Naltrexone em baixas doses no tratamento da AIDS – síndrome da

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AIDS : tratamento com naltrexone em baixas doses
José de Felippe Junior
Vamos apresentar trabalho pioneiro do descobridor do emprego do naltrexone em
baixas doses na AIDS, o Dr. Bernardo Bihari.
O naltrexone neste estudo foi usado na dose de 1,75 mg ao deitar. Posteriormente
mostrou-se que na AIDS a dose ideal é de 3,0 a 4,5mg ao deitar.
Trinta e oito pacientes com AIDS receberam 1,75 mg de naltrexone, um antagonista
de opiáceo, de uma maneira duplo cega e controlada com placebo. O grupo com naltrexone
mostrou uma queda significante dos níveis patologicamente elevados de interferon alfa
(alfa IFN) em período de 3 meses de tratamento comparado com o grupo placebo ( p<
0,01). Após este período o grupo placebo foi transferido para o grupo naltrexone. Assim
dos 38 pacientes que receberam naltrexone 23 mostraram marcante declínio dos níveis de
alfa IFN ( queda de 144,9ui para 11,0 ui em período de 12 meses) e 15 pacientes não
mostraram alteração . Durante o estudo 19 dos 23 pacientes com declínio dos níveis de alfa
IFN sobreviveram enquanto somente 2 dos 15 pacientes sem declínio do alfa IFN
,sobreviveram no mesmo período ( p<0,01). Houve grande diminuição das infecções
oportunistas no grupo dos 23 pacientes. Não se observou efeitos colaterais .
Os resultados indicam que 61% (23/38) dos pacientes com AIDS tratados com
baixas doses de naltrexone responderam com marcante queda dos níveis de alfa interferon.
Esta queda provoca mudanças da função imune a qual protege este grupo das infecções
oportunistas e a progressão para o desenlace fatal. Esta proteção clínica não foi
acompanhada pelo aumento absoluto do CD4 ou da relação CD4/CD8.
Muitos pesquisadores têm demonstrado que a elevação contínua do alfa IFN
contribui na patofisiologia da AIDS e tem significado prognóstico negativo. O alfa IFN é
um agonista endorphinergico, 800 vezes mais potente que a morfina. Os receptores
opiáceos , como outros receptores, diminuem em número e sensibilidade na presença de
alta concentração do agonista do receptor específico. Desta forma altos níveis de alfa IFN
na AIDS reduz os linfócitos e células precursoras dos linfócitos, via receptor opiáceo.
Há evidência considerável na literatrura que altos níveis de alfa IFN possui potente
efeito imunosupressor, particularmente sobre o número e função das células T helper.
O mecanismo de ação do naltrexone é complexo. Baixas doses da substancia
aumenta a função do sistema imune, em parte por bloquear os receptores Mu que seriam
ativados pelo alfa IFN. O bloqueio da ativação do receptor Mu, libera os receptores Delta
das células do sistema imune a responderem às encefalinas endógenas e às beta-endorfinas.
Em adição o naltrexone provoca o aumento da produção de CRF (fator liberador de
corticotrofina) e de beta endorfina .
Em 10 pacientes com AIDS os níveis séricos de beta endorfina estavam 1/3 inferior
aos níveis normais. O naltrexone possui a habilidade de induzir o aumento de duas
endorfinas: beta-endorfina e meta-encefalina.
Após o término do estudo alterou-se a dose para 3 a 4,5 mg de naltrexone ao deitar.
Depois de alguns anos 158 pacientes haviam sido tratados sob este regime. Não se
observou queda dos níveis de CD4 neste grupo de pacientes em 18 meses de evolução (
início com 358 de CD4 e no final de 18 meses : 368). Nos 55 pacientes que não receberam
a droga ou a ingeriram de modo irregular houve queda do CD4 de 297 para 176 nos 18
mesess de estudo. Desta forma a baixa dose de naltrexone fez parar a queda progressiva do
CD4 observada nos pacientes com AIDS. A estabilização do CD4 foi acompanhada pela
parada de progressão da doença. Nos 103 pacientes com naltrexone houve somente 8
infecções oportunistas, enquanto que nos 55 pacientes sem a droga houve 25 episódios de
infecção oportunista. Houve 13 mortes no grupo sem a droga e apenas uma no grupo com o
naltrexone. Alguns pacientes estão no estudo há 8 anos , sem progressão da doença , sem
queda do CD4 e sem evidência de resistência aos efeitos benéficos da droga. Não houve
relatos de efeitos colaterais.
O uso do naltrexone combinado com anti virais de última geração tem mostrado
resultados melhores que o anti viral sozinho : observa-se significativo aumento do CD4.
Muito importante saber que nenhum dos 175 pacientes com inibidores de proteases
desenvolveu qualquer sinal de lipodistrofia , exceto 4 pacientes que pararam o naltrexone.
Tais pacientes apresentaram reversão do quadro de lipodistrofia em 9 a 10 meses após
voltarem a ingerir novamente o naltrexone. Possivelmente o aumento das endorfinas
provocada pelo naltrexone contrabalance os efeitos lipodistroficos provocados pelo níveis
elevados de cortisol no sangue.
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