso, houve uma correlação entre estes dois fatores. Também, houve
27
uma associação entre crenças sobre o relacionamento e ajustamento do casal
(James, Hunsley, & Hemsworth, 2002).
Por outro lado, em um estudo que examinou as crenças que fizeram
relacionamentos bem sucedidos em uma amostra de 230 participantes na Coréia
do Sul, utilizando a Escala de Crenças Sobre o Relacionamento (RBS) não foram
encontrados significância na correlação dos fatores com a satisfação com o
relacionamento, mas sim, às atitudes de amor. Desta forma, demostrando crenças
de mitos sobre relacionamento (Edmundson, 2005).
Crenças irracionais sobre o relacionamento e insatisfação conjugal afetam
negativamente o ajustamento do casal, o bem-estar, qualidade de vida e causa
angústia e sofrimento mental. Entretanto, em estudos de 1972 a 1989 com casais
foram identificados uma tendência a inconsistência na crença sobre felicidade
pessoal ao longo dos anos. A pesquisa também mostrou que tanto homens quanto
mulheres de pais divorciados tendem a ter mais problemas de ajustamento nos
relacionamentos. Os resultados também se associaram com baixos níveis de
educação, casamentos precoces, insatisfação na relação e maiores níveis de
divórcio (Edmundson, 2005).
Em outro estudo com o mesmo objetivo as mulheres tiveram resultados mais
negativos (conflitos, pessimismo sobre a relação, desconfiança) em seus
relacionamentos quando comparados com aquelas que não tiveram pais
divorciados (Edmundson, 2005). Assim, há uma necessidade de avaliação das
crenças, questionamentos dos pensamentos automáticos e distorções cognitivas e
regulação emocional e reestruturação cognitiva, a fim de que os casais tenham
expectativas e crenças mais realistas sobre a relação conjugal (Dattilio, 2009).
3.8. Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)
No início dos anos 60 iniciou-se na Universidade da Pennsylvania - EUA uma
importante revolução cognitiva no que diz respeito à saúde mental. Este
movimento foi impulsionado pelo Aaron T. Beck que, na época, era psicanalista e
começou a questionar os processos psicanalíticos, em particular, com pesquisas
sobre a depressão (Beck, 2011; Dobson & Dezois, 2010).
Em seus experimentos em busca de explicações para a depressão, Beck
identificou cognições negativas e distorcidas à realidade e, a partir daí,
desenvolveu uma psicoterapia estruturada de curta duração e direcionada às
28
situações do presente e em formas de modificação dos pensamentos. Este modelo
de psicoterapia é chamado de Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). Autores
analistas pós-freudiano, como Karen Horney, Alfred Adler, George Kelly, Albert
Ellis, Richard Lazarus, Albert Bandura e os primeiros filósofos, em especial, o
estóico, Epiteto foram fontes de pesquisas para o desenvolvimento da teoria
cognitiva (Beck, 2011).
Desde então, com o desenvolvimento das pesquisas, Beck percebeu que os
pensamentos automáticos negativos de seus clientes estavam ligados às suas
emoções. Assim, passou a ensiná-los a identificar e modificá-los. Os resultados
foram positivos e os clientes relatavam uma melhora rápida (Beck, 2011).
No Brasil, a TCC começou a ser introduzida, somente nos anos 80, mais
especificamente, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Em 1985 com a criação de um
Ambulatório no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo (Ipq-HCFMUSP) para tratamentos de
ansiedade (AMBAN) surgiu, então um grupo de psiquiatras que, liderado pelo
psiquiatra Francisco Lotufo Neto, desenvolveu diversos trabalhos cognitivocomportamentais. A partir daí, outros autores também se interessaram no
aprofundamento do tema em território brasileiro (Rangé, Falcone, & Sardinha,
2011).
As pesquisas mostram que a atividade cognitiva afeta o comportamento e
esta pode ser monitorada e alterada. Assim, a mudança do comportamento
desejado pode ser efetivado através da mudança cognitiva. Portanto, a TCC é uma
abordagem
psicoeducacional,
colaborativa
e
objetiva,
principalmente,
na
monitoração dos pensamentos automáticos, teste e validação, substituição dos
pensamentos distorcidos por cognições mais realistas, identificação e alteração de
pensamentos subjacentes e centrais, reconhecimento da relação entre cognição,
afeto e comportamento (Beck, 2011; Dobson & Dezois, 2010; Beck et al., 1979;
Hawton, Salkovskis, Kirk, & Clark, 1997).
Assim, a TCC busca desenvolver as habilidades do indivíduo, o capacitando a
identificar
e
modificar
seus
próprios
pensamentos
disfuncionais,
crenças
irracionais, emoções negativas e comportamentos desadaptados. No processo
terapêutico, o cliente é ensinado a refletir sobre as suas hipóteses distorcidas e
buscar evidências que a confirmem ou não, a fim de chegar a uma ideia mais
realista (Rangé, 2001).
29
Segundo Beck (2011), a TCC pode ser adaptada a diferentes níveis de
educação, renda, idade, etnia, cultura e, atualmente, tem sido eficaz em cuidados
primários de saúde, programas escolares, vocacionais e prisionais, além de
atendimentos em grupos, casais e famílias e têm demonstrado alterações
neurobiológicas no tratamento de vários transtornos.
A TCC também busca investigar o processamento de informações na
atribuição dos significados, ou seja, a sua natureza e a função dos aspectos
cognitivos que o indivíduo atribui às questões da vida. Portanto, sistemas de
crenças precisam ser testados, avaliando assim, as suas consequências e
funcionalidades em contextos específicos (Bahls & Navolar, 2004; Saffi, 2009).
Sendo assim, ao identificar e prever relações complexas entre eventos,
possivelmente facilitará a adaptação do cliente a ambientes passíveis de mudança,
uma vez que a adaptação envolve processos cognitivos de crenças que implicam
nas
percepções
como,
por
exemplo,
padrões,
expectativas,
suposições,
atribuições, atenção seletiva e, consequentemente, determina a emoção e o
comportamento (McMullin, 2000; Dattilio, 2009).
O funcionamento cognitivo se desenvolve a partir de esquemas, isto é,
codificações mentais de experiências que, de forma organizada e perceptível
cognitivamente, reage às situações da vida (Dattilio, 2009). Assim, neste processo
existe níveis de pensamentos automáticos que direcionam a percepção e
interpretação dos eventos, afetando então, os sentimentos do indivíduo. Estes
pensamentos automáticos, uma vez conscientes, proporcionam um caminho de
acesso aos esquemas pessoais básicos (Leahy, 2003).
3.9. Terapia cognitivo-comportamental com casais
Até os anos 80, as avaliações cognitivas e emocionais concernentes às
relações conjugais eram muito limitadas (Baucom, Epstein, Kirby & LaTaillade,
2010). Nos anos de 1981 e 1982 iniciou-se mensurações cognitivas de
relacionamentos íntimos por meio do instrumento Relationship Belief Inventory
(RBI) avaliando crenças que eram potenciais de conflitos e sofrimento conjugal
(Epstain, 2010).
Na intervenção com casais é importante levar em conta os aspectos
emocionais que, também são potenciais influenciadores na relação conjugal, por
exemplo, afeta a capacidade de expressar sentimentos ao/a
parceiro/a;
30
capacidade de regulação de expressão emocional; relação com os acontecimentos
da vida. Portanto, a satisfação conjugal também está relacionada as respostas
emocionais que um/a parceiro/a dá em relação ao outro. Assim, a intervenção
cognitivo-comportamental com casais
busca modificar os comportamentos
disfuncionais, as cognições distorcidas e as emoções que contribuem e mantêm os
conflitos conjugais (Epstein, 2010).
Segundo Baucom et al. (2010), muitos conflitos conjugais podem ser
solucionados através da comunicação construtiva, desenvolvimento de habilidades
de interação, modificação de comportamento e pensamento negativo. Além disso,
cinco fenômenos cognitivos (Percepção e expectativas sobre o relacionamento,
suposições, atribuições ao/a parceiro/a, e padrões de pensamentos) podem
influenciar no comportamento e na resposta afetiva aos acontecimentos no
relacionamento amoroso (Baucom & Epstein, 1990).
3.10. Distorções cognitivas e identificação
Como uma das finalidades da TCC é promover a reestruturação das
cognições disfuncionais, sua aplicação com casais premite que cada cônjuge
aprenda a compreender como seu comportamento se associa com a sua maneira
de pensar e sua reação emocional e como isto contribui para um desajuste
conjugal (Beck, 2011; Beck; 1989).
O Registro de Pensamentos Disfuncionais é útil nesta atividade, pois, além de
ajudar o cliente na identificação das distorções do pensamento, também o auxilia
no desenvolvimento de habilidades para a redução, frequência e intensidade
destes pensamentos (Wright, Basco, & Thase, 2006).
Outra forma de auxiliar o/a cliente na observação de distorções cognitivas é
disponibilizar uma lista com as distorções e seus respectivos exemplos, a fim de
que este/a identifique-as no dia a dia, tornando-os/as conscientes destes
pensamentos e/ou atitudes, facilitando assim, a mudança e restruturação cognitiva
(Beck, 2011).
Posteriormente
a
identificação
de
cognições
distorcidas,
busca-se
explicações alternativas racionais para o ocorrido, bem com, reavaliação dos
estilos de pensamentos. Nesta etapa, o questionamento socrático é importante,
pois as questões vão além do objetivo da obtenção de dados e detalhes de um fato
(Abreu & Guilhardi, 2004; Wright et al., 2006).
31
Assim, as questões, quando bem elaboradas, encorajam o indivíduo a
analisar, sintetizar, avaliar diferentes fontes de informação sobre um determinado
evento ocorrido, além de desenvolver habilidades para solução de problemas
relacionados ao evento (Miyazaki, 2004). Por outro lado, é importante que tenha
um equilíbrio entre questionamentos e outras formas de intervenção e estratégias
educativas, ou seja, manter-se concentrado em uma área de questionamento de
alto potencial pode ser mais eficaz (Wright et al., 2010; Dattilio, 2009).
Quadro 1 – Descrição das distorções* cognitivas e seus respectivos significados e exemplos.
Distorção
Cognitiva
Significado
Exemplo
Leitura de
pensamento
Saber o que outra pessoa está
pensando e sentindo sem se
comunicar diretamente com ela.
Ao notar que o marido/esposa está
particularmente quieto e concluir: “Ele/Ela
está infeliz com o nosso casamento e deve
estar pensando em me abandonar”.
Hipergeneralização
Interpretar um evento isolado
como representação de situações
semelhantes em outros
contextos, relacionados ou não
relacionados.
Um cônjuge que é criticado pelo outro por não
jogar o lixo fora, conclui: “Ele/Ela sempre
me critica”, "nunca me elogia".
Abstração seletiva
Tirar informações de contexto e
destacar certos detalhes,
ignorando outras informações
como um todo.
Um cônjuge, ao não responder o cumprimento
do outro pela manhã, conclui: “Ele/Ela está
me ignorando”.
Personalização
Atribuir eventos externos a si
mesmo, quando não existem
evidências suficientes para tirar
uma conclusão.
Um cônjuge ao perceber que o outro não está
comendo o jantar como havia previsto,
conclui: “Ele/Ela detesta minha comida”.
Rotulação
Representar a si mesma ou outra
pessoa em termos de
características estáveis e globais,
com base em ações passadas.
Após o cônjuge cometer vários erros no
orçamento familiar e no equilíbrio das
finanças, conclui: “Ele/Ela é negligente”.
Maximização/
minimização
Julgar um caso ou circunstância
como tendo maior ou menor
importância do que é adequado.
Caso o cônjuge esqueça a data de casamento,
conclui: “Ele/Ela está deixando de me
amar”.
Inferência arbitrária Pular para conclusões na ausência
de comprovadas evidências
concretas.
Um cônjuge, ao notar que o outro chegou em
casa do trabalho com meia hora de atraso,
conclui: “Ele/Ela deve estar fazendo algo
escondido de mim”.
Pensamento
dicotômico
Um cônjuge pode chegar à seguinte conclusão
após uma discussão: “Se ele/ela não me
ama, então me odeia”.
Classificar experiências em
categorias extremas,
mutuamente exclusivas, tais
como êxito completo ou fracasso
total.
Nota: *Somente as distorções usadas nesta pesquisa.
32
Com o passar do tempo e a prática repetitiva, tanto por parte do cliente
quanto do terapeuta, as habilidades de avaliação e respostas alternativas dos
pensamentos são melhoradas (Beck, 2011; Leahy, 2003).
3.11. Pensamentos automáticos, pressupostos subjacentes e crenças
centrais
Os pensamentos automáticos surgem no dia a dia descrevendo imagens e
pensamentos à medida em que as pessoas estão em consonência com as suas
experiências. Geralmente, os PA’s não são conscientes às pessoas como são
percebidas as reações emocionais que as precedem. Por outro lado, as crenças
centrais são a base da construção da tríade cognitiva, ou seja, a visão de si
mesmo, do mundo e do futuro (Kuyken, Padesky, & Dudley, 2010; Beck, 2011;
Wright, Basco, & Thase, 2006).
Identificar as crenças centrais do cliente é fundamental para o decorrer da
terapia, pois, geralmente, está associado a problemas emocionais. No entanto, é
necessário uma correta interpretação (McMullin, 2000). Estas são ideias mais
profundas e rígidas sobre si próprio, geralmente, formadas desde a infância. Já as
crenças intermediárias são suposições feitas pela pessoa sobre determinado
evento, tendo base em atitudes e regras não relacionadas diretamente às
situações (Abreu & Guilhardi, 2004).
3.12. Regulação emocional e reestruturação cognitiva
A mudança ou reestruturação cognitiva é colocada como um dos fatores mais
importantes para a melhora emocional. O primeiro passo no processo de
reestruturação cognitiva é auxiliar o indivíduo a identificar o sentimento relacionado
a um sofrimento significativo dentro de um contexto específico (Charchat-Fichman,
Fernandes, & Landeira-Fernandez, 2012).
O pensamento a ser identificado e modificado pode estar ligado diretamente à
emoção desagradável intensa experimentada numa situação específica (Peçanha,
2005). O indivíduo é questionado por meio de técnicas de “flechas descendentes” e
busca respostas mais racionais e explicações alternativas para seus pensamentos
distorcidos específicos, bem como refletir sobre as vantagens e desvantagens de
uma determinada crença (Beck, 2011; Leahy, 2003; Wright et al., 2010).
33
Segundo Leahy, Tirch e Napolitano (2005), os processos cognitivos podem
levar o indivíduo a uma experiência emocional exacerbaba e essa ser um grande
fator de vulnerabilidade à depressão e a ansiedade. Isto envolve pensamentos
automáticos e atitudes disfuncionais. Assim, as distorções cognitivas podem ser
parte de um trantornno depressivo ou de ansiedade ou, ainda, vulnerabilidades
latentes dependentes do humor.
Quadro 2 – Registro de Pensamentos Disfuncionais
Registro de Pensamentos Disfuncionais
Orientação: quando você perceber que seu humor/emoção não está bem, pergunte-se, "o que está se
passando em minha mente nesse exato momento?" e assim que possível escreva o pensamento ou
imagem mental na coluna dos pensamentos automáticos, bem como as demais colunas, referindo-se à
situação que o desencadeou.
Pensamento
Resposta
Situação
Emoção
Resultado
Automático
alternativa
ESCREVER:
1 - Utilize as
REAVALIE:
ESCREVER:
ESPECIFICAR:
perguntas abaixo a
1 - Reavalie a
Pensamento
Sentimentos ou
fim de encontrar a
crença em
DESCREVER:
Automático que
emoções (triste/
resposta
Pensamento/s
Evento real que
precedeu a/as
ansioso, raivoso
alternativa ao
automático /s
conduziu a emoção
emoção/ões;
etc.) que sentiu
pensamento;
1-100%;
desagradável ou
Classificar o
naqula situação;
2 - Possível
2. Especificar e
recordação que
quanto você
Classificar grau de
Distorção
reavaliar
conduziu à emoção
acredita neste
intensidade e
Cognitiva;
Emoção/ões ou
desagradável.
pensamento
convicção
3 - Classificar
comportamento/s
automático - 1 emoção - 1 - 100%
crença em
subsequentes - 1 100%
resposta racional –
100%.
1 - 100%
Perguntas para ajudar a construir uma RESPOSTA ALTERNATIVA: 1) Qual é a evidência de que o
pensamento automático é verdadeiro? Ou não é verdadeiro? 2) Quais as hipóteses alternativas? 3) Qual
é a pior coisa que poderia acontecer? Eu poderia conviver com isso? Qual a melhor coisa que poderia
acontecer? Qual o resultado mais realista? 4) O que eu deveria fazer a respeito disso? 5) Qual o efeito da
minha crença no pensamento automático? Qual seria o efeito de eu mudar a minha maneira de pensar?
6) O que eu diria a um amigo que tivesse o mesmo pensamento?
Ao fazer uma reinterpretação dos eventos potencialmente estressantes e
mudança dos pensamentos distorcidos, o indivíduo pode, também, mudar o
impacto emocional relacionado a este. Embora estas técnicas cognitivas tenham
sido questionadas, pesquisas mostram a eficácia destas no tratamento da
depressão e da ansiedade (Beck et al., 1979; Wright et al., 2010; Dobson & Dezois,
2010; Leahy et al., 2005; Hawton, Salkovskis, Kirk, & Clark, 1997).
34
Pessoas com sintomas depressivos ou ansiosos, habitualmente têm uma uma
distorção das informações e desconsidera possíveis evidências contrárias. Às
vezes, as emoções são usadas como provas de evidêcias ou somente uma
pequena parte de um evento é levado em conta, quando deveria ser observado as
demais. Entrtanto, o questionamento socrático é uma ferramenta importante na
busca de evidências contra a crença distorcida (Leahy et al., 2005).
3.13. Questionamento socrático
Após a identificação de cognições distorcidas, busca-se explicações
alternativas racionais para o ocorrido, bem como uma reavaliação dos estilos de
pensamentos. Portanto, nesta fase, o questionamento socrático é fundamental,
pois os questionamentos vão além do objetivo da obtenção de dados e detalhes de
um evento (Abreu & Guilhardi, 2004).
Sendo assim, as perguntas, quando bem elaboradas, encorajam a pessoa a
analisar, sintetizar, avaliar diferentes fontes de informação sobre o evento e sobre
as evidências dos pensamentos automáticos, além da aquisição de habilidades de
resolução de problemas (Abreu & Guilhardi, 2004). O questionamento socrático
ajuda o/a cliente na avaliação de uma situação específica, sendo mais concreto/a e
realista e menos abstrato/a e intelectualizado/a na descrição de um pensamento,
por exemplo (Beck, 2011; Leahy, 2003).
Desta forma, as perguntas devem ser produtivas e revelar oportunidades de
mudança que tragam resultados, pois boas perguntas socráticas, geralmente
abrem possibilidades e alternativas razoáveis e produtivas para os pacientes,
levando-os assim, a olharem por uma nova perspectiva e, sobretudo, funcionam
melhor quando rompem um padrão de pensamento desadaptativo rígido e a sua
curiosidade é estimulada (Wright, Basco, & Thase, 2006, Leahy, 2003).
Um dos objetivos do questionamento socrático é ajudar os pacientes a se
especializarem sobre a própria forma de pensar, levando em conta o nível de
funcionamento cognitivo, os seus sintomas e capacidade de concentração, como
uma estrutura de seta descendente.
3.14. Seta descendente
A seta descendente é uma técnica que auxilia na identificação de inferências
e significados atrelados, bem como estruturas como esquemas ou crenças
35
nucleares, chegando, por exemplo, aos medos subjacentes não conscientes para o
cliente. Isto ocorre a partir da exploração de crenças subjacentes ajudando na
despotencialização do pensamento. A intenção é “cavar” estes pensamentos até o
fundo da crença central com perguntas sobre a situação que desencadeou o
pensamento. Por exemplo: Terapeuta: “O que aconteceria se isto fosse verdade?”
ou “O que isso significa para você se isto acontecesse?”, “O que aconteceria a
seguir?” (Leahy, 2003; Dobson & Dobson, 2009).
Quadro 3 – Exemplo da utilização da seta descendente até a implicação do pensamento *
Evento: Estou com dúvidas sobre ir à festa.
Pensamento: "Ficarei muito ansioso se eu me aproximar de alguém para conversar"
Utilização da seta descendente
Implicações
T: "O que você acha que acontecerá?
C: "Serei rejeitado"
T: "Se isso acontecer, então significa que..."
C: "Eu sou um fracassado"
T: "Se for um fracassado, isso significa que..."
C: "Jamais encontrarei alguém para me relacionar
T: "Se jamais encontrar alguém, então..."
C: "Estarei sempre sozinho"
T: "se estivesse sempre sozinho, isso o incomodaria
C: "Não serei feliz; serei sempre muito infeliz"
porque..."
Pressuposto subjacente
Preciso de outras pessoas para me sentir feliz
Nota: T=terapeuta, C=cliente. *Retirado de: Leahy, 2003.
Além de auxiliar na identificação de pensamentos e sentimentos, a seta
descendente também examina a validade e as evidências contra e a favor de
determinado pensamento, além dos seus custos e benefícios, cálculo de
probabilidades como, por exemplo, “Qual é a probabilidade de ... acontecer, de 0 a
100%?” e contestações das crenças. É um processo de psicoeducação, que é
fundamental para a eficácia de um tratamento cognitivo-comportamental (Leahy,
2003).
3.15. Psicoeducação
A psicoeducação baseia-se no ensino de princípios e conhecimentos
psicológicos relevantes para o cliente. Desta forma, é interessante, também a
indicação de materiais como livros, filmes entre outros recursos de imagem, pois,
estes têm um papel fundamental na compreensão e aprendizagem. Entretanto, é
importante que o/a terapeuta conheça o material anteriormente. Por outro lado,
36
alguns clientes podem não ter o hábito de leitura. Assim, em geral, materiais
breves e concisos são mais adequados (Dobson & Dobson, 2009; McMullin, 2000).
A psicoeducação utilizada na TCC é um dos motivos da eficácia e grande
potencial no manejo de psicoterapia breve. Pois, o tempo, geralmente é bem
administrado devido a estrutura proposta, com fase de abertura, intermediária e de
encerramento, e, isso sem que o cliente perceba pressa por parte do/a terapeuta.
Apesar da TCC ter um caráter colaborativo, na sessão breve o/a terapeuta precisa
da habilidade e responsabilidade de conduzi-la por um caminho construtivo e
eficiente (Wright et al., 2010).
As sessões de terapia com casais precisam ter caráter educativo, sendo
estimuladoras, compreensivas e orientadoras, mantendo assim, a relação
terapêutica. Antes do final de cada sessão é importante fazer algumas perguntas
como, por exemplo, “Como você avalia a sessão de hoje ”, “Tem alguma coisa que
falei e você não entendeu ou te perturbou”, “Se sente aliviado/a”, “Entendeu a
tarefa de casa”. O resumo da sessão e feedback de ambas as partes é o momento
de observar possíveis mal-entendidos, distorções, dúvidas (Dattilio & Padesky,
1995; Dattilio, 2011; Beck, 2011; Leahy, 2003). Entre outras técnicas utilizadas
pela TCC, o role-playing também tem um caráter psicoeducativo e de treino de
habilidades sociais assertivas e comunicação, tendo também um papel importante
na identificação de distorções a na modificação destas (Leahy, 2003).
3.16. Role-playing
O role-playing ou dramatização pode ser usada com uma amlpa variedade de
propósitos, como, por exemplo, evocar pensamentos automáticos, identificar
esquemas, desenvolver habilidades como estilo de comunicação, posturas
empáticas,
práticas
de
assertividades
em
relacionamentos
ou
respostas
adaptativas, auxiliar na modificação de crenças intermediárias e centrais (Beck,
2011; Leahy, 2003; Epstein & Schlesinger, 2000).
A dramatização também ajuda no desenvolvimento de habilidades sociais.
Por exemplo, clientes muito tímidos e ansiosos poder sentir-se liberado para
interpretar um papel que não é deles (Dobson & Dobson, 2009).
A inversão de papéis pode ser usada na terapia de casais com o objetivo de
fazer com que as partes vejam na perspectiva do outro. Assim, pede-se ao casal
que discutam algum ploblema ou conflito que tem acontecido com frequência,
37
porém, com os papéis invertidos. Desta forma, há grande probabilidade de, tanto
terapeuta quanto cônjuges, se tornarem mais sensíveis às percepções e
interpretações errôneas ou irrealistas, podendo mudar, então, a maneira como
pensa a respeito do problema, conflito ou discussão além de gerar empatia
(Dattilio, 2009; Corsini, 2010).
Após a dramatização o/a terapeuta solicita feedback de ambos os cônjuges.
Ademais, a inversão de papéis, na maioria dos casos provoca risos, divertimento e,
consequentemente, pode servir de alívio de stress e tensão, sendo assim,
importante para o decorrer do tratamento (Dattilio, 2009).
3.17. Treino em comunicação
Autores que examinaram a relação entre depressão, ansiedade e
comunicação entre cônjuges, evidenciaram forte ligação entre estas variáveis,
interferindo assim, no bem-estar e na estabilidade do relacionamento (Epstein &
Schlesinger, 2000; Dobson & Dezois, 2010). Além disso, estudos também revelam
que, comparados com um grupo controle, parceiros de cônjuges deprimidos
relataram diminuição do nível de emoção, apoio prático, pobreza de empatia,
expressão de afeição por parte do seu par (Dobson & Dezois, 2010). No entanto,
avaliações e expressões de emoções negativas sobre o parceiro com sintomas
depressivos pode levá-lo a persistência e deixá-lo vulnerável à recaídas e
recorrências, isto, independente da personalidade, dos sintomas depressivos ou da
forma de funcionamento do casal (Beck et al., 1997; Dobson & Dezois, 2010).
Segundo Dattilio (2011), geralmente, a queixa consiste na expressão de
desacordo ou raiva, desprezo, zombaria, insulto, sarcasmo, indicando desdém,
humilhação, julgamento, além de defensividade na perspectiva de ataque, negação
ou responsabilização por algum problema e atribuições irracionais.
Dessa forma, o treino em habilidades de comunicação entre o casais é de
extrema importância, pois os ajuda a expressarem os seus pensamentos e
emoções, bem como ouvir um ao outro de maneira efetiva. Esta é uma das formas
de intervenção que tem feito os relacionamentos funcionarem de modo mais
saudável. A falta de comunicação, a inadequação desta incomunicabilidade
(quando o ouvinte não faz nenhuma menção ou manifestação em relação ao
falante) têm sido uma das principais queixas entre os cônjuges, às vezes, levando
ao rompimento da relação (Dattilio & Padesky, 1995).
38
Assim, as habilidades de treino de assertividade ou comunicação verbal
básica pode incluir, como iniciar uma conversa, fazer transições tópicas e
responder a pedidos e não-verbal que pode ser ritmo e velocidade do discurso,
modulação da altura de voz, mudança de padrões e hábitos estranhos, tom de voz,
linguagem corporal, proximidade física, expressividade facial entre outos.
Entretanto, deve-se avaliar o que é déficit interpessoal e prognósticos negativos ou
pensamentos automáticos negativos que levam o indivíduo a ansiedade (Dobson &
Dobson, 2009; Dattilio, 2009).
3.18. Conceitualização de caso cognitivo-comportamental
A conceitualização de caso pode ser definida como um processo de
empirismo colaborativo entre terapeuta e cliente a fim de descrever e explicar e
esclarecer os problemas do cliente na terapia, buscando assim, guiar o tratamento
e a intervenção terapêutica aliviando o sofrimento e desenvolvendo a resiliência do
cliente (Kuyken, Padesky, & Dudley, 2010).
Segundo Kuyken, Padesky e Dudley (2010) e Beck (2011), as principais
funções da conceitualização de caso para a TCC são: a sintetização da experência
do cliente; normalização e validação dos problemas apresentados; promoção de
engajamento no tratamento, pois é pré-requisito para a mudança; melhor manejo
dos problemas mais complexos, dando uma visão de maior probabilidade de
resolução, tanto por parte do cliente quanto do terapeuta; orientação de escolha,
passos e foco na intervenção; sugestão de maior custo-benefício do tratamento;
visão
antecipada
e
abordagem
dos
possíveis
problemas;
obtenção
de
compreensão das questões subjacentes e sugestões de rotas alternativas para a
mudança; identificação de pontos fortes que ajudem no desenvolvimento da
resiliência do cliente e possibilidade de supervisão e consulta de alta qualidade.
Na incorporação dos pontos fortes é importantes que seja observado,
também, áreas como, fé religiosa ou espiritual, moral, cognitiva, social, física,
atividades voluntárias, pois, estas podem ser pontos poderosos neste processo de
aprendizagem da conceitualização de casos colaborativa (Kuyken, Padesky, &
Dudley, 2010).
Nos dados relevantes da infância pode-se descrever quais experiências
contribuíram para o desenvolvimento e manutenção da/s crença/s nuclear/es. Além
39
disso, na conceitualização de caso os PA’s explicam a ligação entre uma
determinada situação e a reação emocional (Kuyken, Padesky, & Dudley, 2010; ).
Quadro 4 – Modelo de conceitualização de caso cognitivo-comportamental com casais
CONCEITUALIZAÇÃO DE CASO COGNITIVO-COMPORTAMENTAL COM CASAIS
l. Identificação do/a cliente - nº _ _
Nome:
Profissão:
Estado Civil:
Número de dependentes:
Outras informações relevantes:
Idade:
Religião:
Escolaridade:
ll. Lista de problemas conjugais
1.
2.
3.
lll. Conceitualização cognitiva
Dados relevantes da história de vida
Tríade cognitiva
Visão de si
Visão de mundo
Visão de futuro
Crenças centrais
Crenças intermediárias
Estratégias compensatórias
Situação 1
Situação 2
Situação 3
Pensamentos Automáticos
Pensamentos Automáticos
Pensamentos Automáticos
Significado do PA
Significado do PA
Significado do PA
40
Emoções
Emoções
Emoções
Comportamentos
Comportamentos
Comportamentos
Respostas fisiológicas
Respostas fisiológicas
Respostas fisiológicas
lV. Hipótese de trabalho
Situações precipitantes ou ativadoras:
Fatores predisponentes:
Fatores perpetuadores e Distorção cognitiva:
Resumo da Hipótese:
V. Pontos fortes e recursos
Vl. Plano de trabalho
Objetivos e metas
Intervenções
Obstáculos
VII. Diagnósticos prováveis (DSM-IV)
Eixo I
Eixo II
Eixo II
Eixo IV
Eixo V
-
Desta forma, a conceitualização de caso é a ponte que liga a avaliação ao
tratamento e intervenção, ou seja, é a conexão entre os dados descritivos da
avaliação e o plano de tratamento. De acordo com dois estudo de avaliação da
consistência e confiabilidade deste modelo identificou-se que entre 60 e 70% das
conceitualizações de caso havia concordância dos clientes sobre as descrições
observadas pelo/a terapeuta (Dobson & Dobson, 2009).
41
3.19. Estrutura das sessões
Estruturar as sessões de terapia cognitivo-comportamental facilita na
compreensão do evento, nas queixas, além de possibilitar a percepção de
possíveis meios da resolução de problemas e mudanças de comportamentos
(Beck, 2011). Além disso, as torna mais eficientes e educativas, levando o
indivíduo a utilizar as técnicas, teorias e habilidades aprendidas em situações e
problemas futuros. No entanto, o objetivo não é tornar o processo mecânico, e sim,
claro (Finger, 2012; Peçanha, 2009).
Quadro 5 – Passos importantes de uma sessão cognitivo-comportamental
Passos
Descrição
Avaliação do humor
A fim de saber e comparar a evolução do humor entre cada sessão pode-se
avaliar o cliente por meio de uma escala. Por exemplo, de 0 a 100, sendo
0 o pior humor que já se teve e 100, o melhor humor, que nota você
daria para o seu humor, hoje e na semana?
Breve atualização
Permite saber se as sessões estão gerando uma resposta terapêutica. É
possível fazer esta avaliação perguntando diretamente à pessoa ou
através de escalas e inventários.
Realização de uma ponte
com a sessão anterior
Nas primeiras sessões é recomendável que o cliente seja levado a
compreender o que está acontecendo com ele e como fazer para
melhorar. Nas sessões intermediárias as responsabilidades e condução
devem ser divididas entre terapeuta e cliente, o qual é estimulado a
contribuir de forma mais ativa. Assim, a fase final deve ser marcada por
técnicas e direcionamentos à prevenção de recaídas.
Estabelecimento de agenda
Tem o objetivo de estabelecer o que será tratada na sessão, além de dar
oportunidade do cliente falar o que realmente tem relação com o
problema e com o cumprimento de suas metas terapêuticas. É preciso
ter o cuidado de não colocar muitos tópicos para a discussão. Estes
devem ser específicos, mensuráveis e focados na resolução.
Discussão dos tópicos da
agenda e utilização de
ferramentas terapêuticas
Os tópicos precisam desenvolver melhoras nos sentimentos, pensamentos
ou comportamento do cliente. Se necessário, um tópico pode ser
abordado até que a intervenção demonstre resultados (por exemplo,
modificação do pensamento, alívio do sentimento).
Revisão da tarefa de casa
É importante estar atento quanto a resistência em realizá-las. Isto pode
ser evitado tornando-as descomplicadas e claras.
Estabelecimento de nova
tarefa de casa
O/A terapeuta sempre deve anotar qual foi a tarefa solicitada (não muitas
para uma semana) e, antes do início dos encontros, reservar tempo para
revisar e falar da tarefa anterior.
Solicitar feedback
Este é o momento em que o/a cliente fala sobre a presente sessão, de
forma sintetizada e tira as possíveis dúvidas ou mal entendidos.
Nota: Baseada na proposta de Finger, 2012.
Na sessão de avaliação desenvolve-se uma conceitualização de caso inicial
em colaboração com o cliente. No entanto, o/a terapeuta deve observar se está
apto para atender o cliente, caso contrário, deve fazer encaminhamentos. Então, é
42
necessário colher informações sobre a história familiar, status social, história
religiosa, valores, estratégias de enfretamento e adaptação, como interage com
familiares, amigos e no trabalho, como gasta o tempo livre. Entretanto, estes dados
não se limita somente a esta sessão, mas no decorrer do tratamento deve-se ficar
atento às novas questões que podem surgir (Beck, 2011; Baucom, Epstein, Kirby,
& LaTaillade, 2010).
Embora a TCC tenha uma estrutura pré-estabelecida, muitos clientes se
sentem comfortáveis quando o/a terapeuta pergunta-os como ele gostaria que
fosse a sessão. Ademais, também é importante saber as expectativas do cliente
sobre o tratamento e deixar claro as questões sobre o setting (Kuyken, Padesky, &
Dudley, 2010; Beck, 2011).
Na primeira sessão após a avaliação o estabelecimento de um bom rapport é
de fundamental importância, assim como a confiança e a esperança. Além disso,
deve-se socializar o/a cliente sobre os processos do tratamento e do modelo
cognitivo-comportamental (Beck, 2011). Assim, esta sessão, bem como as demais
no modelo cognitivo-comportamental tem um início, meio e fim pré-estabelecido,
pois isto, também faz parte do processo de psicoeducação (Beck, 2011; Wright et
al., 2010).
3.20. Tarefas de casa
A tarefa de casa que também pode ser chamado de “exercícios entre
sessões”, “tarefas terapêuticas”, “atividades para a semana” é uma ferramenta
fundamental na terapia cognitivo-comportamental, pois o/a cliente desenvolve
habilidades para lidar com problemas em situações reais. Pesquisas mostram que
quem as executa, geralmente, apresenta maiores resultados de melhoras do que
aqueles/as que não as realiza (Beck, 2011; Kuyken, Padesky, & Dudley, 2010).
No estabelecimento de nova tarefa de casa, o/a terapeuta sempre deve
anotar qual foi a tarefa solicitada e, antes do início das sessões, revisar e falar da
tarefa anterior. Entretanto, é importante não solicitar muitas tarefas para uma única
semana para não tornar um fardo. As possíveis resistências em realizar as tarefas
de casa pode ser evitadas tornando-as descomplicadas e claras. Por outro lado,
quando não se faz a revisão das tarefas, pode também gerar desinteresse ou
desestímulo e, então, torná-la ineficaz (Finger, 2012; Abreu & Guilhardi, 2004).
43
As tarefas de casa podem ajudar o/a cliente na monitoração e avaliação dos
seus próprios pensamentos automáticos e questioná-los sobre a sua validade,
praticando-as entre as sessões, além de adquirir habilidades de resolução de
problemas hipotéticos que o/a auxiliará em possíveis problemas reais nos
intervalos das sessões (Beck, 2011; Dattilio, 2009; Leahy, 2003).
3.21. Sessões conjuntas e individuais na terapia com casais
De acordo com Dattilio e Padesky (1995), a entrevista inicial de avaliação
deve ser conjunta a fim de obter informações como idade, número de filhos entre
outras relevantes. Além disso, é importante saber sobre o histórico do casal e da
família de ambos, bem como fatores ambientais, culturais emocionais, cognitivos
das discordâncias e possíveis conflitos atuais, características de personalidade,
como e onde se conheceram, em quais circunstâncias; se vivem juntos e já
viveram outros relacionamentos.
Entretanto, casais podem reter informações que poderiam ser cruciais no
desenvolvimento da terapia e na compreensão dos problemas conjugais. Contudo,
geralmente, estas aparecem em outros momentos no decorrer do tratamento. Por
outro lado, o/a
terapeuta pode perguntar se há alguma outra informação que
poderia ajudar na dinâmica da intervenção ou utilizar formulários e questionários
(Dattilio & Padesky, 1995).
As sessões individuais proporcionam a oportunidade de maior interação na
ausência do outro, pois, quando este/a está presente, pode haver uma relutância
em revelar como realmente se sente ou as principais queixas. Da mesma forma,
detalhes do relacionamento, como casos extraconjugais, fracassos, envolvimento
em problemas que podem gerar um conflito maior na relação do casal pode ser
revelado. Além disso, o foco também está em identificar como cada indivíduo vê e
interpreta os problemas no relacionamento, o que este pensa sobre si próprio,
sobre o/a parceiro/a e sobre aqueles que os/as cercam (Dattilio & Padesky, 1995;
Dattilio, 2009). Entretanto, as demais sessões devem ser em conjunto, inclusive as
sessões de prevenção de recaída, pois ambos precisam estar cientes de possíveis
conflitos após o término da terapia e, assim, precisarão de apoio mútuo na
administração e na prática das habilidades aprendidas (Dattilio & Padesky, 1995).
44
3.22. Prevenção de recaída
A recaída é a recorrência de sintomas ou comportamentos problemáticos que
se segue à remissão, ou seja, tanto a melhora total ou parcial dos sintomas, ao
ponto de critérios de diagnóstico serem observados novamente (Dobson & Dobson,
2009). A prevenção de recaída é a fase final da maioria dos tratamentos da TCC e
isto inclui uma revisão do tratamento, criação de planejamento para o futuro e
verificação do sentimento de finalização da terapia. Além disso, sessões menos
frequentes e feedback sobre as mudanças percebidas são estratégias que podem
ter um resultado significativo (Dobson & Dobson, 2009; Beck, 2011).
Segundo Peçanha (2005) e Saffi (2009), a prevenção da recaída auxilia,
também, na consolidação das mudanças. O casal deve ter a consciência que nem
todos os seus problemas serão resolvidos durante o processo terapêutico e, assim,
também devem ser preparados para o término do acompanhamento.
Desta forma, o objetivo deve ser orientar o casal a fim de adquirirem
habilidades para resolverem e administrarem seus próprios problemas e, também,
antecipar e corrigir possíveis deslizes e desentendimentos no decorrer do
relacionamento conjugal, após o término da terapia (Dobson & Dobson, 2009;
Dattilio, 2009; Beck, 2011).
Assim, é importante que o/a terapeuta estimule seus clientes a terem
responsabilidades pelo próprio tratamento, pois, muitos atribuem a melhora de
sintomas ou mudança de comportamento a fatores externos como ambiente,
dedicação do/a terapeuta, medicamentos e, então não dão créditos a seus próprios
esforços.
45
4. OBJETIVOS
4.1. Geral
Identificar as distorções cognitivas que interferem na dinâmica de casais.
4.2. Específicos
1. Identificar e intervir nos quadros de: Inferência arbitrária; Abstração
seletiva; Leitura de pensamento; Hipergeneralização; Maximização e
minimização; Personalização; Pensamento dicotômico absolutista;
2. Substituir as distorções cognitivas e esquemas disfuncionais por
interpretações mais realistas;
3. Melhorar a satisfação conjugal dos participantes da pesquisa.
5. HIPÓTESE
H1 – A hipergeneralização será a distorção de maior ocorrência entre os
casais.
6. MÉTODO
6.1. Participantes
A amostra foi composta por 16 (dezesseis) casais heteroafetivos com mínimo
de um ano de união, totalizando 32 participantes, brasileiros, alfabetizados – 37,5%
tinham ensino médio completo, maiores de 18 anos, sendo a idade média de 30,4
(DP=4,13) anos,.
6.2. Obtenção da amostra
Foi anunciado e explicado em igrejas e escolas sobre o projeto, os objetivos e
critérios para a participação da pesquisa, solicitando que os interessados entrasse
em contato por telefone ou email disponibilizado.
Os quatro primeiros participantes foram indicados por amigos, pois estavam
em uma crise aguda em seus relacionamentos amorosos e estavam decididos em
separar-se. Na medida em que as sessões chegavam próximas do fim, estes
casais indicaram outros amigos que passavam por conflitos no casamento. Foram
46
mais três. Os demais foram entrando em contato para compreender como
funcionava e, então, eram agendadas as sessões.
6.3. Critérios de Inclusão
Maiores de 18 anos, com mais de 1 (um) ano de união consensual;
independente de estarem vivendo um recasamento; que busquem orientações
quanto a presença de conflitos conjugais.
6.4. Critérios de Exclusão
Menores de 18 anos, menos de 1 (um) ano de união consensual; sem
indicação ou relatos da presença de conflitos conjugais.
6.5. Local
Dependências da Associação da Igreja Metodista na Baixada Santista
(Cubatão-SP).
6.6. Procedimentos
Todos os casais foram avaliados pré e pós-intervenção terapêutica conforme
os instrumentos abaixo relacionados. Quanto às sessões, estas foram constituidas
de 12 encontros de 50 min por casal, havendo uma sessão individual (2ª) e as
demais em conjunto. As sessões foram semanais, contudo, entre a 11ª e 12ª
houve um intervalo de 15 dias. A pesquisa durou 12 meses. A coleta de dados
iniciou-se em julho de 2015. Todos os participantes assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) 1 antes do início do tratamento.
A pesquisa iniciou com 17 casais e somente um destes desistiu da terapia
devido a mudança para outro estado do Brasil. Esta desistência ocorreu na sexta
sessão.
Os
demais
cumpriram
todos
os
passos
pré-estabelecidos
no
procedimento.
6.7. Aspectos Éticos
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética – Resolução 466 – protocolo
número CAAE 44805115.5.0000.5508.
1
Modelo em anexo.
47
6.8. Instrumentos
6.8.1. Questionário Sociodemográfico2
Descrição: o questionário teve questões como: nome, idade, prática religiosa,
número de filhos, escolaridade, renda familiar, tempo de casado/a, histórico e
razão da decisão do casamento, se tem pais divorciados, recasamento. O
questionário foi composto por questões objetivas e dissertativas.
6.8.2. Inventário Back de Depressão (BDI – Beck Depression Inventory)3
Descrição: o questionário consiste de 21 tópicos com quatro (4) afirmações em
cada. Deve-se marcar com um “X” no número correspondente (0, 1, 2 ou 3) diante
da afirmação, em cada grupo, que descreve melhor a maneira como o indivíduo
tem se sentido durante a última semana, incluindo o dia da resposta. Significado da
pontuação: entre 0 e 10, depressão leve; entre 11 e 18, depressão leve a
moderada; entre 19 e 29 depressão, moderada a grave; entre 30 e 63, depressão
grave ou severa.
6.8.3. Inventário Beck de Ansiedade (BAI – Beck Anxiety Inventory)4
Descrição: é apresentada uma lista de sintomas comuns de ansiedade, na qual, o
indivíduo identifica o quanto tem sido incomodado por cada sintoma durante a
última semana, incluindo o dia da resposta, colocando um “X” no espaço
correspondente a cada sintoma. O respondente pode escolher uma entre quatro
respostas: “Absolutamente não”, “levemente”, “moderadamente”, “gravemente”
para as questões como, “Sensação de sufocação”, “medo de morrer”. Significado
da pontuação: entre 0 e 10, mínimo de ansiedade; entre 11 e 19, nível leve de
ansiedade; entre 20 e 30, ansiedade moderada; e entre 31 e 63, ansiedade grave.
6.8.4. Escala de Satisfação Conjugal (ESC)5- (Pick de Weiss e Andrade Palos
(traduzida e adaptada por Dela Coleta, 1989).
Descrição: o instrumento permite avaliar três aspectos na relação conjugal:
satisfação com aspectos emocionais do cônjuge; satisfação com a interação
2
Em anexo.
Em anexo.
4
Em anexo.
5
Em anexo.
3
48
conjugal; satisfação com a forma de organização, de estabelecimento e
cumprimento de regras pelo cônjuge. Cada questão tem três (3) opção como
resposta: 1 – “Eu gosto como tem sido”; 2 - “Eu gostaria que fosse um pouco
diferente”; 3 - “Eu gostaria que fosse um pouco diferente”. O respondente escolhe
uma.
6.8.5. Escala de Ajustamento Diádico (DAS – Dyadic Adjustment Scale)6 (Spainer,
1976 (traduzida por Bernard, 2007).
Descrição: avalia a qualidade do relacionamento pela percepção dos casais ou
parceiros, além de diferentes aspectos de uma relação conjugal que incluem:
satisfação diádica; coesão diádica; consenso diádico; expressão afetiva. O
respondente pode escolher as alternativas em cinco colunas: “Sempre concorda”,
“Quase sempre concorda”, “Ocasionalmente discorda”, “Frequentemente discorda”,
“Sempre discorda” para questões como: Manejo das finanças, Demonstração de
afeto; “O tempo todo”, “A maior parte do tempo”, “Ocasionalmente”, “Raramente”,
“Nunca” para questões como: Você confia em seu cônjuge?, Com que frequência
vocês brigam?; “Todo dia”, “Quase todo dia”, “Ocasionalmente”, “Raramente”,
“Nunca” para a questão: Você beija o seu cônjuge?; “Sempre”, “Frequentemente”,
“Ocasionalmente”, Raramente”, “Nunca” para questões com: Frequência em que
vocês riem juntos, Frequência em que vocês trabalham num projeto juntos. Escore
mais alto reflete um relacionamento amoroso melhor.
6.8.6. Inventário de Habilidades Sociais Conjugais (IHSC)7- (Del Prette - Del Prette &
Del Prette, 2001).
Descrição: O IHSC é semelhante ao IHS-Del Prette, contudo, com algumas
formulações a fim de torná-lo mais específico às situações próprias do
relacionamento conjugal. Assim, resulta em um instrumento com 32 itens. A
análise da estrutura fatorial do IHSC foi feita pelo método Alpha, com rotação
Varimax, resultando em cinco fatores (comunicação assertiva, expressão de
sentimento
positivo/agrado,
desinibição/espontaneidade
e
expressão
controle
da
de
desacordo/desagrado,
agressividade).
Significado
pontuação: Quanto maior a pontuação, menos habilidades sociais conjugais.
6
7
Em anexo.
Em anexo.
da
49
6.8.7 Inventário de Crença Sobre Relacionamento (RBI – Relationship Belief
Inventory)8 (Eidelson e Epstein,1982 (traduzido por Peçanha e Rangé, 2008).
Descrição: O RBI é dividido em cinco sub-escalas: 1) Desacordo é destrutivo, é a
crença de que a falta de consenso é uma ameaça à relação amorosa; 2) Leitura
mental é esperada, os parceiros acreditam que o seu companheiro deveria ser
capaz de saber o que sentem ou pensam sem comunicarem; 3) Parceiros não
podem mudar, uma pessoa acredita que seu companheiro não seria capaz de
mudar nem a si próprio nem a sua relação; 4) Perfeccionismo sexual, é a idéia de
que o parceiro deve ter um desempenho sexual perfeito; 5) Os sexos são
diferentes, é a crença de que os problemas no relacionamento são diferenças
típicas entre o gênero masculino e feminino.
As escolhas variam entre seis respostas (5 - Acredito fortemente que a
afirmação é verdadeira; 4 - Acredito que a afirmação é verdadeira; 3 - Acredito que
a afirmação é provavelmente verdadeira, ou mais verdadeira do que falsa; 2 Acredito que a afirmação é provavelmente falsa, ou mais falsa do que verdadeira; 1
- Acredito que a afirmação é a afirmação é falsa; 0 - Acredito fortemente que a
sentença é falsa. Quanto maior a pontuação, maior a aderência a uma crença
inadequada particular.
6.8.8. Questionário de Pensamentos Automáticos (ATQ – Automatic Thought
Questionnaire)9 - (Philip C. Kendall and Steven D. Hollon, 1980).
Descrição: Avalia quatro aspectos dos pensamentos automáticos e a frequência
dos pensamentos relacionados com sintomas depressivos. Quanto maior a
pontuação, maior o nível de pensamentos automáticos distorcidos.
6.8.9. Escala de Atitudes Disfuncionais (EAD – Dysfuctional Attitudes Scale)10
(Arlene Weissman - adaptado por Orsini, Tavares e Trccoli, 2005).
Descrição: Avalia as atitudes do indivíduo frente às situações do cotidiano. Mede a
vulnerabilidade para a depressão. Quanto maior a pontuação, maior a aderência a
crenças adaptativas e menos distorção cognitiva.
8
Em anexo.
Em anexo.
10
Em anexo.
9
50
6.8.10. Registro Pensamentos Disfuncionais (RDT - Record of Dysfunctional
Thoughts)11(Whight, Beck, Rust at al, 1979).
Descrição: o respondente descreve a situação em que percebeu a emoção
negativa (também especificada), o pensamento automático que desencadeou a
emoção. Posteriormente, deve apresentar uma resposta alternativa ao pensamento
automático. Para se chegar à resposta alternativa deve-se utilizar as seguintes
questões: 1) Qual é a evidência de que o pensamento automático é verdadeiro?
Ou não é verdadeiro? 2) Quais as hipóteses alternativas? 3) Qual é a pior coisa
que poderia acontecer? Eu poderia conviver com isso? Qual a melhor coisa que
poderia acontecer? Qual o resultado mais realista? 4) O que eu deveria fazer a
respeito disso? 5) Qual o efeito da minha crença no pensamento automático? Qual
seria o efeito de eu mudar a minha maneira de pensar? 6) O que eu diria a um
amigo que tivesse o mesmo pessamento? Pontuação: Em cada item deve haver a
descrição, também em porcentagem – 0 - 100. Intensidade da emoção e dos
pensamentos. Quanto maior a intensidade, pior é o pensamento disfuncional.
6.9. Descrição do protocolo da terapia
6.9.1. Protocolo piloto de atendimento
Quadro 6 – Descrição do protocolo piloto de atendimento da terapia
Protocolo piloto de atendimento – 12 sessões
Sesssão
Estrutura
1ª
Rapport; Avaliação (conjunta) - Questionário sociodemográfico;
Escala de Satisfação Conjugal; BDI; BAI
11
Em anexo.
2ª
Avaliação (individual); DAS; QPA; EAD
3ª
Avaliação conjunta e plano de tratamento, IHSC, RBI
4ª
Psicoeducação - pensamentos automáticos, resposta
comportamental, resposta fisiológica, estratégia compensatória de
enfrentamento, regulação emocional
5ª
Role playing (dramatização)
6ª
Treino em comunicação e habilidades sociais conjugais
7ª
Treino em comunicação, identificação de distorções cognitivas
8ª
Treino em resolução de problemas baseado em evidências
9ª
Treino em resolução de problemas, plano de ação
10ª
Reestruturação cognitiva, RPD
51
11ª
Prevenção de recaída
12ª
Feedback geral, preenchimento dos inventários, questionários e
avaliações.
Nota: este quadro mostra cada atividade planejada em cada uma das 12
(doze) sessões.
6.10. Descrição dos procedimentos de atendimento por sessão
6.10.1. 1ª sessão – Rapport; Avaliação (conjunta) - Questionário sociodemográfico;
ESC; BDI; BAI
A sessão inicial teve como objetivo colher assinaturas do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE); preenchimento estabelecer o rapport e
a confiança do casal; familiarizar o casal sobre o modelo da terapia cognitivocomportamento e os processos entre pensamentos automáticos, emoção e
comportamento; preenchimento da Escala de Satisfação Conjugal (ESC),
Inventário Beck de Depressão (BDI) e Inventário Beck de Ansiedade (BAI); avaliar
as expectativas do casal sobre a terapia.
Obs.: no primeiro contato com o casal (antes da 1ª sessão) foi entregue o
TCLE e o Questionário Sociodemográfico, então, o casal leva tais documentos
preenchidos para a 1ª sessão. Assim, é esclarecido possíveis dúvidas. E, então,
feito uma avaliação geral.
6.10.2. 2ª sessão – Avaliação (individual); DAS; QPA; EAD
Nesta, o casal é avaliado individualmente. É feita uma rápida avaliação
baseada em principais respostas do Questionário Sociodemográfico, ESC, BDI e
BAI, a fim de colher informações pontuais para a conceitualização do caso.
Também, é solicitado que o cônjugue faça uma atualização dos principais
problemas enfretados no relacionamento; resumo da sua vivência na infância e
adolescência.
Nesta sessão, geralmente o indivíduo comenta algumas questões que não
teria coragem, a princípio, de falar na sessão conjunta. Cada cônjuge tem 40min.
Enquanto um está sendo atendido, o outro, em sala separada, responde os
questionários (QPA, EAD e DAS), depois inverte, ou seja, aquele que estava em
atendimento, responde os questionários, enquanto o outro é atendido. Ao final,
52
junta-se os cônjuges e é passado terefas para casa (ISHC e RBI) e solicitado ao
casal um feedback da sessão. Esta última parte da sessão dura no máximo 10min.
6.10.3. 3ª sessão – Avaliação conjunta e plano de tratamento, IHSC, RBI
Na terceira sessão é discutido as principais questões apresentadas na sessão
anterior (individual), por exemplo, a percepção que cada cônjuge tem sobre a
relação, sobre si próprio e sobre o/a parceiro/a.
Se for autorizado pelo cliente a apresentação de alguma questão confidencial
colocada na sessão individual como, por exemplo, traição, envolvimento em drogas
psicoativas etc., então, é iniciado nesta sessão. Contudo, o terapeuta deve estar
sensível ao momento, ou seja, se houver a percepçaõ que não seja o momento
carreto, pode-se deixar para introduzir o problema na sessão seguinte.
Também é apresentado ao casal um plano de tratamento inicial e parcial. O
desenvolvimento e processo de conceitualização acontece e é efetivado através do
empirismo colaborativo (terapeuta e Cliente).
6.10.4. 4ª sessão – Role playing (dramatização)
A quarta sessão é de dramatização. Baseado na conceitualização de caso
inicial, nas questões identificadas de situações desencadeantes de stress, por
exemplo, um dos cônjuges apresentou como uma das principais causas de
conflitos e sofrimento na relação e disse: "Não consigo me expressar quando ele
fala sobre o nós" (situação), "O que ele vai pensar de mim?", "Sou incapaz de ser
clara" (Pensamento Automático), “Fico desapontada comigo mesma e muito
ansiosa” (Emoção), “Fico calada e não expresso o que penso e sinto”
(comportamento). Da mesma forma é colocada uma situação por parte do/a
parceiro/a. Deve ser apresentado por ambos os cônjuges, uma situação atual e
específica, por exemplo, esta situação aconteceu esta semana no supermercado.
A seguir, é explicado ao casal que eles reproduzirão a mesma situação,
porém com os personagens invertidos, ou seja, a esposa faz o papel do marido e o
marido, o papel da esposa. Ambos colocaram a sua percepção sobre a situação
ocorrida. Depois, eles repetem a situação, contudo, desta vez, cada um fará o seu
próprio papel na cena, e, se ambos perceberem que agiram de forma desagradável
53
ou falou alguma coisa que não deveria ou de forma estúpida, por exemplo, desta
vez eles poderam repensar e agir de forma diferente.
Após a dramatização, terapeuta e casal avaliam a primeira cena (papéis
invertidos), descrevendo as percepções e sentimentos de se colocarem no lugar do
outro e a segunda cena (agir de forma diferente) descrevendo os resultados e
percepções de pensarem formas alternativas de resolverem problemas.
É passado uma tarefa para casa – Descrição de Expectativas do Casal12, na
qual, ambos descreverão, individualmente, as expectativas pessoais e conjugais,
bem como a percepção atual, o que pode ser feito para ajudar a alcançar tal
expectativa, por que isto é importante e a intensidade (0-100).
6.10.5. 5ª sessão – Psicoeducação sobre pensamentos automáticos, resposta
comportamental, resposta fisiológica, estratégia compensatória de enfrentamento,
regulação emocional
Nesta sessão, ainda baseado na conceitualização de caso cognitivocomportamental e no plano de tratamento desenvolvido colaborativamente é feita
uma psicoeducação explicando, também por meio de imagens, ao casal como
pensamentos automático estão relacionados às emoções, comportamentos,
respostas fisiológicas e estratégias compensatórias de enfrentamento. Isto,
utilizando exemplos identificados e descritos pelo próprio casal. Ex.:
12
Em anexo.
54
Situação: “Meu esposo diz que não aguenta mais a nossa relação, então, não
consigo me expressar ou dizer o que eu penso”
Pensamentos automáticos: "O que ele vai pensar de mim?", "Sou incapaz de ser
clara"
Emoção: “Ansiedade, desapostamento consigo mesma”
Comportamento: “Fico calada, não expresso os meus sentimentos e pensamentos
sobre a situação”
Resposta fisiológica: “Sinto uma sensação de sufocação, falta de ar, dor no peito”.
6.10.6. 6ª sessão – Treino em comunicação e habilidades sociais conjugais
Nesta sessão, é utilizado manual Pricípios Para Quem Ouve e Para Quem
Fala13 a fim de desenvolver habilidades eficazes de comunicação e identificar
padrões evitativos de enfrentamento. Os casais falam como tem sido a
comunicação deles, dando exemplos de situações específicas e a percepção de
cada um sobre tal situação. Também é colocado formas alternativas de
comunicação em uma situação, se o caso do sofrimento do casal estiver na forma
como eles se comunicam.
Alguns exemplos colocados nesta sessão, também são baseadas nos
questionários respondidos pelos casais, principalmente, IHSC, por exemplo, “Se
meu cônjuge faz algo que não gosto, tenho dificuldade em dizer isso a ele/a”,
“Sinto dificuldades em expressar sentimentos de carinho através de palavras ou
gestos a meu cônjuge”, ESC, “Gostaria que a comunicação com minha
esposa/meu marido fosse muito diferente”.
A tarefa de casa é identificar, durante a semana, distorções cognitivas
próprias baseado numa lista (em anexo) disponibilizada ao final da sessão.
6.10.7. 7ª sessão – Treino em comunicação, identificação de distorções cognitivas
A lista de distorções cognitivas (Inferência arbitrária; Abstração seletiva;
Leitura
de
pensamento;
Hipergeneralização;
Maximização
e
minimização;
Personalização; Pensamento dicotômico absolutista) disponibilizada na sessão
anterior é discutida nesta sessão, com definições e exemplos. Cada cônjuge busca
se identificar nos padrões de pensamentos distorcidos. Também, cada um tenta
identificar o/a parceiro/a de acordo com a própria percepção, dando exemplos de
13
Em anexo.
55
situações específicas ocorridas nas últimas semanas na relação do conjugal e
quanto e como os/ pensamento/s distorcido/s afetou/afetaram a dinâmica do casal.
6.10.8. 8ª sessão – Treino em resolução de problemas baseado em evidências
A partir dos problemas identificados e descritos pelos cônjuges, de forma
precisa, busca-se defini-los e dá-los nomes, ou seja, identificar e especificar
preocupações, cognições, emoções, crenças e déficits de habilidades envolvidas
nos problemas. Isto, por meio de questionamentos socráticos e técnicas de seta
descendente.
Assim,
analisa-se
custo-benefício,
autorreforço,
automonitoramento,
estimulação, conclusões precipitadas antes de avaliar as evidências de cada
situação e a relação com os pensamentos automáticos, busca de maior número de
alternativas possíveis para resolução de um determinado problema (brainstorming)
e escolha da melhor opção. Para isto é utilizado Regras Para Resolução de
Problemas14 com os seguintes passos:
1. O primeiro passo consiste em proceder a um brainstorming (tempestade de
idéias) ao elaborar uma lista de soluções para o problema; 2. Qualquer solução é
aceitável nesse momento. Vocês não devem censurar ou avaliar suas próprias
soluções ou do seu parceiro/a; 3. Esse procedimento deve continuar até não ser
encontrada mais nenhuma solução; 4. Cada uma dessas soluções deve ser
anotada; 5. Depois cada solução deve ser avaliada segundo os quatro critérios: É
absurda? a. Esta solução ajudaria a resolver o problema, b. Quais são os prós
desta solução? Quais os pensamentos automáticos relacionados à essa
conclusão? Quais as evidências deste/s pensamento/s?, c. Quais são os contras
desta solução? Quais os pensamentos automáticos relacionados à essa
conclusão? Quais as evidências deste/s pensamento/s?; 6. O consenso final deve
incluir quem fará o quê, por quê, quando, onde, quando, como e custo em termos
específicos; 7. Colocar o plano em ação (utilizar um plano de ação); 8. Verificar o
que deu certo e o que deu errado; 9. Caso necessário, tomar outra solução para o
mesmo problema.
Após explicação dos passos acima, é feito um exercício de resolução de
problemas específicos do próprio casal e solicitado a mesma tarefa para casa.
14
Em anexo.
56
6.10.9. 9ª sessão – Treino em resolução de problemas, plano de ação
A partir da tarefa de casa, a solução encontrada e discutida pelo casal é
colocada no Plano de Ação15 (o quê, por quê, quando, onde, quando, como e
custo). O casal preenche o quadro em conjunto. Posteriormente, é retomado o
exercício de Descrição de Expectativas do Casal. As expectativas conjugais,
também são colocadas em um plano de ação após concordância de ambos os
cônjuges.
Neste exercício é observado o desenvolvimento das habilidades sociais
conjugais e da comunicação entre o casal e capacidade de resolver problemas. A
tarefa para casa é a leitura da Lista de Expectativas Irrealistas, Lista de Atribuições
Disfuncionais e Lista de Padrões Disfuncionais.
6.10.10. 10ª sessão – Reestruturação cognitiva, RPD
Nesta sessão é avaliado as expectativas, atribuições e padrões disfuncionais.
Em seguida é relembrado as explicações da 5ª sessão sobre o modelo cognitivocomportamental (identificação e nomeação da emoção, a situação que disparou o
sentimento, o pensamento automático relacionado a emoção na situação
específica, busca de resposta alternativa ao pensamento automático na situação
específica e resultado ou consequência (emoção e resposta fisiológica) após a
resposta alternativa ao pensamento automático. Sempre avaliando a intensidade
em cada passo, por exemplo:
Situação/evento
Emoção e intesidade – 0-100
Pensamento Automático e intensidade da crença – 0-100
Resposta alternativa e intensidade da crença – 0-100
Resultado/consequência após a resposta altrnativa e intensidade – 0-100
15
Em anexo.
57
Para ajudar a construir uma resposta alternativa o cliente segue as seguintes
questões, presentes no RPD16: 1) Qual é a evidência de que o pensamento
automático é verdadeiro? Ou não é verdadeiro? 2) Quais as hipóteses
alternativas? 3) Qual é a pior coisa que poderia acontecer? Eu poderia conviver
com isso? Qual a melhor coisa que poderia acontecer? Qual o resultado mais
realista? 4) O que eu deveria fazer a respeito disso? 5) Qual o efeito da minha
crença no pensamento automático? Qual seria o efeito de eu mudar a minha
maneira de pensar? 6) O que eu diria a um amigo que tivesse o mesmo
pensamento? A tarefa de casa foi o Registro de Pensamentos Disfuncionais (RPD).
6.10.11. 11ª sessão – Prevenção de recaída
Após quinze dias ou duas semanas ocorre a sessão de prevenção de recaída.
Essa inclui uma revisão da terapia até o momento, como habilidades e formas de
enfrentamento aprendidas, criação de um plano futuro buscando que o cliente seja
seu “próprio terapeuta”. É relembrado alguns gatilhos pessoais ou acontecimentos
que geraram emoções desagradáveis estimulando o cliente a pensar em diferentes
formas e estratégias de enfrentamento, caso voltem a acontecer após o término da
terapia.
A tarefa de casa é o prenchimento de todos os preditores utilizados no início
da terapia da terapia.
6.10.12. 12ª sessão – Feedback geral, devolução dos inventários, questionários e
avaliações finais
Na última sessão, após duas semanas, o casal dá um feedback da terapia.
Cada cônjuge descreve a sua percepção atual da relação como, as mudanças nos
pensamentos automáticos, emoções, comportamentos. O/A parceiro/a, além de
descrever a sua própria percepção, também comenta sobre a percepção do outro e
as suas futuras expectativas. Neste processo, o casal já passou por uma rápida
revisão sobre treinamento em comunicação, reflexão sobre as vantagens e
desvantagens do pensamento, reestruturação de problemas cognitivos, prevenção
de recaídas.
16
Em anexo.
58
6.11. Descrição dos procedimentos de atendimento da sessão
6.11.1 1º – 10’ - Cumprimento ao casal; obteção de uma atualização da sessão
anterior até a atual e revisão do exercício de casa
Este é um espaço para os cônjuges falarem da semana deles no que diz
respeito ao relacionamento conjugal, ou seja, as dificuldades, conflitos e como
buscaram resolvê-los, o que eles colocaram em práticas daquilo que aprenderam
até o momento na terapia e qual a percepção de ambos na/s situação/ões. também
é discutido sobre a tarefa de casa, se houve dificuldades e por quê.
6.11.2 2º – 2’ - Verificação do humor
Desde o primeiro contato com o casal, em cada sessão, deve-se observar o
seu humor, se está variando, se melhorou, comparando com as sessões
anteriores. isto é observado durante toda a terapia. contudo, pode-se perguntar a
cada cônjuge: em uma escala de 0 a 10/100, como está o seu humor, hoje ou em
relação a semana anterior a este encontro, inclusive hoje.
6.11.3
3º – 5’ - Definição da pauta, embora pré-programada, acontece
colaborativamente com os casais
É colocado os pontos à serem tratados na sessão e se ambos os cônjuges
estão de acordo ou querem acrescentar alguma coisa. também é perguntado se há
alguma questão que o casal gostaria de discutir na sessão atual.
6.11.4 4º – 25’ – O desenvolvimento da pauta, definida em colaboração – terapeutacasal
A pauta, estabelecida previamente entre terapeuta e casal, é desenvolvida,
de acordo com o protocolo de atendimento por sessão, durante este período, bem
como as dinâmicas e tarefas relacionadas ao tema em questão.
6.11.5 5º – 3’ – A definição das tarefas de casa
Este tempo é dedicado para explicações sobre as terefas de casa
relacionadas a sessão atual, bem como tirar dúvidas sobre esta.
59
6.11.6 6º – 5’ – É solicitação um resumo e feedback da sessão atual
Cada casal fala sobre as questões desenvolvidas na sessão atual, fazendo
uma avaliação final, se supriu as necessidades para aquele dia e se alguma coisa
ficou mal entendida.
60
7. ANÁLISE DOS RESULTADOS
Foi utilizado o teste Kolmogorov-Smirnov (K-S), a fim de testar a normalidade
e a correlação de significância de Lilliefors das variáveis antes e depois da
intervenção. Para os casos de não normalidade, utilizou-se os testes nãoparamétricos (NPar), Teste de Mann-Whitney e Teste Qui-quadrado a fim de
encontrar um valor da dispersão para duas variáveis nominais, avaliando a
associação existente entre as variáveis qualitativas.
A eficácia no resultado foi avaliada a partir do aumento de satisfação e
ajustamento do casal após o tratamento. A análise dos dados se deu da seguinte
maneira: para as variáveis categóricas foi realizada análise descritiva por meio do
Teste Qui-quadrado para verificar significância das frequências. Para as análises
quantitativas foi utilizado o teste T de Student para verificar a igualdade de médias e,
entre as fases do estudo antes e depois da intervenção foi utilizado o teste t pareado
ou correlação de amostras emparelhadas. Para todas as análises o p<0,05 foi
considerado significante.
61
8. RESULTADOS
Na tabela 1 estão expressos os os dados sociodemográficos da média de
idade da amostra é de 30,4 (DP=4,13) anos. Entre os homens, a média é de 31,7 e
entre as mulheres, 29,1 anos. O tempo de casamento entre 8 e 12 anos foi de
56%, n=18 e entre 1 e 7 anos, 44%, n=14 e a principal razão pela decisão da união
foi a gravidez (37,5%, n=12). Por outro lado, o amor como motivo da união foram
sete (7) indivíduos (21,9%) e 40% tiveram outros motivos (medo da solidão,
questões religiosas ou não sabiam explicar).
Além disso, 71,9%, n=23 dos participantes relataram terem pais divorciados.
Entretanto, 18,8%, n=6 declararam estar no segundo ou terceiro casamento. Os
resultados ainda expressam que 62,5% da amostra frequenta alguma igreja cristã,
pelo menos uma vez por semana. Na variável escolaridade foram identificados
EMC aqui apresenta apenas o de maior frequência. aNo quesito renda familiar que,
ao lado da escolaridade, tiveram um índice muito alto de diferença quando
comparado com com as demais opções dentro da própria variável, teve 81,3%,
n=26 com uma renda familiar entre R$500,00 e R$2.000,00. Além disso, o número
de filhos é considerado baixo quando relacionado com escolaridade e renda. Os
resultados também mostram que 40%, n=13) da amostra declararou ter apenas um
(1) filho.
Tabela 1 – Composição da amostra (n=32 casais heteroafetivos).
Dados sociodemográficos
Variáveis
Homem
Mulher
Total
31,7 (DP=3,11)
29,1(DP=4,69)
30,4(DP=4,13)
% (n)
% (n)
% (n)
0 (nenhum)
12,5 (2)
12,5 (2)
12,5 (4)
1 (um)
43,8 (7)
37,5 (6)
40,6 (13)
2 (dois)
25,0 (4)
25,0 (4)
25,0 (8)
3 (três)
12,5 (2)
18,8 (3)
15,6 (5)
4 (quatro)
6,3 (1)
0
3,1 (1)
0
6,3 (1)
3,1 (1)
Idade (média e DP)
Número de filhos
5 (cinco)
Tempo Casado
08 a 12 anos
56,0 (18)
62
01 a 07 anos
Escolaridade
Renda
44,0 (14)
EMC
25,0 (4)
50,0 (8)
37,5 (12)
EFI
25,0 (4)
6,3 (1)
15,6 (5)
EMI
18,8 (3)
12,5 (2)
15,6 (5)
EFC
12,5 (2)
12,5 (2)
12,5 (4)
ESI
6,3 (1)
12,5 (2)
9,4 (3)
ESC
6,3 (1)
6,3 (1)
6,3 (2)
PGI
6,3 (1)
0
3,1 (1)
R$ 500-2.000
81,3 (26)
R$ 2.100-4.000
18,8 (6)
Serviços religiosos
Semanal
62,5 (10)
62,5 (10)
62,5 (20)
Razão da união
Gravidez
37,5 (6)
37,5 (6)
37,5 (12)
Amor
25,0 (4)
18,8 (3)
21,9 (7)
Outros*
37,5 (6)
43,8 (7)
40,6 (13)
Pais divorciados
75,0 (12)
68,8 (11)
71,9 (23)
Recasamento
18,8 (3)
18,8 (3)
18,8 (6)
Nota: EMC=ensino médio completo; EFI=ensino fundamental incompleto; EFC=ensino fundamental
completo; ESI=ensino superior incompleto; EMI=ensino médio incompleto; ESC=ensino superior
completo. Os dados sobre os serviços religiosos diz respeito a frequência de pelo menos uma vez por
semana.
DP=desvio padrão.
*solidão, sexo, questões religiosas, não sabe explicar.
As principais queixas apresentadas (Tabela 2) mostram que a comunicação
disfuncional que, conforme relatos, inclui verbalização agressiva ou estupida,
silêncio, ironia, desrespeito foi a mais notificada. Entre os homens foi 62,5% e
entre as mulheres, 43,8% e no total, 53,1%. A segunda queixa foi a traição com
18,8%) mais prevalente no relato das mulheres. A falta de iniciativa que, segundo
relatos, envolve responsabilidades domésticas, cuidado com os filhos e resolução
de problemas foi a terceira queixa mais encontrada no total (9,4%), sendo 12,5%,
entre as mulheres e 6,3%, n=1, entre os homens.
Também houve relatos de mau humor e falta de afeto. Ambos 12,5%, sendo
um homem e uma mulher em cada variável (6,3%). Queixas de relações sexuais
63
foram duas (12,5%), na qual, somente apresentada entre os homens que relataram
indisposição por parte das parceiras. Da mesma forma, a desconfiança como
principal queixa somente foram apresentadas por mulheres (12,5%) que relataram
viver em tensão a todo tempo por ter um parceiro imprevisível e que não é digno
de confiança.
Tabela 2 – Frequência das principais queixas entre os 32 participantes.
Principais queixas
Homem (n=16)
Mulher (n=16)
Total (n=32)
% (n)
% (n)
% (n)
62,5 (10)
43,8 (7)
53,1 (17)
Traição
6,3 (1)
18,8 (3)
12,5 (4)
Falta de iniciativa
6,3 (1)
12,5 (2)
9,4 (3)
Mau humor
6,3 (1)
6,3 (1)
6,3 (2)
Falta de afeto
6,3 (1)
6,3 (1)
6,3 (2)
Relações sexuais
12,5 (2)
0
6,3 (2)
0
12,5 (2)
6,3 (2)
Tipos
Comunicação*
Desconfiança
Nota: As queixas de comunicação envolvem estupidez, desrespeito, silêncio, ironia e agressividade verbal.
Quanto as distorções (Tabela 3) a Leitura de pensamento com 34,4%, e a
Hipergeneralização com 31,3%, foram as mais frequentes com p<0,05.
Tabela 3 – Frequências das distorções cognitivas nos 32 participantes.
Distorções cognitivas
Homem (n=16)
Mulher (n=16)
Total (n=32)
% (n)
% (n)
% (n)
Leitura de pensamento
12,5 (2)
56,3 (9)
34,4 (11)
0,05*
Hipergeneralização
50,0 (8)
12,5 (2)
31,3 (10)
0,05*
Abstração seletiva
12,5 (2)
12,5 (2)
12,5 (4)
Personalização
0
12,5 (2)
6,3 (2)
Rotulação
0
6,3 (1)
3,1 (1)
Maximização e minimização
18,8 (3)
0
9,4 (3)
Pensamento dicotômico
6,3 (1)
0
3,1 (1)
Tipos
p
* Teste Qui-quadrado.
Na tabela 4 constam as tabulações cruzadas (crosstabs/tables) com as
variáveis nominais Gênero, Pais divorciados, Escolaridade, Renda familiar,
Práticas religiosas semanais, Razão do casamento, Recasamento e Queixa
64
principal por Distorções cognitivas pelo Teste qui-quadrado a fim de verificar a
existência de dependência entre essas variáveis. Contudo, dentre as sete
distorções
encontradas,
foram
selecionadas
Leitura
de
pensamento
e
Hipergeneralização para fazer as tabulações, pois as demais tiveram resultado
muito baixo (1 ou 2), além de que a amostra é relativamente pequena, o que
poderia ser incoerente para esta análise. Assim, as estatísticas de cada tabela
foram baseadas em todos os casos com dados válidos no/s intervalo/s
especificado/s para todas as variáveis de cada tabela. Dessa foma foi observada
significância somente entre as variáveis Gênero e Distorções cognitivas (p=0,00).
As demais tiveram resultados estatísticos negativos.
Tabela 4 – Resultados das tabelas cruzadas para verificação de dependência
entre variáveis sociodemográficas e distorções cognitivas.
Teste de tabelas cruzadas
Variáveis
DC
p
Escolaridade
HG
LP
0.88a
Razão da união
HG
LP
0.85a
Principal queixa
HG
LP
0.53a
Gênero
HG
LP
0.01*b
Pais divorciados
HG
LP
1.00b
Renda familiar
HG
LP
0.31b
Práticas religiosas
HG
LP
0.66b
Recasamento
HG
LP
0.59b
Média (DP)
Número de filhos
HG
LP
1,60 (0,97)
1,55 (1,37)
Idade
HG
30,20 (1,75)
LP
27,73 (4,92)
0,66**
0,14***
65
Tempo de casamento
HG
7,90 (3,18)
0,75***
LP
7,36 (4,39)
Nota: DC=distorções cognitivas; aTeste Qui-quadrado baseado em 10000 tabelas
de amostra com o valor inicial 126474071, variáveis com mais de duas categorias
e resultados fornecidos por Sig. Monte Carlo (2 lados); bTeste Qui-quadrado para
a tabulação cruzada 2x2, resultados exatos são fornecidos em vez dos resultados
de Monte Carlo.
*p<0,01;
** Teste de Mann-Whitney;
***Teste Qui-quadrado.
Para as variáveis ordinais idade, número de filhos e tempo de casamento foram
feitos testes não-paramétricos. Assim, após o Teste de Kolmogorov-Smirnov de uma
amostra para verificar a normalidade da distribuição
utilizou-se o Teste Mann-
Whitney (Tabela 6) para a variável ordinal número de filhos (Z-0,44; p=0,71),
obtendo então, resultado negativo. Para as variáveis idade e tempo de casamento
foram feitos testes de amostras independentes e os resultados do teste-t o que
também não foram significativos, ou seja, não houve diferença entre idade (p=0,14)
e nem tempo de casamento (p=0,75) e os grupos de distorções cognitivas de Leitura
de pensamento e Hipergeneralização.
A fim de verificar se há diferenças entre as variáveis Satisfação Conjugal,
Depressão, Ansiedade, Ajustamento Diádico, Habilidades Soiciais Conjugais,
Crenças Disfuncionais, Pensamentos Automáticos e Atitudes Disfunicionais e as
distorções cognitivas de Leitura de pensamento e Hipergeneralização covariado por
gênero. Nesta análise foi utilizado o Teste de Kolmogorov-Smirnov de uma amostra
para identificar a normalidade da distribuição do teste e correção de Significância de
Lilliefors. Em seguida, a partir da análise univariada, baseada em todos os casos
com dados válidos para todas as variáveis no modelo e nas médias marginais
estimadas.
Os resultados das análises de pares ajustados para diversas comparações
expressos na tabela 5 mostrou que não existe diferença significante entre nenhuma
escala e os grupos de distorções (HG/LP), covariados por gênero.
66
Tabela 5 – Resultados da análise univariada das VD’s, antes da intervenção, entre as
distorções, covariada por gênero.
Comparações de pares univariada ANOVA
VD Antes
ESC
BDI
BAI
DAS
IHSC
RBI
ATQ
EAD
Distorções
Média**
Erro Padrão
HG
52,85
3,30
LP
47,22
3,11
HG
11,36
2,14
LP
16,03
2,02
HG
2,33
0,18
LP
2,79
0,17
HG
45,61
5,56
LP
36,35
5,24
HG
115,23
6,02
LP
107,52
5,68
HG
87,63
4,76
LP
91,33
4,49
HG
111,48
8,24
LP
110,93
7,77
HG
123,44
3,84
LP
116,42
3,62
p*
0,28
0,17
0,10
0,29
0,41
0,62
0,97
0,25
Nota: ESC=Escala de Satisfação Conjugal; BDI=Inventário Beck de Depressão;
BAI=Inventário Beck de Ansiedade; DAS=Escala de Ajustamento Diádico; IHSC=Inventário
de Habilidades Sociais Conjugais; ATQ=Questionário de Pensamentos Automáticos; RBI=
Inventário de Crenças Sobre o Relacionamento; EAD=Escala de Atitudes Disfuncional.
HG=hipergeneralização; LP=leitura de pensamento.
**As covariáveis que aparecem no modelo são avaliadas nos seguintes
valores: Gênero = 1,5238.
*Baseado em médias marginais estimadas, ajustado para diversas
comparações: Bonferroni.
Utilizou-se ainda o teste-t pareado para verificar estatisticamente a existência
de diferença de tempo para as variáveis Satisfação Conjugal, Depressão,
Ansiedade,
Ajustamento
Diádico,
Habilidades Soiciais Conjugais,
Crenças
Disfuncionais, Pensamentos Automáticos e Atitudes Disfunicionais comparando
antes e depois da intervenção, com base nos casos sem dados ausentes ou fora
67
do intervalo para qualquer variável da análise (Tabela 6). As correlações de
amostras emparelhadas resultaram em significância estatística, com excessão
das variáveis Atitudes Disfunicionais, Ansiedade e Crença sobre o relacionamento.
Tabela 6 – Resultados das correlações das amostras emparelhadas – antes e depois da
intervenção para todas as escalas.
Teste t de amostras pareadas
Antes
Depois
Média (DP)
Média (DP)
ESC
49,9 (8,9)
44,6 (11,5)
0,00*
BDI
13,8 (6,6)
10,3 (6,7)
0,00*
DAS
40,8 (16,0)
33,9 (17,8)
0,00*
IHSC
111,2 (16,2)
107,6 (19,9)
0,00*
ATQ
111,2 (21,5)
100,4 (23,5)
0,00*
EAD
119,8 (11,3)
123,0 (14,8)
0,65
RBI
89,6 (12,5)
84,1 (20,4)
0,15**
BAI
14,8 (8,5)
10,6 (9,1)
0,08**
Variáveis
p
Nota: ESC=Escala de Satisfação Conjugal; BDI=Inventário Beck de Depressão; BAI=Inventário
Beck de Ansiedade; DAS=Escala de Ajustamento Diádico; IHSC=Inventário de Habilidades
Sociais Conjugais; ATQ=Questionário de Pensamentos Automáticos; RBI=Inventário de
Crenças Sobre o Relacionamento; EAD=Escala de Atitudes Disfuncional.
*p<0,01; **Teste NPar de Classificações Assinadas por Wilcoxon.
A tabela 7 expressa os resultados da correlação entre o tempo antes e depois
da intervenção e apresenta a eficácia da intervenção por gênero. Assim, foi feito
um teste t pareado com as os resultados das escalas ESC, DAS, RBI, ATQ, BDI,
BAI, IHSC e EAD. Entre os homens, não houve significância estatística para BAI e
EAD e, entre as mulheres, somente a variável EAD. Além disso, as mulheres
apresentaram
maiores
índices
negativamente a relação conjugal.
de
redução
dos
sintomas
que
afetavam
68
Tabela 7 – Resultados das correlações das amostras emparelhadas – antes
e depois da intervenção.
Teste t Pareado
Homem
Média (DP)
Mulher
P
Média (DP)
P
ESC
Antes
47,4 (8,8)
Depois
43,3 (9,2)
0,00*
48,9 (9,6)
44,9 (11,7)
0,02**
DAS
Antes
34,2 (12,5)
Depois
31,1 (14,2)
0,00*
42,2 (15,5)
36,0 (19)
0,00*
RBI
Antes
90,6 (9,7)
Depois
87,1 (18,1)
0,00*
87,8 (13,8)
80,7 (17,6)
0,03**
ATQ
Antes
112,9 (15,9)
Depois
102,4 (19,7)
0,00*
106 (23,3)
97,7 (20,6)
0,01*
BDI
Antes
11,5 (4,4)
Depois
9,0 (4,2)
0,01*
16,4 (6,4)
11,9 (7,1)
0,04**
BAI
Antes
13,7 (6,3)
Depois
9,5 (9,1)
0,25
14,8 (8,1)
8,9 (6,1)
0,00*
IHSC
Antes
112,3 (13,3)
Depois
106,7 (14,7)
0,00*
111,6 (17)
112,3 (20,7)
0,00*
EAD
Antes
122,1 (13,8)
Depois
121,2 (14,8)
0,15
118,5 (9,8)
124,3 (12)
0,47
Nota: ESC=Escala de Satisfação Conjugal; BDI=Inventário Beck de
Depressão; BAI=Inventário Beck de Ansiedade; DAS=Escala de
Ajustamento Diádico; IHSC=Inventário de Habilidades Sociais Conjugais;
ATQ=Questionário de Pensamentos Automáticos; RBI= Inventário de
Crenças Sobre o Relacionamento; EAD=Escala de Atitudes Disfuncional.
*p<0,01; **p<0,05.
Foi feito um Teste não-paramétrico de Classificações Assinadas por Wilcoxon
para as variáveis BAI e RBI uma vez que estas não apresentaram normalidade na
distribuição do Teste de Kolmogorov-Smirnov de uma amostra (tabela 8). No
69
entanto, estas duas variáveis não apresentaram diferenças significativas de tempo
(antes e depois da intervenção).
Tabela 8 – Resultados de teste não-paramétrico de BAI e RBI,
antes e depois da intervenção.
Teste de Classificações Assinadas por Wilcoxon
Variáveis
Z
P
BAI-Depois - BAI-Antes
-1.74
0,08
RBI-Depois - RBI-Antes
-1.43
0,15
Nota: BAI=Inventário Beck de Ansiedade; RBI= Inventário de
Crenças Sobre o Relacionamento. Z=baseado nos postos
positivos.
A fim de identificar correlações entre as variáveis por gênero foram realizadas
correlações de pearson com o tempo antes da intervenção e, separadamente o
tempo depois da intervenção.
Os resultados para as variáveis antes apresentados (Tabela 9) mostram
correlação de ESC com DAS e ATQ; BDI com IHSC e RBI; DAS com IHSC, ATQ e
RBI; IHSC com ATQ e RBI. Já as variáveis Atitudes Disfuncionais e Ansiedade não
apresentaram correlação por gênero.
Tabela 9 – Resultados das correlações de Pearson das variáveis por gênero – antes e depois da
intervenção terapêutica.
Correlações de Pearson
Por gênero
ESC
p
BDI
p
BAI
p
DAS
p
IHSC
p
QPA
p
RBI
p
EAD
p
Variáveis de controle – antes
ESC
BDI
BAI
DAS
IHSC
QPA
RBI
EAD
0,27
0,62
0,00*
0,08
0,00*
0,46
0,74
0,81
0,11
0,03**
0,25
0,00*
0,56
0,82
0,80
0,71
0,98
0,54
0,01*
0,01*
0,02**
0,86
0,02**
0,02**
0,68
0,69
0,83
0,57
70
Variáveis de controle – depois
ESC
ESC
p
BDI
p
BAI
p
DAS
p
IHSC
p
QPA
p
RBI
p
BDI
BAI
DAS
IHSC
QPA
RBI
EAD
0,01*
0,00*
0,00*
0,11
0,09
0,03**
0,30
0,04**
0,00*
0,09
0,08
0,00*
0,43
0,00*
0,46
0,01*
0,07
0,12
0,17
0,20
0,01*
0,17
0,33
0,03**
0,95
0,23
0,95
0,81
EAD
p
Nota: ESC=Escala de Satisfação Conjugal; BDI=Inventário Beck de Depressão; BAI=Inventário Beck
de Ansiedade; DAS=Escala de Ajustamento Diádico; IHSC=Inventário de Habilidades Sociais
Conjugais; ATQ=Questionário de Pensamentos Automáticos; RBI= Inventário de Crenças Sobre o
Relacionamento; EAD=Escala de Atitudes Disfuncional;
*p <0,01;
**p <0,05.
Por outro lado, os resultados para as variáveis depois da intervenção
apresentaram (parte inferior da tabela 9) correlação de ESC com BDI, BAI, DAS e
RBI; o BDI com BAI, DAS e RBI; BAI com DAS e ATQ; DAS com RBI; IHSC com
RBI. Entretanto, a variável EAD não apresentou correlação por gênero com
nenhuma das demais.
71
9. DISCUSSÃO
Esta pesquisa foi motivada a partir da percepção dos grandes e constantes
conflitos entre casais e a dificuldade destes resolverem seus problemas que, às
vezes se mantinham por falta de habilidades sociais ou por padrões de
pensamentos rígidos e irraizados, expectativas irrealistas sobre relacionamento
conjugal e atribuições disfuncionais. Além do que, estes desajustes e insatisfações
conjugais são fatores de risco para transtornos mentais, principalmente a
depressão (Mosmann & Falcke, 2011).
Neste cenário este estudo teve como objetivo principal identificar as
distorções cognitivas que interferem na dinâmica e satisfação do casal, bem como
utilizar técnicas cognitivo-comportamentai para modificá-las por crenças mais
realistas a fim de melhorar a percepção da relação e a satisfação conjugal.
Destaca-se que os estudos de TCC com casais em sua maioria trabalham com
crenças irracionais, pensamentos automáticos e ajustamento diádico (Kavitha,
Rangan, & Nirmalan, 2014; Hofmann, Asnaani, Vonk, Sawyer, & Fang, 2012;
South, Krueger, & Iacono, 2009; Peçanha, 2009; Butler, Chapman, Foreman, &
Beck, 2006).
Em nosso trabalho além de verificar os aspectos supracitados, introduzimos a
avaliação de sintomas de ansiedade e depressão e habilidades sociais do casal.
9.1. Comunicação e satisfação conjugal
As principais queixas em um relacionamento conjugal estão relacionadas às
percepções que cada indivíduo tem do outro e da relação. Esta atividade cognitiva
de pensamentos automáticos, subjacentes e centrais afeta a emoção e o
comportamento, porém, pode ser monitorada e alterada (Beck, & Haigh, 2014;
Hofmann, Asmundson, & Beck, 2013; Hofmann, Asnaani, Vonk, Sawyer, & Fang,
2012; Knapp, & Beck, 2008; Sardinha, Falcone, & Ferreira, 2009; Dozois, Bieling,
Patelis-Siotis, Hoar, Chudzik, et al., 2009).
Nossos resultados demonstraram que a comunicação disfuncional que inclui
verbalização agressiva ou estupida, silêncio, ironia, desrespeito foi a mais relatada
pelos casais aqui estudados. . Estes resultados corrobroam dados da literatura que
mostram a comunicação como as principais queixas entre os cônjuges e as
72
principais causas de conflitos (Kavitha, Rangan, & Nirmalan, 2014; Baucom et al.,
2011; Yalcin, & Karahan, 2007; Ahmady et al., 2009).
Segundo Dattilio (2011), geralmente, a queixa consiste na expressão de
desacordo ou raiva, desprezo, zombaria, insulto, sarcasmo, indicando desdém,
humilhação,
julgamento,
atribuições
irracionais
que,
a
pesquisa
também
apresentou resultados semelhantes.
Embora as queixas de traição, falta de iniciativa, afeto e mau humor foram as
mais encontradas na sequência e, com relação a falta de iniciativa envolvem
responsabilidades domésticas, cuidado com os filhos e resolução de problemas,
durante a terapia percebemos que a comunicação era o problema primário para a
insatisfação na relação.
As habilidades de comunicação são fundamentais para o funcionamento e
manutenção do casamento, bem como para a satisfação na relação (Mosmann e
Falcke, 2011). Desta forma, os casais que enfretam problemas de comunicação,
geralmente ficam desacreditados e acham que não meios de resolver as questões
da relação, levando-os ao desânimo, mau humor, distanciamento do/a parceiro/a e
até à traição e ao divórcio, situações observadas neste pesquisa.
A comunicação reflete a uma forma de pensamento e quando os cônjuges
conseguem falar entre si sobre esses padrões, é possível que haja um
esclarecimento do/s significado/s destes pensamentos e como isto afeta o outro e
como este responde (Baucom, Sevier, Eldridge, Doss, & Christensen, 2011; Yalcin,
& Karahan, 2007; Sher, & Baucom, 2003). Assim, ambos podem incorporar
cognitivamente aos próprios sistemas de crenças estes conhecimentos, tornando
possível a mudança nos padrões disfuncionais de interação e comunicação, além
de contribuir para a experiência regulada e emoção expressiva, aspecto este
aplicado aos casais participantes.
Com foco em um processo de intervenção que possa melhorar o
relacionamento e a comunicação, o role-playing ou dramatização é uma técnica
utilizada por vários autores e têm sido apontado para uma amlpa variedade de
propósitos, como, por exemplo, evocar pensamentos automáticos, identificar
esquemas, desenvolver habilidades como estilo de comunicação, posturas
empáticas,
práticas
de
assertividades
em
relacionamentos
ou
respostas
adaptativas, auxiliar na modificação de crenças intermediárias e centrais (Knapp, &
73
Beck, 2008; Sholomskas, Syracuse-Siewert, Rounsaville, Ball, Nuro, & Carroll,
2005; Silva, & Serra, 2004).
Visto isto, podemos observar que estes aspectos estavam presentes no relato
dos participanetes e o grande diferencial deste estudo foram as sessões de
dramatização (role-playing), na qual, cada cônjuge colocava uma situação
recorrente que causava estresse para a relação, em especial, alguma situação
ocorrida recentemente
na qual o casal não conseguiu resolver. Então, era
explicado ao casal que eles reproduziriam a mesma situação, porém com os
papéis invertidos, ou seja, a esposa faz o papel do marido e o marido, o papel da
esposa. O terapeuta não interpreta nenhum papel, somente observa. Ambos os
cônjuges relatavam a sua percepção sobre a situação ocorrida. Depois, eles
repetiam a situação, contudo, desta vez, cada um fazendo o seu próprio papel na
cena e, se ambos percebiam que agiram de forma desagradável ou falaram
alguma coisa que não deveria ou de forma estúpida, por exemplo, eles poderiam
repensar e agir de forma diferente.
Nesta etapa, após a dramatização, terapeuta e casal avaliam a primeira cena
(papéis invertidos), descrevendo as percepções e sentimentos de se colocarem no
lugar do outro e a segunda cena (agir de forma diferente) descrevendo os
resultados e percepções de pensarem formas alternativas de resolverem
problemas.
No decorrer das sessões, os casais relataram melhoras nas formas de
resolução de problemas, na interação e habilidades sociais, pois passaram a
refletir sobre alternativas de respostas de comportamentos e questionarem seus
próprios sentimentos em situações específicas.
Juntamente com a técnica de dramatização, o resultado positivo na
comunicação assertiva foram as sessões de treinamentos em comunicação
utilizando regras para quem ouve e para quem fala e de resolução de problemas
(ambos em anexo).
Nas tarefas de casa foram aplicados exercícios baseados no questionário de
resolução de problemas e de regras para a comunicação, com temas conflitantes
entre o casal, na qual ambos tinham dificuldades em resolvê-los. Os casais, ao
perceberem melhoras na interação relataram melhoras sobre os pensamentos
rígidos, na satisfação conjugal e passaram a ter esperança sobre o relacionamento
e expectativas mais realistas em relação ao/a parceiro/a.
74
Isto, também está de acordo com a literatura em que mostra as crenças
centrais são a base da construção da tríade cognitiva, ou seja, a visão que o
indivíduo tem de si mesmo, do mundo e do seu semelhante e do futuro (Kuyken,
Padesky, & Dudley, 2010; Beck, 2011; Wright, Basco, & Thase, 2006),
evidenciando a importância do uso dessas técnias como resursos terapêuticos
importantes na intervenção com casais.
9.2. Distorções cognitivas e funcionamento conjugal
De acordo com Beck (2011), as distorções cognitivas mais comuns em
pessoas com sintomas depressivos são inferência arbitrária, que é semelhante a
leitura de pensamento, abstração seletiva, hipergeneralização e personalização.
No entanto, não encontramos pesquisas empíricas mostrando as distorções
cognitivas mais encontradas em casais insatisfeitos com a relação conjugal.
No Brasil, encontramos duas pesquisas de avaliação de distorções cognitivas.
Em uma tese de doutorado, Carvalho (2014) realizou uma análise psicométrica
com 444 estudantes universitários. Nesta pesquisa a distorção de LP foi mais
encontrada levando em conta somente as distorções avaliadas em nossa pesquisa,
porém, não houve intervenção para modificá-las. Na outra, Luz em uma
dissertação de mestrado (2013) comparou distorções cognitivas, esquemas iniciais
desadaptativos, sintomas de depressão, ansiedade e estresse em pessoas com
obesidade mórbida e pessoas com peso normal e a LP foi a terceira mais
encontrada e HG, a quarta, isto levando em conta somente as distorções avaliadas
em nossa pesquisa. Contudo, esta é a primeira pesquisa que avalia a freqência de
distorções cognitivas em casais insatisfeitos no relacionamento e intervem.
Os pensamentos automáticos individuais entre o casal, e as distorções
cognitivas geram brigas e estão relacionadas ao significado ou interpretação que
um cônjuge tem da atitude do outro (Beck, 1989; Dattilio, 2009).
As distorções cognitivas de HG e LP relatadas pela maioria desta amostra e a
hipótese é que podem estar associadas aos altos níveis de crenças distorcidas
sobre o relacionamento apresentados neste estudo, pois ambas as distorções
interferem tanto na comunicação quanto no ajustamento do casal. A LP é um tipo
de inferência arbitrária na qual, o indivíduo diz saber o que o outro está pensando e
o que vai fazer devido estar com tal pensamento e isto sem nenhuma evidência,
por exemplo, a esposa percebe que o marido está quieto e pensativo e, então
75
conclui: “Ele está planejando fazer alguma coisa de errado, está me traindo; vai me
abandonar. Uma vez que estas distorções geram sentimentos desagradáveis e
comportamentos disfuncionais, são potenciais para reforços em disfunção na
comunicação e para insatisfação em uma relação conjugal (Kavitha, Rangan, &
Nirmalan, 2014; Baucom et al., 2011; Yalcin, & Karahan, 2007; Peçanha, 2009;
Sher, & Baucom, 2003).
Por outro lado, na distorção de HG o indivíduo tende a interpretar um evento
isolado como representação de situações semelhantes em outros contextos,
relacionados ou não relacionados. Por exemplo, um cônjuge que é criticado pelo
outro por não jogar o lixo fora, conclui: “Ele/Ela sempre me critica”, “nunca me
elogia” ou “todas as mulheres são iguais”. Isto leva o indivíduo a não perceber as
atitudes funcionais do outro, pois, independente do contexto ou situação, o/a
parceiro/a sempre será percebido e interpretado da mesma forma, gerando
insatisfação em ambos os cônjuges.
Esta pesquisa traz um aspecto inovador, pois identificou as distorções que
geram insatisfação entre os casais e interviu a fim de modificá-los e,
consequentemente, melhorou a satisfação dos cônjuges e obteve resultados
satisfatórios. Não encontramos pesquisas que investigaram as distorções
cognitivas em casais e interviram a fim de melhorar a satisfação conjugal.
Após a identificação das distorções, os casais passaram por uma
psicoeducação sobre o funcionamento e possíveis prejuízos na relação, bem como
sobre as técnicas de modificação e reestruturação cognitiva. Também foram
indicadas tarefas de casa de preenchimento do Registro de Pensamentos
Disfuncionais, no qual a pessoa descreve, logo em seguida a uma situação
experienciada na relação que causou estresse, colocando a situação específica, a
emoção vivenciada e a intensidade (0-100), os pensamentos automáticos que
surgiram naquela situação específica e a intensidade (0-100). Dessa forma, a
pessoa busca uma resposta racional ou realista baseado em uma série de próprios
questionamentos orientados no registro, classifica esta crença alternativa e o seu
grau de intensidade e avalia as consequências, comportamento, resposta
fisiológica posteriores.
Na semana seguite a situação, terapeuta e casal discutiam sobre o exercício,
analisando a percepção de ambos os cônjuges. Ao final da terapia os casais
relataram que este exercício desenvolveu entre eles a percepção na identificação e
76
nomeação dos pensamentos automáticos e na reflexão sobre respostas
alternativas mais realistas, reduzindo assim, os conflitos entre eles. Isso é bom,
comente, reforce o diferencial do estudo em relação a outros.
Outra questão importante foi que os casais que aderiram as tarefas de casa
obtiveram melhores resultados na modificação dos pensamentos disfuncionais
comparados àqueles que não cumpriram todas as tarefas desde o início da terapia
ou apresentaram resistência, embora tenhamos enfatizado isto durante as
sessões, buscando alternativas possíveis para o indivíduo lidar com a atividade e
explorando a dinâmica subjacente à resistência.
A literatura mostra que esta é uma das questões mais importantes para a
eficácia no tratamento (Kazantzis, Whittington, & Dattilio, 2010; Dozois, 2010;
Barbosa, Piovesan, & Barletta, 2010; Peçanha & Rangé, 2008).
Embora os resultados desta pesquisa, a respeito da relação das variáveis
sociodemográficas e as distorções cognitivas não tenham sido estatisticamente
significantes, com exceção da variável gênero, ou seja, as distorções de LP e HG
independem das variáveis idade, número de filhos, escolaridade, religião, tempo de
casado, recasamento e renda. A literatura aponta que as distorções cognitivas são
PA baseados em conceitos negativos, rígidos e preconcebidos sobre si mesmos,
sobre o mundo e o futuro (Barbosa, Piovesan, & Barletta, 2010; Peçanha & Rangé,
2008; Dattilio, 2010). Essas são ideias enraizadas que se desenvolvem
principalmente nas experiências mais significativas da família de origem e é levado
por toda a vida. A hipóteses para este resultado é o pequeno número da amostra.
Talvez uma amostra mais robusta possa apresentar diferenças destas variáveis.
Por outro lado, a variável gênero apresentou resultado significante, ou seja,
há diferenças entre as duas distorções e os homens e mulheres. O que esta
pesquisa mostrou foi que os homens que apresentaram a distorção de HG eram
mais práticos em seus pensamentos, isto é, não refletiam sobre as situaçãoes
ocorridas em diferentes contextos, então generalizavam, por exemplo: “toda vez
que eu chego do trabalho você pergunta a mesma coisa. Por que chegou tarde?”,
quando a esposa só estava preocupada. Já entre as mulheres, que apresentaram
mais a distorção de LP, relatavam que pelo tempo de convívio, já conhecia os
gestos, feições, imaginações que os esposos tinham e seus significados e sabiam
como eles se comportariam, por exemplo: (pensando consigo mesma) “Este sorriso
dele é de quem está aprontando alguma coisa. Ele só está esperando eu sair para
77
colocar o plano em ação”. Ambas as situações não há evidências concretas para
as suposições.
Não encontramos pesquisas que demonstrassem qual seria a distorção mais
presente entre os diferentes gêneros. Assim, se faz necessário estudos de
investigação entre a relação de distorção cognitivas de LP e gênero feminino e HG
com o masculino entre casais.
Fazendo uso do questionamento socrático e da seta descendente a fim de
encontrar as crenças centrais percebemos que ambos os cônjuges baseavam as
suas crenças nas observações e nos ensinos dos pais sobre os papéis no
casamento.
Os casais foram treinados a investigar as raízes das suas crenças distorcidas
e a descreverem os pós e contra os pensamentos e a descreverem o
desencadeamento destes pensamentos a partir do RPD. Observamos resultados
positivos nos relatos dos casais no pós exercícios. Este também foi um aspecto
inovador desta pesquisa, pois treinou a habilidade de cada indivíduo na
identificação dos próprios pensamentos distorcidos e na modificação destes.
Os resultados da análise univariada das variáveis Satisfação Conjugal,
Depressão, Ansiedade, Ajustamento Diádico, Habilidades Sociais Conjugais,
Crenças Disfuncionais, Pensamentos Automáticos e Atitudes Disfunicionais (antes
da intervenção) com as distorções cognitivas HG e LP covariadas por gênero não
demonstraram significância estatística, ou seja, tanto para os pensamentos de HG
quanto para LP os níveis dos resultados dos instrumentos de medidas foram
similares. Isto indica que ambas as distorções interferem igualmente nos sintomas
depressivos e ansiosos, no ajustamento e na satisfação do casal, nos
pensamentos, crenças e habilidades sociais entre os cônjuges.
A literatura enfatiza estas relações, pois as crenças distorcidas de HG e LP
geram pensamentos automáticos negativos que são fatores de vulnerabilidade
para a depressão e ansiedade (Dezois & Beck, 2008) e podem gerar emoções
adversas
desadaptativas,
além
de
reações
cognitivas
fisiológicas
e
comportamentais (Kavitha, Rangan, & Nirmalan, 2014; Knapp, & Beck, 2008;
Dozois, Bieling, Patelis-Siotis, Hoar, Chudzik, et al., 2009; Deacon, Abramowitz,
2004; Sher, & Baucom, 2003; Gloaguen, Cottraux, Cucherat, & Blackburn, 1998),
levar a desajustes na relação e, consequentemente a insatisfação conjugal e
comprometimento da qualidade de vida devido as expectativas e percepções
78
irrealiatas (Kavitha, Rangan, & Nirmalan, 2014; Yalcin, & Karahan, 2007; Sher, &
Baucom, 2003; Baucom & Epstein, 1990).
Os casais foram educados a observar as correlações das variáveis
Ajustamento diádico, Crenças sobre a relação, Pensamentos automáticos,
sintomas depressivos e ansiosos e as distorções específicas de cada cânjuge e o
impacto sobre a satisfação conjugal.
Assim, os cônjuges relataram melhoras nas distorções cognitivas, tanto em si
próprios como em seus/suas parceiros/as e, por conseguinte, também relataram
melhoras na comunicação, no ajustamento diádico, nos sintomas depressivos e
ansiosos e na satisfação conjugal.
9.3. Satisfação conjugal
A literatura indica que a significância na avaliação das atitudes disfuncionais
são maiores quando associadas a altos níveis de sintomas depressivos (Beshai,
Dobson, Adel, & Hanna, 2016; Dozois et al., 2009;).
Em uma pesquisa (Beshai, Dobson, Adel & Hanna, 2016) com o objetivo de
verificar os níveis de depressão, pensamentos automáticos e atitudes disfuncionais
em 64 indivíduos com depressão e 67 no grupo controle, entre egípcios e
canadences, foi identificado significância nos resultados da Escala de Atitudes
Disfuncionais somente para os participantes que tinham altos níveis de depressão.
A hipótese para a não significância estatística nos resultados da EAD em
nossa pesquisa está nos baixos níveis de depressão da nossa amostra.
Na
etapa
anterior
as
intevenções,
as
maiores
correlações
foram
apresentadas entre desajuste conjugal, habilidades sociais e pensamentos
automáticos. Talvez esteja aqui uma hipótese para o maior número de queixas na
comunicação e interação na relação, pois, uma vez desajustados, dificilmente o
casal interage, além de manterem seus pensamentos automáticos negativos e
crenças irracionais.
Para a variável depressão nossa pesquisa apresentou níveis maiores de
sintomas depressivos entre as mulheres, tanto antes quanto após a intervenção,
comparados aos homens nos dois tempos. Da mesma foram para a satisfação
conjugal. Isto está de acordo com a literetura que mostra que as mulheres tendem
a ter maiores níveis de depressão do que o homem em caso de insatisfação
conjugal (Whisman & Kaiser, 2008; Kendler & Gardner, 2014; Cohen, O'Leary, &
79
Foran, 2010; Rehman et al., 2010; Miller, Mason, Canlas, Wang, Nelson, & Hart,
2013).
Nossos resultados mostraram que quanto maior for o aumento da satisfação
conjugal, maior será a redução dos sintomas depressivos e vice-versa.
Elas também apresentaram maiores níveis de ansiedade, comparado aos
homens no tempo antes da intervenção o que também é esperado pela literatura,
pois, indivíduos mais ansiosos tendem a ter maiores níveis de insatisfação
conjugal, principalmente por apresentarem mais pensamentos distorcidos sobre a
relação (Kavitha, Rangan, & Nirmalan, 2014; Peçanha, 2009; Deacon, &
Abramowitz, 2004).
A nossa pesquisa enfatiza também que a utilização da intervenção em TCC
modificou este panorama de maneira significativa, ou seja, ambos os cônjuges
apresentaram redução nos níveis de ansiedade, depressão e melhoraram a
satisfação conjugal após a terapia.
Os resultados também apresentaram melhoras significativas nos níveis de
ajustamento diádico, habilidades sociais conjugais pensamentos automáticos e
crenças sobre o relacionamento e indicaram que baixos níveis de satisfação
conjugal impacta nas interações do casal, bem como nas habilidades sociais na
relação, corroborando dados da literatura (Del Prette, Villa, Freitas & Del Prette,
2008; Wagner & Falcke, 2001; Edmundson, 2005; Zordan, Falcke, & Wagner,
2009; Zordan, Wagner, & Mosmann, 2012; Sardinha, Falcone, & Ferreira, 2009;
Machado, 2007).
Estes resultados reproduzem dados da literatura que associa ajustamento
diádico e sintomas depressivos (Parker, Tambling, & Campbell, 2013; Kavitha,
Rangan, & Nirmalan, 2014; South, Krueger, & Iacono, 2009; Sher, & Baucom,
2003), funcionamento conjugal e fatores de risco para a depressão (Whisman &
Kaiser, 2008; Miller et al., 2013) e efeitos da depressão sobre a satisfação conjugal
e habilidades de comunicação (Rehman, Ginting, Karimiha & Goodnight, 2010),
nos quais, estão associados padrões de crenças e pensamentos automáticos
(Parker, Tambling, & Campbell, 2013; Miller et al., 2013; Dozois et al., 2009; Beck,
2005; Dela Coleta, 1992).
De acordo com Kavitha, Rangan e Nirmalan (2014), Parker, Tambling e
Campbell (2013), Baucom et al. (2011), Peçanha e Rangé (2008) e Dela Coleta
(1992), cônjuges infelizes com as interações tendem a ter comportamentos mais
80
disfuncionais do que aqueles que estão satisfeitos com a forma de interação
conjugal. Por outro lado, os casais que vivem em comportamentos ou atitudes
disfuncionais tendem a ter déficits de habilidades comunicativas e de resolução de
problemas, bem como apresentarem atitudes defensivas.
Um diferencial deste estudo está na avaliação destas relações antes e após
a intervenção com TCC, pois mostra também os maiores impactos de mudanças
após terapia com casais. Além disso, não foram encontradas pesquisas de
intervenção desta modalidade que avaliaram a Satisfação Conjugal, Depressão,
Ajustamento Diádico, Habilidades Soiciais Conjugais e Pensamentos Automáticos,
bem como, demonstraram melhoras quanto as distorções a partir de técnicas
cognitivo-comportamentais. Um dos pontos importantes em termos de limitações
deste estudo está no tamanho da amostra, acredita-se que um “n” mais robusto
poderia proporcionar dados diferentes. Também, não foram exploradas as
distorções cognitivas além das HG e LP e as relações com as queixas
apresentadas pelos participantes, o que pode ser relevante, pois a partir destas
identificações pode-se intervir na modificação dos padrões de pensamentos
específicos e melhorar não somente a satisfação na relação conjugal como
também pode reduzir os níveis de sofrimento psíquico relacionados às distorções
cognitivas.
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As
intervenções
cognitivo-comportamentais
têm
uma
perspectiva
de
psicoeducação, treinamento de habilidades conjugais e são alternativas cada vez
mais relevantes na atualidade. Assim, este modelo de intervenção terapêutica
também mostrou-se eficaz no atendimento a casais em conflitos, bem como na
melhora dos processos de aprendizagem, reflexão, conscientização, empatia,
saúde e bem-estar.
Além
disso,
identificar
as
distorções
cognitivas
que
interfiriam
na
relacionamento do casal e na satisfação conjugal e modificá-las por percepções e
interpretações mais realistas foram alcançados. Foi verificado, também as relações
das variáveis Satisfação Conjugal, Depressão, Ansiedade, Ajustamento Diádico,
Habilidades Soiciais Conjugais, Crenças Disfuncionais, Pensamentos Automáticos
entre elas e como estas relações podem interferir na relação conjugal.
81
O protocolo cognitivo-comportamental desenvolvido neste projeto com casais
resultou em melhoras signitifcativas no que tange às variáveis satisfação conjugal,
depressão, habilidades sociais conjugais, ajustamento do casal e pensamentos
automáticos.
10.1. Limitações
Não foi utilizada escala para mensurar o grau de conflitos entre os casais
antes do início da terapia, no entanto, foi verificado o grau de insatisfação conjugal
na primeira sessão.
A ausência de um grupo controle a fim de verificar e comparar níveis de
melhoras das variáveis pesquisadas em casais que, por exemplo, não passaram
pelas 12 sessões de terapia, mas foram orientados através de palestras
reperesenta outro aspecto de limitação deste estudo.
10.2. Orientações para futuras pesquisas
Para futuras pesquisas, é importante detalhar a caracterização dos conflitos
da amostra e avaliar e mensurar os níveis de cada conflito, antes e depois da
intervenção. Além disso, pode-se verificar a relação dos conflitos com o uso de
álcool e/ou drogas, personalidade e problemas psiqiátricos.
Como sugestão, indicamos também um follow-up estruturado de seis (6) e
doze (12) meses, com uma amostra mais robusta, avaliando todas as variáveis
utilizadas nesta pesquisa a fim de verificar quais as áreas mais vulneráveis à
recaída e quais as habilidades mais eficazes a longo prazo.
82
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92
ANEXOS17
17
Os questionários, escalas e inventários não foram publicados, pois são instrumentos de avaliação de uso
restrito de psicólogos/os.
93
1 Termo de autorização da instituição
94
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)
Eu, _______________________________________________ consinto de minha livre e espontânea vontade,
participar da pesquisa “Identificação de disfunções cognitivas e intervenção a partir de
técnicas cognitivo-comportamentais com casais”, sob a responsabilidade dos pesquisadores
Ricardo Silva dos Santos Durães aluno do Mestrado no Programa de Pós-Graduação em
Psicologia da Saúde e do Prof. Dr. Antonio de Pádua Serafim seu orientador da Universidade
Metodista de São Paulo (UMESP).
Fui informado que o objetivo do estudo é identificar as disfunções cognitivas que interferem na
dinâmica de casais. Bem como estou ciente que os riscos estão reduzidos ao mínimo por se tratar
apenas de aplicação de questionários de autopreenchimento com duração de no máximo 40
minutos, além de 12 encontros durante 07 meses.
No entanto, durante a aplicação do questionário e das sessões, poderá ocorrer cansaço físico,
mental e/ou reação emocional. Caso isso ocorra, o participante poderá interromper a qualquer
momento e desistir, independentemente do motivo, sem sofrer dano algum e se necessário
contará com o apoio em termos de atendimento e /ou orientação por parte dos pesquisadores.
Sei que se for recomendado, necessário ou de meu interesse, poderei contar com o atendimento
psicológico na Policlínica da Universidade Metodista de São Paulo pelos pesquisadores
responsáveis.
Enquanto participante declaro estar ciente de que poderei interromper / desistir de minha
participação a qualquer momento, sem nenhum tipo de prejuízo. Bem como ficou devidamente
esclarecido que não precisarei pagar ou gastar nenhuma quantia monetária em nenhum
momento da pesquisa, pois, todos os custos com os materiais para a execução da pesquisa
ficarão a cargo dos pesquisadores.
Como se trata de uma pesquisa que respeita a integridade do participante, não acarretando em
riscos previsíveis para sua saúde, ou seja, os riscos envolvidos são mínimos. No caso de alguma
ocorrência que traga dano decorrente da participação na pesquisa, estou ciente de que terei
direito a uma indenização, conforme estabelecido na Resolução 466/12.
Estou ciente de que tenho assegurado que minha privacidade será totalmente preservada e as
informações permanecerão em sigilo, não sendo divulgado em nenhum momento o meu nome
e/ou outros dados que possam me identificar.
Eu terei acesso aos profissionais responsáveis pela pesquisa para esclarecimento de eventuais
dúvidas, em qualquer momento. O pesquisador principal é o Prof. Dr. Antonio de Pádua Serafim,
que pode ser encontrado nos seguintes endereços: Rua Ovídio Pires De Campos No. 785 – CEP:
05403-903 - NUFOR– Ambulatório do Programa de Psiquiatria Forense e Psicologia Jurídica , 1º
ANDAR Telefone (s) 26621-7929 (Andréa Secretária) e no Programa de Pós-Graduação em
Psicologia da Saúde - Universidade Metodista de São Paulo – Campus Planalto, na Av. Dom Jaime
de Barros Câmara, 3º andar, São Bernardo do Campo, SP, CEP 09895-400, Telefone: 4366-5351,
como também com o pesquisador executante Ricardo Silva dos Santos Durães no Programa de
Pós-Graduação em Psicologia da Saúde - Universidade Metodista de São Paulo – Campus
Planalto, na Av. Dom Jaime de Barros Câmara, 3º andar, São Bernardo do Campo, SP, CEP 09895400, Telefone: 4366-5351.
95
Se eu tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entrarei em contato com o
Comitê de Ética em Pesquisa (CEP-UMESP) – Rua do Sacramento, 231 – Ed. Capa sala 401Telefone: 4366-5814 – E-mail: [email protected].
Este documento será assinado em duas vias, sendo que uma permanecerá em meu poder e outra
com o pesquisador responsável.
Cubatão, ____ /____ / 2016.
Assinatura do participante:______________________________
RG:___________________________
____________________________________
Pesquisador Executante
Ricardo Silva dos Santos Durães
E-mail: [email protected]
____________________________________
Pesquisador Responsável
Prof. Dr. Antonio de Pádua Serafim
E-mail: [email protected] ou
[email protected]
96
2 Questionário Sociodemográfico18
Data da entrevista: ____ / ____ / _____
No: __________
Nome:____________________________________________________
Data de nascimento: _____ / _____ / _____
Endereço:
_________________________________________________________
_________________________________________________________
Telefone: (
) ________________ Celular: (
) __________________
E-mail: ___________________________________________________
Estado Civil: ( ) Casado/a
Divorciado/a
( ) União estável
( ) Separado/a ou
Tem filhos? ( ) Sim ( ) Não - Quantos? __________
Vive com eles? ( ) Sim ( ) Não
Biológico? ( ) Sim ( ) Não
Adotivo? ( ) Sim ( ) Não
Do outro casamento? ( ) Sim ( ) Não ( )
Professa alguma religião? Sim ( ) Não ( )
Se afirmativo, qual _________________. É praticante? Sim ( ) Não ( )
Histórico do casamento
Quanto tempo tem o casamento? ______________________________
Quem vive na sua casa atual?
18
Baseado na tese: Peçanha, R. F. (2009). Técnicas cognitivas e comportamentais na terapia de
casal: uma intervenção baseada em evidências. 332 f. Dissertações (Doutorado em Psicologia) Curso de Pós-graduação em Psicologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
Disponível em: <http://www.http://raphaelfischer.com.br/Tese-Modificada.pdf>. Acesso em: 20/08/14.
97
Escolaridade:
(
(
(
(
(
(
(
(
) Ensino fundamental incompleto
) Ensino superior incompleto
) Ensino fundamental completo
) Ensino superior completo
) Ensino médio incompleto
) Pós-graduação completa
) Ensino médio completo
) Pós-graduação incompleta
Qual sua ocupação? Especificar.
_________________________________________________________
Rendimento familiar:
(
(
(
(
(
(
) R$ 500,00 até R$ 2.000,00
) R$ 6.100,00 até 8.000,00
) R$ 2.100, 00 até 4.000,00
) R$ 8.100,00 até R$ 10.000,00
) R$ 4.100,00 até R$ 6.000,00
) Mais de R$ 10.000,00
Histórico Conjugal
I – Encontro
A. Como vocês se conheceram?
_________________________________________________________
1. Onde?
_________________________________________________________
2. Quem estava presente?
_________________________________________________________
B. O que atraiu você em seu parceiro?
_________________________________________________________
98
C. Quais dessas características ainda estão presentes?
_________________________________________________________
II – Desenvolvimento do relacionamento
A. O que aconteceu a seguir?
_________________________________________________________
B. Quais foram os principais eventos da época em que vocês se
conheceram até quando decidiram se casar?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
C. Como vocês se relacionavam durante esse período de tempo –
brigas, afeição, comunicação, diversão juntos etc.?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
III. Casamento
A. Quais foram às circunstâncias que envolveram sua decisão de
casarem?
_________________________________________________________
B. Aconteceram grandes mudanças no seu relacionamento após o
casamento?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
C. Quais foram os principais eventos, tanto positivos quanto negativos,
que aconteceram desde que vocês se casaram?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
IV. Relacionamento e dificuldades pessoais
A. Quando cada um de vocês percebeu primeiro que seu
relacionamento estava passando por dificuldades significativas?
_________________________________________________________
99
B. Como vocês decidiram buscar aconselhamento neste momento?
_________________________________________________________
1. De quem foi à ideia?
_________________________________________________________
2. Vocês estão de acordo em estarem aqui?
_________________________________________________________
C. Você já esteve ou está atualmente fazendo terapia individual ou de
casal?
_________________________________________________________
1. Caso afirmativo, como foi ou como está sendo?
_________________________________________________________
2. O que você achou ou acha mais útil ou menos útil?
_________________________________________________________
D. Algum de vocês foi casado anteriormente?
_________________________________________________________
1. Caso afirmativo, como terminou?
_________________________________________________________
2. Quais foram as suas contribuições que você percebeu para as
dificuldades no seu relacionamento anterior?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
100
3 Descrição de expectativas do casal 19
DESCRIÇÃO DE PERCEPÇÕES E EXPECTATIVAS DO CASAL
NOME:
___________________________________________
DATA:
O QUE VOCÊ
O QUANTO ISTO
EXPECTATIVAS
PERCEPÇÃO
PODE FAZER
É REALMENTE
PESSOAIS
ATUAL
PARA
IMPORTANTE
CONTRIBUIR?
PARA VOCÊ?
_____________
POR QUÊ?
0 – 100
_____________
O QUE VOCÊ
O QUANTO ISTO
EXPECTATIVAS
PERCEPÇÃO
PODE FAZER
É REALMENTE
CONJUGAIS
ATUAL
PARA
IMPORTANTE
CONTRIBUIR?
PARA VOCÊ?
POR QUÊ?
0 – 100
_____________
19
Baseado no livro: Dattillio, F. M. (2011). Manual de terapia cognitivo-comportamental para casais e
famílias. Porto Alegre, RS: Artmed, p. 30-33.
101
3 Registro de Pensamentos Disfuncionais (RDT - Record of Dysfunctional
Thoughts)20
Registro de Pensamentos Disfuncionais
Orientação: quando você perceber que seu humor/emoção não está bem, pergunte-se, "o que está se
passando em minha mente nesse exato momento?" e assim que possível escreva o pensamento ou
imagem mental na coluna dos pensamentos automáticos, bem como as demais colunas, referindo-se à
situação que o desencadeou.
Pensamento
Resposta
Situação
Emoção
Resultado
Automático
alternativa
ESCREVER:
REAVALIE:
ESPECIFICAR:
ESCREVER:
1 - Utilize as
1 - Reavalie a
Sentimentos ou
Pensamento
perguntas abaixo a
crença em
DESCREVER:
emoções (triste /
Automático que
fim de encontrar a
Pensamento/s
Evento real que
ansioso, raivoso
precedeu a/as
resposta alternativa
automático /s
conduziu a emoção
etc.) que sentiu
emoção/ões;
ao pensamento;
1-100%;
desagradável ou
naqula situação;
Classificar o quanto
2 - Possível
2. Especificar e
recordação que
Classificar grau de você acredita neste Distorção Cognitiva;
reavaliar
conduziu à emoção
intensidade e
pensamento
3 - Classificar
Emoção/ões ou
desagradável.
convicção
automático - 1 crença em
comportamento/s
emoção - 1 - 100%
100%
resposta racional – subsequentes - 1 1 - 100%
100%.
Perguntas para ajudar a construir uma RESPOSTA ALTERNATIVA: 1) Qual é a evidência de que o
pensamento automático é verdadeiro? Ou não é verdadeiro? 2) Quais as hipóteses alternativas? 3) Qual é a
pior coisa que poderia acontecer? Eu poderia conviver com isso? Qual a melhor coisa que poderia
acontecer? Qual o resultado mais realista? 4) O que eu deveria fazer a respeito disso? 5) Qual o efeito da
minha crença no pensamento automático? Qual seria o efeito de eu mudar a minha maneira de pensar? 6)
O que eu diria a um amigo que tivesse o mesmo pessamento?
Nota:
20
Baseado no livro: Beck, A. T., Rush, A. J., Shaw, B. F. & Emery, G. (1997). Terapia Cognitiva da
Depressão. Porto Alegre: Artes Médicas.
102
13. Princípios Para Quem Fala e Para Que Ouve 30
 Para quem fala
Ser breve: Tentar ser o mais conciso possível naquilo que se tem a dizer.
Ser específico: Evitar comentários vagos e genéricos.
Não insultar, xingar ou acusar: Limita-se a sugerir uma atitude corretiva sem
acusar ou culpar o outro.
Não rotular: Evitar rótulos como “egoísta”, “irresponsável” que costumam ser
generalizações e que encobrem o problema em questão.
Não ser absoluto: Não usar expressões como “nunca” e “sempre”. Estes são
termos inexatos e só pedem por refutação.
Afirmar de forma positiva. Evitar críticas: A parceira pode falar ao companheiro
”Quero sua ajuda para jogar o lixo fora”, e não “você nunca me ajuda a retirar o lixo”.
Não tentar ler as intenções do outro: As inferências costumam estar errada a
maior parte das vezes, o que só agrava a situação.
 Para quem ouve
Descubra os pontos de acordo ou de entendimento mútuo: A ideia é que você
não pareça um oponente.
Desconsiderar as afirmações negativas do outro: Tente se concentrar na causa
do rancor e ignorar as expressões de culpa e de crítica.
Faça perguntas a si mesmo: Às vezes a queixa do companheiro pode parecer
clara a ele, mas não a você. Pergunte-se “O que ela(ele) está tentando me dizer?”.
Verifique o seu entendimento das queixas do outro: Por exemplo, “Você está
tentando me dizer que ...” ou “Acho que você está me dizendo que ...”.
30
Baseado no livro: Beck, A. T. (1995). Para além do amor. Tradução de Paulo Fróes. Rio de Janeiro: Record.
103
Esclareça os seus motivos: Caso você ache que está sendo interpretado
incorretamente por seu parceiro(a), diga os fatores que levaram você a se comportar
de determinada maneira.
Não receie dizer que sente muito: Amar requer a manifestação do arrependimento
quando se magoa o outro de forma inadvertida ou deliberada. É importante
comunicar este sentimento.
 Regras De Etiqueta Para O Diálogo
Essas são cinco diretrizes que podem ajudar a tornar as conversas mais alegres e
também mais eficazes.
Sintonizar no canal do parceiro
Para se ter uma conversa frutífera é necessário que marido e mulher estejam
sintonizados um no outro, que estabeleçam contato um com o outro. Fale
diretamente ao seu parceiro o que você deseja em uma conversa com ele. Por
exemplo, um conselho prático ou um apoio emocional. O outro cônjuge por sua vez
precisa ser sensível a esses sinais.
Dar sinais de que está ouvindo
É importante que o ouvinte demonstre que está escutando atentamente o que fala.
As pessoas às vezes se esquecem que a conversa é uma troca mútua de
informações e de ideias.
Exemplos de vocalizações que indicam ao parceiro que ele está sendo ouvido são:
“hum-hum, hã-hã”, “estou entendendo; estou ouvindo”. Também podem ser
utilizadas expressões faciais e corporais para informar a outra pessoa que ela está
sendo ouvida atentamente. Por exemplo, balançar a cabeça positivamente.
Não interromper
As interrupções podem parecer muito naturais para quem interrompe, mas podem
evocar uma série de pensamentos negativos em quem é interrompido. Por exemplo,
“Ela não me escuta”, “Ele só quer ouvir a si mesmo” etc.
104
Perguntar com habilidade
As perguntas podem dar início a uma conversa e mantê-la em andamento – ou
interrompê-la prematuramente. Uma boa pergunta pode às vezes ter um efeito
positivo para seu parceiro falar. Por exemplo, pedir ao seu cônjuge a opinião sobre
alguma coisa.
Por outro lado, algumas pessoas interrompem o fluxo de um diálogo por seu estilo
de conversar. Respondem as perguntas feitas de uma forma monossilábica. Por
exemplo, quando a esposa pergunta “Como foi seu dia?”, o marido responde
“Legal”. Ela volta a perguntar “Aconteceu alguma coisa diferente?”, ele responde
”Nada”, assim por diante. Por fim, as perguntas que começam com “por que” devem
ser evitadas, pois costumam bloquear o diálogo por parecerem acusatórias.
Usar de tato e de diplomacia
Todas as pessoas têm áreas sensíveis em suas vidas, incluindo o seu cônjuge.
Fique atento e use de critério antes de abordar determinados assuntos durante uma
conversa amistosa. Por exemplo, algumas pessoas costumam falar do aparente
excesso de peso da outra quando está conversando sobre um assunto totalmente
diferente.
O QUE
(ação)
POR QUE
(razão)
QUEM
(responsável)
ONDE
(local)
QUANDO
(prazo)
PLANO DE AÇÃO
QUANTO
(custo)
C( )
E( )
A( )
C( )
E( )
A( )
C( )
E( )
A( )
C( )
E( )
A( )
STATUS
Legenda: C - concluído; E - em andamento; A - atrasado
COMO
(procedimento)
105
106
Lista de Atribuições Disfuncionais 31
1. Não acredito que as coisas que eu digo e faço pioram as coisas entre nós dois.
2. Mudando como eu ajo não mudaria nosso casamento.
3. Mesmo se minha personalidade mudasse, nós ainda não nos daríamos melhor de qualquer
forma.
4. Qualquer tipo de dificuldade que nós tenhamos, não é por causa do tipo de pessoa que eu sou.
5. Se meu parceiro fizesse as coisas de forma diferente, poderíamos nos dar melhor.
6. O modo como meu parceiro me trata determina quão bem nos damos.
7. Quaisquer dos problemas que nós temos são causados pelas coisas que meu (minha) parceiro
(a) diz e faz.
8. Mesmo se a personalidade do meu (minha) parceiro (a) mudasse, ainda não nos daríamos
melhor de qualquer modo.
9. A personalidade do (a) meu (minha) parceiro (a) teria que mudar para que nos déssemos
melhor.
10. Nós nos lidaríamos melhor, se não fosse pelo tipo de pessoa que ele (ela) é.
11. Meu (minha) parceiro (a) faz intencionalmente coisas para me irritar.
12. Parece que o (a) meu (minha) parceiro (a) deliberadamente me provoca.
13. Tenho certeza que meu (minha) parceiro (a) às vezes faz coisas apenas para me aborrecer.
14. Penso que meu (minha) parceiro (a) me perturba de propósito.
15. Quando não estamos nos dando bem, me pergunto se meu (minha) parceiro (a) me ama.
16. Quando as coisas não estão bem entre nós, sinto que meu (minha) parceiro (a) não me ama.
17. Quando as coisas ficam difíceis entre nós, isso mostra que meu (minha) parceiro (a) não me
ama.
18. Quando meu (minha) parceiro (a) não é gentil comigo, sinto que ele (ela) não me.
31
Retirado de Pretzer, J. L., Epstein, N.; Fleming, B. The marital attitude survey: a measure of dysfunctional
attributions and expectancies. Unpublished manuscript, 1985.
107
Lista de Expectativas Irrealistas 32
1. Espero que meu (minha) parceiro (a) perceba todos os meus sentimentos.
2. Espero que meu (minha) parceiro (a) seja capaz de saber o que estou pensando.
3. É importante para mim que meu (minha) parceiro (a) antecipe minhas necessidades ao
perceber mudanças em meus humores.
4. Não espero que meu (minha) parceiro (a) seja capa de mudar.
5. Não espero que o nosso relacionamento melhore nem um pouco. (11)
6. Mesmo que eu mude meu comportamento, (minha) parceiro (a) não vai mudar o dele
(a).
7. Se meu (minha) parceiro (a) mudar o comportamento dele (a), eu provavelmente
mudarei o meu.
8. Mesmo que nós mudemos nossos comportamentos, é improvável que nosso
relacionamento melhore.
32
Retirado de Baucom, D. H.; Epstein, N. Cognitive-behavioral marital therapy. New York: Brunner/Mazel,
1990.
108
Distorções Cognitivas Comuns33
Inferência arbitrária: Pular para conclusões na ausência de comprovadas
evidências concretas. Por exemplo, um homem cuja esposa chega em casa do
trabalho com meia hora de atraso conclui: “Ela deve estar fazendo algo escondido
de mim”.
Leitura de pensamento: Trata-se de um tipo de inferência arbitrária em que uma
pessoa acredita que sabe o que outra pessoa está pensando e sentindo sem se
comunicar diretamente com ela. Por exemplo, uma esposa que nota que o marido
está particularmente quieto e conclui: “Ele está infeliz com o nosso casamento e
deve estar pensando em me abandonar”.
Abstração seletiva: Informações são tiradas de contexto e certos detalhes são
destacados, enquanto outras informações são ignoradas. Por exemplo, um marido
cuja esposa não responde a seu cumprimento pela manhã conclui: “Ela está me
ignorando”.
Hipergeneralização: Um acidente isolado é visto como representação de situações
semelhantes em outros contextos, relacionados ou não relacionados. Por exemplo,
uma esposa que criticada pelo marido por não jogar o lixo fora conclui: “Ele sempre
me critica”.
Maximização e minimização: Um caso ou circunstância é julgado como tendo
maior ou menor importância do que é adequado. Por exemplo, quando a esposa
lembra da data de aniversário de casamento, o marido conclui: “Ela ainda gosta de
mim depois de tanto anos casados”. Caso o cônjuge esqueça, o marido conclui: “Ela
está deixando de gostar de mim”.
Personalização: Eventos externos são atribuídos a si mesmo, quando não existem
evidências suficientes para tirar uma conclusão. Por exemplo, uma
esposa que percebe que o marido não está comendo o jantar como ela havia
previsto e conclui: “Ele detesta minha comida”.
Pensamento dicotômico: As experiências de uma pessoa são classificadas em
categorias extremas mutuamente exclusivas, tais como êxito completo ou fracasso
total. Por exemplo, um marido pode chegar à seguinte conclusão após uma
discussão: “Se ela não me amam, ela me odeia”.
Rotulação: A tendência da pessoa a representar a si mesma ou outra pessoa em
termos de características estáveis e globais, com base em ações passadas. Por
exemplo, depois que o marido comete vários erros no orçamento familiar e no
equilíbrio das finanças, a esposa conclui: “Ele é negligente”.
33
Adaptado do seguinte artigo: DATTILIO, F. M. Casais e família. In: KNAPP, P. (org). Terapia cognitivocomportamental na prática clínica psiquiátrica. Porto Alegre: Artmed, 2004, cap.25, p. 377-401.
109
Regras Para Resolução de Problemas 34
1. O primeiro passo consiste em proceder a um brainstorming (tempestade de
idéias) ao elaborar uma lista de soluções para o problema.
2. Qualquer solução é aceitável nesse momento. Vocês não devem censurar ou
avaliar suas próprias soluções ou do seu parceiro/a.
3. Esse procedimento deve continuar até não ser encontrada mais nenhuma
solução.
4. Cada uma dessas soluções deve ser anotada.
5. Depois cada solução deve ser avaliada segundo os quatro critérios:
É absurda?
a. Esta solução ajudaria a resolver o problema
b. Quais são os prós desta solução? Quais os pensamentos automáticos
relacionados à essa conclusão? Quais as evidências deste/s pensamento/s?
c. Quais são os contras desta solução? Quais os pensamentos automáticos
relacionados à essa conclusão? Quais as evidências deste/s pensamento/s?
6. O consenso final deve incluir quem fará o quê, por quê, quando, onde, quando e
como em termos específicos.
7. Colocar o plano em ação (utilizar um plano de ação).
8. Verificar o que deu certo e o que deu errado.
9. Caso necessário, tomar outra solução para o mesmo problema.
34
Retirado do livro: SCHMALING, K. B.; FRUZZETTI, A. E.; JACOBSON, N. S. Problemas conjugais.
In: HAWTON, K. et al. Terapia cognitivo-comportamental para problemas psiquiátricos: um guia
prático. Tradução de Alvamar Lamparelli. São Paulo: M. Fontes, 1997, cap. 10, p. 481-525.
110
Modelo dos resultados de um caso
Caso 1
Allinson & Allan (nome fictício).
O casal 1 estava em crise aguda e decididos a divorciar-se, principalmente
por parte de Allan, o esposo, que na primeira sessão disse ao terapeuta:“Eu estava
decidido a ir embora. Já estava arrumando as minhas coisas. Meu coração está
totalmente fechado para ela (Allinson)”. Ambos disseram um ao outro: “Não sinto
mais nada por você”. Allan disse que nunca foi feliz no relacionamento conjugal.
Desde que foi morar com Allinson (em cima da casa dos pais dela) eles
começaram a brigar constantemente. Os dois foram aconselhados a procurar
ajuda.
Allan diz que não recebe carinho da esposa, mesmo quando ele é carinhoso:
“Ela me ignora, me sinto desprezado”. Também diz que ela não o procura para
terem relações sexuais e, quando ele cobra ela responde “Você só pensa nisso”.
Assim, eles não têm contato físico a muito tempo. Ele afirma que tentou conversar
com a esposa sobre os problemas no relacionamento por diversas vezes, porém
sem sucesso. “Eu falava com ela durante horas, porém não havia resposta. Ela
não falava nada”, disse Allan.
Allinson, por sua vez, afirma que o esposo fez ela sofrer por muitos anos,
devido aos vícios. Ela sempre o aconselhava, porém ele não dava ouvidos. “Há
mais ou menos dois anos ele mudou muito, para melhor. Foi para a Igreja, deixou
os vícios e começou a tratar melhor tanto eu quanto aos meus filhos”. Foi
perguntado a Allinson porque ela ignora o esposo, conforme ele afirma. Ela
respondeu: “Acho que a mudança foi muito rápida e eu ainda não consegui
assimilar. Pensava que era falsidade e que ele era a mesma pessoa que sempre
foi”. Assim, Allinson afirma que, devido a esses pensamentos, ela não conseguia
falar com o esposo e não tinha desejos sexuais.
111
Quadro 7 - Conceitualização do caso de Allinson
CONCEITUALIZAÇÃO DE CASO COGNITIVO-COMPORTAMENTAL COM CASAIS
l. Identificação do/a cliente - nº 01
Nome: Allinson B. C. (fictício)
Profissão: Auxiliar de serviçõs gerais
Estado Civil: União estável (12 anos)
Número de dependentes: 2
Outras informações relevantes: *Não praticante
Idade: 30
Religião: Evangélica*
Escolaridade: E.M.C.
ll. Lista de problemas conjugais
1. Brigas constantes
2. Falta de afeto/carinho no relacionamento
3. Problemas na relação sexual
4. Comunicação disfuncional
5.
lll. Conceitualização cognitiva
Dados relevantes da história de vida
Pais sem habilidade de conversação e rígidos
Pais vivem em constantes brigas
Pai viciado em álcool e tabaco
Visão de si
Tríade cognitiva
Visão de mundo
Incapaz, culpada
Sofrimento
Visão de futuro
Medo que aconteça o
pior
Crenças centrais
“Sou incapaz"
“Não consigo mudar”
Crenças intermediárias
"Se o meu relacionamento está ruim, então a culpa é minha"
Estratégias compensatórias
Chorar; Evitação de exposição de pensamentos
Situação 1
"Meu esposo chega do
trabalho e vai para a
academia"
Pensamentos Automáticos
Situação 2
"Meu esposo não me
ajuda nos afazeres de
casa"
Pensamentos Automáticos
Situação 3
"Não consigo me
expressar quando ele
fala sobre o nós"
Pensamentos Automáticos
112
"Ele não liga para
mim"
"Ele só pensa em si
próprio"
Significado do PA
Significado do PA
"O que ele vai pensar
de mim?", "Sou
incapaz de ser clara"
Significado do PA
Abandono, punição
Desinteresse
Incapacidade
Emoções
Emoções
Raiva, nervoso
Raiva, nervoso
Emoções
Desapontamento,
ansiedade
Comportamentos
Comportamentos
Discussões
Discussões
Comportamentos
Fica calada, não se
expressa
Respostas fisiológicas
Respostas fisiológicas
Respostas fisiológicas
Sensação de sufocação
Cansaço físico
Sensação de sufocação
lV. Hipótese de trabalho
Situações precipitantes ou ativadoras:
Falta de habilidade social e de comunicação
Fatores predisponentes:
Pais incomunicáveis e rígidos
Fatores perpetuadores:
Distorção cognitiva : Leitura de Pensamento
Resumo da Hipótese:
Incapaz de uma comunicação funcional
Ausência de diálogo com
os pais na infância, pouca
habilidade social e timidez
Ansiedade e nervosismo
generalizado
Crenças de culpa
Pensamentos de abandono e frustração
Evitação de comunicação e
exposição de pensamentos
V. Pontos fortes e recursos
Conscientização dos problemas apresentados e motivação para a
adesão ao tratamento e mudança
Vl. Plano de trabalho
Objetivos e metas
Melhorar a habilidade de comunicação e percepção de pensamentos
distorcidos; desenvolver habilidades afetivas e comunicação
Intervenções
113
Familiarização com o modelo cognitivo-comportamental, Ensino de
técnicas de: eficácia na comunicação; reestruturação cognitiva,
pensamentos mais realistas.
Obstáculos
Vulnerabilidade social
VII. Diagnósticos prováveis (DSM-IV)
Eixo I
Eixo II
Eixo II
Eixo IV
Eixo V
-
Depressão leve; ansiedade moderada
Problemas de relacionamentos
Não costa
Problemas de apoio primário
Quadro 8 - Conceitualização do caso de Allan
CONCEITUALIZAÇÃO DE CASO COGNITIVO-COMPORTAMENTAL COM CASAIS
l. Identificação do paciente - nº 01
Nome: Allan B. C. (fictício)
Profissão: Maquinista
Estado Civil: União estável (12 anos)
Número de dependentes: 2
Outras informações relevantes: *Praticante
Idade: 31
Religião: Evangélico*
Escolaridade: E.F.I.
ll. Lista de problemas conjugais
1. Brigas constantes
2. Falta de afeto/carinho no relacionamento
3. Problemas na relação sexual
4. Comunicação disfuncional
5.
lll. Conceitualização cognitiva
Dados relevantes da história de vida
Família ausente na infância e adolescência
Falta de orientação nas decisões durante a adolescência
Família desestruturada
Foi viciado em jogos durante muito tempo
Visão de si
Tríade cognitiva
Visão de mundo
Visão de futuro
Infeliz, machucado
Estressante
Incerto
114
Crenças centrais
“Sou infeliz"
“Sou rejeitado”
Crenças intermediárias
"Se não consigo me relacionar com a minha esposa, então sou uma pessoa
infeliz"
"Só serei feliz se a minha vida financeira e familiar mudarem"
Estratégias compensatórias
Frequentar academia e comer compulsivamente
Situação 1
"Minha esposa não
retribui o meu
carinho"
Pensamentos Automáticos
Situação 2
"Minha esposa não
quer ter relações
sexuais comigo"
Pensamentos Automáticos
Situação 3
"Minha esposa não me
dá retorno quando eu
converso com ela"
Pensamentos Automáticos
"Ela não liga para
mim"
"Ela não me deseja
mais"
"Ela não me dá
atenção"
Significado do PA
Significado do PA
Significado do PA
Abandono
Esfriamento sexual
Desprezo
Emoções
Emoções
Emoções
Raiva
Desapontado,
insatisfeito
Rejeitado
Comportamentos
Comportamentos
Comportamentos
Esquiva
Discussões
Discussões e esquiva
Respostas fisiológicas
Respostas fisiológicas
Respostas fisiológicas
Dor de cabeça
Diminuição do desejo
sexual
Dor de cabeça
lV. Hipótese de trabalho
Situações precipitantes ou ativadoras:
Falta de interação e habilidade social
Fatores predisponentes:
Pais ausentes e incomunicáveis e falta de carinho e apoio na infância
Fatores perpetuadores:
115
Distorção cognitiva: Hipergeneralização
Resumo da Hipótese:
Incapaz de uma comunicação funcional
Ausência dos pais na
infância, pouca habilidade
social e falta de carinho
Ansiedade quanto ao
futuro
Crenças de infelicidade
Pensamentos de abandono e desamor
Evitação de possíveis
problemas
V. Pontos fortes e recursos
Conscientização dos problemas apresentados e motivação para a
adesão ao tratamento e mudança
Vl. Plano de trabalho
Objetivos e metas
Melhorar a habilidade de comunicação e percepção de pensamentos
disfuncionais, desenvolver habilidades afetivas e comunicação sexual
Intervenções
Familiarização com o modelo cognitivo-comportamental, Ensino de
técnicas de: eficácia na comunicação; resolução de problemas;
pensamentos mais realistas.
Obstáculos
Vulnerabilidade social (moradia precária)
VII. Diagnósticos prováveis (DSM-IV)
Eixo I
Eixo II
Eixo II
Eixo IV
Eixo V
-
Depressão mínima; ansiedade moderada
Problemas de relacionamentos
Não costa
Problemas de apoio primário
A conceitualização de caso é apresentada ao cliente em forma de resumo,
com os principais pontos, a fim de que seja discutido. Além disso, levanta-se
algumas perguntas que não ficaram claras ou não apareceram na entrevista inicial.
Os objetivos e metas são definidos em colaboração com o/a cliente.
116
Resultados das avaliações – antes e depois da intervenção
Na última sessão, é apresentado para o casal gráficos e tabelas com os
respectivos resultados da terapia, bem como uma reavaliação dos principais
pontos da conceitualização do caso definida no início da terapia em colaboração
com os cônjuges. Assim, ambos os cônjuges dão feedback sobre os resultados
apresentados. Além de ser psicoeducativo, esta prática também mostrou-se
motivadora para o casal.
Registro de reestruturação de pensamento
Quadro 9 - Descrição de registro de pensamentos disfuncionais do caso Allan
Registro de Pensamentos Disfuncionais
Orientação: quando você perceber que seu humor/emoção não está bem, pergunte-se, "o que está se passando em minha mente
nesse exato momento?" e assim que possível escreva o pensamento ou imagem mental na coluna dos pensamentos automáticos,
bem como as demais colunas, referindo-se à situação que o desencadeou.
Situação
Emoção
Pensamento Automático
Resposta alternativa
Resultado
ESCREVER:
REAVALIE:
ESCREVER:
ESPECIFICAR:
1 - Utilize as perguntas
1 - Reavalie a crença em
DESCREVER:
Pensamento
abaixo a fim de encontrar
Pensamento/s
Evento real que conduziu Sentimentos ou emoções
Automático que
(triste
/
ansioso,
raivoso
a resposta alternativa ao
automático /s
a emoção desagradável
precedeu a/as
etc.)
que
sentiu
naqula
pensamento;
1-100%;
ou recordação que
emoção/ões;
situação;
2 - Possível Distorção
2. Especificar e reavaliar
conduziu à emoção
Classificar o quanto você
Classificar grau de
Cognitiva;
Emoção/ões ou
desagradável.
acredita neste
intensidade e convicção
3 - Classificar crença em
comportamento/s
pensamento automático emoção - 1 - 100%
resposta racional –
subsequentes - 1 - 100%.
1 - 100%
1 - 100%
"Minha esposa nunca
me dá carinho"
Desanimado - 90%
Ela tem uma
personalidade igual a
dos pais dela. Isto não
"Ele não me ama" - 80%
quer dizer que ela não
me ama - 60%.
Generalização
Crença anterior - 40%
Aliviado - 50%
Perguntas para ajudar a construir uma RESPOSTA ALTERNATIVA: 1) Qual é a evidência de que o pensamento automático é verdadeiro?
Ou não é verdadeiro? 2) Quais as hipóteses alternativas? 3) Qual é a pior coisa que poderia acontecer? Eu poderia conviver com isso?
Qual a melhor coisa que poderia acontecer? Qual o resultado mais realista? 4) O que eu deveria fazer a respeito disso? 5) Qual o
efeito da minha crença no pensamento automático? Qual seria o efeito de eu mudar a minha maneira de pensar? 6) O que eu diria a
um amigo que tivesse o mesmo pessamento?
Nota: Registro descrito entre a 10ª sessão e 11ª sessão.
117
Quadro 10 - Descrição de registro de pensamentos disfuncionais do caso Allinson
Registro de Pensamentos Disfuncionais
Orientação: quando você perceber que seu humor/emoção não está bem, pergunte-se, "o que está se passando em minha mente
nesse exato momento?" e assim que possível escreva o pensamento ou imagem mental na coluna dos pensamentos automáticos,
bem como as demais colunas, referindo-se à situação que o desencadeou.
Situação
Emoção
Pensamento Automático
Resposta alternativa
Resultado
ESCREVER:
REAVALIE:
ESCREVER:
ESPECIFICAR:
1 - Utilize as perguntas
1 - Reavalie a crença em
DESCREVER:
Pensamento
abaixo a fim de encontrar
Pensamento/s
Evento real que conduziu Sentimentos ou emoções
Automático que
(triste
/
ansioso,
raivoso
a
resposta
alternativa
ao
automático /s
a emoção desagradável
precedeu a/as
etc.) que sentiu naqula
pensamento;
1-100%;
ou recordação que
emoção/ões;
situação;
2 - Possível Distorção
2. Especificar e reavaliar
conduziu à emoção
Classificar o quanto você
Classificar grau de
Cognitiva;
Emoção/ões ou
desagradável.
acredita neste
intensidade e convicção
3 - Classificar crença em
comportamento/s
pensamento automático emoção - 1 - 100%
resposta racional –
subsequentes - 1 - 100%.
1 - 100%
1 - 100%
"Meu esposo nunca me
ajuda. Chega e fica
sentado"
Raiva - 80%
"Ele só pensa nele" 80%
Talvez, esteja muito
cansado. 70%.
Generalização
Crença anterior - 40%
Calma - 60%
Perguntas para ajudar a construir uma RESPOSTA ALTERNATIVA: 1) Qual é a evidência de que o pensamento automático é verdadeiro?
Ou não é verdadeiro? 2) Quais as hipóteses alternativas? 3) Qual é a pior coisa que poderia acontecer? Eu poderia conviver com isso?
Qual a melhor coisa que poderia acontecer? Qual o resultado mais realista? 4) O que eu deveria fazer a respeito disso? 5) Qual o
efeito da minha crença no pensamento automático? Qual seria o efeito de eu mudar a minha maneira de pensar? 6) O que eu diria a
um amigo que tivesse o mesmo pessamento?
Nota: Registro descrito entre a 10ª sessão e 11ª sessão.
Síntese dos resultados do caso 1
O andamento da sessões foram difíceis devido aos diversos problemas que o
casal já enfrentava a anos. Allan dizia que mudou o seu comportamento diante da
esposa, porém ela não reconhecia isso, o que o deixava cada vez mais furioso. No
decorrer das sessões, Allinson disse que a sua “ficha não havia caído”, ou seja,
Allan teria realmente mudado, porém ela não conseguia acreditar. Devido a estes
desencontros, Allinson não queria ter relações sexuais com o esposo. Ela dizia que
houve um “esfriamento”.
A sessão mais difícil foi a 5ª porque veio à tona algo que Allinson já
desconfiava, a traição. Eles pensaram em desistir da terapia, mais resolveram
tentar mais uma vez. Allan disse que suportou por muito tempo o distanciamento
da esposa, permanecendo fiel. No início ele não queria admitir a traição, mas, com
o tempo, foi inevitável. A situação ficou cada vez mais complicada entre eles, a
ponto de saírem aos tapas, insultos e palavrões.
Esta situação foi, aos poucos, sendo contornada. Ambos conseguiram
conversar respeitosamente e continuarem com a terapia. Após o término da terapia
118
eles decidiram se separar, percebendo que seria a melhor decisão, no momento.
Tudo foi resolvido de forma pacífica e compreensível.
Outras variáveis influenciaram esta decisão, como os pais da Allinson, que
moravam com o casal e conviviam em constantes conflitos e problemas financeiros
do casal.
Allan teve uma melhora na sua percepção sobre Allinson e na satisfação
conjugal (61-57), contudo, a sua ansiedade se elevou (16 A - 32 D) após a perda
do emprego e a descoberta da traição por parte da esposa.
Allan melhorou a sua habilidade social conjugal (70 A – 45 D), porém, Allinson
piorou demasiadamente neste quesito (47-88), bem como na satisfação conjugal
(52 A – 62 D), na crença sobre o relacionamento (91 A – 101 D) e nos sintomas
depressivos (17 A – 24 D), após a descoberta da infidelidade. Ambos somente
tiveram melhoras nos níveis das atitudes disfuncionais 35, Allan (118 A – 129 D) e
Allinson (108 A – 144 D).
Ao final da terapia, ambos decidiram se separar em comum acordo, pois
entenderam que seria a melhor decisão a tomarem.
35
Quanto maior a pontuação nesta escala, menores são as atitudes disfuncionais.
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