Teoria da folkcomunicação: Conceitos e pertinências das ciências humanas no campo da comunicação Cristina Schmidt1 Resumo: Na terminologia Folkcomunicação entram dois termos que merecem distinções, são eles folclore e comunicação. Para não adotarmos uma definição simplista como a comunicação no folclore, podemos entender o primeiro termo – folclore - como o objeto de estudo, e o segundo – comunicação - a área de conhecimento, dentro das ciências humanas, que fornece os referenciais teóricos e metodológicos. Para entender as referências teóricas específicas da folkcomunicação, é importante localizar o objeto e o contexto em que se aplicam as metodologias científicas adequadas à produção científica nesse campo. A teoria da folkcomunicação abarca os processos comunicativos sob o domínio comunitário voltado para a comunicação com um mundo em múltiplos processos. Palavras chave: Teoria Folkcomunicacional. Comunicação. Cultura. Folclore. 1. Uma teoria das ciências humanas As formulações teóricas nas Ciências Humanas têm como objeto de estudo a natureza humana e social, por isso são mais amplas que as demais ciências, e estabelecem uma relação de investigação que vai além do sujeito-objeto, para ser sujeito-sujeito. Isso por ser um estudo que não comporta apresentação de dados brutos, mas reflexões de contextos e paradigmas relacionados às ações do homem, e refletem a complexidade teórica. Antes de qualquer coisa, as Ciências humanas levam-nos à compreensão da relação do homem com o mundo, e o coloca no centro de toda a teoria como protagonista e como ser teórico-prático. Mais que uma questão lógica ou gnoseológica (de teoria do conhecimento) o ato teórico nas ciências humanas é uma questão antropológica. Uma antropologia que lê o processo humano de maneira teórica e prática. Do sujeito em sua práxis. Uma postura dialética que coloca o homem como centro da investigação. (PEREIRA: 1982, p. 63-69) O homem, com sua ação, sua presença e sua relação com o mundo. Uma presença e uma ação que é ação sobre o mundo material e, consequentemente, sobre si mesmo. Só a ação do homem faz dele o próprio sujeito, duplamente entendido, sujeito de si e de sua ação individual e, num estágio superior, sujeito do mundo, a nível da relação social ou de classe. (Idem, p.69) 1 Grupo São Bernardo – Mestrado/1993, Doutorado PUC-SP/ 1999; atualmente é Gestora Acadêmica do curso de Comunicação Social da Universidade de Mogi das Cruzes – UMC, onde também leciona e é membro do Comitê de Interno do PIBIC/PIVIC; é sócia-fundadora da Rede Folkcom. [email protected] O cerne dessa ação está no fato de o homem dar significado cultural a ela. Toda ação tem um significado que torna o homem sujeito cultural, diferente dos demais animais e da natureza. Isso é o que diferencia o mundo natural do mundo cultural, e define os conceitos e objetos da área de humanas. Entender a ação do homem como ação prática de transformação da natureza – material, natural, humana/social – é abarcar significados culturais. Portanto, as teorias das ciências humanas focalizam esse significado tendo em vista uma relação fundamental entre teoria e prática. A teoria não pode se desvincular da prática, uma vez que a partir das práticas humanas surgem os pressupostos para de fundamentação. São as ações do homem na natureza, sua transformação e seus conflitos que irão gerar a teorização. (PEREIRA: 1982, p.70) Na folkcomunicação, a elaboração teórica e a apresentação de seus resultados seguem o modelo das ciências humanas, traz dados quantitativos e qualitativos acrescidos de interpretação (que se estruturam em correntes de pensamento ou “escolas”). É nessa construção teórica que o homem aparece como sujeito concreto – classe social, relações de poder - e faz a relação teoria/prática para a compreensão da práxis humana. Com o enraizamento nesse pressuposto que a folkcomunicação estrutura sua teoria, ou seja, no conjunto de ações/manifestações populares que expressam informação. Os grupos humanos se comunicam por meio de suas manifestações, e a folkcomunicação iniciou estudando tais fatos com a fórmula básica e linear de Laswell: quem diz, o quê, por que canal, a quem, com que efeito. A esse paradigma, posteriormente, foram considerados aspectos fundamentais no processo comunicativo e que não haviam sido contemplados pela fórmula; são os fatores individuais, sociais e culturais como influenciadores na comunicação. Depois, ainda, estudos de Katz e Lazarsfeld mostraram que a comunicação ocorre num fluxo de dois tempos: num primeiro momento a informação chega a um tipo de destinatário – líder de opinião, que decodifica e re-produz a mensagem para, num segundo momento, transmiti-la a grupos de seu relacionamento. Para Luiz Beltrão a “comunicação é o problema fundamental da sociedade contemporânea – sociedade composta de uma imensa variedade de grupos, que vivem separados uns dos outros pela heterogeneidade de cultura, diferença de origens étnicas e pela própria distancia social e espacial”. (2001, p.53) Mas, antes de entrarmos nas discussões teóricas específicas da folkcomunicação, é importante localizar o objeto e o contexto em que se aplicam as metodologias científicas adequadas à produção do conhecimento nesse campo. Pois, na terminologia Folkcomunicação entram dois termos que merecem distinções, são eles folclore e comunicação. Para não adotarmos uma definição simplista como a comunicação no folclore, podemos entender o primeiro termo – folclore - como o objeto de estudo, e o segundo – comunicação - a área, dentro das ciências humanas, que fornece os referenciais teóricos e metodológicos. 2. O contexto e o objeto Ligada à pratica dos grupos sociais, a teoria da folkcomunicação abre-se para os vários segmentos que compõem a sociedade, e localiza o homem em seus processos e relações. Tem a cultura como objeto, sendo que interessa mais particularmente os processos comunicacionais aí localizados. Os trabalhos etnográficos são importantes documentos para os estudos em folkcomunicação. Isso, pelo fato de o folclore ser objeto de estudo das ciências humanas e pode gerar, inclusive, pesquisas interdisciplinares. Nesse meio os limites entre o tradicional e o “moderno” não são considerados no campo da comunicação, por isso não há uma preocupação com resgate e sim com os processos existentes. E, ainda, o folclore não é visto como ciência, nem tão pouco é separado do que compreende a cultura; portanto, o estudo do folclore em folkcomunicação é o estudo do intercâmbio de informações no âmbito da cultura. Câmara Cascudo define folclore como a cultura popular que se repete ao longo de gerações com regras e singularidades criando normas para a realização em comunidade, ao ponto de virar uma tradição. Para ele, esses modos culturais têm uma existência dual: a sagrada, com rituais e hierarquias; e a popular, a ação concreta e histórica, para a transmissão oral e coletiva. Compreende técnicas e processos utilitários que se valorizam numa ampliação emocional, além do ângulo do funcionamento racional. A mentalidade, móbil e plástica, torna tradicional os dados recentes, integrando-os na mecânica assimiladora do fato coletivo (...) O folclore inclui nos objetos e fórmulas populares uma quarta dimensão, sensível ao seu ambiente. Não apenas conserva, depende e mantém os padrões imperturbáveis do entendimento e ação, mas remodela, refaz ou abandona elementos que se esvaziaram de motivos ou finalidades indispensáveis a determinadas seqüências ou presença grupal. (...) Nenhuma disciplina de investigação humana imobilizou-se nos limites impostos , quando do seu nascimento. Qualquer objeto que projete interesse humano, além de sua finalidade imediata, material e lógica, é folclórico. Desde que o laboratório químico, o transatlântico, o avião atômico, o parque industrial determinem projeção cultural no plano popular, acima de seu programa específico de produção e destino normais, estão incluídos no folclore. (...) Onde estiver um homem aí viverá uma fonte de criação e divulgação folclórica. O folclore estuda a solução popular na vida em sociedade. (CASCUDO: 1988, p. 334335) Florestan Fernandes, no livro “Folclore em questão”, argumenta que folclore é objeto de investigação científica e não ciência, e que tal procedimento pode desenvolver-se no campo da história, da sociologia, da psicologia, da lingüística, da antropologia; “ao contrário do folclorista, o psicólogo, o etnólogo, o sociólogo não estudam o folclore propriamente dito, mas a sua inserção e influência na organização da personalidade, da cultura e da sociedade.” (FERNANDES: 1979, p.14) Alfredo Bosi, em Dialética da Colonização, coloca que a cultura deve sempre ser pensada no plural, independentemente do critério. Segundo ele, esta divisão plural é adotada tradicionalmente pela Antropologia Cultural, que utiliza o critério raça para contemplar a diversidade cultural: culturas negras, culturas indígenas, etc. Se pelo termo cultura entendemos uma herança de valores e objetos compartilhada por um grupo humano relativamente coeso, poderíamos falar em uma cultura erudita brasileira, centralizada no sistema educacional (e principalmente nas universidades), e uma cultura popular basicamente iletrada, que corresponde aos mores materiais e simbólicos do homem rústico, sertanejo ou interiorano, e do homem pobre suburbano ainda não de todo assimilado pelas estruturas simbólicas da cidade moderna. A essas duas faixas extremas bem marcadas (no limite: Academia e Folclore ) poderíamos acrescentar outras duas que o desenvolvimento da sociedade urbano-capitalista foi alargando. A cultura criadora individualizada de escritores, compositores, artistas plásticos, dramaturgos, cineastas, enfim, intelectuais que não vivem dentro da Universidade, e que, agrupados ou não, formariam, para quem olha de fora, um sistema cultural alto, independentemente dos motivos ideológicos particulares que animam este ou aquele escritor, este ou aquele artista. Enfim, a cultura de massas, que pela sua íntima imbricação com os sistemas de produção e mercado de bens de consumo, acabou sendo chamada pelos intérpretes da Escola de Frankfurt, indústria cultural, cultura de consumo. (BOSI: 1992, p.309) Mais adiante, nesse mesmo texto, Bosi levanta a tendência dos estudos sociológicos convencionais e evolucionistas em considerar as manifestações da cultura popular chamadas de folclóricas como manifestações residuais. Isso quer dizer que são originárias de culturas étnicas que viveram sob o domínio de outras culturas mais centrais e eruditas. Porém, não podemos considerar o folclore ligado a um centro ou a uma cultura popular, nem tampouco, podemos hierarquizar as culturas e localizá-lo como “mais ou menos” cultural. O universo da cultura está ligado ao cotidiano, onde se apresentam os aspectos da vida cotidiana, os aspectos físicos, simbólicos e imaginários. E, principalmente no que se refere à cultura popular e ao folclore, é difícil separar a esfera material da espiritual, o novo do velho, o sagrado do profano, o original da réplica. O cotidiano acultura, incorpora, assimila e reapresenta. Os últimos anos têm apresentado uma explosão de informações que aparecem visivelmente nas práticas culturais, alterando a formatação das manifestações consagrada pelos folcloristas e, da mesma forma, modificando os limites entre os aspectos que as compõem e as separam. Steven Connor (1993, p. 150) afirma que isso é o indício da pósmodernidade, e as práticas populares são as que mais apresentam essa característica. Mas, para Canclini (1995) há lugares em que a modernidade se quer chegou. Com a expansão capitalista, nas quatro últimas décadas, há um comportamento que leva à inclusão de novas formas à cultura de modo a incorporar ou reciclar as existentes. As manifestações culturais cada vez mais se estruturam como mercadoria. Isso, com uma velocidade tal que se perde a referência do original-singular para o produto comercial, não se distingue um do outro. Essas reelaborações ocorrem muito em função das necessidades momentâneas dos grupos culturais, decorrem do que chamamos de “reconversão” econômica e simbólica com que os povos camponeses adaptam seus saberes às cidades que migram, sua culinária e seu artesanato aos processos produtivos, para se adequar ao meio urbano. Da mesma forma como os trabalhadores adaptam-se aos processos produtivos gerados pelas novas tecnologias, ou a arte e a literatura se moldam aos padrões mercadológicos e midiáticos. O entrecruzamento e o hibridismo das culturas provocam a transferência simbólica entre os vários modos culturais, inclusive os da cultura urbana para a rural e vice-versa. Esse processo era chamado de transcodificação ou tradução cultural. Com a globalização e uma economia voltada para o mercado mundial, os meios de comunicação passam a ter papel fundamental na apresentação de novos formatos, e na penetração sem limites de fronteiras étnicas. E, ainda, as referências folclóricas das diversas localidades nacionais ou internacionais se acentuam como pauta para a formatação e criação de produtos midiáticos como novelas, matérias jornalísticas, debates, reality shows, roteiros turísticos, modas. Nesse contexto, não podemos perder de vista três aspectos que são delimitadores para os estudos em folkcomunicação: a diversidade cultural, o hibridismo e a midiatização. Esses fatores mapeiam a cultura em suas características e pertinências, mas nem sempre o resultado traz manifestações vinculadas às ações populares (práxis), pois incorporam elementos do mundo globalizado sem fronteiras: mesclam aspectos nacionais, regionais e/ou locais. É o que constitui o Folclore Midiático (BELTRÃO: 2001), um mosaico cultural apresentado pela mídia globalizada, em que ocorre exposições e sobreposições de fatos culturais e folclóricos. Nesse amplo painel eletrônico, as pessoas das mais distantes localidades podem se ver, se conhecer e se identificar com o apresentado – costumes e gestos, religiosidade, festas, músicas, danças, culinária, comportamentos, vestuário, rituais, saberes, tradições e etc. Além disso, a possibilidade de estar no painel eletrônico mundial aproxima os diferentes povos, que antes estavam distantes e até isolados seja pela condição geográfica, social, ou econômica; essa nova condição traz temas e situações novos e antigos e identifica gerações e múltiplas etnias. Nos estudos de folkcomunicação são evidenciadas as novas características resultantes do hibridismo e da midiatização. Aliás, é justamente o resultado desse hibridismo - as manifestações em suas novas configurações, os códigos novos, os elementos atualizados e sua resignificação - que interessa ao campo da folkcomunicação. As comunidades às margens do contexto comunicacional hegemônico e globalizado se comunicam de maneiras singulares, mas vão de tempos em tempos incluindo elementos desterritorializados. A mensagem vai do local ao global e retorna resignificada em sua originalidade – pois estabelece interações mediatas para a elaboração de seus bens culturais. 3. A teoria da folkcomunicação Tomando o conceito formulado por Luiz Beltrão, a “folkcomunicação é o processo de intercâmbio de informações e manifestações de opiniões, idéias e atitudes da massa, através de agentes e meios ligados direta ou indiretamente ao folclore” (2001, p.79), e por isso mesmo, um processo artesanal e horizontal onde ocorre a comunicação interpessoal através de canais conhecidos pelos grupos rurais ou urbanos. O ponto central dos estudos nessa área está nos mecanismos e procedimentos usados pelos grupos populares para a realização da comunicação inter-pessoal, inter-grupo ou extragrupo transmitindo suas idéias, valores, sentimentos, experiências, etc. Antonio Hohlfeldt (2002) esclarece que: A folkcomunicacão não é, pois, o estudo da cultura popular ou do folclore, é bom que se destaque com clareza. A folkcomunicação é o estudo dos procedimentos comunicacionais pelos quais as manifestações da cultura popular ou do folclore se expandem, se sociabilizam, convivem com outras cadeias comunicacionais, sofrem modificações por influência da comunicação massificada e industrializada ou se modificam quando apropriadas por tais complexos. Para entender essa abordagem é preciso rever os referenciais científicos e políticos que usufruem o universo do popular. A perspectiva da Folkcomunicação de Luiz Beltrão, como coloca Marques de Melo, “encontrou dupla resistência: a dos folcloristas conservadores (que pretendiam defender a cultura popular das investidas midiáticas modernizantes) e a dos comunicólogos libertadores (que pretendiam fazer da cultura popular o cavalo de tróia das suas batalhas políticas em lugar de apreender nessas manifestações o limite da resistência possível de comunidades empobrecidas cuja meta é a superação da marginalidade social)”. (MELO: 2004) E é nessa visão que encontramos os desdobramentos da folkcomunicação, conceitos que permitem analisar as interações entre o local e o global nos processos folkmidiáticos, uma vez que Luiz Beltrão “reconheceu o universal que subsiste na produção simbólica dos grupos populares, percebendo ao mesmo tempo que os dois sistemas comunicacionais continuarão a se articular numa espécie de feed-back dialético, contínuo, criativo.” (MELO: 2004) As trocas culturais dentro dos contextos de massa e popular criam uma dinâmica nos grupos de modo a tomar as experiências para reviver e rever a si e aos outros. Essas atividades correspondem aos atos de um processo folkcomunicacional, conceituado por Luiz Beltrão (2004, p.74) como sendo “(...) um processo artesanal e horizontal, semelhante em essência aos tipos de comunicação interpessoal, já que suas mensagens são elaboradas, codificadas e transmitidas em linguagens e canais familiares à audiência, por sua vez conhecida psicológica e vivencialmente pelo comunicador (...).” É um sistema onde os discursos são direcionados a um mundo e não ao mundo, como o sistema de comunicação massa. Com essa dinâmica cada vez mais repleta de informações, a audiência folk fica sujeita a receber os bens culturais midiáticos. Trigueiro (2006, p. 132-135) aponta a recepção em duas posturas: ativa e ativista. Segundo ele, na audiência midiática ou folkmidiática não existe o espaço vazio, não existe o sujeito ausente ou sem a capacidade de decodificar o grande volume de mensagens chegadas através da comunicação hipermidiática. O que existe é uma maior ou menor relevância, um maior ou menor grau de engajamento do sujeito constituinte da audiência. A presença do líder folk, ou líder de opinião, nesse processo é fundamental. De acordo com Luis Beltrão a “liderança está intimamente ligada à credibilidade que merece no seu ambiente e à habilidade do agente comunicador de codificar a mensagem ao nível do entendimento dos seus receptores”. Como a sociedade é discriminatória e elitiza as formas de comunicação – por mais massivas que pretendam ser – desconsidera a maioria da população que tem processos peculiares de comunicação, “através de um vocabulário escasso e organizado dentro de grupos de significados funcionais próprios”. Para isso, o líder de opinião, por sua vez, vai estabelecer uma troca informacional com outros líderes e segmentos para formar um arcabouço que lhe dê credibilidade e sustentabilidade no grupo. Lazarsfeld denomina de “fluxo em muitos estágios”. (BELTRÃO, 2004, p.78-80) É importante destacar o papel das lideranças no meio folkcomunicacional. Conforme Trigueiro, os comunicadores folk, com uma posição de líder ativista, serão os protagonistas de uma mediação dentro de uma “densa rede de comunicação cotidiana”. O líder irá mediar as informações advindas da sociedade refletindo com os grupos as adequações decorrentes do contexto. É um processo dinâmico e exige um envolvimento intenso com a comunidade e ágil com o mundo externo, o que Trigueiro denomina de ativista midiático – pois negocia as práticas comunicacionais e culturais na produção de bens culturais midiados. Nesse ponto propõe uma diferenciação do líder folk, inicialmente conceituado por Beltrão como um decodificador; do ativista midiático, que considera como um interlocutor entre os diversos contextos culturais . A liderança folk, assim como os processos folkcomunicacionais se atualizam na dinâmica da nova conjuntura social. Se antes o caixeiro viajante era o condutor das novidades urbanas e intermediava práticas culturais; hoje, um haker pode ser um condutor da novidades e mediar novos bens culturais para uma dada comunidade marginalizada. O papel social é o mesmo; a função de mediador, de negociador ainda é a mesma. A liderança folk só adquiriu a performance dos tempos atuais. Os processos folkcomunicacionais não são nem realidades autônomas, independentes da vida econômica, nem meros reflexos desta. A folkcomunicação é a possibilidade de um diálogo entre agentes folk e mercado, uma mediação de interesses. No mundo capitalista as estratégias de mediação precisam ser muito bem delimitadas, pois tende a esvaziar por dentro a autenticidade das relações, graças ao aparecimento de um conjunto econômico que objetiva apoderar-se de todas as manifestações da vida humana. (SCHMIDT, 2006) É por isso que a teoria da folckomunicação abarca os processos comunicativos sob o domínio comunitário voltado para a comunicação com um mundo em múltiplos processos. 4. Bibliografia de Referência: ALMEIDA, Renato. A inteligência do folclore. Rio: Cia. Americana-MEC, 1974. BELTRÃO, Luiz. Comunicação e folclore: um estudo dos agentes e dos meios populares de informação de fatos e de expressão de idéias. São Paulo: Melhoramentos, 1971. ____________. Folkcomunicação: teoria e metodologia. SBC: Umesp, 2004. BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é folclore. São Paulo: Brasiliense, 1982. CANCLINI, Nestor Garcia. Culturas híbridas. México: Grijalbo, 1989. CASCUDO, Luiz Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. Rio de Janeiro: Instituto Nacional, 1972. COELHO, Teixeira. Dicionário crítico de política cultural: cultura e imaginário. São Paulo: Editora Iluminuras Ltda, 1997. CONNOR, Steven. Cultura pós-moderna: introdução às teorias do contemporâneo. São Paulo, Loyola, 1993. FERNANDES, Florestan. O folclore em questão. São Paulo: Hucitec, 1989. GOLDMANN, Lucien. Dialética e Cultura. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 3ª edição, 1979. LIMA, Rossini Tavares de. A ciência do folclore. São Paulo: Ricordi, 1978. MELO, José Marques de. Prefácio.(in) BELTRÃO, Luiz. Folkcomunicação: teoria e metodologia. SBC: Umesp, 2004. SCHMIDT, Cristina (org.). Folkcomunicação na arena global: avanços teóricos e metodológicos. São Paulo: Ductor, 2006. ____________. A transdisciplinaridade na pesquisa dos modos culturais híbridos: como entender o folclore e a cultura num contexto globalizado. Texto disponível no CD da III Conferência Brasileira de Folkcomunicação. João Pessoa/PB: 2000. ____________. Folkmídia: da resistência à coexistência. (in) MELO, J.M.; GOBBI, M.C.; SATLER, L. Mídia Cidadã: utopia brasileira. SBC/ SP: Umesp, 2006. TRIGUEIRO, Osvaldo Meira. Folkcomunicação. (in) MELO, J.M.; GOBBI, M.C.; SATLER, L. Mídia Cidadã: utopia brasileira. SBC/ SP: Umesp, 2006.