escolhas alimentares e estado nutricional de adolescentes

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Alim. Nutr., Araraquara
v.18, n.3, p. 253-259, jul./set. 2007
ISSN 0103-4235
ESCOLHAS ALIMENTARES E ESTADO NUTRICIONAL
DE ADOLESCENTES EM ESCOLAS DE ENSINO
FUNDAMENTAL
Mariana de Senzi ZANCUL*
Amaury Lelis DAL FABBRO**
RESUMO: Os objetivos deste estudo foram identificar
e analisar comparativamente preferências alimentares de
alunos dentro das escolas de ensino fundamental no município de Ribeirão Preto (SP), avaliar o estado nutricional
dos estudantes, segundo indicadores antropométricos, e
discutir o espaço da escola como alternativa para a educação alimentar. Foram analisados, neste estudo, 401 adolescentes cursando de 5ª a 8ª séries de escolas das redes
pública e privada. Os dados foram coletados por meio de
um questionário adaptado previamente testado. Os estudantes foram também pesados e medidos e o programa Epi
Info 2000 foi usado para a organização dos dados. Os resultados demonstram que 70% dos adolescentes compram
alimentos na cantina da escola. Dentre os alimentos citados estão: salgados (61,4%), refrigerantes (22,3%), e balas
(52,7%). A disciplina Ciências é a mais citada pelos alunos
como aquela na qual os conteúdos sobre alimentação foram
trabalhados. A classificação do estado nutricional dos estudantes, feita pelos percentis de acordo com o IMC para
idade e sexo, verificou que 12,6% apresentam sobrepeso
e 8,5% apresentam obesidade. A escola pode exercer um
papel fundamental na promoção da educação nutricional,
com objetivo de desenvolver atitudes e hábitos saudáveis.
PALAVRAS-CHAVE: Adolescentes; preferências alimentares; obesidade; sobrepeso.
INTRODUÇÃO
A alimentação e a nutrição ocupam hoje um lugar de
destaque no contexto mundial. Pode-se perceber uma grande preocupação com a nutrição adequada e com as conseqüências de uma alimentação incorreta.
Uma alimentação adequada, do ponto de vista nutricional, é muito importante para garantir o crescimento e desenvolvimento, principalmente na infância, e também para
a manutenção da saúde ao longo da vida. Tomando por base
os dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), observa-se que as deficiências alimentares em crianças
trazem prejuízos ao crescimento, tornam as crianças mais
suscetíveis a infecções, comprometem o desenvolvimento
mental e intelectual, provocando desequilíbrios.7
Hoje, mais do que em qualquer época anterior, sabese qual é a alimentação adequada para o crescimento e desenvolvimento de crianças e jovens e que possa garantir boa
saúde futura.18 A nutrição está relacionada com a prevenção
e com o aparecimento de determinadas doenças.14
O Brasil tem sido considerado um país em transição
nutricional em razão da crescente prevalência de obesidade
e de doenças crônicas9, e pela coexistência da desnutrição e
da obesidade na população.19 O aumento da freqüência do
excesso de peso é preocupante, pois está associado a vários
fatores de risco para doenças metabólicas e cardiovasculares que afetam o indivíduo na fase adulta.11 Entretanto,
sabe-se que é principalmente na infância que os hábitos
alimentares são formados e que esses hábitos são determinados por diferentes fatores, fisiológicos, sócio-culturais e
psicológicos e tendem a se manter ao longo da vida.22
A família é a primeira instituição que tem ação direta sobre os hábitos do indivíduo, na medida em que se
responsabiliza pela compra e preparo de alimentos em casa,
transmitindo dessa forma seus hábitos alimentares à criança.12 Além da família, a escola e a mídia exercem influência
decisiva na formação dos hábitos alimentares e no consumo alimentar de crianças e adolescentes.
A adolescência é caracterizada por crescimento e
desenvolvimento acelerados, e pode ser considerada como
um período vulnerável e sensível a fatores relacionados
com a alimentação e nutrição.10
Os adolescentes são, muitas vezes, considerados um
grupo exposto ao risco nutricional, devido aos seus hábitos alimentares. Freqüentemente omitem refeições, como
o desjejum, ou substituem refeições, como, por exemplo,
o almoço por lanches, além de consumirem, com elevada
freqüência, grande quantidade de refrigerantes.8
Um dos problemas relacionados à alimentação na
adolescência é que esse período da vida é apontado como
um dos momentos críticos para o aparecimento da obesidade. 20 De acordo com Nestlé21 é necessário prestar atenção nas características da alimentação atual, qual seja, o
*Curso de Pós-Graduação – Doutorado em Alimentos e Nutrição – Faculdade de Ciências Farmacêuticas – UNESP – 14801-902 – Araraquara –
SP – Brasil.
**Departamento de Medicina Social – Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP – 14049-900 – Ribeirão Preto – SP – Brasil.
253
tamanho maior das porções, significando um aumento no
número de calorias ingeridas.
Estudo realizado por Alaimo e colaboradores, aponta uma outra questão relacionando alimentação e escola,
mostrando que as deficiências alimentares na infância podem causar problemas de aprendizagem e problemas psicossociais em crianças e adolescentes.1
A situação é preocupante porque é na escola que
muitos alunos fazem suas refeições, realizando escolhas
que revelam suas preferências e hábitos alimentares. Um
estudo realizado na Nova Zelândia em 2002, com 3275 estudantes de 5 a 14 anos, para conhecer os hábitos alimentares dos jovens, concluiu que os alimentos consumidos na
cantina das escolas têm alto valor calórico e que as cantinas
deveriam oferecer opções de alimentos mais saudáveis.27
Nesse contexto pode-se perceber a necessidade de
educação alimentar, que deve começar na infância, como
forma de oferecer elementos que permitam ao indivíduo
avaliar suas verdadeiras demandas. A educação nutricional
tem grande importância em relação à adoção de hábitos alimentares saudáveis desde a infância.4
Existe uma relação muito estreita entre educação e
saúde. Embora educar para a saúde seja responsabilidade
de diferentes segmentos, a escola é uma instituição privilegiada, podendo transformar-se num espaço genuíno de
promoção da saúde.5
Considera-se, que diante do papel fundamental que
a escola ocupa na tarefa de educar e informar sobre hábitos
alimentares saudáveis, é importante conhecer, comparar e
analisar que tipo de alimentação é oferecida aos alunos do
ensino fundamental das redes municipal, estadual e particular dentro do espaço escolar. Tal conhecimento pode ser
subsídio para a elaboração de estratégias de intervenção,
dentro e fora das escolas, ajudando na preparação de programas contra a disseminação de doenças e prevenindo problemas de saúde pública relacionados com a alimentação.
Levando em conta toda a discussão em torno do
tema e a relevância que ele ocupa no contexto da saúde pública nacional e internacional, este estudo tem como objetivos identificar e analisar comparativamente preferências
alimentares de adolescentes, de alunos de 5a a 8a séries nas
escolas de ensino fundamental das redes pública e privada
no município de Ribeirão Preto (SP), avaliar o estado nutricional dos estudantes e discutir o espaço da escola como
alternativa para a educação alimentar.
MATERIAL E MÉTODOS
Participaram do estudo 401 alunos de ambos os sexos de 5a a 8a séries das redes de ensino pública e privada
de Ribeirão Preto (SP). Tomou-se como população de referência, os 37.233 adolescentes, matriculados nas séries
de 5ª à 8ª, em escolas de ensino fundamental do município.
A pesquisa foi realizada no período de fevereiro a julho de
2004.
254
Para estabelecer o tamanho da amostra foi feito o
cálculo utilizando-se o programa EpiInfo 2000. Entre os
alunos que se alimentam na escola, a proporção estimada
e usada para o cálculo foi de 50%. Trabalhou-se com uma
margem de erro de 5%. Assim, o tamanho mínimo amostral
foi calculado em 400 alunos.16 A realização do estudo foi feita com uma amostragem por conglomerado, em três etapas.
Primeiro foi realizado o sorteio das escolas, posteriormente o
sorteio das classes e por fim o sorteio dos alunos que participariam da pesquisa.
Após o cálculo do tamanho da amostra de alunos,
foram sorteadas as 15 escolas nas quais se realizou a investigação, sendo 4 escolas da rede municipal, 5 escolas
da rede particular e 6 escolas da rede estadual de ensino.
O número de escolas onde o estudo foi realizado levou em
conta a distribuição das escolas do município em relação
à sua localização. Estas escolas estão localizadas em diferentes regiões, tanto na área central como em bairros e na
periferia e constituem uma amostra representativa do universo total de escolas de ensino fundamental da cidade de
Ribeirão Preto (SP).
Para cada uma das escolas, foram sorteadas as classes que participariam do estudo, sendo uma classe de cada
série: uma de 5a, uma de 6a, uma de 7a e uma de 8a série.
Pelo número da lista de chamada, foram sorteados os alunos de cada uma das séries, sendo então convidados a participar da pesquisa e, após aceite, seus pais assinaram uma
carta de autorização, estando de acordo com a realização
da pesquisa.
Foi aplicado um questionário adaptado e previamente testado em outras unidades de ensino e foram também tomadas medidas de peso e estatura dos alunos. O
questionário era composto de questões abertas e fechadas
a respeito do consumo alimentar dos estudantes dentro da
escola, da freqüência de consumo e da aprendizagem sobre
alimentação, dentro da escola. Os alunos também foram
questionados a respeito dos alimentos que consideravam
saudáveis e pouco saudáveis.
O questionário e o registro das medidas antropométricas foram efetuados dentro das escolas, no período das
aulas. Todos os dados foram coletados pela autora do trabalho.
O peso dos alunos foi aferido utilizando-se balança
eletrônica digital, com capacidade de 150 Kg e escala de
100 g (marca PLENNA MEA). As medidas foram tomadas
com os alunos descalços, usando roupas leves e sem portar
objetos pesados. Para a aferição da estatura, uma fita métrica plástica foi afixada na parede sem rodapé, e utilizouse um esquadro de madeira. Os dados referentes ao peso e
altura dos estudantes foram analisados pelo cálculo do IMC
e curva percentil.
O programa Epi Info 2000 foi usado para a análise
dos dados. Realizou-se também o teste do χ2 com nível de
significância de 5%, quando foi necessário confirmar diferenças significativas estatisticamente, já apontadas pelo
programa Epi Info 2000.
Os dados de estado nutricional dos estudantes foram
analisados pelo EpiInfo 2000, por meio do programa Nutrition. Para a classificação dos resultados do IMC e curva
percentil, com valores de acordo com a idade do adolescente, foram utilizados os dados propostos por NCHS/CDC
1995, em que a classificação é baixo peso (Percentil < 5,0),
eutrofia (Percentil 5,0 a 84,9), sobrepeso (Percentil 85,0 a
94,9) e obesidade (Percentil ≥ 95,0).
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética do
Centro de Saúde Escola da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto–USP.
Municipal
Estadual
Particular
(%)
(%)
(%)
Salgados
50
61,4
69,7
Refrigerantes
28,7
22,3
26,6
Balas
17,6
52,7
22
Sorvete
17,6
8,7
11
Suco
13,9
29,3
30,3
Chocolate
13
12
15,6
Pirulito
12
22,3
Fruta
Quadro 1 – Alimentos que os alunos compram nas cantinas
das escolas.
RESULTADOS
O suco vendido na cantina da escola é considerado
pelos estudantes como o alimento mais saudável e o refrigerante é o mais apontado como alimento pouco saudável.
Nas escolas municipais e estaduais respectivamente
69,4% e 77,7% dos alunos nunca trazem lanche de casa
para a escola. Nas escolas da rede particular de ensino
58,7% dos alunos trazem lanche de casa pelo menos uma
vez por semana.
Foi perguntado aos alunos se temas relacionados
com alimentação e nutrição tinham sido trabalhados na escola. A referência à inserção desses temas, entre a 5ª e 8ª
séries do ensino fundamental segundo tipo de escola, pode
ser observada na Tabela 1.
No que diz respeito à avaliação da percepção do aluno em relação à aprendizagem sobre alimentação/nutrição
nas escolas municipais, os estudantes disseram ter aprendido a respeito de alimentação na escola e citaram como temas estudados, higiene, vitaminas e intoxicação alimentar.
Os alunos das escolas estaduais que disseram ter
aprendido sobre alimentação, fizeram referência a componentes alimentares, à pirâmide alimentar, à higiene dos
alimentos e à importância de uma alimentação saudável.
Nas escolas particulares, aqueles que responderam já terem
aprendido alguma coisa sobre alimentação na escola, disseram que aprenderam sobre componentes dos alimentos,
nutrientes e sobre a pirâmide alimentar.
Os alunos apontaram as disciplinas nas quais estudaram questões relacionadas com a alimentação. Na opção
Dos 401 adolescentes estudados, 219 (54,6%) são
do sexo feminino. Um número maior de alunos das escolas particulares consome alimentos na cantina diariamente
(26,6%), em relação aos das escolas públicas (5,6% nas
escolas municipais e 9,2% nas escolas estaduais). Por outro lado, não houve diferença significativa entre as escolas,
quando se considerou o número de alunos que consome alimentos da cantina pelo menos uma vez por semana: 65,8%
dos alunos das escolas municipais, 67,8% dos alunos das
escolas estaduais e 75,2% dos alunos das escolas particulares. Vale ressaltar que cantinas escolares são estabelecimentos que comercializam alimentos dentro das unidades
escolares.
Os alunos que nunca compravam alimentos na cantina da escola indicaram as diferentes razões que os levavam
a este comportamento. De modo geral, as principais razões
apontadas foram o fato de: não gostar das alternativas de
alimentos que a cantina oferece; não sentir fome; não trazer
dinheiro na escola; não ter dinheiro para comprar alimentos na cantina; trazer lanche de casa; comer a alimentação
escolar.
O Quadro 1 traz a relação dos alimentos consumidos nos três tipos de escola e a porcentagem com que eles
são comprados pelos alunos. O total é diferente de 100%
uma vez que não havia limite para o número de indicações
de alimentos consumidos.
Tabela 1 – Referência à inserção do tema “alimentação” entre a 5ª e 8ª séries do ensino fundamental, segundo tipo
de escola. Ribeirão Preto, 2003.
Municipal
Freqüência
Estadual
Particular
n
%
n
%
n
%
Presente
59
54,6
60
32,6
53
48,6
Ausente
49
45,4
124
67,4
56
51,4
Total
108
100,0
184
100,0
109
100,0
255
“Outras” estão concentradas as respostas referentes às palestras realizadas por profissionais da comunidade, à aprendizagem em escolarização anterior (1a a 4a séries) e às aulas
de religião, em escolas religiosas (Tabela 2).
Para verificar o estado nutricional dos escolares, foi
feita uma avaliação antropométrica tomando-se as medidas
de peso e altura para o cálculo do IMC.
A classificação do estado nutricional dos estudantes,
feita pelos percentis de acordo com o IMC para idade e
sexo, verificou que 12,6% apresentam sobrepeso e 8,5%
apresentam obesidade. A escola pode exercer um papel
fundamental na promoção da educação. Somando-se os escolares que apresentaram sobrepeso e obesidade obteve-se
uma porcentagem de 21,1% (Figura 1).
80
71,6
70
Porcentagem
60
50
40
30
20
10
12,6
7,1
8,6
0
< P05
P05 - 84,5
P85 - 94,5
>P95
Percentil
FIGURA 1 – Distribuição dos escolares, segundo IMC.
Ribeirão Preto, 2003.
Comparando-se os resultados dos alunos das escolas
municipais, estaduais e particulares, não foi observada diferença significativa entre a proporção da soma de sobrepeso e obesidade em relação ao tipo de escola (p= 0,5978).
DISCUSSÃO
Para Turconi et al.,26 conhecer os hábitos alimentares
e o comportamento alimentar de adolescentes é muito importante para se planejar programas de educação nutricional que
promovam uma boa saúde e uma boa nutrição e o bem estar
na vida adulta.
De acordo com os resultados, o número de alunos
que compravam alimentos na cantina da escola pelo menos
uma vez por semana é de 67,8%, e resultados semelhantes foram encontrados em estudo do consumo alimentar
de adolescentes matriculados na rede pública de ensino de
Piracicaba, (SP), apontando que cerca de 70% dos jovens
costumavam comprar alimentos na cantina.6
Nos três tipos de escolas analisadas os alimentos
preferidos e comprados na cantina pelos adolescentes são
salgado, suco, refrigerante e bala. Quaioti24 em estudo realizado com 239 escolares, com idades de 8 a 13 anos, em
escolas da rede particular de ensino de Bauru (SP), constatou no que se refere à preferência alimentar, que os escolares consomem salgado, refrigerante e salgadinhos (tipo
“chips”).
Estudo realizado por Gregory et al. 15 na Inglaterra,
com 2672 crianças e jovens, com idades entre 4 a 18 anos,
verificou por meio de registros dietéticos, durante sete dias,
que mais de 80% dos participantes referiram que os alimentos mais freqüentemente consumidos eram pão branco,
batata-frita, biscoitos, purê de batata e chocolate.
O suco de frutas natural ou industrializado é consumido por 13,9% dos alunos das escolas municipais, 29,3%
dos alunos das escolas estaduais e 30,3% pelos estudantes
das escolas particulares. Nas escolas estaduais e particulares o suco de frutas chega a ser mais consumido do que o
refrigerante.
A rejeição voluntária e as preferências culturais que
levam crianças e adolescentes, mesmo havendo disponibilidade, a deixarem de consumir determinado alimento
constitui, de acordo com Cruz et al.7 um grande problema
relacionado à alimentação. Para os autores, é necessário
Tabela 2 – Disciplinas nas quais o tema alimentação foi abordado segundo relato dos alunos. Ribeirão
Preto, 2003.
Disciplina
256
Municipal
Estadual
Particular
n
%
n
%
n
%
Ciências
18
31
40
76,9
23
46,9
Ed. Física
12
20,7
-
-
1
2
Geografia
4
6,9
-
-
-
-
Matemática
1
1,7
-
-
1
2
Português
1
1,7
2
3,8
1
2
Ed.Artística
-
-
1
1,9
-
-
Outras
22
37,9
9
17,3
23
46,9
Total
58
100,0
52
100,0
49
100,0
encontrar alguma forma de estímulo e orientação visando
o desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis e a
incorporação de uma variedade maior de alimentos na alimentação habitual.
Nota-se que os alunos consomem alimentos que eles
mesmos julgam não serem saudáveis. Como alimentos não
saudáveis ou pouco saudáveis, o refrigerante aparece como
o mais citado na categoria dos não saudáveis e, no entanto,
é consumido por 30% dos estudantes.
Os motivos pelos quais os alunos consideram tais
alimentos como não saudáveis não puderam ser percebidos pelas respostas e não estava entre os objetivos deste
estudo aprofundar tal aspecto. Observa-se, entretanto, que
os estudantes possuem percepções sobre os alimentos nem
sempre claramente estabelecidas: o salgado, por exemplo,
foi apontado por alguns como saudável e por outros como
não saudável.
Quando se referem ao estudo sobre alimentação, a
maioria dos alunos, disse não ter aprendido conteúdos que
incluem a temática, mas de uma maneira geral, a disciplina
Ciências é a mais citada pelos estudantes como aquela na
qual o assunto é tratado ou mencionado.
Pipitone et al.,23 estudando a Educação Nutricional
no programa de Ciências para as séries de 5a a 8a do ensino
fundamental, verificaram, mediante a observação sistemática do trabalho dos professores de ciências em salas de
aula de escolas públicas de Piracicaba (SP), que o conteúdo de nutrição ensinado aos alunos, constava de conceitos
exclusivamente biológicos, havendo a predominância do
livro didático como orientador das atividades relacionadas
à alimentação.
As diferentes disciplinas do currículo também podem trabalhar, nas diferentes séries, as questões sobre alimentação com a finalidade de promover hábitos saudáveis.
É importante ressaltar que saúde é um tema transversal e
segundo as concepções presentes nos Parâmetros Curriculares Nacionais deve ser tratado por todas as áreas do
currículo.5
Os resultados gerais relacionados ao estado nutricional dos adolescentes do estudo mostraram que 14,6%
das meninas e 10,1% dos meninos apresentam sobrepeso e
que 4,7% das meninas e 13,2% dos meninos encontram-se
na faixa de obesidade.
Lamounier & Abrantes17 realizaram uma revisão de
artigos sobre sobrepeso e obesidade em adolescentes, nas
bases de dados Medline e Lilacs, analisando também resumos de estudos publicados em anais de congressos das
áreas de nutrição, saúde coletiva, pediatria e adolescência.
Nos diferentes trabalhos levantados, os resultados mostraram índices elevados de obesidade e sobrepeso na faixa etária correspondente à adolescência.
Para esses autores, a obesidade na infância e adolescência já é considerada uma epidemia no mundo. No
Brasil, como em outros países, a prevalência da obesidade
aumentou cerca de 50% na última década e cerca de 80%
dos adolescentes obesos provavelmente se tornarão adultos
obesos. Os autores ressaltam, no entanto, que os adolescen-
tes ainda estão em fase de crescimento, o que constitui um
fator favorável no tratamento da obesidade.17
No trabalho os autores concluem que a elevada prevalência de adolescentes com sobrepeso e obesos, obtida
através de estudos populacionais, justifica a necessidade da
elaboração de um programa de prevenção para esta faixa
etária. Segundo eles, principalmente para os adolescentes,
que sofrem a influência da publicidade, são necessárias medidas educativas que promovam hábitos de vida e alimentares mais saudáveis.17
O estado nutricional dos adolescentes que participaram deste estudo fornece um elemento a mais para apontar
a importância de ações de educação nutricional nas escolas,
trabalhando-se para a prevenção da obesidade e de outras
doenças relacionadas.
Um trabalho realizado com 400 alunos em escolas
da rede pública e privada de ensino de Ribeirão Preto (SP),
ao estudar o excesso de peso e os fatores de risco determinados por ele, em adolescentes do ensino fundamental,
verificou que é alta a prevalência de excesso de peso nos
adolescentes de ambos os sexos. Nesse estudo, 16% dos
entrevistados apresentam sobrepeso e 13,7% obesidade,
sendo a prevalência de sobrepeso 12,5% e a de obesidade
13% para as meninas e a prevalência de sobrepeso 21% e a
de obesidade 14,5% para os meninos.25
As cantinas escolares são locais com grande potencial para orientação e educação alimentar, mas acabam se
configurando apenas como estabelecimentos comerciais,
sem função educativa dentro das escolas. O que acontece,
em geral, é um desperdício de um espaço que poderia ser
usado para orientação nutricional dos jovens no ambiente
escolar.
Algumas iniciativas em escolas revelam uma percepção da importância desse espaço para a educação. Na
cidade de São Paulo existem alguns exemplos de cantinas
escolares que têm conseguido mudar os cardápios alimentares dos alunos. Em uma das escolas citadas há uma nutricionista responsável pela alimentação dos alunos atuando
junto com a equipe pedagógica, conseguindo unir pais, professores e responsáveis pela cantina para ensinar os alunos
a terem uma boa alimentação.13
Barros3 relata uma iniciativa realizada em 2000,
por um colégio particular, na cidade de São Bernardo do
Campo (SP), com um programa denominado Qualidade
de Vida, cujo objetivo era o de trabalhar a reeducação alimentar usando a cantina e atividades físicas. A partir da
preocupação dos professores com o aumento de peso dos
adolescentes, foram coletados dados antropométricos dos
alunos de 3 a 14 anos, verificando que 40% deles estava
acima do peso ideal. Foi então que teve início um trabalho
de conscientização nutricional para os pais, funcionários e
alunos, seguido de um acompanhamento dos exercícios físicos e da reformulação da cantina da escola.
Existem algumas propostas de se proibir a comercialização de determinados alimentos dentro das cantinas
das escolas. Tal medida é controversa, uma vez que a escola
deve ter como prioridade as ações educativas.
257
É importante considerar que mais do que a simples
proibição da comercialização de alimentos, as ações educativas na alimentação escolar e na cantina devem estar baseadas na implementação de projetos possíveis, com o apoio
educacional necessário. Segundo os pesquisadores, Amodio & Fisberg, as escolas devem oferecer uma alimentação
equilibrada e orientar seus alunos para a prática de bons hábitos de vida, pois o aluno bem alimentado apresenta maior
aproveitamento escolar, tem o equilíbrio necessário para
seu crescimento e desenvolvimento e mantém as defesas
imunológicas adequadas.2
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Verificou-se que alunos de 5a à 8a série das escolas
municipais, estaduais e particulares apresentam um comportamento alimentar semelhante, no que se refere às escolhas dos alimentos comprados na cantina e às preferências
alimentares manifestadas.
Nas diferentes escolas nas quais a pesquisa foi realizada observou-se que balas, refrigerantes, salgados e sucos
são os alimentos mais consumidos nas cantinas.
A disciplina Ciências é apontada pelos alunos como
sendo aquela na qual o tema alimentação e nutrição é tratado como conteúdo de ensino com maior freqüência.
A classificação do estado nutricional dos estudantes
foi feita pelos percentis de acordo com o IMC para idade
e sexo. Verificou-se que 12,6% dos escolares apresentam
sobrepeso e 8,5% apresentam obesidade.
Recomenda-se que a cantina escolar se torne também, um espaço de educação nutricional possibilitando
aliar a teoria e a prática.
ZANCUL, M. S.; DAL FABBRO , A. L. Feeding choice
and nutritional status of adolescents elementary schools.
Alim. Nutr., Araraquara, v.18, n.3, p. 253-259, 2007.
ABSTRACT: The purpose of this study is to identify and
to analyze, in a comparative way, feeding preferences of
students of elementary schools in Ribeirão Preto city, State
of São Paulo, Brazil; to evaluate the nutritional status of the
students according to anthropometric indicators; to discuss
the school space as an alternative for feeding education. In
this study 401 adolescents of 5th and 8th grades of private
and public schools were analyzed. Data were collected by
means of an adapted questionnaire previously tested. The
students were also weighed and measured and the Epi Info
2000 program was used for the data organization. The results
show that 70% of the adolescents buy food in the school
canteens. Among the referred foods we can mention snacks
(61,4%), soda (22,3%), and caramels (52,7%) Science was
the most referred by the students as the discipline where
258
the contents of feeding were treated. The classification of
students’ nutritional status, done by percentiles, according to
IMC for sex and age, verified that 12,6% show overweight
and 85% show obesity. The school can play a fundamental
role for promoting nutritional education with the purpose
of developing healthy habits and attitudes.
KEYWORDS: Adolescent; food preferences; obesity;
overweight.
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