PSICOLOGIA ESCOLAR: 5 ª SÉRIE POSSIBILIDADE DE

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PSICOLOGIA ESCOLAR: 5 ª SÉRIE POSSIBILIDADE DE INTERVENÇÃO
Íria Jacoby de Oliveira [email protected]
Patricia Borges Gomes Bisinella [email protected]
Introdução
Este trabalho apresenta uma breve revisão sobre o papel do psicólogo escolar no
Brasil na sequência, é apresentado o processo de transição da 4ª para 5ª série, em
seguida é apresentado uma experiência de intervenção com turmas de 5ª série e
concluímos com os resultados obtidos através desta.
A Psicologia Educacional na primeira metade do século XX teve como método
de intervenção o modelo médico e clínico, o psicólogo limitava-se a trabalhar somente
com as queixas de problemas de aprendizagem e de desenvolvimento, realizava
diagnóstico e encaminhamentos para os alunos considerados especiais, ou não aptos
para aprendizagem, o enfoque era psicométrico, tentava-se explicar o fracasso escolar
mediante testes que avaliavam a inteligência, o afeto e a motricidade. Neste período não
era considerado os aspectos do contexto sociocultural e escolar do aluno (Barbosa &
Marinho-Araújo 2010).
Ainda conforme o autor, na década de 70, com a ampliação do sistema
educacional gratuito e obrigatório através da lei 5.692/71 houve uma grande demanda
de inserção de alunos na escola, consequentemente aumentou a procura pelo trabalho do
psicólogo escolar. Este profissional tentava através de seus métodos basicamente
psicométricos, realizar o trabalho solicitado pelas instituições, no entanto, percebeu-se
já no final da década de 70, que os procedimentos até então utilizados não eram eficazes
o suficiente para atender essa nova demanda, sem contar que, estes procedimentos
acabavam contribuindo para exclusão e marginalização dos alunos considerados
diferentes divergindo com os preceitos da própria profissão.
Dando sequência a este cenário de transformações atualmente a Psicologia
Educacional vem ampliando seu trabalho e reestruturando o papel do psicólogo,
modificando suas ações na escola. O psicólogo escolar entra neste contexto realizando
ações diretas no ambiente escolar, participando do cotidiano da instituição,
compreendendo a cultura e a subjetividade do grupo que a integra.
2 Conforme Martinez (2006 p. 107):
“Consideramos a psicologia escolar como um campo de atuação
profissional do psicólogo (e eventualmente de produção
científica) caracterizado pela utilização da psicologia no
contexto escolar, com objetivo de contribuir para otimizar o
processo educativo”. Compartilhando com esta idéia Rosa e
Proença (2003), esclarecem que papel da psicologia na escola é
procurar o questionamento a reflexão, visando potencializar as
forças de transformação.
O Processo de Transição
O processo de transição da 4ª para 5ª série é tema relevância para alguns autores
tanto que (Galvão & Dias-da-Silva, 1997) em sua obra Passagem sem Rito: as 5ª séries
e seus professores, propõem ao leitor em um de seus capítulos o resgate histórico sobre
a ruptura pedagógica que ocorre neste período. Em meados da década de 40 ressaltam
que o ensino de primeiro grau no Brasil se restringiu a quatro séries iniciais – primário
com direito a diploma O aluno que concluía o primário deveria passar pelo famoso
exame de admissão.
Constata-se que o ensino no Brasil passou por várias reformulações, fazendo
parte deste a 5ª série o ou atualmente 6º ano em algumas escolas. Com todas estas
mudanças ocorridas, com objetivo suposto de melhorar o ensino e a qualidade das
relações existentes no ambiente escolar presencia-se ainda uma crise de roptura que
ainda gera angústia e sofrimento. Conforme Prati e Eizirick (2006): “A passagem é
descrita como uma época de transformações e desafios.” Completa: Bossa (citado por
Prati & Eizirick 2006):
“...entrar para 5ª série, ao mesmo tempo simboliza o desejo de
crescer, de luta por uma nova identidade e expectativa social,
faz com que o aluno tenha que lidar com a dor que esse
crescimento pode trazer.”
3 Segundo (Prati & Eizirick 2006) muitos os alunos da 4ª série preocupam-se com
a inserção na 5ª série, este período é cercado expectativa e ansiedade, para muitos
alunos as expectativas podem vir de forma negativa, pois a imagem que muitos
professores passam é de a 5ª série não é fácil pois, encontraram vários professores,
número maior de disciplinas, conteúdo é difícil, os professores são mais exigentes, e
exige maior responsabilidade.
Paralelo a este, os alunos da 5ª enfrentam outra transformação, o início da
adolescência, que envolve processos biopsicossociais período cercado de grandes
mudanças físicas e emocionais e sociais, estas transformações afetam o humor e o
comportamento (Papalia, Olds, & Feldman 2006).
A Intervenção
O trabalho será relatado foi realizado na Escola Ensino Municipal São José
localizada no município de Flores da Cunha na região nordeste do estado do Rio Grande
do Sul. A Escola São José atualmente conta com quatrocentos e vinte alunos, o quadro
de profissionais composto por trinta e dois professores, cinco funcionários, a equipe
diretiva formada por um diretor, dois vice-diretores, um coordenador pedagógico e um
psicólogo.
Este projeto surgiu no ano de 2009 através de um trabalho de levantamento de
dados que foi realizado pela coordenadora e psicóloga que tinham por objetivo apontar
as dificuldades encontradas pelos professores em sala de aula.
Através desta atividade verificou-se que havia inúmeras queixas dos professores
referentes às turmas ente as quais se destacaram as turmas de 5ª série. Surgiu então, a
necessidade de realizar um trabalho de intervenção voltado para as 5ª séries que pudesse
auxiliar os alunos e professores.
Os principais objetivos estabelecidos pelo projeto foi promover um espaço de
escuta, reflexão e informação visando auxiliar na adaptação de horários, reduzir
ansiedades e desfazer crenças.
As estratégias adotadas foram trabalho de grupo e gincana com os alunos e
reunião com professores. O trabalho de grupo ocorreu com as duas turmas de 5ª série,
cada turma foi trabalhada separadamente. Foi realizado uma dinâmica com objetivo de
conhecer os alunos ouvir suas necessidades, medos, queixas, motivações referentes à
4 nova série, os alunos foram convidados a escrever os pontos positivos e negativos da 5ª
série, aos mesmos era solicitado que não tivesse identificação.
A segunda etapa ocorreu quando os dados foram levantados pela coordenadora e
psicóloga, nesta etapa percebemos que os pontos negativos e positivos eram
encontrados de uma forma similar nas duas turmas.
Os pontos negativos relatados pelos alunos referiam-se a adaptação ao de turno,
número de professores, tempo de duração das aulas, medo das provas, dificuldade no
relacionamento com os alunos maiores, imaturidade dos colegas, brincadeiras em sala,
conversa, no recreio os maiores os chamam de “fraldinhas” porque muitos gostam de ir
no parque brincar, ser os mais novos do turno, alguns dizem não gostar de estudar pela
manhã pelo motivo de acordar cedo.
As queixas apresentadas referem-se ao momento em que estes alunos estão
encontrando, momento este de transição e podem ser entendidas através dos
sentimentos expressos como de ansiedade, medo, angústia, abandono como refere-se o
autores (Prati & Eizirick (2006);
E também, como um status social, conforme o autor citado acima, quando se
referem que são mais responsáveis a sensação de serem mais velhos, responsáveis, ter
mais tempo livre a tarde e maior autonomia que foram expressos através dos pontos
positivos.
Paralelo a esta atividade foi solicitado em reunião em que as professoras eram
incentivadas a falar sobre a percepção das turmas de 5ª série.
Através desta atividade constatou-se a percepção que os professores tinham em
relação às turmas. As duas turmas apresentavam as mesmas queixas o que diferenciava
uma da outra era o grau de intensidade. Estas se referiam ao comportamento imaturo e
desorganizado, falta de autonomia, brigas no recreio com alunos de outras séries, muita
conversa, dificuldade em realizar trabalhos em grupo, desrespeito para com o professor,
dificuldades de aprendizagem.
Conforme Rosa e Proença (2003), as queixas referentes à imaturidade podem
estar relacionadas a fase de desenvolvimento em que os alunos estão vivenciando, pois
nestas turmas em que realizamos o trabalho tem crianças, pré-adolescentes e
adolescentes cada um encontra-se em um estágio de desenvolvimento físico e psíquico
mesmo os que apresentam a mesma idade, e também pelo fato de ter na escola alunos
que entraram com idade inferior aos demais e outros que são repetentes.
5 Ainda conforme a imaturidade os alunos entre eles realizam comparações e isso
se evidencia quando os maiores chamam os alunos de 5ª de “fraldinhas”, e também
quando a própria turma reclama das brincadeiras infantis de alguns colegas.
Referente à indisciplina Rosa e Proença (2003), relatam que esta questão pode
estar relacionada à falta de vínculo, (...) “a indisciplina tem razões de ordem afetiva”.
Os professores de 5ª série são especialistas, apresentam um comportamento
diferente dos professores de 4ª série. A relação com os alunos é mais afastada e fria,
vem a turma e não o aluno, a grande maioria são professores que tem outras turmas,
lecionam para alunos mais velhos e trabalham em outras escolas não tendo muito tempo
para conhecer os alunos dificultando a aproximação.
As queixas referentes à desorganização segundo Rosa e Proença (2003), estão
relacionadas ao modo em que os alunos na 4ª série estão habituados, a professora esta
sempre presente, conduz quase todas as atividades, em sala ela é referência, ela auxilia
os alunos na organização, os alunos da 4ª série são totalmente dependentes de suas
professoras. A desorganização na 5ª série também esta relacionada com o aumento de
matérias, cadernos, troca de sala, troca de professores o tempo reduzido de 50 minutos
para fazer as atividades.
O medo das provas como relataram ainda conforme as autoras pode estar
relacionado a forma de avaliação, na 4ª série a professora conhece mais o aluno tem
claro suas dificuldade e habilidades devido ao maior tempo de convivência
apresentando mais recursos para realizar a avaliação, o aluno é visto como um todo. Já
na 5ª série a avaliação é mais pontual e objetiva através de provas e trabalhos.
A terceira etapa foi à realização de uma gincana com objetivo de trabalhar a
cooperação do grupo.
A quarta etapa realizou-se com trabalho de grupo onde abrimos para a discussão
sobre os pontos positivos e negativos de estar na 5ª série, estes foram apresentados em
power point, após foi aberto espaço para refletir sobre as possibilidades de resolução
destes problemas (pontos negativos) agregando as atividades realizadas na gincana.
Percebe-se que quando oportunizamos um espaço de escuta e reflexão para os
alunos estamos auxiliando na construção de novas formas de habilidades sociais.
Segundo (Prette & Prette 2005) o treino em habilidades sociais no ensino regular já é
uma preocupação crescente nos programas educacionais, não faz parte da realidade
maioria das escolas brasileiras. No entanto, o treino em habilidades sociais apresenta
6 técnicas que podem ser utilizadas em atividades de grupo. Faz parte deste a técnica de
resolução de problemas.
Para a autora a técnica de resolução de problemas tem sua base empírica nas
investigações da Psicologia Cognitiva e Experimental utilizada nos campos educacional
e organizacional. Nezu (citado Prette & Prette 2005):
“conceitua a solução de problemas como um processo
metacognitivo pelo o qual os indivíduos compreendem a
natureza dos problemas da vida e dirigem seus objetivos para a
modificação do caráter problemático da situação ou mesmo de
suas reações a ela.”
Conforme (Prette & Prette p.135. 2005), o emprego da técnica:
1. Denominação do problema
a) Como a pessoa percebe o problema e como ela nomeia
b) A que (ou a quem ela atribui o problema)
c) Como avalia o problema, o que e o quanto lhe incomoda
d) Há quanto tempo o problema existe e o que tem feito para solucioná-lo
2. Definição do problema
a) Como a pessoa define o problema
b) Quais os objetivos que estão relacionados à solução do problema (nível
motivacional)
c) Como reavalia o problema e se, ao fazê-lo, mantém ou não a sua pretensão de
investir em solução.
3. Levantamento das alternativas
a) Listagem de todas as alternativas possíveis, sem avaliá-las
b) Revisão da lista,incluindo novas alternativas até julgá-la esgotada
4. Tomada de decisão
a) Escolha de um curso de ação
b) Avaliação do curso escolhido, seguindo os objetivos definidos
c) Ensaio do curso de ação desejada (quando necessário)
7 d) Verificação dos resultados (satisfação/insatisfação)
5. Implementação da decisão
a) Escolha do momento apropriado
b) Implementação da ação
c) Avaliação do resultado
Ainda na quarta etapa, os pontos realizados com atividade da gincana foram
entregues as equipes explicitando que a gincana era uma atividade de cooperação com
significado simbólico, um ritual de passagem utilizado pela escola que representa a
passagem da 4ª série para 5ª serie. No final desta etapa, a diretora foi convidada a
participar, com objetivo de estreitar os laços afetivos entre professores, alunos e direção
oferecendo um chaveiro com a inicial do nome de cada aluno simbolizando passagem
para 5ª série enfatizando a escola como instituição que acolhe e compreende este
período de transformação pelo qual estão passando.
Em outro momento, com os professores foi realizado uma reunião sobre os aspectos
relacionados a esta fase de desenvolvimento e discutiu-se alternativas de trabalho que
favoreça o manejo em sala.
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Psicologia Escolar vivencia uma nova fase, busca resignificar sua prática
apresentando uma postura mais crítica e comprometida. Com este olhar voltado para o
coletivo, compreendendo o contexto escolar o psicólogo realiza a intervenção.
Percebe-se que o trabalho do Psicólogo Escolar abrange inúmeras possibilidades
de intervenção, desde a implantação e aplicação de proposta pedagógica, intervenções
em espaços coletivos existentes na escola, conselhos de classe, coordenação de
professores, reunião de pais, trabalho de grupo com os professores, conforme (Barbosa
& Marinho-Araújo, 2010): cita: “ ...a Psicologia Escolar passa a ser entendida numa
perspectiva relacional e institucional...” compartilhando com esta ideia, é que percebese o quanto ainda pode ser feito para auxiliar instituição escolar como é o caso da
experiência relatada com as 5ª séries. Encontra-se ainda resistência por parte da
instituição ao trabalho de grupo, e interdisciplinar, no entanto, percebe-se que os
métodos utilizados são eficazes e correspondem a demanda solicitada.
Até momento conseguiu-se fomentar discussão com os alunos e professores
sobre as dificuldades encontradas nesta etapa, estreitaram-se os laços entre os alunos,
professores e direção, percebeu-se melhora do relacionamento dos alunos no recreio,
reduziram-se os sintomas de ansiedade, percebeu-se melhora no comportamento,
organização, autonomia e rendimento escolar.
Para as próximas atividades percebe-se a necessidade de um maior número de
encontro com os professores e um trabalho voltado para os pais para melhor andamento
do trabalho.
O Ritual de Passagem da Manhã - RITAMA foi assim denominado em 2011
considerado um ritual de passagem realizado com as 5ª séries que ocorre desde 2009 e
passou a ser uma atividade reconhecida que consta no calendário escolar.
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(pp213-224). Porto Alegre:UFRGS
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