Anais - CEPSIC

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Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde:
Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados
22/05/09
CONFERÊNCIA 1 (INTERNACIONAL)
DIMENSÕES DA RECUSA NA ANOREXIA MENTAL
Domenico Cosenza
A intervenção tem como objetivo concentrar a sua atenção sobre o tema da recusa como um núcleo estratégico
da anorexia mental. Isto ocorrerá não se limitando às manifestações de conduta da recusa na anorexia no
plano da fenomenologia clínica, evidente no seu evitamento da sexualidade e laços sociais, bem como em
relação aos alimentos. É um fato estrutural que a recusa anoréxica toma uma medida decisiva, como
demonstraram - embora parcialmente - as contribuições da teoria familiar-sistêmica de Mara Palazzoli Selvini
e sua Escola de Milão, mas acima de tudo, acreditamos que sejam inspiradas pelas contribuições do ensino
de Lacan aplicado ao domínio da clínica da anorexia mental. Serão exemplificadas quatro características
clínicas da recusa estrutural na anorexia mental (tese desenvolvida em um livro publicado este ano na Itália:
“O muro da anorexia” Astrolábio, Roma, 2008): a recusa como demanda (central na anorexia histérica), a
recusa como uma defesa, a recusa como uma tentativa de separação e, finalmente, a recusa como um meio
de gozo.
SIMPÓSIO 1 – A PSICANÁLISE E O TRATAMENTO
DOS TRANSTORNOS ALIMENTARES
LIMITES DA PALAVRA E CLÍNICA DO ATO NO TRATAMENTO PSICANALÍTICO DA ANOREXIA
Domenico Cosenza
A intervenção incidirá sobre a questão do tratamento da anorexia mental e sobre as principais dificuldades
que caracterizam seu estado inicial clássico: falta de reconhecimento da doença, ausência ou fraqueza da
procura de cuidados, egossintonia dos sintomas, ausência das condições de instalação de transferência. A
nossa tese é a de que com a anorexia mental, especialmente na fase inicial do tratamento, com exceção de
alguns quadros de anorexia histérica, é ineficaz não somente a intervenção ortopédico-corretiva de matriz
cognitivo-comportamental sobre o distúrbio, como também a abordagem psicodinâmica e psicanalítica visando
à centralidade do sentido e da interpretação da verdade do sujeito. A perspectiva avançada de Lacan permite
uma abordagem do sujeito anoréxico intervindo sobre o gozo fora-sentido do sinthoma por meio do ato; ou
seja, por meio da palavra enquanto ato e não como uma portadora de sentido. Pelo contrário, quanto mais
ato, menos sentido, e introduz para o sujeito a perspectiva da surpresa, a estranheza do limite (em um sujeito
preso ao sem limite), o encontro com a angústia (no caso de uma paciente que trabalha muito para angustiar
o outro e permanecer imperturbável até mesmo nas mais extremas manifestações da doença).
Tentaremos destacar em que condições se torna possível iniciar um trabalho com o sujeito com anorexia,
tendo em conta os aspectos relacionados às diferenças estruturais dos sintomas anoréxicos e as diferenças
que envolvem o plano de tratamento. Proporemos um enquadramento da cura analítica da anorexia mental
através do isolamento de cinco escansões-chaves (Capítulo VII, “Linhas de orientação para os cuidados da
anorexia mental” in “O muro da anorexia” Astrolábio, Roma, 2008) ao longo do processo de tratamento, que
podemos vislumbrar a partir de diferentes dispositivos terapêuticos no sentido estrito do termo. Exemplos
clínicos serão apresentados sobre este ponto, traçados a partir da experiência de atendimento em pequenos
grupos monossintomáticos para realizar análise, e dentro do percurso da comunidade terapêutica.
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MANEJO DA ANGÚSTIA NO TRATAMENTO DA BULIMIA NERVOSA
Niraldo de Oliveira Santos
A bulimia, condição clínica que atinge principalmente mulheres jovens, é caracterizada por um quadro que
envolve intensa insatisfação com o peso e imagem do corpo, práticas de dietas alimentares restritivas, aumento
da tensão devido à privação (onde se presentifica a angústia), crises de comer compulsivo envolvendo uma
grande quantidade de alimentos calóricos em tempo curto (estratégia que visa “desangustiar”), seguida de
intensa sensação de mal-estar devido ao pavor intenso de ganhar peso, culminando em estratégias
compensatórias para eliminar as calorias ingeridas (momento paradoxal de angústia/alívio da angústia). No
tratamento psicanalítico nos casos de bulimia, a posição do psicanalista frente às manifestações da angústia
do paciente é fundamental na direção do caso, uma vez que, com a psicanálise, sabemos que a angústia é a
presença do desejo do Outro – alienação que faz girar o ciclo bulímico. Nesta vertente, é o manejo da
angústia – não necessariamente o “desangustiar” - que possibilita o surgimento dos resultados por meio do
emprego do método psicanalítico nestes sujeitos.
MESA REDONDA 1 – INTERVENÇÕES PSICANALÍTICAS:
DA TECNOLOGIA À URGÊNCIA
A PRÁTICA MÉDICA, A HIPERMODERNIDADE E O PACIENTE SUS
Raul Albino Pacheco Filho
URGÊNCIAS: RESPOSTAS DA PSICANÁLISE AO CHAMADO MÉDICO
SOCIEDADE EM MUTAÇÃO - O PSICANALISTA À ALTURA DE SEU TEMPO?
Marisa Decat de Moura
Esta questão da sociedade em mutação e a consequente exigência do psicanalista estar presente em seu
tempo me é causa de esforço para “encontar o lugar de analista” em uma práxis que lida com o não-querersaber da verdade do desejo. Eu me proponho refletir sobre questões que concernem à intervenção do analista
e o campo de ação da psicanálise em um espaço outro que o consultório. Espaço em um hospital geral que
traz questões sobre a possibilidade do “além” do discurso produzido pela consciência. Através da reflexão
sobre um caso clínico, a partir da demanda de um médico e sua urgência e da formalização do analista como
sinthoma, pretendo trazer para debate a possibilidade do analista “à altura de seu tempo”.
USOS E FUNÇÕES DA CONSTRUÇÃO DO CASO CLÍNICO EM PSICANÁLISE
Christian Ingo Lenz Dunker
O objetivo desta comunicação é avaliar as condições necessárias para definir um relato de caso em psicanálise.
Argumenta-se que a psicanálise possui duas estratégias fundamentais para transmitir seus resultados no
âmbito da psicopatologia: a tipologização de regularidades estruturais (signos, sintomas, estruturas) e a
construção de casos clínicos singulares. Examina-se como tais estratégias mostram-se historicamente
complementares e opostas. Nosso método baseia-se na tentativa de formalização das diferentes funções
lógicas, éticas e retóricas assumidas pelo caso clínico tendo em vista o conceito psicanalítico de construção
(Konstruction). Da análise deste conceito extrai-se condições semiológicas da escrita do caso clínico:
ficcionalidade, referencialidade e veridicidade. Conclui-se que tais funções respondem a três tipos de uso
metodológico do caso: o uso psicoterapêutico (ligado à análise de resultados e eficácia terapêutica), o uso
clínico (ligado ao contraste diagnóstico entre grupo particular e caso singular) e uso propedêutico (ligado ao
cuidado e à enunciação da verdade da experiência).
Palavras-chave: método, caso clínico, psicanálise.
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MESA REDONDA 2 – SAÚDE MENTAL E SEXUALIDADE NO HOSPITAL
INTERSEXUALIDADE: ESCOLHAS E IMPOSIÇÕES
Vera Ferrari Rego Barros
As anomalias de diferenciação sexual levantam questões complexas e delicadas, tanto em relação ao
diagnóstico e tratamento como ao processo de construção da identidade do indivíduo. O diagnóstico
compromete a criança naquilo que a define logo ao nascimento: seu sexo e, por consequência, seu nome,
índices de sua relação com o Outro social. A problemática do intersexo traz impasses à conduta médica por
envolver questões referentes à adaptação sexual futura mais favorável a essa criança. A opção quanto à
redesignação sexual, tomada a partir do diagnóstico, determina todas as condutas clínicas e cirúrgicas inerentes
ao tratamento, porém, será só a posteriori, ao longo do desenvolvimento da criança, que se poderá confirmar
sua adequação. Isto se deve ao fato de que a identidade sexual não é produto apenas da dimensão biológica
do indivíduo. Ao contrário, para essa questão, é justamente o suporte biológico que confunde, desnorteia,
uma vez que nem a correção cirúrgica das anomalias assegura que, no futuro, a criança se tornará um adulto
satisfatoriamente adaptado, no que tange a sua sexualidade. Abordar a constituição da identidade sexual e
seus impasses é questionar o lugar do corpo como sustentador da identidade sexual, tomando por princípio
a diferença entre constituição biológica e constituição corporal, onde a imagem corporal, construída na relação
com o Outro-outro, é o que possibilita ao corpo existir em uma representação sexual, na medida em que ela
comporta um reconhecimento do sujeito enquanto tal. Buscar parâmetros mais precisos para subsidiar a
intervenção médica e ajudar na organização da família em torno dos conflitos a essa situação, nos leva a
algumas questões: Como é estabelecida a função sexual? Qual o impacto do diagnóstico de intersexo para a
criança e familiares? Quais as intervenções prioritárias nesse contexto, para permitir a melhor elaboração
possível dessa problemática, para todos os que estão envolvidos de alguma forma com ela? A partir da
clínica com pacientes portadores de algum tipo de distúrbio de diferenciação sexual objetivamos discutir os
aspectos essenciais à abordagem de sujeitos, de bebês a adolescentes, que nos chegam para diagnóstico e
tratamento, considerando que incidirão sobre toda a construção de seu laço social. O ponto de sustentação
para essa elaboração é que o sexo não é uma opção, mas uma posição subjetiva do indivíduo. Como tal, o
intersexo enquanto uma localização entre dois gêneros é uma designação esvaziada de sentido quanto à
sexualidade do sujeito, mas um significante bastante revelador, no discurso médico, daquilo que, a partir do
diagnóstico, conduz aos impasses na abordagem e intervenções junto à criança.
O RISCO DO GOZO: INIBIÇÃO SEXUAL E FRIGIDEZ
Ana Laura Prates Pacheco
FEMINILIDADE E INFERTILIDADE
Julieta Quayle
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MESA REDONDA 3 – PSICO-ONCOLOGIA E RESULTADOS: DESAFIOS E
POSSIBILIDADES
PSICOTERAPIA EM PACIENTES LEUCÊMICOS
Maria Lúcia Cardoso Martins
A vivência de um diagnóstico de câncer traz, por si, impactos com consequências para o longo da vida, que poderão
ser maiores ou menores de acordo como esse processo será vivido. Esse processo de adoecimento repercute em
transformações não só no paciente como também em seus familiares. A grande reviravolta na vida modifica a rotina
atual em outra comandada pelo tratamento e administração de suas consequências, além da interrupção da vida
profissional, alterações socioeconômicas, angústia pela iminência de morte, vivência de dor e mudanças na aparência
física. Nesta fase, a ajuda psicológica atende principalmente as demandas atuais adaptativas à doença e tratamento:
impacto do diagnóstico, fragilidade emocional, ansiedade no aguardo dos resultados, como também reflexão no
sentido do aparecimento da doença (por que comigo?). A missão da psicoterapia durante este processo busca o
reconhecimento dos próprios recursos para superação dos obstáculos à sua própria maneira. O processo terapêutico
em momentos posteriores, quando a fase de emergência já se estabilizou, depara-se com uma transformação que a
vivência lhe trouxe: novos valores e prioridades, novos medos e desilusões. Fisicamente também não é o mesmo,
nem com a mesma disposição. O episódio da doença estará inscrito no seu histórico para sempre. Não se sentirá
mais a mesma pessoa, porém não será tão frágil e inseguro como se sentiu ao longo do tratamento. Essa nova
“versão” surge como fruto do amadurecimento que o sofrimento causou, atrelado ao desejo de lutar pela vida. O
fantasma da recidiva paralisa o futuro pelo medo de ser novamente acometido pela doença, podendo o sofrimento
imaginário se tornar mais importante que o risco real orgânico, e terá que se conformar com a remissão completa e
não a cura. A psicoterapia auxilia na capacidade adaptativa, na descoberta do referencial pessoal de qualidade de
vida e na reconstrução de planos possíveis. Em todo o processo, quanto melhor orientado e preparado o paciente e
os familiares estiverem, melhor serão as chances de superação dos momentos difíceis.
EFEITOS DO ATENDIMENTO DOMICILIAR INTERDISCIPLINAR
Cláudia Fernandes Laham
Pacientes acometidos por doenças que dificultam seu comparecimento às consultas no hospital podem receber
atendimento de equipes de saúde em seus domicílios. Este tipo de tratamento é destinado a pessoas de todas as
idades, mas a maioria beneficiada costuma ser de idosos, possuidores de variado leque de diagnósticos clínicos.
A equipe de saúde pode ser composta por profissionais de várias áreas, como médico, enfermeiro, assistente
social, psicólogo, nutricionista, fisioterapeuta, odontólogo, farmacêutico, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo.
Esse atendimento proporciona uma abordagem mais ampla do paciente, contribuindo para o entendimento global
de sua situação. Como leva em conta suas várias facetas, facilita a compreensão de seu estado de saúde,
diagnósticos, planos de tratamento e prognósticos. Nesta explanação são discutidos aspectos envolvidos no
atendimento do psicólogo neste contexto, abarcando a avaliação dos casos atendidos, o que compreende a
abordagem não só do paciente, mas também do cuidador, de outros membros da família e da relação destes com
a equipe de saúde. A partir daí, podem ser realizadas intervenções como orientação ou psicoterapia, entre outras.
São frequentes quadros de depressão ou ansiedade decorrentes das limitações impostas pelas doenças, assim
como sentimentos ambivalentes envolvendo a relação paciente-cuidador, sendo que estes apresentam vários
tipos de mecanismos de defesa para lidar com a situação de doença e isolamento social em que se encontram. O
atendimento psicológico contribui, entre outros aspectos, para se entender a relação paciente-cuidador, rastrear
fatores que influenciam a adesão ou não aos tratamentos indicados ou propor escuta aos clientes em momentos
de grande angústia, como os de agravamento dos quadros ou os que antecedem a morte do paciente, por exemplo.
Proporciona, também, a investigação sobre a função que o exercício de cuidar tem na vida das pessoas, acarretando
perdas e/ou ganhos importantes. Em alguns anos de atividade nesta área tem sido aperfeiçoada a forma do
psicólogo realizar o trabalho neste setting tão peculiar e desafiador, em que os profissionais de saúde vão ao
domicílio do paciente, ao contrário do que ocorre com os casos atendidos na instituição hospitalar.
RESULTADOS ESPERADOS NO ATENDIMENTO A PACIENTES EM CUIDADOS PALIATIVOS
Maria Julia Kovács
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DEBATE: A DOENÇA É O DESTINO?
GENÉTICA: O ADMIRÁVEL MEDO DO FUTURO
Mayana Zatz
O gene, da biologia; a ética, da psicanálise: entre os dois, um debate. Os testes genéticos permitem diagnosticar
um número crescente de doenças e desvendar segredos dos nossos genes. Frequentemente, os resultados
desses testes são inesperados, criando situações para as quais não se tem respostas padronizadas. O que
devemos saber antes de nos submeter a um teste genético? O que devemos informar antes de oferecer um
teste genético? O quanto podemos interferir? Sempre devemos contar a verdade dos dados? Podemos
impedir a invasão da nossa privacidade genômica? São algumas das questões que vamos discutir, com
apresentações de casos reais.
A PSICANÁLISE SEM MEDO DO FUTURO: NEM TUDO ESTÁ, NEM NUNCA ESTARÁ ESCRITO
Jorge Forbes
Nossos sentimentos enganam. Vivemos felicidades e sofrimentos “prêt-à-porter”. Somos constituídos no
espelho: o ego é o lugar da alienação do sujeito. Ao anúncio de um problema, já o precipitamos em nossa
carne; o encarnamos, pois o que mais tememos é a surpresa. Os casos clínicos estudados no Centro do
Genoma Humano – USP destacam como o homem se defende da dor, paradoxalmente, sofrendo. O que lá
realizamos, por meio da segunda clínica de Jacques Lacan, interessa a todos, mais além dos afetados
geneticamente.
DOENÇA SEM DESTINO
Claudia Riolfi
Os diagnósticos genéticos parecem selar um destino entre a alteração genética e a sua expressão. Não é
fato: gêmeos univitelinos – portanto clones – adoecem de forma muito diferente. Mostraremos como a
psicanálise pode incidir no espaço entre o genótipo e o fenótipo, alterando de imediato o estado dos pacientes
e colaborando, a médio prazo, na lentificação do processo patológico, aumentando a chance do benefício de
futuros tratamentos genéticos.
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MESA REDONDA 4 – PSICOSSOMÁTICA E PRÁTICA CLÍNICA: RESULTADOS
EXEMPLOS DE DERMATOSES RELACIONADAS AO PSIQUISMO
Evandro A. Rivitti
FENÔMENO PSICOSSOMÁTICO E TRATAMENTO DE PACIENTES COM DOENÇA
INFLAMATÓRIA INTESTINAL
Cynthia Nunes de F. Farias
Historicamente no campo médico, as doenças inflamatórias intestinais (DII) fizeram parte do rol das doenças
psicossomáticas, nas quais os “aspectos psicológicos” ou “emocionais” estavam marcadamente implicados
em sua etiologia, de modo que chegaram a ser tratadas exclusivamente, pela psicoterapia (Rodrigues, 2006).
Porém, hoje, para a Medicina, os fundamentos etiológicos destas doenças devem ser buscados no campo da
imunologia e da genética. Os efeitos do psiquismo sobre o corpo, contemplados na expressão “psicossomática”,
figuram como um dos componentes que modulam a multifatorial expressão das DII, no sentido em que podem
contribuir para atenuar ou exacerbar o quadro clínico, sendo que, por si só, não são considerados fatores
etiológicos. Para Lacan (1966), a questão não se expressaria na forma do psiquismo afetando o corpo, mas
no fato de que, por sermos seres submetidos à linguagem, os sintomas são os efeitos que a palavra opera
sobre o corpo. Devemos entender, portanto, os fenômenos de corpo como efeitos de uma “falha epistemosomática”, ou seja, efeitos da falha do saber sobre o corpo. A partir de casos clínicos, procuramos apresentar
os efeitos da falha “epistemo-somática” no âmbito das DII.
INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA: INTERVENÇÕES PRECOCES E RESULTADOS
Wagner Ranña
A Psicossomática Psicanalítica, entre muitas importantes contribuições às ciências da saúde, tem na
psicossomática com crianças um de seus ramos mais fecundos, sendo que as intervenções precoces são um
de seus focos, tendo como objeto a clínica psicossomática com bebês. Para chegar ao desenvolvimento dos
métodos clínicos com crianças em idades muito pequenas um longo percurso de experiências e de descobertas
de novos conceitos metapsicológicos foram necessários. A Psicossomática Psicanalítica contemporânea
estabeleceu de saída a separação entre somatização histérica e somatização propriamente dita, destacando
que na primeira existe um retorno do recalcado e uma simbolização no sintoma físico, o qual, em geral, é
benigno e funcional, raramente eclodindo em lesão de um órgão ou sistema somático. Já no segundo existe
uma falha na simbolização, sendo que o aparelho psíquico deixa de exercer seu papel de guardião da vida e
do equilíbrio psicossomático, criando a possibilidade para as doenças reais, que apresentam, portanto, lesões
de órgãos ou sistemas somáticos, eclodam e evoluam de forma recorrente ou permanente. No âmbito da
psicossomática com crianças já são bastante conhecidas as descobertas de que as relações constitutivas
com os pais são determinantes para o equilíbrio psicossomático do ser em constituição, sendo que os excessos
ou as faltas de excitação podem incorrer em distúrbios de potencial mortífero para a criança, principalmente
para os bebês. Por outro lado as intervenções precoces, também chamadas de intervenções conjuntas paisbebê são de grande importância, tanto para a saúde física como para a saúde mental. Com o objetivo de
apresentar e discutir tanto as bases metapsicológicas como os métodos clínicos implicados nas intervenções
precoces com crianças e bebês apresentaremos algumas vinhetas clínicas desta modalidade de intervenção.
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MESA REDONDA 5 – O CORPO, A VIDA E SEUS SEMBLANTES
AS MULHERES, O CORPO E OS IDEAIS
Maria Helena da Silva Fernandes
TRATAMENTO PSICANALÍTICO DO PACIENTE QUEIMADO INTERNADO: RESULTADOS
Celeste I. C. Gobbi
CIRURGIA BARIÁTRICA: O “EX-OBESO” PODE SER GORDO?
Sandra Letícia Berta
MESA REDONDA 6 – PSIQUIATRIA E PSICANÁLISE: TRATAMENTO E
INTERLOCUÇÕES
DEPRESSÃO E ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL: RESULTADOS
Renério Fráguas Júnior
TRATAMENTO PSICOTERÁPICO E FARMACOTERÁPICO DO
TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO
Eurípedes Constantino Miguel
CONEXÃO ENTRE PSICANÁLISE E PSIQUIATRIA: EFEITOS POSSÍVEIS
Durval Mazzei Nogueira Filho
CONFERÊNCIA 2
PESQUISAS DE EFICÁCIA DA PSICANÁLISE NO CAMPO DA SAÚDE
Luiz Alberto Hanns
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22 e 23/05/09
CURSO 1
PSICANÁLISE E HOSPITAL: INTERVENÇÕES CLÍNICAS E RESULTADOS
Maria Lívia Tourinho Moretto; Marisa Decat de Moura
CURSO 2
PSICOSSOMÁTICA PSICANALÍTICA: A CLÍNICA E OS RESULTADOS
Niraldo de Oliveira Santos; Cynthia Nunes de F. Farias; Eliane Costa Dias
CURSO 3
TRANSTORNOS ALIMENTARES E OBESIDADE
Kátia Osternack Pinto; Marlene Monteiro da Silva; Pedro B. Garrido; Ana Paula Gonzaga
CURSO 4
PSICOLOGIA DO ENVELHECIMENTO
Valmari Cristina Aranha; Gláucia Rosana G. Benute; Eliane Correa Miotto; Wilson Jacob Filho
23/05/09
CONFERÊNCIA 3
A PSICANÁLISE NO MAIOR HOSPITAL DA AMÉRICA LATINA:
HISTÓRICO E PERSPECTIVAS FUTURAS
Mara Cristina Souza de Lucia
O melhor lugar para um psicanalista? O consultório – ouro puro da psicanálise padrão (standard), da técnica
padrão, do “setting” padrão, com uma teoria padrão. A pergunta: em que condições um trabalho psicanalítico
junto ao paciente portador de doença orgânica pode ser instaurado em meio médico especializado, já que
esses pacientes dirigem sua queixa e sua demanda ao médico ou à instituição? A resposta: o medo de não
estar praticando a clínica psicanalítica. O que nos ameaçava era o nosso padrão, que quando em crise (crise
também do público padrão), abriu espaço, garantindo a elevação teórica que ilumina uma área mais ampla às
múltiplas condições do homem no mundo. Assim, nesta extensão da clínica, a psicanálise no hospital é só a
vasta medida em que o método psicanalítico ultrapassa a técnica padrão, e que é capaz de transformar em
análise mesmo aquilo que a ela se opõe.
CONFERÊNCIA 4
O ALCANCE E A NECESSIDADE DO MÉTODO PSICANALÍTICO NA PRÁTICA HOSPITALAR
Plínio Montagna
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MESA REDONDA 7 – PSICANÁLISE E HOSPITAL:
UMA PRÁTICA SUSTENTADA EM RESULTADOS
OS EFEITOS TERAPÊUTICOS RÁPIDOS: DO STANDARD À REALIDADE HOSPITALAR
Marcelo Frederico A. dos S. Veras
PUBLICAÇÕES PSICANALÍTICAS E PERIÓDICOS INDEXADOS: ENTRAVES?
O IMPERATIVO DE PUBLICAR: UMA INCITAÇÃO À FARSA OU UM ESTÍMULO
À PRODUTIVIDADE INTELECTUAL
Tania Coelho dos Santos
A exigência de publicar em revistas avaliadas nacional ou internacionalmente é importante para os professores
universitários, cuja pesquisa serve à formação de mestres e doutores. Serve também para a divulgação e
controle dos resultados da pesquisa aplicada à clínica, desde que efetuada nos periódicos cuja missão seja
difundir esse assunto. Não é verdade que o relato e a discussão de casos clínicos ou o método de pesquisa
em clínica psicanalítica não podem submeter-se às exigências das revistas indexadas, pois as normas e
critérios, nelas definidos, não afetam o conteúdo dos artigos.
Palavras-chave: produção científica, psicanálise aplicada, revistas indexadas
RESIDÊNCIA EM PSICANÁLISE? O HOSPITAL COMO LUGAR DE ENSINO E TRANSMISSÃO
Sonia Alberti
Introdução: A presente proposta pretende investigar a transmissão da psicanálise em residências de psicologia
clínica, a partir de uma experiência. Trata-se do trabalho realizado no Núcleo de Estudos da Saúde do
Adolescente (NESA), na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). A articulação do trabalho no
hospital, onde predomina o discurso médico, com o trabalho de preceptoria como professor da residência,
onde a psicanálise mostra-se como o avesso do discurso do mestre, promove inúmeras perguntas de que
apresentaremos alguns desenvolvimentos, a começar pelas questões de diagnóstico e de encaminhamento
dos casos clínicos. Objetivo: Examinar em que medida a partir da prática clínica, nos hospitais, a psicanálise
pode ser transmitida na preceptoria aos residentes. Visa-se com este trabalho sustentar a hipótese de que
medicina e psicanálise são dois saberes que têm diferentes recortes da realidade e que é no respeito por
essa diferença que o encontro das duas práticas pode ser o mais frutífero. Mas visa-se também verificar
como isso pode ser transmitido no âmago da formação de nossos residentes que aprendem em serviço.
Justificativa: Na relação entre psicanálise e medicina nos hospitais gerais e nos institutos de psiquiatria se
verifica a importância da fala não só para a escuta do paciente como também no intercâmbio institucional
entre os diversos profissionais. Quando não há a circulação da palavra, enormes idiossincrasias podem
ocorrer na clínica, como exemplificam alguns casos que observamos nos últimos dez anos. Quando, ao
contrário, a palavra comparece, é possível sustentar mutuamente o trabalho, independente dos saberes e
práticas implicados. A partir daí pode ser percebido que tanto a psicanálise pode aprender algo com a medicina,
quanto esta pode aprender algo da psicanálise. Hipótese: Para além disso, levanta-se uma nova hipótese
que surge de nossa prática: somente um posicionamento ético poderá viabilizar o desenvolvimento teóricoclínico necessário para verificar os pontos de intersecção e de exclusão entre os campos de atuação de cada
uma dessas áreas do saber. Tal hipótese é de grande importância porque acreditamos haver uma dificuldade
de conciliação entre os diferentes discursos existentes no hospital. Tal posicionamento ético só pode ser
verificado na articulação com a teoria da clínica; razão de ser tão importante o aprofundamento teórico.
Resultados e conclusões: Os profissionais, muitas vezes, não identificam os mesmos instrumentos de
intervenção e, na tentativa de apagar diferenças, se gera um impasse dificultando o próprio respeito às
diferenças no hospital e, mais importante ainda, a possibilidade para o acima referido desenvolvimento teóricoAnais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 10
clínico. De um lado, isso se reflete no atendimento ao paciente, que acaba por se sentir perdido, sem saber
o que fazer, frente às incongruências inerentes a tal indefinição. De outro, nossa experiência também revela
questões problemáticas na função formadora do trabalho no hospital. Se os discursos referidos a cada um
dos saberes não estão devidamente manifestos, se as diferenças não podem ser claramente formuladas,
então os técnicos tampouco podem saber quais são seus próprios limites, e quais são os limites do outro, e
tais limites, por serem indefinidos, não podem ser respeitados.
Palavras-chave: residência hospitalar, discurso psicanalítico e discurso médico, ética da psicanálise.
MESA REDONDA 8 – A SUBJETIVIDADE E AS EVIDÊNCIAS TECNOLÓGICAS
EPILEPSIA E CRISES NÃO EPILÉPTICAS PSICOGÊNICAS:
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL E TRATAMENTO
Renato Marchetti
RECURSOS TECNOLÓGICOS E AS EVIDÊNCIAS PSÍQUICAS NA PSEUDOEPILEPSIA
Berta Hoffmann Azevedo
O presente trabalho tem como objetivo a articulação entre o uso do exame de vídeo-EEG e da escuta clínica
psicanalítica para a compreensão de pacientes com crises pseudo-epilépticas. Como introdução, delimita-se
o uso das expressões “recursos tecnológicos”, “evidências psíquicas” e “pseudo-epilepsia”, propiciando
posteriores articulações entre elas. Afirma-se que o diagnóstico de pseudo-epilepsia, ou crise pseudo-epiléptica,
como se tem preferido usar, não é uma categoria diagnóstica psicanalítica. Este é um diagnóstico neurológico
definido pelo negativo, ou seja, definido pela diferença para com a epilepsia. Para chegar a um diagnóstico
em Psicanálise não é possível prescindir de uma escuta. Propõe-se, então, a problematização do peso do
“pseudo” para aquele que recebe este diagnóstico. A idéia de “falso”, proposta pelo termo “pseudo”, é
contraposta à verdade psíquica, com o que trabalha a Psicanálise. Os resultados trazidos neste trabalho são
baseados na pesquisa de mestrado da autora, realizada na PUC-SP, através do método psicanalítico, e na
experiência como auxiliar de pesquisa junto à Divisão de Psicologia do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Para ilustrar o trabalho de escuta na compreensão diagnóstica em Psicanálise, utilizou-se um caso clínico
que se revelou um caso de histeria. Como conclusão, afirma-se que as crises pseudo-epilépticas têm origem
psíquica e, nos casos trabalhados pela autora, foram encontrados indícios que revelaram se tratar de casos
de histeria. Por fim, destacou-se o papel do vídeo-EEG como um exame contundente na tarefa de mostrar ao
paciente que seu corpo apresenta um enigma, provando o poder e a efetividade de conteúdos inconscientes.
Palavras-chave: Pseudo-epilepsia, Psicanálise, Histeria, Vídeo-EEG.
APRISIONAMENTOS NA PSEUDODEMÊNCIA
Valmari Cristina Aranha
Novas formas de organização subjetiva em função de realidades e necessidades sociais e culturais cada vez
mais exigentes são hoje uma realidade. Modelos cada vez mais inatingíveis e insatisfatórios, papéis a serem
desempenhados se impõem como demandas, fazendo com que a sobrevivência psíquica se torne um desafio.
Diferenciar normal e patológico, ideal e real é imprescindível. A relação do sujeito da pós-modernidade com a
passagem do tempo e sua organização é o ponto de partida para a discussão da pseudodemência e suas
implicações. A exigência por desempenhos sociais e psicológicos abre espaço para que psicopatologias sejam
inadequadamente diagnosticadas e tratadas (ou não) de forma coerente. Quadros depressivos, ansiedade e
alterações com autoestima são quadros frequentes. A ausência de parâmetros quanto ao que se deve vivenciar e
como reagir em cada etapa de nossas vidas são pontos a serem considerados. A pseudodemência ilustra um
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 11
conjunto de características que impõe ao psicólogo uma série de desafios, não só quanto à sua correta avaliação,
mas também quanto a possibilidades de intervenção e encaminhamento. O diagnóstico diferencial entre alterações
cognitivas e afetivas e as mais adequadas formas de se avaliar. O advento de recursos tecnológicos, a neuroimagem
e suas maravilhosas descobertas são recursos a serem utilizados com cautela e adequação. O cuidado com a
rotulação e com a exclusão da subjetividade são erros frequentemente cometidos quando desconhecidos os reais
determinantes do adoecimento. Para tanto o psicólogo, independente do referencial teórico que tenha, precisa ampliar
seus conhecimentos acerca do tema. A longevidade hoje é uma realidade, e com ela uma série de características
inadequadamente associadas pode ser diagnosticada. Discrepância entre achados clínicos e/ou laboratoriais e queixas
subjetivas são justificativas para avaliações especializadas. Discutir quais os instrumentos mais adequados para
estes casos e como orientar família, equipe e paciente são temas desta discussão. Em síntese, a proposta deste
tema é discutir a pseudodemência em sua apresentação, correlação com depressão e alterações cognitivas. Quais
as formas possíveis de tratamento e encaminhamento, buscando analisar a relação entre as evidências tecnológicas,
suas descobertas e benefícios, e a subjetividade. Com o objetivo de propiciar ao psicólogo possibilidades de intervenção
e de diálogo com as diversas especialidades necessárias para que a pseudodemência deixe de restringir e aprisionar
pacientes, familiares e equipes diante da impotência que ela impõe.
MESA REDONDA 9 – PSICANÁLISE: DO HOSPITAL PARA A COMUNIDADE
O CEPSIC E O TRATAMENTO PSICANALÍTICO DE PACIENTES DA COMUNIDADE
Niraldo de Oliveira Santos
O CEPSIC (Centro de Estudos em Psicologia da Saúde), em parceria com a Divisão de Psicologia do Instituto
Central do HC/FMUSP, atua em diversas vertentes relacionadas à formação e instrumentalização de psicólogos
para o exercício da prática clínica na área da saúde. Além da intensa preocupação com a qualidade da
formação destes profissionais, o CEPSIC oferece serviços psicológicos gratuitos à comunidade, por meio de
programas assistenciais como: “Programa insônia”, “Programa usuários de anabolizantes”, “Programa
pseudoepilepsia”, “Programa neuropsicologia”, “Programa compulsão alimentar e obesidade” e “Programa
anorexia nervosa, bulimia nervosa e distorções da imagem corporal”. Nestes programas, que são divulgados
em locais estratégicos e na mídia leiga, os interessados se inscrevem por telefone e, posteriormente, são
convocados para entrevistas clínicas, avaliações diagnósticas e iniciam tratamento gratuito. Além de assistir
à comunidade que demanda tratamento em um dos programas existentes, o CEPSIC também realiza avaliações
neuropsicológicas a pacientes matriculados no Instituto Central do HC/FMUSP (foram 242 avaliações em
2008). No que diz respeito ao tratamento psicanalítico realizado pelos alunos, as discussões clínicas em
supervisão são intensamente debatidas, desde o momento de análise das demandas dirigidas ao CEPSIC
pelos pacientes inscritos, como também as particularidades inerentes à construção do diagnóstico, à direção
do tratamento (durante o período em que o aluno está na parte prática do curso – 2º ano) e os efeitos
terapêuticos obtidos. A proposta desta apresentação é discutir os principais eixos e entraves do emprego do
método psicanalítico pelos alunos do Curso de Especialização em Transtornos Alimentares e Obesidade no
tratamento gratuito a pacientes com anorexia e bulimia nervosas.
ACOLHENDO AS DEMANDAS DOS HOSPITAIS – A SEÇÃO CLÍNICA DA CLIPP
Sandra Arruda Grostein
Introdução: CLIPP, Clínica Lacaniana de Atendimento e Pesquisas em Psicanálise, é uma associação sem
fins lucrativos, que tem como finalidade o atendimento em psicanálise preferencial à população de baixa
renda, a educação em psicanálise e a realização de estudos, pesquisas, cursos e supervisões, especialmente
voltados para a produção de conhecimento técnico e científico em psicanálise, saúde e cultura. A principal
questão que se coloca em relação à finalidade - O que é atendimento em psicanálise? Objetivo: Apresentar
as questões relativas à clínica psicanalítica e a demanda de Outro social. O que é a clínica psicanalítica? A
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 12
mesma pergunta faz Lacan na Abertura da Sessão clínica. E, responde: Não é complicado. Ela tem uma base
- aquilo que se diz em uma análise. “A clínica psicanalítica consiste no discernimento de coisas que importam
e que se tornarão maciças a partir do momento em que se toma consciência delas. A inconsciência em que
estamos em relação a estas coisas que importam não tem absolutamente nada a ver com o inconsciente, que
com o tempo acreditei ter de designar inconsciente (une-bévue). Não basta que se pressinta o seu inconsciente
para que ele recue - isso seria muito fácil. Isso não quer dizer que o inconsciente nos guie bem. Um tropeço
precisa ser explicado? Certamente não. A psicanálise supõe simplesmente que estamos advertidos para o
fato de que um tropeço é sempre de ordem significante. Há tropeço (une-bévue) quando nos enganamos de
significante” - Jacques Lacan. Método: Recorreremos ao relato das questões e tropeços dos 27 analistas que
atualmente atendem através da Seção Clínica da CLIPP, além de abrirem seus consultórios para acolher a
enorme demanda que cresce dia a dia, se comprometem a estar em análise, a fazer supervisão dos casos
atendidos e a participar das reuniões semanais promovidas pela coordenação. Estas reuniões visam ao debate
contínuo dos atendimentos, através do exercício da construção do caso clínico (casuística), da apresentação
de pacientes feitas em parceria com o Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo e a discussão teórica
sobre temas emergentes da clínica. Há não somente muita diversidade nas demandas de tratamento e de ajuda
como também um grande número. Resultados: Uma vez a oferta feita, a demanda se apresentou, o significante
CLIPP rapidamente se espalhou pela cidade, recebemos pacientes de praticamente todos os grandes Hospitais
Públicos, Clínicas de Faculdades, CAPS - Hospitais dia, Instituições de Saúde e Universitárias; a precariedade
do sistema de saúde em atender a demanda associada à suposição de saber atribuída à CLIPP permitem o
encaminhamento, mas nem sempre a demanda do médico ou do profissional de saúde corresponde à demanda
do paciente. Conclusões: Com isto nos deparamos com uma nova forma de demanda, diz JA Miller, isto
significa que há um novo Outro no campo, prossegue, “que está pedindo tratamentos mais rápidos, menos
custosos, absolutamente previsíveis, cujos finais e duração possam ser previstos.” Consequentemente,
concluímos que nosso principal objetivo tem sido acolher as diferentes demandas, não para desencorajá-las ou
fazê-las desaparecer, mas precisamente redirecioná-las para uma psicanálise.
Palavras-chave: psicanálise, inconsciente, significante, demanda e hospital.
O PRIMEIRO FILHO NÃO É BRINQUEDO – GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA NA FAVELA
“SURURU DE CAPOTE” EM MACEIÓ/ALAGOAS
Gláucia Rosana G. Benute
Este estudo, realizado na favela ‘Sururu de Capote’ em Maceió/AL, tem como pesquisadora responsável a
Dra. Mara Cristina Souza de Lucia e foi financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq). Estima-se que no Brasil, 20% de todos os nascidos vivos nos últimos cinco anos foram
concebidos por mães adolescentes, com idade inferior a 20 anos. Na América Latina, o índice de gravidez em
adolescentes é alto. Segundo dados da ONU, a taxa de fecundidade de adolescentes nesta região é de 54%.
Na capital do estado de Alagoas, Maceió, os índices são alarmantes: 30,6% das mães são adolescentes. A
proposta de abordar a gravidez na adolescência como um fenômeno social, através da ótica da psicanálise,
não pode ser confundida com a mera aplicação de conceitos psicanalíticos para a leitura de tal fenômeno.
Além disso, uma análise de fenômenos sociais que não seja acompanhada por uma perspectiva de mudança
é extremamente desinteressante e seria apenas, na melhor das hipóteses, um desenvolvimento a mais na
investigação das ciências humanas. Desta forma, este trabalho tem o objetivo de dimensionar e configurar o
fenômeno da gravidez na adolescência por meio do diagnóstico na favela Sururu de Capote, município de
Maceió, Alagoas. A escolha da Favela Sururu de Capote para o estudo se deu por se tratar de área segregada
com alta concentração de pobreza. Residir em tal área afeta de diferentes formas as perspectivas de vida da
população de gestantes adolescentes, além de implicar riscos para a saúde, com impacto sobre a capacidade
de trabalho e renda. O local (favela) é elemento da questão política e social; abrange a natureza
multidimensional da pobreza e da gravidez na adolescência. O espaço: o território onde habitam é parte
constitutiva das situações sociais, dentre elas a gravidez na adolescência. A favela Sururu de Capote está
localizada às margens da Lagoa Mundaú e grande parte de seus moradores possuem a atividade de retirada
e preparação do sururu para a venda – são os “marisqueiros”. Foram entrevistadas 60 adolescentes que, no
momento da pesquisa, encontravam-se grávidas. Foram incluídas adolescentes gestantes com idade entre
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 13
10 e 19 anos e 11 meses, independente de serem primigestas, sem distinção de escolaridade, estado civil ou
nível socioeconômico. Critérios de exclusão: adolescentes que demonstrassem dificuldade de compreensão
ou de linguagem para responder às questões solicitadas no instrumento. Nenhuma adolescente foi excluída
do estudo. Para a coleta de dados foi utilizado questionário previamente elaborado com questões abertas e
fechadas voltadas para a elucidação do objetivo proposto. Observou-se que a gestação na adolescência
implica uma repetição transgeracional (100% das gestantes disseram que a avó engravidou na adolescência,
88,5% das mães e 48,4% das irmãs engravidaram na adolescência). Apesar da pouca idade, é interessante
ressaltar o alto índice de reincidência de gestação (média de 1,63) e de evasão escolar (66,2%), o que torna
de fundamental importância a construção de medidas que possam apresentar alternativas de interrupção
deste ciclo de pobreza e de falta de perspectivas para o futuro. Nota-se um número significativo de adolescentes
que afirmaram desconhecer fatores relacionados à sexualidade e menstruação (41,2%). Constata-se, também,
uma precocidade na sexarca (média de 12 anos de idade) e baixo índice de uso de contraceptivos (45%),
apontando a vulnerabilidade destas adolescentes não só à gravidez, como também a contração de doenças
sexualmente transmissíveis. Efetivamente, nossa proposta de demarcação do campo psíquico da gravidez
na adolescência em população de extrema pobreza e suas relações com a cultura propicia também a
perspectiva de uma finalidade: promover a instalação de um ponto de basta no automatismo e na repetição
da maternidade precoce. Este ato não acontece de modo desvinculado da investigação do modo como as
adolescentes buscam seus ideais de feminilidade, sexualidade e cidadania e as consequências que podem
advir dessa condição na família e na sociedade.
Palavras-chave: gravidez, adolescência, psicanálise.
TEMAS-LIVRES 1 (DIP/CEPSIC)
Coordenadora: Jovita Carneiro de Lima; Avaliadora: Elzinete Carneiro Magalhães
TEMAS-LIVRES 2
Coordenadora: Alessandra Santiago; Avaliadora: Ana Lúcia Sampaio
TEMAS-LIVRES 3
Coordenador: Bernardo Malamute; Avaliadora: Daniela dos Santos Bezerra
TEMAS-LIVRES 4
Coordenadora: Cláudia Fernandes Laham; Avaliadora: Rosa Carla de Mendonça M. Lobo
FÓRUM – TRANSTORNOS ALIMENTARES E OBESIDADE: CONFIGURAÇÕES
CLÍNICAS, FORMAÇÃO PROFISSIONAL E INTERVENÇÕES ATUAIS
A FORMAÇÃO DO PSICÓLOGO PARA O TRABALHO INTERDISCIPLINAR
NAS EQUIPES DE CIRURGIA BARIÁTRICA
Humberto Verona
A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO EM EQUIPES DE CIRURGIA BARIÁTRICA
Aída Marcondes Franques
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 14
TRANSTORNOS ALIMENTARES E ESPECIFICIDADES DA PRÁTICA CLÍNICA
Niraldo de Oliveira Santos
A formação do psicólogo para a atuação em instituições de saúde requer instrumentalização específica,
voltada tanto para o que visa aproximar o profissional da realidade institucional quanto do sofrimento psíquico
e suas manifestações singulares. Pacientes que sofrem com algum tipo de transtorno alimentar, obesidade
ou outras condições envolvendo distorções da imagem do corpo requerem tratamento cuidadoso, cujo
imperativo está centrado na consistência da formação do profissional, no tratamento de suas próprias
dificuldades psíquicas e na constante supervisão e atualização da clínica. É nesta vertente que o CEPSIC
oferece o Curso de Especialização em Transtornos Alimentares e Obesidade, com vasta programação teórica
e prática. Dentre os principais tópicos indispensáveis à formação neste campo, incluímos temas como: “O
alimento e a alimentação”, “Os transtornos da alimentação além das individualidades: o peso da cultura”,
“Transtornos alimentares: critérios diagnósticos”, “Instrumentos para avaliação clínica e pesquisa em transtornos
alimentares e obesidade”, “Tratamento farmacológico e internação nos transtornos alimentares”, “Diagnóstico
e tratamento das principais condições clínicas: Anorexia Nervosa, Bulimia Nervosa, Transtorno da Compulsão
Alimentar Periódica, Transtorno Dismórfico Corporal, Obesidade e Obesidade Mórbida”, “Avaliação e tratamento
psicoterápico do paciente candidato à cirurgia bariátrica”, dentre outros. Com isto, nossa direção tem sido no
sentido de trabalhar em duas vertentes: na primeira tornar claro que a área envolvendo os transtornos
alimentares e obesidade está configurada em torno de um campo teórico-prático próprio (singular), e por
outro, oferecer condições para que o psicólogo seja preparado para a atuação ética e eficaz junto às equipes
de saúde no tratamento destes casos.
SIMPÓSIO 2 – TRATAMENTO DA DEPRESSÃO E SEUS EFEITOS:
DOS FENÔMENOS À CONDIÇÃO CLÍNICA
A DEPRESSÃO E OS OBJETOS ORIGINÁRIOS CONCRETOS
Mauro Salviati
A DEPRESSÃO E AS COMORBIDADES
DEPRESSÃO E HOSPITALIZAÇÃO: ALGUNS APONTAMENTOS
Maria Eugênia Scatena Radomile
A diversidade do conceito de depressão gera um estigma e provoca uma concepção equivocada sobre a
doença. Especialmente que a depressão não é uma doença, mas sim sintomas relacionados especialmente
a fraqueza de caráter e que pode ser superada por meio de esforço da pessoa. A depressão como estado
emocional vem chamando a nossa atenção no atendimento ao paciente hospitalizado. Tanto como aspecto a
ser avaliado no paciente, quanto na compreensão do aluno estagiário na identificação do quadro. Estudos
realizados em hospitais gerais indicam que 15 a 50% dos pacientes internados com desencadeantes orgânicos
apresentam transtornos referenciados como depressão, sendo essa habitualmente não reconhecida,
diagnosticada e tratada em serviços gerais de saúde. O quadro depressivo pode estar presente por uma
manifestação estrutural, ou ser desencadeado através de medicação ou por um processo reativo de busca
de adaptação a uma situação nova, antes desconhecida. Quando um paciente adentra um hospital, vem com
a demanda de um quadro orgânico e com um emocional sempre em desequilíbrio em maior ou menor grau.
Estudos e pesquisas teóricas e da clínica em depressão procuraram compreender por possíveis fatores o
que poderia predispor alguns indivíduos a desenvolver a doença depressiva. Fatores biológicos, psicológicos
e sociológicos foram cogitados, embora estas classes de predisposição ou fatores de vulnerabilidade não
sejam necessariamente independentes e a maioria dos pesquisadores agora aceite que a vulnerabilidade
para a depressão é provavelmente multifatorial (Blackburn, 2004). No contexto de uma doença clínica orgânica,
o psicólogo deve diferenciar os sintomas de depressão não só daqueles de transtorno de ajustamento e de
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 15
reação patológica à doença, mas também daqueles que são manifestação direta da própria doença clínica.
Na compreensão psicanalítica é um tema onde deve haver uma distinção clara entre o que é luto (perda de
um objeto amado), melancolia (introjeção conflituosa do objeto perdido), tristeza (alteração do humor), posição
depressiva (integração de partes dispersas do sujeito) e depressão que nos remete à obra de Freud. A
tristeza sempre está presente e a depressão quando já de início detectamos que a fadiga, as alterações do
sono, do peso, da motricidade aparecem num grau excessivo para a condição física e seu tratamento; se
associam temporalmente aos sintomas cognitivos e afetivos.
Palavras-chave: depressão, co-morbidade, hospitalização.
TRATAMENTO PSICANALÍTICO DA DEPRESSÃO EM PACIENTES HIV/AIDS: RESULTADOS
Cláudio Garcia Capitão
SIMPÓSIO 3 – A DOENÇA COMO CONDIÇÃO DO SER: INTERVENÇÕES DO
PSICANALISTA E CONSEQUÊNCIAS
A SATISFAÇÃO PULSIONAL E A NÃO-ADESÃO AOS MEDICAMENTOS
Maria Lívia Tourinho Moretto
O adoecimento é um evento que afeta o estilo de viver que caracteriza um indivíduo, ainda que seja consequência
do mesmo. Procurar um médico e encontrar a proposta terapêutica indicada para sua doença são passos
necessários, mas não suficientes para o restabelecimento de seu estado de saúde. Sendo parte ativa na parceria
com o médico (o que nem sempre é claro para o indivíduo), frequentemente, para aderir ao esquema proposto,
condutas de adaptação e mudanças em seus padrões habituais se fazem necessárias. Ao se deparar com a
ordem médica, eis que o sujeito adoecido se depara também com uma espécie de tendência a desobedecê-la. Do
que se trata? Importantes estudos mostram que, em todo o mundo, 20 a 50% dos pacientes com doenças crônicas
não aderem ao tratamento medicamentoso prescrito. Além disso, sabe-se que a não-adesão ao esquema
medicamentoso lidera os fatores responsáveis pelo aumento da morbidade e da mortalidade, reduz a qualidade
de vida e a piora dos recursos destinados aos cuidados da Saúde. Que a prescrição médica existe para ser
seguida, isso é evidente. Mas não é o que ocorre. Ao que parece, nem sempre os interesses dos profissionais da
Saúde são, necessariamente, coincidentes com os interesses dos pacientes. É preciso considerar, como profissionais
da Saúde, que é possível que - embora na maioria das vezes tenha buscado ajuda médica – o que um paciente
pede não equivale, necessariamente, ao que ele deseja fazer; fato que revela, por si só, a divisão subjetiva do
humano. A investigação do referido problema deve contribuir para a discussão do mesmo no âmbito interdisciplinar,
evitando atitudes reducionistas da equipe de saúde (inclusive da Psicologia) na oferta e abordagem de tratamento.
Não abordar este problema é uma forma de perpetuar o problema da não-adesão ao esquema medicamentoso e
suas arriscadas consequências. Em função disto, muitos estudiosos se dedicaram à pesquisa do tema. Vermiere
et al (2001), em trinta anos de pesquisa, detectaram mais de 200 fatores de barreira à adesão ao esquema
medicamentoso, no entanto, ainda não consideram que seja possível apontar consistentemente um deles como o
fator principal para a não-adesão. Nossa hipótese é que há casos em que a não-adesão ao tratamento é,
frequentemente, intencional. Portanto não se dá por negligência ou falha dos pacientes, dos médicos ou do próprio
esquema, mas pode se dar em função de preocupações, crenças e interesses e avaliações dos pacientes sobre
a própria medicação e sobre a doença. O que nem sempre tem cabimento na cena médica, apesar das exigências.
Pode-se dizer mais, ainda: a não-adesão indica que a exigência de obediência à ordem médica sucumbe à
exigência de uma outra ordem que, por ora, denominamos satisfação pulsional. Dito de outra forma: em lugar de
satisfazer as exigências médicas em nome do bem-estar biopsicossocial e fazer o uso “correto” dos medicamentos
assegurados pelo saber da Ciência, muitos pacientes dão preferência a satisfazer as exigências advindas de seu
próprio corpo, e optam por um “modo de usar” os medicamentos bastante singular, rendendo-se ao que cumpre ao
psicanalista tentar desvendar: os “mistérios do corpo falante”.
Palavras-chave: corpo, psicanálise, adesão, medicamentos, satisfação pulsional.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 16
SER DOENTE É UMA CONDIÇÃO: A ACOMODAÇÃO DO PACIENTE
Luiz Fernando Carrijo da Cunha
A contextualização do tema a ser trabalhado em sincronia com o que propõe o título geral para o simpósio: “A
doença como condição do ser: intervenções do psicanalista e consequências” nos leva a propor um
desenvolvimento onde, através daquilo que Jacques Lacan nomeou como subjetivação, partimos de um
estado subjetivo, mais do que a realidade da doença, onde um sujeito é levado a se contar como doente de
modo que “estar doente”, para um tal sujeito, responde a uma representação de sua existência no mundo, um
estado do ser no qual ele acredita. Desse modo, a doença lhe serve mais como um nome que o designa do
que o desconforto que esta poderia lhe causar. Esse ponto de vista vai ao encontro do que Freud designou
como “ganho secundário”, matriz de um não querer se curar. Todavia, seguiremos, nesta intervenção, um
caminho que tenta esclarecer a conexão entre “estar doente” e o discurso da ciência que o facilita em nosso
mundo contemporâneo. Diante do desencantamento do mundo o sujeito pode encontrar respostas “prontas
para o uso”, sem se interrogar por sua particularidade ou sem querer saber as razões que o levaram a um tal
estado. O papel desempenhado pela mídia, assim como a crescente desvalorização de semblantes que
outrora poderiam ancorar o sujeito em sua existência, oferecem um cardápio de doenças com as quais
qualquer um pode se ver identificado, para além do real causal do mal estar. Objetivamos, assim, demonstrar,
através de duas vinhetas clínicas, o uso que uma doença pode ter na economia libidinal, sem com isto
negligenciarmos o real da doença – a doença não é um mito. O que é mito é o modo como ela pode entrar na
contabilidade do gozo. A eficácia da intervenção do analista será posta à prova na medida desse testemunho
clínico experimentado em um centro de atendimento de psicanálise aplicada. Para concluir, abordaremos os
conceitos de identificação, supereu e gozo como ferramentas teóricas que nos auxiliam na compreensão da
questão, assim como nos ajudam a pensar na direção do tratamento.
Palavras-chave: sujeito, identificação, significante mestre, discurso analítico.
DOENÇA RENAL CRÔNICA E NÃO-ADESÃO: EFEITOS DA INTERCONSULTA
Rosemeire Aparecida do Nascimento
A insuficiência renal crônica é marcada pela ausência de alterações físicas perceptíveis ao paciente. É uma
doença progressiva e apresenta, na maioria dos casos, um desenvolvimento lento. Por esta característica é
denominada de doença silenciosa. O médico informa ao seu paciente que, embora ele não sinta nada, ele
perderá a função renal e a manutenção de sua vida dependerá da filtração do seu sangue através da diálise.
Sem nenhuma marca real no corpo, sem dor ou outro sintoma, que permita a atribuição de significados sobre
a doença, o paciente tem apenas o discurso médico que o diz doente. A cada consulta acompanha a evolução
da perda renal, o que pode durar anos antes do início do tratamento dialítico. Neste período, é raro
encaminhamentos à psicologia que se refira a não-adesão, o que acontecerá após a indicação da confecção
da fístula, via de acesso dialítico, quando o paciente se recusa à sua realização ou entrada em diálise.
Observa-se, frequentemente nestes encaminhamentos, a crença do médico que sua relação com o paciente
era boa e que este estava orientado sobre o tratamento. Acreditando que a informação é suficiente para lidar
com a angústia e a fantasia humana. A interconsulta permite a compreensão e a intervenção sobre a nãoadesão ao tratamento pela via da escuta da subjetividade, na medida em que possibilita trazer à equipe de
saúde a teoria do sujeito sobre o seu adoecimento e tratamento, o deslocando do lugar de submissão à
ordem médica para o lugar de sujeito do desejo.
Palavras-chave: Interconsulta, renal crônico, sujeito de desejo.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 17
MESA REDONDA 10 – SAÚDE MENTAL E AS INTERFACES COM O DIREITO
Debatedora: Roseli Mieko Yamamoto Nomura
ANENCEFALIA E ABORTO
Gláucia Rosana G. Benute
No Brasil o código penal define como crime de aborto a interrupção voluntária da gestação. No entanto, a lei
aceita algumas exceções quando o aborto é necessário para salvar a vida da mulher ou quando a gravidez foi
resultante de estupro. Nestas situações a interrupção da gravidez não é punida. O nascimento de um filho
malformado gera sentimentos ambíguos, confunde-se o bem e o mal, o sucesso e o fracasso. Atualmente, com
o desenvolvimento das técnicas de diagnóstico pré-natal, o feto passou a ser agente ativo, tornando-se o
paciente da Medicina Fetal. A aplicação de métodos propedêuticos no período antenatal diagnosticando anomalias
no concepto propicia a instalação de sofrimento e conflitos para a gestante e seus familiares, o que torna
necessário o tratamento e profilaxia dos aspectos emocionais por profissional especializado. Este estudo teve
como objetivo: identificar os processos psíquicos desencadeados nas mulheres, após o diagnóstico de
malformação fetal letal e descrever os processos emocionais vivenciados com a interrupção da gestação após
o diagnóstico de malformação fetal letal. Método: Foram realizadas entrevistas abertas com 249 mulheres, após
terem recebido o diagnóstico de malformação fetal letal e entrevista semidirigida com trinta e cinco destas
pacientes cujo feto era portador de malformação letal, que realizaram a interrupção judicial da gestação. A
malformação fetal mais freqüente foi a anencefalia (71,5%). O tempo médio de espera pelo deferimento do
pedido judicial foi de 16,6 dias. As que solicitaram e realizaram o aborto foram convidadas a retornarem para a
segunda entrevista psicológica 30 a 60 dias após o procedimento, quando foi aplicado questionário semidirigido
para identificar os aspectos emocionais vivenciados e descrever os sentimentos despertados. Resultados: Quanto
aos sentimentos vivenciados na decisão pela interrupção, 60% relataram como negativos, 51,4% afirmaram
que não tiveram dúvidas quanto à decisão tomada e 65,7% informaram que a própria opinião foi a que mais
pesou na decisão. A maioria das mulheres (89%) afirmou apresentar lembranças do que viveram com certa
freqüência, 91% afirmou que adotariam a mesma atitude em outra situação semelhante e 60% diriam para
interromper a gestação caso alguém perguntasse seu conselho, numa mesma situação. Conclusões: As angústias
vivenciadas demonstram que o processo de reflexão é de fundamental importância para decisão consciente e
posterior satisfação com a atitude tomada. O acompanhamento psicológico permite revisão dos valores morais
e culturais para auxiliar a tomada de decisões visando minimizar o sofrimento vivido.
Palavras-chave: Feto/anormalidades, Aborto legal, Complicações da gravidez, Anencefalia, Entrevistas.
IMPLANTE COCLEAR: O DIREITO DE (NÃO) SER SURDO
Rosa Maria Rodrigues dos Santos
O implante coclear é um dispositivo eletrônico, relativamente novo, dotado de capacidades que podem chegar
a permitir que uma pessoa, com surdez severa ou profunda, possa vir a falar ao telefone. Inegavelmente, o
avanço tecnológico aplicado à medicina tem permitido a restituição, ou a instauração, de funções e habilidades
de partes do corpo de modo surpreendente. No entanto, tais maravilhas desses avanços trazem questões
referentes aos efeitos subjetivos decorrentes dessas instaurações ou restituições. Se, por um lado, há no
mundo contemporâneo uma tendência à universalização dos direitos, dos acessos às possibilidades em
todos os âmbitos, inclusive, na saúde – o que também é maravilhoso –; há, por outro lado, a interferência e
manifestação singular das subjetividades – dos pacientes, de suas famílias e dos membros das equipes
médicas – seja no que demandam à medicina ou no que é ofertado por ela. No caso do implante coclear, há
o que se supõe pedir ou ofertar através deste aparelho para a audição e que, nisso mesmo, extrapola, sem
que se perceba, as possibilidades do mesmo, chegando a intervir nos efeitos dessa (re)abilitação pelo(s)
uso(s) que se fará do aparelho e do que ele proporciona. Somente a escuta psicanalítica pode permitir o
acesso a isso que extrapola e que pode vir a intervir nos resultados esperados pela medicina e pela
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 18
fonoaudiologia. Contudo, esse acesso não pode ser usado para legislar, arbitrar quem virá a fazer uso ou não
do dispositivo, mas para que cada uma das partes venha a poder escutar, para além do impedimento da
surdez, e conhecer o que se pede ou se oferta sem se perceber, podendo vir a mudar seus atos. O lugar dado
à surdez pode constituir, por exemplo, uma barreira imaginária que traga diversos percalços ao processo de
constituição subjetiva de uma criança. Não se trata de uma decorrência natural da privação sensorial e, por
isso, não se trata unicamente da reabilitação dessa privação. A escuta e intervenção psicanalíticas são uma
importante via para que se possa dar à surdez e à subjetividade do surdo seus devidos lugares de direito.
Assim, o implante coclear perde a dimensão de uma obrigação para se tornar uma boa possibilidade.
RESPONSABILIDADE JURÍDICA X RESPONSABILIDADE PSICANALÍTICA NO PROCESSO
TRANSEXUALIZADOR: ARTICULAÇÕES POSSÍVEIS?
Valéria de Araújo Elias
Este trabalho surgiu a partir de uma experiência interdisciplinar com pessoas ditas transexuais que, em nome
de um sentimento de identidade em não conformidade com sua anatomia sexual, demandavam à medicina
uma alteração corporal para aproximá-la dos caracteres sexuais reivindicados, por meio da cirurgia de
transgenitalização. A psicologia enquanto parte da equipe, seguindo um protocolo pautado nas orientações
do Conselho Federal de Medicina, deveria acompanhar essas pessoas cabendo-lhe a função de investigar
esse pedido e decidir se ela estaria apta ou não ao processo transexualizador. A partir da escuta clínica a
esses sujeitos, num hospital público e universitário, foi possível refletir sobre o lugar do analista diante de
uma demanda objetivada pelo discurso médico e os efeitos deste na situação transferencial. Essa experiência,
articulada com contribuições de alguns psicanalistas, permitiram concluir que, longe de exercer a função de
autorizar ou não um ato, que por si só não oferece garantias, o dispositivo psicanalítico, a partir do discurso
produzido pelo sujeito na singularidade do seu ato, só pode oferecer condições para que este possa
responsabilizar-se (ele mesmo) psicanaliticamente por aquilo que diz de seu desejo.
Palavras chave: transexualidade, cirurgia de transgenitalização, psicanálise.
TEMAS LIVRES (COMUNICAÇÃO ORAL)
SESSÃO DE TEMAS LIVRES 1 (Divisão de Psicologia do Instituto Central – HC/
FMUSP e Centro de Estudos em Psicologia da Saúde – CEPSIC)
TL1-1 “CUIDANDO DE QUEM CUIDA”: ASSISTÊNCIA PSICOLÓGICA AO TRABALHADOR DA SAÚDE
Maria Lívia Tourinho Moretto, Ana Carolina Jaen, Melina Lólia de Ângelo,
Gláucia Benute Guerra, Mara Cristina Souza de Lucia, Carlos Suslik
Divisão de Psicologia e Diretoria Executiva do
Instituto Central do Hospital das Clínicas da FMUSP
Introdução: Muitos são os riscos aos quais os profissionais da saúde estão expostos num ambiente hospitalar:
além dos riscos de acidentes e doenças de ordem física, o sofrimento psíquico é cada vez mais evidente e se
apresenta de diversas maneiras: desde o aparecimento de transtornos depressivos - passando por
manifestações de agressividade, somatizações, - ao mais absoluto silenciamento, o que compromete a
qualidade do atendimento dispensado aos pacientes, muitas vezes culminando com o afastamento temporário
ou permanente do trabalhador de saúde, que se mostra incapaz de lidar com as especificidades de seu
ambiente de trabalho. Este é um problema que a instituição se dispõe a abordar, ainda que seja no intuito de
conhecer os fatores de risco e promover meios adequados para preservar a saúde de seus colaboradores.
Este trabalho apresenta e discute os resultados do programa de assistência psicológica oferecido a
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 19
colaboradores do ICHC-FMUSP, do realizado pela Divisão de Psicologia, em parceria com a Diretoria Executiva
do mesmo Hospital, no período de 2007 a 2008. Objetivos: Investigar o sofrimento psíquico expresso por meio
das queixas dos colaboradores do ICHC-FMUSP, inscritos voluntariamente, de modo a construir hipóteses
diagnósticas e, de acordo com as mesmas, ter subsídios para a implantação de programas de atendimento
psicológico, visando a promoção de saúde mental e qualidade de vida dos mesmos. Método: Por meio de
divulgação da abertura de inscrições voluntárias para entrevistas psicológicas, o programa foi oferecido para
todos os colaboradores não-médicos do ICHC-FMUSP, por meio de intranet, comunicação escrita em holerite e
divulgação das chefias, até um total de 150 vagas. Foram realizadas entrevistas clínicas para fins de diagnóstico
clínico, que determinou a indicação ou não para a continuidade do processo por meio de psicoterapia grupal e/
ou individual, tanto fora quanto dentro da mesma instituição, a depender da singularidade de cada caso.
Resultados: Inscreveram-se, voluntariamente, 168 colaboradores, sendo que 90 participaram efetivamente.
Das queixas apresentadas: 81% estavam relacionadas a ‘Sintomas Psicológicos’; 16% a ‘Dificuldades relativas
ao Trabalho’; e 3% a Doenças Orgânicas. Com relação às hipóteses diagnósticas: 78% apresentam “alteração
de humor” (depressão e ansiedade), 19% quadros de “somatização e estresse” e 3% transtornos psicóticos
(3%). Foram encaminhados 74% casos para psicoterapia e 26% decidiu não continuar o processo ou não teve
indicação de psicoterapia. Conclusão: a busca espontânea por assistência psicológica foi motivada mais por
demandas relacionais de cunho pessoal (94%) do que por fatores relacionados ao ambiente de trabalho (16%).
Nossa hipótese para compreender tal fato é que, muito provavelmente, o fato de a Divisão de Psicologia fazer
parte da estrutura institucional pode dificultar a recepção de queixas relacionadas ao trabalho na mesma instituição,
o que indica que o elemento “exterioridade” pode ser importante na produção de um diagnóstico institucional
mais adequado à realidade de nossos funcionários. O trabalho psicoterápico tem proporcionando aos pacientes
recursos no sentido de facilitarem o enfrentamento de seu mal-estar, questionando a atitude fantasiosa de dirigir
seu problema e suas expectativas de ordem pessoal em busca de soluções externas ao problema, muitas
vezes na esperança de que as soluções sejam oferecidas apenas por mudanças institucionais.
Palavras-chave: trabalhador da saúde; saúde mental; psicologia hospitalar; psicanálise; instituição.
TL1-2 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS “MOTIVOS DE ENCAMINHAMENTO” À PSICOLOGIA
E A ESCUTA DA DEMANDA MÉDICA NO SETOR DE IMUNOLOGIA
Júlia Catani, Thiago Robles Juhas, Niraldo de Oliveira Santos,
Maria Lívia Tourinho Moretto, Mara Cristina Souza de Lucia
Curso Avançado de Formação Continuada em Psicologia Hospitalar: Saúde,
Subjetividade e Instituição - Centro de Estudos em Psicologia da Saúde (CEPSIC) da
Divisão de Psicologia do Instituto Central do Hospital das Clínicas da FMUSP
Introdução: O presente trabalho parte da premissa de que, numa ficha de encaminhamento médico do
paciente à Psicologia, o que se coloca como “motivo do encaminhamento” nem sempre equivale às reais
demandas dos médicos dirigidas à Psicologia. Fazemos aqui um relato da experiência de inserção do aluno/
psicólogo no setor de Imunologia Clínica e Alergia no Instituto Central do HCFMUSP, como parte integrante
da prática do Curso Avançado em Psicologia Hospitalar do CEPSIC. Entendemos que uma das formas de
inserção do psicólogo pode se dar por meio do trabalho de caracterização dos pacientes encaminhados, da
análise dos “motivos de encaminhamento” escritos nas fichas e da investigação das situações nas quais os
médicos habitualmente encaminham seus pacientes para a Psicologia. Objetivos: Investigar os seguintes
itens da ficha de encaminhamento: sexo e idade dos pacientes, diagnóstico médico, os “motivos de
encaminhamento” e em quais situações os médicos habitualmente encaminham seus pacientes para a
Psicologia. Método: Trata-se de um estudo descritivo, realizado a partir da análise de 31 fichas de
encaminhamento, em lista de espera há no máximo 6 meses. Foram realizadas entrevistas de interconsulta
com os três médicos da equipe, nas quais estes foram solicitados a descrever em que situações habitualmente
encaminham seus pacientes para a Psicologia. Resultados: 71% dos pacientes encaminhados eram do
sexo feminino, com uma prevalência de 68% na faixa etária dos 35 aos 55 anos e destas, 37% tinham o
diagnóstico de rinite alérgica, 30% asma e 23% com diagnóstico de ansiedade. 29% eram do sexo masculino,
destes 56% com faixa etária entre 20 e 35 anos, sendo que 67% tinham rinite e 33% asma. Os médicos
referem encaminhar nas seguintes situações: “desordens emocionais” do paciente e/ou da família, não-adesão
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 20
ao tratamento. Conclusão: Há um maior número pacientes do sexo feminino, o que pode estar relacionado
ao fato de haver maior prevalência de mulheres na clínica e maior verbalização do sofrimento na consulta
médica. Nota-se significativa diferença entre o que se escreve como “motivo do encaminhamento” e o que é
dito pelo médico para o psicólogo quando este último se dispõe a escutá-lo a respeito do encaminhamento,
sendo que frequentemente o que os médicos referem como situações que favorecem o encaminhamento não
coincide com o que se escreve como motivos nas fichas de encaminhamento. Sendo assim, os resultados
indicam que são importantes a caracterização dos pacientes e a análise das fichas de encaminhamento, mas
não são suficientes como indicadores para a análise da demanda dirigida à Psicologia, confirmando-se, desta
forma, a importância da escuta do psicólogo às demandas médicas desde o início do processo de sua inserção,
pois estas demandas mostram-se fundamentalmente importantes para implantação de projetos de trabalho,
para o tratamento psicológico dos pacientes e para o trabalho de construção dos casos clínicos. No que se
refere aos profissionais da equipe, estes encaminham os pacientes frente a escuta do sofrimento físico ou
subjetivo, fazendo-se constatar a presença da transferência de trabalho com a equipe de psicologia.
Palavras-chave: Interconsulta Médico-Psicológica, Doenças Imunológicas, Inserção do Psicólogo, Psicologia
Hospitalar.
TL1-3 AVALIAÇÃO DA DIFICULDADE DE ADEQUAÇÃO ESCOLAR, ISOLAMENTO SOCIAL E
ANSIEDADE EM CRIANÇAS PORTADORAS DE DERMATITE ATÓPICA: UM ESTUDO QUALITATIVO
Maria Rita Polo Gascón, Tarcila Campos, Glaúcia Rosana Guerra Benute,
Mara Cristina Souza de Lucia, Evandro Ararigbóia Rivitti
Divisão de Psicologia e Ambulatório de Dermatologia
do Hospital das Clínicas da FMUSP
Introdução: A dermatite atópica (DA) é uma dermatose comum entre as crianças e apresenta-se em episódios
recorrentes durante diversos períodos da vida. O curso crônico, a intensidade dos sintomas e o desconforto
provocado pela doença ocasionam sérias implicações na vida do portador e de seus familiares, como dificuldade
de adequação escolar, social e familiar. A dermatite atópica está atingindo cada vez mais pessoas a cada
ano, o que acaba por exigir mais pesquisas para minimizar seu impacto social. Objetivo: O objetivo deste
trabalho é analisar e compreender, sob a ótica da psicanálise, a dificuldade de adequação à vida escolar,
isolamento social e ansiedade de pacientes com dermatite atópica. Material e Método: Para atingir tais
objetivos investigou-se qualitativamente o prontuário de cinco pacientes encaminhados para avaliação
psicológica pela equipe médica do Ambulatório de Dermatologia do HC-FMUSP. Nas triagens psicológicas
foram utilizadas: uma entrevista semi-estruturada (com a mãe) e aplicação do Teste de Fábulas. Resultados:
Os sintomas de dermatite atópica, para todas as crianças, começaram precocemente. O temor da iminência
dos sintomas é elemento gerador de preocupações para a família, tornando a criança com dermatite atópica
o centro de atenções constantes, de cuidados extremos, que limitam suas atividades, atuando também como
meio de comunicação e mensagem, sendo peça importante nas negociações familiares cotidianas,
principalmente com a figura materna, dificultando o processo de individuação. Foi observado também que a
dificuldade de adequação escolar, o isolamento social, bem como a ansiedade dos pacientes com DA estão
relacionados ao receio de não - aceitação e do preconceito, bem como a angústia demonstrada pela criança
decorrente do afastamento da mãe. Para ela, este afastamento, por mais breve que seja, é encarado como
uma perda definitiva. Além da angústia da perda do objeto, existe outro tipo de angústia presente neste
contexto: a angústia de castração decorrente do medo de ser separado de algo extremamente valioso para o
indivíduo, ou seja, a figura materna. O medo da morte é análogo ao medo da castração; logo a angústia de
castração, geradora de ansiedade, pode ser definida como uma reação a situações de perigo e ameaça à
integridade do sujeito, que neste contexto compreende a vida escolar e social. Conclusão: O início precoce
da Dermatite Atópica dificultou o processo de individuação entre a mãe e a criança. Assim, esta passa a
enfrentar conflitos na vida social e escolar agravados pela angústia de castração sempre presente em situações
onde seja necessário o afastamento da mãe. O acompanhamento ludoterápico mostra-se essencial frente
aos resultados encontrados neste estudo.
Palavras-chave: Dermatite Atópica; Psicanálise, Psicologia.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 21
TL1-4 EFEITOS TERAPÊUTICOS RÁPIDOS DE INTERVENÇÕES
PSICANALÍTICAS NO AMBULATÓRIO PÚBLICO
Marcos Almeida de Sá, Niraldo de Oliveira Santos, Antonio Abílio Motta,
Maria Lívia Tourinho Moretto, Mara Cristina Souza de Lucia
Divisão de Psicologia do Instituto Central do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Introdução: O contexto do ambulatório público caracteriza-se pela grande quantidade de pacientes,
necessidade de obter efeitos com tratamentos em curto prazo e consultas médicas agendadas com
periodicidade variável. Entendemos como efeito terapêutico a mudança de posição subjetiva do paciente em
relação ao problema do qual se queixa, fazendo surgir a dimensão da responsabilização. Objetivo: Neste
artigo buscamos demonstrar os efeitos terapêuticos rápidos de intervenções psicanalíticas e sua generalização
para o contexto do ambulatório público. Método: Por meio do método clínico psicanalítico, realizamos a
construção de quatro casos clínicos atendidos no Serviço de Imunologia Clínica e Alergia do Hospital das
Clínicas da FMUSP. O método clínico caracteriza-se pela realização concomitante de investigação e tratamento.
Resultados: Caso 1: Através de uma intervenção inusitada – após falar de seu medo de baratas, foi sugerida
a leitura da obra A metamorfose, de Franz Kafka – a paciente Lígia identificou-se com a personagem e houve
mudança de sua posição subjetiva frente a seu sofrimento. Caso 2: Alice, soropositiva para HIV, relatava os
acontecimentos de sua vida de forma desinteressada. Quando indagada se havia sofrimento, Alice diz que
usava “uma máscara para fingir que está tudo bem”. A intervenção foi o encerramento da sessão e o convite
para que retornasse sem máscaras no atendimento seguinte. Sua descoberta a fez engendrar outras formas
de buscar o que deseja. Caso 3: Soropositivo para HIV, Jonathan preocupa-se em partir sem deixar o vazio
de sua ausência para a filha, e busca o preenchimento deste vazio na figura do psicólogo, trazendo a filha aos
atendimentos com o pedido implícito de que fosse atendida em seu lugar. Foi pontuado que o paciente em
questão era Jonathan, e que este deveria comparecer aos atendimentos para tratar de suas dificuldades.
Caso 4: Para Vilma, tomar o antialérgico diariamente funcionava como “efeito bengala”, pois sua prescrição
era em dias alternados. Vilma sente a necessidade de controlar tudo em sua vida, e a urticária aparece em
sua fala como “o que escapa ao controle”. Queria abandonar o tratamento com a garantia de que seria
atendida quando desejasse, fazendo do dispositivo psicanalítico algo controlado pelo mesmo “efeito bengala”.
As intervenções realizadas foram discutidas a fim de indicar as condições que as tornaram possíveis. O
manejo clínico que possibilita o diagnóstico e a caracterização da demanda fundamenta-se na função
transferencial das entrevistas preliminares. Quando é possível manejar a suposição de saber no sentido da
construção de uma demanda, cria-se o caminho para a retificação subjetiva. Pudemos demonstrar intervenções
pontuais que resultaram o aparecimento da dimensão do desejo e, como consequência, o lugar do sintoma
não mais aparece como o único possível. Tendo como horizonte não o tempo cronológico, mas a dimensão
da linguagem, é possível intervir pontualmente onde toca o sujeito, independente do número de encontros ou
da duração da sessão. Conclusões: As funções das entrevistas preliminares e a temporalidade do inconsciente
estruturado como uma linguagem foram caracterizadas como norteadores da posição ética que possibilita
efeitos terapêuticos rápidos no contexto do ambulatório público.
Palavras-chave: Efeitos terapêuticos, psicanálise aplicada, hospital geral, ambulatório público.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 22
TL1-5 EFEITOS TERAPÊUTICOS OBTIDOS NO TRATAMENTO PSICANALÍTICO DE
PACIENTES COM DOENÇAS INFLAMATÓRIAS INTESTINAIS
Cynthia Nunes de Freitas Farias, Leandro Verzignassi Nunes, Roberta Mota Lopes
Divisão de Psicologia do Instituto Central do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (ICHC-FMUSP)
Introdução: A aplicação da psicanálise à terapêutica é considerada como tal se levar em conta a realidade
psíquica, a satisfação pulsional e as formações sintomáticas. Seu objetivo são os efeitos terapêuticos, e não a
formação de analista, como a psicanálise pura. Ao psicólogo cabe garantir a política do sintoma, ou seja, o gozo
que ele engendra. Objetivo: Apresentar e discutir os efeitos terapêuticos obtidos no tratamento psicanalítico de
pacientes com retocolite ulcerativa idiopática e doença de Crohn. Método: Estudo de casos a partir do referencial
psicanalítico lacaniano de dois pacientes com doença de Crohn e quatro pacientes com retocolite ulcerativa
idiopática, atendidos no ambulatório da II Clínica Cirúrgica do ICHC-FMUSP, encaminhados para psicologia e
que apresentaram efeitos terapêuticos no prazo de um ano. Resultados: Para Daniel, o significante “doença”
condensava dois significantes: Crohn e homossexualidade, ambos articulados no corpo e mantidos pelo lugar
imaginário de filho preferido da mãe. A experiência analítica permitiu que inscrevesse sua homossexualidade
com menos sofrimento, referiu alivio da angustia e a diminuição dos sintomas da doença. No caso de Socorro,
estar “debaixo dos pés de um homem” era sua condição de existir. O sacrifício físico na relação com o marido e
na doença dava consistência à sua interpretação do que é ser mulher. O tratamento possibilitou mais
independência, lançando mão da condição de doente. Helena só podia “aparecer” no mundo como quem “não
deu certo”. Questionar o quê “não deu certo”, introduziu uma nova perspectiva para a paciente fora das vertentes
identificatórias do sacrifício e do vício. Para Dirce, o significante “familiar” condensava a proteção e o medo
provenientes do olhar eternizado da mãe morta, dando consistência ao seu gozo escópico. Interrogar sua
busca pelo “familiar” e suas conseqüências, trouxe-lhe novas perspectivas em suas relações pessoais e afetivas.
O adoecimento físico de Denise dava consistência ao seu lugar de objeto de amor materno (minha mãe é
demais), protegendo-a da perspectiva da emergência da sexualidade na relação com os homens. Intervir sobre
o significante “demais”, separou o bom e o excessivo nessa relação, assim passou a realizar algumas atividades
sem a presença materna, além de diminuir as crises da retocolite. A ausência de um significante capaz de cernir
para Carlos seu lugar de objeto no desejo do Outro, deixa-o à mercê de qualquer captura imaginária, sem
relativização. A marca real produzida pela doença no corpo é sua condição de defesa contra a invasão de gozo.
A possibilidade de expressar em palavras suas sensações físicas produziu a diminuição da ansiedade e da
urgência que demandava cirurgia. Conclusões: Consideramos que o fenômeno transferencial e a associação
livre, passíveis de aplicação fora do enquadre psicanalítico clássico, permitem localizar os significantes que
nomeiam os sujeitos e seus modos de gozo, possibilitando a desidentificação ao ser doente, mostrando-se
como alternativa à degradação do corpo mesmo nas doenças crônicas incuráveis. Concebemos o benefício
terapêutico como uma conseqüência do processo onde o gozo do sintoma é o ponto a ser tratado.
Palavras-chave: psicanálise aplicada, efeitos terapêuticos, sintoma, gozo, doenças inflamatórias intestinais.
SESSÃO DE TEMAS LIVRES 2
TL2-1 DEMANDA PSÍQUICA EM PACIENTES INTERNADOS EM UMA UNIDADE DE TERAPIA
INTENSIVA: RESULTADOS DE UMA EXPERIÊNCIA
Maria Fernanda Veiga Miglioli
Hospital Geral de Pedreira
Introdução: O interesse pelo tema surgiu a partir do desafio da inserção do psicólogo na Unidade de Terapia
Intensiva (UTI) do Hospital Geral de Pedreira (HGP). Neste momento, alguns questionamentos vieram à
tona, como: o que fazer para ter a inserção nesta equipe? Como trabalhar com a subjetividade dos pacientes
em meio a tanta objetividade? Por que a equipe multiprofissional solicita tão poucos atendimentos aos pacientes
internados na UTI? Será que esses pacientes não têm demanda psíquica? Muito se é falado sobre o
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 23
acompanhamento psicológico aos familiares dos pacientes internados em uma UTI e a equipe também solicita
estes atendimentos. Entretanto, o trabalho deste Serviço destina-se a uma primeira escuta dos pacientes
com a hipótese inicial de que a partir desta, cria-se uma demanda psíquica. Para tanto, vale situar que esta
equipe é formada por especialista em práticas intensivistas, preocupa-se com a retirada dos sintomas físicos
em um corpo puramente biológico. Na urgência de salvar vidas, instrumentaliza-se com os mais potentes
equipamentos com o objetivo de não perder tempo. Já, o profissional “psi” cuida de um corpo que está para
além do biológico, um corpo que fala, que dá significados, que sofre. Este profissional tem como meta resgatar
o sujeito, muito vezes, perdido em meio à ciência e a tecnologia - no lugar exclusivamente de objeto. Objetivo:
verificar a existência de uma demanda psíquica nos pacientes internados na UTI Adulto do HGP. Método: o
instrumento de investigação foi a escuta analítica com a oferta de uma fala livre e o método utilizado foi o
psicanalítico. Resultados: durante um período de seis meses com a oferta de uma primeira escuta realizada
aos pacientes que de alguma forma – fala, escrita ou leitura labial – conseguiam se comunicar, foi constatado
que dos 52 pacientes escutados, 31 (59%) apresentaram demanda para a continuidade do atendimento.
Dos nove pacientes atendidos por meio do pedido de interconsulta, sete (77%) apresentaram demanda.
Portanto, 61 foram escutados e 38 (62%) continuaram em atendimento por apresentarem uma demanda
psíquica. Conclusão: Por meio da escuta analítica foi observado que no período de urgência em uma UTI
existe uma dor que os intensivistas não podem tratar. A angústia do paciente, muitas vezes, percebida como
“agitação”, começa a ter um espaço para a expressão através de canetas, lábios e falas. Ao ser escutado
para além da doença, o paciente pode colocar em palavras a sua angústia e dar sentido ao que está vivendo;
este fato possibilita um efeito terapêutico e uma maior participação no seu tratamento.
Palavra-chave: demanda psíquica, psicanálise e UTI.
TL2-2 O PSICÓLOGO/PSICANALISTA NA UTI CARDÍACA E NA UNIDADE CORONARIANA –
INTERVENÇÕES POSSÍVEIS
Anamarina de Oliveira Soares, Glauco Heirison dos Santos Rocha,
Rosa Carla de Mendonça Melo Lôbo, Gilvan Oliveira Dourado
Santa Casa de Misericórdia de Maceió
Introdução: Falar em familiares, pacientes numa Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Cardíaca ou Unidade
Coronariana (UCO), bem como falar de nós, integrantes de uma equipe inserida nesse espaço, representa
grande desafio. É falar de um grupo ou seus representantes, que, por um período, passam a frequentar um
ambiente novo – carregado de incertezas e temores –e de uma equipe que passa grande parte de seu dia
dentro deste mesmo espaço – desafia-a-dor. Objetivo: Discutir entraves e possibilidades de intervenção do
Psicólogo Hospitalar ou Psicanalista na UTI Cardíaca e UCO. Método: O trabalho foi construído a partir de
três experiências na UTI e UCO da Santa Casa de Misericórdia de Maceió (SCMM) observados à luz da
Psicanálise. Resultados: No ambiente hospitalar, sobretudo numa Unidade Intensiva, o defronto com a dor e
o sofrimento psíquico, é uma constante. Monta-se uma tríade composta por um sujeito sofrendo por um corpo
adoecido, uma família que queixa a ausência, limites e os cuidados ao ente querido, e, ainda, esta equipe já
sobrecarregada das tensões inerentes à sua praxe. Para entendermos, serão relatadas três situações ocorridas
na UTI Cardíaca e UCO da SCMM. A primeira revela-nos como o sofrimento psíquico pode desestabilizar
levando a comportamentos desorganizados um familiar de uma paciente que chegara a óbito à revelia das
tentativas médicas. A ambivalente busca por culpados, emerge numa tentativa de compreender o fato. A
intervenção regida pela continência e busca de um nome conduzida pela psicologia, favoreceu o aparecimento
de uma identidade. Esse filho “colado” à mãe passa a ter um nome, uma história, favorecendo a rearticulação
do discurso e comportamento, iniciando a elaboração do luto. A segunda situação é a de uma interferência de
um membro da equipe movido por desmedida ansiedade na escuta a uma paciente que, pela primeira vez,
falava de sua história e chorava. A escuta não mais pode ser reparada. A terceira situação relata um caso de
um paciente na UCO que intermitentemente demandava atenção. Mesmo atendido, continuava demandando.
Eram pedidos simples atendidos sem reclamações pela equipe, mas, pela recorrência, já provocava ansiedade.
Abordado pela Psicóloga, embora essa demanda nos remetesse a outros conteúdos, junto a ele e à equipe
foi pontuado que quando terminadas as condutas necessárias aos demais pacientes, seu pleito seria atendido.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 24
Criou-se a possibilidade de a equipe entender que poderia pôr, sem culpa diante daquele sujeito sofrido,
limites naquela demanda. Conclusão: “Intensivamente”, lidamos com questões como a impotência,
identificação e perda. É em meio a essa dinâmica insalubre que observamos o porquê das regras e limites
impostos na rotina dessas unidades e, quando, muitas vezes, o foco ao principal personagem nessa tríade –
o paciente – parece prejudicado. O psicanalista ou psicólogo hospitalar pode, perceber e intervir facilitando a
saudável comunicação da tríade família/paciente/equipe, favorecendo uma possível reorganização.
Palavras-chaves: UTI cardíaca, Unidade Coronariana, Psicologia Hospitalar.
TL2-3 A ASSISTÊNCIA PSICOLÓGICA PRESTADA AO FAMILIAR EM UM CENTRO DE
TERAPIA INTENSIVA DE ADULTOS DE UMA UNIDADE DE EMERGÊNCIA
Fernanda Loureiro de Carvalho, Sílvia Helena Tenan Magalhães
Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
de Ribeirão Preto- Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP)
Introdução: Pelo advento do paradigma biopsicossocial de assistência e do reconhecimento da influência
dos estados emocionais no agravamento, determinação ou recuperação das doenças, o psicólogo consolidou
sua atuação nos hospitais e contribuiu para humanizar a assistência em unidades especializadas. A internação
no CTI possibilita ao mesmo tempo a recuperação orgânica do paciente pelo aparato tecnológico, mas traz
também situações desestabilizantes para o equilíbrio psicológico da família. Os familiares compartilham da
complexidade de cuidados apresentando, geralmente, insegurança e temor da morte que podem intensificar
a crise desencadeada pelo adoecimento/trauma. O desafio da humanização da assistência em um CTI implica
na atenção à família. Objetivo: Caracterizar o atendimento psicológico prestado aos familiares de pacientes
internados em um Centro de Terapia Intensiva de Adultos. Método: Foi realizado um levantamento dos
atendimentos prestados aos familiares no CTI Adultos da Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, no período de janeiro de 2008 até dezembro de 2008. Essa Unidade
possui 17 leitos atendendo a pacientes em estado grave. A visita familiar ocorre diariamente. O trabalho
psicológico norteia-se pela psicoterapia breve focal centrando-se nas repercussões que o familiar sofre pela
doença/trauma, associado a fatores como história de vida e assimilação das informações. Resultados: Dentro
das atividades desenvolvidas pela psicologia no CTI destacou-se a realização de 429 atendimentos psicológicos
individuais com os familiares. Tal resultado demonstrou a importância do apoio constante, pois a família
mobiliza-se na tentativa de resgatar a homeostase ou paralisa-se pelo impacto da crise. Os familiares expressam
os medos, preocupações e limitações que a internação impõe, além de defrontarem-se com eventos aversivos,
tendo o risco e o medo, como emoções dominantes, com dificuldade em encontrar “saídas” e respondendo
com transtornos de humor e afeto (ansiedade, angústia e depressão). Os familiares passam por fases de
adaptação com necessidades diferenciadas e que poderão ser satisfeitas à medida que avançarem na
elaboração da situação de crise. Inicialmente o processo se evidencia por um período de flutuação,
caracterizado por confusão, estresse e incerteza, pois não conseguem perceber as necessidades. Em seguida,
eles buscam informações para compreender a situação, sendo que informações adequadas favorecem a
adaptação. Numa outra fase, os familiares acompanham a evolução do paciente, observam e analisam os
detalhes do cuidado, atentos ao respeito com que o paciente é tratado até buscarem recursos para suprir as
necessidades. Essas fases são circulares e diante da evolução ou intercorrências no tratamento, a família
pode regredir nesse processo de adaptação. Conclusão: A intensificação do apoio psicológico prestado ao
familiar no CTI promove a discussão e o reconhecimento dos sentimentos, preocupações e dificuldades
vivenciadas durante a hospitalização, colabora para a confiança entre equipe-família, encoraja os familiares
para assumir o cuidado ao paciente, bem como levanta os recursos que os familiares dispõem durante o
enfrentamento do ciclo crise-adaptação. O psicólogo promove o fortalecimento da equipe como agente
humanizador favorecendo a eficácia do processo de tratamento e das relações instaladas entre pacientefamília-equipe no CTI.
Palavras-chave: família, psicologia, UTI.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 25
TL2-4 DA UTI NEONATAL À ALTA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O TEMPO LÓGICO
Verônica de Freitas Montanher
Hospital Geral de Pedreira – ACSC
Introdução: A entrada de mães no espaço da UTI Neonatal produz, muitas vezes, impacto ao se depararem
com bebês tão pequenos e frágeis, dependentes de aparelhos, com um futuro incerto e com risco de morte.
Encontram-se numa condição muito diferente dos bebês antes idealizados, que ocupavam imagem de perfeição
e objeto de completude, abrindo uma ferida narcísica nessas mulheres. Objetivo: O presente trabalho pretende
apresentar, a partir da escuta psicanalítica, fragmentos do discurso de mães de bebês prematuros de uma
UTI Neonatal de um hospital público na zona sul de São Paulo, desde a primeira visita destas à UTI Neonatal
até a alta hospitalar dos bebês, procurando articular esse percurso com o tempo lógico da teoria lacaniana,
que se trata do tempo do inconsciente, portanto um tempo que não se mede cronologicamente. Método:
Foram realizadas entrevistas e o método utilizado foi a escuta psicanalítica. Resultados: No momento do
nascimento prematuro, todas as certezas vacilam. O tempo de espera é precipitado. Marca o instante de ver.
Ao ser lançado a este instante de ver pela própria circunstância do acaso e do arbitrário, não dispõe do tempo
para compreender e por isso não pode chegar a nenhuma conclusão. Esse confronto com o Real pode
produzir silêncio nessas mães, pois fica impossível de dizer algo nesse momento e que muitas vezes vai ser
possível só - depois, quando os bebês começam a mostrar sinais de recuperação e a nomeação de vida se
inscreve. O tempo lógico requer uma escuta particular, do “um a um”, pois diz respeito ao tempo interno de
cada sujeito: o instante de ver, o tempo para compreender e o momento de concluir. Conclusões: O processo
da maternidade de alto risco está implicado diretamente ao processo singular de cada mulher e da sua
constituição subjetiva e de sua feminilidade. Assim, algumas mães passam pelo processo na relação mãebebê, embora apresentando sofrimento, de tal forma que podem buscar recursos para viver a situação e dar
lugar ao bebê em seu desejo. No entanto, tem outras mães que não conseguem fazer esse percurso lógico e
podem ficar presas no instante de ver ou no tempo para compreender.
Palavras-chave: UTI neonatal, psicanálise, tempo lógico.
TL2-5 A INFÂNCIA NO HOSPITAL: CONSIDERAÇÕES SOBRE DOENÇAS
ORGÂNICAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
Anne Midori Abe de Lima, Sueli Pinto Minatti
Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo (ICr –HCFMUSP)
Introdução: A partir do atendimento psicológico a crianças em um hospital pediátrico de alta complexidade,
percebeu-se que, embora encaminhadas por motivos relacionados à doença, queixas relativas a dificuldades
de aprendizagem escolar eram comuns à maioria. Além disso, foi possível observar que na tríade família,
educadores e equipe médica, responsável pelo suporte à criança, as opiniões acerca destas queixas eram
divergentes, o que remetia a um “jogo de empurra-empurra” entre estes três agentes sociais. Objetivo:
Partindo-se do referencial psicanalítico, este trabalho pretendeu discorrer sobre o mal-estar desencadeado
por esta queixa (percebido a partir do atendimento psicológico e diálogo com equipe médica e escola) que
parece remeter ao modo como se estruturam os campos da Medicina e da Educação, embasados no paradigma
da Ciência Moderna. Pretendeu-se ainda observar se alguma relação poderia ser estabelecida entre a
dificuldade de aprendizagem e a condição de enfermidade destas crianças, segundo pareamento realizado
por alguns cuidadores. Método: Tais questões puderam ser formuladas a partir das observações clínicas de
14 pacientes atendidos no período de um ano. Propôs-se realizar um levantamento teórico sobre as
contribuições postuladas por Freud e Lacan acerca da noção de sujeito, da dimensão da falta e sobre o
desejo de aprender, a fim de elucidar os mecanismos em jogo na relação médico-paciente e professor-aluno,
sendo utilizados recortes de dois desses casos atendidos para ilustrar tais proposições. Resultados e
discussão: Embora em nenhum dos pedidos médicos constasse qualquer menção a dificuldades de
aprendizagem, constatou-se que em oito dos catorze casos atendidos houveram queixas escolares importantes,
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 26
e que ao menos em seis destes ficou evidente o pareamento que os cuidadores/pacientes faziam entre
dificuldades escolares e as situações enfrentadas em decorrência da enfermidade. Observou-se que quando
a Medicina e a Educação ignoram o viés da subjetividade no tratamento da criança, a recusa desta em aderir
ao tratamento médico ou de aprender gera um mal-estar nos profissionais e cuidadores, manifestado neste
“jogo de empurra-empurra”. As diferentes percepções da família, dos educadores e dos médicos sobre um
mesmo fenômeno – a queixa escolar – parecem se relacionar à dificuldade em aceitar a falha em seu saber.
Conclusão: Foi possível observar que os pressupostos da Psicanálise podem contribuir para o diálogo
multiprofissional, sem que com isso a Medicina e a Educação abandonem a especificidade de seu papel.
Desconhecendo a diferença entre demanda e desejo na relação com o paciente/aluno, a Medicina e a Educação
correm o risco de legitimar o sujeito na condição de doente ou de fracassado escolar. Pôde-se concluir ainda
que, não obstante a dificuldade de aprendizagem seja um fenômeno cada vez mais comum em nossa
sociedade, o status de doente crônico parece conferir certa particularidade para a queixa escolar destas
crianças, por vezes camuflada sob a queixa de ser doente.
Palavras-chave: Psicanálise, Medicina, Educação, hospital pediátrico, dificuldade de aprendizagem.
SESSÃO DE TEMAS LIVRES 3
TL3-1 PERCEPÇÃO DA IMAGEM CORPORAL EM MULHERES COM DEPRESSÃO
Gislaine Lima da Silva, Sandro Caramaschi
Universidade Estadual Paulista - Bauru
Introdução: Nas sociedades atuais, a importância da imagem corporal está diretamente relacionada a
transtornos alimentares e sua distorção interfere na autoestima, promovendo adoecimento psíquico, na maioria
das vezes associada à depressão, quando há obsessão pela magreza, estimulada pela mídia, pelas relações
sociais e pela família. A obesidade é um aspecto da imagem corporal de grande importância para pacientes
com depressão. Interfere na autoestima e na manutenção do tratamento farmacológico que pode causar
ganho de peso. Objetivos: contribuir com as pesquisas sobre imagem corporal, verificar se a percepção da
imagem corporal de mulheres com depressão e uso de antidepressivos apresenta alteração/distorção, se
estão satisfeitas com a imagem corporal, avaliar o percentual de obesos/sobrepeso, verificar hábitos de vida
que contribuem para o aumento de peso, comparar com pessoas que não fazem uso de antidepressivos.
Método: Participaram do estudo trinta mulheres de 21 a 53 anos em tratamento com antidepressivos em
CAPs III (Centro de Atenção Psicossocial) e trinta mulheres de 21 a 60 anos que não realizam tratamento,
funcionárias de um CAIS (Centro de Atenção Integral à Saúde) de uma cidade do interior de São Paulo.
Responderam uma entrevista de caracterização da amostra e hábitos de vida em relação à prática de atividade
física, controle alimentar e mudanças corporais. Responderam um questionário de forma corporal (BSQ) que
apresenta 34 questões autoaplicáveis. Preencheram uma escala de figuras (FRS) que apresenta nove figuras
de imagens corporais (1 baixo peso; 2-5 eutrofia; 6-7 sobrepeso; 8-9 obesidade), a participante escolhe uma
figura que acredita representar a si mesma (EU) e uma figura que representa o que gostaria de ser (IDEAL).
Resultados: Os relatos das entrevistas revelaram que há uma tendência em não praticar atividades físicas,
relataram fazer algum tipo de dieta ao longo da vida. O principal método de controle de peso é a restrição
alimentar. Não fariam intervenção cirúrgica para produzir mudanças corporais por falta de dinheiro e medo de
cirurgia. A responsabilidade pelo seu peso é maior no grupo de comparação. Gostariam de mudar em primeiro
lugar a barriga, em segundo nádegas e em terceiro os seios. A construção da sua imagem corporal foi
influenciada pela família, seguida da mídia e das amigas. A família foi mais significativa para o grupo com
depressão assim como a mídia e amigas o foram para o grupo de comparação. Ambos os grupos acreditam
que o peso é influenciado pela genética, alimentação, exercícios físicos e medicação com médias muito
próximas, com exceção no item medicação que recebeu média maior pelo grupo de depressivas. As doenças
clínicas relatadas pelo grupo de depressivas foram: hipertensão, diabetes, hipotireodismo, altas taxas de
colesterol e hiperlipidemia. Doenças clínicas do grupo comparação foram hipertensão e vascular, com menor
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 27
freqüência nesse grupo. Conclusão: Os dois grupos apresentam considerável insatisfação com a imagem
corporal, enquanto a distorção da imagem corporal foi maior no grupo de pacientes depressivas. Embora não
utilizem medicamentos antidepressivos o grupo de comparação apresentou alto índice de obesidade/sobrepeso
sendo considerado grupo de risco para depressão e outras doenças clínicas associadas à obesidade.
Palavras-chave: percepção, imagem corporal, depressão, mulheres.
TL3-2 ANOREXIA NERVOSA: RELAÇÕES ENTRE DISTORÇÃO DA
IMAGEM CORPORAL E ATITUDES ALIMENTARES
Carolina Leonidas1,3, Manoel Antônio dos Santos2,3
Universidade de Ribeirão Preto - UNAERP
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo
3
Grupo de Assistência em Transtornos Alimentares - GRATA - do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo - HC-FMRP-USP
Agência de Fomento: FAPESP
1
2
Introdução: A distorção da imagem corporal é dos principais critérios diagnósticos da anorexia nervosa (AN),
juntamente com a recusa sistemática à ingestão de alimentos, com o medo intenso de ganhar peso e com a
recusa do indivíduo a manter um peso corporal na faixa normal mínima adequada à sua idade e altura. A
ocorrência da AN se deve a uma combinação de fatores intrínsecos e extrínsecos ao indivíduo, que dão
origem, precipitam e mantém o quadro, alterando vários aspectos da vida do indivíduo comprometido. Acreditase que esses fatores causem uma intensificação na distorção da imagem corporal e levem ao desenvolvimento
de hábitos alimentares disfuncionais que, dependendo do grau em que ocorrem, podem manter ou agravar o
quadro. Objetivos: O presente estudo tem como objetivo avaliar a imagem corporal e as atitudes alimentares
de pacientes com diagnóstico de AN. Método: Foram investigadas 14 mulheres jovens e adultas com
diagnóstico de AN, vinculadas ao GRATA do HCFMRP-USP. Para a avaliação da imagem corporal foi utilizado
o questionário BSQ - Body Shape Questionnaire, e para a avaliação das atitudes alimentares foi utilizado o
teste EAT-26 – Eating Attitudes Test. A análise dos instrumentos foi realizada através da soma dos escores de
cada um e, com base na literatura específica, verificaram-se os escores que indicavam distorção de imagem
corporal e atitudes alimentares disfuncionais e o grau em que isso ocorre em cada participante. Resultados:
Ao avaliar o grau de distorção de imagem corporal das participantes, percebeu-se que nove participantes
apresentaram distorção grave da imagem corporal, uma apresentou distorção moderada, duas apresentaram
distorção leve e duas se apresentaram sem distorção. Quanto às atitudes alimentares, quatro participantes
apresentaram atitudes alimentares compatíveis com a normalidade e dez participantes exibiram atitudes
disfuncionais. As participantes cujo transtorno alimentar encontrava-se em uma fase grave apresentaram as
maiores pontuações no BSQ e atitudes alimentares disfuncionais, com duas exceções: um das participantes
encontrava-se em processo de recuperação do quadro de AN e, no entanto, apresentou grave distorção da
imagem corporal e atitudes alimentares disfuncionais; a outra participante apresentou um quadro grave de
AN e severa distorção da imagem corporal, porém obteve uma pontuação compatível com a normalidade no
EAT-26. Conclusões: Todas as participantes que apresentam um quadro de AN grave apresentaram altas
pontuações no BSQ, indicando severa distorção. Esse resultado permite compreender porque pacientes com
AN percebem seu próprio peso corporal muito acima do real, o que gera profunda insatisfação com suas
dimensões corporais. Desse modo, a preocupação excessiva com o peso e a forma física está estreitamente
relacionada com essa distorção da imagem corporal. Na tentativa de mitigar o sofrimento resultante, as
pacientes buscam meios radicais de compensar o presumível ganho de peso, que se caracterizam pela
restrição e/ou purgação alimentar, ou seja, por atitudes alimentares disfuncionais. Essas atitudes podem ser
apreendidas a partir dos resultados do EAT-26. Em suma, a distorção grave da imagem corporal parece
intensificar o quadro de alterações dos hábitos alimentares saudáveis, comprometendo severamente os
esforços envidados pelo tratamento, o que impõe sérios desafios para a equipe multidisciplinar.
Palavras-chave: anorexia nervosa, imagem corporal, hábitos alimentares.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 28
TL3-3 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA DO PACIENTE CANDIDATO À CIRURGIA
BARIÁTRICA: COMPREENSÃO E INTERVENÇÃO
Fernanda Montero Landeiro, Juliana Susin Castro
Núcleo de Obesidade e Cirurgia Bariátrica do
Hospital Espanhol- Salvador/ Bahia
Introdução: O processo psicodiagnóstico ou de avaliação psicológica é um processo que visa conhecer o
paciente e apreender os aspectos principais da sua personalidade, para, a partir daí, construir uma hipótese
diagnóstica e uma intervenção. Para atingir estes objetivos, o psicólogo utiliza técnicas específicas. A tarefa
do psicólogo consiste em integrar todos os dados para explicar a dinâmica, buscando relações entre esses
dados e a compreensão dos aspectos adaptativos e patológicos da pessoa, que deve ser vista como um
sujeito. No caso dos pacientes candidatos à cirurgia bariátrica, a avaliação psicológica é extremamente
importante, visto que a cirurgia promove mudanças muito significativas num curto espaço de tempo, sobretudo
no que diz respeito à imagem corporal. Objetivos: O objetivo deste trabalho é compreender a dinâmica
psíquica do paciente obeso e de que forma este paciente percebe sua imagem corporal. Esse trabalho visa
também identificar se este paciente tem indicação diagnóstica de transtorno alimentar e/ou compulsão alimentar
periódica. Métodos: Este estudo foi realizado em um núcleo de cirurgia bariátrica em Salvador (Bahia).
Participaram do estudo 150 pacientes candidatos à cirurgia e todos foram submetidos à, pelo menos uma
entrevista clínica e responderam a três questionários: o Eating Attitud Test (EAT), o Body Shape Questionnaire
(BSQ) e a Escala de Compulsão Alimentar Periódica (ECAP). Estes mesmos pacientes foram submetidos à
técnica projetiva da Casa-Àrvore-Pessoa (HTP). Resultados: Dentre os pacientes pesquisados, 76,3% são
do sexo feminino e 23,6% do sexo masculino. A maioria tem idade variando entre 21 e 30 anos (41,9%). Com
relação ao IMC, a maioria dos pacientes (40,9%) tem obesidade grau II (IMC entre 35 e 40) e 36,6% dos
pacientes apresentam obesidade grau III (IMC acima de 40). Quanto à indicação diagnóstica de transtorno
alimentar, 22,6% apresentam indicação. 19,4% apresentam uma leve distorção da imagem corporal, 21,5%
apresentam distorção moderada e a maioria (41,9%) apresenta grave distorção da imagem corporal. Com
relação à indicação de compulsão alimentar, 25,8% apresentam compulsão moderada e 15% apresentam
compulsão alimentar periódica grave. No que diz respeito ao instrumento projetivo (HTP) os pacientes
apresentaram traços de imaturidade, impulsividade, insegurança, agressividade, necessidade de gratificação
imediata, ansiedade, satisfação na fantasia, retraimento, preocupações sexuais e sentimentos de rejeição.
Conclusões: Fica claro que os pacientes obesos pesquisados têm dificuldade de lidar com sentimentos de
rejeição, sendo que, para evitá-los, se detêm às necessidades dos outros em detrimento de suas próprias.
Apresentam grande dificuldade em colocar limites e usam a comida como elemento substitutivo. A relação
com o ambiente é insatisfatória, prevalecendo a sensação de suscetibilidade e dependência, por isso o alimento
se torna um poderoso aliado, porque fornece gratificação imediata. A partir do instrumento projetivo fica claro
que esses pacientes apresentam dificuldades com a sexualidade, o que pode estar relacionado à distorção
acentuada da imagem corporal presente na maioria dos pacientes. Ao longo do processo de avaliação ficou
claro o nível de sofrimento desses pacientes em relação à obesidade; existem inúmeras sequelas físicas e
psíquicas que impedem uma qualidade de vida melhor.
Palavras-chave: Avaliação Psicológica, Cirurgia Bariátrica.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 29
TL3-4 EMAGRECER OU SER EMAGRECIDO? RESPONSABILIDADE DO
SUJEITO E DEMANDA DIRIGIDA À CIÊNCIA
Anna Claudia Queiroz, Rosangela Araújo, Ana Rita Azevedo, Maria Lúcia Rebello,
Lorena Lins, Irtes Ferreira, Andrea Pinchelli, Bruna Oneda, Patricia Pinchelli,Juliana Sales,
Catarina Harmbacher, Elaine Azevedo, Michele Pereira De Lima, Ana Lúcia Villaron,
Marco Pinheiro, Ana Silvia Pacheco Rosa, Roberto Kikko, Moacir Fernandes
GESTO-Grupo Especializado no Tratamento da Obesidade
UNIMED - São José dos Campos/SP
NAIS - Núcleo de Atenção Integral à Saúde
Introdução: Um hábito é constituído por premissas e inferências, fundamentando uma crença. As crenças
são elementos que norteiam os desejos e a ação do ser humano. Quando há dúvidas relativas às crenças,
freqüentemente desencadeia angústia, mobilizando o sujeito a estabelecer uma nova rede de crenças. A
obesidade se caracteriza pelo excesso de gordura corporal, e se desenvolve a partir de hábitos inadequados
relativos à alimentação e aos cuidados corporais. Freqüentemente o paciente obeso deseja realizar mudanças
de hábitos visando o emagrecimento, porém não apresenta recursos internos para sua realização. O tratamento
no GESTO-Grupo Especializado no Tratamento da Obesidade - visa instaurar dúvidas relativas aos hábitos
vigentes do obeso, com relação à comida e ao corpo, responsáveis pelo excesso de peso. Posteriormente se
oferece uma nova rede de informações, visando fixar novas crenças. Porém, as informações apresentadas
são elaboradas pelo sujeito, respeitando sua singularidade, viabilizando ocorrer uma mudança subjetiva frente
ao sintoma obesidade e a resignificar os hábitos relacionados à alimentação e a corporalidade. Objetivo:
Este trabalho tem por objetivo apresentar uma forma de tratamento para a obesidade, realizado por uma
equipe multiprofissional, com a finalidade de possibilitar o sujeito a realizar mudanças dos hábitos relacionado
a alimentação e ao corpo. Métodos: Análise quantitativa e qualitativa dos atendimentos realizados no período
de Abril a Dezembro de 2008, na Unimed de São José dos Campos, em 174 pacientes, com o IMC maior que
35, para tratamento clínico e cirúrgico da obesidade, ou que já se submeteram a cirurgia bariátrica. Resultados:
Da população atendida, 19% eram do gênero masculino e 81% feminino. Observou-se, no decorrer dos
atendimentos, um contraste nos resultados entre os pacientes candidatos à cirurgia bariátrica e os que estão
realizando o tratamento clínico da obesidade. Nos pacientes que esperam a realização da gastroplastia não
houve um emagrecimento significativo, enquanto entre os pacientes do tratamento clínico ocorreu uma média
de perda de peso por período (tempo do programa) de 3,62 kg. A partir da percepção da perda de peso, e no
relato dos pacientes nas entrevistas com a equipe multiprofixssional, constatou-se diferentes posturas visando
o emagrecimento. O grupo do tratamento clínico da obesidade aderiu às orientações do programa, mesmo
que inserir os novos hábitos tenha sido gradativo. Os candidatos à gastroplastia apresentaram resistência,
solicitando constantemente a intervenção cirúrgica imediata. A crença que a única forma de emagrecer é
através da cirurgia bariátrica é evidente. Conclusão: No tratamento visando uma mudança de hábitos
alimentares e dos cuidados corporais, juntamente com a intervenção na dinâmica psíquica, tendo como um
dos objetivos a perda de peso, os resultados se diferenciaram, dependendo da crença do paciente com
relação a possíveis estratégias de emagrecimento, como a opção pela cirurgia bariátrica Conseqüentemente,
é relevante no decorrer dos atendimentos pela equipe multiprofissional, enfatizar a importância das mudanças
de hábitos, independente se o tratamento da obesidade for clínico ou cirúrgico, auxiliando o obeso na construção
de uma nova rede de crenças relativa a alimentação e aos cuidados corporais, possibilitando uma melhora na
qualidade de vida.
Palavras-Chave: Implicação subjetiva, Crenças, Obesidade, Psicanálise, Resultados.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 30
TL3-5 O CASO LUNA E A CIRURGIA BARIÁTRICA: CAMINHO PARA A FELICIDADE
OU UM DESVIO DE GOZO?
Bianca Wierman, Cláudia Figaro-Garcia, Débora C. G. de Oliveira,
Eliane C. Dias, Karen de Toledo, Leandro V. Nunes, Maralúcia Bueno,
Mary Ellen D. Barbosa,Niraldo de O. Santos, Sara S. Casimiro
Núcleo de pesquisas: Psicanálise e Medicina.
Clínica Lacaniana de Atendimento e Pesquisas
em Psicanálise (CLIPP), São Paulo
Introdução: Na cultura contemporânea, entre as manifestações sintomáticas incidentes sobre o corpo, destacase a assim chamada “epidemia de obesidade”, com seus graves e crescentes índices de comorbidades e
mortalidade. No esforço de enfrentamento dessa realidade, a cirurgia bariátrica é uma intervenção possível e
eficaz do ponto de vista orgânico. No entanto, estudos identificam que é na esfera psíquica que residem
ainda os maiores riscos para os pacientes, apontando para a existência de uma dimensão do problema que
escapa ao saber científico e aos procedimentos tecnológicos. Método: O presente trabalho se utiliza do
método clínico da psicanálise e parte da construção de um caso clínico, de uma paciente de 32 anos, que
além do histórico de obesidade mórbida, apresentava vários diagnósticos associados – hipertensão arterial,
dislipidemia, hérnias discais, desmaios que culminavam com torções, fraturas e machucados -, bem como
uma grave limitação da vida social, produtiva e afetiva. A indicação de cirurgia bariátrica foi recebida como um
passaporte para a felicidade e para a liberdade. No entanto, complicações no pós-operatório exigiram quatro
novas intervenções cirúrgicas, colocando a paciente em sério risco de vida e configuram o ponto de partida
para uma série de outros sintomas – anorexia, compulsividade por compras, excessiva dependência dos
familiares e um estado emocional de desamparo e falta de motivação para viver que a levam a expor claramente
seu desejo de “destruir-se” e “desistir da vida”, num risco evidente de passagem ao ato. Resultados: Na
discussão do desenvolvimento desse tratamento analítico, ancorados na perspectiva clínica sugerida pela
psicanálise lacaniana, levantamos a hipótese de que esses acontecimentos de corpo apontam para um sujeito
que, na impossibilidade de posicionar-se frente ao Outro, encontra no sintoma de “fazer-se um corpo submetido
à degradação” a forma de fazer-se existir para o Outro. Ao longo do tratamento, na fala da paciente dois
significantes se destacam – “desaparecer” e “excesso” – articulando o que parece ser a certeza desse sujeito
– se não for pelo excesso, ela desaparece, morre como sujeito. Isso se repete na análise, sob transferência.
A cada movimento na direção de posicionar-se como sujeito, na impossibilidade de sustentar-se como ser de
desejo, a paciente recua ao ponto de fixação sintomática, “quebrando-se” no corpo. Essa posição de gozo
parece estar relacionada ao seu lugar na dinâmica familiar, enquanto “corpo dejeto” a ser cuidado, que dá
sentido ao cotidiano dos pais. Constatamos que o dispositivo de fala da análise tem permitido à paciente a
construção de limites e contornos a esse gozo invasivo, permitindo-lhe o movimento e um maior posicionamento
no mundo, sustentando a abertura à separação e a uma maior responsabilização pelo seu desejo.
Palavras-chave: Obesidade mórbida, Cirurgia bariátrica, Psicanálise, Gozo.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 31
SESSÃO DE TEMAS LIVRES 4
TL4-1 SOBRE UM MÉTODO PSICANALÍTICO PARA ANÁLISE DOS EFEITOS DO TRATAMENTO
OFERTADO EM UM SERVIÇO DE PSICANÁLISE
Claudia Maria de Sousa Palma
UNICAMP - Laboratório de Psicopatologia Fundamental
UFSM - Universidade Federal de Santa Maria
Introdução: A questão que nos motiva considera três realidades: a notória utilização da psicanálise na
abordagem ao sofrimento psíquico, nas esferas públicas de saúde; as especificidades do âmbito institucional,
as quais demandam novos dispositivos ao exercício da clínica; e a dificuldade ou, para alguns, impossibilidade
de se evidenciar os resultados de um tratamento, já que esses tangenciam o mais particular de cada um,
muitas vezes inominável. A partir disso, nosso interesse: a ampla difusão da clínica em contextos distintos de
sua criação original inscreve-se como um fazer analítico a partir da consideração dos efeitos do tratamento?
Objetivo: Propomos um método psicanalítico para a análise dos efeitos do tratamento ofertado no Serviço de
Psicanálise do H.C-UNICAMP; um método operante em dois níveis: um primeiro onde o acento se coloca no
caso único, e um segundo onde, através das regularidades clínicas recortadas no caso a caso, possamos
uma formalização mais ampla do que se pode efetuar com essa modalidade de tratamento. Método:
Considerando a invenção freudiana –associação livre sob transferência- de tratamento ao mal-estar, como
também a utilização que o mesmo autor faz do xadrez como analogia às possibilidades de demonstração da
prática, propomos entrevistas realizadas nos momentos iniciais e finais ao tratamento, onde a especificidade
da experiência psicanalítica –relação do sujeito com a linguagem- esteja guardada. Nossos dados traduzem
a experiência de doze pacientes, no período de um ano, e foram assim obtidos: 1a fase: transcrição das
entrevistas inicial e final de cada paciente; 2a: marcação, nos trechos transcritos, das produções indicativas
da posição do sujeito no discurso; 3a: marcação da presença ou não de efeitos analíticos -mudança de
posição subjetiva- e de efeitos terapêuticos- ganhos adaptativos-; 4a: elaboração de categorias, a partir da
presença de regularidades clínicas qualificadoras dos efeitos. A análise considerou não o conteúdo da fala
propriamente, ou a significação veiculada por uma intervenção efetivada pelo tratamento, mas os efeitos –
analíticos e/ou terapêuticos- que essas produziram no próprio discurso e na vida. Assim, nossa atenção
ocupou-se do “ato” da narração num antes e depois do tratamento, assentando-se na dimensão ética do
sujeito frente às questões de sua existência. Resultados: Retomando a indicação de Lacan - de onde esperar
– construímos 3 categorias (por exemplo, de um lugar queixante) que traduzem o lugar dos sujeitos, e 4 subcategorias que o especificam (por exemplo, sobre a categoria descrita acima, uma subcategoria é incidências
sobre a necessidade : presença de efeitos terapêuticos). Conclusão: Nosso interesse com a análise dos
casos foi destacar a presença de um dizer revelador de uma questão pulsional e que, também, pudesse
indicar uma orientação, considerando à direção do tratamento psicanalítico. O método que propomos nesse
estudo permitiu refletir sobre os dispositivos criados à oferta de um tratamento psicanalítico no âmbito público
destacando-se, no Serviço estudado, à importância de se avaliar os dispositivos de entrada para profissional
e paciente, bem como situar limites e alcances da clínica psicanalítica considerando o lugar do paciente no
momento de oferta do tratamento.
Palavras-chave: psicanálise em hospital geral; tratamento psicanalítico, avaliação qualitativa.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 32
TL4-2 A RELAÇÃO DA SINTOMATOLOGIA DEPRESSIVA E A PERCEPÇÃO DA DEPRESSÃO: UM
ESTUDO EM MILITARES DO EXÉRCITO BRASILEIRO
Danyelle Monte Fernandes da Costa, Patrícia Diniz Santana
Hospital de Guarnição de João Pessoa
Introdução: A depressão é uma patologia que pode acometer qualquer pessoa independente da idade, gênero,
escolaridade, raça e outras diferenças, no entanto sabe-se que a representação da mesma pode diferenciar-se
entre os grupos, pois, enquanto construção social cada grupo tem suas particularidades. A depressão apresenta
sintomas como: rebaixamento do humor, redução da energia, diminuição da atividade, alterações da capacidade
de experimentar o prazer, perda de interesse, diminuição da capacidade de concentração, problemas do sono e
diminuição do apetite. Diante desse quadro, a depressão afeta o indivíduo nas suas funções profissionais,
influenciando no seu rendimento laborativo. Objetivo: Comparar as representações sociais de militares sobre a
depressão, com sintomatologia depressiva e sem sintomatologia. Método: A amostra foi composta por 20 militares
da Guarnição de João Pessoa, sendo 10 militares que apresentam sintomatologia depressiva e 10 militares sem
sintomatologia depressiva, com idade entre 20 e 52 anos, todos do sexo masculino, se faz necessário esclarecer
que os Oficias são os militares que ocupam os postos de Tenente, Capitão, Major, Tenente-Coronel, Coronel e
General, isto significando que hierarquicamente, são superiores aos Praças (soldados, cabos, sargentos e
subtenentes) de acordo com a formação militar. A pesquisa foi realizada em 03 organizações militares. O Instrumento
utilizado foi um questionário com questões abertas sobre a depressão (significado, causas, tratamento e dados
sócio-demográficos) e o Inventário de Beck. Utilizou-se a técnica de análise dos conteúdos de Bardin na avaliação
do questionário e no Inventário de Beck foi utilizado o ponto de corte, considerado acima de 16 pontos. Resultados:
Os militares com sintomatologia, representaram a depressão como uma doença que gera mal estar e insatisfação,
e ter depressão para eles significa estar desmotivado, angustiado e com alterações no humor, acreditam que as
causas são basicamente oriundas de problemas financeiros, problemas pessoais e relacionadas à perdas, estes
descrevem uma pessoa depressiva aquela que não tem vontade de viver, desanimada, triste e sem coragem, no
entanto, acreditam na cura da doença se existir um acompanhamento psicológico e psiquiátrico. Os militares sem
sintomatologia, representaram a depressão como uma doença que gera desmotivação e desequilíbrio, acreditam
que as causas são basicamente oriundas de problemas de forma geral e falta de objetivos, estes descrevem uma
pessoa depressiva como aquela que é introspectiva, nervosa, triste e desmotivada, no entanto, acreditam na cura
da doença se existir apoio familiar e uso de medicamentos. Conclusão: conclui-se que, não houve diferença
significativa nas representações sociais sobre a depressão nos dois grupos, no entanto, verificou-se que os sujeitos
que apresentaram sintomatologia representaram a doença de forma mais profunda e detalhada, nas causas e
sintomas da mesma. O que é esperado, pela condição de estar vivenciando as implicações da própria doença.
Palavras-chave: depressão, militares, exército.
TL4-3 GRUPO DE ALTA: ELEMENTO DE ENQUADRE NO ATENDIMENTO AMBULATORIAL DE
PACIENTES QUE APRESENTAM TRANSTORNOS DE ANSIEDADE E DEPRESSÃO
Eliana de Jesus da Costa de Souza, Janari da Silva Pedroso,
Rose Daise Melo do Nascimento, Girlany Barbosa Tavares,
Marco Aurélio Valle de Moraes.
Universidade Federal do Pará - Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza
Introdução: O AMBAD trata-se de um programa de extensão que utiliza técnicas de psicoterapia com base
psicanalítica grupal e individual, psicofarmacoterapia, psicoeducação na perspectiva de um atendimento
humanizado que considera as influências culturais do contexto amazônida. A partir desta perspectiva,
desenvolve práticas adaptadas a essa realidade e estimula a participação do paciente em todo o processo de
atendimento com vista na qualidade de vida do mesmo. Com isto a fase final do tratamento no AMBAD é
denominada Grupo de Alta. No mesmo é trabalhado o desligamento do paciente, não é realizado através do
modelo clínico individual, e sim através de um modelo grupal. Segundo a literatura consultada a utilização do
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 33
conceito de alta não está necessariamente vinculada à reestruturação global da personalidade em níveis da
dinâmica do inconsciente e nem a melhora completa do paciente ou simples remissão dos sintomas. O que é
levado em consideração no momento de desligamento do paciente é o fortalecimento dos mecanismos egóicos
que darão sustentação ao processo de autonomia trabalhada durante o tratamento. Objetivo: Este trabalho
teve como objetivo analisar as diversas falas dos pacientes e investigar os fenômenos apresentados nos
grupos com o intuito de caracterizar o Grupo de Alta como elemento de enquadre no atendimento ambulatorial
institucional de transtornos de ansiedade e depressão. Metodologia: O método utilizado foi o qualitativo de
análise de categorias temáticas, criadas a partir dos discursos dos pacientes nos grupos de alta realizados no
período Dezembro de 2005 a Junho de 2007. Resultados: Entre os achados desta pesquisa, que podem ser
observados na dinâmica grupal destes pacientes no contexto da alta, tem-se: através do grupo o paciente
pôde reviver toda a sua trajetória até chegar ao programa; colocação dos pacientes a cerca dos meios que
utilizaram para enfrentar a crise e sentimentos vivenciados no momento da alta como, perda, raiva, abandono,
aceitação, alívio e gratidão. Conclusões: Tais resultados permitiram entender que o potencial terapêutico
dos grupos proporciona uma importante ferramenta de atuação no desligamento dos pacientes para a
compreensão do processo de alta do atendimento.
Palavras chave: grupo de alta; atendimento humanizado; ansiedade; depressão.
TL4-4 ÉTICA DA PSICANÁLISE E ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO: UM RELATO DE CASO
Daniela de Souza Higa1, Andrea Maria Mendes Cembranelli 2,
Letícia Antunes Dias Cintra 3
1. Psicóloga do Instituto Kora, Clínica Psicoblue – Psicologia e
Fonoaudiologia e Acompanhante Terapêutica.
2. Psicóloga clínica, Aprimoramento multiprofissional em saúde mental
no CAPS Itapeva (Centro de Atenção Psicossocial Professor
Luís da Rocha Cerqueira) e Acompanhante Terapêutica
3. Psicóloga da Associação S.A.B.E.R. – Saúde, Amor, Bem-Estar e
Responsabilidade, PROESQ – Programa de Esquizofrenia da
UNIFESP e Acompanhante Terapêutica
Introdução: O Acompanhamento Terapêutico (AT) é uma estratégia de intervenção caracterizada pela
mobilidade do terapeuta no encontro com o paciente. Seu início remonta ao final da década de 60, na Argentina,
com trabalhos similares em Porto Alegre, Rio de Janeiro e em São Paulo, tendo a psicanálise como referencial
teórico. Assim, o AT é uma estratégia de intervenção clínica sendo a Psicanálise, ainda hoje, um possível
norteador teórico para essa prática. Mesmo nesta modalidade diferenciada de atendimento, a ética da
psicanálise, caracterizada pela escuta, observação e descoberta do inconsciente, assim como pela expressão
do sujeito, se mantém. Autores da psicanálise argumentam que o que define a postura analítica é, além disso,
a disponibilidade ao contato vívido, afetivo e intelectual com o paciente, somados à capacidade de insistir,
suportar e sustentar seu processo de cura, o que também se faz presente no AT. Objetivo: Ilustrar por meio
do relato de um caso clínico como a postura ética da psicanálise pode oferecer subsídio ao manejo clínico em
AT. Método: Relato de caso. Kamille (nome fictício), 42 anos, caucasiana, pertencente à classe média alta,
filha caçula de uma prole de três irmãs e de pais falecidos, sem atividade ocupacional remunerada e rotina
estruturada. Atualmente reside com Alma (nome fictício), irmã três anos mais velha. Em 2007, começa a
freqüentar um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e após um mês, abandona o tratamento depois de
uma desavença com um profissional da unidade. Ainda nesse mesmo ano, inicia acompanhamento psicológico
particular, sendo esta sua única rotina semanal. A paciente apresenta crises de raiva, agressividade física e
verbal contra a irmã, passa longos períodos em sua residência sozinha, chorando, sem motivação para
atividades sendo freqüentemente internada por ideação suicida. O encaminhamento para o acompanhante
terapêutico (at) é feito em início de 2008 com a proposta de reatar novamente o vínculo da paciente com o
CAPS e manter os projetos terapêuticos nessa unidade de saúde mental. Resultados: Desde o início dos
atendimentos, a at percebe nas ações e falas de Kamille, que esta vivencia um grande sofrimento psíquico,
um sentimento de insatisfação permanente, além de uma dificuldade em suportar a frustração de seus desejos.
Após quatro meses de atendimento, é demitida de um trabalho voluntário realizado em um hospital. Nessa
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 34
mesma época, a at interdita um impulso auto-destrutivo da paciente e esta, então, comunica-a que não
deseja continuar os acompanhamentos. Por compreender que a paciente estava repetindo com ela o que
havia vivenciado em seu trabalho voluntário, a at opta por manter o tratamento, oferecendo espaços de
escuta com a irmã e respeitando a necessidade de distância imposta por Kamille. Este período de ausência
da at, no qual suporta a angústia contratransferencial, possibilita o retorno dos atendimentos e a implicação
da paciente no seu próprio tratamento. Conclusão: A postura ética da psicanálise pode oferecer subsídio ao
manejo clínico em AT.
Palavras-chave: Ética da Psicanálise, Acompanhamento Terapêutico, Manejo.
TL4-5 FATORES ASSOCIADOS À REINTERNAÇÃO PSIQUIÁTRICA
Vanessa Machado, Manoel Antônio dos Santos
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de
Ribeirão Preto; Universidade de São Paulo
Introdução: A partir da década de 90 foi oficializada a Reforma Psiquiátrica no Brasil, à medida que entraram
em vigor as primeiras normas federais que regulamentam a implantação de serviços de atenção diária em
substituição ao modelo asilar. Todavia, ainda são verificados alguns desafios, especialmente no que se refere
à alta taxa de reinternações psiquiátricas, indicador que tem sido utilizado na avaliação da eficiência dos
serviços de saúde mental. Especificamente no hospital onde esta pesquisa foi desenvolvida, constatou-se
que a taxa média de reinternações é de 60%, o que tem levado à cronicidade da doença, comprometimento
das habilidades interpessoais e à exclusão social do usuário. Objetivo: Assim, este estudo objetivou analisar
os fatores associados às reinternações psiquiátricas em um hospital público do estado de São Paulo. Método:
Como estratégia metodológica adotou-se um enfoque de pesquisa qualitativa. Foram aplicadas entrevistas
semi-estruturadas a seis pacientes reinternantes, sendo três homens e três mulheres, com o número de
internações variando entre 6 e 45 internações. Resultados: A partir da análise temática das entrevistas,
foram levantados alguns fatores que, segundo o ponto de vista dos entrevistados, podem ser associados à
reinternação psiquiátrica, são eles: baixa resolutividade dos serviços ambulatoriais, vistos como inadequados
ou insuficientes à necessidade dos usuários, entre eles o atendimento exclusivamente médico, a demora
entre os retornos e a carência de uma escuta acolhedora; interrupção da manutenção da medicação, motivada
pelos efeitos colaterais ou pela dificuldade em aceitar a doença; noção de que o hospital oferece uma proteção
subjetiva, onde encontram apoio e segurança contra os próprios impulsos auto e heteroagressivos, além de
uma proteção social, ofertando uma rede de relações com outros pacientes e funcionários; ausência de
recursos comunitários e sociais que ofereçam atividades de lazer e laboral, evitando a ociosidade e o
isolamento; insuficiência de suporte familiar, ainda que esta exista. Conclusão: Os dados encontrados
confirmam que a efetivação da Reforma Psiquiátrica está condicionada à necessidade de investimento na
implantação de uma resolutiva rede de serviços substitutiva ao modelo hospitalar, articulada com os
seguimentos sociais e de geração de renda, orientada por um verdadeiro trabalho em equipe e uma visão
ampliada da clínica. Esta pesquisa recebeu auxílio financeiro do Programa de Políticas Públicas da FAPESP
(processo nº 2006/51738-6).
Palavras-chave: políticas públicas, saúde mental,reinternação psiquiátrica.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 35
SESSÃO DE PÔSTERES
PDIP01 a PDIP16 – Pôsteres DIP/ICHC e CEPSIC
PDIP01 - OS FILHOS DA CIÊNCIA: ENTRE “SER MÃE” E “TER FILHOS”. CONSIDERAÇÕES
SOBRE DIFICULDADES EM MULHERES EM PROGRAMA DE REPRODUÇÃO ASSISTIDA
Melina Lólia de Angelo , Maria Lívia Tourinho Moretto, Mara Cristina S. de Lucia
Centro de Estudos de Psicologia da Saúde da Divisão de Psicologia
do Instituto Central do Hospital das Clínicas da FMUSP
Introdução: Este trabalho decorre dos questionamentos que se fizeram possíveis a partir da assistência
psicológica de orientação psicanalítica prestada a mulheres em Programa de Reprodução Assistida (RA).
Tendo em vista a expectativa das pacientes nas filas de espera do Programa e a insistência no pedido dirigido
à Medicina no sentido de possibilitarem a elas ser mãe, frequentemente os encaminhamentos ao psicólogo
neste Programa se dão em função da ansiedade das pacientes por não conseguirem engravidar. Nas diversas
possibilidades, as relações sexuais foram substituídas pela intervenção médica, ou ainda, “assistidas” por
intervenções médicas, na medida que devem ser agendadas e controladas por procedimentos e medicamentos.
Objetivo: Sistematizar e formalizar os achados clínicos relevantes e estabelecer a diferença conceitual entre
ser mãe, segundo a Biologia, e ser mãe para a Psicanálise. Método: Entrevistas clínicas com mulheres que
tinham indicação para tratamento médico a técnica de inseminação artificial (IA) e fertilização in vitro (FIV).
Resultado: A experiência clínica com mulheres ditas inférteis, nesse Centro de Reprodução Assistida, indica
que a demanda pela gestação pode não corresponder, necessariamente, à demanda de ser mãe, ou seja, se
é verdade que a cada parto nasce uma criança, não é verdade que a cada parto nasce uma mãe. Conclusão:
ser mãe é ocupar um lugar psíquico, ainda que a gestação possa ser crucial para a construção da função
materna; a impossibilidade de ser mãe pode estar relacionada com a dificuldade de ter filhos; tratar da
infertilidade não é o mesmo que tratar de outras impossibilidades e que a atenção a elementos inconscientes
diminui o risco do nascimento dos filhos da Ciência.
Palavras-chave: tecnologia reprodutiva, maternidade, psicologia, psicanálise, infertilidade.
PDIP02- REPRESENTAÇÃO PSICOSSOCIAL DA MATERNIDADE DE MULHERES
DE UM PROGRAMA DE FERTILIZAÇÃO IN VITRO
Keith Laura Miranda, Arlete Modelli
Divisão e Clínica Ginecológica do Instituto Central do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Introdução: Fenômenos sócio-culturais, seja no campo do senso-comum ou da ciência, vêm contribuindo
com a construção da representação social da maternidade ao longo da história. Estas, que servem para
tentar administrar as questões do cotidiano, se conjugam com a subjetividade dos sujeitos, que de maneira
singular, buscam lidar com sua falta-a-ser. Para as pacientes desse estudo a problemática da falta-a-ser se
remeteu a “falta-a-ter” de um filho. Objetivos: Investigar e comparar a representação psicossocial da
maternidade e suas repercussões em mulheres sem filhos e mulheres com filhos, identificando os pontos
mais relevantes apresentados pelas pacientes. Método: Foram convidadas pacientes da fila de espera da
Fertilização in vitro do Centro de Reprodução Humana da Clínica Ginecológica do ICHC-FMUSP. A amostra
foi constituída por 10 mulheres sem filhos e 10 mulheres com filhos. A idade variou de 20 a 30 anos. Foi
utilizado como instrumento entrevista semi-dirigida com questões que abarcavam a maternidade e a
representação do filho. Os resultados foram analisados segundo os referenciais da Psicologia Social e
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 36
Psicanálise. Resultados e conclusões: Durante a análise dos dados foi considerado, além da representação
social, o que se refere ao sujeito individual. Houve importante repetição nas associações no discurso das
mulheres do mesmo grupo, bem como uma curiosa semelhança na representação para os dois grupos. Ficou
claro que embora partam de experiências diferentes, ter ou não filhos, compartilham da mesma representação
social, a qual é uma visão romântica, idealizada e mítica que vem acompanhada com o discurso da naturalização
da maternidade, sendo que a impossibilidade de assumir esse lugar caracterizaria uma incompletude, que
também se remete a questão da falta-a-ser. Ou seja: ter ou não ter = uma mesma questão! Seja socialmente
e/ou psiquicamente. É uma questão que se subdivide: de estar preso numa espécie de clichê de mãe e
maternidade, numa construção romântica ideológica. É a questão da procura incessante da plenitude por
meio da onipotência de um objeto perfeito que satisfaz toda a falta,a busca do objeto perdido que inexiste,
tentando responder a pergunta: “Quem sou eu?” Para as pacientes seria indicado um acompanhamento
psicoterápico para lhes propriciar um espaço de reflexão que pudesse auxiliá-las encontrar outras alternativas
para trabalhar sua angústia, circulando por diversos papéis em sua vida, indo além do ser mãe. Verificou-se
que a maternidade ainda possui um valor imprescindível para o lugar da mulher na sociedade; a mulher
estéril permanece sob uma concepção estigmatizada; sua vivência é marcada principalmente por incompletude,
tristeza e solidão. O filho apareceu principalmente como uma solução para a solidão e maneira de ocupar o
tempo dando sentido a sua vida cotidiana. Destacou-se ainda a importância da maternidade como fator
constitutivo da feminilidade sob o ponto de vista da Psicanálise.
Palavras-chave: representação social, maternidade, reprodução humana, fertilização in vitro.
PDIP03- ASPECTOS EMOCIONAIS DESENCADEADOS PELO DIAGNÓSTICO
DE MALFORMAÇÃO FETAL: REVISÃO DE LITERATURA
Luiz Flávio Mendes Evangelista; Gláucia Rosana Guerra Benute;
Adolpho Liao; Mara Cristina Souza de Lucia; Marcelo Zugaib
Divisão de Psicologia e Divisão de Clínica Obstétrica do HCFMUSP
Introdução: O diagnóstico da malformação fetal desencadeia reações emocionais intensas na gestante. A
intensidade das alterações psíquicas e a necessidade de conhecimento específico para a atuação com estas
mulheres assinala a importância de se realizar revisão de literatura nacional sobre a reação emocional da
gestante ao diagnóstico de malformação fetal. Objetivo: Verificar na literatura nacional a reação emocional
da grávida frente ao diagnóstico de malformação fetal. Método: Realizou-se a revisão bibliográfica utilizando
as bases de dados Scielo, Pubmed e Lilacs. Com os unitermos Psicologia associado à: diagnóstico, gestação,
gravidez e malformação fetal. Do resultado foram selecionados os artigos publicados no período de 2002 a
2007, na língua portuguesa que relacionavam sentimentos ao diagnóstico de malformação fetal. Resultados:
Foram selecionados onze artigos que relacionavam a reação emocional ao diagnóstico de malformação fetal.
Os estudos encontrados apresentaram métodos de investigação diversos e a análise dos dados foi realizada
de modo qualitativo em sete estudos e quantitativo e qualitativo em quatro. O número de sujeitos entrevistados
variou de 3 a 73 e os instrumentos utilizados foram: entrevista; entrevista semidirigida e observação. Apenas
em um estudo foi utilizada escalas de avaliação de ansiedade, depressão e suporte social (EPDS, IDATE e
EPSS). Ao receber o diagnóstico da anomalia do seu filho as gestantes apresentaram sentimentos de raiva,
culpa, fracasso, incapacidade, decepção, menos valia, frustração, medo, apreensão, desamparo, angustia,
tristeza e solidão. Também apresentaram reações comportamentais tais com: agressividade, choro intenso e
desorientação. Os mecanismos de defesa descritos foram negação e fuga. Constataram-se ainda sintomas
de depressão e ansiedade. Assim, o suporte psicológico torna-se extremamente importante para que a gestante
com o diagnóstico de malformação fetal consiga enfrentar a situação e se reestruturar. Conclusão: Constatouse que os sentimentos vivenciados pelas mulheres que receberam diagnóstico de malformação fetal são
intensos e diversos e apontam para a necessidade de realização de acompanhamento psicológico para auxiliar
na reestruturação psíquica destas gestantes.
Palavras-chave: Diagnóstico, Anomalia, Sentimentos, Gestação, Psicologia.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 37
PDIP04- REAÇÃO EMOCIONAL E ESTRATÉGIA DE ENFRENTAMENTO DE
GESTANTE APÓS O DIAGNÓSTICO DE CARDIOPATIA FETAL
Gláucia Rosana Guerra Benute, Luiz Flávio Mendes Evangelista,Cecília Prohaska,
Lilian Maria Lopes, Mara Cristina Souza de Lucia e Marcelo Zugaib
Divisão de Psicologia e Divisão de Clínica Obstétrica do Hospital das Clínicas
da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Introdução: O exame de ecocardiografia fetal representa uma técnica acurada, precisa para avaliar a estrutura
e a função cardíaca fetal. É importante na detecção de anomalias cardíacas fetais uma vez que as cardiopatias
congênitas estão entre as malformações mais comuns sendo responsáveis por cerca de 10% dos óbitos
infantis e metade das mortes por malformações congênitas. O diagnóstico de anomalia fetal pode precipitar
longo período de estresse. Na tentativa de controlar este estresse as pessoas fazem uso de estratégias de
coping. Trata-se de esforço cognitivo e comportamental utilizado frente a eventos estressantes. Objetivos:
Verificar as estratégias de enfrentamento (coping) utilizadas pelas gestantes após o diagnóstico de cardiopatia
fetal. Método: Foram convidadas 50 pacientes que obtiveram de diagnóstico de cardiopatia fetal no período
de junho 2007 a abril de 2008 na Divisão de Clínica Obstétrica do Hospital das Clínicas; cada uma das
participantes assinou ao termo de consentimento pós-informado, respondeu a entrevista semi-dirigida e
preencheu o inventário de Estratégia de Coping. Os resultados foram analisados por meio da Técnica de
Análise de Conteúdo. Resultados: A média de idade obtida foi de 28,88 anos; 66% das entrevistadas possuíam
união estável, sendo 48% casadas e 18% amasiadas e 56% tinha pelo menos o segundo grau completo. Das
gestantes que participaram da pesquisa 50% já tinham pelo menos um filho e 66% não esperava engravidar
naquele momento. Ao serem questionadas sobre qual o órgão do corpo humano consideravam mais importante,
88% afirmaram ser o coração dessas 80% por acreditar que ele representa a vida, possui extrema importância
no organismo e por ser o centro das emoções. As estratégias de coping menos utilizadas foram confronto
(74%) e afastamento (73%). As estratégias mais usadas foram a de resolução de problema com 51%, seguida
de suporte social com 46% e de fuga e esquiva com 42%. Conclusão: As estratégias de coping mais utilizadas
indicam esforços dos indivíduos focados sobre o problema buscando encontrar alternativas para enfrentar a
situação vivida e busca de informações acerca do problema fetal visando obter recursos emocionais para o
enfrentamento da situação. Ressalta-se, no entanto, a importância do acompanhamento psicológico visando
auxiliar as gestantes que utilizam estratégias de coping voltadas para o afastamento do problema, visando
auxiliar na adaptação a realidade vivida.
Palavras-Chave: Coping, Ecocardiograma, Gestação, Reação Emocional , Malformação.
PDIP05- DEPRESSÃO ENTRE GESTANTES DE ALTO RISCO: ESTUDO COMPARATIVO
ENTRE GRÁVIDAS INTERNADAS E AMBULATORIAIS
Gláucia Rosana G. Benute, Juliana Siracuza Reis, Rosely Mieko Yamamoto
Nomura, Renério Fráguas Jr, Mara Cristina Souza de Lucia, Marcelo Zugaib
Divisão de Clínica Obstétrica e Divisão de Psicologia - ICHCFMUSP
Introdução: A literatura científica indica que o período gravídico-puerperal é a fase de maior prevalência de
transtornos mentais na mulher, sendo que cerca de um quinto das gestantes e puérperas apresentam
depressão. Este número tende a aumentar em casos de gestação de alto risco, levando em consideração,
principalmente, a necessidade de internações. Objetivos: Estudar os transtornos depressivos em gestantes
de alto risco e verificar a existência ou não de diferença no diagnóstico de depressão entre gestantes de alto
risco internadas na enfermaria (G1) e gestantes de alto risco que encontravam-se no ambulatório para
realização do pré-natal (G2). Método: Este trabalho foi desenvolvido na Divisão de Clínica Obstétrica e na
Divisão de Psicologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. A
amostra foi constituída por 549 gestantes de alto risco que tinham idade média de 29 anos sendo que a
mínima foi de 13 e a máxima de 47 anos. Os instrumentos utilizados foram: questionário composto por
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 38
perguntas sobre dados sócio-demográficos e PRIME-MD. Resultados: Foram encontrados 13,3% de gestantes
com depressão no G1 e 9,0% de gestantes com depressão no G2. Em relação ao estado civil estável, 14,3%
do G1 e 9,4% do G2 apresentaram depressão. Também apresentaram depressão 11% do G1 e 20,8% do G2
que exercem alguma atividade profissional, sendo que 16,9% do G1 e 7,6% do G2 avaliam seu trabalho
como desgastante. Não houve diferença significativa entre os dois grupos estudados para qualquer das
análises. Conclusão: Quando comparado com os dados da literatura internacional para depressão em
gestantes “sem risco”, o índice de depressão encontrado neste estudo aponta para números equivalentes.
Destaca-se que a adequada intervenção psicoterápica pode propiciar recuperação do paciente, evitando
tratamentos farmacológicos prematuros, o que é extremamente importante em se tratando de obstetrícia,
uma vez que a administração precoce de medicamentos pode provocar alteração no desenvolvimento fetal.
Palavras-chave: depressão, gestação, alto risco.
PDIP06- UM ESTUDO SOBRE O PEDIDO DE “MUDANÇA DE SEXO” EM
PACIENTES TRANSEXUAIS: DO QUE SE TRATA?
Gilson Batista de Oliveira, Marlene Inácio, Maria Lívia T. Moretto, Mara Cristina S. de Lucia
Centro de Estudos de Psicologia da Saúde da Divisão de Psicologia
do Instituto Central do Hospital das Clínicas da FMUSP
Introdução: Os principais pesquisadores definem o transexualismo como “a convicção de um sujeito
biologicamente normal pertencer a outro sexo” (Stoller,1968), consideram que “seus órgãos sexuais primários
e secundários são deformidades desagradáveis que o bisturi do cirurgião pode modificar”(Benjamin,1953), e
chamam atenção para a importância do diagnóstico diferencial entre transexualismo, travestismo,
homossexualidade , hermafroditismo. Com o grande avanço das técnicas cirúrgicas e das terapias hormonais,
a cirurgia transgenital é considerada pelos pacientes transexuais como uma solução para sua problemática.
Objetivo: Analisar, do ponto de vista psicológico, o ‘pedido de mudança de sexo’ dirigido pelos pacientes
auto-denominados transexuais à equipe de saúde. A análise deste pedido se faz imprescindível quando a
proposta de trabalho com esses pacientes é a de diagnóstico psicológico e intervenção clínica, numa perspectiva
interdisciplinar. Método: foram realizadas entrevistas semi-dirigidas com pacientes candidatos à cirurgia
transgenitalizadora, em processo de avaliação psicológica no Departamento de Endocrinologia do Instituto
Central do Hospital das Clínicas (ICHC) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Resultados: foi possível construir duas categorias de respostas: 1) o pedido de ‘mudança de sexo’ corresponde
ao pedido de realização de uma fantasia: pertencer ao “outro sexo” e, neste caso, o campo cirúrgico se
apresenta como o campo onde se faz possível a “escolha do sexo” ,assim, o pedido de mudança de sexo está
relacionado à confissão de uma impossibilidade real de satisfação plena por meio do corpo, e a cirurgia é,
então, entendida como o único recurso válido para sua satisfação, que deve ser atendido prontamente pelas
equipes.; 2) o pedido de mudança de sexo não se apresenta, exatamente, como um pedido de mudança, mas
de libertação do “sexual”, por meio da libertação do órgão sexual, o que não equivale à pedir ‘mudança de
sexo’. Discussão: Na primeira categoria, o pedido se sustenta na fantasia de que é possível uma mudança de
sexo, trata-se de uma dificuldade com a imagem corporal no que diz respeito aos genitais. O pedido se
sustenta na impossibilidade de satisfação plena por meio do corpo atual e a certeza de que com outro corpo
esta satisfação é possível. Na segunda, o pedido se sustenta por uma libertação do “sexual”, ou seja, não se
sustenta por uma fantasia da imagem, nem por uma insatisfação atual, se sustenta por um impossível de
suportar o sexo. Em todos os casos, é possível que o pedido de mudança de sexo denuncie algo bastante
específico: o mal-estar destas pessoas com relação ao órgão genital é algo da ordem do intolerável. Conclusão:
Isso justifica a nossa preocupação de primeiro entender o pedido de ‘mudança de sexo’, para depois atendêlo ou não. É possível que ali onde a Medicina supõe poder atender ao pedido de ‘mudança de sexo’ por meio
de intervenção cirúrgica, esteja atendendo a algo que não seja, exatamente, isso. Os achados das investigações
que se propõem a falar SOBRE a Transexualismo nos indicam a importância de novas investigações que se
proponham a falar COM os transexuais.
Palavras-chave: psicologia, psicanálise, subjetividade, transexualismo.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 39
PDIP07- SOBRE A REAÇÃO ALÉRGICA AO PLACEBO: UMA REVISÃO DE LITERATURA
Sara Santos Casimiro, Maria Lívia Tourinho Moretto, Niraldo de Oliveira Santos,
Antonio Abílio Motta, Mara Cristina Souza de Lucia
Instituto Central do Hospital das Clínicas da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo
Introdução: Esta pesquisa resulta da experiência de trabalho na Clínica de Alergia e Imunologia do Instituto
Central do Hospital das Clínicas (ICHC) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP),
realizada como parte prática do Curso Avançado de Formação Continuada em Psicologia Hospitalar: Saúde,
Subjetividade e Instituição, do Centro de Estudos em Psicologia da Saúde e da Divisão de Psicologia do
ICHC-FMUSP. Este artigo expõe os resultados preliminares da pesquisa teórica, obtidos por meio de revisão
de literatura especializada no tema proposto. Ocorre com pacientes que apresentam reações alérgicas ao
medicamento usado – e estes mesmos pacientes apresentaram reações idênticas, porém, em situação simulada
de teste alérgico com uso de substância neutra, associada à indicação verbal de que se usa um medicamento
ativo, portanto, placebo. Este tema, como diversas outras situações clínicas, tem se delineado como uma
espécie de enigma para os profissionais de saúde. Objetivo: Investigar quais pontos de referência conceitual
são norteadores para o início da pesquisa de campo com pacientes que apresentam reação alérgica a placebo,
a fim de compreender o que se sabe sobre a quê se deve a reação alérgica quando da ausência de um
princípio ativo medicamentoso. Método: Foi realizada uma revisão da literatura especializada nas seguintes
bases de dados do PubMed: Elsevier, ScienceDirect, Wiley InterScience, Capes Consortia, BioMed Central,
Cell Press, Science Mag. Foram utilizados termos descritores relacionados ao assunto, principalmente os
seguintes: “reação adversa ao placebo”, “placebo” e “nocebo” na busca dos principais conceitos concernentes
ao problema e pelos trabalhos já realizados no tema. Resultados: Foram encontrados 97 artigos para o
descritor “reações adversas ao placebo, destes, 14 foram selecionados em função de criteriosa leitura e por
abordarem o problema de forma direta. Todos os estudos indicam que ao contrário dos ‘efeitos colaterais
específicos’ relacionados ao tratamento medicamentoso, tanto os ‘efeitos colaterais não específicos’ quanto o
fenômeno nocebo devem estar relacionados com ‘aspectos psicológicos’ do paciente, tais como crenças e
expectativas com relação ao medicamento, assim como a fatores contextuais presentes na prescrição do
tratamento. Conclusões: O fenômeno estudado não pode, portanto, ser considerado nem um ‘efeito colateral
específico’ nem um ‘efeito colateral não específico’, posto que a reação alérgica decorre do uso de placebo e
não de uma substância que veicule um princípio ativo. Perguntas como as seguintes não foram respondidas por
meio da revisão da literatura acessada, e encerram este trabalho para dar continuidade aos próximos: de que
sofrem estes pacientes? O que os afeta? Que tipo de afetos atravessa esse corpo que reage? Se os placebos
são substâncias quimicamente neutras, as reações adversas aos ‘placebos’ seriam reações adversas a quê?
Palavras-chave: psicanálise; placebo; reação adversa ao placebo; nocebo; revisão da literatura.
PDIP08- COPING EM PACIENTES COLOSTOMIZADOS POR CÂNCER: ESTUDO DE REVISÃO
Michele Gutierres Ignacio, Cristiane Silva Santos,
Gláucia Rosana Guerra Benute e Mara Cristina Souza de Lucia
Divisão de Psicologia do Instituto Central do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Introdução: Coping é concebido sob duas origens teóricas, tratando-se estratégias de coping as ações
cognitivas ou de comportamento frente a um episódio de estresse, e estilos de coping relacionados às
características de personalidade frente às circunstâncias adversas. Ambas refletem esforços despendidos
para lidar com situações estressantes, crônicas ou agudas, e tem se constituído alvo de interesse na literatura
especializada. Ainda assim, o coping mostra-se permeado por dificuldades quanto a uma definição que possa
ser universalmente aceita, tornando-se compreendido sob diferentes abordagens, constructos e medidas
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 40
que surgiram ao longo do tempo. Objetivo: Investigar coping em pacientes colostomizados por câncer. Método:
Revisão de literatura nacional e internacional, utilizando-se as bases de dados LILACS (Literatura Latino
Americana de Ciências de Saúde), Dedalus/Sibi (conectado via Internet contendo o acervo de obras da
USP), Scielo (Scientific Eletronic Library Online), APA (American Psychiatry Association) e MedLine, no período
entre 1996 e 2008, por meio do cruzamento das palavras: coping, colostomy, stoma, cancer, adjustment
mental e psychology. Foram considerados artigos em português, espanhol e inglês. Resultados: Foram
encontrados 34 estudos. Destes, cinco de revisão de literatura. No Brasil, há dois instrumentos traduzidos e
validados. O primeiro (Inventário de Estratégias de Coping de Folkman e Lazarus) (Savóia, 1996) objetiva
avaliar a extensão com que um sujeito utiliza estratégias de coping em oito diferentes fatores: confronto,
afastamento, autocontrole, suporte social, aceitação de responsabilidade, fuga-esquiva, resolução de problemas
e reavaliação positiva. O segundo (Mini-MAC) é uma escala considerada útil no diagnóstico de ajustamento
mental de pacientes com câncer, composta por 5 fatores: desamparo/desesperança, preocupação ansiógena,
espírito de luta, evitação cognitiva e fatalismo. 73% dos estudos avaliaram, por meio de outros instrumentos,
esferas relacionadas ao coping, não sendo tratado como uma entidade em separado, mas sim integrado em
outros instrumentos (estigma, conflitos, cultura, imagem corporal, auto-estima e sexualidade). 24 instrumentos
foram identificados para investigação específica de aspectos relacionados ao estoma (aceitação, ansiedade,
depressão, auto-eficácia, auto-imagem, cognição, cuidados, reabilitação, relacionamento interpessoal,
qualidade de vida e sexualidade). A colostomia por câncer colorretal foi identificada em 46% dos estudos.
Nos estudos de revisão, foi encontrada presença da negação, dificuldades conceituais do coping, aspectos
da personalidade, medos e receios, que vão desde a rejeição da família e amigos frente a essa realidade, o
não saber lidar com a ostomia, reintegração social e perda do emprego. Conclusão: A partir do momento em
que é exteriorizado o intestino e passa-se a evacuar numa bolsa coletora, configura-se situação de
constrangimento e ameaça à integridade, gerando conflitos emocionais, que interfere na aceitação de sua
nova condição de vida. Embora o conceito coping tenha sido amplamente discutido na literatura, incluindo
pacientes com câncer, os aspectos relacionados ao câncer colorretal especificamente e a consequente
colostomia ainda é pouco discutida no Brasil. Os dois instrumentos validados disponíveis no Brasil suscitam
novas possibilidades de revisão frente às outras temáticas envolvidas nos trabalhos estudados que poderiam
ser incluídos em uma nova versão. O presente estudo mostrou-se importante frente aos outros de revisão por
ter incluído outras possibilidades de investigação.
Palavras-chave: coping, colostomia, câncer, psicologia.
PDIP09- SOBRECARGA EM CUIDADORES DE PACIENTES TERMINAIS POR CÂNCER
Michele Gutierres Ignacio, Danielle de Campos Storti,
Gláucia Rosana Guerra Benute, Mara Cristina Souza de Lucia
Divisão de Psicologia do Instituto Central do Hospital das Clínica
da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Introdução: Os cuidadores são pessoas envolvidas no atendimento das necessidades físicas, emocionais e/
ou sociais do paciente. O familiar designado como cuidador dedica-se por um longo período a estes cuidados,
no qual, acaba por abdicar sua vida em função do paciente. Por este motivo, os cuidadores familiares de
pacientes terminais enfrentam trabalho árduo, que podem deixá-los emocionalmente esgotados, fisicamente
exaustos e completamente subjugados, eclodindo na sobrecarga física, emocional e social. Objetivo: O
presente trabalho teve como objetivo a realização de uma revisão bibliográfica atualizada, na qual foram
levantados dados acerca da sobrecarga de cuidadores familiares de pacientes oncológicos terminais. Método:
Foram utilizadas as bases de dados LILACS (Literatura Latino Americana de Ciências de Saúde), Dedalus/
Sibi (conectado via Internet contendo o acervo de obras da USP), Scielo (Scientific Eletronic Library Online),
APA (American Psychiatry Association) e MedLine, no período entre 1998 e 2008, por meio dos seguintes
unitermos: terminal patient; caregiver; burden; psychology; cancer. A busca foi realizada cruzando-se o unitermo
burden com os respectivos citados e selecionando-se artigos na língua portuguesa e inglesa. Resultados:
Foram identificados os seguintes tipos de sobrecarga: Sobrecarga Mental decorrentes de Depressão (75%),
ansiedade (20%), Distress (30%), e irritabilidade (15%); Sobrecarga física decorrentes de atendimento as
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 41
necessidades básicas do paciente (15%) e ruptura na rotina do cuidador (55%); e Sobrecarga Social decorrentes
de conflitos no trabalho e dificuldades financeiras (45%). Em relação ao perfil do cuidador, 80% referem-se à
prevalência de cuidadores do sexo feminino, 10% a perda da confiança, por parte do cuidador, nos cuidados
despendidos no final da vida e 10% a inexperiência e dificuldade no cuidar auto referidos. Conclusão: O
cuidador, neste momento de vulnerabilidade do paciente e diante dos cuidados oferecidos, revelou sofrimento
decorrente da sobrecarga emocional, física e social, com expressivo predomínio de depressão, ruptura na
rotina e dificuldades financeiras. Além disso, pode-se observar que os cuidadores são, em sua maioria, do
sexo feminino e da família nuclear do paciente. Pode-se concluir neste trabalho que a sobrecarga em cuidadores
de pacientes terminais por câncer vem se mostrando alvo de interesse nos estudos, tanto nacionais como
internacionais, configurando fonte de atenção e de futuras possibilidades de intervenção junto ao paciente
terminal por câncer, considerando que, além do paciente, o cuidador apresenta sofrimento em todas as
esferas de sua vida, necessitando também de cuidados.
Palavras-chave: Sobrecarga, cuidadores, paciente terminal, câncer, psicologia.
PDIP10- PSICOTERAPIA DE GRUPO COM ABORDAGEM CORPORAL NO HOSPITAL GERAL:
RELATO DE EXPERIÊNCIA COM IDOSAS
Purificación Navarro Cañizares, Valmari Cristina Aranha,
Gláucia Guerra Benute, Mara Cristina Souza de Lucia
Divisão de Psicologia e Serviço de Geriatria do ICHC-FMUSP
Introdução: Com o significativo aumento da população idosa e da conseqüente procura por atenção em
serviços públicos de saúde, torna-se cada vez mais necessária a criação e a otimização de recursos para
melhor dar conta desta demanda, para tanto a psicoterapia de grupo com idosos tem se mostrado uma
alternativa bastante valida. Objetivo: Proporcionar a autopercepção corporal e sua relação com aspectos
afetivos e favorecer a expressão emocional e corporal. Método: A atividade consistiu de 12 encontros semanais
com uma hora de duração com sete idosas com idade média de 70 anos, encaminhadas ao serviço de
psicologia com diagnóstico médico de ansiedade, depressão, fibromialgia e, alterações cognitivas leves, que
apesar do uso constante de medicações não apresentavam melhora. No desenvolvimento dos encontros
foram utilizadas técnicas que visam a apropriação das queixas emocionais, tais como: exercícios de percepção
e consciência corporal, visualização de imagens, alongamentos, exercícios respiratórios, de expressão facial
e expressão de sons. Resultados: Por meio da análise dos conteúdos das sessões foi possível observar a
remissão dos principais sintomas apresentados no inicio do tratamento, como insônia, dores físicas, queixas
emocionais excessivas e os sentimentos de culpa, desanimo, angustia e solidão, propiciando, desta forma,
sensação de bem estar e disposição em geral. A implicação das idosas com o tratamento foi percebida não só
pelas mudanças relatadas, mas também pela adesão e a preocupação com a assiduidade ao grupo.
Conclusão: Durante as atividades grupais percebeu-se aumento da consciência corporal, principalmente no
que tange a relação entre a percepção do próprio corpo e a manifestação dos sintomas justificados como
queixas dos encaminhamentos médicos. A percepção adequada das alterações corporais também favoreceu
a melhora na relação com a afetividade e com o processo de envelhecimento.
Palavras chave: abordagem corporal, psicoterapia de grupo, idoso.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 42
PDIP11- INSATISFAÇÃO CORPORAL NOS ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS DA ÁREA
DE SAÚDE NOS ESTADOS DE ALAGOAS E SERGIPE
Kelly Cristine B. C. Costa, Niraldo de Oliveira Santos,
Rosa Carla de M. M. Lôbo, Mara Cristina Souza de Lucia
Centro de Estudos em Psicologia da Saúde (CEPSIC)
e Santa Casa de Misericórdia de Maceió
Introdução: Atualmente a busca do corpo perfeito, esguio, e sem sinais de obesidade tem se transformado
no ideal para muitos homens e mulheres, gerando com isso uma sociedade cada vez mais insatisfeita e em
busca a todo custo de métodos milagrosos e muitas vezes arriscados de perda de peso. Objetivo: O objetivo
do presente estudo foi analisar o nível de insatisfação corporal dos estudantes universitários da área de
saúde dos Estados de Alagoas e Sergipe. Método: Foram avaliados 757 estudantes universitários da área de
saúde, de ambos os sexos, maiores de 18 anos, em 2008. Para avaliar a insatisfação corporal foi utilizado o
Questionário contendo dados sóciodemográficos e informações relacionadas ao peso corporal e o Questionário
de avaliação de imagem corporal. Resultados: Observou-se que 54,8% encontram-se entre 17 a 21 anos;
28,3% entre 22 a 25 anos; 16,8% igual ou maior de 26 anos; 83,6% são do sexo feminino e 16,1% pertencem
ao sexo masculino; 19,3% possuem IMC (kg/m²) menor que 19; 63,4% estão entre 19,1 a 25; 11,9% entre
25,1 a 30; 3,3% entre 30,1 a 35; 0,7% entre 35,1 a 40 e 0,3% acima de 40; 51% concordam que mudariam
muitas coisas na sua aparência; 64% concordam que gostaria que sua aparência fosse melhor. Com isso,
23% concordam que fazem dieta atualmente; 45% dizem que não estão satisfeitos com seu peso; 4% provocam
vômitos para perder peso. Conclusão: Os resultados sugerem insatisfação corporal nos estudantes
universitários e risco para o desencadeamento de transtornos alimentares ou outros transtornos relacionados
à imagem corporal.
Palavras-chave: insatisfação corporal; transtornos alimentares; anorexia; bulimia; estudantes universitários.
PDIP12- INSATISFAÇÃO COM O PESO E IMAGEM CORPORAL EM ESTUDANTE
UNIVERSITÁRIOS DO SEXO MASCULINO NOS ESTADOS DE ALAGOAS E SERGIPE
Niraldo de Oliveira Santos, Maria do Socorro Pereira Carballido,
Rosa Carla de M. M. Lobo, Mara Cristina Souza de Lucia
Centro de Estudos em Psicologia da Saúde (CEPSIC) da Divisão de Psicologia do
Instituto Central do Hospital das Clínicas da FMUSP e Santa Casa de Misericórdia de Maceió
Introdução: Os cuidados voltados para o corpo e a imagem corporal são atitudes também presentes no
universo masculino e apresentam tendências crescentes a cada ano, observadas em duas vertentes
interdependentes: de um lado, o aumento da demanda de cuidados com atividades físicas e estratégias de
embelezamento, e por outro, uma forte exigência quanto ao peso e delineamento muscular, podendo acarretar
condições clínicas e psicopatologias complexas. Objetivo: Identificar atitudes e comportamentos relacionados
ao peso e imagem corporal que apontem para os riscos de desencadeamento de transtornos alimentares e
da imagem corporal. Método: Foram incluídos no estudo 122 estudantes universitários da área da saúde, de
universidades públicas e privadas, nos Estados de Alagoas e Sergipe. Para a obtenção dos dados, foram
utilizados os instrumentos: a) Calculo do índice de massa corpórea (IMC) com base nas curvas de percentis
conforme recomendação da Organização Mundial de Saúde e b) Questionário de Avaliação de Imagem
Corporal. Resultados: 85,3% dos sujeitos investigados possuíam idades entre 17 e 25 anos (17 a 21 anos,
55%; 22 a 25 anos, 30,3%). 63,11% possuíam IMC dentro da faixa de normalidade, 28,67% estavam acima
do peso e 6,55% com IMC abaixo do índice considerado saudável. Porém, quando questionados a respeito
de como se sentiam em relação ao próprio peso, 19,67% dos entrevistados referiram estar abaixo do peso
esperado e 59,8% estão tentando mudar o peso e forma do corpo. Além disso, 47% da amostra apresenta
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 43
intenção de mudar “muitas coisas na aparência”. Conclusão: Constata-se que a insatisfação com o peso e a
forma do corpo nos universitários investigados indica uma particularidade em relação ao gênero, mostrando
que estes se percebem mais magros do que realmente são, o que pode acarretar uma busca, por vezes
patológica, pela obtenção de um corpo “mais forte”, com aumento de massa muscular.
Palavras-chave: transtornos alimentares em homens; imagem corporal, transtorno dismórfico corporal,
estudantes universitários.
PDIP13- HISTÓRICO DAS DIETAS E DO CICLO EMAGRECER/ENGORDAR
ENTRE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOSDA ÁREA DE SAÚDE
Niraldo de Oliveira Santos, Marlene Monteiro da Silva,
Mara Cristina Souza de Lucia
Centro de Estudos em Psicologia da Saúde (CEPSIC)
e Divisão de Psicologia do Instituto Central do Hospital
das Clínicas da FMUSP
Introdução: Os transtornos alimentares, tendo seus principais representantes a anorexia e a bulimia nervosas,
incidem principalmente em adolescentes e adultos jovens sendo mais comumente encontrados em estudantes
universitários. Comportamentos alimentares inadequados, com utilização de ciclos recorrentes de dietas,
percepção corporal alterada e insatisfação com a imagem corporal são os principais fatores de risco para o
desencadeamento dos transtornos da alimentação. Objetivo: Realizar um levantamento sobre atitudes,
comportamentos e sentimentos relacionados à alimentação, peso, prática e método de dietas entre
universitários da área de saúde. Método: Participaram do estudo, 700 estudantes da área da saúde
provenientes de instituições de ensino particulares ou públicas da região Sudeste do Brasil: 28,1% estudantes
de psicologia; 18,7% medicina; 10,1% enfermagem; 9,3% nutrição e 33,8% de outras áreas. Instrumentos: a)
Calculo do índice de massa corpórea com base nas curvas de percentis para definir obesidade e sobrepeso
conforme recomendação da Organização Mundial de Saúde. b) Questionário sobre história das dietas e do
ciclo emagrecer/engordar composto por questões específicas quanto aos métodos que os participantes já
utilizaram para perder peso, além do número de vezes que perdeu peso e voltou a ganha-lo durante a vida.
Resultados: 73% dos estudantes pertencem ao sexo feminino, sendo 66,9% com idades entre 17 e 21 anos;
88% solteiros, 46,7% declararam renda familiar entre 6 e 10 salários mínimos. 65% encontravam-se com IMC
dentro da faixa de normalidade (19 a 25), 21,9% estavam abaixo do peso (<19), 10% com sobrepeso (25,1 a
30) e apenas 3,1% possuíam algum grau de obesidade. Em relação ao ciclo “emagrecer/engordar”, 33,4%
estavam fazendo dieta, 41,7 encontravam-se no ciclo “engorda/dieta/engorda” e 50,6% sofriam do “efeito
sanfona”. Quanto questionados a respeito dos métodos utilizados para perder peso, obteve-se: indução de
vômito, 3,9%; programas de auto-ajuda, 6,8%; uso de laxantes e diuréticos, 13,4%; medicamentos indicados
por médicos, 14,8%; revistas que indicam dietas, 22,6%; fórmulas “prontas” para inibir o apetite, 23,7%; automedicação, 48,8%. Conclusão: Apesar de a maior parte da amostra (65%) se encontrar na faixa de peso
esperada, ou mesmo abaixo do peso (21,9%), constatou-se um número significativo de sujeitos em uso de
dietas, além da presença de métodos extremos para perda de peso (estratégias de purga), apontando um
alto índice de insatisfação corporal e sintomas de transtornos alimentares.
Palavras-chave: anorexia, bulimia, ciclo de dietas, estudantes universitários, transtornos alimentares.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 44
PDIP14- RASTREAMENTO DE RISCO PARA TRANSTORNO ALIMENTAR
NUMA POPULAÇÃO DE ADOLESCENTES ESCOLARES COM
IDADES ENTRE 14 E 15 ANOS, UTILIZANDO-SE O INVENTÁRIO
DE TRANSTORNO ALIMENTAR – EDI-3
Thais Machado Nascimento, Marlene Monteiro da Silva,
Niraldo de Oliveira Santos, Arthur B. Garrido Junior,
Mara Cristina Souza de Lucia
Centro de Estudos em Psicologia da Saúde (CEPSIC) da
Divisão de Psicologia do Instituto Central do HC/FMUSP
Introdução: os transtornos alimentares possuem uma etiologia multifatorial, composta de predisposições
genéticas, socioculturais e vulnerabilidades biológicas e psicológicas. Entre os fatores predisponentes encontrase o contexto sociocultural, caracterizado pela extrema valorização do corpo magro, que, interagindo com
outros fatores de risco e eventos precipitantes, tendem a desencadear o aparecimento do transtorno alimentar.
A adolescência caracteriza-se como a fase de maior vulnerabilidade ao aparecimento destes transtornos,
sendo o medo da maturidade um fator de risco relevante. Objetivo: proceder rastreamento do risco para
transtorno alimentar, apresentando uma correlação entre a insatisfação corporal e o medo da maturidade.
Método: estudo comparativo entre duas populações femininas de adolescentes, entre 14 e 15 anos, de
escolas particulares e públicas de São Paulo e Belo Horizonte. Para este objetivo, foi utilizado o EDI-3, a fim
de estabelecer normas de referências nacionais para o instrumento, na população não-clínica de adolescentes.
O estudo de risco para transtorno alimentar e das escalas de medo da maturidade e insatisfação corporal foi
comparativo, utilizando-se parâmetros americanos. Resultados: Em relação à escala do Medo da Maturidade
(MF), a média bruta para a população norte-americana foi de 9.83, enquanto para a amostra total da população
pesquisada foi de 11.86, apontando uma diferença significativa quanto ao desejo de voltar à segurança da
infância. Esse resultado pode sugerir que as adolescentes brasileiras possuem um maior índice de medo da
maturidade quando comparadas às adolescentes americanas. Para a escala de insatisfação corporal, houve
uma diferença significativa entre as duas populações. A média do valor nesta escala para a população
pesquisada foi de 12.32, enquanto a média para a população norte-americana é de 15.51, apontando que as
adolescentes americanas encontram-se mais insatisfeitas com o corpo do que as adolescentes brasileiras.
Apesar das diferenças relevantes quanto às escalas referidas acima, os dados apontaram que a média para
o Complexo de Risco para transtorno Alimentar (EDRC) para a população estudada é de 8.51, enquanto a
média norte-americana para o mesmo complexo é de 7.9, sugerindo que o risco para transtorno alimentar no
Brasil é maior que nos EUA, embora não se caracterize uma diferença significativa entre a amostra nãoclínica dos EUA e a população estudada no que diz respeito ao risco para transtorno alimentar. Conclusão:
os resultados obtidos no presente estudo sugerem uma crescente tendência de características inerentes aos
distúrbios alimentares presentes nas populações adolescentes, como: o medo da maturidade e a insatisfação
com o corpo, que levam a comportamentos inadequados da alimentação, com índices preocupantes de massa
corpórea. A excessiva preocupação quanto à imagem corporal, com a conseqüente utilização de métodos
inadequados para a perda de peso, bem como um valor significativo quanto ao medo da maturidade, justificam
o desenvolvimento de estudos que possam investigar os fatores que motivam essas jovens a tais
comportamentos alimentares e relacioná-los como possíveis fatores de risco para o desenvolvimento futuro
dos transtornos alimentares. Além disso, estudos posteriores que discutam as razões da superioridade do
medo da maturidade na população adolescente do Brasil em relação à população adolescente americana
mostram-se necessários e pertinentes à compreensão dessa diferença significativa, apontando como os
fatores sócio-culturais são fortes desencadeantes do risco para transtorno alimentar. Para aprofundar os
resultados obtidos neste estudo será fundamental a realização de novas pesquisas em amostras maiores, a
fim de que se possa validar o instrumento EDI-3 e sua utilização no Brasil.
Palavras-chave: transtorno alimentar; medo da maturidade; insatisfação corporal; adolescência, EDI-3.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 45
PDIP15- DESINIBIÇÃO ALIMENTAR ANTE A EXPECTATIVA DE INICIAR UMA DIETA:
UM ESTUDO PSICANALÍTICO
Niraldo de Oliveira Santos, Marlene Monteiro da Silva,
Mara Cristina Souza de Lucia
Centro de Estudos em Psicologia da Saúde (CEPSIC) e
Divisão de Psicologia do Instituto Central do Hospital das Clínicas da FMUSP
Introdução: É consenso na literatura que fazer dieta contribui para o comer excessivo. Iniciar uma dieta no
dia seguinte é a reação clássica de que se excedeu na comida hoje, ou, ao contrário, planejar uma dieta para
o dia seguinte pode contribuir para aumentar o consumo de alimentos engordantes e que, certamente, serão
proibidos durante o período da dieta. Objetivo: Verificar a freqüência da desinibição alimentar em pessoas
que planejam começar uma dieta. Método: Participaram do estudo, 700 estudantes da área da saúde
provenientes de instituições de ensino particulares ou públicas da região Sudeste do Brasil: 28,1% estudantes
de psicologia; 18,7% medicina; 10,1% enfermagem; 9,3% nutrição e 33,8% de outras áreas. Instrumentos: a)
Calculo do índice de massa corpórea com base nas curvas de percentis para definir obesidade e sobrepeso
conforme recomendação da Organização Mundial de Saúde. b) Questionário sobre história das dietas e do
ciclo emagrecer/engordar e desinibição alimentar antes de iniciar a dieta. Resultados: 65% encontravam-se
com IMC dentro da faixa de normalidade (19 a 25), 21,9% estavam abaixo do peso (<19), 10% com sobrepeso
(25,1 a 30) e apenas 3,1% possuíam algum grau de obesidade. Mesmo assim, 53,5% consideram que
engordam e emagrecem frequentemente em função de dietas e dentre eles, 42,7% declararam que comiam
excessivamente ante a idéia de iniciar uma dieta. Conclusão: Existe uma relação causal entre tensão
antecipatória relacionada à privação e a descarga pela via do comer em excesso. A “despedida” do prazer
pela vida do consumo de comidas proibidas aponta, por antecipação, a fragilidade da interdição programada
que sucumbe mediante o imperativo superegóico envolvendo a boca como objeto da pulsão. O ciclo: ‘excesso
antecipatório’, ‘restrições alimentares’ e ‘fracasso nas dietas’, é um dos fatores que se apresentam como o
gatilho para o desencadeamento do quadro de bulimia nervosa.
Palavras-chave: bulimia nervosa, ciclo de dietas, estudantes universitários, transtornos alimentares.
PDIP16- FATORES NEUROLÓGICOS E TRANSTORNOS ALIMENTARES:
UM ESTUDO DE REVISÃO
Tatiana Bukstein Vainboim, Niraldo de Oliveira Santos,
Mara Cristina Souza de Lucia, Milberto Scaff
Divisão de Psicologia do Instituto Central do Hospital das Clínicas e
Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Introdução: A literatura científica tem se interessado cada vez mais pelo estudo da etiologia dos transtornos
alimentares. É reconhecida como sendo de natureza multifatorial, envolvendo fatores genéticos, psicológicos,
biológicos, sócio-culturais e predisposições neurológicas. A partir do avanço nas técnicas que permitem medidas
do funcionamento cerebral e sua relação com o comportamento, houve um aumento do número de publicações
dos transtornos alimentares em interface com a neurologia. Este estudo busca relacionar fatores neurológicos
com os transtornos alimentares, tornando assim acessível uma atualização aos profissionais da área, visando
facilitar a compreensão destes temas. Objetivo: Proceder uma revisão sistemática da literatura buscando a
relação entre transtornos alimentares e fatores neurológicos. Método: Foi realizada uma pesquisa bibliográfica
em bases de dados da literatura internacional e nacional, tais como: MEDLINE, LILACS, Scielo, DEDALUS,
Portal Periódicos Capes, PsychoINFO e na New York Public Library, procurando artigos relacionados ao
tema publicados entre 1986 e 2009. Esta pesquisa utilizou as seguintes categorias de termos MeSH (Medical
Subject Heading): “eating disorders” X “brain lesions”, “eating disorders” X “neurology”, “brain damage” X
“anorexia nervosa”, “brain damage” X “bulimia nervosa”, “brain damage” X “binge eating disorder”, “neurology”
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 46
X “anorexia nervosa”, “neurology” X “bulimia nervosa” e “neurology” X “binge eating disorder”. Resultados:
Foram encontrados 267 artigos, com uma maior freqüência no biênio 2006-2007 (63) e um maior número de
trabalhos relacionados aos descritores “transtornos alimentares” x “neurologia” (114). Com exceção dos
casos em que houve uma lesão, um tumor, acidente vascular cerebral e/ou trauma, as pesquisas não são de
todo conclusivas em relação ao que é causa ou conseqüência dos transtornos alimentares. Nos casos de
anorexia e bulimia, as alterações cerebrais foram descritas como advindas da desnutrição causada pela falta
de proteínas no organismo, desaparecendo com a melhora clínica do estado geral de saúde do paciente.
Poucos estudos abordaram o transtorno de compulsão alimentar periódica, fato este que pode estar relacionado
à inclusão mais tardia dessa categoria no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, apêndice
B do DSM-IV. Conclusões: Uma das grandes dificuldades da pesquisa nessa área é a necessidade de se
diferenciar alterações presentes antes do aparecimento dos sintomas daquelas que são resultantes dos
transtornos alimentares. É importante analisar caso a caso, a fim de avaliar se são advindos da desnutrição,
ou de um denominador comum desconhecido. O profissional necessita ter clareza da importância do trabalho
em equipe multiprofissional, estar apto a analisar todos os fatores que podem influenciar o quadro clínico do
paciente e buscar estratégias de intervenção que abordem todos os fatores envolvidos, junto a outros
profissionais. Ao se depararem com casos de transtornos alimentares cujo tratamento não apresente resultados
esperados e houver dúvida quanto à concorrência de sintomas neurológicos envolvidos, considera-se de
grande importância a avaliação neuropsicológica como exame complementar, para descartar possibilidades
de doenças orgânicas. Vale enfatizar que há contribuições importantes trazidas pela pesquisa neurocientífica
para a clínica dos transtornos alimentares, entretanto, não se pode desconsiderar as particularidades de
cada paciente atendido, independente do quadro clínico ou do diagnóstico estabelecido.
Palavras-chave: Transtornos Alimentares, Neurologia, Psicologia da Saúde.
P01- O CORPO COMO RASCUNHO DAS EMOÇÕES: DOS TRANSTORNOS
ALIMENTARES À OBESIDADE MÓRBIDA E O SEU RETORNO À PALAVRA
Anna Claudia Queiroz, Rosangela Araújo, Ana Rita Azevedo, Maria Lúcia Rebello,
Lorena Lins, Irtes Ferreira, Andrea Pinchelli, Bruna Oneda, Patricia Pinchelli, Juliana
Sales,Catarina Harmbacher, Elaine Azevedo, Michele Pereira De Lima, Ana Lúcia Villaron,
Marco Pinheiro, Ana Silvia Pacheco Rosa, Roberto Kikko, Moacir Fernandes
GESTO-Grupo Especializado no Tratamento da Obesidade
UNIMED – São José dos Campos/SP
NAIS - Núcleo de Atenção Integral à Saúde
Introdução: A construção da identidade se estabelece na relação do sujeito com o seu corpo. É no complexo
de Édipo que se realiza esta percepção.A função do pai na relação Edípica é estruturante do ponto de vista
inconsciente, possibilitando o recalque originário, levando a criança a renunciar o objeto inaugural de seu
desejo, tornando-o inconsciente. O significante Nome-do-pai produz o simbólico da linguagem, tendo como
função perpetuar o objeto originário do desejo, atualizando a castração e propiciando o sujeito a simbolizar.
Quando ocorrem as falhas daquele que poderia dizer “não”, no corte que possibilita o indivíduo a falar, o
corpo passa a falar. O corpo como o rascunho das emoções, expressando as angústias e marcas da história
de vida do sujeito. Apresentando dificuldade em simbolizar, o sintoma manifesto no corpo é uma nova
nomeação, uma marca. O fato de o psíquico repousar sobre o orgânico facilita o desencadear de adoeceres.
É o analista que provoca novas formas de simbolização, levando o sujeito a não mais utilizar o corpo como
rascunho das emoções, e sim a palavra. Objetivo: O objetivo deste trabalho foi apresentar uma possibilidade
de intervenção que convoque o sujeito à palavra. É solicitado ao sujeito relatar sua história, com a finalidade
de refletir sobre o seu sintoma, com o seu sofrimento e com a suas experiências de vida. Métodos: Os dados
apresentados são registros do atendimento de um caso clínico e da discussão em supervisão, de uma paciente
que apresentou na adolescência sintomas de anorexia e bulimia nervosa, e atualmente se submeteu à cirurgia
bariátrica, por apresentar uma obesidade mórbida. Resultados: Na avaliação psicológica da cirurgia bariátrica
é solicitado ao paciente relatar sua história de vida como possibilidade do sujeito elaborar suas vivências e o
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 47
seu sintoma, a obesidade. ELA é candidata à cirurgia bariátrica, pois apresenta 163 kg. Ao recordar a sua
infância menciona a postura de um pai agressivo, porém omisso na educação. A mãe era ausente em
decorrência do medo que apresentava do marido, havendo falhas na maternagem. ELA na adolescência não
era obesa, mas ao se olhar no espelho, achava que estava gorda, e passa a se utilizar a estratégia de comer e
vomitar, e posteriormente de não comer, desencadeando sintomas de bulimia e anorexia nervosa. O sintoma de
anorexia e a desnutrição geram a sensação de fragilidade. Um dia, a paciente é ameaçada fisicamente pelo pai
e sente a necessidade de estar mais forte, voltando a comer compulsivamente, desencadeando uma obesidade
mórbida, tendo a sensação de ter um corpo forte. Conclusão: Conclui-se que o indivíduo que apresenta
dificuldades em expressar as suas emoções verbalmente, utiliza o sintoma como a marca e escrita em seu
corpo. O atendimento clínico teve como objetivo provocar o paciente a falar, a passar a usar as palavras como
expressão, não mais o corpo. Ao constatar a função dos sintomas, que são os transtornos alimentares e a
obesidade, surge a possibilidade de o sujeito a não fazer mais do corpo o rascunho das emoções.
Palavras-Chave: Transtornos alimentares, Obesidade Mórbida, Cirurgia bariátrica, Corpo, Somatização.
P02- A RELAÇÃO DO SUJEITO CONTEMPORÂNEO COM O CORPO:
O DESENCADEAR DE TRANSTORNOS ALIMENTARES E A OBESIDADE
Anna Claudia Queiroz, Rosangela Araújo, Ana Rita Azevedo, Maria Lúcia Rebello,
Lorena Lins, Irtes Ferreira, Andrea Pinchelli, Bruna Oneda, Patricia Pinchelli,Juliana Sales,
Catarina Harmbacher, Elaine Azevedo, Michele Pereira de Lima, Ana Lúcia Villaron,
Marco Pinheiro, Ana Silvia Pacheco Rosa, Roberto Kikko, Moacir Fernandes.
GESTO-Grupo Especializado no Tratamento da Obesidade
UNIMED – São José dos Campos/SP
NAIS - Núcleo de Atenção Integral à Saúde
Introdução: A sociedade é que estabelece o padrão de beleza ideal. Visando se inserir no contexto social o
indivíduo procura atender às expectativas da imagem ideal, aproximando-se dos padrões de beleza préestabelecidos culturalmente. Na contemporaneidade há uma ambivalência relacionada à corporalidade e à
alimentação, propiciando o surgimento de conflitos. A sociedade atual caracteriza-se por oferecer uma fartura
em relação aos alimentos, mas contraditoriamente, exige como o padrão de corpo ideal o magro. Dessa
ambigüidade surgem os conflitos, propiciando maior possibilidade de desencadear sintomas, tais como a
bulimia, anorexia nervosa e a obesidade. Objetivo: Este trabalho tem por objetivo mostrar a relação do
sujeito contemporâneo com a corporalidade e a alimentação, propiciadores de conflitos, gerando maior
vulnerabilidade ao desencadeamento de sintomas, tais como obesidade e transtornos alimentares. Métodos:
Foi utilizado no trabalho o método clínico de investigação. Os dados apresentados são registros do atendimento
de um caso clínico e da discussão, em supervisão, de uma paciente que se submeteu à cirurgia bariátrica,
por apresentar uma obesidade mórbida e, posteriormente a intervenção cirúrgica, apresentou sintomas de
bulimia e anorexia nervosa. Resultados: Após a intervenção cirúrgica a paciente JO decide que deseja obter
o emagrecimento rapidamente, utilizando a estratégia de comer e vomitar, e posteriormente não se alimentar,
apresentando sintoma de bulimia e anorexia nervosa. JO, no decorrer da análise, manifesta uma intensa
agressividade ao perceber que possui um corpo que não condiz com o modelo do padrão de beleza esperado
culturalmente. A angústia de ter que se “moldar” à expectativa do corpo ideal, visando ser aceita pelo grupo
social é evidente: “Antes as pessoas não falavam comigo, pois era obesa. Agora se aproximam, pois emagreci.
A vida é um teatro e eu estou aprendendo a encenar. Mas também quero fazer minhas escolhas”. A incógnita
de qual a imagem ideal para si, e a demanda dos familiares e da sociedade com relação ao seu corpo é um
aspecto gerador de conflitos: “Quero esconder este corpo. Antes obeso e agora com marcas. Não tenho o
corpo que desejo. Os outros também parecem não me apreciar. Meu corpo é minha a minha prisão”.
Conclusão: O sujeito contemporâneo ao perceber o próprio corpo e constatar que não atende à expectativa
social do padrão de beleza ideal vivencia angústias e conflitos, pois é captado por uma imagem para sempre
inatingível. Com o rápido emagrecimento no pós-operatório da cirurgia bariátrica, aumenta a possibilidade de
haver uma distorção da imagem corporal, propiciando o desencadeamento de transtornos alimentares. A
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 48
dificuldade de JO relacionada às mudanças corporais desencadeia sintomas de bulimia e anorexia nervosa.
Ao perceber não corresponder às expectativas da imagem ideal para a sociedade, mesmo após o
emagrecimento, e. não querer se enquadrar nos padrões estipulados pela demanda social do corpo ideal,
sentimentos de agressividade e angústia são mobilizados, propiciando uma vulnerabilidade psíquica.
Conclusão: Conclui-se que o tratamento psicanalítico no pós-cirúrgico da gastroplastia é fundamental,
auxiliando o sujeito a vivenciar as transformações corporais, visando evitar ocorrer a distorção da imagem
corporal e o desencadear de transtornos alimentares.
Palavras-Chave: Alimentação, Corpo, Obesidade, Transtorno alimentar, Cirurgia bariátrica.
P04- VULNERABILIDADE PSÍQUICA E SINTOMAS PSICOLÓGICOS EM PACIENTE APÓS A
CIRURGIA BARIÁTRICA
Anna Claudia Queiroz, Niraldo de Oliveira Santos, Roberto Kikko, Moacir Fernandes
CLIADI-Clínica e Cirurgia do Aparelho Digestivo
IGED-Instituto de Gastro e Endoscopia
Introdução: O tratamento cirúrgico da obesidade mórbida é uma alternativa cada vez mais utilizada, em
decorrência do sucesso na redução do peso Sintomas de ordem psíquica são descritos em pacientes após
gastroplastia, embora a literatura aponte para a importância de avaliar a pré-existência destes sintomas
antes de tecermos associações dos mesmos ao procedimento cirúrgico. Do ponto de vista psicológico, a
cirurgia bariátrica exige do paciente importantes adaptações às mudanças no pós-operatório.O
acompanhamento psicológico, nestes casos, tende a obter maior eficácia quando se conseguem diagnosticar
com maior precisão os períodos críticos do paciente após gastroplastia. Objetivo: A finalidade deste estudo
foi avaliar as fases de maior vulnerabilidade psíquica do paciente submetido à cirurgia de obesidade, e avaliar
a qualidade de vida e a presença de sintomas psíquicos em pacientes pós-cirúrgicos, em comparação ao
estado anterior referido pelos mesmos. Métodos: Estudo transversal com a utilização de questionário
desenvolvido pelos pesquisadores, contendo itens de identificação da amostra e Entrevista Psicológica Semidirigida. Foram incluídos 70 pacientes, que haviam se submetido à cirurgia bariátrica em momentos variados
em relação ao procedimento cirúrgico. Resultados: Dos pacientes investigados, 81% eram do gênero
feminino, 50% possuíam idade entre 41 e 60 anos. Dos pacientes, 65% possuíam tempo de cirurgia entre 2
e 4 anos. O método “Capela” foi utilizado em 90% dos pacientes. Na ocasião do procedimento cirúrgico, 76%
dos pacientes possuíam IMC acima de 41. Na ocasião do estudo, 68% apresentavam IMC entre 21 e 30.
Quando avaliados acerca da presença de depressão, ansiedade e comer compulsivo, os dados observados
antes da cirurgia foram, respectivamente, 58%, 88% e 86%. No momento do estudo, a presença de depressão
foi referida em 26%, ansiedade, 43% e compulsão alimentar 18%. Dos pacientes investigados, 42% realizaram
algum tipo de acompanhamento psicológico e 25% acompanhamento psiquiátrico após a cirurgia. Em relação
as etapas vivenciadas no pós operatório constatou-se que: no 1º mês de cirurgia, os pacientes fizeram
referências às mudanças corporais, decorrentes da intervenção cirúrgica; entre o 2º e o 3º mês o enfoque
principal é a construção de um cardápio particular,e a alimentação passa a ser incluída na (re)socialização;
por volta do 6º mês, foram relatadas aumento das atividades relacionais e sociais, culminando com o surgimento
de conflitos e de exigências adaptativas. A referência aos efeitos colaterais perpassa os diversos estágios e
merece ser considerada. Ocorre maior probabilidade de deslocamentos sintomáticos após o sexto mês de
cirurgia. Conclusão: Evidenciamos que no 1º mês após a cirurgia, bem como após o primeiro semestre, os
pacientes mostram-se mais vulneráveis, favorecendo a eclosão de sintomas psíquicos que merecem
intervenção cuidadosa por parte do psicólogo. A perda de peso e as mudanças decorrentes tanto podem
fazer com que sintomas psíquicos fiquem ainda mais evidentes nos sujeitos operados, como também podem
impulsioná-los a buscar novas estratégias de enfrentamento de situações antes paralisadoras. Conclui-se
que é evidente a importância do acompanhamento psicológico, contribuindo com a melhora da qualidade de
vida e na adaptação das mudanças inerentes a cirurgia bariátrica.
Palavras-Chave: Cirurgia bariátrica, Vulnerabilidade psíquica, Sintomas psicológicos, Qualidade de vida.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 49
P05- OBESIDADE E COMORBIDADES PSIQUIÁTRICAS:
SINTOMAS PARALIZADORES DA VIDA
Ana Rita Azevedo, Anna Claudia Queiroz, Rosangela Araújo, Maria Lúcia Rebello,
Lorena Lins, Irtes Ferreira, Andrea Pinchelli, Bruna Oneda, Patricia Pinchelli, Juliana Sales,
Catarina Harmbacher, Elaine Azevedo, Michele Pereira De Lima, Ana Lúcia Villaron,
Marco Pinheiro, Ana Silvia Pacheco Rosa, Roberto Kikko, Moacir Fernandes
GESTO- Grupo Especializado no Tratamento da Obesidade
UNIMED – São José dos Campos
NAIS - Núcleo de Atenção Integral à Saúde
Introdução: O sintoma pode emergir como uma resposta ao real. O desencadear de uma sintomatologia,
muitas vezes, está associado com a vivência de uma situação traumática, de difícil elaboração psíquica. Em
determinadas situações, observa-se que alguns sintomas emergem de conflitos vivenciados pelo sujeito,
paralizando-o frente à vida, e levando-o a obter ganhos secundários com o adoecer. A obesidade, como
também alguns transtornos psiquiátricos, justifica, para muitos pacientes, uma série de impedimentos na
obtenção de sucesso na vida afetiva e profissional. Objetivo: Verificar o quanto o desencadear do sintoma
obesidade, associado com alguns transtornos psiquiátricos, está relacionado com uma situação vivenciada,
de difícil elaboração psíquica, e se a sua manutenção é decorrente de algum ganho secundário que se obtém
com o adoecer. Métodos: Análise quantitativa e qualitativa dos atendimentos realizados no período de Abril
a Dezembro de 2008, na Unimed de São José dos Campos/ SP. O total de pacientes atendidos foi de 174.
Além da entrevista clínica, utilizou-se o Inventário Sobre Peso e Estilo de Vida (WALI) e o PRIME MD (avaliação
de distúrbios mentais para atenção primária). Resultados: Da amostra, 19% era do gênero masculino, e 81
% do gênero feminino. Os transtornos psiquiátricos não foram identificados em 19% dos pacientes, sendo
que os demais apresentaram entre um (16%), dois (30%) e até três (35%). das comorbidades psiquiátricas. O
transtorno depressivo foi o mais freqüente, atingindo 119 pacientes, seguido do transtorno de ansiedade,
com 110 pacientes. O distúrbio de pânico estava presente em 15 pacientes. Os transtornos psiquiátricos
referentes à alimentação, tais como compulsão alimentar ou bulimia, foram diagnosticados em 65 sujeitos.
Observou-se um índice elevado das comorbidades psiquiátricas associada ao sintoma obesidade. No relato
da história de vida do sujeito, verificou-se uma relação do desencadear das referidas sintomatologias a uma
situação de difícil elaboração psíquica, muitas vezes justificando a paralização frente à vida. Conclusão: O
sintoma obesidade, associada a outros transtornos psiquiátricos, parece ser um recurso psíquico que visa à
defesa do sujeito a uma situação traumática. A remoção do sintoma obesidade, através da cirurgia bariátrica,
por exemplo, sem cuidar dos aspectos psíquicos inerentes ao seu desencadear e sua manutenção, leva a
uma grande probabilidade de substituição por outros sintomas, outras compulsões ou reganho de peso. Já
no tratamento clínico da obesidade, se o sintoma tem uma função para o sujeito, e este não for tratado, o
paciente apresenta dificuldades no emagrecimento, ou grande possibilidade de reganho de peso após
emagrecer. Conseqüentemente, há um significado no sintoma, um sentido, que necessita de um código de
decifração. O tratamento psicanalítico com pacientes obesos é uma possibilidade que viabiliza a constatação
da função do sintoma, seja o excesso de peso, como as comorbidades psiquiátricas associadas. Tratar os
ganhos secundários que se obtém com o adoecer é fundamental, auxiliando o sujeito na perda: do peso, dos
ganhos secundários, do direito de se acomodar na vida profissional, e do direito de se acomodar na vida
pessoal, propiciando-o a se defrontar com vivências psíquicas novas.
Palavras-Chave: Obesidade, Transtornos psiquiátricos, Ganhos secundários, Tratamento.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 50
P06- DESAFIOS DA INTERVENÇÃO PSICANALÍTICA NUM CENTRO DE
REFERÊNCIA E EXCELÊNCIA EM CIRURGIA BARIÁTRICA
Isabel Cristina Malischesqui Paegle
Centro Avançado de Gastroenterologia e
Cirurgia Bariátrica Gastro Obeso Center
Introdução: A atenção psicológica deve seguir o paciente nos períodos pré e pós-cirúrgico. Objetivo: Discutir
o perfil sócio-demográfico de pacientes candidatos à cirurgia bariátrica, verificar os traços psicológicos indicados
pela auto-percepção e sugestão para o seguimento dos mesmos após cirurgia. Método: Análise de dados
pelo método epidemiológico. Amostra por conveniência foi realizada numa Clínica Especializada, numa
metrópole do Sudeste Brasileiro. Consultados 300 questionários do serviço de psicologia; faixa etária entre
16 e 72 anos, ambos os sexos. Primeira parte com dados sócio-demográficos, grau de obesidade e tipo de
cirurgia. Segunda, 26 questões com respostas tipo múltipla escolha. Resultados: Prevalência do gênero
feminino; a média da idade 36 anos; 53% casados; maioria com formação completa ensino médio e superior;
IMC entre grave e super mórbido (94,3%). Respostas de auto-percepção de características psicológicas:
ansiedade em 93,7%; depressão e uso do álcool em 50%; realização de psicoterapia (30%); medicamentos
para depressão e ansiedade (10%). Os sinais de transtornos alimentares generalizados sem atender aos
critérios do DSM-IV (2002). Conclusão: A auto-percepção das características de personalidade, por meio do
questionário apresenta viés, não podendo ser usado para diagnóstico clínico; facilita o rapport, reflexão do
paciente sobre seus sentimentos, comportamento alimentar e a escuta psicológica como técnica preciosa a
ser usada nos hospitais e centros médicos com grande volume de atendimentos. A intervenção psicológica
nos dois momentos da pesquisa se mostrou de caráter relevante, pois na avaliação de pré-operatório ficou
evidente o grau de ansiedade e comorbidades psicológicas associadas a obesidade que podem interferir nos
resultados a longo tempo. E após o procedimento cirúrgico a literatura nos forneceu dados quanto a mortalidade
não por falha cirúrgica, pelo contrário ficou evidente os resultados quanto a melhora das comorbidades no
grupo de paciente com obesidade, porém as mortes por suicídio que são de ordem emocional com
responsabilidades dos aspectos psicológicos e psiquiátricos ficaram evidentes e os profissionais da área de
saúde mental não podem negligenciar este perigo neste tipo de população atendida as quais se revelam
pelas pulsões destrutivas.
Palavras-chave: obesidade, cirurgia bariátrica, psicanálise, psicossomática.
P07- A FIGURA HUMANA NA PERSPECTIVA DE MULHERES QUE BUSCAM
CIRURGIA PLÁSTICA ESTÉTICA
Ana Beatriz Sante, Sonia Regina Pasian
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto
– Universidade de São Paulo;
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto
– Universidade de São Paulo
Introdução: Várias pesquisas têm buscado identificar motivações psíquicas associadas à crescente busca
de Cirurgia Plástica Estética (CPE) nos últimos anos, porém a complexidade do tema e a diversidade
metodológica dos estudos realizados comprometem evidências conclusivas, instigando novos trabalhos.
Objetivo: Diante deste contexto, o presente estudo objetivou identificar características da imagem corporal
de mulheres que solicitam CPE, comparando-as com mulheres sem esta demanda de cuidados médicos.
Método: Foram estudadas 78 mulheres saudáveis, voluntárias, de Ribeirão Preto (SP), de 18 a 50 anos,
subdivididas em: Grupo 1 (n = 37, pacientes em fila de espera do Ambulatório de Cirurgia Plástica e Reparadora
– Hospital das Clínicas – FMRP/USP, aguardando mamoplastia adicional e/ou lipoaspiração) e Grupo 2 (n =
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 51
41, mulheres que não procuraram CPE, selecionadas aleatoriamente na população). Estas voluntárias foram
avaliadas individualmente por meio de breve entrevista (histórico de vida), questionário de nível econômico e
Desenho da Figura Humana (DFH) - Técnica de Machover, aplicados e analisados conforme seus respectivos
padrões técnicos. Foram realizadas análises estatísticas paramétricas (p d” 0,05) comparando o desempenho
de G1 e G2 por meio do teste t de Student para variáveis numéricas e dos testes Qui-Quadrado ou Exato de
Fisher para variáveis categóricas nominais. Resultados: Os grupos G1 e G2 mostraram-se equivalentes em
características sócio-demográficas, subsidiando análises comparativas de seus desempenhos. A produção gráfica
do DFH (Machover) de G1 e G2 assemelhou-se à do padrão normativo, indicando um funcionamento psíquico
normal e adaptado à realidade. A comparação da Figura Feminina do DFH (Machover), enquanto representação
da imagem corporal das mulheres avaliadas, evidenciou diferença significativa entre G1 e G2 em 10 itens (Tipo
de Linha; Tamanho dos Olhos; Olhos “Fechados”; Presença de Sobrancelhas; Sombreamento nos Olhos; Nariz
“De Perfil”; Presença de Orelhas; Assinalamento de Seios; Quantidade de Dedos nas Mãos; Características do
Sapato). Dessa maneira, simbolicamente pode-se dizer que as mulheres de G1 (que procuravam CPE Mamoplastia e/ou Lipoaspiração) apresentaram mais indícios de sentimentos de menos-valia e de insegurança
em relação ao próprio potencial produtivo e nos relacionamentos interpessoais, defensivamente permanecendo
mais absortas em si mesmas e assim enfrentando as situações da vida de maneira mais imatura e evitativa. Por
estas características, pareceram tender a manterem-se alertas diante do ambiente, dependendo das experiências
visuais e do feedback alheio, apresentando preocupações associadas à beleza corporal. Comparativamente,
as mulheres do Grupo 2 apresentaram indicadores de confiança, disposição e auto-afirmação, com menor
dificuldade nas interações pessoais, controlando melhor os próprios impulsos e tendendo a vivenciarem a
própria sexualidade e feminilidade com menor índice de desconforto psíquico. Conclusões: Pode-se identificar
sinais do funcionamento psíquico (menor auto-estima e maior imaturidade em G1) associados a fatores
motivadores da busca de modificação estética cirúrgica no próprio corpo. Tais resultados apontaram que as
vivências psíquicas relativas à imagem corporal e as características de personalidade são elementos relevantes
a serem considerados na avaliação clínica de solicitantes de CPE.
Palavras-Chave: Cirurgia Plástica Estética, Imagem Corporal, Mulheres, Desenho de Figura Humana.
P08- O QUE SERÁ DE MIM? ATENDIMENTO PSICOLÓGICO A PACIENTES
COM RISCO DE AMPUTAÇÃO DE MEMBROS
Ana Beatriz Sante
Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas da Faculdade
de Medicina de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo
Introdução: O trabalho do psicólogo em serviços hospitalares de emergência possui demandas específicas
usualmente não encontradas no contexto do hospital geral ou em nível ambulatorial. Uma das populações
atendidas em situação de emergência é a de vítimas de acidentes (de trânsito, de trabalho, etc.) que sofrem
grandes danos ósseos, vasculares e teciduais nos membros inferiores ou superiores, dificultando as
possibilidades de intervenção médica para sua recuperação e assim deixando o paciente e sua família na
expectativa da melhora (com todas as sequelas inerentes) ou, ao contrário, da amputação. As reações
emocionais durante este período de indeterminação são as mais variadas possíveis, cabendo ao psicólogo
acompanhar tais manifestações de modo a proporcionar ao indivíduo atendido o apoio necessário para este
enfrentamento. Objetivo: Refletir de maneira qualitativa sobre o atendimento psicológico de apoio oferecido
aos pacientes que estão em situação de risco de amputação de algum membro corporal em decorrência de
acidentes de trânsito ou de trabalho, focalizando nos recursos egóicos existentes e em como eles se evidenciam
diante desta situação de emergência. Método: Foram tomadas como base de discussão as experiências de
atendimentos psicológicos individuais realizados com pacientes internados na enfermaria de Ortopedia e
Traumatologia da Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão
Preto da Universidade de São Paulo (UE – HC – FMRP/USP), realizados pela autora ao longo de seu trabalho
integrado à esta equipe. O atendimento psicológico conduzido é primordialmente de apoio, breve e focal,
seguindo o embasamento psicodinâmico. Resultados: A informação sobre a possibilidade de amputação
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 52
configura-se como um impacto à integridade corporal e à imagem que o paciente até então faz de si mesmo.
Por ser um fator de ruptura de um equilíbrio psíquico estabelecido (já fragilizado devido ao acidente sofrido),
impõe novas demandas de funcionamento ao ego, que recorre aos recursos dos quais dispõe e que dependem
do nível de desenvolvimento pessoal, mobilizando defesas com base na negação ou na aceitação da realidade.
Este fator, associado ao significado que o específico membro tem para o paciente, parece influenciar na
aceitação ou não da possível amputação assim como no enfrentamento desse momento expectante no qual
usualmente são realizados inúmeros procedimentos cirúrgicos na tentativa de modificar a evolução do quadro.
A total negação desta realidade é rara por parte dos pacientes atendidos no contexto abordado, porém
mecanismos de dissociação, deslocamento, idealização e até mesmo projeção são frequentes em pacientes
com menos recursos internos, sendo que defesas como identificação, racionalização e intelectualização
costumam ser utilizadas por pacientes com recursos psíquicos mais maduros. Conclusões: O atendimento
psicológico realizado por um profissional qualificado possibilita como diferencial a avaliação in loco dos
mecanismos defensivos em utilização e os recursos psíquicos disponíveis no paciente atendido, determinando
o tipo de intervenção a ser realizada. Alguns mecanismos defensivos primitivos devem ser substituídos por
meio do fortalecimento egóico e outros, mais maduros, podem ser reforçados por constituírem-se, no momento
pelo qual o paciente está passando, fundamentais para sua preservação mental e enfrentamento do tratamento.
Palavras-Chave: Psicoterapia de Apoio, Amputação, Mecanismos de Defesa, Enfrentamento.
P09- OBESIDADE E SEXUALIDADE FEMININA: A VIVÊNCIA DE
MULHERES SUBMETIDAS À CIRURGIA BARIÁTRICA
Érica Helena Martins de Godoy¹, Dra Maria Alves de Toledo Bruns²
¹ Mestre em Psicologia pela FFCLRP-USP
² Docente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da FFCLRP-USP
Introdução: O corpo da pós-modernidade tem sido aprisionado por um padrão de estética extremamente
magra, o qual exige o reconhecimento do outro e sofre ao ser excluído, quando não se adéqua a tais padrões
impostos pela sociedade. Dessa premissa, focamos nossa atenção a mulheres obesas, uma vez que estão a
margem da estética da magreza. Atualmente a obesidade tem sido considerada uma grave questão para a
saúde pública. Sua expressão mais severa, a obesidade grau III, pressupõe um Índice de Massa Corpórea
(IMC) acima de 40 kg/m² e tem como indicação de tratamento a cirurgia bariátrica. O emagrecimento provocado
por este procedimento gera uma modificação na imagem corporal e em diversos fatores da vida do indivíduo,
dentre os quais destacamos os relacionamentos afetivo-sexuais. Objetivo: compreender os significados/
sentidos que a mulher obesa atribui à sua vida afetivo-sexual no decorrer de sua existência, em especial com
a nova imagem corporal proporcionada, no período pós-operatório. Método: utilizamos a metodologia de
pesquisa qualitativa fenomenológica, centrada na redução fenomenológica, o que nos permite o retorno ao
mundo da experiência vivida pelas colaboradoras. Como estratégia de acesso às colaboradoras utilizamos a
entrevista fenomenológica compreensiva com dez mulheres adultas, idade entre 31 e 56 anos, submetidas à
cirurgia bariátrica, há pelo menos seis meses. Esse encontro foi mediado pela questão: “Fale a respeito de
sua vida, como foi sua infância, sua adolescência, sua vida adulta, relacionando com aspectos da obesidade
e de sua vida afetivo-sexual”. Os depoimentos foram analisados em acordo com os seguintes passos: leitura
e releitura das entrevistas; discriminação das unidades de significados; elaboração de categorias e identificação
das divergências e convergências. Resultados: destacaram-se as seguintes categorias: 1) Nos horizontes
da infância; 2) A temporalidade da adolescência; 3) A temporalidade da vida adulta; 4) Vivência após a cirurgia
bariátrica; 5) Nos horizontes dos projetos de vida. A análise compreensivo-interpretativa, utilizando o referencial
psicanalítico, viabilizou o desvelamento de vivências repletas de sucessivos fracassos, além de histórias
familiares marcadas por perdas reais ou simbólicas de pessoas queridas sentidas como abandono, ou então
doenças físicas graves que afetaram a utilização de defesas neuróticas. A adicção pelo alimento,
independentemente da estruturação psíquica, se expressou como tentativa de cura de si mesmas, diante do
conflito interno ou vazio simbólico. A melhora nos relacionamentos afetivo-sexuais, após o procedimento
cirúrgico, foi referendada pelas colaboradoras 4, 7, 8 e 10 que já possuíam um corpo simbólico. Conclusões:
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 53
esta pesquisa nos permite concluir que a realização da cirurgia transforma o corpo externamente contribuindo
para a melhora na Qualidade de Vida, mas não proporciona mudanças na elaboração psíquica, que permita
a veiculação erótica do “novo corpo”. A percepção da não erogeneização do corpo permanece lançando-as
em busca pelo preenchimento do objeto faltante. Faz-se necessário nomear a importância do tratamento
multiprofissional no pré e no pós-operatório da cirurgia bariátrica, para que a mulher possa refletir sobre: o
seu aprisionamento às idealizações acerca da estética atual; suas vivências afetivo-sexuais e expectativas
exageradas em relação à cirurgia bariátrica que tanto contribuem para acentuar o sofrimento psíquico.
Palavras-chave: Obesidade, Sexualidade Feminina, Cirurgia bariátrica, Fenomenologia, Psicanálise.
P10- VIVÊNCIA CORPORAL E HÁBITOS ALIMENTARES DE
MULHERES COM ANOREXIA NERVOSA
Carolina Leonidas1,3, Manoel Antônio dos Santos2,3
Universidade de Ribeirão Preto - UNAERP
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo
3
Grupo de Assistência em Transtornos Alimentares (GRATA) do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo - HC-FMRP-USP
Agência de Fomento: FAPESP
1
2
Introdução: A anorexia nervosa (AN) se caracteriza por uma recusa sistemática à ingestão de alimentos, pela
recusa do indivíduo a manter um peso corporal na faixa normal mínima adequada à sua idade e altura, pelo
medo intenso de ganhar peso e por uma distorção da imagem corporal – percepção que cada indivíduo tem de
seu próprio corpo. Acredita-se que essa distorção leve ao desenvolvimento de hábitos alimentares disfuncionais
que, dependendo do grau em que ocorrem, podem manter ou agravar o quadro. Objetivos: O presente estudo
tem como objetivo investigar o modo como as pacientes vivenciam seu corpo, antes e após a instalação da AN,
bem como seus hábitos alimentares. Método: Foram investigadas nove mulheres jovens e adultas com
diagnóstico de AN, vinculadas ao GRATA, serviço especializado do HCFMRP-USP. Os dados foram coletados
mediante aplicação de entrevistas semi-estruturadas, audiogravadas e, posteriormente, transcritas na íntegra.
Resultados: Foi possível apreender, na etapa anterior à ocorrência da AN, baixa auto-estima, leve insatisfação
com o corpo e percepção do corpo como normal. Quanto aos hábitos alimentares característicos desta etapa
pré-transtorno: algumas participantes relataram possuir hábitos alimentares normais, enquanto outras relataram
possuir hábitos desregrados e/ou com excessos. Além disso, a maioria das participantes demonstrou não sentir
nenhum incômodo ao ingerir alimentos, relatando inclusive sentimentos de prazer na alimentação. Após a
instalação do quadro psicopatológico foi possível identificar: distorção da imagem corporal, corpo tomado como
objeto de intensa insatisfação, visão “normal” do corpo, visão do corpo dependente do humor, insatisfação
consigo mesma, desconforto diante do olhar do outro, postura passiva diante desse olhar, sentimento de incomodar
o outro e ser indesejável, negação da gravidade da patologia, sentimentos negativos “descontados” na comida,
perturbação após a alimentação, preocupação constante e angústia relacionadas a alimentos específicos,
expectativa de cursar uma universidade e de formar uma família, desejo de superação do transtorno e, em
contrapartida, desesperança na possibilidade de autorealização. Conclusões: A distorção da imagem corporal
passa a ser percebida com maior intensidade em momento que coincide com o período em que os
comportamentos alimentares se tornam mais disfuncionais, o que sugere uma relação estreita entre os dois
temas investigados. Levando-se em conta a baixa auto-estima, somada à tendência ao perfeccionismo típica
de pacientes com AN, ao sentimento de ser indesejável e à magreza como símbolo social de beleza e sucesso,
depreende-se a existência de uma insatisfação consigo mesma, em sentido mais amplo – não apenas, em um
primeiro momento, com o peso e o formato do corpo –, que parece ser, em um segundo momento, direcionada
para o corpo em uma tentativa de compensação de aspectos psíquicos fragilizados ou de obter sentimento de
controle sobre si. Essa tentativa de resgatar o senso de autocontrole manifesta-se a partir de condutas alimentares
disfuncionais de restrição e purgação, já que o alimento parece despertar sentimentos de forte ambivalência
afetiva, que traduz e concretiza, no plano do comportamento alimentar, os conflitos emocionais inconscientes.
Palavras-chave: anorexia nervosa, imagem corporal, hábitos alimentares.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 54
P11- ANOREXIA NERVOSA: ESTUDO DE CASO
Verônica Apolinário Casella
Hospital Universitário (HU) da
Universidade Federal de Juiz de Fora – MG
Introdução: A anorexia nervosa é um transtorno caracterizado pela falta de apetite gerando acentuada perda
de peso e outros sintomas resultantes de conflitos psíquicos. Ela atinge principalmente adolescentes e jovens
mulheres, sendo capaz de mobilizar, de forma marcante, aspectos emocionais, físicos e sociais da vida do
paciente. É uma patologia que traz sofrimento intenso não apenas para o portador, mas também para seus
familiares. Objetivo: A proposta deste estudo de caso é expor alguns aspectos psíquicos de uma paciente
anoréxica que realizou um acompanhamento psicológico no Hospital Universitário de Juiz de Fora, como
também a relação familiar envolvida e as causas para o desencadeamento do transtorno. Método: A pesquisa
foi baseada em atendimentos clínicos realizados duas vezes por semana durante um intervalo de quatro
meses, cada atendimento tinha duração de aproximadamente de 50(cinqüenta) minutos; Um dos atendimentos
foi realizado de forma privativa na sala de psicologia, conforme a vontade da paciente, mas de forma geral
era realizado em um leito de uma das enfermarias do próprio Hospital Universitário. Os atendimentos possuíam
enfoque psicanalítico, e semanalmente era realizada supervisão com uma psicóloga formada e especialista
em psicologia hospitalar em que era possível discutir os atendimentos e receber as orientações necessárias
para a condução do caso. Resultado: Após os atendimentos foi possível para a paciente elaborar de forma
enfática seu histórico familiar, e sua relação de dependência com a mãe foi marcante. A paciente mostrou o
desejo por um corpo idealizado e ao mesmo tempo esse desejo de emagrecer podia claramente ser relacionado
com a tentativa de retardar sua maturidade sexual. Os atendimentos foram mais focados na internação e em
suas dificuldades de permanecer no hospital, como também na relevância de um acompanhamento ao sair
do mesmo. Conclusão: Na Anorexia Nervosa, além da desnutrição instaurada, o comprometimento psíquico
se faz presente. O ideal de um corpo perfeito que a sociedade “exige” faz com que muitas pessoas se
submetam as mais diversas formas de se inserir nesse ideal; As distorções corporais também se fazem muito
presentes nesse quadro, e neste contexto que a estrutura familiar muitas vezes se desestabiliza, principalmente
nas crises e internações que são freqüentes em momentos mais avançados da doença. Tudo isso contribui
para que o tratamento, das mais variadas formas, seja de difícil sucesso a princípio. No entanto, o caso
narrado demonstrou que a escuta analítica é uma importante ferramenta para a melhora do quadro.
Palavras-chave: Anorexia Nervosa, Estudo de caso, Comprometimento psíquico,
P12- CORPOS VIVIDOS – CORPOS TRANSFORMADOS: UMA LEITURA PSICANALÍTICA DOS
PACIENTES COM PARAPARESIA ESPÁSTICA TROPICAL DECORRENTE DO VÍRUS HTLV-1
Gascón, Maria Rita Polo; Casseb, Jorge; Nogueira-Martins,
Maria Cezira Fantini; Penalva-Oliveira, Augusto César
Programa de Pós Graduação em Ciências da Coordenadoria de
Controle de Doenças (CCD) – Secretaria de Saúde de São Paulo –
Ambulatório de HTLV do Instituto de Infectologia Emílio Ribas
Introdução: A Paraparesia Espástica Tropical (TSP/HAM) é uma doença neurológica ocasionada pelo vírus
HTLV-1 (vírus linfotrópico humano), acometendo preferencialmente membros inferiores, de forma lenta e
progressiva, que geralmente acomete seus portadores a quadros incapacitantes podendo os levar à paraplegia.
Objetivo: Compreender através de uma leitura psicanalítica a percepção da imagem corporal após a evolução
dos sintomas da TSP/HAM. Método: Para atingir tal objetivo foram realizadas quarenta e nove entrevistas
com pacientes diagnosticados com paraparesia espástica tropical, no período de maio de 2008 á fevereiro de
2009, selecionados aleatoriamente. Como instrumento utilizou-se uma entrevista semi-estruturada elaborada
para o presente trabalho e aplicada no ambulatório de HTLV do Instituto de Infectologia Emilio Ribas. Os
resultados foram submetidos à análise qualitativa sob a ótica da psicanálise freudiana. Resultados: Foi
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 55
observado, dentre outras coisas, que a incapacidade ocasionada pela doença gera em seus portadores
sintomáticos sentimentos de exclusão, inutilidade, impotência, frustração diante da mudança do esquema
corporal decorrente da progressão da doença, resultando em uma percepção de uma imagem corporal negativa.
Estas alterações corporais acarretam uma predominância de humor deprimido e ansioso nesses pacientes,
na medida em que o corpo já não é visto como veículo ou meio de satisfação pulsional, mas sim, como forma
de expressão da dor e do sofrimento, da frustração, da insatisfação e do impedimento á potência fálico
narcísica. Conclusão: Conclui-se que a mudança no esquema corporal ocasionada pela incapacidade motora
decorrente da evolução e progressão da TSP/HAM altera a percepção da imagem corporal, ocasionando a
predominância de humor deprimido e ansioso nestes pacientes. O acompanhamento psicológico mostra-se
necessário frente aos resultados encontrados neste estudo.
Palavras-Chaves: HTLV-1, Paraparesia Espástica Tropical, Psicanálise.
Suporte Financeiro: CCD/SES-SP, Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
P13- PERSPECTIVA DE VIDA EM ADULTOS PORTADORES DE HIV
Lédice Lino de Oliveira, Cláudio Garcia Capitão
Instituto de Infectologia Emílio Ribas
Introdução: Sabe-se que o adulto portador de HIV, em sua maioria, atualmente, vive um ritmo acelerado de
vida, em fase exploratória, de conquistas e/ou concretizações, momento em que o diagnóstico de uma doença
crônica, como a Aids, exigirá capacidade de resiliência para manter suas expectativas com relação à vida,
bem como para o enfrentamento da própria doença. Inicialmente buscou-se a definição psicanalítica da fase
adulta e a atual condição de vida deste grupo na sociedade brasileira com relação ao trabalho, estudo e
constituição familiar. O presente estudo apresenta o quadro da Aids no Brasil e no mundo, bem como o
impacto social enfrentado pelo portador de HIV. Buscou-se explorar a visão psicanalítica da sociedade
contemporânea e o processo do adoecer fornecidos por esta mesma base teórica. Objetivo: Utilizando a
Psicanálise como referencial teórico, o presente trabalho objetiva identificar algumas das formas como o
adulto portador de HIV estrutura sua perspectiva de vida no que tange a alguns postulados da sociedade
contemporânea ocidental, como trabalho, estudo e constituição familiar, assim como conhecer algumas das
estratégias de enfrentamento da doença e tratamento, por meio de um estudo sobre o tema extraído de três
teses congruentes aos objetivos deste trabalho. Método: Buscou-se por meio de bases de dados eletrônicos
e busca manual, os subtemas: “qualidade de vida”, “enfrentamento”, “suporte social” e “ressignificação”,
conduzindo à seleção de 03 estudos: “A Ferida na Alma: os doentes de Aids sob o ponto de vista psicanalítico”,
“Pessoas que vivem com HIV/Aids: configurando relações entre enfrentamento, suporte social e qualidade de
vida” e “Da Sobrevivências a Existência: a ressignificação da vida diante da Aids”. Resultado: Foi possível
conhecer algumas das estratégias de enfrentamento da doença e tratamento utilizadas pelos portadores de
HIV, a saber apoio social e familiar, auto-reflexão, convivência com parceiros, freqüência na escola e trabalho.
Conclusão: é possível identificar que o trabalho, o estudo e a constituição familiar são fatores importantes
para a estruturação da perspectiva de vida do soropositivo inserido na sociedade contemporânea, todavia, há
grande necessidade de se efetuar outras pesquisas com vistas a aprofundar estes objetivos, a fim de que
seja possível identificar e conhecer como se dá essa estruturação, quais são suas dificuldades e/ou facilidades,
para que se possam sugerir, até mesmo, novas políticas públicas voltadas a esta população, minimizando a
segregação inserida em nossa sociedade.
Palavras-chave: Identificação (Psicologia), Narcisismo, Ego, Enfrentamento.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 56
P14- HEPATITE C: SINTOMAS DEPRESSIVOS, CONSUMO DE ÁLCOOL, QUALIDADE
DE VIDA E SOFRIMENTO PSÍQUICO DURANTE O TRATAMENTO ANTIRETROVIRAL
Danusa de Almeida Machado, Giovanni Faria Silva,
Karina Pani Oliveira, Ana Teresa de Abreu Ramos-Cerqueira
Hospital das Clínicas/Faculdade de Medicina de Botucatu – SP
Introdução: A prevalência da Hepatite C é estimada em mais de 170 milhões de pessoas infectadas no
mundo, e no Brasil cerca de três milhões. Transmitida pelo contato parenteral, está associada à
descompensação hepática e ao desenvolvimento de carcinoma hepatocelular. A alta prevalência, a dificuldade
de controle e tratamento e o alto custo para o sistema de saúde evidenciam importante problema de saúde
pública. Objetivo: Descrever características sócio-demográficas, prevalência de transtorno mental comum
(TMC), depressão, consumo de álcool e índices de qualidade de vida (QV) em pacientes com Hepatite C, no
início, no terceiro e sexto mês do primeiro tratamento antiretroviral e estudar a associação entre essas variáveis.
Método: Realizou-se estudo transversal (N=82) e de seguimento, avaliando-se 46 pacientes na primeira, 12ª
e 24ª semanas de tratamento antiretroviral para Hepatite C em um hospital-escola do interior de São Paulo.
Utilizaram-se formulário para informações sócio-demográficas, e escalas padronizadas e validadas para a
população brasileira para avaliar: TMC (Self Report Questionnaire - SRQ), depressão (Inventário de Depressão
de Beck - BDI), consumo e dependência de álcool (Alcohol Use Disorders Identification Test - AUDIT) e QV
(Short-Form Health Survey - SF-36). Foi realizada análise descritiva e univariada no STATA 8.0. Resultados:
Predominaram homens (56,5%), idade entre 22 e 69 anos (Média=44,3; DP+10,8) união consensual (58,7%).
A média de anos estudo foi 11,5 (DP+5,5); 58,7%; tinham renda per capita inferior a dois salários mínimos;
73,9% trabalharam em ocupações qualificadas, estando 65,2% empregados. A prevalência de TMC foi 23,9%,
54,4% e 54,4% nas semanas um, doze e 24, respectivamente; de sintomas depressivos, 26,1% na 1ª semana
e nas semanas doze e 24 32,6% e 34,8% respectivamente. Relataram uso nocivo de álcool, no momento 1
30,4%, na semana 12, 21,7%, e na 24 10,9%. Foram estatisticamente significativas associações no início do
tratamento entre: consumo de risco de álcool e escolaridade (p<0,05) e qualificação da ocupação (p<0,05).
Sintomas depressivos associaram-se com trabalhar fora (p<0,05), e a gravidade desses sintomas, com
presença de companheiro (p<0,023). No terceiro mês foram significativas associações entre consumo de
risco de álcool e idade (p<0,05), e trabalhar fora (p<0,05). Na semana 24 foram significativas as associações
entre TMC e idade (p<0,05); presença de sintomas depressivos e renda (p<0,05), estando sua gravidade
associada à ausência de companheiro (p<0,05). Na primeira avaliação os domínios da QV com maior
comprometimento foram vitalidade (média=63,6) e saúde mental (65). No terceiro mês as menores médias
obtidas foram: aspectos físicos (44,0) e vitalidade (47,7). Na semana 24 a vitalidade apresentou pontuação
média de 52,7 e aspectos físicos, 55,4. Os domínios com maiores escores foram: capacidade funcional
(média de 86,1); estado geral de saúde (71,3) e capacidade funcional (68,7), no momento 1, e nas semanas
12 e 24, respectivamente. Conclusões: Considerando-se prevalências de depressão, TMC e uso de álcool e
índices de QV, evidencia-se a necessidade de intervenções que auxiliem no enfrentamento e procurem
assegurar a adesão, para minimizar o impacto do tratamento antiretroviral e contribuir para um desfecho
adequado do mesmo.
Nível do Trabalho: Mestrado – Bolsa: FAPESP.
Palavras-chave: Hepatite C, Depressão, Qualidade de Vida, Tratamento Antiretroviral.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 57
P15- PROGRAMA AMBAD: PROMOVENDO ACESSO AO TRATAMENTO DE TRANSTORNOS
ANSIOSOS E DEPRESIVOS A COMUNIDADE DE BAIXA RENDA DO ESTADO PARÁ
Eliana de Jesus da Costa de Souza, Girlany Barbosa Tavares, Rose Daise Melo
do Nascimento, Marina Dalmácio dos Anjos, Marco Aurélio Valle de Moraes
Universidade Federal do Pará – Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza
Introdução: Muitos estudos a cerca dos transtornos mentais apontam a ansiedade e a depressão como o
mal do século XXI. No Brasil, estes transtornos ocupam o quarto lugar entre as patologias incapacitantes. A
depressão é um distúrbio que afeta pensamentos, humor, sentimentos, comportamento e saúde física e a
ansiedade caracteriza-se principalmente por uma preocupação exagerada crônica, tensão, e irritabilidade
que parecem não ter causa e que são mais intensos do que a situação justificaria. Esses sintomas psicológicos
geralmente são acompanhados de sinais físicos como dificuldade para dormir, agitação, dor de cabeça,
tremores, espasmos, tensão muscular e sudorese. Atualmente observa-se um aumento na prevalência destes
transtornos em pacientes de baixa renda, que muitas vezes não tem acesso ao tratamento adequado. A partir
deste contexto foi criado o programa AMBAD – Ambulatório de Ansiedade e Depressão, vinculado ao
Departamento de Psicologia Clínica da UFPA e que desenvolve suas atividades no Hospital Universitário
Bettina Ferro de Souza. Trata-se de um programa de extensão que oferece serviços à comunidade de baixa
renda do estado do Pará. Objetivo: O ambulatório tem como objetivos oferecer a população de baixa renda
que apresentam sintomas de ansiedade e depressão, um tratamento que integre eficácia, tempo reduzido e
baixo custo através de um método combinado de psicoterapia e farmacoterapia para o amazônida. Método:
Para fins de pesquisa foram realizadas análises quanti-qualitativa em uma amostra de 32 prontuários de um
total de 79 pacientes atendidos no Programa em 2007. Resultados: Em relação ao gênero, 71% dos pacientes
atendidos são do sexo feminino e 29 % são do sexo masculino com média de idade de 30 a 35 anos; 65%
destes tinham renda entre 0 e 1 salário mínimo. Entre os sintomas mais citados tem-se: sensação de tristeza
e inquietação e destes, 40% foram diagnosticados com transtornos misto de ansiedade e depressão. A média
de tempo de tratamento dos pacientes da amostra foi de 05 meses. O custo anual do tratamento ficou em
torno de R$ 382,00, segundo este resultado o paciente gastou em média R$ 31,00 por mês (cerca de 8,15 %
do salário mínimo estabelecido na época - R$ 380,00). Da referida amostra 62% dos pacientes tiveram alta
com significativa redução dos sintomas. Conclusões: A partir de uma perspectiva interdisciplinar o AMBAD
procura oferecer um tratamento eficaz que possibilite ao paciente de baixa renda uma melhor qualidade de
vida, buscando fomentar no mesmo, a auto-gestão. Todavia esta modalidade de tratamento ainda é pouco
estudada e precisa ser suficientemente investigada, porque envolve estudos sistemáticos de técnicas
psicoterápicas, cultura, custos e outras variáveis inerentes a cada população onde estes transtornos de
caráter universal incidem.
Palavras-chave: ansiedade, depressão, tratamento, baixo custo, eficácia.
P16- O GRUPO DE ACOLHIMENTO COMO UM INSTRUMENTO DE HUMANIZAÇÃO
NO PRIMEIRO ATENDIMENTO DO AMBAD
Girlany Barbosa Tavares, Eliana de Jesus da Costa de Souza, Rose Daise Melo do
Nascimento, Marina Dalmácio dos Anjos, Marco Aurélio Valle de Moraes
Universidade Federal do Pará – Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza
Introdução: O AMBAD – Ambulatório de Ansiedade e Depressão funciona como Programa de Extensão
desde 1997 e caracteriza-se como um grupo de trabalho interdisciplinar que desenvolve as atividades integradas
de Extensão, Ensino e Pesquisa, tendo como enfoque os fenômenos da ansiedade e da depressão. Desenvolve
um trabalho pautado na valorização do sujeito, na cultura e na maneira de adoecer de sua clientela. Procura
trabalhar em um método combinado de psicoterapia tanto individual como grupal e farmacoterapia de alta
eficácia e baixo custo para o tratamento dos transtornos depressivos e ansiosos. As atividades do AMBAD,
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 58
baseadas na literatura, mostram que a prática de atendimento de pacientes em grupo tem apresentado um
acentuado crescimento na atualidade, sobretudo quando levados em consideração fatores temporais,
econômicos e novas concepções em tratamento de saúde mental. Objetivos: O Grupo de Acolhimento é um
dos atendimentos oferecidos pelo Programa e tem como objetivo criar um espaço de acolhimento e atendimento
humanizado a indivíduos atendidos pela primeira vez no ambulatório, trabalhar a motivação destes no que se
refere ao tratamento, conhecer suas expectativas a cerca do tratamento e coletar dados sócio-econômicosdemográfocos e clínicos através do instrumento de triagem. Método: O Grupo de Acolhimento é realizado
por três membros da equipe AMBAD, composta por profissionais e estagiários de Psicologia e Serviço Social,
com papeis previamente definidos como: coordenador, observador e registrador. A realização dos grupos foi
estruturada a partir de um enquadre descrito pelas etapas: recepção dos pacientes, apresentação da equipe,
dinâmica de relaxamento e dinâmica de reflexão (dinâmica do papel), análise da dinâmica e preenchimento
da triagem. Resultados: A partir da análise dos grupos foi possível identificar alguns fenômenos apresentados
pelos participantes: via de regra, os pacientes ficam resistentes por terem que participar de um grupo em vez
de serem atendidos primeiramente por um médico; durante o andamento do grupo há uma identificação entre
os integrantes ao perceberem que existem outras pessoas com sintomas semelhantes; e ao final de cada
trabalho eles reconhecem a importância e os benefícios que o grupo traz, com relatos referentes à adesão ao
tratamento e vontade de ficar bom. Conclusões: O AMBAD oferece um tratamento diferenciado a seus
pacientes, principalmente com o trabalho do Grupo de Acolhimento, como é o primeiro contato do paciente,
deve ser sobretudo humanizado. Essa atividade se mostrou um instrumento de grande valia no início do
tratamento dos pacientes, pois permite que por intermédio do contato entre indivíduos que compartilham de
uma realidade semelhante, sejam acolhidos num espaço terapêutico que alivia o nível de ansiedade, esbate
fantasias sobre o episódio que estão vivenciando, facilita a integração entre o paciente e a equipe.
Palavras-chave: Grupo de Acolhimento, humanização, ansiedade, depressão.
P17- O BEBÊ IMAGINÁRIO: UMA EXPERIÊNCIA EM OBSERVAÇÃO DE
GRÁVIDAS EM SEU PRIMEIRO EXAME ULTRA-SONOGRÁFICO
Eliana de Jesus da Costa de Souza, Rose Daise Melo do Nascimento,
Janari da Silva Pedroso
Universidade Federal do Pará – Pós Graduação em
Psicologia Clínica e Social
Introdução: Durante a gravidez a mãe já possui uma imagem a cerca do bebê, de acordo com seus desejos
e fantasias. Segundo a literatura consultada, a cerca do desenvolvimento infantil, na mente da grávida convivem
três tipos de bebês: O edípico, o imaginário e o propriamente dito. O bebê edípico é considerado o mais
inconsciente, resultando da história pueril da mãe e carregado dos seus desejos infantis de procriar com o pai
e posteriormente reprimido com a resolução do Complexo de Édipo, este é chamado pelo autor de o bebê da
fantasia. O bebê imaginário resultado do desejo da maternidade e se constitui durante a gravidez, é o bebê
das expectativas e dos sonhos diurnos da mãe. E o bebê propriamente dito é aquele em que a mãe verá após
o nascimento. O confronto do bebê imaginário com o bebê real, via de regra acontece após o nascimento.
Porém atualmente com o advento da ultra-sonografia obstétrica alguns aspectos concretos do bebê podem
ser reconhecidos durante a gestação. Objetivo: este trabalho teve como objetivo analisar, através das falas
das grávidas participantes deste estudo, a influência do primeiro exame ultra-sonográfico na representação
psíquica do bebê imaginado pela mãe durante a gravidez. Método: São apresentados relatos de três mães
primíparas, com idade entre 19 e 30, em média no quarto mês de gravidez, que realizaram o pré-natal no
Hospital Santa Casa de Misericórdia e que não haviam realizado o exame ultra-sonográfico antes do contato
para a participação na pesquisa. Para realizar a coleta dos dados foram realizadas duas entrevistas: uma
anterior ao exame e outra posterior, bem como a observação no momento do exame. Com base em teóricos
psicanalíticos foram analisados os relatos das grávidas a cerca do bebê imaginado e influencia que o exame
ultra-sonográfico exerce sobre o exercício imaginativo das mães acerca do bebê que gastam uma vez que
este aparato tecnológico pode revelar alguns aspectos concretos do bebê durante a gestação. Resultados:
Dentre as influencias pode-se observar que houve uma mudança na forma como a mãe imaginava os bebês
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 59
após a realização do exame tanto nos aspectos físicos quanto psicológicos, permitindo a mãe uma aproximação
com o bebê mais real e menos idealizado. Conclusões: Entre outros achados desta pesquisa pode-se observar
que a ultra-sonografia introduz uma nova temporalidade à gravidez, pois o exame inscreve o bebê no tempo:
desde já ele é um sujeito sexual, mortal, distinto de sua mãe.
Palavras-chave: bebê imaginário, gravidez, exame ultra-sonográfico.
P18- A IDENTIDADE DO BEBÊ PRÉ-TERMO A PARTIR DO OLHAR MATERNO:
RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA
Flávio José Fernandes do Nascimento Costa
Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
Introdução: Durante estágio extracurricular entre outubro de 2002 a setembro de 2003 na Unidade de
Neonatologia do Hospital Universitário Prof. Alberto Antunes (HUPAA/UFAL) constatou-se a importância do
vínculo mãe-bebê, bem como a necessidade do reforço deste vínculo durante hospitalização. Muitas vezes,
os bebês hospitalizados são vistos como corpos a serem salvos, um “vir-a-ser”, algo que ainda não é, de
fato. A transição deste estado ao Ser começa através do olhar materno, que reveste o sujeito de uma identidade.
É neste instante singular que ocorre a intervenção do Psicólogo, facilitando a relação mãe-bebê. Objetivo:
Evidenciar a relevância do reforço do vínculo mãe-bebê, com base em fundamentos teóricos referentes à
Psicologia Hospitalar e Teoria Psicanalítica. Método: Este trabalho tem por base um Estudo de Caso. Dentre
as várias duplas acompanhadas, Mariana e Ana Maria (nomes fictícios) foram selecionadas para representar
o universo de mães e bebês hospitalizados no período do estágio em virtude do olhar recebido por Ana Maria.
A internação na UTI ocorreu devido à prematuridade, desconforto respiratório e hipoatividade de causa não
esclarecida. O atendimento quanto à queixa foi feito em onze atendimentos realizados durante dois meses.
Resultados: A importância das palavras é revelada no caso clínico a partir da necessidade de Mariana de
uma palavra médica sobre sua filha; denotando, assim, que aquilo que pode ser nomeado pode ser contido (e
melhor elaborado). Mesmo na falta de um diagnóstico, Ana Maria pôde existir/estar no mundo através de sua
mãe que, contrariamente à equipe (alguns membros) e outras pacientes, não a via somente como um bebê
doente, mas como um bebê investido de outras especificidades. Foi através do olhar da Psicologia que tais
especificidades tornaram-se indicadores de elementos de uma identidade nascente (ou, por que não dizer,
pré-existente) os quais passaram a ser vistos pelo ser falante, (re)integrados às história de vida: da mãe, a
do bebê e a de ambas. Conclusões: Cabe ao psicólogo oferecer sua escuta ao sujeito, facilitando desta
maneira uma transição de paciente para agente do conflito expresso em sua sintomatologia atual, esta ação
estende-se aos acompanhantes. Em se tratando, porém, de Unidade Neonatal esta inscrição “paciente-sintomaagente” não ocorre de forma linear, conforme evidenciado neste trabalho, por se tratar de um atendimento a
um VÍNCULO, isto é, à uma dupla. Há condições que os atendimentos demonstraram: (1) trata-se de familiares
muito próximos(mãe-filho/a), (2) há um vínculo pré-existente ao nascimento do bebê, (3) há uma idealização
deste vínculo e (4) a não-correspondência da realidade com este vínculo idealizado, pode gerar sentimentos
de culpa. Configura-se, neste contexto, o campo de ação onde o psicólogo atua, visando à emergência do
olhar materno estruturante. Emergência e “manutenção” deste olhar durante todo o tempo de internação do
bebê. Com efeitos além da alta.
Palavras-chave: UTI Neonatal, vínculo mãe-bebê, teoria psicanalítica.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 60
P19- INFLUÊNCIAS DA GRAVIDEZ NO DESENVOLVIMENTO DE
ANSIEDADE E DEPRESSÃO NA ADOLESCÊNCIA
Elaine de Faria Alves, Gabriela Dias Lourenço, Lucia Nunes de Oliveira,
Marisa Aparecida Elias, Rivelino Rodrigues Arcanjo, Yasmin Lívia Queiroz
Instituto Luterano de Ensino Superior de Itumbiara
Introdução: O número de adolescentes grávidas está crescendo anualmente em todo o mundo e vem se
tornando uma questão de saúde pública. Em função disso, bem como da carência de pesquisas que abordem
as questões subjetivas das vivências de adolescentes grávidas, surgiu o interesse e a necessidade de se
estudar a complexidade desse fenômeno. Objetivo: Verificar a existência de depressão, ansiedade em
adolescentes grávidas ou que engravidaram até os 18 anos, verificando possíveis associações entre estes
transtornos com variáveis psicossociais. Método: O desenvolvimento deste projeto foi estruturado de forma
descritiva com pesquisa de campo. A amostragem da pesquisa foi constituída por adolescentes grávidas ou
que engravidaram até os 18 anos, compreendendo um total de 30 (trinta) jovens, na cidade de Itumbiara/GO.
Como instrumento de coleta de dados foram utilizadas as Escalas Beck, as quais têm por finalidade medir a
intensidade da depressão e da ansiedade. Esse teste foi respondido pelas adolescentes quando compareciam
ao Hospital Municipal para acompanhamento. Após esclarecimento sobre os objetivos da pesquisa procediase a coleta de dados. Posteriormente, foi realizada uma entrevista semi-dirigida com cinco adolescentes que
apresentaram sinais significativos de transtorno nas escalas, visando aprofundar as informações obtidas e
buscar suas possíveis causas. Foram tomados os cuidados éticos preconizados pela Lei 196 que estabelece
as regras para pesquisas com humanos e os dados coletados foram tratados por meio de uma análise
qualitativa. Resultados: O levantamento preliminar do nível de ansiedade demonstrou que 57% da amostra
apresentou um nível de ansiedade de moderado a grave. Em relação ao nível de depressão, os resultados
demonstraram que 28,5% delas apresentaram depressão em grau moderado e nenhuma apresentou o nível
grave de depressão. Através da análise das entrevistas, foi possível perceber que a ansiedade e a depressão
que apareceram no levantamento preliminar não são conseqüências diretas da gravidez na adolescência,
mas da inter-relação entre esta situação e fatos específicos de vida de cada uma, como os problemas
financeiros, conflitos com a família e abortos espontâneos. Apesar de a gravidez ser inesperada e mesmo
indesejada, não é vivenciada como uma tragédia para estas adolescentes. O sofrimento está associado à
falta de suporte afetivo e financeiro, seja da família ou do companheiro. Conclusões: Sendo assim podemos
concluir que a vivência da gravidez, apesar de ser fato natural, vivida em situação inesperada, não planejada
e sem apoio adequado pode conduzir a perdas afetivas importantes e agravar aspectos já esperados do
processo de gestação. Sendo a adolescência um momento de vulnerabilidade do sujeito humano, novos
estudos são necessários para viabilizar estratégias de prevenção, uma vez que a informação não é suficiente
para evitar a gravidez indesejada, sinalizando que os motivos da mesma ultrapassam análises superficiais
que considerem aspectos puramente comportamentais.
Palavras-chave: adolescência, gravidez, transtornos psicológicos.
P20- GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: O LUTO DE UMA GESTAÇÃO INDESEJADA
Elaine de Faria Alves, Lucia Nunes de Oliveira,
Marisa Aparecida Elias, Yasmin Lívia Queiroz
Instituto Luterano de Ensino Superior de Itumbiara
Introdução: Um aspecto ainda pouco considerado pela literatura é o luto experimentado pelas adolescentes
que sofrem aborto espontâneo. Este trabalho apresenta reflexões a respeito da vivência do luto por uma
adolescente de 17 anos que abortou no oitavo mês de gestação. A morte é sempre um choque, especialmente
para uma mãe cujo bebê ainda não nasceu. O que tornou esta situação mais inesperada foi a iniciativa do
hospital em descartar o bebê sem oferecer à mãe a possibilidade de realizar o velório e enterro de seu filho.
Objetivo: Refletir sobre a importância dos rituais na elaboração do luto. Método: Trata-se de um estudo de
caso de uma adolescente que sofreu aborto espontâneo no oitavo mês de gestação. O caso emergiu de uma
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 61
pesquisa exploratória sobre a vivência de ansiedade e depressão durante a gravidez na adolescência. A
análise foi feita tomando por base a teoria psicanalítica. Resultados: A jovem apresentou uma história de
gestação difícil, visto que foi abandonada pelo companheiro e chegou a pensar na interrupção da gravidez.
Porém, após receber apoio da família decidiu por ter o filho e relatou estar feliz com a decisão. A inesperada
situação de perda acarretou grande sofrimento e uma infinidade de sentimentos que foram desde a culpa
(por ter pensado na interrupção) até o luto. No caso específico de um natimorto, a situação encontra-se
agravada devido à sensação de confusão e irrealidade, pois nascimento e morte foram misturados. A
vulnerabilidade da adolescência torna a vivência do luto mais intensa e seu enfrentamento mais difícil. A
atitude do hospital de, alegando os problemas financeiros daquela família, descartar o bebê sem devolver o
mesmo a eles para realização do velório e enterro, agravou a situação. A adolescente após saber que o bebê
foi enterrado sem identidade pelo hospital, se mobilizou para buscar recursos e conseguir resgatar seu filho
e realizar o velório. A literatura mostra que a recuperação normal de uma perda envolve levar em conta o que
ocorreu, ordenar sentimentos confusos e expectativas perdidas, a fim de que a lembrança do filho perdido
retroceda a uma perspectiva saudável. Os rituais representam as estratégias que a cultura criou para facilitar
essa elaboração. Ao ser privada de realizar seu ritual, esta adolescente vê-se violada e busca estratégias que
possam auxiliá-la na experiência de dor. A impossibilidade de contato com seu filho morto aumenta os problemas
emocionais enfrentados no período subseqüente à alta hospitalar. Conclusão: Percebe-se aqui a importância
dos ritos para elaboração da perda e vivência do luto saudável. A busca da adolescente pelo seu filho morto
representa a busca pelo seu direito de vivenciar sua dor. Importa aqui, mais do que o enterro, a possibilidade
de (re)conhecê-lo e dele se despedir. A dor deve ser partilhada, respeitando o período normal de desequilíbrio,
para que depois a pessoa tenha oportunidade de se reequilibrar de forma mais estruturada e adaptada.
Palavras-chave: Adolescência, Gravidez, Luto.
P21- SEXUALIDADE NA GRAVIDEZ: A PERCEPÇÃO DE MULHERES GRÁVIDAS
Caroline Atilio de Freitas, Elaine de Faria Alves, Iolanda Lima de Almeida,
Lúcia Nunes de Oliveira, Marisa Aparecida Elias, Yasmin Livia Queiroz
Instituto Luterano de Ensino Superior de Itumbiara
Introdução: Este estudo pretende discutir como se manifesta a sexualidade das mulheres durante a gestação.
Além das adaptações orgânicas e funcionais que interferem na sexualidade na gestação não se pode
desconsiderar os componentes emocionais, como fundamentais para o desempenho sexual. Objetivo:
Investigar as prováveis alterações na manifestação da sexualidade da mulher em situação de gestação.
Método: Esta pesquisa foi estruturada de forma descritiva, delineada como pesquisa de campo. A amostra
constituiu-se de mulheres grávidas, vivenciando o período gestacional a partir do primeiro trimestre,
compreendendo um total de 20 (vinte) mulheres, na cidade de Itumbiara/GO. Como instrumento de coleta de
dados foi utilizado um questionário com 10 (dez) questões fechadas, respondido pelas grávidas durante a
espera para consulta nos Postos de Saúde Pública de Itumbiara/GO. Os dados coletados foram analisados
de forma quantitativa e qualitativa. Os dados foram tratados de acordo com os cuidados éticos previstos na
Resolução 0196/96 do Conselho Nacional de Saúde, possibilitando aos participantes o entendimento dos
objetivos do estudo e os esclarecimentos necessários à sua participação ou não na pesquisa. Resultados: A
maioria das gestantes pertencia à faixa etária compreendida entre 20 a 29 anos de idade. Em relação à
manifestação do desejo sexual, aquelas pertencentes ao primeiro trimestre relataram que o desejo sexual
permaneceu estável durante a gravidez, mas o prazer sexual (orgasmo), sofreu alteração, ou seja, antes da
gravidez sempre sentiam orgasmo, já durante a gravidez houve uma diminuição e poucas vezes sentiram
orgasmo, atribuindo ao medo durante a relação de comprometer o desenvolvimento e a saúde do bebê. As
que estavam no segundo trimestre, a maioria respondeu que o desejo sexual, assim como o prazer mantiveramse estáveis, e 30% delas relataram que tanto o desejo como o prazer diminuiu, atribuindo às alterações
orgânicas, como náuseas e vômitos, e também o medo de machucar o bebê como principais fatores
contribuintes para essa alteração. Das gestantes do terceiro trimestre, 35% respondeu que o desejo assim
como o prazer permaneceram inalterados, 35% relatou que houve uma diminuição tanto do desejo como do
prazer sexual e apenas 05% relatou que o desejo e o prazer aumentaram e melhoraram. Conclusão: Os
resultados obtidos indicam que, a manifestação da sexualidade na gestação pode sofrer alterações não só
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 62
decorrentes das alterações fisiológicas e corporais, hormonais e metabólicas, mas também devido a fatores
emocionais e mitos e tabus relacionados à gravidez e desenvolvimento do feto. Esta relação de fatores pode
desestimular a atividade sexual. Além disso, fatores psicológicos, tais como a perda da auto-estima, ansiedade
em relação a gravidez e ao parto, sentimento de estar pouco atraente, a crença e medo de machucar o bebê
durante o ato sexual, são circunstâncias que podem propiciar diminuição da vida sexual durante a gravidez.
Estes dados não podem ser generalizados em função da pequena amostra, mas eles confirmam estudos
anteriores e demonstram a necessidade de mais pesquisas sobre o tema.
Palavras chave: Gravidez, Fatores psicológicos, Sexualidade.
P22- MÉTODO CANGURU COMO RESGATE DO VÍNCULO DA MÃE COM O BEBÊ PREMATURO
Denise de Sousa Feliciano, Audrey Setton Lopes de Souza,
Cristiane da Silva Folino, Honorina Almeida, Sonia Venâncio e Daisuke Onuki
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo e
Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo
Introdução: Multiplicam-se os estudos sobre o valor do contato pele a pele entre a mãe e seu bebê como
facilitador do vínculo. Espera-se que a interação psico-afetiva da díade possa repercutir no desenvolvimento
global do bebê e promover o aleitamento materno, que pelas características do leite humano, é inigualável
em nutrição e proteção imunológica ao seu organismo. Os programas de capacitação das equipes de saúde
responsáveis pela assistência ao neonato visam promover a aproximação entre mãe e bebê, para o
fortalecimento do vínculo afetivo, criando condutas que favoreçam a amamentação e o alojamento conjunto.
No Brasil, através da Norma de Atenção Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo Peso (Portaria no. 693 de
05/07/2000, Ministério da Saúde), conhecido como Método Canguru, os hospitais recebem informações sobre
suas vantagens na promoção da saúde do bebê e orientações para sua implantação. Objetivo: O presente
estudo teve por finalidade investigar os possíveis efeitos na qualidade do vínculo da mãe com o bebê prematuro,
decorrentes da implantação do Programa de Humanização Método Canguru no Hospital Municipal do Campo
Limpo - SP. Método: Foram realizadas entrevistas com 40 mães acompanhadas de seus bebês durante
internação na Unidade neonatal, próximo à alta, em dois momentos distintos do funcionamento hospitalar:
GRUPO I - mães cujos bebês nasceram no período anterior à implantação do Programa. Na rotina desta fase
elas eram separadas de seus filhos logo após o parto, deixando-os sob cuidados da equipe hospitalar, podendo
visitá-los e amamentá-los só em horários pré-estabelecidos. GRUPO II - mães de bebês nascidos após a
implantação do Programa, no qual era proposto que cuidassem de seus bebês em período integral. Houve
incentivo para a amamentação exclusiva e posição canguru (bebê pele a pele com a mãe). Utilizou-se um
roteiro norteador com questões sobre os sentimentos da mãe em diversos aspectos de sua relação com o
bebê e com a equipe hospitalar. À luz do referencial teórico psicanalítico e seus instrumentos de análise
clínica foi realizada uma pesquisa qualitativa focalizando-se na entrevista: a atitude das mães em relação à
psicóloga, em relação ao bebê, as representações com a experiência de prematuridade, as características da
amamentação e o clima emocional do encontro. Resultados: Os resultados demonstram que a prematuridade
promove o afastamento da mãe do que Winnicott definiu como Preocupação Materna Primária. Porém,
considerando a diferença do campo transferencial das entrevistas e da relação da mãe com o bebê nos dois
grupos, pode-se afirmar que no Grupo II houve um favorecimento da interação mãe-bebê, como uma espécie
de resgate da capacidade materna de Holding, disponibilizada por seu psiquismo na gestação, mas que fica
embotada diante das vivências de um nascimento precoce. Conclusões: O Método Canguru mostra ser
coadjuvante na melhora do vínculo mãe - bebê prematuro. Cuidar e permanecer o tempo todo junto ao bebê,
parece promover que ela se aproprie do filho e de seu lugar de mãe investindo-o do afeto tão necessário
nesta fase. Assim as mães do Grupo II mostraram viver a prematuridade do filho de forma mais amena,
menos catastrófica, menos angustiante e mais prazerosa.
Palavras-chave: método canguru, vínculo, relação mãe-bebê, amamentação, prematuridade.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 63
P23- UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO PSICANALÍTICA
PAIS-BEBÊ NAS DIFICULDADES DE AMAMENTAÇÃO
Denise de Sousa Feliciano, Audrey Setton Lopes de Souza
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo e
Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo
Introdução: A amamentação tem sido um dos grandes interesses dos profissionais de saúde pelo reconhecimento
dos benefícios que esta proporciona ao bebê e seu desenvolvimento. As dificuldades de amamentação são
uma área na qual a interface psicanálise – pediatria tem sido solicitada, pois o saber e o fazer psicanalítico
podem contribuir para a compreensão e melhora do vínculo estabelecido, facilitando a efetivação do aleitamento.
A experiência de sentir fome e ser saciado é uma das mais intensas na vida inicial de um bebê. Ao lado de seu
papel nutricional, o encontro mãe-bebê proporcionado pela alimentação ao seio materno pode representar os
primeiros sinais de qualidade de vínculo dessa relação primordial. O desencontro, por sua vez, atravessa e
dificulta o conhecimento mútuo, complicando não apenas a dinâmica mãe-bebê, mas todo o relacionamento
familiar. Eventuais transtornos em início de vida com os objetos que são constitutivos no desenvolvimento
psíquico do indivíduo atrapalham esse percurso e contribuem para dificuldades emocionais ao longo da vida.
Objetivo: Este estudo teve por objetivo oferecer uma escuta do nível simbólico da amamentação por meio de
um modelo de intervenção psicanalítica pais-bebê, e dos conteúdos latentes na dinâmica de oito famílias, cujas
duplas mãe-bebê apresentaram dificuldades na amamentação. Além disso, buscou verificar os efeitos desse
tipo de atendimento como auxiliar para a circulação das angústias e elaboração dos conflitos subjacentes, a
partir da continência e nomeação das fantasias implícitas. Método: Trata-se de uma pesquisa qualitativa apoiada
no referencial psicanalítico, que procurou refletir sobre os efeitos de uma intervenção psicanalítica pais-bebê
em famílias que apresentaram dificuldades. O atendimento consistiu em visitas domiciliares semanais a oito
famílias indicadas pelo pediatra que as acompanhava, pelo período de quatro a seis semanas. Resultados: O
estudo revelou que o modelo de intervenção apresentado contribuiu para a circulação desses afetos, permitindo
uma maior fluidez emocional observável no casal parental e que se acredita repercutir no bebê. Em alguns
casos mostrou facilitar a amamentação concretamente, ao lado das possibilidades afetivas que podem
acompanhá-la além do aspecto nutricional. O testemunho dos pediatras que as acompanhavam foi de que
essas famílias apresentavam-se mais tranqüilas após a intervenção. Conclusões: O uso que as famílias faziam
do atendimento, assim como a possibilidade de amamentar, dependeu das condições adquiridas anteriormente
por seus integrantes, ao longo de seu desenvolvimento psíquico. Com essas constatações espera-se, além de
propor um modelo de intervenção, contribuir para a interface psicanálise – pediatria, oferecendo aos pediatras
uma melhor compreensão das angústias desencadeadas pela amamentação e uma parceria nos cuidados com
essas famílias nesse momento primordial.
Palavras-chave: amamentação, vínculo, relação mãe-bebê, intervenção psicanalítica pais-bebê, intervenção precoce.
P24- RELACIONAMENTO AFETIVO DO CASAL APÓS NASCIMENTO DE UM FILHO DEFICIENTE
Nanci Lemes Giuliani, Dinael Corrêa de Campos
Universidade São Francisco
Introdução: Segundo Dalgalarrondo (2000, p.100) o termo afetividade é genérico, compreendendo várias
modalidades de vivências afetivas. Segundo Anton (2000, p.29 - 31) O “outro” fornece o contorno do “eu”.
Deficiência, segundo Kaplan (1968) apud Amilarian (1986, p. 4), “propõe o indivíduo excepcional como aquele
que se desvia, em grau arbitrário, da norma, em uma determinada variável, de modo a necessitar de recursos
especiais para desenvolver a sua capacidade máxima”. Segundo Sprovieri (1997, p.105) “O aparecimento do
filho deficiente faz ruir todas as fantasias, estabelecendo uma relação afetiva totalmente diversa daquela que
é habitual e provocando, muitas vezes, modificações permanentes no ambiente familiar”. Objetivo: Averiguar
o relacionamento afetivo do casal após o nascimento do filho deficiente. Método: Participaram desta pesquisa
cinco pais e cinco mães que tem filhos deficientes com até sete anos de idade. A Pesquisa foi realizada na APAE
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 64
São Caetano do Sul/SP. Foi utilizado um instrumento contendo um questionário com oito perguntas abertas para
promoção de entrevistas. Procedimento: Após o parecer favorável do Comitê de Ética da Universidade São Francisco,
fora encaminhado uma solicitação para realizar a pesquisa com pais e mães e após autorização, a instituição fora
visitada duas vezes para apresentação do projeto e três dias para as entrevistas com os pais e mães sendo que os
mesmos foram escolhidos pela instituição, através de critérios por eles definidos. Resultados: As categorias
analisadas: “relacionamento afetivo do casal antes planejamento do filho era bom”, “souberam da deficiência do
filho logo após o nascimento”, “quando souberam da deficiência, os pais reagiram “em choque”, “sem chão” e
“com medo”, “lidam com a criança deficiente de forma normal”, “relacionamento casal após o nascimento do filho
deficiente, dificultoso e unidos” e o relacionamento casal hoje é melhor e unidos”, fora apontadas, como respostas
mais significativas ao instrumento utilizado. Conclusões: Quando nasce uma criança com algum tipo de problema,
há um sentimento de perda muito grande, perda do filho sadio, o pai ou a mãe poderá agir de forma diferente; isto
porque terá que aprender a ser pai ou mãe de uma criança diferente. Percebo que há um grande espaço para se
trabalhar como Psicóloga Hospitalar atuando com a família neste contexto. Observei, ao longo do trabalho, a
ausência de atuação dos psicólogos no âmbito hospitalar, onde normalmente a família recebe a noticia da deficiência
em seu filho, logo após o nascimento e, sendo assim, os psicólogos poderiam acolhê-lhos no momento da notícia
e orientá-los sobre a deficiência. Verifiquei nesta pesquisa, que a relação afetiva do casal, depois de um período
de crise imediatamente após o nascimento do filho deficiente, melhorou e que a busca contínua do desenvolvimento
e bem estar deste filho, promoveu uma união destes casais, que conseguiram transformar a crise, a dor da perda
de um filho sadio, em oportunidades que os fazem, muitas vezes, mais maduros, cúmplices e se encontrando
como um casal feliz, mais unido e fortalecido.
Palavras-chave: medo, família, deficiência.
P25- FORTALECENDO REDES DE CONTINÊNCIA: GRUPO DE REFLEXÃO
COM A EQUIPE DE ENFERMAGEM EM UTI NEONATAL
Alexandra Huebner Giorge, Mariângela Mendes de Almeida, Veridiana Chimirri,
Mary Lise Moyses Silveira, Amélia Miyashiro Nunes dos Santos
Universidade Federal de São Paulo - Hospital São Paulo - UNIFESP
Introdução: No contexto institucional relacionado ao cuidado de bebês de alto-risco, tanto os pais e bebês,
quanto os profissionais envolvidos neste trabalho, podem se beneficiar da continência oferecida pela escuta
psicanalítica. Angústias envolvidas no cuidado de bebês prematuros ou malformados, se não acolhidas,
compartilhadas e elaboradas, podem ser facilmente projetadas nas relações intra-equipe ou nas condições
de trabalho, interferindo na qualidade do serviço oferecido aos usuários e na saúde emocional dos profissionais
e da equipe. Objetivo: Relata-se aqui a proposta de um Grupo de Reflexão semanal com a Equipe de
Enfermagem da Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais do Hospital São Paulo – Universidade Federal
de São Paulo, UNIFESP (referência para gestações e bebês de risco), realizado por duas psicólogas ligadas
ao Setor de Saúde Mental do Departamento de Pediatria. Método: Enumeram-se os objetivos da atividade,
enfatizando-se a construção de um espaço de continência para preocupações vivenciadas no cotidiano da
equipe de enfermagem no contato com os bebês e seus pais. Apresentam-se imagens fotográficas da UTI
Neonatal em que se realiza a proposta aqui descrita, ilustrando-se o contexto hospitalar e as peculiaridades
da clientela atendida. Apontam-se paralelos entre a experiência emocional das funcionárias, marcada por
intensa vulnerabilidade frente a angústias de perda pela constante iminência de morte dos bebês, e o processo
vivenciado pelo Grupo de Reflexão em sua constituição e funcionamento. Resultados: Pretende-se que esta
experiência possa gerar maior capacidade de continência para os cuidadores, neste período fundamental
para o desenvolvimento do vínculo pais-bebês. Conclusões: Ao favorecer o aprender com a experiência de
continência às próprias ansiedades, e ao ampliar a compreensão das ansiedades parentais, o olhar
psicanalítico, veiculado através do Grupo de Reflexão pode fortalecer a consistência da rede de cuidados em
contexto de risco e vulnerabilidade no início da vida, para pais, bebês e profissionais.
Palavras-chave: Psicanálise no hospital, UTI neonatal, bebês em risco, Grupo de suporte a profissionais,
redes de continência.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 65
P26- INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA EM CRIANÇAS A SEREM SUBMETIDAS
A CIRURGIA ATRAVÉS DO BRINQUEDO TERAPÊUTICO DIRETIVO
Esther Maynart Pereira Mikowski,
Profa. Dra. Maria Benedita Lima Pardo (Orientadora)
Universidade Federal de Sergipe
Introdução: essa pesquisa foi um estudo descritivo e exploratório sobre a intervenção psicológica através do
Brinquedo Terapêutico Diretivo (BTD) e sua possível importância em crianças a serem submetidas a cirurgias.
Objetivo: descrever e analisar no decorrer de uma situação de Brinquedo Terapêutico Diretivo como crianças
se manifestavam em relação à cirurgia a que seriam submetidas. Foram definidas hipóteses de que a criança
expõe através do brinquedo terapêutico aquilo que no momento mais lhe causa angústia, no caso a iminência
de uma cirurgia, e que o brinquedo terapêutico é um material eficaz para ser utilizado no hospital a fim de
entender o que se passa com a criança. Método: participaram desta pesquisa oito crianças de quatro a nove
anos de idade as quais seriam submetidas a cirurgias eletivas no HU-UFS e no Hospital São José. O
procedimento de BTD utilizado consistiu em uma brincadeira proposta para a criança em que ela deveria
realizar uma cirurgia em um urso de pelúcia com utensílios hospitalares de brinquedo. Foram registradas as
seqüências de ações da criança, o que expressava com a fala, expressões faciais, bem como as crianças
foram questionadas quanto ao motivo da cirurgia, como o urso se sentia, como elas mesmas se sentiram ao
realizar a cirurgia. Os resultados foram apresentados através da descrição de cada caso e, em seguida,
agrupadas as similaridades entre eles. Resultados: Cinco crianças reproduziram no urso cirurgias similares
às suas, bem como simbolizaram nele suas angústias e dúvidas a respeito do procedimento a que iriam ser
submetidas. Duas crianças não realizaram a cirurgia idêntica à sua. No entanto, identificamos negação em
um dos casos, e no outro, percebemos que a criança tinha dúvidas a respeito do seu procedimento, em
conseqüência de um exame feito anteriormente. Conforme a literatura descreve as crianças estudadas por
nós exprimiram na brincadeira suas fantasias, angústias e dúvidas a respeito do procedimento que seriam
submetidas. Conclusão: Portanto, o método do Brinquedo Terapêutico Diretivo mostrou ser um método
eficaz para identificar os sentimentos e emoções presentes na criança diante de um evento como uma cirurgia.
Palavras-chave: Intervenção Psicológica, Brinquedo Terapêutico Diretivo, Cirurgia.
P27- IMPLICAÇÕES DA DOENÇA RENAL CRÔNICA INFANTIL PARA A CRIANÇA E SEUS PAIS
Marília Sousa Leão Menezes, Maria Benedita Lima Pardo
Universidade Federal de Sergipe
Introdução: O presente trabalho trata-se de um estudo sobre as implicações da doença renal crônica infantil
para a vida da criança e de seus pais nos ambientes familiar, escolar e durante as hospitalizações. Objetivos:
Descrever e analisar as mudanças que a doença trouxe para a vida dos mesmos nos ambientes familiar,
escolar e durante as hospitalizações e levantar e analisar os apoios que eles consideraram receber e aqueles
que gostariam de ter nesses ambientes, procurando investigar se o psicólogo tem tido algum papel nesse
processo. Método: Participaram da pesquisa dez crianças entre 5 e 10 anos que estavam com a doença
controlada e em acompanhamento ambulatorial no Hospital Universitário (HU) da Universidade Federal de
Sergipe e seus respectivos responsáveis. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com as crianças e
seus pais. Resultados: Os resultados foram analisados segundo uma abordagem qualitativa e apontaram
que os participantes recebiam apoio nos ambientes mencionados, mas que o apoio maior era oferecido pela
mãe, havendo uma sobrecarga sobre ela. O psicólogo foi pouco citado, mas foi referido como um importante
apoio por alguns dos participantes. Conclusões: As mudanças na vida da criança e de seus pais não chegaram
a causar uma desestruturação maior já que, segundo os relatos, várias dessas alterações haviam sido
absorvidas na rotina e outras não estavam implicando em prejuízos para as pessoas envolvidas. Os relatos
relacionados à atuação dos profissionais de saúde revelaram uma dicotomia: os médicos e enfermeiros se
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 66
centrando na parte física e o psicólogo, quando citado, na parte emocional. Assim, os resultados desta pesquisa
apontam como sugestão que essa dicotomia seja modificada, através do desenvolvimento de um trabalho
voltado para a colaboração interdisciplinar dos membros da própria equipe de profissionais.
Palavras-chave: doença renal crônica, criança, pais.
P28- O LÚDICO NA RECONSTRUÇÃO AFETIVA – UMA CRIANÇA HOSPITALIZADA
EM UM CENTRO DE TRANSPLANTE DE MEDULA ÓSSEA
Erika Pallottino, Ana Cristina Waissmann
Instituto Nacional de Câncer –
Centro de Transplante de Medula Óssea (CEMO/INCA)
Introdução: Os estudos sobre o processo de hospitalização na criança, o adoecimento e o enlutamento, vem
cada vez mais se caracterizando como um campo de pesquisa em grande expansão. Tais estudos apontam
à seriedade de um olhar mais apurado e científico em torno dessa temática. Especificamente, a criança
submetida ao transplante de medula óssea é acometida por graves disfunções onco-hematológicas,
necessitando de um tratamento longo, que exige certo confinamento pelos riscos de contrair infecções graves
e que poderão levá-la ao óbito. Crianças submetidas a esse tratamento encontram-se no limiar entre vida e
morte. A perda da saúde, a fragilidade do corpo e a labilidade emocional fazem parte desse processo, onde
os sentimentos trazem representações carregadas de polaridades. Reconhecendo a importância do cuidado
na infância, principalmente em situações onde a patologia orgânica trava forte batalha com o campo da
saúde mental e a dor psíquica, o atendimento psicológico se constitui como importante ferramenta no
tratamento. Objetivo: Descrever o atendimento psicológico a uma criança internada em um centro de
transplante de medula óssea, onde as atividades lúdicas utilizadas como estratégia terapêutica, funcionaram
como reconstrução afetiva para a paciente. Método: Estudo de caso descritivo a partir dos atendimentos
realizados. Resultados: Observamos que as atividades lúdicas utilizadas durante o atendimento foram
importantes para o desenvolvimento afetivo e subjetivo da paciente em questão. Visto que, a mesma tinha
uma idade inferior a 2 anos e recebeu o diagnóstico de sua doença com 8 meses de idade, foi apresentada ao
ambiente hospitalar desde muito cedo. Assim, apresentava atraso psicomotor, de linguagem e afetivo de
grande consideração. A partir dos atendimentos realizados a beira do leito e posteriormente ambulatorialmente,
notamos o estabelecimento de afetos que puderam expressar seus medos, temores, ansiedades e emoções
em geral. O desenvolvimento da linguagem que anteriormente era precária e apenas utilizada para se comunicar
a partir de termos médicos, pode ser acrescida de maneira informal e social, estabelecendo nomeações de
seus desejos e fantasia. Conclusão: A partir da apresentação desse caso clínico, podemos concluir que o
lúdico se apresenta como importante ferramenta psicoterápica, levantando a questão do brincar no ambiente
hospitalar. Observamos a saúde psíquica apontando mecanismos de enfrentamento frente a uma situação de
grande privação física e adoecimento orgânico. O brincar é por si mesmo uma terapia. Apresentar o lúdico a
situações de grande sofrimento psíquico, como a descrita, é estabelecer uma fonte possível de elaboração e
projeção diante do caos interno do paciente. Como dizia Winnicott: “(...)o brincar sempre satisfaz, mesmo em
situações em que um alto grau de ansiedade esteja envolvido.”
Palavras-chave: brincar, hospitalização, psicoterapia.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 67
P29- AMBULATÓRIO DE HIGIENE MENTAL PARA PROFISSIONAIS
QUE CUIDAM DE CRIANÇAS COM CÂNCER: INVESTINDO NA SAÚDE
MENTAL DE QUEM CUIDA, MELHORANDO A QUALIDADE DE
ATENDIMENTO DA INSTITUIÇÃO
Livia Siviero, Valéria Cristina Antunes Lisboa
Hospital Sarina Rolim Caracante – Grupo de Pesquisa e
Apoio ao Câncer Infantil- Sorocaba
Introdução: Atualmente, após o aumento da expectativa de vida, do acesso a informação com o advento
tecnológico e das mudanças nas políticas de saúde no Brasil , sugerindo a importância da humanização
das relações assistenciais, associados a dificuldade de inserção no mercado de trabalho, trouxeram para
o profissional de saúde maiores responsabilidades e por conseqüência, um ambiente mais insalubre e
estressante. No que se refere as instituições especializadas para atuar com determinadas enfermidades
como o câncer infantil e para um público menos favorecido socialmente, o nível de estresse e sofrimento
psíquico pode ser consideravelmente alarmante devido a responsabilidade e dificuldades emergentes neste
ambiente de trabalho e para com a população atendida. O alto nível de estresse decorrente do trabalho
pode levar ao Burnout, que se caracteriza pelo estresse crônico, tendo como alguns indicadores a presença
de insônia, depressão, uso de drogas lícitas e ilícitas, irritabilidade, dificuldades de desempenhar suas
tarefas, isolamento, somatizações, entre outros.Objetivos: A partir da observação das dificuldades que
uma Instituição filantrópica especializada em câncer infantil enfrentava para se manter em funcionamento,
associados a intensidade de vivenciar a morte de crianças, criou-se o ambulatório de higiene mental para
os profissionais de saúde, a fim de evitar e minimizar o sofrimento psíquico destes e até mesmo o surgimento
de burnout, assim como atender e direcionar os casos de funcionários que se encontram com sinais de
adoecimento. Métodos: Após análise institucional, por uma equipe de 4 psicólogos, observou-se que a
intensidade das tarefas, a baixa remuneração, o excesso de jornada de trabalho, as mudanças
organizacionais e políticas institucionais, fatores individuais, a dificuldade de relações interpessoais saudáveis
e a convivência com a morte de crianças, promove nos profissionais uma série de sofrimentos, podendo
influenciar nas relações e qualidade do trabalho a ser desenvolvido e na própria qualidade de vida destes
funcionários. Este trabalho ocorreu no início de 2008, quando os psicólogos institucionais realizaram uma
trabalho de avaliação institucional, observando que a dinâmica da instituição interferia consideravelmente
na qualidade de vida, trazendo certo sofrimento psíquico nos funcionários. A partir destes aspectos, os
mesmos profissionais, estruturaram um ambulatório de higiene mental, cuja finalidade consiste em acolher,
orientar e intervir com os recursos psicoterapêuticos, os profissionais de saúde que atuam na instituição.
Foram considerados profissionais de saúde, todos os agentes que atuam no hospital, desde o porteiro, até
a equipe médica. O ambulatório funciona diariamente, no período da tarde, após o encerramento do
ambulatório dos pacientes que se encontram em tratamento ambulatorial, a fim de não ocorrer nenhuma
interferência da rotina dos atendimentos ao serviço do ambulatório de higiene mental. Os profissionais que
atuam como psicólogos do ambulatório de higiene mental, não possuem vinculo empregatício com a
instituição, garantindo assim, certa neutralidade nos atendimentos.Resultados: Observou-se uma melhora
na atuação dos profissionais, uma melhor interlocução entre estes, diminuição do absenteísmo, diminuição
de afastamentos por doenças associadas ao estresse crônico e mais adequação e postura profissional
entre estes. Conclusões: Observamos a importância de um atendimento a estes profissionais também
preventivo, melhorando a incidência de adoecimentos e atuações que possam ser prejudiciais tanto para o
sujeito em sua vida pessoal com em sua atuação profissional, assim como um melhor posicionamento da
instituição no que se refere a saúde do profissional.
Palavras-chave: psicanálise burnout, higiene mental e psicologia da saúde.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 68
P30- A HUMANIZAÇÃO DAS RELAÇÕES ASSISTENCIAIS A PARTIR
DA PSICOLOGIA INSTITUCIONAL: REDESCOBRINDO NOVAS POSSIBILIDADES
PARA CUIDAR DE CRIANÇAS COM CÂNCER
Valéria Cristina Antunes Lisboa
Hospital Sarina Rolim Caracante – Grupo de Pesquisa
e Apoio ao Câncer Infantil- Sorocaba
Introdução: Atuar em uma instituição filantrópica cuja tarefa baseia-se em curar crianças com câncer é um
desafio. Primeiro pelo apelo emocional que a própria doença em crianças suscita nas pessoas, e em segundo,
o caráter de cuidar do outro menos abastado, menos favorecido, portando carente de cuidados e da
solidariedade alheia. Objetivo: Realizar uma descrição da realidade institucional, observando as suas
organizações, suas ações instituídas e as novas mudanças exigidas pelo INCA, com o intuito de detectar as
demandas desta instituição, para propor estratégias de intervenção e parcerias com os agentes que lá se
encontram, para a promoção de ações mais integradas entre a equipe de saúde, garantindo assim, as mudanças
necessárias para um melhor desempenho da tarefa, sendo também um ambiente menos iatrogênico para os
agentes que lá atuam e para os usuários do hospital. Métodos: Este trabalho deu início em janeiro de 2008
até a atualidade, contando com uma equipe de 4 psicólogos , sem vinculo empregatício para com a Instituição,
que foram convidados a atuar para com a equipe de saúde, após uma série de demissões e necessidade de
mudanças na estrutura física e organizacional da mesma em se adaptar as normas exigidas pelo INCA, para
dar continuidade aos serviços prestados á comunidade. O local deste trabalho se deu no Hospital Sarina
Rolim Caracante, cuja entidade mantenedora denomina-se GPACI, sendo uma Instituição
Filantrópica,localizada na de cidade de Sorocaba, abrangendo cerca de 43 municípios. Segundo a presidência
da Instituição, a mesma vinha passando por uma série de reformas e com isso, aumentou o número de
demissões dos funcionários, bem como, houve um aumento na taxa de absenteísmo por parte dos funcionários,
assim como uma baixa produtividade e um índice maior de mortalidade de pacientes quando comparados
com períodos interiores. Os psicólogos realizaram as seguintes etapas:apresentação dos psicólogos para os
agentes- esclarecimento da função;observação do campo institucional e pesquisa sobre a história da instituiçãocolhendo dados através de relatos, folhetos explicativos e na internet, bem como observando na prática o
campo organizacional;conhecendo a dinâmica de funcionamento das organizações e dos agentes que lá
atuam – realizando entrevistas semi-dirigidas aos agentes de todos os setores sobre a função desempenhada,
dificuldades e quais implicações que mobilizaram a atuar em tal instituição; análise dos dados observados.
Os dados observados foram analisados e a partir dos aspectos presentes, iniciou-se um processo interventivo.
Resultados: Trabalhou-se os seguintes aspectos: A questão da filantropia arraigada nos discursos de todos
os envolvidos, sendo em muitos momentos, negada a questão de qualificação profissional, tendo um caráter
insalubre para os profissionais envolvidos, sendo o sentimento de culpa muito presente nesta população por
questionar melhores condições de trabalho e remuneração, tornou-se um aspecto importante a ser trabalhado;a
fantasia de castigo e punição referentes aos questionamentos e o medo de ser desligado da instituição,
influenciavam nas ações a atuações dos funcionários, trazendo altos níveis de estresse; o apelo sensitivo da
instituição, gerando certa angustia e culpa nos profissionais, fanendo com que estes trabalhassem além das
horas contratadas, gerando a fantasia de abandono e negligencia nestes por parte da instituição e nas crianças
assistidas neste local; o sentimento de incompetência pelas mudanças necessárias, geravam sofrimento
psíquico em muitos profissionais; a necessidade de transformar uma instituição filantrópica em uma instituição
de saúde|empresa, gerou uma série de agenciamentos e atuações, por relutarem em deixar de ser solidário
e de fazer filantropia, fantasiando a finalidade das mudanças em si, como meramente política e financeira,
negando o caráter real de mudanças necessárias para o funcionamento. Conclusões: a partir dos aspectos
encontrados, foram realizados os trabalhos de apoio e conscientização a diretoria sobre ações iatrogênicas
para com os seus funcionários e propostas de atitudes mais adequadas, assim como a possibilidade de ter
um lugar de escuta para os profissionais que lá atuam, a fim de garantir um ambiente mais saudável para a
equipe. Intervenções grupais e individuais, tendo como base o recurso da teoria e da técnica psicanalítica,
permitiram identificar e trabalhar aspectos latentes nos sujeitos que atuam na instituição, garantindo a
valorização de sua subjetividade e necessidades emocionais de forma que as fantasias, medos, e sentimentos
de ambivalência diminuíram consideravelmente.
Palavras-chave: psicanálise, saúde mental, psicologia institucional e humanização.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 69
P31- A FUNÇÃO DO PSICÓLOGO DENTRO DE UMA EQUIPE DE
ACOLHIMENTO EM UNIDADE DE EMERGÊNCIA HOSPITALAR
Paula Chaves Garducci, Silvia Helena Tenan Magalhães,
Hellen Taciane Paschoalotto Leite
Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas
da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP)
Introdução: O ato de acolher perpassa a prática de diversos profissionais dentro de uma unidade hospitalar.
Entende-se por acolher dentro de um hospital o ato de amparar, proteger, dar acolhimento e receber bem o
paciente e seus familiares que chegam para uma internação. Na Unidade de Emergência do HCFMRP-USP,
existe uma equipe chamada de “Acolhimento”, composta por profissionais do controle de leitos, portaria,
distribuição, serviço social e psicologia, que recebem o paciente e seus familiares assim que esses dão
entrada no hospital. Objetivo: Descrever e discriminar a função específica do profissional psicólogo dentro
dessa equipe de Acolhimento. Método: A partir de um referencial teórico psicodinâmico descrever-se-à os
princípios que orientam a ação técnica do psicólogo em uma Unidade de Emergência hospitalar. Resultados:
A situação de emergência/urgência coloca em risco o individuo fisicamente, com uma ameaça real ao seu
ego. Essa condição pode causar fragilidade e rupturas egóicas, com mobilização de mecanismos de defesa
mais primitivos e menos adequados como regressão e negação, para expressão e enfrentamento da situação.
O psicólogo tem como função atender o paciente, quando este está em condições físicas e mentais de ser
atendido, o que na maioria das vezes não é possível devido a emergência/urgência física que se faz presente.
O atendimento inicial se dá principalmente com a família que chega em sua maioria assustada, desestruturada
e desorganizada devido a ruptura que ocorre por acabar de receber a notícia de um acidente (automobilístico,
tentativa de suicido, AVC, entre outros acidentes) de seu familiar. Essa família será recebida e acolhida desde
sua chegada ao hospital, receberá notícias das condições do paciente, orientações do funcionamento hospitalar
(normas e regras do hospital), assim como providências necessárias a tomar. O psicólogo tem como sua
função específica avaliar a condição emocional, identificando os recursos e condições internas naquele
momento do atendimento, dar apoio e continência para os conteúdos surgidos neste paciente e seus familiares
em decorrência da situação de hospitalização e emergência/urgência ocorrida. Tem como papel conter as
angustias e necessidades, compreendendo, ajudando da expressão dos sentimentos surgidos, ajudando a
significar e dar sentido para o que é vivenciado na situação. Funciona também como ego auxiliar, ou seja,
empresta a sua capacidade egóica, “função alfa”, de discriminar, pensar, conhecer e juízo crítico, que naquele
momento possam estar fragilizadas no paciente e seus familiares. Ajudá-los na reestruturação de suas funções
egóicas, recorrendo a mecanismos de defesa mais maduros e com maior aproveitamento de seus recursos
internos. Conclusões: O psicólogo tem papel importante no reconhecimento e avaliação dos recursos egóicos
desse paciente e seus familiares, ajudando-os a recorrer nesse momento de fragilidade e ruptura a mecanismos
mais maduros e adequados para expressão de suas angustias e necessidades, devolvendo de forma adequada
e de possível compreensão, ajudando-os a significar e dar um sentido para a vivência da situação, auxiliandoos na tomada de decisões e reorganização e reestruturação de sua estrutura egóica.
Palavras-chave: função do psicólogo, acolhimento, unidade de emergência.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 70
P32- INTERCONSULTA PSICOLÓGICA NO HOSPITAL GERAL:
POSTURA PROFISSIONAL E CONDUTAS
Helena Bazanelli Prebianchi, Mariana Gonçales Gerzeli, Marita Iglesias,
Nátali Castro Antunes dos Santos, Tatiana Slonczewski Caselli Messias
Hospital e Maternidade Celso Pierro (HMCP) da Pontifícia
Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas)
Introdução: A interconsulta psicológica no hospital geral representa uma modalidade de atendimento clínico
e um instrumento metodológico utilizado pelo psicólogo na assistência ao paciente internado, mediante
solicitação de outros profissionais da saúde. Tem como finalidade prestar auxílio no diagnóstico e tratamento
dos problemas psicológicos do paciente, bem como dos distúrbios relacionais e institucionais que envolvam
sua família e a equipe de saúde. Objetivo: Apresentar uma sistematização do Serviço de Interconsulta
Psicológica do Programa de Residência em Psicologia Hospitalar/Saúde do Hospital e Maternidade Celso
Pierro (HMCP) da PUC-Campinas, discutindo aspectos que caracterizam a postura profissional do interconsultor
e as condutas mais comumente adotadas a partir das solicitações elaboradas pela equipe. Método:
Levantamento dos registros de solicitação de interconsulta psicológica do ano de 2009, visando uma descrição
compreensiva das angústias que frequentemente motivam os pedidos de atendimento e do papel do
interconsultor em resposta a essa demanda. Resultados: De janeiro a março de 2009, foram encaminhados
para Interconsulta Psicológica 53 pacientes, sendo 20 homens e 33 mulheres, com idade entre 4 e 82 anos,
internados nas enfermarias de ginecologia/obstetrícia, pediatria, cirurgia e clínica médica. As angústias que
mais frequentemente mobilizaram na equipe o desejo de solicitar a intervenção psicológica para o paciente
foram: a desorganização psíquica do mesmo frente aos processos de adoecimento/internação/tratamento,
os sentimentos hostis direcionados aos profissionais da saúde que dele cuidam, os lutos/perdas vivenciados
e a exacerbação de defesas pouco adaptativas frente à atual condição. Perante os pedidos, as condutas
tomadas pelas interconsultoras envolveram primeiramente a necessidade de tornar claro, com o profissional
solicitante, as motivações para o encaminhamento, bem como compreender as expectativas destes frente ao
trabalho psicológico. Após esta etapa realizaram-se entrevistas iniciais com os pacientes, visando identificar
conflitos emergentes frente ao adoecimento/internação. Em seguida traçou-se um plano de ação para manejo
das dificuldades diagnosticadas, sendo este discutido com a equipe para acompanhamento do caso durante
a internação e/ou encaminhamento para atendimento ambulatorial. Conclusão: O presente estudo revela a
existência de diversas angústias que mobilizam a equipe de saúde a solicitar a interconsulta psicológica. Este
instrumento mostra-se essencial na prática em psicologia hospitalar, uma vez que auxilia na compreensão
por parte da equipe do quadro psíquico apresentado pelo paciente, favorecendo o discernimento quanto às
reações adaptativas esperadas, mecanismos de defesa utilizados ou condição orgânica subjacente à doença
e tratamento. A intervenção psicológica, a partir do pedido de interconsulta, permite o manejo dos conflitos
identificados, buscando minimizar o sofrimento emocional inerente à situação de adoecimento, contribuindo
para um melhor prognóstico e enfrentamento das adversidades da internação.
Palavras-chave: Interconsulta, Hospital Geral, Psicologia Hospitalar.
P33- ESTUDO DA EFICIÊNCIA TERAPÊUTICA DA PSICOTERAPIA BREVE OPERACIONALIZADA
Ryad Simon, Kayoko Yamamoto, Ângela Cristini Gebara
Universidade de São Paulo
Introdução: Desde Freud (1919), vem sendo salientada a necessidade de se buscar formas mais breves de
psicoterapia, pois a mesma, dada sua longa duração, restringe o auxílio psicoterápico a pequena parcela da
população. Simon (2005), apresenta a Psicoterapia Breve Operacionalizada – PBO, modalidade que, por
suas características, representa recurso terapêutico valioso para a psicologia clínica e preventiva. Formulada
a partir da teoria da adaptação (Simon, 1989) e da teoria psicanalítica, e norteada pelo SISDAO-Sistema
Diagnóstico Adaptativo Operacionalizado (Simon,2005), a PBO visa propiciar ao paciente o encontro de
soluções mais adequadas para as chamadas situações-problema (soluções inadequadas para lidar com
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 71
dificuldades vitais). A partir de interpretações teorizadas (concjecturas psicodinâmicas e adaptativas sobre os
conflitos inconscientes que sustentam as soluções inadequadas) procura fornecer ao paciente insight sobre
os fatores que influenciam o emprego de soluções inadequadas. A PBO é realizada em duas fases: fase
diagnóstica – entrevistas psicológicas para avaliação da eficácia da adaptação (EDAO), delimitação das
situações-problema, conjecturas psicodinâmicas e adaptativas e planejamento terapêutico; fase terapêutica
– uma sessão psicoterápica semanal, distribuída em uma a, no máximo, doze sessões. Fundamentada na
teoria da adaptação e no SISDAO, a PBO pode ser indicada a qualquer pessoa que esteja apresentando
situações-problema atuais. Desde seu surgimento, há quase 50 anos, no Depto. de Medicina Preventiva da
Escola Paulista de Medicina – atual UNIFESP, até os dias de hoje, a PBO vem sendo utilizada por muitos
terapeutas. Seus resultados, empiricamente observados, têm demonstrado tratar-se de método terapêutico
eficiente e válido. No entanto, apesar desses resultados, julgou-se ser necessário efetuar, para confirmá-la
cientificamente como um método verdadeiramente eficiente, criterioso estudo sistematizado e clinicamente
controlado. Objetivo: Verificar a eficiência terapêutica da PBO através do encontro de soluções adequadas
para situações-problema atuais que estejam acarretando crise adaptativa ou ineficácia adaptativa. Método:
Clínico-comparativo aplicado a sessenta sujeitos de ambos os sexos com idades a partir de 21 anos, retirados
aleatoriamente da população que procura atendimento psicológico em clínicas-escola, clínicas em geral e
consultórios particulares. O total de sessenta sujeitos foi dividido, por sorteio, em dois grupos de trinta sujeitos
cada: grupo experimental – pacientes atendidos pelo método da Psicoterapia Breve Operacionalizada; grupo
controle – sujeitos que se encontram em fila de espera por um período de, no mínimo, três meses. Resultados:
- A pesquisa, em andamento, encontra-se atualmente com cerca de 85% do material coletado. Os resultados,
ainda parciais, têm revelado o poder terapêutico com que está dotada a PBO. Conclusões: Pela coleta e
avaliação do material da pesquisa examinado é previsível que os resultados confirmem a hipótese de que o
método da Psicoterapia Breve Operacionalizada seja altamente eficiente para auxiliar os pacientes do grupo
experimental a encontrarem soluções mais adequadas às “situações-problema”, quando comparados com o
desempenho dos indivíduos do grupo controle.
Palavras-chave: Prevenção, Psicoterapia Breve Operacionalizada, Teoria da Adaptação, Escala Diagnóstica
Adaptativa Operacionalizada, Teoria da Crise.
P34- ALIANÇA TERAPÊUTICA EM PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA:
REFLEXÕES A PARTIR DE UM ESTUDO DE CASO
Rodrigo Sanches Peres
Universidade Federal de Uberlândia
Introdução: O termo “aliança terapêutica”, de utilização cada vez mais freqüente na literatura psicanalítica,
muitas vezes é equiparado erroneamente à transferência positiva ou considerado o oposto da transferência
negativa. Trata-se, porém, de um termo com importantes especificidades teóricas e implicações clínicas.
Objetivo: O presente estudo tem como objetivo empreender algumas reflexões sobre a aliança terapêutica
no contexto da psicoterapia de orientação psicanalítica. Método: Tendo em vista o objetivo proposto, um
estudo de caso será tomado como recurso ilustrativo. As informações a seguir permitem uma contextualização
de tal caso: Fábio, 19 anos, buscou assistência junto à clínica-escola de Psicologia de sua universidade
queixando-se de ataques de ansiedade generalizada e palpitações súbitas. Antes disso, havia se consultado,
seguindo as orientações de sua irmã primogênita, com três psiquiatras, os quais rapidamente o diagnosticaram
como portador de transtorno do pânico e lhe receitaram psicofármacos. Contudo, o mesmo rejeitou o tratamento
psiquiátrico. Já na primeira sessão de triagem na clínica-escola, identificações projetivas transferenciais fizeram
com que Fábio experimentasse uma sensação de desamparo e, concomitantemente, apresentasse
desconfiança. Resultados: Compreendendo a aliança terapêutica como uma relação de trabalho influenciada
tanto por elementos conscientes quanto por conteúdos inconscientes, o psicoterapeuta recorreu à escuta
empática, demonstrou uma atitude amistosa e uma postura reflexiva e priorizou a atividade clarificadora e a
função sintética para amenizar a desconfiança do paciente. Com isso, o paciente, apoiando-se em suas
funções autônomas do ego, pode dar os primeiros passos rumo a uma relação objetal com o psicoterapeuta
semelhante, em seus aspectos positivos, àquela que sustentava com sua irmã primogênita, a única pessoa
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 72
em quem confiava até então. Em poucos meses a aliança terapêutica se tornou consistente a ponto de favorecer
a regressão terapêutica e, posteriormente, a dissociação terapêutica do ego. No início do segundo ano de
psicoterapia, o primeiro encontro fortuito fora da clínica-escola levou ao auge da neurose de transferência, o
que possibilitou a elaboração de fantasias arcaicas dos quais os ataques de ansiedade generalizada do paciente,
já pouco freqüentes, pareciam ser o subproduto. Conclusão: Diante do exposto, conclui-se que a aliança
terapêutica, em contraste com a transferência, decorre da atualização de experiências prévias do paciente que
o ajudam a se situar no presente, e não o levam a simplesmente repetir o passado no âmbito da relação
psicoterapêutica. Portanto, se impõe como uma variável central do processo psicoterapêutico. Nesse sentido, o
estabelecimento da aliança terapêutica, mais do que um critério de indicação para psicoterapia, se destaca
como um fator preditivo de sua evolução. Por fim, vale destacar que o estudo de caso em questão evidencia a
necessidade do psicoterapeuta oportunamente se dirigir à parte do aparelho psíquico do paciente que se mostra
de antemão disposta a estabelecer uma relação de trabalho ao invés de interpretá-la precipitadamente.
Palavras-chave: Aliança terapêutica, Psicoterapia de orientação psicanalítica, Psicologia clínica.
P35- FATORES PSICOLÓGICOS DA RECIDIVA DO CÂNCER DE MAMA: EXPLORANDO
O PAPEL DA INTEGRAÇÃO LÓGICA E DA CAPACIDADE ADAPTATIVA
Rodrigo Sanches Peres
Universidade Federal de Uberlândia
Introdução: O interesse da comunidade científica pelos aspectos psicológicos do câncer de mama aumentou
consideravelmente nas duas últimas décadas. Diversos estudos com esse enfoque sugerem que a personalidade
das pacientes pode influenciar o curso da doença, mas poucos contemplam diretamente essa questão. Visando
a fornecer elementos iniciais para o preenchimento dessa lacuna na literatura em Psico-Oncologia, uma pesquisa
recente examinou aspectos dinâmicos e elementos estruturais de personalidade em dois grupos distintos, em
termos do curso da doença, de mulheres acometidas por câncer de mama. Objetivo: O presente estudo é um
recorte da referida pesquisa e tem como objetivo comparar a integração lógica e a capacidade adaptativa de
pacientes em remissão e de pacientes em recidiva. Método: Todas as pacientes avaliadas (8 em remissão e 8
em recidiva) eram vinculadas a uma entidade assistencial, cumpriram o tratamento médico preconizado e não
apresentavam antecedentes psiquiátricos. A coleta de dados foi conduzida mediante o emprego do Teste de
Apercepção Temática (TAT). O conjunto do material obtido foi submetido a análises qualitativas, descritivas e
exploratórias. Além disso, foi interpretado sob a ótica da psicossomática psicanalítica. Resultados: Todas as
pacientes avaliadas se caracterizaram, de acordo com a análise dos dados, pela preservação da integração
lógica, uma vez que responderam tanto aos estímulos quanto às instruções do TAT de modo razoável. Trata-se
de um resultado esperado, uma vez que a inexistência de antecedentes psiquiátricos foi tomada como um
critério de inclusão para a composição da amostra e a integração lógica, por ser um elemento básico da
estruturação psíquica, geralmente se encontra comprometida apenas em pacientes com transtornos mentais
graves. Não obstante, a capacidade adaptativa se mostrou, de modo geral, melhor desenvolvida entre as pacientes
em remissão do que entre as pacientes em recidiva. É representativo nesse sentido o fato das condutas dos
heróis das estórias elaboradas a partir da aplicação do TAT terem se revelado mais diversificadas e resolutivas
entre as primeiras do que entre as segundas. Ocorre que as pacientes em recidiva, em sua maioria, apresentaram
uma veemente dificuldade na utilização da realidade interna como referência para a organização da realidade
externa. Somando-se esse a outros achados, referentes a aspectos distintos da personalidade, é possível
afirmar que o pensamento operatório é uma das principais características da personalidade das pacientes em
recidiva avaliadas. Conseqüentemente, pode-se, partindo do princípio de que o pensamento operatório promove
a substituição da simbolização pela reação biológica quando da ocorrência de eventos potencialmente
desestruturantes, situar o retorno do câncer das pacientes em recidiva na trama do trauma ensejado pelos
desdobramentos do diagnóstico e do tratamento do tumor primário. Conclusão: Os resultados ora reportados
favorecem uma compreensão preliminar dos mecanismos psicodinâmicos por meio dos quais, a capacidade
adaptativa das pacientes é capaz de influenciar o curso do câncer de mama.
Palavras-chave: Câncer de mama, Recidiva, Personalidade, Psico-Oncologia.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 73
P36- MEDICINA E PSICANÁLISE: O ANALISTA NA CLÍNICA HOSPITALAR
Taís Devens Donati
UERJ - Hospital Universitário Pedro Ernesto
Introdução: Sabemos que o trabalho da Psicologia e especialmente da Psicanálise em Hospital Geral é
relativamente novo e vem crescendo a cada ano. O discurso predominante dentro da instituição hospital,
entretanto, ainda é o discurso médico. Um discurso que privilegia o corpo doente e acaba, muitas vezes,
esquecendo que ali existe um sujeito único em sofrimento. O adoecimento é visto como uma urgência médica
a ser resolvida o mais rápido possível. A Psicanálise vai lidar com o tempo no hospital de uma outra maneira.
Seus olhos estarão voltados para o sujeito que adoece e que naquele momento precisa dos cuidados de
outro. Sabemos que o hospital é um ambiente que tem como característica principal o afastamento da condição
de saudável, das pessoas queridas, do cotidiano da vida, e coloca o sujeito de frente com uma questão
crucial: a fragilidade de sua condição humana e o confronto com a própria finitude, ou seja, sua morte. Diante
de tudo isso, o que pode o analista? Objetivo: Este trabalho tem como objetivo penar e refletir um pouco
sobre como o modo de funcionamento das instituições hospitalares reflete no modo como os pacientes
vivenciam suas experiências de adoecimento e hospitalização. E a partir daí nos questionarmos quanto a
nossa prática analítica e o nosso papel dentro do Hospital Geral. Método: Para isso farei uma revisão
bibliográfica a fim de levantar alguns pontos que considerei relevante tais como a hegemonia do discurso
médico dentro do hospital assim como alguns conceitos psicanalíticos como desamparo, castração. Para
elucidar, pretendo trazer recortes de alguns casos clínicos que nos evidenciam como o modo de funcionamento
da instituição pode está diretamente relacionado ao modo como o paciente vivencia aquela situação, e que
recursos ele tem a sua disposição para poder lidar com ela. Resultados: Minha hipótese era que apostando
nos efeitos da fala e disponibilizando-se para os pacientes e para a equipe de saúde o analista pudesse
provocar e recolher algumas mudanças no modo deles se relacionarem entre eles e com a instituição. O que
se observou foi que a presença do analista dentro do espaço hospitalar é motor, facilita circulação e verbalização
de papéis. Preservar um lugar para a fala “garante” a subjetividade de todos que ali estão. Conclusão: O
analista através de sua escuta diferenciada facilitará ao sujeito falar de sua dor, seu sofrimento, apostando
que de alguma forma seus sentimentos poderão ser nomeados e ele poderá criar maneiras de lidar com sua
angústia, trabalhando no sentido de extrair novas direções e possibilidade diante de sua perda. No hospital o
sujeito é facilmente tomado como objeto, a Psicanálise entre na tentativa de resgatar a dimensão do sujeito
apontando para a impossibilidade de separar a doença do sujeito que adoece. O que a experiência mostra é
que há muito a ser feito pelos pacientes, pelos profissionais de saúde e pela própria instituição hospitalar.
Palavras-chave: psicanálise, analista, hospital, adoecimento, angústia.
P37- PSICANÁLISE E SERVIÇOS PÚBLICOS DE SAÚDE MENTAL:
UMA REVISÃO DE LITERATURA
Nádia Duarte Marini, Vânia Maria Lopes Fiorini
Faculdade de Medicina de Marília
Introdução: Muitos profissionais referenciados na psicanálise têm investido esforços teóricos, práticos e
éticos em viabilizar um tratamento mais efetivo aos pacientes dos serviços públicos de saúde mental brasileiros,
em sua maior parte realizado em instituições tais como ambulatórios, enfermarias psiquiátricas em hospitais
gerais, CAPS, NAPS, oficinas terapêuticas e hospitais-dia. Esta atuação provoca muitas questões e impasses,
uma vez que a psicanálise originalmente fundada por Freud não contemplou a prática em instituições e nem
abrangeu patologias psíquicas além das neuroses, apesar destas perspectivas terem sido preconizadas pelo
próprio Freud. Mudanças históricas no campo da saúde mental e o avanço da psicanálise, contudo, abrem
espaço para a aplicação desta às novas demandas, tais como os serviços que compõem o modelo psicossocial
de atenção à saúde mental e o tratamento das psicoses, o que requer uma atenção especial. Objetivo:
identificar e discutir, a partir do referencial psicanalítico, algumas questões que se destacam na literatura
nacional recente sobre condições teóricas, técnicas e éticas que viabilizam a aplicação da psicanálise nos
serviços públicos de saúde mental brasileiros e ao tratamento das psicoses. Método: Realizamos uma revisão
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 74
de literatura, através da pesquisa de artigos científicos na base de dados LILACS. Para a análise dos artigos,
foi utilizada uma adaptação da técnica de análise de conteúdo, a partir da qual foram obtidas quatro categorias
temáticas. No presente trabalho, optamos por abordar a categoria “Psicanálise e Saúde Mental”. Resultados:
Encontramos material bastante heterogêneo, que apresenta tanto divergências quanto consensos em relação
ao tema em questão. As principais divergências entre os autores referem-se à compatibilidade entre o discurso
psicanalítico e aqueles discursos provenientes da reforma psiquiátrica, presentes no atual modelo psicossocial.
Em relação às convergências, ressalta-se a crítica contundente quanto às práticas que colocam o sujeito
psicótico em uma posição passiva no tratamento. Ressalta-se também a necessidade de uma atuação
específica em relação à equipe multiprofissional dos serviços. Conclusões: Existem iniciativas bem sucedidas
quanto à aplicação da psicanálise nos serviços públicos de saúde mental, seja pela própria montagem
institucional, seja pela iniciativa individual de profissionais que visam inserir o discurso psicanalítico nos
espaços institucionais. Ambas as iniciativas exigem soluções inventivas por parte dos praticantes da psicanálise,
os quais propõem alterações técnicas e também teóricas em relação à psicanálise clássica. Há, contudo, um
imperativo ético que deve ser mantido: ouvir o sujeito em suas produções subjetivas. Assim, a contribuição da
psicanálise para o campo da saúde mental também se dá à medida que ela auxilia a dar andamento aos
impasses colocados por esta nova clínica.
Palavras-chave: Psicanálise, Psicanálise aplicada, Serviços públicos de saúde mental, Modelo psicossocial,
Transtornos psicóticos.
P38- HUMANIZAÇÃO: UM CONCEITO EM CONSTRUÇÃO
Rejane Silveira Mendes, Alessandra Larcher dos Santos,
Aline Eiterer de Souza
Fundação Centro de Hematologia e Hemoterapia de Minas Gerais –
Hemocentro Regional de Juiz de Fora
Introdução: O termo humanização está sendo amplamente discutido e empregado constantemente no âmbito
da saúde. O Ministério da Saúde, em 2003, defende a priorização do tema humanização como aspecto
fundamental a ser contemplado nas políticas públicas de saúde, propondo a criação da Política Nacional de
Humanização (PNH). No entanto, o termo não possui uma definição clara, geralmente designando a forma de
assistência que valoriza a qualidade do cuidado do ponto de vista técnico, associada ao reconhecimento dos
direitos dos pacientes, de sua subjetividade e cultura, além do reconhecimento profissional. (DESLANDES,
2004) Objetivo: O trabalho objetiva discutir o conceito de humanização bem como suas aplicações no âmbito
da saúde. Método: Para tal proposta, adotou-se um cunho eminentemente teórico, tendo sido conduzido
através de levantamento bibliográfico centrado nos estudos referentes ao conceito de humanização.
Resultados: Benevides e Passos (2005b) apontaram para a necessidade de reavaliar os conceitos e práticas
nomeadas como humanizadas, demarcando um duplo problema: a banalização do tema e a fragmentação
das práticas ligadas a diferentes programas de humanização da saúde. Para os autores, humanizar a atenção
em saúde se apresenta como meio para qualificação das práticas de saúde. Benevides e Passos (2005a),
ainda apontam, em relação ao conceito de humanização, para o que podemos chamar de um modismo,
padronizando ações e repetindo modos de funcionar de forma sintomática, perdendo, assim, o movimento
pela mudança das práticas de saúde do qual esta noção adveio. Para os autores a humanização se apresenta
como um conceito-sintoma presente em práticas de atenção: a) segmentadas por áreas e por níveis de
atenção; b) identificadas ao exercício de certas profissões e a características de gênero; c) orientadas por
exigências de mercado que devem “focar o cliente” e “garantir qualidade total nos serviços”. Os autores ainda
marcam a necessidade de se articular o conceito com a prática, através de políticas públicas que efetivem
nas práticas de saúde os princípios do SUS. Deslandes (2004) sinaliza a falta de uma conceituação precisa
para a humanização. A autora aponta 4 eixos discursivos para a humanização: humanização como oposição
à violência; necessidade de melhorar a qualidade dos serviços prestados; humanização como melhoria das
condições de trabalho do cuidador; e ampliação do processo comunicacional, sendo esta sua diretriz mais
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 75
central da proposta de humanização. Conclusão: Acreditamos que apesar da indefinição do conceito de
humanização da assistência e da grande variedade de práticas que se auto-intitulam como “humanizadoras”,
esse processo pode propiciar uma contribuição para a melhoria da qualidade da atenção prestada.
Palavras-chave: humanização, políticas públicas.
P39- IMPLANTAÇÃO E ESTRUTURAÇÃO DE UM SERVIÇO DE PSICOLOGIA DA
SAÚDE: HOSPITAL, COMUNIDADE E ENSINO COMO ESPAÇOS DE ATUAÇÃO
Mariana Calesso-Moreira, Luciane Slomka
Serviço de Psicologia do Hospital Moinhos de Vento (HMV - Porto Alegre/RS)
Introdução: O presente trabalho é um relato da experiência de implementação do Serviço de Psicologia do
Hospital Moinhos de Vento (HMV - Porto Alegre, RS). A criação do serviço iniciou-se no ano de 2004, centrando
suas ações no ambulatório de oncologia. Gradualmente, a Psicologia logrou reconhecimento em outros setores,
o que fez com que a abragência dos serviços prestados se estendessem a outras instâncias. Atualmente, as
áreas de atuação da equipe de Psicologia permeiam os setores de internação (adulto e infantil), além dos
centros de terapia intensiva (CTI adulto e CTI neonatal) e hemodiálise. Além disso, em 2008, dois novos desafios
foram lançados: a ampliação do fazer em psicologia direcionado à atenção básica, através dos projetos de
Assitência Social do HMV e a criação do Curso de Especialização em Psicologia Hospitalar, proposto pelo
Instituto de Educação e Pesquisa do HMV. Objetivos: Relatar a história de implementação do Serviço de
Psicologia, abordando aspectos históricos e referências ao panorama atual; Discutir as novas metas e planos
de ação da psicologia no contexto hospitalar e de atenção básica. Método: Foi utilizada uma perspectiva históricodescritiva, focalizando a análise nos aspectos teóricos, técnicos, contextuais e de investigação da implantação
e organização do serviço. Resultados: Revisando a trajetória do Serviço de Psicologia, percebe-se um
crescimento significativo das ações prestadas pela equipe não só no âmbito hospitalar, mas em outras áreas de
atuação. Assim, evidencia-se um redirecioamento da ênfase que inicialmente era somente clínica (atendimento
a leitos, ambulatorial e avaliação psicológica) a uma ênfase direcionada a Psicologia da Saúde e ao ensino,
através da implementação de atividades como grupos psicoeducativos e de sala de espera, tanto no contexto
hospitalar como de atenção básica e a introdução dos alunos de pós-graduação no estágio supervisionado em
psicologia. Conclusões: Apesar das conquistas já alcançadas no âmbito da Psicologia da Saúde, alguns aspectos
merecem maior aprofundamento teórico-prático, como por exemplo a incrementação dos processos de prevenção
e promoção de saúde e a implementação de linhas de pesquisa sólidas direcionadas a estudar a eficácia das
ações realizadas e a descoberta de novas perpectivas na prática profissional.
Palavras-chave: Psicologia Hospitalar, Psicologia da Saúde, Implementação de programas.
P40- O PERFIL DA SEXUALIDADE EM MULHERES COM CÂNCER DE MAMA
Maria Fernanda de Matos Maluf, Marco de Tubino Scanavino
Departamento e Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas
da Universidade de São Paulo Departamento de Saúde do
Comando do 8º Distrito Naval
Introdução: Os tratamentos utilizados para o câncer de mama promovem, de modo geral, alterações na
auto-imagem, na imagem corporal, no auto-conceito e na sexualidade feminina. Assim, objetivamos avaliar a
presença ou não de disfunções sexuais em mulheres com câncer de mama submetidas à mastectomia radical.
Métodos: foram avaliadas pelo período de um ano, 52 mulheres entre 50 e 60 anos de idade, divididas em
dois grupos: controle, composto por 37 mulheres com tumores benignos de mama e 15 submetidas à
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 76
mastectomia radical, utilizando o Watts Sexual Function Questionnaire (WSFQ), que avalia os quatro
componentes da experiência sexual, incluindo as percepções sobre desejo sexual, interesse, orgasmo e
satisfação, específico para avaliar a sexualidade em sujeitos com patologias clínicas, previamente aplicado
na população brasileira. A este questionário foram acrescidas questões qualitativas visando a avaliação e
observação das reações das pacientes frente ao diagnóstico cirúrgico e as possíveis alterações advindas da
mastectomia radical na auto-estima, no humor, na capacidade de planejar o futuro e na manutenção do
relacionamento afetivo-sexual. Testes estatísticos para medidas repetidas, análise de correlação entre variáveis
e análise exploratória de dados multidimencionais estão entre as técnicas utilizadas para avaliar o conjunto
de dados. Resultados: As principais variações detectadas ao longo do tempo, foi o desejo sexual, no grupo
controle e na excitação no grupo submetido à mastectomia radical. Avaliando-se o impacto do tempo,
considerando-se comparativamente os dois grupos, observou-se uma piora no desejo das pacientes
pertencentes ao grupo controle comparado ao grupo de mastectomia radical. Ao diagnóstico de malignidade,
foram observadas reações como tristeza, choque, desconfiança, sentir-se mal, entre outras, apresentado
pela grande maioria. Conclusão: A presença de disfunções sexuais em ambos os grupos estavam relacionadas
às mudanças na auto-estima, auto-imagem, imagem-corporal, e no self feminino. Presença do processo de
elaboração do luto devido às alterações na imagem corporal.
Palavras-chave: neoplasia mamária, mastectomia radical, sexualidade feminina, disfunção sexual.
P41- O “MAL-ESTAR” QUE AFETA O CORPO EM DOIS CASOS CLÍNICOS
E SUA INTERSECÇÃO COM A FEMINILIDADE
Adriana Araújo de Medeiros
UGA V – Hospital Brigadeiro
Introdução: O presente trabalho busca refletir sobre a expressão de um mal-estar, intermediado pelo corpo,
em dois casos clínicos, no qual ocorreu a não-confirmação do diagnóstico médico inicial, de síndrome ou
doença de Cushing, após a realização de uma bateria de exames, durante o período no qual as duas pacientes
permaneceram internadas, tendo sido atendidas na enfermaria de internação do Serviço de Endocrinologia
do Hospital Brigadeiro, pelo Serviço de Psicologia da referida Unidade. Objetivo: Pretende-se ilustrar um dos
possíveis usos do corpo com a apresentação destes dois casos, bem como tecer algumas considerações
sobre a feminilidade e como essas mulheres lidaram com a situação, entendendo-se tal uso como efeito de
“algo” inominável psiquicamente, pertencendo à esfera do sintoma. Método: Atendimento psicológico em
enfermaria de internação, sob o referencial psicanalítico. Resultados: Pode-se apontar como aspectos
intrínsecos a esta questão o aparente descaso de ambas com a aparência física, a ausência de desejo por
um envolvimento afetivo, o isolamento social e a passividade presente no discurso de ambas diante da
alteração da imagem corporal, o que torna viável supor a existência de um uso sintomático destes corpos,
que se prestam a expressar este mal-estar, representante de um sofrimento, que surge como algo impossível
de se simbolizar pela Linguagem. Conclusão: Os atendimentos clínicos possibilitaram captar e observar
esses aspectos, presentes na fala de ambas as pacientes, cada uma referindo sobre essas questões conforme
sua especificidade psíquica. E, por isso mesmo, a diversidade de reação diante da não-confirmação do
diagnóstico médico inicial, que as trouxe para o ambiente hospitalar, sinalizando a possibilidade (ou não) de
novas perspectivas para suas vidas.
Palavras-chave: Feminino, Sintoma, Corpo.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 77
P42- SOBRE A ANGÚSTIA NA CLÍNICA DE PACIENTES COM
CÂNCER: AINDA O DESEJO DO SUJEITO
Maria Lopes Facó Estermínio Gonçalves
Departamento de Teoria Psicanalítica Universidade Federal do Rio de Janeiro
Introdução: Parto da suposição de que o diagnóstico e o tratamento de um câncer se constituem como um
encontro com o horror e o impossível. O paciente com câncer está imerso em um contexto de despedaçamento,
de medo do sofrimento e da morte, ou seja, em uma palavra: angústia. O presente trabalho toma a angústia
não como sintoma a ser tamponado, mas como um ponto em que o sujeito está em questão.Trata-se, portanto,
de considerar as condições para o manejo da angústia na clínica com pacientes com câncer, tendo em vista
o sujeito do desejo. Objetivo: Discutir as condições para o manejo da angústia na clínica com pacientes com
câncer, tendo em vista o sujeito e seu desejo. Método: Serão apresentados alguns extratos clínicos, para se
pensar qual é a relação da angústia na clínica com pacientes com câncer, de estrutura neurótica. Como
instrumento para se pensar sobre o que emerge nessa clínica, proponho um estudo, a partir de fontes primárias
e secundárias, do conceito de angústia, articulando-o aos conceitos de Real e castração, em psicanálise.
Resultado: Para todo sujeito neurótico, a angústia é o ponto médio entre o gozo e o desejo. O paciente com
câncer, de estrutura neurótica, submetido à lógica da castração, está no ponto mesmo que ele pode evitando
a angústia se afastar do desejo ou do sujeito do desejo. A angústia é mediana e não mediadora entre o gozo
e o desejo, uma vez que, só depois de superada a angústia, e fundamentado no tempo da angústia, que o
desejo se constitui. Para tanto, oponho um ideal de resposta à angústia à ética do desejo, porque só se sai do
registro do ideal, pela ética. O câncer, no caso, está colocado para todos os pacientes, mas é o desejo que
singulariza a resposta de cada um, a cada vez, face à angústia de uma experiência de corpo despedaçado
pelo corte simbólico e imaginário que, inclusive, a própria palavra câncer traz em si. Trata-se do encontro com
o impossível, com o Real, com aquilo que não engana, justamente por não se deixar significantizar. Através
dessa articulação, o trabalho procura examinar o que está em jogo para o sujeito quando se trata de pacientes
com câncer, no que diz respeito à angústia. Conclusão: Tomo, no campo da práxis psicanalítica, o estudo do
conceito de angústia, tal como ele se dirige à constituição do sujeito neurótico, articulando-o à lógica da
castração, à questão do corpo, ao conceito de real e à ética da psicanálise. Procuro avançar nas condições
para o tratamento destes clientes, através do manejo da angústia, com o intuito de escutar neles o que é do
seu desejo, nesse momento mesmo de sofrimento e horror.
Palavras-chave: câncer, psicanálise, manejo da angústia.
P43- IDOSOS COM INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA: COMPROMETIMENTO COGNITIVO,
SINTOMAS DEPRESSIVOS E QUALIDADE DE VIDA
Camila de Morais Teixeira Queiroz, Ana Teresa de Abreu
Ramos-Cerqueira, André Luís Balbi
Faculdade de Medicina de Botucatu,
Universidade Estadual Paulista – UNESP- SP
Introdução: Insuficiência Renal Crônica (IRC) é importante problema de Saúde Pública. Pacientes com IRC
têm maior prejuízo cognitivo comparados à população geral, associados a sintomas depressivos, fatores
que, além da doença, podem influenciar negativamente sua qualidade de vida (QV). Estes problemas podem
ser ainda mais graves entre idosos. Objetivo: Estimar a prevalência de comprometimento cognitivo, sintomas
depressivos, e avaliar a QV em pacientes idosos com IRC avançada, comparativamente aos mais jovens, em
tratamento dialítico. Metodologia: Estudo de corte transversal, em que se avaliaram todos os pacientes
(N=182) em tratamento na unidade de diálise de um hospital universitário de uma cidade do interior do estado
de São Paulo.Utilizou-se o Mini-Exame do Estado Mental (MEEM), o Inventário de Depressão de Beck; o SF36 para avaliar QV e formulário padronizado para as variáveis sócio-demográficas e clínicas. As associações
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 78
foram estudadas com os testes de qui-quadrado e Mann -Witney. Resultados: A idade média de todos os
pacientes foi 57,5 anos e, entre os 67 idosos, a idade variou de 60 a 88 anos. Segundo os resultados do
MEEM, idosos apresentaram, porcentagem significativamente mais alta de comprometimento cognitivo (73%)
em relação aos mais jovens (p=0,001); e 27,6% apresentaram sintomas depressivos (p=0,27). Quanto à: QV,
comparativamente aos mais novos, foi significativa a diferença na pontuação obtida pelos idosos em capacidade
funcional, 54,5 (p=0,05) e vitalidade, 64,2 (p=0,002); tenderam à significância estatística, a diferença nos
domínios aspectos físicos 31,0 (p=0,08) e saúde mental: 68,9 (p=0,08). Conclusões: Pacientes idosos
apresentaram uma frequência mais alta de comprometimento cognitivo, e maior prejuízo em sua QV no que
se referiu à capacidade funcional e vitalidade, em relação aos mais jovens, sugerindo a necessidade de
especial cuidado durante o tratamento dialítico, oferecendo apoio e orientações mais específicas aos indivíduos
mais comprometidos cognitivamente e aos seus familiares.
Palavras-chave: Insuficiência renal Crônica, Declínio Cognitivo, Qualidade de Vida.
P44- SUICÍDIO E COMPORTAMENTO DE RISCO: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO
Sheila Monteiro Matias, Rosana Sigler
Universidade São Francisco – São Paulo
Introdução: O termo suicídio está relacionado ao óbito decorrente de um ato provocado pela própria vítima.
Ao longo dos tempos o termo tem passado por variações em suas definições. Também tem variado a forma
como as pessoas lidam com esta problemática, oscilando entre um ato de heroísmo ou de fracasso. A
Organização Mundial da Saúde (OMS) revela que a cada ano, aproximadamente um milhão de pessoas se
suicidam no mundo e entre dez e vinte milhões tentam se suicidar, sem considerar os casos que não são
denominados como suicídio por falhas metodológicas. Objetivos: a) caracterizar e quantificar as pesquisas
psicológicas e psicanalíticas, bem como as discussões teórico-conceituais sobre o suicídio nos últimos quinze
anos; b) verificar se as pesquisas e as discussões teórico-conceituais reforçam a hipótese de que há ideação
suicida inconsciente antes das manifestações explícitas de suicídio, manifestando-se na forma de
comportamentos de risco. Método: Trata-se de uma pesquisa exploratória e bibliográfica, a partir da consulta
ás bases de dados científicas, entre elas o site www.bvs.psi.org.br. Foram utilizados os seguintes descritores
para este levantamento: “suicídio”, “prevenção do suicídio”, “tentativa de suicídio”, “pulsão de morte” e
“comportamento de risco”. Fez-se a classificação dos trabalhos seguindo os critérios: tipo de trabalho, método
de pesquisa, temáticas vinculadas ao suicídio, ano de publicação e grau de proximidade com a hipótese
deste trabalho. Resultados: Levantou-se ao todo sessenta e três pesquisas, sendo sessenta e um artigos,
uma tese de doutorado e uma dissertação de mestrado. Quanto ao método, quarenta são pesquisas
bibliográficas, dezoito pesquisas de campo e cinco resenhas. As temáticas vinculadas mais abordadas foram:
suicídio consumado, tentativa de suicídio e suicídio relacionado à adolescência; os menos abordados foram
suicídio na terceira idade e suicídio em personalidades narcísicas. Levantou-se uma pesquisa para os anos
de 1993 á 1996, quarenta e três pesquisas entre os anos de 1997 e 2005, havendo uma variação entre
quatorze e quinze pesquisas para cada triênio e dezenove pesquisas entre os anos de 2006 á 2008. Constatouse que, seis dos trabalhos apontavam na direção da hipótese levantada. Conclusões: pôde-se observar que
o número de pesquisas aumentou consideravelmente nos últimos anos, concomitantemente com o aumento
da taxa de suicídio. Os cinqüenta e sete trabalhos levantados que não condiziam com a hipótese levantada
neste estudo tratavam outros aspectos também relevantes para o estudo e compreensão do fenômeno suicídio,
não tinham como foco a questão inconsciente deste comportamento. Por fim, os dados apontados pela OMS
evidência como tão complexo é este fenômeno, para que todos nós profissionais da área da saúde, atentemonos a esta realidade, buscando estratégias para a compreensão e atuações que possam minimizar o número
alarmante de suicídios.
Palavras-chave: Suicídio, Prevenção do suicídio, Tentativa de suicídio, Pulsão de morte e comportamento
de risco.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 79
P45- TENTATIVA DE SUICÍDIO: REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA
INTERDISCIPLINAR NO ATENDIMENTO AO ADOLESCENTE
Lígia Pereira Saccani
Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo (ICr – HCFMUSP)
Introdução: O campo médico constitui a porta de entrada do adolescente que tenta suicídio. Em particular,
se o atendimento é realizado pela Hebiatria - especialidade pediátrica – recebe contornos específicos que
compreendem uma postura técnica e ética. A conduta estabelecida para o acompanhamento desses casos
pode incluir o encaminhamento para o Serviço de Psiquiatria e Psicologia e a interlocução decorrente, assim
como a avaliação constante de riscos e demanda, que também considera as circunstâncias de vida do
adolescente. Nesta interlocução se efetiva o trabalho multidisciplinar e uma possibilidade interdisciplinar, na
modulação entre as áreas envolvidas frente à manutenção da vida. Objetivo: Discutir a clínica com
adolescentes, mediante a interface entre a Psicologia e a Hebiatria, examinando as distintas concepções
acerca do mesmo fenômeno. Método: Levantamento bibliográfico dos fundamentos consolidados pela Hebiatria
e das contribuições da Psicanálise sobre a tentativa de suicídio, privilegiando as construções teóricas realizadas
por Sigmund Freud e Jacques Lacan. Este levantamento bibliográfico oferece subsídios para a articulação
entre teoria e prática clínica a partir do caso de uma adolescente que tentou suicídio e foi acolhida pela
Unidade de Adolescentes do Instituto da Criança. Dentre as passagens do caso, são selecionadas aquelas
que ilustram a localização das demandas dos envolvidos, além da particularidade da adolescência no que se
refere à tentativa de suicídio e a interlocução entre as áreas de Psicologia e Hebiatria. Resultados: Partindo
da articulação teórico-prática do caso privilegiado neste trabalho, apoiada pelas contribuições da Psicanálise,
foi possível, após um período de seguimento ambulatorial, construir a hipótese clínica de que a tentativa de
suicídio tenha se dado como uma resposta subjetiva, uma forma sintomática, grave, de risco, mas que portava,
no entanto, a estrutura de apelo para ressignificação de sua condição subjetiva, da separação com a condição
da infância e da conquista da identidade adolescente. Conclusões: Na interface entre as áreas envolvidas
se efetivou uma articulação coordenada das ações disciplinares no atendimento desta adolescente. Esta
prática interdisciplinar vem sendo construída no ambulatório de adolescentes do Instituto da Criança com o
intuito de estabelecer um ponto de conexão entre estas disciplinas com lógicas tão distintas. Neste caso, o
ponto de conexão favorável está na interrogação comumente explicitada entre a condição orgânica (ou queixa)
e as questões subjetivas, buscando uma concepção integrada das manifestações clínicas.
Palavras-chave: tentativa de suicídio, interdisciplinaridade, adolescência, Psicanálise, Hebiatria.
P46- RE-FLEXÃO SOBRE O QUE PENSAMOS E SENTIMOS DIANTE DA
MORTE E A NOSSA ESCOLHA PROFISSIONAL
Cibelle Antunes Fernandes
Universidade Católica de Brasília
Universidade de Brasília
Introdução: A questão da escolha profissional por trabalhar, de perto, com a morte é uma boa pergunta a se
fazer: o que nos conduz para esse tipo de tarefa? Um estudo de Johnson (1981) aponta três elementos
psicodinâmicos que determinam a escolha pela carreira na área se saúde: tentativa de reparação da impotência;
tentativa de reparação do abandono emocional e a escolha profissional como formação reativa. Esse autor
fala, ainda, do papel das experiências pessoais, notadamente as inconscientes, para o desenvolvimento de
estresse emocional e doenças psiquiátricas, entre estes profissionais. Objetivo: A partir do lugar de psicanalista
que trabalha com pacientes em cuidados paliativos e sobreviventes, fazer uma re-flexão sobre a nossa escolha
profissional e, também, sobre o que pensamos e sentimos diante da experiência da morte em nosso ofício.
Método: A pesquisa bibliográfica-análitica e os próprios sentimentos e pensamentos associados a casos
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 80
clínicos foram os veículos entendidos como apropriados para efetivar a nossa proposta de trabalho, privilegiandose a interpretação e a reflexão. Resultados: Uma das aproximações que contornam de sentido essa escolha
profissional foi colhida em um texto freudiano de 1913, “Os três escrínios” que nos ajuda a pensar que escolhemos
trabalhar com a morte porque a conclusão é de que há uma substituição pelo contrário: no lugar de dor e
sofrimento vemos beleza e amor nesse trabalho. Outro motivo que justifica a escolha por trabalhar diante da
morte é muito simples: porque o paciente e sua família precisam. Esse reconhecimento por parte do profissional
significa que ele possui um amadurecimento psíquico representado pelos conceitos de integridade e
generatividade de Erik Ericson. Um terceiro motivo é reconhecido a partir da fala de cuidadores de pacientes em
tratamento paliativo. Um tema recorrente, entre eles, é o da recompensa no futuro. De sorte que, escolhemos
cuidar hoje porque queremos ser cuidados no futuro. Entendemos que essa reflexão – que implica em trabalho
pessoal, trabalho junto aos pacientes, familiares e equipe, supervisão deste trabalho e um pensar e sentir sobre
o mesmo - é que nos organiza para o trabalho com a morte e nos permite estabelecer em ato terapêutico
algumas condições necessárias para envolvimento com e elaboração da tarefa, algumas delas discutidas por
Bion e outras pensadas por nós: a capacidade de ser continente; a capacidade negativa; a capacidade de
sobreviver; a capacidade de realizar o lugar comum em condições nada comuns e capacidade de encontrar o
contrário do medo: o amor. Conclusões: O motivo de nossa escolha para trabalhar com a morte, mais a
insalubridade da tarefa, pode mobilizar posturas defensivas diante daqueles que nos dispusemos a cuidar. As
reações de defesa podem levar a um duplo prejuízo: podemos adoecer e podemos ficar impedidos de exercer
verdadeiros atos terapêuticos junto aos nossos pacientes e seus familiares. Ou seja, precisamos pensar o que
fazemos e por que o fazemos, para não fazer uma coisa qualquer e para proteger nossa saúde mental.
Palavras-chave: morte, escolha profissional, cuidados paliativos.
P47- QUEM CUIDA DO PACIENTE SEM PERSPECTIVAS TERAPÊUTICAS:
A FAMÍLIA DIANTE DA FINITUDE
Cibelle Antunes Fernandes; Kelly Cristina Siqueira da Silva
Universidade Católica de Brasília
Introdução: Trata-se de estudo focalizado na família que cuida de um parente com câncer sem perspectivas
terapêuticas e em tratamento em hospital público de referência em cuidados paliativos do DF. Damos ênfase
ao ato de cuidar e aos aspectos psicológicos da família correlacionados à situação de morte anunciada.
Objetivos: Compreender como os cuidadores vivenciam e lidam com a experiência de cuidar de um membro
da família com câncer sem perspectivas terapêuticas. Método: Realizamos uma entrevista semi-estruturada,
numa perspectiva qualitativa (Turato, 2005), pois o interesse foi a busca dos significados do fenômeno de
cuidar de alguém que está de partida, tendo o ambiente natural do sujeito como campo de observações. O
conteúdo das entrevistas foi analisado, a partir da fala dos participantes, buscando unidades de significação
para as respostas. Ao final, buscamos delimitar um significado para o grupo de participantes. Resultados:
Participaram oito (8) acompanhantes, com predomínio do sexo feminino (07); idade entre 22 e 59 anos; o tipo
de parentesco predominante foi o de consangüinidade (03 filhas; 01 mãe e 01 irmã) e 03 por afiliação (02
esposas e 01 marido). A maioria dos cuidadores passa a maior parte do tempo junto ao paciente, com arranjos
e mudanças na rotina de vida pessoal. Grande parte respondeu que não houve “escolha” para a tarefa de
cuidar, eles foram os únicos que se disponibilizaram, por acreditar que o familiar precisava de ajuda. O motivo
para estar como acompanhante parece estar no reconhecimento da necessidade do outro e uma negação ou
não reconhecimento das próprias necessidades. Todos eles referem sobrecarga e dificuldades emocionais
diante do ato de cuidar. Mas, também, relatam aprendizado pessoal e reconhecem que vivenciam um momento
único de possibilidades de troca de afeto. Para todo o grupo, o diagnóstico inicial de câncer causou grande
impacto na família, com reações referidas de desespero, impotência, medo, dor, angústia, preocupação e
negação da doença. É recorrente a fala de que eles passaram a dar valor às pequenas coisas. Grande parte
sabe sobre a doença e sua gravidade, mas evita falar sobre o assunto e sobre o tratamento paliativo. Sobre
contar ou não a verdade para o paciente, seis deles são da opinião que se deve informar sobre a doença e
sua gravidade, os outros dois acreditam que não se deve falar sobre a possibilidade de morte. Sobre o
sentido da experiência de cuidador foram destacados: a aproximação e união da família; o sentimento de que
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 81
eles estavam se saindo bem numa espécie de “teste”; aproximação com Deus; a tranqüilidade em estar
dentro de um hospital; dificuldades financeiras; as repercussões físicas e emocionais e o não reconhecimento
por parte de outros familiares. Conclusões: A tarefa de ser cuidador é vivida não só como um sofrimento,
mas como um momento único de possibilidades de troca de afeto entre as pessoas. Além disso, o presente
trabalho permitiu compreender que a família é também paciente da equipe interdisciplinar, mas que podemos
aprender com ela a difícil tarefa de sustentar uma posição de cuidar diante da finitude.
Palavras-chave: Cuidador, família, câncer sem perspectivas terapêuticas.
P48- PASSOS & TRAÇOS: GRUPO DE ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO
EM SAÚDE MENTAL COM REFERENCIAL PSICANALÍTICO
Andrea Maria Mendes Cembranelli 1
Letícia Antunes Dias Cintra 2, Daniela de Souza Higa3
1. Psicóloga clínica, Aprimoramento multiprofissional em saúde
mental no CAPS Itapeva (Centro de Atenção Psicossocial
Professor Luís da Rocha Cerqueira) e Acompanhante Terapêutica
2. Psicóloga da Associação S.A.B.E.R. – Saúde, Amor, Bem-Estar e
Responsabilidade, PROESQ – Programa de Esquizofrenia da
UNIFESP e Acompanhante Terapêutica
3. Psicóloga do Instituto Kora, clínica Psicoblue – Psicologia e
Fonoaudiologia e Acompanhante Terapêutica
Introdução: O Acompanhamento Terapêutico (AT) é um trabalho clínico caracterizado pelo encontro do
terapeuta com o paciente onde quer que ele esteja, nos diversos espaços cotidianos e de tratamento. Pensamos
que a postura ética da psicanálise, caracterizada, entre outros aspectos, pela disponibilidade psíquica e pelo
acolhimento das diferenças, está presente no AT. Entretanto, por ocorrer fora do consultório, ou seja, a “céu
aberto”, inúmeros desafios são lançados. Nesse sentido, pensamos na construção do grupo Passos & Traços
como a filiação entre profissionais interessados em refletir esses desafios, potencializando assim, o tratamento
clínico de psicopatologias, em especial as graves. O trabalho em equipe, ao nosso ver, oferece espaço para
a troca de experiências entre os profissionais, promove continência e suporte nos momentos emergenciais e
enriquece a discussão dos casos clínicos. Por meio das reflexões sobre o trabalho prático e teórico, a conduta
do acompanhante terapêutico (at) é fortalecida e respaldada. Objetivo: Apresentar o grupo Passos & Traços,
que trabalha com Acompanhamento Terapêutico em saúde mental tendo como referencial teórico a psicanálise.
Método: Relato da experiência de um grupo de trabalho em AT. Resultados: Desde o início do grupo Passos
& Traços, nos preocupamos com o aperfeiçoamento teórico-prático por meio de supervisão, grupo de estudos,
experiências de atendimento e análise pessoal. Essa ênfase no processo formativo nos estimulou à produção
científica no que se refere à atuação do acompanhante terapêutico, apresentada em Congressos e Simpósios.
Além disso, nosso grupo está atualmente realizando parcerias com instituições da área da Saúde e Educação
de forma a ampliar a sua atuação e construir uma rede de apoio em saúde mental. Conclusão: No grupo
Passos & Traços estamos preocupados com a construção de um saber apoiado em um referencial psicanalítico,
através de espaços de reflexão e supervisão, estudos constantes e produção teórica nos meios científicos.
Enfatizamos, por fim, a importância de o grupo estar repensando frequentemente a sua própria prática.
Palavras-chave: Acompanhamento Terapêutico, Grupo de Trabalho, Psicanálise, Saúde Mental.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 82
P49- MOVIMENTOS TERAPÊUTICOS EM UM CASO DE TOXICOMANIA
Moises Romanini, Claudia Maria de Sousa Palma
Universidade Federal de Santa Maria
Introdução: A cura das toxicomanias movimenta a terapêutica que, muitas vezes, se confunde com a
abstinência. Possibilidade esta descartada por Freud, onde a cura baseada na abstinência é ineficiente se
não se alcançar a fonte do surgimento do imperativo de uso dos narcóticos. Esses funcionariam como
compensação da falta de gozo sexual, diferenciando-se do estado de intoxicação. O que impulsiona a passagem
do uso para o abuso de drogas é a condição subjetiva do sujeito, e não o social. O que pode fazer da droga
um tóxico é o lugar que o sujeito assume na relação com o Outro, destacando-se a tentativa de constituição
de uma relação dual com a droga, eliminando qualquer terceiro da mesma. Nessa via, o psicanalista não trata
a dependência química, mas um sujeito que ancora seu gozo na toxicomania. Objetivo: Esse trabalho pretende
discutir a condução do caso clínico de ‘Ana’, uma usuária do CAPS-AD de Santa Maria, a partir do eixo
necessidade-demanda-desejo articulados aos três momentos do tempo lógico (ver-compreender-concluir)
com o intuito de um outro saber fazer com o corpo, que não substitui necessariamente a relação inicial com
a droga, mas que implica o sujeito a estabelecer outras formas de relação e a constituir-se enquanto um
sujeito desejante. Método: Esse estudo foi construído através dos atendimentos realizados durante um estágio
curricular e de debates teóricos e clínicos sobre a toxicomania. Resultados: Quando um sujeito consome
drogas não há lugar para as palavras. Na via do tóxico, o sujeito desaparece deixando um corpo-organismo
em funcionamento, desprovido de linguagem, vivido no real. O tratamento convida o paciente a entrar no
circuito da linguagem. ‘Ana’, ao apresentar-se como “dependente química”, denota uma aceitação em ser
designada pela sua forma de gozo. É uma nomeação enquanto falta de um traço simbólico de identificação.
O direcionamento terapêutico, então, objetivou um re-posicionamento de ‘Ana’ diante da presença do Outro
insuportável, resgatando o ideal que fora depositado no “tóxico”, restituindo assim sua própria condição
subjetiva. Inicialmente, diante de uma tentativa de suicídio, o terapeuta “emprestou” seu desejo, convidando
uma interlocução com um Outro suportável. Aos poucos, o terapeuta prescindiu dos desejos depositados e
pôs-se a oscilar entre presença e ausência, instituindo os limites necessários, defrontando ‘Ana’ com a
castração. ‘Ana’ foi se autorizando frente ao que dizia, remetendo-se às suas próprias palavras e ao desejo
que essas comportavam. Esse novo circuito orientou um possível reconhecimento de traços que apontavam
um saber outro sobre si. Questionou-se sua participação na desordem da qual se queixava e se estimulou a
narrativa biográfica que, aos poucos, delineava um lugar na filiação. Esses movimentos terapêuticos
possibilitaram à ‘Ana’ uma plasticidade subjetiva promovendo, essa, efeitos fundamentais à manutenção do
tratamento. Conclusão: As dificuldades encontradas na clínica da toxicomania convocam o psicanalista a
pensar os movimentos terapêuticos. Nessa via, a condução ideal seria o da substituição da relação com a
droga por outras relações que incluam um terceiro e outro saber fazer com o corpo.
Palavras-chave: toxicomania, clínica psicanalítica, atendimento psicológico em caps-ad
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 83
P50- ATENÇÃO À SAÚDE DA FAMÍLIA:
A INTERSUBJETIVIDADE E A HISTÓRIA NO PROCESSO DE ADOECIMENTO DO GRUPO
Aline Villhena Lisboa, Alessandra Larcher dos Santos,
Fernanda Anselmo Bassoli, Nadia Delgado Paiva,
Tatiana Campos Fernandes, Vinicius Mendes Ribeiro
Núcleo Interdisciplinar de Investigação Psicossomática da
Universidade Federal de Juiz de Fora – MG; Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro e Secretaria
Municipal de Saúde de Juiz de Fora – MG
Introdução: Família, Saúde e Doença lançam caminhos diversos de investigação e exigem ações
interdisciplinares. A proposta deste estudo é apresentar dados parciais da pesquisa de doutorado “Atenção
à saúde da família: a intersubjetividade e a história no processo de adoecimento do grupo”, fundamentada
nos estudos da psicanálise de família e da psicossociossomática. Objetivo: O trabalho apresenta o lugar
da família na condição de saúde e de doença do sujeito, pois se postula que particularidades da história e
a qualidade das relações intersubjetivas podem colaborar, ao longo do tempo, no processo de adoecimento
de um ou mais de um membro do grupo. É reconhecido que, nos casos já estudados sobre doença e
família, os dados fornecidos retratam uma realidade socioeconômica e inter-relacional, mas sem aprofundar
as particularidades intersubjetivas e psíquicas. Estudos recentes mostram que a psicodinâmica da família
com doenças aponta a existência de uma baixa qualidade de representação e falha da função materna e
de continente pelo grupo, passada de geração em geração. Não há intenção, aqui, de apresentar uma
relação entre tipos de convivência familiar e certos tipos de doenças, mas destacar a convivência familiar
como grande colaboradora de adoecimentos, visto que muitas delas são atravessadas por uma herança
psíquica comprometida com conteúdos traumáticos, não superados por aqueles que adoecem. Hoje, a
pesquisa está sendo desenvolvida com famílias encaminhadas pela equipe de Estratégia de Saúde da
Família da Unidade Básica de Saúde de Santa Luzia, da cidade de Juiz de Fora - MG. Método: Trabalhase com uma investigação qualitativa, e todas as etapas do procedimento são conduzidas por um psicólogopesquisador em colaboração estagiários do curso de Psicologia da Universidade Federal de Juiz de Fora e
agentes de saúde. São realizadas 4 visitações em domicílio de famílias, com algum tipo de doença, ao
longo de 1 mês. Após assinatura do consentimento por todos os familiares (A pesquisa é financiada pela
CAPES e tem aprovação do comitê de ética do Departamento de Pós-graduação em Psicologia da PUC
Rio de Janeiro), as entrevistas são gravadas e contam com perguntas semiestruturadas que exploram a
história e a convivência do grupo. Resultados: Desde 2007, 8 famílias foram entrevistadas em domicílio e
os dados apresentados referem-se à concepção de saúde, de doença e de alguns acontecimentos marcantes
que influenciam na qualidade das relações intersubjetivas. Do ponto de vista da concepção de saúde, as
opiniões coletadas demonstraram que, para ter saúde, é preciso “viver uma vida sem problemas”, “viver
em paz consigo mesmo” e “comer bem”. No que diz respeito às possíveis causas de as pessoas adoecerem,
as famílias responderam, de um modo geral, que “depende muito da alimentação”, “das preocupações da
vida” e “de aborrecimentos com as pessoas”. Dentro das respostas sobre “aborrecimentos com as pessoas”,
destacamos para o fato de que muitas dessas sofreram, ao longo da vida, situações de abuso sexual,
violência física e psicológica e fizeram uso crônico de álcool. Considerações: Tais situações provocam
extremo desgaste emocional e relacional entre os membros e são consideradas mais significativas que
perdas de algum ente querido, pois revelam segredos nunca antes revelados, e isso encobre muitos sintomas
de difícil diagnóstico e tratamento por parte dos profissionais de saúde.
Palavras-chave: família, psicossociossomática, adoecimento, história familiar, intersubjetividade.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 84
P51- ESCALA WECHSLER DE INTELIGÊNCIA PARA CRIANÇAS (WISC-III) NA INVESTIGAÇÃO DO
TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH)
Michele Gutierres Ignacio, Sueli Medeiros Lima Gonsalez,
Cristiana Castanho de Almeida Rocca, Enio Roberto de Andrade,
Luciana de Carvalho Monteiro
Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Introdução: A partir da década de 90 grandes avanços foram obtidos sobre o TDAH, sendo caracterizado
por sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade, manifestando-se em diferentes proporções
no indivíduo. Objetivo: Avaliar desempenho intelectual e cognitivo de crianças com diagnóstico de TDAH
com o WISC-III. Método: Foram avaliados 30 sujeitos com diangóstico de TDAH provenientes do
Ambulatório de Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (ATODAH) do Serviço de Psiquiatria da
Infância e da Adolescência (SEPIA) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo (IPqHCFMUSP). Critérios de Inclusão: Diagnóstico positivo para
TDAH, baseado nos critérios propostos pelo DSM-IV; autorização dos pais. Critérios de Exclusão: Histórico
de comprometimento no SNC; graves distúrbios comportamentais; freqüentar classe especial; idade inferior
a 6 e superior a 16 anos e 11 meses. Os pacientes da amostra foram encaminhados após avaliação
clínica realizada pelo psiquiatra responsável pelo ATODAH. Resultados: 30 sujeitos, 26 meninos e 04
meninas, idade entre 7 e 16 anos, alfabetizados. 20 sujeitos não estavam em uso de medicação no
momento da avaliação, e 10 estavam em uso de metilfenidato e outras drogas associadas. 23 sujeitos
receberam diagnóstico de TDAH e 07, diagnóstico de TDAH e co-morbidades associadas. Todos os
sujeitos apresentaram desempenho na faixa média quando comparados à amostra normativa nos
subtestes: Completar figuras, Semelhanças, Arranjo de figuras, Cubos, Vocabulário, Armar Objetos,
Compreensão, Procurar símbolos e Dígitos. Porém, revelaram rendimento médio inferior nos subtestes:
Informação, Código e Aritmética, quando comparados aos valores ponderados (9-11) para a população
geral. Em relação ao desempenho nos índices gerais, apresentaram rendimento na faixa média para
crianças de mesma idade e escolaridade nos índices: QI Verbal, QI Execução, QI Total, índice de
compreensão verbal (ICV), índice de organização perceptual (IOP), índice de resistência à distração
(IRD) e índice de velocidade de processamento (IVP), quando comparados aos dados normativos (90109). A amostra foi dividida em dois grupos: TDAH (n= 23) e TDAH + comorbidades (n= 7). Quando estes
dois grupos foram comparados pelo teste Mann-Whitney, pôde-se observar diferença significativa apenas
no subteste Compreensão, revelando melhor desempenho no grupo com apenas TDAH. No entanto,
quando as médias dos dois grupos foram comparadas com as médias da população geral, verificamos
que somente as crianças com TDAH apresentaram rendimento abaixo da média nos subtestes Dígitos e
Procurar Símbolos, além dos subtestes Informação, Código e Aritmética observados na amostra geral
(TDAH e TDAH + co-morbidades). Conclusão: Neste estudo piloto, pode-se observar que, embora amostra
reduzida (30 crianças), os resultados apontaram algumas diferenças no rendimento de crianças com
TDAH e de crianças com TDAH + co-morbidades apenas nos subtestes da escala, não comprometendo
o rendimento final nos índices gerais. As crianças com apenas TDAH parecem ter pior rendimento nos
subtestes relacionados à atenção e velocidade de processamento (WISC-III). Neste sentido, os resultados
obtidos através deste estudo, assemelham-se aos citados por outros autores, com maior ênfase nos
subtestes do que nos índices gerais, sugerindo que os respectivos subtestes podem configurar paradigmas
importantes para sinalizar dificuldades atencionais nesta população.
Palavras-chave: WISC-III, TDAH, avaliação neuropsicológica.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 85
P52- CONTRIBUIÇÕES DOS TESTES ISSL, QSG E TAT NO DIAGNÓSTICO CLÍNICO
Leila Oliveira Brito, Milena de Oliveira Rossetti,
Sílvia Verônica Pacanaro
Casa do Psicólogo Livraria e Editora Ltda
Introdução: No campo da saúde mental é crescente a necessidade de realizar avaliação psicológica,
principalmente no contexto hospitalar para auxiliar a equipe multidisciplinar a obter uma melhor compreensão
dos casos e oferecer um direcionamento para a intervenção junto ao paciente. Diante da necessidade de utilizar
instrumentos precisos para auxiliar no diagnóstico de transtornos mentais, mostra-se a importância do uso de
testes como o Inventário de Stress para Adultos de Lipp (ISSL), o Questionário de Saúde Geral de Goldberg
(QSG) e o Teste de Apercepção Temática (TAT) para analisar a relação entre estresse, saúde geral e
personalidade. Objetivo: O presente estudo verificou a relação entre os instrumentos para serem utilizados no
diagnóstico clínico. Método: Foi realizado um estudo de caso por meio de quatro encontros com um servidor
público de 29 anos, sexo masculino, nível superior incompleto. Os instrumentos utilizados foram o ISSL, que
visa identificar a sintomatologia de estresse que o indivíduo apresenta por meio de um modelo quadrifásico
(alerta, resistência, quase-exaustão e exaustão); o QSG, composto de 60 itens sobre sintomas psiquiátricos
não psicóticos, que tem por objetivo identificar a severidade do distúrbio psiquiátrico relacionado ao stress
psíquico, desconfiança no desempenho, desejo de morte, distúrbios do sono e distúrbios psicossomáticos; e o
TAT que é uma técnica projetiva com base teórica psicanalítica e seu principal objetivo é revelar através das
histórias contadas os principais componentes da personalidade do indivíduo, que são decorrentes de tendências
psicológicas. É composto por 31 pranchas que abrangem situações humanas clássicas, e para a aplicação são
selecionadas apenas 20 pranchas, de acordo com o sexo e grupo etário do avaliando, que deverá contar uma
história para cada uma das pranchas. Procedimento: Foi realizado no primeiro encontro um levantamento dos
dados sobre o histórico de vida do indivíduo, no segundo encontro foi aplicado o ISSL e o QSG e no terceiro e
quarto encontro aplicou-se o TAT. Resultados: Observou-se por meio do ISSL que o indivíduo está na fase de
exaustão, considerado um elevado nível de estresse no qual é possível observar a manifestação de processos
psicossomáticos. A utilização do QSG possibilitou investigar que o indivíduo apresentou percentil elevado em
todas as áreas avaliadas no teste, principalmente nos aspectos relacionados ao stress psíquico, desconfiança
no desempenho e desejo de morte constante, hipóteses que foram melhores investigadas na utilização do TAT,
uma vez que nas histórias contadas pelo indivíduo, o desejo de morte surge de forma relevante acompanhado
de dúvida/desconfiança em relação ao seu desempenho. Conclusões: Constatou-se que a utilização conjunta
dos instrumentos citados pode contribuir para uma avaliação psicológica mais detalhada e aprofundada das
áreas investigadas para que se possa auxiliar a equipe multidisciplinar na condução de um tratamento eficaz
que possibilite intervenções mais adequadas na área de saúde mental.
Palavras-chave: saúde-mental, avaliação-psicológica, testes psicológicos.
P53- INDICADORES DE ANSIEDADE OBSERVADOS NO TESTE DE RORSCHACH
EM UMA AMOSTRA DE PACIENTES COM TRANSTORNO DE PÂNICO
Paulo Francisco de Castro
Universidade de Taubaté e Universidade Guarulhos
Introdução: Em linhas gerais, o transtorno de pânico pode ser caracterizado pela vivência recorrente de
ataques de pânico, em virtude de crises agudas de ansiedade, onde o indivíduo passa por um mal-estar
intenso e uma sensação iminente de perigo e ou morte. Usualmente um ataque de pânico, que geralmente é
intenso e inesperado, pode ser uma experiência avassaladora; os sintomas experenciados pelo paciente e as
sensações de fadiga e desconforto sentidas após a crise são extremamente desagradáveis e levam a uma
inquietação e temor de outra ocorrência. Objetivo: Refletir sobre os indicadores de ansiedade observados na
avaliação de pacientes com Transtorno de Pânico, submetidos ao Método de Rorschach. Método: Participaram
do estudo 60 colaboradores de ambos os sexos, divididos igualmente em um grupo de pacientes e um grupo
de não pacientes. Os pacientes foram selecionados a partir de prontuários de atendimento médico e entrevistas
psicológicas de acordo com o DSM-IV; a amostra de não pacientes foi construída por equivalência de idade
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 86
e escolaridade e submetidos ao QSG para verificação do estado de saúde geral. O Rorschach, segundo o
sistema compreensivo, foi aplicado em todos os colaboradores; as respostas foram codificadas por juízes
independentes e os resultados cotados e estatisticamente comparados. Resultados: Os dados que indicaram
diferença estatisticamente significativa foram os seguintes: Experiência de Base - eb, Estimulação Sentida - es
e Somatória de Respostas de Sombreado Difuso - SY. No que se refere ao eb, nos pacientes houve predomínio
do lado direito da proporção (-SC’+ST+SV+SY), com p = 0,010 e valores de 86,67% (N=13) em ambos os
sexos, revelando um aumento da tensão interna, aumento na liberação de afetos com pouco controle; esses
afetos sobrepujam os recursos disponíveis, causando uma sobrecarga emocional e condutas impulsivas. Quanto
ao es, a média encontrada para os grupos de pacientes de ambos os sexos foi de 13,40 contra 5,93 ao grupocontrole feminino e 9,93 ao masculino, observou-se diferença significativa (p < 0,001) com aumento para os
pacientes, indicando uma vivência de extrema irritação, desconforto e incômodo internos; acionados sem que
os sujeitos possam deliberadamente controlá-los. No que tange à SY, a média dos pacientes do sexo feminino
foi de 6,33 e do sexo masculino de 6,47, contrapondo-se às médias do grupo-controle feminino que chegaram
a 1,67 e masculino a 2,13; obteve-se p < 0,001, demonstrando ansiedade e extremo desconforto emocional e
sofrimento interno, levando-os a experimentar uma sensação de incapacidade em se defender de situações
emocionais perturbadoras. Conclusões: Em síntese, foi possível observar que os pacientes com pânico
demonstraram aumento da tensão interna, gerando grande desconforto emocional, associados à intensa vivência
de ansiedade; tal quadro foge ao controle dos indivíduos, o que causa temor e sentimentos de incapacidade
diante da situação vivida. Os resultados apresentados referem-se ao grupo investigado, sendo que outras
pesquisas mostram-se necessárias para melhor compreensão do fenômeno ansioso em pacientes com pânico.
Palavras-chave: Avaliação Psicológica, Teste de Rorschach, Transtorno de Pânico, Ansiedade.
P54- OBSERVAÇÃO DOS SINAIS PSICOPATOLÓGICOS DO MÉTODO DE RORSCHACH
EM UMA AMOSTRA DE SUJEITOS NÃO PACIENTES
Paulo Francisco de Castro1e2, , Regiane Ferreira de Souza1
1
Universidade Guarulhos, 2 Universidade de Taubaté
Introdução: O Rorschach, segundo as especificações técnicas do sistema compreensivo, possui seis
constelações que indicam elementos de cunho mais patológico ou de sofrimento psíquico. São denominadas
de constelações, pois reúnem um conjunto de sinais que quando observados em conjunto revelam um quadro
psicopatológico. São eles: índice de perturbação de pensamento (PTI), índice de depressão (DEPI), índice
de déficit relacional (CDI), constelação de suicídio (S-Con), índice de hipervigilância (HVI) e índice de estilo
obsessivo (OBS). O Questionário de Saúde Geral (QSG) é um inventário que avalia o estado geral de saúde
a partir das sub-escalas de estresse psíquico, desejo de morte, desconfiança no desempenho, distúrbios de
sono e distúrbios psicossomáticos; em sua avaliação é possível verificar elementos saudáveis dos indivíduos.
Objetivo: Apresentar a incidência das constelações indicadoras de quadros psicopatológicos observadas no
Método de Rorschach em uma amostra de indivíduos que não apresentaram alterações de saúde psíquica,
quando submetidos ao Questionário de Saúde Geral (QSG) de Goldberg. Método: Participaram, inicialmente,
da pesquisa 27 indivíduos adultos, de ambos os sexos, escolaridade e idade variadas, sem queixas psicológicas,
que se submeteram ao QSG. Destes, nove colaboradores indicaram alguma alteração dos resultados de
saúde geral e foram excluídos da segunda parte da pesquisa, assim, o Método de Rorschach foi aplicado nos
18 sujeitos restantes. Resultados: Apesar de terem apresentado resultados positivos na avaliação da saúde
geral, foi observada a incidência de PTI em oito colaboradores, revelando graves transtornos em sua percepção
e em seu pensamento, dificultando a avaliação da realidade externa; CDI em oito colaboradores, demonstrando
ineficiência nas situações comuns no seu meio social e dificuldade de relacionamento mais próximo; DEPI
em quatro colaboradores, que é um indicador de depressão, de sintomas depressivos ou algum tipo de
transtorno afetivo. Apenas três colaboradores com saúde geral observada no QSG não apresentaram nenhuma
constelação positiva no Rorschach. Conclusões: Assim, foi possível verificar que os indicadores de sofrimento
psicopatológico do Rorschach foram assinalados na maior parte dos colaboradores com saúde geral presente
no QSG, sendo necessário mais estudos para a verificação dos motivos essa ocorrência.
Palavras-chave: Psicologia, Psicopatologia, Teste de Rorschach.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 87
P55- DESCRIÇÃO SINTOMATOLÓGICA EM UM GRUPO DE PACIENTES COM
TRANSTORNO DE PÂNICO: COMPARAÇÕES QUANTO AO SEXO DOS PACIENTES
Paulo Francisco de Castro
Universidade Guarulhos e Universidade de Taubaté
Introdução: Muito se discute a respeito do transtorno de pânico, seus sintomas e diagnóstico, mas em
certos casos, é de opinião comum que existe dificuldade para se chegar a uma conclusão precisa, em
razão da grande variedade dos sintomas e de sua intensidade. A necessidade de uma classificação universal,
eliminando as possíveis dúvidas quanto aos quadros clínicos das mais diferentes patologias, há décadas,
deu origem aos Manuais de Classificação sob a responsabilidade de grandes agências internacionais de
saúde, estes constantemente são revistos, pautados nas novas descobertas empíricas no campo da saúde.
Um deles é a quarta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM-IV, publicado
pela Associação de Psiquiatria Americana, com a apresentação dos sintomas específicos para os quadros
de transtornos mentais, base para a descrição dos sintomas no presente estudo. Objetivo: Apresentar
uma descrição sobre a diferença da incidência dos principais sintomas vivenciados por pacientes com
Transtorno de Pânico durante as crises do referido quadro, considerando-se o sexo dos indivíduos. Método:
Fizeram parte da amostra 30 sujeitos, sendo 15 do sexo feminino e 15 do sexo masculino, todos com
diagnóstico de transtorno de pânico sem comorbidade, inscritos em programas existentes em um Ambulatório
de Saúde Mental de uma cidade da Grande São Paulo, para o atendimento dessa patologia; possuíam
escolaridade variada e média de idade em 45,2 anos para o sexo feminino e 39,2 para o masculino. Todos
responderam a um questionário onde havia a lista de sintomas descritos pelo DSM-IV, onde os pacientes
classificavam a vivência dos sintomas nas categorias: nenhum, leve, moderado, acentuado e extremo.
Resultados: Foi realizado um levantamento da classificação realizada pelos pacientes, e as diferenças
significativas observadas foram as seguintes: aceleração do ritmo cardíaco - extrema para o sexo feminino
(73,3% - N=11), tremores ou abalos - extrema para o sexo feminino (26.6% - N=4), sensações de asfixia acentuada para o sexo feminino (46,6% - N=7), dor ou desconforto no tórax - acentuado para o sexo
feminino (26,6% - N=4) e parestesias - acentuado para o sexo feminino (33,3% - N=5). Os demais sintomas
descritos para o pânico não apresentaram diferenças entre os sexos. Conclusões: É possível observar, na
amostra investigada, que os sintomas do quadro de pânico mostram-se mais intensos nas pacientes, que
classificam suas vivências como acentuadas e extremas, diferente dos homens que tendem a classifica-las
como acentuadas ou moderadas; estudos específicos poderão explicar tal fenômeno para verificar qual
relação entre o sexo e a vivência dos sintomas descritos pelos pacientes.
Palavras-chave: Transtorno de Pânico, Psicopatologia, Diagnóstico.
P56- ASPECTOS REGRESSIVOS OBSERVADOS EM PACIENTES INTERNADOS EM HOSPITAL
GERAL COM QUADROS PSICOSSOMÁTICOS AVALIADOS PELO RORSCHACH
Renata da Silva Fernandes1, Paulo Francisco de Castro1e2
1
Universidade Guarulhos, 2Universidade de Taubaté
Introdução: Atualmente, a concepção de psicossomática refere-se ao estudo da pessoa como ser histórico; deste
modo, os conceitos mais recentes e abrangentes não falam mais em doença psicossomática ou somato-psíquica,
mas sim em doença sócio-somática, isto é, a saúde ou doença seria resultado da conjugação de fatores originados
do corpo, da mente e da interação de ambos entre si e com o ambiente e o meio social. Objetivo: Analisar os
aspectos regressivos, observados no conteúdo simbólico das respostas dadas ao Método de Rorschach, emitidas
por um grupo de pacientes internados com quadros considerados psicossomáticos. Método: Foram entrevistados
56 sujeitos com idades entre 18 e 54 anos, internados em um hospital geral, diagnosticados com diversos tipos de
enfermidade. Dentre esses, foram escolhidos 11 sujeitos encaixilhados no quadro de psicossomática para aplicação
do teste, os quais passaram por uma entrevista psicológica prévia à aplicação; os colaboradores tinham idades
acima de 18 anos, ambos os sexos, diagnosticados com diversos tipos de enfermidade, internados em quartos
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 88
hospitalares por um período mínimo de quatro dias, contatuantes com a realidade, orientados no tempo e espaço,
receptivos ao atendimento psicológico, com conhecimento e entendimento do diagnóstico de sua doença e o
motivo de sua internação, conhecimento e entendimento do tratamento a ser realizado; seqüelas emocionais
ausentes com: internação, tratamento, condutas terapêuticas, cirurgias, perdas ou óbitos, enfim, com estado geral
psicológico adequado e com atendimento psicológico de apoio, foram submetidos à aplicação do Teste de Rorschach,
segundo as especificações técnicas do sistema compreensivo. Resultados: Nove pacientes emitiram um total de
63 respostas com conteúdos regressivos (35% do total de respostas), o que representa uma necessidade maior
que o usual em sentir-se protegido demonstrando sinais de imaturidade. Ante as pranchas em que foram emitidos
conteúdos regressivos, tem-se a prancha IV que representa o falo e a figura paterna e a prancha VII que representa
feminilidade, útero, figura materna; ambas centralizaram a maior parte de conteúdos regressivos emitidos pelos
pacientes, o que nos alude à dificuldade dos pesquisados em estabelecer vínculos positivos com as figuras parentais
primitivas, nos quais predominam os aspectos amáveis e acolhedores em relação aos demais. Contudo a literatura
aponta para falhas nas relações primárias, principalmente falhas relacionadas à figura materna, onde não há a
introjeção de uma mãe tranqüilizadora ou desintoxicante. A escola kleiniana considera que toda doença
psicossomática é expressão do luto patológico (vingativo-persecutório) do objeto perdido dentro do ego. Conclusões:
Há indícios que houve predominância do ódio durante a representação da mãe, precedendo tais manifestações
somáticas, e o surgimento de fobias. Importante salientar que geralmente a separação deu-se antes de concluída
a fase de simbiose, e por isso em tais pacientes somatizadores há uma extenuante busca de novas simbioses.
Pode-se hipotetizar que a internação hospitalar seja uma tentativa inconsciente de re-estabelecer falhas em tais
relações, estruturando parte do objeto perdido dentro do ego.
Palavras-chave: Psicanálise, Psicossomática, Regressão, Teste de Rorschach.
P57- ESTRESSE EM MILITARES DO EXERCITO BRASILEIRO: ESTUDO COMPARATIVO
ENTRE PRAÇAS E OFICIAIS DE UMA GUARNIÇÃO
Danyelle Monte Fernandes da Costa, Patrícia Diniz Santana
Hospital de Guarnição de João Pessoa
Introdução: O estresse quando não é bem administrado pela pessoa, pode gerar e desencadear uma série
de sinais e sintomas causando doenças, esse é apresentado em três níveis, o nível de alerta, resistência e
exaustão. Considerando que, o trabalho, pode ser um fator estressante no cotidiano de muitos. Percebeu-se
a necessidade de se estudar sobre o assunto nas organizações militares, que trazem consigo uma série de
valores baseados em hierarquia e disciplina, estas representam um padrão rígido em relação à sociedade
civil, essa dualidade pode causar conflitos internos em alguns militares. Objetivo: A presente pesquisa objetivou
investigar, na Guarnição de João Pessoa, o nível de estresse de militares, comparando o efetivo de Oficiais e
Praças. Método: A amostra foi composta por 120 militares, sendo 87 Praças e 33 Oficiais da Ativa, com a idade
média de 40 anos, todos do sexo masculino. Os oficias são os militares que ocupam os postos de Tenente,
Capitão, Major, Tenente-Coronel, Coronel e General, isto significando que, hierarquicamente são superiores aos
praças (soldados, cabos, sargentos e subtenentes) de acordo com a formação militar. Foi aplicada aos voluntários
uma Escala de Estresse validada por Lipp, sem a identificação dos sujeitos, apenas a idade e o Posto ou Graduação.
Resultados: Verificou-se que em relação aos Oficiais, 77% dos sujeitos apresentaram-se em nível de alerta de
acordo com os níveis de estresse, e 23% apresentaram o estresse bem administrado. Quanto aos Praças, 70%
dos sujeitos apresentaram estresse em nível de alerta, 22% apresentaram um nível de estresse bem administrado
e 8% apresentaram o estresse na fase de resistência. Conclusão: Não se encontrou diferença significativa entre
os grupos, apenas no que se refere à segunda fase do estresse, chamada de resistência, que surge apenas nos
Praças, é possível que tal resultado esteja relacionado a alguns fatores estressantes como: aspectos financeiros,
porque os Praças possuem salários menores, trabalho rotineiro, porque a dinâmica de trabalho no exército é
bastante rigorosa e repetitiva, além de ser uma instituição muito hierarquizada no qual os Praças são subordinados
a uma série de Oficias e cabe a eles um trabalho mais operacional, e por fim, as transferências domiciliares, que
muitas vezes não são solicitadas pelos militares e compromete toda uma estrutura familiar.
Palavras-chaves: Exército, Estresse, Militares.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 89
P58- O QUE PENSAM OS MILITARES SOBRE A DEPRESSÃO: UM ESTUDO
COMPARATIVO EM UMA GUARNIÇÃO DO EXÉRCITO BRASILEIRO
Danyelle Monte Fernandes da Costa, Patrícia Diniz Santana
Hospital de Guarnição de João Pessoa
Introdução: A depressão é uma patologia que pode acometer qualquer pessoa independente da idade, gênero,
escolaridade, raça e outras diferenças, no entanto sabe-se que a percepção da mesma pode diferenciar-se
entre grupos, pois enquanto construção social cada grupo tem suas particularidades. A depressão apresenta
sintomas como: rebaixamento do humor, redução da energia e diminuição da atividade. Também alterações da
capacidade de experimentar o prazer, perda de interesse, diminuição da capacidade de concentração, problemas
do sono e do apetite. Diante desse quadro, a depressão afeta o indivíduo, como o todo, e, principalmente no
rendimento das suas funções profissionais. Objetivo: O presente estudo tem o propósito de investigar a percepção
de militares sobre a depressão a partir de dois grupos distintos que são os Oficiais e Praças, todos sendo
militares da ativa do Exército Brasileiro na Guarnição de João Pessoa. Método: A amostra foi composta de 82
militares da Guarnição de João Pessoa, sendo 52 praças e 30 oficiais com idade entre 20 e 54 anos, todos do
sexo masculino, se faz necessário esclarecer que os Oficias são os militares que ocupam os postos de Tenente,
Capitão, Major, Tenente-Coronel, Coronel e General, isto significando que hierarquicamente, são superiores
aos Praças (soldados, cabos, sargentos e subtenentes) de acordo com a formação militar. A pesquisa foi realizada
em 03 organizações militares. O Instrumento utilizado foi um questionário com questões abertas que verificava,
o que se entende por depressão, o seu significado, suas causas, o que representa uma pessoa depressiva, se
tem cura, tratamento e dados sócio-demográficos. Resultados: Foi observado que para os Oficiais a depressão
é entendida como um estado mental em baixa; uma perturbação psicológica; falta de vontade de viver. Para os
Praças, verificou-se que a depressão é uma doença e está relacionada à baixa auto-estima. Em relação ao
significado, os Oficiais, registraram que é uma doença psicológica; é uma tristeza. Já os Praças acreditam que
seja um desânimo; uma alteração do humor. Quanto as causas da depressão, os Oficiais atribuíram a problemas
diários e estresse. Os Praças, atribuíram à problemas familiares, rotina do trabalho, seqüência de problemas e
problemas financeiros. Os Oficiais descreveram uma pessoa depressiva como uma pessoa triste e desanimada.
Os Praças descreveram como desanimada, triste e isolada. Os dois grupos concordam em sua maioria que a
depressão tem cura. No tratamento, os Oficiais, registraram o acompanhamento profissional e medicamentoso.
Os Praças citaram, como forma de tratamento a psicologia, psiquiatria e o apoio familiar. Conclusão: Concluise que é necessário levar mais informações sobre saúde mental aos militares de forma específica, a fim de
esclarecer e estimular uma auto-avaliação comportamental da saúde psíquica, com o objetivo de detectar
problemas de ordem emocionais e fazer um trabalho preventivo, informativo e de orientação visando melhorar
a qualidade de vida desses profissionais.
Palavras-chave: depressão, militares, exército.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 90
PAINÉIS PERMANENTES (INSTITUCIONAIS)
PP1- GESTO-GRUPO ESPECIALIZADO NO TRATAMENTO
MULTIPROFISSIONAL DA OBESIDADE
Ana Rita Azevedo, Anna Claudia Queiroz, Rosangela Araújo, Maria
Lúcia Rebello, Lorena Lins, Irtes Ferreira, Andrea Pinchelli, Bruna Oneda,
Patricia Pinchelli,Juliana Sales, Catarina Harmbacher,Elaine Azevedo,
Michele Pereira De Lima, Ana Lúcia Villaron, Marco Pinheiro, Ana Silvia
Pacheco Rosa, Roberto Kikko, Moacir Fernandes.
UNIMED – São José dos Campos
NAIS - Núcleo de Atenção Integral à Saúde.
Introdução: A obesidade se caracteriza pelo aspecto multifatorial em seu desencadeamento e na sua
manutenção. Conseqüentemente, é relevante o tratamento dessa sintomatologia por uma equipe
multiprofissional. Objetivo: Visando intervir nos vários aspectos inerentes a obesidade, uma opção de
tratamento é o trabalho conjunto de diversas especialidades. A presente forma de tratar vem sido utilizado
pelo GESTO - Grupo Especializado no Tratamento da Obesidade - na UNIMED de São José dos Campos/SP.
Método: O GESTO é uma equipe multiprofissional composta por médicos, psicólogos, nutricionistas,
gastrônomo; educadores físicos, fisioterapeutas e enfermeiro. O programa é destinado a pacientes com
obesidade clínica, obesidade mórbida e pacientes que se submeteram à cirurgia bariátrica, que são
encaminhados pelos médicos cooperados da UNIMED - São José dos Campos. A triagem é realizada pela
enfermagem, e tem por objetivo constatar se o paciente tem indicação para o programa. Posteriormente,
ocorre a entrevista inicial, realizada pela equipe de psicologia, através de duas consultas, com a finalidade de
realizar um psicodiagnóstico, utilizando-se da entrevista clínica e dos questionários de avaliação. No primeiro
atendimento psicológico, após o acolhimento do paciente no programa GESTO, é aplicado o Inventário Sobre
Peso e Estilo de Vida (WALI) e o PRIME MD (avaliação de distúrbios mentais para atenção primária). A
segunda entrevista tem por objetivo permitir ao paciente relatar sua história de vida, sua relação com o
sintoma obesidade, e as motivações, conscientes e inconscientes, que o fizeram procurar o tratamento,
clínico ou cirúrgico, da obesidade. Após a realização do psicodiagnóstico, os pacientes são direcionados para
os grupos. O tratamento no GESTO é realizado por grupos terapêuticos e informativos. O grupo obesidade
clínica tem como objetivo identificar os aspectos psíquicos inerentes ao desencadear do sintoma obesidade
e sua manutenção, como também a relação do sujeito com sua alimentação e os cuidados corporais.O grupo
destinado aos pacientes candidatos à cirurgia bariátrica também propicia a percepção sobre as motivações
que o mobilizaram a optar pela intervenção cirúrgica, e a prepará-lo para o pós-operatório. O grupo para os
pacientes que se submeteram a gastroplastia possibilita auxiliar as mudanças inerentes à cirurgia, que se
inicia com a mudança no aparelho digestivo e na alimentação, e posteriormente com as mudanças corporais,
decorrentes do processo de emagrecimento (imagem corporal, excesso de pele). No GESTO o trabalho do
nutricionista, gastrônomo, fisioterapeuta e educador físico têm por finalidade informar e orientar aspectos
relacionados à alimentação e a corporalidade. A psicologia tem por objetivo avaliar e intervir na dinâmica
psíquica do sujeito e na sua relação com o alimento e o corpo, propiciando uma mudança subjetiva relativa ao
sintoma, viabilizando a implicação do paciente com o seu adoecer. Conclusão: O tratamento da obesidade
pela equipe multiprofissional tem se mostrado uma estratégia eficaz, pois esta sintomatologia se caracteriza
por apresentar aspectos multifatoriais. Conseqüentemente, o trabalho conjunto com as diversas especialidades,
propicia o paciente a elaborar os vários fatores inerentes ao sintoma, e a se responsabilizar pelas mudanças
de seu estilo de vida, auxiliando no tratamento médico, clínico ou cirúrgico, da obesidade.
Palavras-Chaves: Alimentação, Corporalidade, Obesidade, Equipe multiprofissional, Tratamento.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 91
PP2- ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOTERAPIA PSICANALÍTICA
Ângela Cristini Gebara, Kayoko Yamamoto, Ryad Simon
Departamento de Psicologia Clínica, Pós-Graduação,
Instituto de Psicologia Clínica da Universidade de São Paulo
Em muitos anos de docência no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, o Prof. Titular de
Psicologia Clínica, Ryad Simon, observava que, muitos dos que procuravam suas aulas (alunos ouvintes e
“especiais”) nas disciplinas sobre Melanie Klein e Wilfred Bion, no Curso de Pós-Graduação “stricto sensu”
(para docentes e pesquisadores) em Psicologia na USP, não pretendiam dedicar-se à docência ou pesquisa.
Estavam, na verdade, interessados em adquirir conhecimentos para a sua prática clínica. Assim, pôde,
unindo o interesse que via nos colegas psicólogos a um projeto antigo idealizado há quase 30 anos antes por
Durval Marcondes, médico e psicanalista - criar um Curso de Pós-Graduação (para formar especialistas)
intitulado “Especialização em Psicoterapia Psicanalítica”. O curso que teve início em 1996, conta com a
grande experiência clínica e didática de profissionais da pós-graduação da USP e/ou da Sociedade Brasileira
de Psicanálise de São Paulo. Foi concebido como um curso predominantemente prático, com três anos de
duração e carga horária de 1548 horas. Tem por objetivo desenvolver uma abordagem em psicoterapia
psicanalítica apoiada na teoria da técnica original, que atenda à realidade nacional - econômica (pouco dinheiro)
e urbana (trânsito caótico) – reduzindo o número de sessões semanais, recomendado pela psicanálise
tradicional, adaptando a técnica a essa mudança. Seu idealizador acredita ainda que esta seja uma forma
significativa de contribuição da USP para a comunidade. O curso está organizado de maneira que o
especializando tenha que comparecer apenas um dia da semana, de maneira que o tornou acessível a
profissionais residentes fora da capital e até mesmo do Estado de São Paulo. Proporciona especialização
em elevado nível de qualificação, com duração não tão breve que superficialize o aprendizado, tampouco
tão longa que se torne onerosa e acessível a poucos. Tanto as disciplinas teóricas quanto as supervisões dão
subsídios para a formação de um especialista capaz de atender ampla faixa da população a custos suportáveis
e, mais importante ainda, com eficácia terapêutica reconhecida, quer por sua intensidade — duas sessões
semanais —, quer por sua profundidade — insight no nível dos conflitos inconscientes. A abrangência da
formação permite o atendimento da maioria das pessoas que necessitam ajuda psicológica especializada. É
destinado a psicólogos e médicos, além de profissionais da área da saúde com nível de instrução superior.
Anualmente são selecionados 30 a 35 alunos por turma. Como requisitos para aceitação no curso o pretendente
deverá: a) estar (ou ter estado tempo suficiente) em psicoterapia psicanalítica. Condicionalmente aceitar-seá matricula para quem se comprometa a iniciar imediatamente seu atendimento como paciente de psicoterapia
psicanalítica. Formulado a partir da experiência clínica e didática de quase 50 anos do Prof. Ryad Simon
encontra-se na sua 14ª. turma. Tem como disciplinas específicas: Freud, Melanie Klein e Bion e Teoria da
Técnica, sendo esta última ministrada pelo próprio idealizador do curso Ryad Simon. Após a formação da
primeira turma de especialistas em psicoterapia psicanalítica, Ryad Simon fundou e foi o primeiro presidente
da Associação de Psicoterapia Psicanalítica - APP, que tem como objetivo agregar e propiciar o desenvolvimento
progressivo dos colegas egressos do curso, promovendo seminários, cursos de atualização e extensão,
palestras e outros eventos. Não ignoramos o quão difícil é a especialização em psicoterapia psicanalítica. O
psicoterapeuta realmente sério e dedicado continuamente ao estudo e à investigação clínica reconhece-se
sempre como um aprendiz, e assim, ensinando, se aprende com os colegas.
Palavras-chave: psicanálise, psicoterapia psicanalítica.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 92
PP3- PSICOTERAPIA BREVE OPERACIONALIZADA: FORMAÇÃO DE ESPECIALISTAS
Angela Cristini Gebara, Kayoko Yamamoto, Eliana Marcello De Felice,
Maria Geralda Heleno, Elaine Polizello de Oliveira, Nídia Leão,
Ileuza Maria Santana, Magali Dalachi De Conti, Veralúcia Pavani Janjúlio,
Sueli Rossini, Ryad Simon
UNIP - Universidade Paulista
A Psicoterapia Breve Operacionalizada é uma modalidade de psicoterapia idealizada por Ryad Simon, visando
propiciar assistência psicológica a todas as pessoas que, em dado momento da vida, necessitam de ajuda
especializada para compreender e solucionar as situações-problema ou crise adaptativa que se lhe apresentam
e interferem na eficácia de sua adaptação, sem que para isso precisem se submeter a um processo psicoterápico
de longa duração. Diante da constatação de que as psicoterapias de longa duração, embora possuam
incontestável valor terapêutico, não despertam a motivação de determinadas pessoas ou não estão acessíveis
para outras, que por elas se interessam, seu autor, Ryad Simon, criou um curso, por ele denominado,
Especialização em Psicoterapia Breve Operacionalizada. O objetivo desse curso é formar psicoterapeutas
especialistas, capacitados na utilização do método breve, em suas atividades clínicas em consultório, hospitais
e instituições de saúde, contribuindo para tornar mais efetiva a prática profissional preventiva. É dirigido,
principalmente, para graduados em Curso Superior reconhecido pelo Conselho Nacional de Educação em –
Psicologia, Medicina e áreas da Saúde, com experiência em psicoterapia. Os conceitos e os métodos que foram
moldando a Psicoterapia Breve Operacionalizada baseiam-se em experiência iniciada há quase 40 anos pelo
Prof. Titular Ryad Simon no Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina (atualmente
UNIFESP), prosseguida na Universidade de São Paulo e em seus grupos de estudo com colegas participantes.
O livro “Psicoterapia Breve Operacionalizada - Teoria e Técnica”, lançado em 2005 pela Casa do Psicólogo,
contempla as principais formulações, método e técnica desta forma de psicoterapia. De caráter eminentemente
preventivo, não possui critérios de exclusão, tendo alcance terapêutico amplo e abrangente, incluindo desde
grupos social e economicamente privilegiados que não se dispõem a realizar psicoterapia em longo prazo, até
aqueles que vivem com o orçamento apertado, como é o caso de grande parte da população brasileira. Sua
fundamentação teórica baseia-se na Teoria da Adaptação, também formulada por Ryad Simon, e da qual deriva
a Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada (EDAO), que se encontra descrita no livro “Psicologia Clínica
Preventiva” (Editora EPU) e a Teoria Psicanalítica. Sua metodologia se processa em duas etapas: uma primeira,
dita diagnóstica, que envolve tantas entrevistas quantas forem necessárias até que se torne possível a elaboração
do diagnóstico adaptativo, a definição da situação ou das situações-problema a serem trabalhadas
terapeuticamente, e a realização do planejamento terapêutico; e uma segunda, que é o processo terapêutico
propriamente dito, que consiste de, no máximo, 12 sessões, sendo uma a cada semana. Coordenado pelo
Professor Titular de Psicologia Clínica Ryad Simon o curso conta com a experiência clínica e docente de
professores doutores, mestres e especialistas. O curso teve início na UNIP campus Sorocaba em 2006 e vêm
se expandindo desde então com turmas anuais também no campus Paraíso em São Paulo e no interior em São
José do Rio Preto. Informações podem ser obtidas através do e-mail [email protected].
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 93
PP4- BOLETIM DE PSICOLOGIA: SESSENTA ANOS DE
CONTRIBUIÇÕES PARA A CIÊNCIA PSICOLÓGICA
Irai Cristina Boccato Alves1, Paulo Francisco de Castro2
1
Universidade de São Paulo, 2 Universidade de Taubaté
e Universidade Guarulhos
Introdução: Os periódicos científicos são responsáveis por grande parte da comunicação científica em todas
as áreas do conhecimento. Por sua natureza, possibilita que as mais recentes contribuições sejam divulgadas
de forma rápida e confiável. O Boletim de Psicologia é o periódico oficial da Associação de Psicologia de São
Paulo e está em publicação ininterrupta desde 1949, completando sessenta anos de contribuições para o
crescimento científico da Psicologia Brasileira e constituindo-se como um dos periódicos brasileiros mais
antigos na área de Psicologia. Está registrado sob o ISSN 006-5943, possui periodicidade semestral, faz
parte dos Indexados, Index-Psi e está disponível no PePSIc Periódicos. Objetivo: Apresentar o papel do
Boletim de Psicologia na construção do conhecimento psicológico brasileiro, enfatizando-se sua produção
científica na última década. Método: Foi analisado o material publicado pelo Boletim de Psicologia, entre 1998
e 2008, traçando-se um perfil do material divulgado pelo periódico. Resultados: Na última década, foram
publicados 163 textos. Quanto ao tipo de produção, observou-se que no período estudado foram publicados
135 artigos inéditos de vários autores e temas relevantes da área, 21 resenhas bibliográficas de livros na área,
dois informes sobre a Psicologia Brasileira e cinco homenagens a importantes personalidades no campo da
Psicologia. No que se refere ao tipo de pesquisa e texto produzido, constatou-se produções empíricas em sua
maioria (81,5% - N = 110), tratando de pesquisas de campo com diferentes estratégias de delineamento
metodológico e estudos teóricos (18,5% – N = 25), que trataram de reflexões conceituais em diversos campos
psicológicos. No que tange às áreas de estudo dos artigos publicados, observou-se a incidência como segue:
Avaliação Psicológica (20,7% - N = 28), Psicologia do Desenvolvimento (20,7% - N = 28), Psicologia Clínica e
da Personalidade (14,1% - N = 19), Psicologia Escolar e da Educação (8,1% - N = 11), Metodologia de Pesquisa
e Instrumentação (8,1% - N = 11), Psicologia da Saúde (7,5% - N = 10), História da Psicologia (5,2% - N = 7),
Saúde Mental (4,4% - N = 6), Psicologia Social (3,7% - N = 5), Psicologia Organizacional e do Trabalho (2,9% N = 4), Psicologia da Família e da Comunidade (2,2% - N = 3), Formação em Psicologia (1,5% - N = 2),
Psicologia Jurídica, Forense e Criminal (0,7% - N = 1). Como é possível observar, houve grande variedade de
temáticas desenvolvidas pelos artigos publicados no Boletim de Psicologia na última década. Conclusões: A
partir dos dados é possível verificar a importância e abrangência do Boletim de Psicologia, contribuindo, nos
últimos sessenta anos, para o crescimento e fortalecimento da Ciência Psicológica Brasileira.
Palavras-chave: Psicologia, Produção Científica, História da Psicologia, Periódicos Científicos.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 94
PP5- PROGRAMA DE RESIDÊNCIA EM PSICOLOGIA DA SAÚDE/HOSPITALAR
DO HOSPITAL E MATERNIDADE CELSO PIERRO (PUC-CAMPINAS)
Helena Bazanelli Prebianchi, Mariana Gonçales Gerzeli, Marita Iglesias,
Nátali Castro Antunes dos Santos, Tatiana Slonczewski Caselli Messias
Hospital e Maternidade Celso Pierro (HMCP) da
Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas)
Introdução: O Programa de Residência em Psicologia da Saúde/Hospitalar tem sido desenvolvido desde 2007
nas dependências do Hospital e Maternidade Celso Pierro – Hospital Universitário da Pontifícia Universidade
Católica de Campinas (HMCP-PUC-Campinas). Esse hospital é reconhecido como uma das principais instituições
hospitalares de Campinas e Região, de atuação terciária. Atualmente, conta com 320 leitos ativos, sendo 240
destes destinados exclusivamente ao convênio do Sistema Único de Saúde (SUS). O Programa de Residência
em Psicologia desenvolve-se com um caráter teórico-prático, almejando formar o profissional enquanto este
desenvolve atividades práticas em serviço. O processo seletivo ocorre ao final de cada ano, sendo previamente
divulgado em todo o país, e destina-se ao profissional graduado em Psicologia em busca de uma formação
teórico-prática que fundamente suas ações profissionais na área hospitalar e da Saúde. Objetivo: O presente
trabalho tem como finalidade apresentar o Programa de Residência em Psicologia da Saúde/Hospitalar,
fornecendo um panorama geral das atividades desenvolvidas. Método: Para o alcance do objetivo proposto,
realizou-se a descrição quanto aos seguintes aspectos contemplados pelo Programa: 1) atuação prática do
residente de Psicologia nos ambulatórios: Quimioterapia, Hemodiálise e Moléstias Infecciosas (Ambulatório de
Hepatite C), e nas unidades de internação: Moléstias Infecciosas, Pronto Socorro Adulto, Clínica Médica, Cirúrgica,
UTIs adulto, neonatal e pediátrica; 2) atividades teóricas que envolvem a participação em seminários, grupos de
pesquisas e aulas comuns aos residentes das demais especialidades em saúde. Resultados: As experiências
desde a criação do Programa de Residência revelam que este contribui no desenvolvimento de competências
e habilidades do psicólogo para a prática profissional em Psicologia da Saúde/Hospitalar, propiciando
conhecimentos teóricos e técnicos para o exercício da Psicologia em instituições de saúde. Favorece também
o desenvolvimento de habilidades em pesquisa e construção teórica na área. Conclusão: O Programa descrito
promove o intercâmbio do psicólogo com os demais profissionais da área de saúde, vinculando-o à equipe
multiprofissional, com participação crítica, competência técnica, social e política.
Palavras-chave: Residência, Psicologia Hospitalar, Equipe multiprofissional.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 95
PP6- ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NA FUNDAÇÃO CENTRO DE HEMATOLOGIA
E HEMOTERAPIA DE MINAS GERAIS - HEMOCENTRO REGIONAL DE JUIZ DE FORA
Rejane Silveira Mendes, Alessandra Larcher dos Santos,
Aline Eiterer de Souza
Fundação Centro de Hematologia e Hemoterapia de Minas Gerais
– Hemocentro Regional de Juiz de Fora
Introdução: A saúde pública brasileira tem acompanhado grandes movimentos de mudança que estão
direcionados para a humanização do modelo assistencial. Novas tendências apontam para a importância de
ações construídas a partir de um contexto particular e voltadas para grupos específicos que demandam
atendimento da área de saúde. Em pacientes portadores de doenças hematológicas crônicas, assim como
em pacientes que necessitam de transfusão sanguínea, foi observada a necessidade do suporte emocional e
acolhimento, visto que novas questões relativas à doença e a todas as mudanças advindas da mesma,
devem ser elaboradas e interiorizadas pelo paciente. Torna-se, portanto, necessário o aprimoramento de
novas formas de abordagem ao usuário do serviço de saúde e o compartilhamento das atuais formas de
trabalho para a constante renovação de idéias e métodos. Objetivo: A partir do princípio de que a função do
psicólogo no ambiente hospitalar é de prevenção e promoção da saúde, o objetivo deste trabalho é de descrever
e apresentar as formas de atuação do serviço de psicologia na Fundação Centro de Hematologia e Hemoterapia
de Minas Gerais – Hemocentro Regional de Juiz de Fora (Hemominas). Desta forma, visa-se também contribuir
com a divulgação da necessidade deste tipo de trabalho como ferramenta das novas políticas públicas em
saúde. Método: Através da experiência de trabalho diário e também de conhecimentos teóricos baseados
em estudos científicos relacionados à Psicanálise, Psicoterapia Breve e Psicologia da Saúde, o presente
trabalho expõe, de forma explicativa, cada tipo de atividade realizada pela equipe de psicologia na Hemominas.
Resultados: Através desse trabalho, foi realizada a divulgação e compartilhamento de experiências e
conhecimentos com outros profissionais da área de saúde. Desta forma, foram apresentadas as seguintes
atividades e as maneiras como são desenvolvidas na Hemominas: atendimentos individuais, grupos de sala
de espera, atendimentos a familiares de crianças cadastradas pelo NUPAD e atendimento em leito à paciente
em transfusão de sangue. Conclusão: Pode-se afirmar que, ao se adquirir novos conhecimentos, o profissional
renova sua forma de atuação e repassa o que aprendeu a novas equipes. A constante busca de novas
maneiras de interação profissional/usuário é de suma importância na busca pela excelência do serviço de
saúde, assim como a reflexão sobre novas possibilidades que devem se adaptar ao seu próprio contexto. É
desta maneira que a população usuária de serviços de saúde irá se favorecer.
Palavras-chave: promoção da saúde, compartilhamento de experiências, renovação.
Anais do V Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde: Psicanálise Aplicada à Terapêutica no Hospital: Resultados | 96
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