Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS Proposta de um modelo dinâmico para classificação de cadeias de suprimentos Guilherme Caobianco Marques (FGV-EAESP) [email protected] Natercia Filipi M. Carona (FGV-EAESP) [email protected] Susana Carla Farias Pereira (FGV-EAESP) [email protected] O dilema do escopo de produção continua instigando acadêmicos e empresas. Diversos estudos foram realizados sobre modelos de make or buy entretanto, outro aspecto muito importante para as empresas parece não ter sido devidamente explorado na literatura quanto os modelos de classificação e gerenciamento da Cadeia de Suprimentos. O objetivo deste trabalho é propor um modelo elaborado a partir da análise e junção de três modelos já reconhecidos no meio acadêmico. O modelo proposto foi elaborado a partir de uma lógica indutiva e dedutiva. Buscou-se aplicá-lo às redes agro-exportadoras de frango no Brasil, redes notadamente complexas e competitivas. Foi possível encontrar empresas em todos os quadrantes propostos. Acredita-se que ao conhecer a sua posição relativa, a empresa terá melhores condições para poderá priorizar suas ações e elaborar sua estratégia competitiva. Palavras-Chave: Cadeia de Suprimentos;Recursos das Operações;Dinâmica de Mercado. 1. Introdução O dilema do escopo de produção — quais níveis produtivos as empresas devem manter internamente e quais devem terceirizar, ou seja, comprar de outras empresas — continua instigando acadêmicos e empresas. Diversos estudos foram realizados sobre modelos de make or buy, (TUSHMAN e ROMANELLI, 1985; LONDSDALE, 1999; DISERIO E SAMPAIO, 2001), alguns focando mais o aspecto transacional (JONES, 2005), outros na relação entre os níveis de produção e a vantagem competitiva da empresa, relacionando-se com o core competence (PORTER,1996; FINE, 1999; LONSDALE, 1999). Entretanto, outro aspecto muito importante para as empresas parece não ter sido devidamente explorado na literatura acadêmica quanto os modelos de classificação e gerenciamento da Cadeia de Suprimentos. Alguns autores já se debruçaram sobre a questão do Supply Chain Management (SCM), (SNOW et all, 1992; HARLAND et all, 2001), mas parece faltar um modelo analítico taxonômico de ajuda na tomada de decisões para os administradores, que seja mais completo do que os atuais. O objetivo deste trabalho é propor um modelo elaborado a partir da conjunção de três outros trabalhos anteriores já reconhecidos no meio acadêmico, que são o modelo de Harland et all (2001), de Fisher (1997) e de Fine (1999). Após a elaboração, buscou-se uma validação do modelo por meio da sua aplicação usando dados secundários das redes agro-exportadoras de frango no Brasil. A escolha desta rede foi devido à grande quantidade de estudos existentes na área, o que facilita a análise, 27 Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS além da importância do negócio no cenário brasileiro, principalmente nos últimos anos (ABEF, 2006/2005/2004). Este trabalho é composto de 5 (cinco) partes, incluindo essa introdução. Após a introdução é apresentada a revisão dos conceitos teóricos e dos modelos base pertencentes ao tema utilizando-se da análise interpretativa. A combinação dos modelos identificados na literatura resultou no modelo proposto realizado de acordo com a lógica indutiva e dedutiva. Esse cuidado visava não restringir o modelo, mas pelo contrário, deixá-lo genérico e aplicável a todas as redes de suprimento. Na terceira parte, após a revisão e análise que resulta na proposição do novo modelo, foi feita a sua aplicação teste. Na quarta parte apresentam-se as conclusões e limitações do trabalho, bem como sugestões para trabalhos posteriores. Na última parte são indicadas as referências utilizadas no trabalho. 2. Revisão Bibliográfica O primeiro modelo considerado nesta revisão foi proposto por Fisher (1997). O autor apresenta um modelo para classificar as cadeias de suprimentos de acordo com a sua dinâmica. Segundo o autor, as estratégias de cadeias de suprimentos adotadas devem ser condizentes com o tipo de produto produzido. Para que uma empresa conseguisse a excelência na produção de cada tipo de produto, deveria alinhar uma cadeia de produção que combinasse com o seu tipo. No modelo proposto os produtos são classificados em dois tipos: os funcionais, aqueles relativamente iguais entre si e que competem principalmente por preço, têm demanda relativamente estável e margens baixas e os inovadores; e os inovadores, seriam aqueles resultantes de pesquisa, relativamente escassos, com demanda menos previsível e com margens maiores. Ainda neste modelo Fisher (1997) propõe dois tipos de cadeias: as eficientes, que buscam a minimização do custo de produção e dos tempos de espera e da quantidade de estoques; e as responsivas, aquelas modeladas de acordo com o mercado e que produziriam um produto diferenciado, independente dos níveis de eficiência e de eficácia. A proposta principal do autor é que existe um alinhamento ótimo entre o tipo de produto da empresa e a cadeia que ela deve administrar. A melhor combinação é aquela que alinha produtos inovadores com cadeias responsivas e a que alinha produtos funcionais com cadeias eficientes. Toda e qualquer outra combinação são formas ineficientes de produção. O segundo modelo considerado foi proposto por Fine em 1999. Segundo o autor, a decisão mais importante para a sobrevivência da empresa é a definição do projeto da sua rede: definir e fazer somente aquelas atividades que lhe formam a competência essencial da empresa e terceiriza as demais atividades. Segundo Fine (1999), essas outras empresas poderiam ganhar com uma produção em escala e alcançar preços melhores. A empresa, todavia, deve manter a memória de produção, sabendo especificar suas vontades e controlar a performance da empresa para a qual ela terceirizou sua operação. Na segunda parte da proposta Fine (1999) indica que parece existir uma lógica cíclica nos movimentos de integração e verticalização das empresas, ocorrendo sempre uma pressão para que a empresa se movimente no sentido contrário do atual. As pressões dos competidores de nicho, da complexidade dimensional da organização e da inflexibilidade das grandes organizações são os responsáveis pelas pressões por terceirização, ou seja, desintegração; já os avanços técnicos, o poder de mercado dos fornecedores e a rentabilidade dos sistemas patenteados os responsáveis pelas pressões de integração. 28 Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS Estas pressões, chamadas de velocidade evolutiva, seriam sentidas de forma mais acentuada somente em dados momentos da vida da empresa, tempo este variável de acordo com a dinâmica de mercado em que a empresa está inserida,. A velocidade evolutiva seria o tempo médio em que as empresas sentem as pressões de mudança ditadas pelo mercado. Este tempo seria relativamente curto para empresas tecnológicas e relativamente grande para commodities, por exemplo. O terceiro modelo considerado foi proposto por Harland et all (2001). Os autores propõem um modelo taxonômico para as redes de suprimentos baseado no grau de influência da empresa focal e na dinâmica do processo. Segundo esta classificação haveria quatro tipos de redes. No primeiro tipo encontram-se as empresas dinâmicas e com baixo grau de influência, aquelas que precisam motivar os seus parceiros e lidar com a rede uma vez que eles não conseguem administrá-la por inteiro. Além disto, buscam uma partilha de riscos e benefícios de forma a reduzir a vulnerabilidade ao mercado turbulento e uma captura de conhecimento constante como forma de crescimento. No segundo tipo encontram-se as empresas com alto grau de influência e rede de suprimentos dinâmica; estas conseguem selecionar melhor seus parceiros e tomar as decisões ativamente, uma vez que possuem o controle da rede e a administram. As integrações são através de recursos humanos e as principais inovações decorrentes de mudanças tecnológicas e lançamento de novos produtos. As empresas com baixo grau de influência e pertencentes a uma rede de suprimento rotinizada, terceiro tipo, são caracterizadas pela ação motivadora e incentivadora da partilha de riscos e benefícios com os parceiros, com integração de equipamentos e processamento de informações, tendo assim uma integração mais limitada do que as do tipo “dinâmico”. As empresas deste grupo lidam com a rede ao invés de gerenciá-la. As melhorias são operacionais e não no produto As empresas desse último grupo caracterizam-se pela rede rotinizada e pela grande influência da empresa focal na rede. Através da gestão da rede eles selecionam os parceiros e integram equipamentos além de tomar decisões com informações disseminadas pela rede. São responsáveis por melhorias nos processos uma vez que são focados na excelência operacional e conseguem alcançar uma maior competitividade também através de seus parceiros. Além das dimensões apontadas pelos modelos presentes na literatura que buscam classificar as redes de suprimentos, quando da elaboração de estratégia uma outra dimensão deve ser considerada: o ambiente no qual a empresa se insere. Considerando que o ambiente de uma empresa seja formado por seus recursos (SLACK, CHAMBERS e JOHNSTON, 2002; SLACK e LEWIS, 2003; CHOPRA e MEINDL, 2004; PINDYCK e RUBINFELD, 2005 e JONES, 2005) e pelo mercado ao qual pertence (LAMMING, 1993; LONSDALE, 1999; INKPEN, 2001; HITT, IRELAND e HOSKISSON, 2005 e KOTLER e KELLER, 2006), é possível identificar os principais fatores externos que o influencia e que, portanto permitem diferenciar as empresas no modo como elas lidam com estes fatores. Do lado dos recursos das operações há os seguintes fatores: custos de transação, economias de escala, potencial de aprendizado e deficiência em recursos. Do lado do mercado, por sua vez, tem-se: posição do mercado, risco de mercado, estrutura do mercado e comportamento da concorrência. (SLACK e LEWIS, 2003) O estudo destas influências externas se deu baseado nos autores expressos no quadro 1, algumas vezes com o mesmo autor referindo-se a ambas as influências. Os autores, todavia, não foram repetidos prevalecendo o assunto dominante. 29 Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS Influências Externas Recursos Operações das Variávies Autores (Ano) custos de transação, economias de escala, potencial de aprendizado e deficiência em recursos Slack, Chambers e Johnston (2002), Slack e Lewis (2003), Chopra e Meindl (2004), Pindyck e Rubinfeld (2005), Jones (2005) Requisitos Mercado do posição do mercado, risco de mercado, estrutura do mercado e comportamento da concorrência Lamming(1993), Lonsdale (1999), Inkpen (2001), Hitt, Ireland e Hoskisson (2005), Kotler e Keller(2006) Quadro 1: Base para Análise das Influências Externas Fonte: Elaborado pelos autores 3. Modelo Proposto Para Uma Taxonomia Dinâmica Analisando os modelos propostos percebe-se que o de Harland et all (2001) preenche uma lacuna que existia em SCM de um framework para classificação de redes de suprimentos. Todavia, a revisão da literatura indica que o modelo proposto não evoluiu e ainda apresenta algumas limitações. Um dos pontos de crítica ao modelo seria a sua pontualidade temporal, permitindo uma análise fixa e momentânea da rede em questão, em contrário à dinamicidade dos mercados atuais e das mudanças constantes (a que estão vulneráveis, principalmente, as empresas globais). Uma forma de tentar trazer mais dinamicidade ao modelo é a conjunção dele com outros modelos de análise de mercados e de redes já comentados Fine (1999), sobre velocidade evolutiva e hélice dupla, e o modelo de Fisher (1997) já consagrado no meio acadêmico, o que permite uma análise mais dinâmica das redes. Esta conjunção dos modelos, todavia, só é possível por terem-se notado, através da revisão bibliográfica, vários pontos de convergência. A questão das redes eficientes ou responsivas segundo Fisher (1997), por exemplo, converge com as idéias de redes de suprimentos dinâmicas ou rotinizadas, segundo a taxonomia de Harland et all (2001). Caberia, portanto, à empresa, dentro deste novo framework, saber alinhar os seus objetivos estratégicos com a taxonomia obtida através da análise. Assim como uma empresa que produz produtos inovadores não deve ter uma cadeia eficiente, a princípio, esta mesma empresa não deve ter uma rede de suprimentos com seu foco no dinamismo, mas sim, na rotina. A mesma congruência pode ser notada com o modelo da hélice dupla de Fine (1999). O autor salienta que as empresas devem, para sua própria sobrevivência, controlar a rede de modo a só produzirem aquilo que for essencial a elas, e terceirizar o restante. Elas, de acordo com sua velocidade evolutiva, precisam saber os momentos mais adequados de expandir-se e de verticalizar-se. Este mesmo tipo de decisão parece estar presente entre os quadrantes de Harland et all (2001). Estes autores, todavia, fazem a classificação de acordo com a influência da empresa focal sobre a rede, não se limitando somente às aquisições, mas abrangendo também o poder de influência como um todo.Estas informações e achados encontram-se 30 Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS resumidos no modelo proposto na figura 1, que busca complementar o modelo de Harland et all (2001). Note-se que no esquema as divisões realizaram-se entre “Recursos das Operações” e “Dinâmica do Mercado” e estes por sua vez em “Redes de Suprimentos Dinâmicas/Rotinizadas” para o primeiro e “Empresas focais com Alto/Baixo Grau de Influência na Rede” para o segundo. Esta divisão foi feita buscando-se a utilização de uma nomenclatura que pudesse abranger todos os modelos agregados, sem ferir a lógica de nenhum. As considerações acerca das variáveis “recursos das operações” e “ dinâmica do mercado” foram baseadas, majoritariamente, nos autores do quadro 1. As quatro hélices que foram agregadas ao modelo, por sua vez, seguem a classificação “decisão tipo Fisher” ou “decisão tipo Fine” uma vez que a movimentação nestas hélices, permitindo que a empresa mude de quadrante, segue a lógica dos autores citados (FISHER, 1997; FINE, 1999). DINÂMICA DO MERCADO RECURSOS DAS OPERAÇÕES Rede de Suprimentos dinâmica com baixo grau de influência da empresa focal Decisões Tipo Fisher Decisões Tipo Fine Rede de Suprimentos dinâmica com alto grau de influência da empresa focal Rede de Suprimentos rotinizada com baixo grau de influência da empresa focal Decisões Tipo Fine Decisões Tipo Fisher Rede de Suprimentos rotinizada com alto grau de influência da empresa focal Figura 1: Modelo Dinâmico de Classificação de Redes. Fonte: Elaborado pelos autores a partir de revisão bibliográfica. Obs.: Baseado majoritariamente em HARLAND et all(2001), FISHER(1997) e FINE(1999) 4. Metodologia Primeiramente encaminhou-se uma revisão bibliográfica dos modelos existentes para classificação de redes, utilizando-se sempre de uma análise interpretativa (SEVERINO, 2002), culminando esta revisão no achado dos modelos de Fisher (1997), Fine (1999) e Harland et all (2001). Além destes, seguiu-se um estudo dos trabalhos posteriores da autora, e daqueles pesquisadores que citaram o artigo em questão como base para suas pesquisas, de modo a verificar se houve avanços ou testes do modelo. Harland et all apresentam em 2004 o modelo metodológico utilizado para desenvolvimento do modelo conceitual de 2001. Buscouse aqui seguir os passos dos autores, porém não de forma tão extensa. Buscou-se ainda, a partir da revisão bibliográfica, uma exploração de outros pontos referentes a projeto e estratégia de cadeias de suprimentos. A combinação destes feitos resultou no modelo proposto realizado de acordo com a lógica indutiva e dedutiva, como propõem Lakatos e Marconi (2001) buscando não limitar o modelo, mas pelo contrário, deixá-lo genérico, não aplicável somente a determinadas redes, mas sim a todas elas. A validação deste modelo, baseada na aplicação empírica, busca 31 Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS fundamentar os achados lógicos, dando base à argumentação e caracterizando o conhecimento científico propriamente dito (FACHIN, 2001). Esta validação empírica se deu baseada em dados secundários obtidos tanto em fontes virtuais - os sites das empresas, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do Ministério da Agricultura ,- assim como em relatórios anuais - da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango (ABEF). ().Outras fontes utilizadas foram trabalhos empíricos semelhantes, que apresentassem dados condizentes para a validação do framework (HAIR et all, 2005). Quanto às métricas utilizadas para teste do modelo, explicitadas no quadro 2, seguem as lógicas das variáveis dos autores presentes no quadro 1, nos quais se basearam as análises dos constructos. Constructo Recursos das Operações Variáveis Métricas Mix de produção (Capacidade de atender demanda mutante) Variedade de produtos Capacidade de aceitação em mercados exigentes Relação Produção/Exportação Capacidade de controle Quantidade de atividades detidas pela empresa focal. Capacidade de enfrentar os ciclos evolutivos Tempo de vida da empresa Dinâmica do Mercado Quadro 2: Base das Métricas para Modelagem. Fonte: Elaborado pelos autores. Para o constructo “recursos das operações” foram utilizadas as métricas: variedade de produtos e relação produção/exportação. Como o objetivo é saber quais as empresas que possuem redes dinâmicas ou rotinizadas, nada mais adequado do que observar a quantidade de produtos da linha, uma vez que através de uma quantidade limitada de produtos é possível alcançar-se maior eficiência e com uma linha mais ampla é possível produzir um mix final mais variável, sendo assim menos vulnerável ao mercado (BEAMON, 1999). Pelo fato dos mercados externos serem mais exigentes e demandarem portanto uma maior adequação a níveis, tanto sanitários como de produção,(PEREIRA, 2003) é possível dizer que as empresas com maior porcentagem exportada do que produzida, (relativos ao Brasil) possuem uma maior dinâmica em suas redes, sendo mais capazes de adequar-se a exigências externas e utilizarem-se disto para auferirem maiores lucros(CARONA e PEREIRA, 2007). Para o constructo “dinâmica do mercado” foram utilizadas as métricas: quantidade de atividades detidas pela empresa focal e tempo de vida da empresa. Como o objetivo, através deste constructo, é saber quais empresas possuem maior domínio sobre suas redes e quais possuem menos, utilizou-se primeiro o nível de verticalização da empresa como fator essencial para a classificação desta nos quadrantes. Como segunda métrica o tempo de existência das empresas no mercado. Ora, quanto maior o tempo de vida da empresa pode-se dizer que maior foi a sua capacidade de lidar com condições adversas e de permanecer no mercado, (FLECK, 2003) o que também se liga a uma marca forte, conhecida pelo público. Para tanto, também necessita ter passado por vários ciclos evolutivos, tanto em produto, como em processo, como em organização de empresa. (FINE, 1999). 5. Apresentação e análise dos resultados Primeiramente é necessário elucidar os motivos da escolha das redes agroexportadoras de frango como alvo de validação para o presente trabalho. Para base, é necessário esclarecer que o agronegócio é responsável por um terço do PIB brasileiro sendo 32 Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS inegável o fato de que qualquer pesquisa em seu campo ser válida como fonte de agregação não só de conhecimento, mas também de riqueza para o país. Dentro deste contexto o mercado de carnes é um dos maiores, juntamente com a soja (www.agricultura.gov.br; www.ibge.com.br). O processo de produção do frango é complexo e competitivo o suficiente para que se possam ter vários níveis de empresas neste mercado, desde cooperativas até grandes produtores, ambos exportando.Além disto, o cenário avicultor é favorável uma vez que o Brasil conseguiu nos últimos anos uma posição de liderança entre os exportadores e que tem se mantido, apesar das quedas nas vendas em 2006 principalmente devido às crises sanitárias. (ABEF, 2006) Em um novo contexto de competição global em que as empresas não mais competem por eficiência interna, mas por uma eficiência em rede (MÖLLER e HALINEN, 1999), tornase recomendável um estudo maior da questão, não só analisando-as, mas também podendo classificá-las de maneira organizada e fundamentada, para que se possa quem sabe, no futuro, descobrir caminhos de sucesso gerencial. 5.1 Aplicação do modelo Como o principal objetivo deste trabalho é trazer mais dinamicidade ao modelo de classificação de redes o que se busca aqui é posicionar as empresas exportadoras de frango não só como elas estão hoje, mas levar também em conta o histórico, e para tal utilizou-se principalmente dos últimos cinco anos da empresa. Dentro de um contexto de aproximadamente 20 empresas cadastradas na ABEF (2006), foram escolhidas 10 empresas que possuíssem dados suficientes para que se pudessem construir as tabelas e quadros de análise. Aquelas que não possuíam dados suficientes para preencher alguma destas, foram descartadas. As empresas exportadoras, mas não pertencentes à ABEF também foram descartadas, principalmente pelo acesso mais restrito aos dados. Como já citado, foram usadas quatro métricas, sendo elas: participação da empresa no cenário internacional, mix de produtos exportados, quantidade de atividades/elos detidos pela empresa focal e tempo de vida da empresa, que refletem os diferentes ciclos pelos quais ela já passou. Os dados referentes à participação da empresa no cenário de exportação estão resumidos na tabela 1. Nela podem-se notar as porcentagens de market share em produção, levando-se em consideração a produção nacional, e o market share de exportação, também do cenário nacional. As empresas que possuíam percentual maior de produtos exportados do que de produzidos foram classificadas como globais, encaixando-se na lógica de empresas dinâmicas. As empresas que possuíam valores maiores para produção do que para exportação foram classificadas como regionais (CARONA e PEREIRA, 2007). 33 Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS Tabela 1: Participação das Empresas em Exportação e Produção 2001 AGROVENETO Participação Produção Participação Exportação AURORA Participação Produção Participação Exportação AVIPAL Participação Produção Participação Exportação BIG FRANGO Participação Produção Participação Exportação DAGRANJA Participação Produção Participação Exportação FRANGO SERTANEJO Participação Produção Participação Exportação PERDIGÃO Participação Produção Participação Exportação PREDILETO/PENA BRANCA Participação Produção Participação Exportação SADIA Participação Produção Participação Exportação SEARA Participação Produção Participação Exportação 2002 2003 2004 2005 2006 Conclusão MUNDO MUNDO MUNDO MUNDO MUNDO MUNDO Mundial 0,5 1 0,6 1,04 0,58 1,07 0,6 1 0,62 1,19 0,65 1,22 BRASIL BRASIL BRASIL BRASIL BRASIL MUNDO Mista 2,2 2 2,4 1,84 2,36 2,22 2,13 1,86 2,07 1,74 1,84 2,19 BRASIL MUNDO BRASIL MUNDO MUNDO MUNDO Mista 4,4 2,7 4,6 4,82 0,6 0,18 4,64 5,84 4,7 7,58 3,96 5,74 BRASIL BRASIL BRASIL BRASIL BRASIL BRASIL Regional 0,7 0,8 1,13 1,08 1,09 1,12 0,1 0,15 0,32 0,72 0,87 1,08 BRASIL BRASIL BRASIL BRASIL BRASIL BRASIL Regional 2,9 0,8 2,8 1 2,58 1,15 2,82 1,3 2,65 1,5 2,61 2,1 BRASIL BRASIL BRASIL BRASIL BRASIL BRASIL Regional 1,4 0,4 1,6 0,52 1,3 0,28 1,17 0,78 1,1 0,9 0,92 0,68 MUNDO MUNDO MUNDO MUNDO MUNDO MUNDO Mundial 10,1 18,6 10,5 19,72 11,51 21,2 11,77 18,72 11,27 17,4 11,1 18,28 BRASIL BRASIL BRASIL MUNDO MUNDO BRASIL Mista 3,1 1,4 2 0,9 1,94 1,41 1,85 1,94 1,86 2,3 1,71 1,46 MUNDO MUNDO MUNDO MUNDO MUNDO MUNDO Mundial 11,7 26,8 12,5 22,94 12,92 22,98 13,6 27,8 14,21 25,78 13,71% 26% MUNDO MUNDO MUNDO MUNDO MUNDO MUNDO Mundial 5,8 17,2 6,11 16,51 6,63 16,01 6,51 13,5 6,26 12,41 5,86 12,06 Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos relatórios da ABEF (2006; 2005; 2004; 2003; 2002; 2001). Os dados referentes a mix de produtos produzido pela empresa encontram-se resumidos no quadro 3. Neste quadro buscou-se classificar a produção da empresa em “alto”, “médio”, “baixo” ou “não” para o caso da empresa não trabalhar com a exportação daquela linha. Tanto a tabela 1 como o quadro 3 apresentam uma última coluna com a conclusão dos dados parciais. Vale relembrar que as empresas com alto mix e grandes níveis de exportação foram consideradas dinâmicas, e as com baixo mix e baixa exportação foram consideradas rotinizadas. 34 Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS Empresas Inteiro Cortes Recortes Miúdos Industrializados AGROVÊNETO alto alto médio não médio médio/alto AURORA alto alto não alto não médio/alto AVIPAL médio alto alto médio médio médio/alto não baixo médio baixo não médio/baixo médio médio não alto alto médio/alto F. SERTANEJO não alto médio médio baixo médio/alto PERDIGÃO alto alto alto alto alto alto PREDILETO alto baixo baixo médio não baixo SADIA alto alto alto alto alto alto SEARA alto alto alto alto alto alto BIG FRANGO DAGRANJA Conclusão Quadro 3: Mix de Produtos Exportados pelas Empresas Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos sites das empresas e do relatório ABEF (2007) Os dados referentes ao nível de verticalização da empresa encontram-se resumidos no quadro 4. Neste quadro é possível notar quais níveis da cadeia que a empresa tem sob seu controle, e quais não. Os dados que não foram encontrados estão classificados como “nd” (não disponíveis). Empresas Silos nd AGROVENÊTO AURORA não AVIPAL nd BIG FRANGO não DAGRANJA não F. SERTANEJO não PERDIGÃO sim PREDILETO nd SADIA nd SEARA nd Granja de Fábrica de Prod. de Incubatório Grau de Granja Matrizes Abate Indust. integração Ovos Ração nd nd nd nd nd nd nd Baixo/ND sim sim sim não sim sim sim Alto nd nd nd sim nd Baixo/ND nd nd sim sim sim não sim sim não Médio/Alto sim não sim sim sim sim sim Alto não sim sim sim sim sim Alto sim sim sim sim nd sim sim sim Alto sim não sim nd sim sim nd Médio/Alto sim sim sim nd sim sim sim Alto sim sim sim nd sim sim sim Alto Quadro 4: Nível de verticalização das empresas Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos sites das empresas e do relatório ABEF (2007) Os dados referentes à vida da empresa estão resumidos na tabela 2. Nesta tabela é possível notar quantos ciclos as empresas viveram em média para cada uma das classificações possíveis (produto, processo, e organização). A quantidade de anos considerada como base para um ciclo foi de 5 para o produto, 7 para a organização e 9 para o processo. Valores aproximados dos sugeridos por Fine (1999) para o agronegócio. Para a análise dinâmica foram usados os valores de tempo de vida da empresa, para avaliar o mercado; e de evolução do comportamento em produção/exportação, para avaliar os recursos das operações. Utilizando-se destes valores foi possível fazer uma colocação das empresas na matriz. As empresas mais próximas das hélices são aquelas mais propensas a mudar de quadrante, e as mais afastadas são as menos propensas. Esta proximidade ou não foi baseada no histórico recente das empresas, como é possível notar principalmente na tabela 1. 35 Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS Tabela 2: Ciclos de Vida Acompanhados pelas Empresas (Valores Aproximados) AGROVÊNETO AURORA AVIPAL BIG FRANGO DAGRANJA F. SERTANEJO PERDIGÃO PREDILETO SADIA SEARA Ciclos Ciclos Ciclos Fundação tecnológicos Organizacionais Tecnológicos de produto de Processo 1,22 1996 2,2 1,57 1969 5,43 4,22 7,6 1959 9,6 6,86 5,33 1960 9,4 6,71 5,22 1970 7,4 5,29 4,11 1975 6,4 4,57 3,56 1930 15,4 11,00 8,56 1943 12,8 9,14 7,11 1940 13,4 9,57 7,44 1956 10,2 7,29 5,67 Conclusão Recente Moderada Moderada Moderada Moderada Moderada Antiga Antiga Antiga Moderada Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos sites das empresas (2007) Obs.: Os valores para os ciclos foram baseados em FINE (1999) Analisando o resultado desta aplicação nota-se, por exemplo, a liderança da Sadia, no quadrante “Dinâmico/Influente” como era de se esperar de uma empresa de grande porte e líder de mercado, seguida com proximidade pela empresa Perdigão, também afastada das hélices. Nota-se também na figura 2 a presença de quatro empresas muito próximas de decisões do tipo Fisher, ou seja, em uma transição entre cadeia rotinizada e dinâmica, provavelmente fruto de mudanças recentes nestas empresas. A única empresa que parece estar à frente de uma decisão do tipo Fine é a Big Frango, provavelmente fruto de mudanças recentes em sua estruturação horizontal. Agrovêneto Avipal Predileto Big Frango Seara Perdigão Sadia Aurora DaGranja Sertanejo Figura 2: Classificação das Empresas segundo o Modelo Dinâmico Fonte: Elaborado pelos autores. 36 Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS 6. Considerações Finais O modelo proposto por Harland et all (2001) veio preencher uma lacuna na literatura sobre como modelo de classificação de cadeias de suprimentos, entretanto foi possível notar que ainda carecia de aplicação e validação. Este trabalho procura contribuir com a literatura e a prática de estratégia de cadeias de suprimentos a partir de um refino e posterior validação dos modelos presentes na literatura. Este trabalho procura introduzir dinamicidade ao modelo proposto por Harland et all (2001), agregando outras contribuições consideradas válidas e já consagradas na literatura de SCM e que possuem um caráter dinâmico: conceitos de velocidade evolutiva e hélice dupla (FINE, 1999); e de alinhamento entre produto e a cadeia (FISHER, 1997). Uma vez proposto um novo modelo agregado e dinâmica para classificação de cadeias de suprimentos, buscou-se validá-lo a partir da aplicação em cadeias agro-exportadoras de frango no Brasil. O fato dessas redes serem complexas e competitivas trouxe uma variabilidade ao trabalho, possibilitando encontrar empresas que se encaixassem em todos os quadrantes propostos no modelo. Além disto, o trabalho buscou avaliar como as decisões do tipo Fisher (1997) (rotinizar ou dinamizar) e do tipo Fine (1999) (horizontalizar ou verticalizar) se aplicavam dentro desta matriz. Acredita-se que ao saber a sua posição relativa, a empresa poderá priorizar suas ações visando uma mudança de postura dentro dos quadrantes ou até mesmo a sua manutenção e solidificação como tal, se for o caso, afastando-se das hélices. A validação do modelo foi baseada em dados secundários, não só pela maior dificuldade de se coletar dados primários, mas também pelo fato de dados secundários serem de mais fácil acesso a todos. Permitindo, assim, que a análise feita neste trabalho seja replicada por todo e qualquer pesquisador que assim o desejar e em diferentes cadeias, Ressalta-se, todavia, o fato de que o estudo empírico fica limitado devido a esta utilização de dados, uma vez que isto fez com que o número de empresas analisadas caísse para a metade, principalmente porque nem todas as empresas disponibilizam os números necessários para este estudo em fontes abertas ao acesso de todos como são os sites virtuais. Uma sugestão para trabalhos futuros seria a aplicação do modelo proposto através da coleta de dados primários. Seria importante também realizar estudos longitudinais que identificassem a evolução das empresas ao longo de toda a sua vida, traçando o caminho percorrido por elas. Um outro estudo possível a análise de como os momentos de tensão, em que a empresa defrontou-se com as “hélices”, ou seja, com a mudança de quadrante, afetaram seus resultados e quais as decisões tomadas por essas empresas. 7. Referências Biliográficas ABEF - www.abef.com.br – Acessado pela última vez em 04/07/2007 ABEF - Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango. Relatório Anual, Pancrom, 2006/2005/2004/2003/2002/2001 BEAMON, B. M. Measuring Supply Chain Performance. International Journal of Operations and Production Management, v.19, n.3, p.275-292, 1999. 37 Acesse: www.ingepro.com.br E-mail: [email protected] Sala 11 - ITSM - Incubadora Tecnológica de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria - Centro de Tecnologia CEP: 97.105-900 - Santa Maria - RS CARONA, N. F. M.; PEREIRA; S.C.F. Classificação de Redes de Suprimentos: Construção de um Framework – Trabalho disponibilizado pelos autores. Aprovado para o Enanpad 2007. CHOPRA, S.; MEINDL, P. 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