UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA ESTUDO COMPARATIVO ENTRE O ENCAMINHAMENTO EM SAÚDE MENTAL OFERECIDO PELO CAPS - SÃO CARLOS/SP E PELO CENTRO DE SAÚDE II – CACONDE/SP. Marina Ceres Silva Pena SÃO CARLOS – SP DEZEMBRO/2003 2 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA ESTUDO COMPARATIVO ENTRE O ENCAMINHAMENTO EM SAÚDE MENTAL OFERECIDO PELO CAPS - SÃO CARLOS/SP E PELO CENTRO DE SAÚDE II – CACONDE/SP. Marina Ceres Silva Pena RA: 203742 Trabalho desenvolvido para obtenção do título de Bacharel em Psicologia, sob a orientação da Profª Georgina Faneco Maniakas. SÃO CARLOS – SP DEZEMBRO/2003 3 “A ausência de qualquer projeto, a perda de um futuro, o estar constantemente em poder dos outros sem o mínimo impulso pessoal, o ter dividida e organizada a própria jornada sob tempos ditados só por exigências organizativas... este é o esquema institucionalizante sobre o qual se articula a vida do asilo. O doente mental, fechado no espaço apertado da sua individualidade perdida, oprimido pelos limites que lhe foram impostos pela doença, é forçado, pelo poder institucionalizante da internação a objetivar-se nas próprias regras que o determinam, em um processo de aparvalhamento e de restrição de si que – originariamente sobreposto à doença – não é sempre reversível “ (Basaglia, 1964). 4 Agradecimentos Á minha orientadora, Georgina, pelo apoio, confiança e auxílio no trabalho realizado durante esses dois anos. Aos meus amigos, principalmente Alessandra, Aninha e Teresa pelo apoio nos momentos difíceis; por compartilharem as alegrias; pela amizade sincera, confiante e por contribuírem (e muito) no meu crescimento como pessoa, assim como na escolha dos melhores caminhos. À minha família, sendo os meus irmãos, Ricardo e Fernando, por serem como eles são, me ensinando a lidar com as desavenças, e principalmente aos meus pais, Alfredo e Ceres, pela educação, moral e ética que me ensinaram, por confiarem na minha capacidade, sempre apoiando e incentivando minhas decisões e escolhas. E acima de tudo à Deus, pela vida saudável e pelas oportunidades que me proporcionou e proporciona até hoje. 5 Dedicatória Dedico esse trabalho a todas as pessoas que de uma forma ou de outra se encontram ou já se encontraram alguma vez envolvidas com a Saúde Mental, sejam usuários de serviços de Saúde Mental, familiares, amigos, médicos, enfermeiros, farmacêuticos, psicólogos ou quaisquer outros. Que este trabalho possibilite às pessoas repensarem a forma como se lida com a Saúde Mental hoje em dia, tanto no que diz respeito à sua história, às ações realizadas, quanto às suas conseqüências. 6 SUMÁRIO Resumo ...................................................................................... 07 I. Introdução .................................................................................. 08 II. Justificativa ................................................................................ 19 III. Objetivos .................................................................................... 23 IV. Metodologia ............................................................................... 24 Local ............................…........................................................ 25 Participantes …………………………………………………...…. 28 Material ………………………………………………………...….. 28 Instrumento ……………………………………………………..… 28 Procedimento …………………………………………………...… 29 V. Resultados ................................................................................. 32 VI. Discussão ................................................................................... 57 VII. Conclusão .................................................................................. 63 VIII. Referências Bibliográficas........................................................ 66 Anexo 1........................................................................................ 68 Anexo 2 ....................................................................................... 70 Anexo 3 ....................................................................................... 71 Anexo 4 ....................................................................................... 82 7 RESUMO Na antiguidade o homem não se conhecia; as distorções e aberrações da natureza humana eram entendidas vagamente e, na ausência de qualquer psicologia, atribuídas às forças e entidades desconhecidas. Mais tarde surgem os manicômios como lugares de tratamento da loucura, onde impera o princípio do isolamento social: os internados perdem todas as suas referências de vida, são excluídos do convívio familiar, do trabalho e do local onde moram, perdendo, portanto, a subjetividade e a autonomia e a maior garantia que a sociedade moderna pretende dar a todos, a cidadania. Com o passar do tempo, o foco do atendimento realizado pelos manicômios veio se mostrando não somente ineficaz como também segregador e iatrogênico. Com o objetivo de mudança dessa situação começou a ser realizada uma reforma psiquiátrica, que consiste em uma série de transformações na assistência em saúde mental propostas pela chamada "Luta Antimanicomial", um movimento social que se iniciou na Itália com Franco Basaglia e que propõe a substituição do modelo manicomial pela criação de uma rede de serviços territoriais de atenção psicossocial e de base comunitária. Buscando refletir a respeito das práticas substitutivas em Saúde Mental, torna-se interessante estudar comparativamente uma instituição inserida no contexto dessa reformulação - o CAPS-São Carlos - e uma outra instituição de atendimento aos usuários, de caráter exclusivamente ambulatorial – o Centro de Saúde II, Caconde/SP. A investigação proposta foi orientada predominantemente, pelos princípios da pesquisa qualitativa; e sua análise, por meio da abordagem psicossocial. 8 I. INTRODUÇÃO Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), saúde seria um estado completo de bem-estar físico, mental, social e não somente a ausência de doenças ou enfermidades (Capra, 1982). Mas saúde é uma experiência subjetiva, algo que pode ser conhecido intuitivamente, mas nunca descrito ou quantificado; saúde é uma experiência de bem-estar resultante de um equilíbrio dinâmico que envolve os aspectos físicos e psicológicos do organismo, assim como sua interação com o meio ambiente natural e social. Para Wickert (1998), “a saúde só se dá quando o sujeito tem possibilidades de traçar o seu próprio destino, conforme seu desejo, em direção ao seu bemestar físico, psíquico e social e que o caminho construído nem sempre é condizente com a modelagem social (...)” 1 Saraceno (2001-a), entende que saúde mental seja o conjunto de ações de promoção, manutenção e tratamento referentes à melhora, manutenção ou restauração da saúde mental de uma população. A subjetividade é um objeto de pesquisa psicológica, sendo esta um “sistema complexo de significações e sentidos subjetivos produzidos na vida cultural humana, se definindo ontologicamente como diferente dos elementos sociais, biológicos, e de qualquer outro tipo, relacionados entre si no complexo processo de seu desenvolvimento individual e social (...) a subjetividade e a cultura são processos construtivos complexos que ocorrem de forma simultânea; a subjetividade não é determinada pela cultura; a cultura depende da subjetividade”.2 Segundo Pessotti (1994), na antiguidade grega o homem não se conhecia; as distorções e aberrações da natureza humana eram entendidas vagamente e, na ausência de qualquer psicologia, atribuídas à forças e entidades desconhecidas. 1 2 Wickert, 1998. Loucura e direito a alteridade., pp. 38. Rey, 2002. Pesquisa Qualitativa em Psicologia: caminhos e desafios, p.36-37 e 43. 9 Textos do séc.V a.C. como a Ilíada, de Homero ou As Obras e os Dias, de Hesíodo confirmam essa idéia, uma vez que mostram a intervenção direta e permanente dos deuses (principalmente Zeus) e dos seus instrumentos (Atê, Moira e Erínias) na vida dos homens, que roubam ou confundem sua razão e os enlouquecem. Existe uma clara ambigüidade no conceito de responsabilidade; o homem não se exime totalmente da responsabilidade de seus atos, pois o que o levou a cometê-los foi sua iniciativa, mas fica claro que a decisão foi da divindade, uma vez que elas se apoderam do entendimento a fim de subtrair sua razão; a loucura seria um recurso utilizado pelas divindades para que suas vontades sempre prevalecessem sobre a vontade dos homens. A Atê é um estado transitório de insanidade produzida pelos deuses, uma perda da razão ou da consciência; Moira é a justificativa para os atos insensatos, os infortúnios da vida individual, os desastres pessoais, os azares; enquanto as Erínias são os verdadeiros agentes de vingança; já o thymos é uma espécie de alma funcional; responsável pelas motivações, aprendizagens, sensações, memória e emoções (mais tarde chamados de comportamento, personalidade ou vida mental), mas ainda assim não garante autonomia aos homens De acordo com Pessotti (1994), em Homero, a loucura é um estado de desrazão, de perda do controle consciente sobre si mesmo, de insensatez, de perda do contato ordenado com a realidade física ou social, tendo como origem a obra de Zeus, outros deuses ou de entidades subalternas. Quanto à forma, corresponde à mania (tida como os furores), à melancolia, aos episódios de insensatez, aos atos falhos e aos sonhos mais significativos. No que diz respeito à terapia, Homero faz menção a um pharmakon, uma bebida produto de um ritual humano que acalmaria as aflições, os tormentos da ansiedade e proporcionaria a aceitação tranqüila das vontades dos deuses; mas que seu efeito dependeria de agentes externos. O importante, nessa época, é ressaltar que não há identificação entre loucura e doença, não havendo, portanto, necessidade de cura, mas sim de uma reorganização entre o indivíduo e as suas relações com seu grupo social. Nos textos trágicos, o termo Atê passa a significar não só o estado de espírito que transgride a ordem, mas também as desgraças reais decorrentes da transgressão, castigo, ruína devido ao crime, o destino desastroso do criminoso que o conduz a decisões erradas e fatais. Os principais representantes dessa época são os escritores Ésquilo, Sófocles, Eurípedes e Orestes. Nas peças trágicas a interferência da divindade vai cedendo gradualmente o papel de causa aos conflitos de paixões e ao choque entre o desejo e as normas éticas, e mesmo que os deuses ainda tenham participação no 10 ódio, desejo sexual, inveja ou culpa dos personagens, a loucura é resultante de conflitos entre paixões, lealdades ou deveres; esses conflitos são pessoais e cotidianos. Há uma substituição do modelo mítico-teológico por uma visão um pouco mais racional, a respeito da vontade, das forças das paixões. Na obra de Eurípedes percebe-se o começo de uma psicologia enquanto concepção de individualidade intelectual e afetiva, uma vez que ele descobre e revela a natureza do homem como contraditória, conflitiva e às vezes patológica. Na obra de Hipócrates, o distanciamento do mito da interferência da divindade no processo de loucura de extrema: ele passa a entender a loucura como um desarranjo da natureza orgânica do homem; defende uma posição naturalista oposta a explicações mitológicas, marcando assim o fim da Medicina sacerdotal na Grécia Antiga. Demonstra uma grande convicção organicista, o que significa um progresso na psicopatologia e um retardo do desenvolvimento de uma explicação psicológica e de uma conseqüente psicoterapia. A loucura enquanto delírio e descontrole seria somente um sintoma de um desarranjo, desequilíbrio do estado humoral do cérebro devido a alterações de estado físico dos humores ou de sua localização e movimentação no interior do corpo. A terapia sugerida por Hipócrates combinava intervenções do tipo catártico, que visava alterar com mudanças de alimentação e de hábitos, a economia humoral desequilibrada, sendo que com esses recursos a doença seria curada com o tempo. Platão (427-348 a.C.) também endossa a teoria humoral da vida mental e da loucura, de tradição hipocrática, mas com algumas mudanças; Platão considera a loucura como um desarranjo entre as partes da psyche, como um desvio da racionalidade do sistema, sendo que há diferentes loucuras dependendo da parte afetada. Já Aristóteles (384-322 a.C.) situa a alma racional e a irracional no coração e não no cérebro, uma vez que acredita que o cérebro não possui participação nas sensações. O coração viveria do calor vital, e quanto mais se aquecesse melhor funcionaria, sendo que variações abruptas na temperatura explicariam todas as formas de loucuras. No período alexandrino, é lançada a idéia de que o centro da vida psíquica e sensorial não seja o coração, e sim as meninges do encéfalo. Para Cláudio Galeno (131-200 d.C.), a loucura ainda era um sintoma de um mero desarranjo no equilíbrio humoral, pnemática; as doenças mentais poderiam ser imaginativa, racional ou mnemônica, sendo sua sede o cérebro; o conceito de pneuma, ampliado por Galeno, estabeleceu a base para uma visão psicossomática da loucura (Pessotti, 1994). 11 É a doutrina demonista que associa a loucura à possessão diabólica e marca a concepção medieval da psicopatologia, não é apenas um artifício religioso da época para repreender as heresias e impor a ortodoxia teológica e moral, mas também uma forma de pensar, que tem suas raízes na própria formação doutrinária do cristianismo, uma vez que nos três primeiros séculos do cristianismo havia crenças gnósticas e dualísticas, sendo que no cristianismo propriamente dito, suas mitologias evoluem de um lado para as divindades pagãs (culto ao demônio) e de outro para os hereges, instrumentos do demônio, dividindo o mundo em dois reinos: o do bem e o do mal. Entre os séculos II e III, enquanto alguns entendem o demônio como o espírito de perversão que existe em nós mesmos, outros pensam os demônios como anjos decaídos que resistem entre o céu e a terra e os deuses pagãos como corporificações dos demônios que tentam os homens com magias e heresias. Com o fanatismo religioso da Idade Média, quase tosos os comportamentos acabam sendo tidos como suspeitos e gradualmente atribuídos ao demônio como, inicialmente, a perda de colheitas, os abortos naturais e as tempestades, sempre produtos de bruxarias (Pessotti, 1994). Muitas obras foram publicadas com o objetivo de facilitar a identificação dos que agem por obra do demônio, seja por meios de encantamentos, por terem condutas estranhas ou poderes anormais para sua condição social. Em 1484 é publicado o terrível Malleus Maleficarum (Martelo das Bruxas) escrito por Sprenger e Institor (Heinrich Kramer), destinado a instrumentalizar inquisidores e eclesiásticos em geral com sólida doutrina demonológica, para capacitá-los a identificar casos de possessão diabólica ou comércio com o diabo e intervir nesses casos, ou seja, legitimizar a caça às bruxas, sendo que a característica da loucura é a de considerar demoníaca praticamente todas os comportamentos aberrantes ou indecentes. Esse modelo de pensamento copia distorcidamente o modelo mitológico da Grécia antiga, uma vez que a loucura não é vista apenas como a interferência de entidades extranaturais, mas também porque é negativa, patológica, estigma de imperfeição e de culpa; campo de batalha entre o bem e o mal, sendo o homem passivo frente ao demônio e frente também ao poder do salvador, o exorcista. Essa concepção demonista cristã exclui as paixões, os instintos e os desejos humanos da etiologia da loucura, uma vez que tudo isso é obra do demônio; ao homem cabe fugir delas e culpar-se quando erradas ou entregar-se a elas quando santas. Para o Malleus e seus congêneres, toda loucura, enquanto delírio ou mero descontrole, é obra do demônio, por iniciativa própria (possessão e obsessão) ou por pedido de alguma 12 bruxa. O texto ainda está repleto de recomendações terápicas como jejuns, orações, freqüência a igrejas e finalmente o exorcismo para a cura de qualquer fenômeno de aberração ou bizarrice do comportamento, como a violência física, a excitação erótica, as alucinações, os meros enganos, as ilusões de óptica, a obstinação, a mania, a melancolia, a ansiedade, a esterilidade a impotência e a frigidez sexual ou qualquer outra doença (Pessotti, 1994). Em 1576 é editado o Compendio dell’Arte Essorcistica, et Possibilita delle Mirabili et Stupende Operazioni delli Demoni, et Melefici, de Menghius. O Compendio se destina a leigos e tem como propósito defender as aplicações ortodoxas do exorcismo contra a difusão de práticas charlatanescas e supersticiosas feitas por pessoas sem preparação doutrinária sem credenciais canônicas para isso. No Compendio, assim como no Malleus, não há formulação de uma teoria demonológica da loucura, mas a desrazão não é vista necessariamente como sua essência: loucura também é avareza, luxúria, ambição desmedida e desrespeito ao que é sagrado. Quanto às causas, a loucura é quase sempre devida à ação do demônio; quanto à natureza, pode ser o comprometimento de funções mentais ou o descontrole dos instintos ou das paixões, e com relação à classificação, são vários os casos clínicos descritos, como de paralisia histérica e melancolia, onde o tratamento é sempre o exorcismo (Pessotti, 1994). Segundo Pessotti (1994), nos séculos XV e XVI, a loucura passa a ser elaborada sob influência do organicismo pneumático e da doutrina da alma ou da mente. Para Zacchias, qualquer demência pode ser devida à diminuição (imbecilidade, estultice, fraqueza de espírito e amnésia), depravação (delírio) ou perda da função mental (loucura: mania, melancolia, furor, licantropia amor insensato e melancolia hipocondríaca). Já Plater, refletindo a visão médica galênica, descreve a doença mental como lesão da inteligência (razão, imaginação e memória), podendo resultar num défict (fraqueza mental ou abolição da mente) ou numa depravação (esgotamento, estafa mental, alienação mental ou extravio da inteligência). Para Plater, a loucura pode derivar de causas físicas, passionais ou internas, onde se inclui a possessão demoníaca, iniciando assim uma tendência a dar maior ênfase ao delírio e menor interesse na bizarrice dos comportamentos e nas distorções perceptivas. É nessa época também que se dá abertura ao enfoque iatroquímico e iatromecânico, a primeira negação da origem sobrenatural das doenças, uma vez que as explicações são fornecidas em termos da química e mecânica dos humores, 13 de acordo com a tradição hipocrática. Na concepção de Descartes não há um componente psicológico na etiologia da loucura; sua natureza é o desgarramento do espírito, o erro de julgamento das coisas durante a vigília;e seus tipos são a mania e a melancolia. A loucura passa a ser tida como uma doença natural como as outras doenças; isso facilita o caminha para uma abordagem científica do desvario e do descontrole emocional (Pessotti, 1994). São criados os manicômios, termo genérico usado para classificar hospícios, asilos, hospitais psiquiátricos e demais lugares de tratamento da doença mental que se valem do princípio do isolamento do louco da sociedade. O ambiente do manicômio é um lugar aonde os internados perdem todas as suas referências de vida: são excluídos do convívio familiar, do trabalho, do local onde moram, da cidade; perdem, portanto, a maior garantia que a sociedade moderna pretende dar a todos: a cidadania; tem origem na cultura árabe, datando o primeiro hospício conhecido do século VII, sendo os primeiros hospícios europeus criados no século XV. Nos tratamentos buscava-se dar um "choque" no paciente, fazer com que passasse por uma sensação intensa, que o tirasse de seu estado de alienação; eram correntes as práticas de sangria, de isolamento em quartos escuros, de banhos de água fria, além dos aparelhos que faziam com que o paciente rodopiasse em macas ou cadeiras durante horas para que perdesse a consciência. Com a Revolução Industrial, a necessidade de aproveitamento de mão de obra para a produção, intensificou a necessidade de excluir do corpo social todo aquele que não pudesse produzir; internam-se nos manicômios, então, não somente os loucos, mas também os inválidos de todos os gêneros, os velhos, os nobres decadentes e esbanjadores, estes últimos, sobretudo para que não dessem o mal exemplo a uma sociedade trabalhadora. No Brasil, o primeiro hospício foi inaugurado pelo imperador D. Pedro II, no Rio de Janeiro, em 1852. A psicopatologia do século XIX caracteriza-se pela pesquisa médica dispersa em uma pluralidade de linhas teóricas, muitas mutuamente exclusivas. Ao longo desse período, a etiologia diabólica da loucura vai sendo progressivamente eliminada; explicações humoristas vão perdendo a importância e as especulações fisiológicas procuram harmonizar dados da observação clínica; os distúrbios de comportamento começam a ser analisados e discriminados entre tipos diferentes de loucuras e as perturbações intelectuais e cognitivas passam a ter importância fundamental no diagnóstico. 14 De acordo com Pessotti (1994), em 1801 é publicado o Traité MédicoPhilosophique sur l’aliénation mentale, de Pinel, obra esta que inaugura a psiquiatria como especialidade médica. Para ele, a loucura é entendida como comprometimento ou lesão do intelecto e da vontade, se manifestando no comportamento do paciente sob as mais variadas formas. As grandes formas da alienação mental seriam loucura, mania, melancolia, demência e idiotia, podendo ser herdada, resultado das influências de uma educação corrompida sobre a perda de razão, produto da menopausa ou das paixões ardentes, como conflitos, frustrações, hábitos, gostos, vícios e repressão do desejo. O diagnóstico implica na sapiência da história de vida anterior do paciente; da observação prolongada, rigorosa e sistemática das mudanças biológicas, das atividades mentais e de comportamento social deste. A psicoterapia de Pinel se resume num diretor espiritual e num regime físico e moral para eliminar a alienação mental. A contribuição do Traité está na mudança de atitude metodológica da medicina diante o paciente alienado; a doutrina de Pinel, moralista e pedagógica, deriva numa prática terapêutica de encorajamento e repressão, eventualmente eficaz para os propósitos de reinserção do paciente na vida social. A partir dos anos 50, com surgimento dos psicofármacos e o conseqüente esvaziamento dos hospícios, tem início uma nova perspectiva para o tratamento dos doentes mentais. No entanto algumas dificuldades já são observadas: as causas das doenças mentais ainda não são claras, o que compromete uma abordagem terapêutica realmente eficaz; as várias formas de compreender a loucura, fruto de variados pressupostos teóricos, leva a uma pluralidade no atendimento que torna difícil a comparação de eficácia; a própria clientela desses serviços tem peculiaridades: a doença mental, diferentemente de outras doenças, não cursa necessariamente com dor e sofrimento; o doente não sabe que está doente, alguém lhe confere esse status; as internações compulsórias transformam esses indivíduos, assim, em não-cidadãos, pessoas desqualificadas no seu poder de verbalizar reivindicações, por serem social e moralmente ilegítimas. Assim, o hospital psiquiátrico, ou hospício, acabou se tornando: (1) um meio para obtenção de licença na Previdência Social; (2) um lugar de repouso, de restauração da energias, das populações de baixa renda; (3) abrigo e asilo para os sem lar e sem família; (4) casa correcional para toxicômanos perturbadores; (5) espaço onde se exerce o “comércio da loucura” , com os pacientes (sobretudo alcoólatras) que internam-se periodicamente, gerando lucro para os donos dos 15 hospitais. Mas o hospício se revela mais perverso na medida em que ao invés de recuperar, confirma e reforça a doença mental; o hospício traz embutido em seu papel o lento processo de “mortificação do Ego” dos que nele estão internados. Segundo Pessotti (1994), a confusão doutrinária das últimas décadas do século XIX gera vários absurdos terapêuticos; há uma desorientação geral da teórica médica quanto à etiologia e conseqüentemente da terapêutica da loucura; há o desaparecimento do modelo mitológico religioso e destaca-se o organicismo que incentiva a busca por maiores explicações das funções orgânicas, culminando num conflito entre o modelo organicista clássico e um modelo médico biopsicossocial, que por sua vez, testemunha a fragmentação e o paralelismo da teoria psiquiátrica, já que aquilo que não se explica com o “bio”, se explica com o “psico” e/com o social, gerando uma espécie de ilusão e impotência terapêutica (Saraceno, 2001-a). Para Wickert (1998), “no pensar coletivo atual, louco é aquele que não tem razão, que dá medo, que não controla seus próprios impulsos, escapando aos padrões sociais a serem seguidos e mantidos, necessitando, então, de tratamento especializado (...) Como o insano não é controlável/suportável nos termos morais, a razão coexiste com a loucura em contraposição, assim quem tem a razão não é louco e quem é louco não tem a razão.” 3 Segundo Dittrich (1998), “será sempre em relação a uma ordem de ‘normalidade’, ‘racionalidade’ ou ‘saúde’ que a loucura é concebida nos quadros de ‘anormalidade’, irracionalidade’ ou ‘doença’ ”.4 A prática de submeter o paciente psiquiátrico às instituições manicomiais são práticas que visam moldar a conduta do sujeito sem levar em consideração o seu desejo, a sua subjetividade, num único objetivo de exclusão, a massificação e a dominação social. Os loucos passam a ser enclausurados em um lugar delimitado e afastado, para que os ditos como sãos saibam a história do sofrimento psíquico 3 4 Wickert, 1998. Loucura e direito a alteridade, pp. 39. Dittrich, 1998. Psicologia, direitos humanos e sofrimento mental: ação, renovação e libertação, pp. 52. 16 desses doentes, saibam quais males os ameaçam e busquem maneiras de evitar tal sofrimento, nascendo dessa estrutura os manicômios, lugares onde se despejavam aquelas pessoas que a sociedade, apesar de produzir, rejeitava (Wickert, 1998). Para Goffman (1996) apud Wickert (1998), os manicômios assim como as prisões, os conventos, os quartéis e as casas de recolhimento de indigentes são instituições totais, uma vez que as instituições totais são caracterizadas por locais onde as atividades são realizadas num mesmo local e sob uma única autoridade; todas as pessoas são tratadas da mesma forma e obrigadas a realizar tarefas em conjunto, sendo estas rigorosamente organizadas por um sistema de regras formais explícitas e por um grupo de funcionários. Além disso, há uma divisão básica e de pouca mobilidade social entre o grupo de internados e a equipe de supervisão. Na estrutura manicômio-instituição total, uma estufa para mudar pessoas, o paciente é obrigado a despir-se não só das suas roupas, mas também da sua história, sua subjetivação, sua individualidade, tornando-se apenas um simples número ou uma categoria da CID-10. Com o processo de internação, as barreiras que separam o manicômio do mundo externo acarretam perdas de papéis sociais e a aquisição de um padrão de comportamento homogeneizado a ser seguido, sendo uma agressão à subjetividade e à individualidade do paciente, além da perda do rótulo de saudável, de quem “tem a razão”, pois dizer socialmente “doente mental” é sê-lo para o resto da vida, condicionando o passado e o futuro do sujeito e marcando-o para toda a vida (Wickert, 1998). Segundo Saraceno (2001-a), os anos 70 se caracterizaram pela idéia de que a psiquiatria seria um conjunto de técnicas terapêuticas a serem aprendidas a fim de escolher aquela mais convincente, além da manutenção da idéia equivocada de cientificidade, na qual “científico é tudo aquilo que se exprime com categorias do quantitativo, que se refere a modelos claros e distintos, que exclui a subjetividade”.5 No entanto, como expressar em categorias puramente quantitativas um fenômeno cujo objeto às vezes é e as vezes não é alguma coisa ?6 3 6 Saraceno, 2001-a. Libertando Identidades, pp.13. Simanke, 1997, Loucura e Psicose: a abordagem psicanalítica. Apostila. 17 Partindo da análise do discurso comum, Simanke (1997) observa que o termo loucura, longe de seu significado psicopatológico atual, formou uma rede ou campo de significações, do qual se alimentaram, posteriormente, os discursos mais organizados. A denominação “loucura” não representa nada de específico. Ela somente vai sofrer uma determinação estreita ao ver-se apropriada de formas de conhecimento mais organizadas, a partir dos parâmetros que definem as diversas teorias, adquirindo, somente desse modo, um sentido próprio, mas que permanece circunscrito a essa dada disciplina7. Somente quando a psiquiatria se impõe como o campo de domínio das doenças mentais, é que a loucura passa a se restringir ao significado “científico” que, hoje, lhe é atribuído. No entanto, ainda segundo Simanke (1997), o significado “científico” da loucura nasceu de práticas sociais mais ou menos simétricas à maneira como o fenômeno era percebido. O autor nota que tais práticas, “desencadeadas pelos aspectos mais superficiais das manifestações, podiam ser exercidas sem necessidade de entrar no mérito da natureza última dos fenômenos em foco; em outras palavras, ao menos nesse caso, a ação precedeu a reflexão” 8. Inspirado por algumas noções gerais foucaultianas, o autor arrisca um esboço de definição dizendo que “histórica e culturalmente, a loucura identifica-se com um certo campo de discursos, que emergem de práticas sociais e/ou institucionais mais ou menos concretas.” 9 Tais práticas foram rapidamente institucionalizadas, e foi através de um modelo hospitalocêntrico para o tratamento das doenças mentais que chegaram até nós. A Reforma Psiquiátrica consiste em uma reação a essa modelo, por meio de uma série de transformações na assistência em saúde mental propostas pela chamada "Luta Antimanicomial", um movimento social que se iniciou na Itália com 7 8 Simanke (1997), p. 5 Idem, ibid, p. 6 18 Franco Basaglia e teve seus primeiros momentos no Brasil a partir do final da década de 70, se intensificando ao longo dos anos 80, 90 e 2000. Este movimento reúne diversos atores sociais como usuários de serviços de saúde mental, seus familiares e técnicos da área de saúde; não pretende acabar com o tratamento clínico da doença mental, mas sim eliminar a prática do internamento como forma de exclusão social dos indivíduos portadores de transtornos mentais. Propondo, para isso, a substituição do modelo manicomial pela criação de uma rede de serviços territoriais de atenção psicossocial, de base comunitária. A extinção dos manicômios deve ser gradual, sendo que para que isso ocorra, foi aprovada uma Lei Federal de Saúde Mental em abril de 2001 (após 12 anos de tramitação no Congresso), que regulamenta o processo de Reforma a Assistência Psiquiátrica no Brasil. 9 Idem, ibid, p. 7 19 II. JUSTIFICATIVA A partir da década de 70, percebe-se no país alguns movimentos de crítica ao modelo hospitalocêntrico no que se refere à assistência psiquiátrica, sendo a exclusão e a violência nos manicômios pautas de discussões que reivindicavam os direitos dos doentes mentais. Os principais questionamentos eram relacionados à natureza do modelo privatista e à sua incapacidade de produzir um atendimento que contemplasse as necessidades de seus usuários, mas ainda não havia um modelo muito claro nem uma proposta de intervenção clínica. Já na década de 80, período marcado pela ditadura, o movimento pela reforma psiquiátrica no Brasil ganha importância política e social, possibilitando mudanças na saúde, permitindo a participação de outros setores que não médicos, enfatizando críticas às noções de clínica e cidadania, ambas ancoradas a uma concepção universal do sujeito onde a normalidade deve ser reconstituída. A construção de um novo espaço social para a loucura exigia não só que a noção de cidadania e a base do saber psiquiátrico fossem colocados em debate, mas também a invenção de novos locais, instrumentos técnicos, terapêuticos e novos modos de estabelecer relações com esses sujeitos (Santos, Almeida & Venâncio, 2000). Nesse período foi muito importante a influência da psiquiatria democrática italiana, propondo o questionamento da suposta universalidade do racionalismo científico das psiquiatrias; usuários e familiares passaram a reivindicar mais intensamente por outras possibilidades de atenção assim como espaços, avanços técnicos e formas de reabilitação psicossocial. Começaram a ser implantados os hospitais-dia, mas só nos anos 90 foram criados e consolidadas propostas como os Centros de Assistência Psicossocial (CAPS), os Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS) e os Lares Abrigados (Santos, Almeida & Venâncio, 2000). Originada do grego, a palavra autonomia surgiu para designar a capacidade de um indivíduo de se autodeterminar, de se auto-realizar (Santos, Almeida & Venâncio, 2000). Para Kinoshita (2001), autonomia seria “a capacidade de um indivíduo gerar normas, ordens para a sua vida, conforme as diversas situações que enfrente (...) não se trata de 20 confundir autonomia com auto-suficiência nem com independência.” 10 No campo da saúde mental, entretanto, seu conceito parece ser mais impreciso, uma vez que os sujeitos se tornam destituídos de todo e qualquer valor ao receber o atributo de doente mental, além da dúvida de se as instituições que utilizam novos dispositivos contrários àqueles do tradicional manicômio, propiciarem ou não a produção de autonomia para os usuários que se beneficiam do tratamento (Santos, Almeida & Venâncio, 2000). Aqui, se torna muito importante a questão da reabilitação psicossocial. Para a OMS, segundo Pitta (2001-a), a reabilitação psicossocial seria “o conjunto de atividades capazes de maximizar oportunidades de recuperação de indivíduos e minimizar os efeitos desabilitantes da cronificação das doenças através do desenvolvimento de insumos individuais, familiares e comunitários”. 11 Segundo Pitta (2001-b), reabilitação psicossocial “implica numa ética de solidariedade que facilite aos sujeitos com limitações para os afazeres cotidianos, decorrente de transtornos mentais severos e persistentes, o aumento da contratualidade afetiva, social e econômica que viabilize o melhor nível possível de autonomia para a vida na comunidade.” 12 Já Kinoshita (2001) pensa que reabilitação seria a reconstrução dos valores, o aumento do poder contratual do usuário; a criação de condições para que o paciente possa participar do processo de trocas sociais; a produção de dispositivos que mudem o pressuposto de desvalor natural; em suma, um processo de restituição do poder contratual do usuário, com vistas a ampliar a sua autonomia. Complementando a idéia, Saraceno (2001-b) afirma que 10 11 Kinoshita, 2001. Contratualidade e reabilitação psicossocial, pp. 57. Pitta, 2001-a. O que é reabilitação social no Brasil, hoje?, pp. 21. 21 “o processo de reabilitação seria, então, um processo de reconstrução, um exercício pleno da cidadania, e, também, de plena contratualidade nos três grandes cenários: habitat, rede social e trabalho com valor social.” 13 Marques (2001), ainda define como metas da reabilitação “prevenir e/ou reduzir incapacitações ou perda de habilidades; restaurar habilidades potenciais em desempenhar papéis sociais; fortalecer habilidades latentes e dignidades potenciais; facilitar adaptação social e psicológica aos efeitos de prejuízos sociais na vida do indivíduo; minimizar a deterioração; capacitar níveis ótimos de autodeterminação, execução de responsabilidades pessoais e independentes, melhorar o sentido de bem-estar da pessoa.” 14 A reabilitação deve ser a principal característica da psiquiatria; um “entretenimento” do doente. Tendo em vista que entreter significa “ter dentro” e também “passar prazerosamente o tempo”; na espera de que o doente morra ou que a doença se cure sozinha, o significado empregado pode ser o de que o doente “fique dentro” do hospital psiquiátrico, nas alas, nas enfermarias, nas salas de contenção, na violência e na miséria; ou então o de que o doente também pode ser entretido com conversas, com oficinas terapêuticas, em um hospital dia e/ou no meio da sua própria família, adotando assim o sentido de inserção em um sistema onde a espera é de melhora. É importante também conhecer as ações que contribuíram para a melhora do paciente, pois assim talvez fosse verificado que as ações formais não são especialmente influentes sobre a evolução das doenças; que a psiquiatria clínica com suas terapêuticas constitui um conjunto de entretenimentos danosos ou indiferentes, raramente úteis. A ruptura deste entretenimento não é apenas uma ruptura à prática da psiquiatria, mas também uma busca de caminhos que confluam para a reconstrução da cidadania plena do paciente psiquiátrico, sendo esta não só a restituição de seus direitos formais, como também a construção afetiva, relacional, material, habitacional e produtiva dos seus direitos substanciais (Saraceno, 2001-a). 12 13 Pitta, 2001-b. Prefácio à 1ª edição, pp. 9. Saraceno, 2001-b. Reabilitação psicossocial: uma estratégia para a passagem do milênio, pp. 16. 22 É buscando refletir sobre as práticas substitutivas em Saúde Mental que o presente trabalho realizou um estudo comparativo entre o encaminhamento dado aos usuários que procuram os serviços de saúde mental em duas unidades de saúde mental. Uma delas, o CAPS-São Carlos, inserido no contexto de reformulação da atenção em Saúde Mental e pretendendo ser um serviço que de alguma forma venha a inaugurar o “novo” em termos de atendimento ao doente mental, e o Centro de Saúde II “Dr. Sebastião Ribeiro do Valle”, em Caconde-SP, que funciona em esquema ambulatorial tradicional. Para tal, este estudo caracterizou, por meio da consulta aos Prontuários, o tratamento oferecido à população atendida, o tipo de demanda, assim como a questão da construção da autonomia dos sujeitos psicóticos atendidos pelos serviços, sempre considerando as características próprias de cada serviço. A indagação é pertinente, pois a discussão sobre a “autonomia” dos sujeitos psicóticos põe em debate os tradicionais conceitos de alta e cura em psiquiatria, além de, depois aproximadamente uma década de implantação dos “novos serviços”, parece ser este um bom momento para refletir e avaliar as possíveis transformações no campo da Atenção em Saúde Mental. 14 Marques, 2001. Reabilitação psicossocial e a reforma psiquiátrica, pp. 107. 23 III. OBJETIVOS OBJETIVO GERAL: realizar uma comparação descritiva entre o encaminhamento oferecido aos usuários dos serviços de Saúde Mental no CAPS de São Carlos-SP e o Centro de Saúde II “Dr. Sebastião Ribeiro do Valle”, em Caconde-SP, de acordo com os recursos disponíveis em cada serviço. OBJETIVO ESPECÍFICO: caracterizar a população atendida e o tipo de demanda. 24 IV. METODOLOGIA Segundo Capra (1982), a influência do paradigma cartesiano (concepção mecanicista da vida) sobre o pensamento médico resultou no modelo da moderna medicina científica, onde o corpo humano é considerado uma máquina que pode ser analisada em termos de suas peças; a doença é tida como um mau funcionamento dos mecanismos biológicos, que são estudados do ponto de vista da biologia molecular; o papel dos médicos é intervir, física ou quimicamente, para consertar o defeito no funcionamento de um mecanismo específico enguiçado. O paradigma biomédico reduz as doenças às causas biológicas. Em se tratando das doenças mentais, postula uma relação linear de causalidade entre danos do sistema nervoso e o surgimento das doenças mentais, considerando que os tratamentos das doenças não são outro que modificações (essencialmente farmacológicas) da função cerebral alterada. A abordagem biopsicossocial procura contemplar o processo de saúdedoença como uma relação contínua entre fatores biológicos, psicológicos e sociais (agora também espirituais). Fatores macrossociais, diferenças culturais, eventos externos (guerras, desastres), condições sócio-econômicas (desemprego, recessão econômica, condições de insuficiente suporte social, ambientes psicológicos adversos) e contextos microssociais (família) são todos importantes no surgimento e na evolução de muitas das doenças psiquiátricas (Saraceno, 2001-a). Segundo Rey (2002) e apoiando a abordagem biopsicossocial, o conhecimento estaria ligado à cultura, à organização social e à “práxis histórica”, sendo não só condicionado, determinado e produzido, mas também condicionante, determinante e produtor. O que ainda vem acontecendo ultimamente é que o papel biológico vem dominando o modelo de assistência à saúde mental. O ideal seria uma relação não simplesmente somatória, mas interativa entre as dimensões biológica, psicológica e social, sem deixar quer um dos aspectos fosse dominante sobre os outros, pois a abordagem biopsicossocial não exclui, evidentemente, a biológica, mas coloca em crise o paradigma biomédico, mostrando sua ineficácia e deterioração. O presente estudo tomou predominantemente como referência a luta antimanicomial, os princípios que norteiam a reforma à assistência psiquiátrica no Brasil e as orientações da pesquisa qualitativa, sendo que esta última, segundo Rey (2002) 25 “enfatiza tanto a compreensão da pesquisa qualitativa como processo dialógico que impede tanto o pesquisador, como as pessoas que são objetos da pesquisa, em sua condição de sujeito do processo; (...) a busca de grandes narrativas vai sendo substituída por teorias mais locais e de pequena escala. Centradas em problemas e situações específicas (...). A definição do qualitativo na pesquisa psicológica não é uma questão instrumental, nem tampouco uma questão definida pelo tipo de dados que devem ser incluídos, mas que se define essencialmente pelos processos implicados na construção do conhecimento, pela forma de se produzir o conhecimento”.15 Local O estudo foi realizado no CAPS (Centro de Assistência Psicossocial) de São Carlos-SP e no Centro de Saúde II “Dr. Sebastião Ribeiro do Valle”, em CacondeSP. CAPS Inicialmente somente o Centro Municipal de Especialidades oferecia uma tímida atenção à Saúde Mental pública à cidade de São Carlos, oferecendo um serviço basicamente ambulatorial ao doente mental. Devido à grande demanda, ocorriam problemas que comprometiam a qualidade do tratamento, como agendamento de consultas e retornos com longos intervalos de espera, marcação das consultas num único horário, falta de prévia informação ao paciente tanto sobre a ordem das consultas, quanto à questões de prevenção, sintomatologias das doenças,procedimentos de emergência, características e adequação dos serviços e tratamentos disponíveis. Tais circunstâncias tornava-os apreensivos e inseguros, inviabilizando atuações na manutenção da saúde, autonomia e qualidade de vida. Sendo observada a falta de recursos adequados encontrados no Centro Municipal de Especialidades e o alto índice de internações, demonstrando o atraso de São Carlos em relação às cidades vizinhas, iniciou-se um processo de mudanças que visava adequar a prestação de serviços em Saúde Mental às tendências de vanguarda, intervindo com a comunidade, os usuários, os profissionais e a instituição. 26 Essas mudanças iniciaram com a proposta de um serviço de Sala de Espera do Corredor de Saúde Mental do Centro Municipal de Especialidades, onde estagiários da UFSCar objetivavam o espaço necessário à orientação de usuários, acompanhantes e familiares, visando, basicamente o resgate da cidadania e a reabilitação psicossocial. Isso se deu através de diálogos informativos e orientações aos usuários, familiares e acompanhantes; exposição dos usuários a situações do contato social que favorecessem a expressão, além de uma maior interação entre usuários e membros da equipe de Saúde mental. Durante o desenvolvimento do Projeto de Atendimento em Sala de Espera, o contato diário com a realidade do serviço no Corredor de Saúde Mental do Centro Municipal de Especialidades, com profissionais e usuários, possibilitou aos membros envolvidos a efetuação de um diagnóstico institucional que apontava a insuficiência desse serviço (os usuários faziam uso prolongado e contínuo de medicamentos sem acompanhamento adequado, havia ausência de recursos para serviços alternativos à hospitalização, carência dos usuários de informações e necessidade de outras abordagens terapêuticas), assim como a necessidade de reorganizar os serviços de Saúde Mental do município promovendo mudanças que realmente levem à reabilitação do usuário, como a implantação de um CAPS, serviço que vem sendo utilizado com grande eficiência em diversas localidades. De uma parceria entre a UFSCar e a Secretaria Municipal de Saúde foi iniciada a construção do projeto de implementação do CAPS, que tinha como principais objetivos: • Identificar a forma de organização comunitária, os padrões culturais e sociais, suas formas potenciais e manifestas de expressão, dentro da área de atuação e abrangência do usuário; • Estimular a participação de voluntários da comunidade no serviço proposto; • Instituir o Plano Terapêutico Individual (PTI) visando a construção/resignificação dos projetos de vida de cada indivíduo, o reconhecimento do usuário como cidadão, reconhecimento da capacidade crítica e a participação do usuário na definição de seu plano terapêutico; • Criar e manter grupos de acolhimento, em substituição ao serviço de Atendimento em Sala de Espera; 2 • Criar oficinas Terapêuticas; • Criar cooperativas de trabalho; Rey, 2002. Pesquisa Qualitativa em Psicologia: caminhos e desafios, pp. ix, 6 e 24. 27 • Criar a Associação de Usuários e Familiares; • Utilizar os meios de comunicação para divulgar o trabalho do CAPS, ampliando, assim, as possibilidades de inserção dos usuários na comunidade; • Promover eventos culturais com a participação dos usuários; • Manter contato permanente com serviços de excelência em Saúde Mental, a fim de promover troca de conhecimentos, intervenções, pesquisas e estabelecer critérios comparativos; • Criar um Núcleo de atenção à Crise • Criar um Núcleo de Ensino e Pesquisa do CAPS. O CAPS, apesar de recentemente implantado (março/2002) na cidade de São Carlos, já presta serviços a uma demanda considerável, uma vez que a cidade possui quase 200.000 habitantes e ainda é referência regional, atendendo então, não somente sua população, mas também a população das cidades vizinhas (como Ibaté, Água Vermelha, Dourado, Ribeirão Bonito, entre outras). O CAPS - São Carlos oferece tanto o serviço gratuito de fornecimento de medicamentos, de atendimento médico (diagnóstico psiquiátrico ou neurológico e “troca de receitas”) como atendimento psicológico, de enfermagem, de terapia ocupacional, de serviço social, de oficinas terapêuticas e até a permanência de determinados períodos do dia para os casos mais graves, dependendo do tratamento (intensivo e semi-intensivo). Centro de Saúde Já o Centro de Saúde II - Caconde, apesar de ter sofrido recentemente uma pequena reestruturação no Serviço de Saúde Mental, possui um tipo de serviço totalmente diferente do realizado nos CAPS em geral, pois oferece um serviço mais emergencial como fornecimento de medicamentos gratuitamente, consultas com médico psiquiatra (para diagnóstico e “troca de receitas”) e em alguns casos encaminhamento para o psicólogo. Além da diferença do tipo de serviço oferecido, é preciso destacar que a população atendida é bem menor, uma vez que a população de Caconde é de aproximadamente 20.000 habitantes e a cidade não é referência regional para nenhum assunto referente à saúde. Tendo em vista que as duas instituições apresentam diversas diferenças entre si, somente torna-se viável a realização de um estudo comparativo em relação ao tipo de encaminhamento oferecido aos usuários se todas essas diferenças puderem ser consideradas e explicitadas no estudo em questão, realizando, para isso, análise 28 do projeto para implantação e estruturação de ambos os tipos de serviços de atendimento aos doentes mentais; levantamento dos recursos terapêuticos oferecidos (como consultas médicas, psicoterapias, oficinas terapêuticas, entre outros); assim como análise dos prontuários dos usuários dos serviços. Participantes Participaram do estudo os usuários do Serviço de Saúde Mental do Centro de saúde II “Dr. Sebastião ribeiro do Valle”, além dos usuários intensivo e semiintensivo do CAPS através dos dados contidos nos prontuários, uma vez que não houve interação direta nem com os usuários nem com os prestadores de serviço, de qualquer forma que seja. Material Durante a fase de coleta de dados foram utilizadas várias cópias do instrumento-base para a análise dos prontuários, além dos prontuários em questão e caneta para as anotações. Para o tratamento dos dados foi utilizado microcomputador. Instrumento Foi estruturado um formulário específico (Anexo 1) para o estudo em questão. Este instrumento consta de vários dados levantados através dos prontuários dos usuários do CAPS – São Carlos e do Centro de Saúde II – Caconde, como o Serviço que está utilizando; número do prontuário; iniciais do usuário; sua idade; data de nascimento; local de nascimento (cidade, estado e país); endereço atual (bairro e cidade); escolaridade; profissão; data de admissão no serviço em questão; queixa de entrada; descrição dos principais sintomas; casos de antecedentes familiares; hipótese diagnóstica; medicação em uso; número de internações psiquiátricas, assim como locais e datas; outras doenças e/ou medicações associadas; se recebe benefício do INSS; quais os atendimentos terapêuticos recebidos como psicoterapia ou terapia ocupacional; qual a modalidade desses atendimentos terapêuticos recebidos, como em grupo, individual ou ambas; qual a freqüência (uma, duas ou três vezes/semana); se recebe acompanhamento psiquiátrico; se participa de alguma atividade terapêutica em oficinas, sendo que em caso positivo quais seriam essas oficinas; qual o último encaminhamento recebido, assim como sua data; a evolução clínica do usuário; outros achados não 29 contemplados pelas questões acima; data de consulta ao prontuário; nome da pesquisadora e assinatura da mesma. Procedimento Após a concordância de ambas as instituições por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 2) por seus responsáveis, o projeto foi enviado ao Comitê de Ética em Pesquisa da UFSCar (Anexo 3). Aprovado (Anexo 4), iniciou-se a fase de coleta de dados. A pesquisadora passou a ir diariamente nos serviços, durante um período de aproximadamente três meses, para coletar os dados dos prontuários. Para selecionar os prontuários dos usuários dos serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II - Caconde, foi necessário recorrer a um caderno onde eram agendadas as consultas com o psiquiatra, uma vez que não havia nenhuma outra fonte de registro dos usuários desse tipo de serviço. Sendo assim, foram anotados os nomes e os respectivos números de registro dos pacientes que receberam atendimento psiquiátrico de janeiro à julho de 2003, para que estes pudessem posteriormente ser analisados. No Centro de Saúde, a pesquisadora responsabilizou-se pela retirada e devolução dos prontuários, estando estes organizados de forma numericamente crescente. Já no CAPS – São Carlos, os prontuários dos usuários intensivos e semiintensivos estavam localizados em pastas específicas (denominadas Intensivo Feminino, Intensivo Masculino, Semi-intensivo Feminino e Semi-Intensivo Masculino), sendo que também havia uma atendente que localizava os prontuários que não se encontravam nessas pastas (caso de usuários que faleceram ou já haviam recebido alta). Com os prontuários em mãos, para cada usuário foi utilizado um instrumento de base de coleta de dados. No Centro de Saúde II – Caconde, esse preenchimento realizado invariavelmente em uma mesma sala de uso médico que se encontrava desocupada; bem iluminada, ventilada e com a porta fechada para evitar ruídos e interrupções. Já no CAPS – São Carlos, o preenchimento foi realizado em diversos locais, devido à não disponibilização de um local específico ou adequado para tal tarefa. Após serem coletados os dados de todos os prontuários disponíveis, estes foram sistematizados e analisados. 30 Com relação às hipóteses diagnósticas encontradas nos prontuários dos usuários dos serviços de Saúde mental do centro de Saúde II – Caconde, estas foram previamente classificadas segundo o Código Internacional de Doenças – 10, mais conhecido como CID-10 (Cooper, 1997) e posteriormente agrupadas em categorias maiores, sendo estas: • F00-F09: Transtornos mentais orgânicos, incluindo sintomáticos; • F10-F19: Transtornos mentais e de comportamento decorrentes do uso de substâncias psicoativas; • F20-F29: Esquizofrenia, transtorno esquizotípico e delirante; • F30-F39: Transtornos do humor (afetivos); • F40-F48: Transtornos neuróticos, relacionados ao estresse e somatoformes; • F50-F59: Síndromes comportamentais associadas a perturbações fisiológicas e fatores físicos; • F60-F69: Transtornos de personalidade e de comportamento em adultos; • F70-F79: Retardo mental; • F80-F89: Transtornos do desenvolvimento psicológico; • F90-F98: Transtornos emocionais e de comportamento com início usualmente ocorrendo na infância e adolescência; • F99: Transtorno mental, sem outra especificação; • OUTROS: outras condições da CID-10 freqüentemente associadas a transtornos mentais e de comportamento. Já os medicamentos foram classificados mediante categorias, segundo a tabela abaixo. 31 PRINCÍPIO ATIVO alprazolan amitriptilina biperideno bromazepan calman carbamazepina clobazam clomipramina clonazepan clordiazapóxido clorpromazina clozapina Complexo B diazepan digoxina fenitoína NOME COMERCIAL CLASSIFICAÇÃO frontal, aprax ansiolítico benzodiazepínico amitril, tryptanol antidepressivo akineton outros (antiparkinsonisano) lexotan, somalium ansiolítico fitoterápico ansiolítico tegretol estabilizador do humor frisium, urbanil ansiolítico, sedativo anafranil antidepressivo rivotril ansiolítico benzodiazepínico psicosedin ansiolítico benzodiazepínico amplictil antipsicótico leponex antipsicótico Complexo B outros (vitamínico) valium ansiolitico benzodiazepínico digoxina outros (digitálicos ou cardiotônicos) hidental outros (anticonvulsivante, antiepilético) fenobarbital gardenal outros (sedativo, hipnótico, anti convulsivatnte) fluoxetina prozac antidepressivo haloperidol haldol antipsicótico imipramina tofranil antidepressivo lítio carbolitium estabilizador do humor levomepromazina neozine antipsicótico levotiroxina tetroid outros (tireoideano) lorazepan lorax ansiolítico hipnótico nortriptilina pamelor antidepressivo olanzaprina zyprexa antipsicótico prometazina Fenergan, pamergan outros (anti-histamínico sistêmico) propanolol inderal outros (anti-hipertensivo, antihistamínico, betabloqueador) ranitidina antak outros (anti-ulceroso) risperidona risperidal antipsicótico sertralina zoloft antidepressivo tioridazina melleril antipsicótico trifluoperazina stelazine antipsicótico valproato de sódio depakene Estabilizador do humor, anti-convulsivante Diozenato, fenicure, fenilav ? ? Tabela 1: Classificação dos medicamentos encontrados nos prontuários dos usuários do Centro de Saúde II - Caconde e do CAPS – São Carlos. 32 V. RESULTADOS Os dados obtidos com o preenchimento do instrumento foram sistematizados e tabulados segundo as questões contidas na Base para análise de dados, e segundo o serviço em questão para depois serem construídos os gráficos. Os dados dos 287 prontuários dos usuários dos serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II - Caconde foram analisados segundo sexo, idade, endereço atual, escolaridade, profissão, data de admissão no serviço, queixa de entrada, antecedentes familiares, medicação em uso, hipótese diagnóstica, média de medicação por paciente, outras doenças associadas, número de internações psiquiátricas, se é aposentado ou não, se recebe ou recebeu atendimento psicoterapêutico, se recebe ou não acompanhamento psiquiátrico, se participa de oficinas e qual o último encaminhamento recebido. Os dados coletados encontramse apresentados nas tabelas 2 e 3, abaixo. 33 Sexo (287) Feminino Masculino Idade 0-10 11-20 21-30 31-40 41-50 51-60 61-70 71 ou mais Sem dados Endereço atual Água Branca Bela Vista Centro Cristais Jd dos Estados Nova Estância Sta Cruz Sta Lucia São José Várzea Rural Sem dados Escolaridade Analfabeto Fund. incompleto Fund. completo Médio incompleto Médio completo Superior incompleto Superior completo Sem dados Profissão Lavrador Costureira Doméstica Manicure Sem dados Data de Admissão 71-80 81-90 91-2000 2001 2002 2003 Sem dados Queixa de Entrada Dentista Exames Psiquiatra Receita méd. outros Sem dados/ilegível Qtde. Porcent 162 56,44% 125 43,55% 08 17 48 56 58 60 21 14 05 2,78% 5,92% 16,72% 19,51% 20,21% 20,90% 7,31% 4,87% 1,74% 14 31 13 16 43 01 23 04 13 17 73 49 4,87% 10,80% 4,53% 5,57% 14,98% 0,34% 8,01% 1,39% 4,53% 5,92% 25,43% 13,58% 01 13 06 01 01 --265 0,34% 4,53% 2,09% 0,34% 0,34% --92,33% 08 01 06 01 271 2,78% 0,34% 2,09% 0,34% 94,42% 40 143 71 10 08 07 08 13,93% 49,82% 24,73% 3,48% 2,78% 2,43% 2,78% 07 23 35 26 145 51 2,43% 8,01% 12,19% 9,06% 50,52% 17,77% Antecedentes famil. Pai Mãe Irmão(ã) Avô/avó Tio/tia Primo/prima Sem dados Medicação em uso Akineton Amitril Amitriptilina Amplictil Anafranil Bromazepan Calman Carbolitium Clomipramina Clorpromazina Complexo B Depakene Diazepan Digoxina Diozenato ? Fenergan Fenicure ? Fenilav ? Fenobarbital Fenitoína Fluoxetina Frisium Gardenal Haldol Imipramina Lorax Melleril Neozine Pamelor Propanolol Psicosedin Ramitidina Risperidona Rivotril Tegretol Tofranil Tryptanol Qtde. Porcent 01 0,34% 01 0,34% 02 0,69% ------283 98,60% 36 7,42% 08 1,65% 28 5,77% 33 6,80% 03 0,61% 01 0,20% 01 0,20% 03 0,61% 22 4,53% 01 0,20% 07 1,44% 01 0,20% 34 7,01% 01 0,20% 01 0,20% 32 6,60% 01 0,20% 01 0,20% 02 0,41% 02 0,41% 24 4,94% 01 0,20% 05 1,03% 88 18,14% 17 3,50% 01 0,20% 01 0,20% 35 7,21% 01 0,20% 04 0,82% 04 0,82% 01 0,20% 02 0,41% 06 1,23% 17 3,50% 08 1,65% 17 3,50% Sem dados (TOTAL) Média med/pac. 35 (485) 1,68 7,21% (100%) Média med/pacien 01 02 03 04 05 Sem dados Qtde. 118 74 47 07 06 35 Porcent 41,11% 25,78% 16,37% 2,43% 2,09% 12,19% Outras doenças Artrite/Artrose Anemia Bronq./Rinite/Sinusite Burcite Cardiopatia Déficite Auditivo Diabete Dor de cabeça cte. Gastrite/Úlcera Hanseníase Infecção urinária Labirintite Obesidade Osteoporose Hipertenção Arterial Pressão Baixa Tuberculose Nenhuma/Sem dados Prontuários c/ dados Média doença/pac. Internações psiq. 01 02 03 04 05 06 07 08 09 ou mais TOTAL DE PAC. IN. Sem dados EM 2003 Aposentado Sim Sem dados Atendimento Psicot. Recebe psicoterapia Já recebeu psicoterap. Acomp. Psiquiátrico Sim Não Oficinas Não Último encam. Psiquiatra Só Medicação Psicólogo Clínico geral Cardiologista Ginecologista Neurologista Ortopedista Otorrino Enfermagem Oficinas Terapêuticas Qtde. 06 03 12 05 08 03 14 03 39 01 02 01 04 04 36 02 03 167 120 1,21 Porcent 2,09% 1,04% 4,18% 1,74% 2,78% 1,04% 4,87% 1,04% 13,58% 0,34% 0,69% 0,34% 1,39% 1,34% 12,54% 0,69% 1,04% 58,18% 41,81% -- 19 6,62% 15 5,22% 08 2,78% 06 2,09% 02 0,69% 01 0,34% --02 0,69% 03 1,04% 56 19,51% 231 80,48% 10 3,48% 17 5,92% 270 94,07% 42 14,63% 24 8,36% 283 98,60% 04 1,40% 287 100% 90 31,35% 91 31,70% 23 8,01% 52 18,11% 04 1,39% 09 3,11% 01 0,34% 03 1,04% 04 1,39% 10 3,48% 22 7,66% Tabela 2: Tabulação dos dados obtidos com a análise dos prontuários do Centro de Saúde II Caconde. 34 HD CID Qtde HD CID Qtde Demência não especificada na Doença de Alzheimer. F 00.9 01 0,20% Transtorno somatoforme, não especificado F 44.9 20 4,02% 03 0,60% Transtorno de somatização F 45.0 07 1,41% 01 0,20% Transtorno doloroso somatoforme persistente F 45.4 01 0,20% F 05.9 01 0,20% F 45.9 22 4,42% F 06.2 01 0,20% Transtorno somatoforme, não especificado Neurastenia F 48.0 18 3,62% F 06.7 01 0,20% Síndrome de despersonalização F 48.1 04 0,80% F 06.9 04 0,80% Transtorno neurótico F 48.9 43 8,65% F 07.0 01 0,20% F 59. 0 e F 59.9 em F 59 01 01 0,40% F 07.9 06 0,30% Síndromes comportamentais associadas a perturbações fisiológicas e fatores físicos não especificados Transtorno de Personalidade paranóide F 60.0 06 1,21% F 09.9 em F 09 14 2,82% Personalidade dissocial F 60.2 01 0,20% F 10.0 06 1,21% Transtorno de personalidade, não especificado F 60.9 04 0,80% F 10.5 01 0,20% Elaboração de sintomas físicos por razões patológicas F 68.0 09 1,81% F 10.9 14 2,82% Produção intencional ou invenção de sintomas ou incapacidades físicas ou psicológicas (transtorno fictício) F 68.1 07 1,41% F 10.25 01 0,20% Retardo mental leve F 70.9 em F 70 03 0,60% F 19.5 01 0,20% Retardo mental moderado F 71.9 em F 71 03 0,60% F 19.9 01 0,20% Retardo mental grave F 72.9 em F 72 07 1,41% F 20.0 19 3,82% F 89.0 01 0,20% Esquizofrenia hebefrênica F 20.1 13 2,61% F 90.9 04 0,80% Esquizofrenia residual F 20.5 31 6,24% F 92.0 01 0,20% Esquizofrenia, não especificada F 20.9 11 2,21% F 92.9 01 0,20% Transtorno persistente delirante, não especificado F 22.9 08 1,61% F 98.9 06 1,21% 02 0,40% Transtorno não especificado do desenvolvimento psicológico Transtorno hipercinético, não especificado Transtorno depressivo de conduta e emoções, não especificado Transtorno misto de conduta e emoções, não especificado Transtornos emocionais e de comportamento com início usualmente ocorrendo na infância e adolescência, não especificados Transtorno mental, sem outra especificação F 99.0 15 3,02% 01 0,20% 12 02 12 5,23% Epilepsia G 40 03 0,60% 01 0,20% G 45 01 0,20% 01 0,20% Ataques isquêmicos cerebrais transitórios e síndromes relacionadas Isquemia cerebral transitória não especificada G 45.9 01 0,20% Endometriose do peritônio pélvico N 80.3 01 0,20% Demência não especificada Síndrome amnésica orgânica não induzida pelo álcool ou por outras substâncias psicoativas Delirium não especificado Transtorno delirante (esquizofreniforme) orgânico Transtorno cognitivo leve Transtorno mental decorrente de lesão e disfunção cerebrais e de doença física, não especificado Transtorno orgânico de personalidade Transtorno mental decorrente de doença, lesão e disfunção cerebrais, não especificada Transtorno mental orgânico ou sintomático não especificado Transtornos mentais e de comportamentos decorrentes do uso de álcool Transtornos mentais e de comportamentos decorrentes do uso de álcool com trantorno psicótico (esquizofreniforme) Transtornos mentais e de comportamentos decorrentes do uso de álcool com transtornos mentais não especificados Uso continuo de álcool Transtornos mentais e de comportamentos decorrentes do uso de múltiplas drogas e do uso de outras substâncias psicoativas com transtorno psicótico (esquizofreniforme) Transtornos mentais e de comportamentos decorrentes do uso de múltiplas drogas e do uso de outras substâncias psicoativas com transtorno mental e de comportamento, não especificado. Esquizofrenia paranóide Transtorno delirante induzido Outros transtornos psicóticos não orgânicos Psicose não-orgânica, não especificada Mania sem sintomas psicóticos Transtorno afetivo bipolar, episódio atual maníaco com sintomas psicóticos Transtorno afetivo bipolar, não F 03.5 e F 03.9 em F 03 F 04.9 Em F 04 F 24.0, F 24.9 em F 24 F 28.5 em F 28 F 29.0, F 29.1 e F 29.9 em F 29 F 30.1 F 31.1 F 31.9 02 Porcent. % Porcent. 35 especificado Episódio depressivo leve Episódio depressivo moderado Episódio depressivo grave, sem sintomas psicóticos Episódio depressivo, não especificado Transtorno depressivo recorrente, episódio atual leve Distimia Transtorno do humor (afetivo) não especificado Agorafobia Fobias sociais Transtorno fóbico-ansioso, não especificado Transtorno de pânico (ansiedade paroxística episódica) Transtorno de ansiedade, não especificado TOC predominantemente pensamentos obsessivos ou ruminantes TOC pensamentos e atos obsessivos mistos TOC, não especificado Reação aguda a estresse Reação a estresse grave, não especifcada Amnésia dissociativa Fuga dissociativa Convulsões dissocativas Transtorno dissociativo (ou conversivo) não especificado F 32.0 F 32.1 F 32.2 07 01 02 1,41% 0,20% 0,40% F 32.9 F 33.0 07 01 1,41% 0,20% F 34.1 F 39.0, F 39.2 e F 39.9 em F 39 F 40.0 F 40.1 F 40.9 03 01 01 02 0,60% 07 04 21 F 41.0 CLASSIFICAÇÃO INEXISTENTE NA CID-10 -- 23 F 07.6 01 F 25.5 F 26.5 01 01 1,41% 0,80% 4,22% F 32.5 F 35.5 F 40.5 02 02 03 02 0,40% F 43.5 01 F 41.9 08 1,61% F 45.5 01 F 42.0 01 0,20% F 47.9 01 F 42.2 01 0,20% F 48.2 01 F 42.9 F 43.0 F 43.9 04 02 04 0,80% 0,40% 0,80% F 48.5 F 58.2 F 58.5 06 01 01 F 44.0 F 44.1 F 44.5 F 44.7 01 01 03 01 0,20% 0,20% 0,60% 0,20% F 90.2 01 -- 25 4,63% 0,80% sem HD 5,03% Tabela 3: Tabulação das hipóteses diagnósticas obtidas com a análise dos prontuários do Centro de Saúde II - Caconde. Já os dados dos 66 prontuários dos usuários CAPS – São Carlos foram analisados segundo o tipo de acompanhamento recebido, sexo, idade, endereço atual, escolaridade, profissão, data de admissão no serviço, antecedentes familiares, medicação em uso, hipótese diagnóstica, média de medicação por paciente, outras doenças associadas, número de internações psiquiátricas, se é aposentado ou não, se recebe ou recebeu atendimento psicoterapêutico, se recebe ou não acompanhamento psiquiátrico, se participa de oficinas e qual o tipo, além do último encaminhamento recebido, como pode ser visto nas tabelas 4 e 5, abaixo. 36 Acompanhamento 66 Qtde. Porcent Intensivo 31 47% Semi-Intensivo 20 30% Saiu do CAPS 15 23% Sexo Feminino 27 41% Masculino 39 59% Idade 0-10 --11-20 02 3% 21-30 19 29% 31-40 18 27% 41-50 19 29% 51-60 04 6% 61-70 02 3% 71 ou mais --Sem dados 02 3% Endereço atual Antenor Garcia 1 1,5% Arnon de Melo 1 1,5% Bela Vista 4 6,0% Centro 5 7,5% Cidade Aracy 5 7,5% Jd Bandeirantes 2 3,0% Jd Botafogo 1 1,5% Jd Cruzeiro do Sul 1 1,5% Jd Itamaraty 1 1,5% Jd Jacobucci 1 1,5% Jd Monte Carlo 2 3,0% Jd São João Batista 2 3,0% Jd Tangará 3 4,5% Jockey Clube 2 3,0% Mª Estela Fagá 2 3,0% Pacaembu 2 3,0% Pq dos Tamborins 1 1,5% Romeu Tortorelli 1 1,5% Sta Felícia 2 3,0% Sta Paula 1 1,5% Tijuco Preto 1 1,5% Vila Alpes 1 1,5% Vila Carmem 1 1,5% Vila Conceição 1 1,5% Vila Elizabeth 2 3,0% Vila Marcelino 1 1,5% Vila Nery 6 9,1% Vila Prado 7 10,0% Vila São José 2 3,0% Sem dados 4 6,0% Operador de máquina Pedreiro Secretária Técnico Sem dados Data de Admissão 1º sem. 2002 2º sem 2002 1º sem. 2003 2º sem. 2003 Sem dados Anteced. famil. Pai Mãe Irmão(ã) Avô/avó Tio/tia Primo/prima Qtde. Porcent 1 1,5% 2 3,0% 1 1,5% 2 3,0% 52 78,0% 47 08 09 01 01 71,2% 12,1% 13,6% 1,5% 1,5% Média med/pacien 01 02 03 04 05 Sem dados Outras doenças Prontuários c/ dados Alergia Anemia Bronq./Rinite/Sinusite Gastrite Hipertenção Arterial Tendinite Nenhuma/ sem dados Média doença/pac. Intern. psiq. Várias (s/ especific.) 01 Sem dados 02 03 Medicação em uso 04 Akineton 03 1,67% 05 Alprazolan 01 ,55% 06 Amitriptilina 04 2,23% 08 Amplictil 03 1,67% 13 Biperideno 04 2,23% 15 Carbamazepina 06 3,35% 24 Carbolitium 04 2,23% Sem dados Clomipramina 01 0,55% Aposentadoria Clonazepan 01 0,55% Sim Clorpromazina 08 4,46% Sem dados Clozapina 02 1,11% Atend. Terapêuticos Depakene 02 1,11% Psicoterapia indiv. Diazepan 25 13,96% T.O. individual Fenergan 04 2,23% T.O. em grupo Fenobarbital 03 1,67% Já recebeu psicot. Fenitoína 02 1,11% Já T.O. Fluoxetina 14 7,82% Já participou oficina Gardenal 01 0,55% Oficina Haldol 19 10,61% Sim Haloperidol 08 4,46% Não Hidental 01 0,55% Tipos (126 no Total) Imipramina 04 2,23% Bijuteria Melleril 03 1,67% Biscuit Neozine 07 3,91% Bordado Pamergan 01 0,55% Cestaria Prometazina 11 6,14% Coral Escolaridade Risperidona 11 6,14% Dança Fund. incompleto 03 4,5% Rivotril 06 3,35% Expressão corporal Fund. completo 07 10,6% Sertralina 01 0,55% Improvisação cênica Médio incompleto 08 12,1% Stelazina 01 0,55% Jornal Médio completo 10 15,1% Tegretol 03 1,67% Literatura Superior incompleto --Tetnoid 01 0,55% Mosaico Superior completo 01 1,5% Tofranil 01 0,55% Pintura Sem dados 37 56% Tryptanol 01 0,55% Tai-chi Umbanil 01 0,55% Acomp. Psiq. Não Profissão Valproato 01 0,55% Sim Ajudante geral 1 1,5% Zyprexa 01 0,55% Último encaminham. Auxiliar de prod. 1 1,5% Psiquiatra Balconista 2 3,0% Sem dados 09 5,02% Só Medicação Funcionário Público 1 1,5% Oficina Guarda 1 1,5% (TOTAL) (179) (100%) T.O. Jardineiro 1 1,5% Enfermagem Manicure 1 1,5% Média medicação/pac. 2,71 -Neurologista Tabela 4: Tabulação dos dados obtidos com a análise dos prontuários do CAPS – São Carlos. 2 -3 1 --60 3,0% -4,5% 1,5% --90,9% Qtde. Porcent 01 1,5% 20 30,3% 16 24,2% 16 24,2% 04 6,0% 09 13,6% 12 02 01 03 03 06 01 54 1,33 18,20% 12,50% 6,25% 18,75% 18,75% 37,50% 6,25% 81,80% -- 05 08 02 01 02 02 01 01 01 01 01 41 7,6% 12,1% 3,0% 1,5% 3,0% 3,0% 1,5% 1,5% 1,5% 1,5% 1,5% 62,1% 12 54 18,2% 81,8% 02 01 14 03 03 04 3,0% 1,5% 21,2% 4,5% 4,5% 6,0% 47 19 71,2% 28,8% 01 01 04 05 08 06 25 15 11 24 01 24 01 -66 0,8% 0,8% 3,2% 4,0% 6,3% 4,8% 19,8% 11,9% 8,7% 19,0% 0,8% 19,0% 0,8% -100% 34 02 12 05 12 01 51,5% 3,0% 18,2% 7,5% 18,2% 1,5% 37 HD CID Qtde Alucinose orgánica Transtorno orgânico de personalidade Transt. mentais e de comportamento decorrentes do uso de álcool Transt. mentais e de comportamento decorrentes do uso de álcool, atualmente abstinente Transt. mentais e de comportamento decorrentes do uso de solventes voláteis Transt. mentais e de comportamento decorrentes do uso de múltiplas drogas e de uso de outras substâncias psicoativas Esquizofrenia paranóide Esquizofrenia catatônica Esquizofrenia indiferenciada Esquizofrenia residual Esquizofrenia simples Transtorno esquizotípico Transtorno delirante Transtorno psicótico polimórfico agudo sem sintomas de esquizofrenia Transtorno psicótico esquizofreniforme agudo Transtorno esquizoafetivo, tipo maníaco Psicose não orgânica, não especificada Transtorno bipolar, episódio atual hipomaníaco Transtorno bipolar, episódio atual maníaco sem sintomas psicóticos Transtorno bipolar, episódio atual depressivo Transt. bipolar, episódio atual depressivo grave com sintomas psicóticos Transtorno bipolar, episódio atual misto Episódio depressivo leve Episódio depressivo moderado Episódio depressivo grave sem sintomas psicóticos Episódio depressivo grave com sintomas psicóticos Transtorno depressivo recorrente, episódio atual leve Transtorno depressivo recorrente, episódio atual grave sem sintomas psicóticos Transtorno depressivo recorrente, não especificado Ciclotimia Agorafobia TOC predominantemente atos compulsivos (rituais obsessivos) Neurastenia Transtorno de personalidade paranóica Transtorno de personalidade emocionalmente instável Retardo mental leve Retardo mental moderado com comprometimento significativo de comportamento requerendo atenção ou tratamento Retardo mental grave F 06.0 F 07.0 F 10.0 F 10.2 01 01 02 03 1,12% 1,12% 2,25% 3,37% F 18.0 F 19.0 01 02 1,12% 2,25% F 20.0 F 20.2 F 20.3 F 20.5 F 20.6 F 21.0 F 22.0 F 23.0 F 23.2 F 25.0 F 29.0 F 31.0 F 31.1 F 31.2 F 31.5 F 31.7 F 32.0 F 32.1 F 32.2 F 32.3 F 33.0 F 33.2 F 33.9 F 34.0 F 40.0 F 42.1 F 48.0 F 60.0 F 60.3 F 70.0 F 71.1 23 01 01 01 01 01 01 01 01 01 02 02 01 03 01 03 03 02 02 03 03 02 01 01 01 01 01 01 02 01 01 25,84% 1,12% 1,12% 1,12% 1,12% 1,12% 1,12% 1,12% 1,12% 1,12% 2,25% 2,25% 1,12% 3,37% 1,12% 3,37% 3,37% 2,25% 2,25% 3,37% 3,37% 2,25% 1,12% 1,12% 1,12% 1,12% 1,12% 1,12% 2,25% 1,12% 1,12% F 72.0 01 1,12% Epilepsia G 40.0 02 2,25% sem HD -- 07 7,86% Porcent. Tabela 5: Tabulação hipóteses diagnósticas obtidas com a análise dos prontuários do CAPS – São Carlos. 38 Após agrupar os dados em tabelas, como demonstrado acima, os mesmos foram analisados através de uma comparação entre os gráficos, item a item, para ambos os serviços: Centro de Saúde II - Caconde e CAPS – São Carlos. Com relação à data de admissão no serviço, pode-se notar que no Centro de Saúde II – Caconde houve um pico entre os anos de 1981 e 1990 (49,82%) e no CAPS – São Carlos a taxa de admissão foi alta logo no início (71,2%), decaindo continuamente até os dias de hoje. Isso pode ser observado nas figuras 1 e 2, Porcentagem abaixo. 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 71-80 81-90 912000 2001 2002 2003 Sem dados Data de admissão no serviço Porcentagem Figura 1: Data de admissão dos usuários no Centro de Saúde II - Caconde. 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 1º sem. 2002 2º sem 2002 1º sem. 2003 2º sem. 2003 Data de admissão no serviço Figura 1: Data de admissão dos usuários no CAPS – São Carlos. Sem dados 39 Como era de se esperar, foi constatado que o Centro de Saúde II – Caconde oferece exclusivamente um acompanhamento ambulatorial (100%), enquanto o CAPS – São Carlos oferece acompanhamento intensivo (47%), semi-intensivo (30%) e já proporcionou até algumas altas aos usuários (23%), como mostra as figuras 3 e 4, abaixo. 100 90 Porcentagem 80 70 60 50 40 30 20 10 0 ambulatorial outros Acompanhamento Porcentagem Figura 3: Tipos de encaminhamentos recebidos pelos usuários do Centro de Saúde II - Caconde. 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Intensivo Semi-Intensivo Recebeu alta Acompanhamento Figura 4: Tipos de encaminhamentos recebidos pelos usuários do CAPS – São Carlos. 40 A distribuição dos sexos entre a população usuária de ambos os serviços de Saúde mental não apresentou-se muito discrepante. No Centro de Saúde II – Caconde, a quantidade de usuários do sexo feminino (56,44%) foi um pouco maior que os do sexo masculino (43,55%). Já no CAPS – São Carlos foi verificado o contrário; o número de usuários do sexo feminino (41%) foi um pouco menor que o Porcentagem de usuários do sexo masculino (59%), como demonstrado nas figuras 5 e 6, abaixo. 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Feminino Masculino Sexos Porcentagem Figura 5: Distribuição dos sexos dos usuários do Centro de Saúde II - Caconde. 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Feminino Masculino Sexos Figura 6: Distribuição dos sexos dos usuários do CAPS – São Carlos. 41 No Centro de Saúde II – Caconde, os usuários dos serviços de Saúde Mental encontram-se predominantemente na faixa etária que vai dos 21 aos 60 anos (77,35%), enquanto que no CAPS – São Carlos a faixa etária predominante dos usuários é de 21 à 50 anos (85%). Isso pode ser observado nas figuras 7 e 8, abaixo. 100 Porcentagem 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 0-10 11 -- 20 21-30 31-40 41-50 51-60 61-70 71 ou mais Sem dados Faixa Etária Figura 7: Distribuição da faixa etária dos usuários do Centro de Saúde II - Caconde. 100 Porcentagem 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 0-10 11 -- 20 21-30 31-40 41-50 51-60 Faixa etária Figura 8: Distribuição da faixa etária dos usuários do CAPS – São Carlos. 61-70 71 ou mais Sem dados 42 Observa-se que enquanto os usuários dos serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II – Caconde residem tanto na zona urbana (61,99%) quanto na zona rural (25,43%), os usuários do CAPS residem exclusivamente na zona urbana (94,00%), sem contar, é claro, com os prontuários nos quais esse dado não constava, fato que teve maior incidência no Centro de Saúde II – Caconde (13,58%) Pocentagem que no CAPS – São Carlos (6,00%), como mostram as figuras 9 e 10, abaixo. 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 zona urbana zona rural sem dados Endereço atual Porcentagem Figura 9: Endereço atual dos usuários do Centro de Saúde II – Caconde. 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 zona urbana zona rural Endereço atual Figura 10: Endereço atual dos usuários do CAPS – São Carlos. sem dados 43 Devido à falta de informações nos prontuários dos usuários de ambos os serviços, os dados obtidos no que diz respeito ao nível de escolaridade não foram muito significativos, uma vez que tanto no Centro de saúde II – Caconde quanto no CAPS – São Carlos a maior parte dos prontuários não tinham esse tipo de informação (92,33% e 56,00%, respectivamente), como pode ser observado nas Sem dados Superior completo Superior incompleto Médio completo Médio incompleto Fund. Completo Fund. Incompleto 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Não Alfab. Pocentagem figuras 11 e 12, abaixo. Nível de Escolaridade Nível de Escolaridade Figura 12: Nível de escolaridade dos usuários do CAPS – São Carlos. Sem dados Superior completo Superior incompleto Médio completo Médio incompleto Fund. completo Fund. incompleto 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Não Alfab. Porcentagem Figura 11: Nível de escolaridade dos usuários do Centro de Saúde II - Caconde. 44 Como pode ser observado nas figuras 13 e 14, abaixo, os usuários do CAPS – São Carlos possuem profissões mais diversificadas que as dos usuários dos serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II – Caconde, mas ambos os serviços possuem muito pouca informação desse tipo nos prontuários, uma vez que a maioria tanto do Centro de Saúde II – Caconde quanto do CAPS – São Carlos não possuem da do s Se m M C os tu re ira an ic ur e 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 La vr ad or Porcentagem esse tipo de dado (94,42% e 78,00%, respectivamente). Profissões Profissões Figura 14: Profissões dos usuários CAPS – São Carlos. da do s Se m Pe dr ei ro G u Ja ard rd a in M eiro an ic ur e 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Aj u Au dan xi te lia g r d era e l Ba pro lc d. on is ta Porcentagem Figura 13: Profissões dos usuários dos serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II – Caconde. 45 Os antecedentes familiares também não indicam dados muito significativos pelo mesmo motivo do nível de escolaridade; a falta de informação nos prontuários tanto dos usuários do Centro de Saúde II – Caconde quanto dos usuários do CAPS – São Carlos foi muito grande (98,6-% e 90,90%, respectivamente), como demonstrado nas figuras 15 e 16, abaixo. 100 90 Porcentagem 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Pai Mãe Irmão(ã) Avô/avó Tio/tia Primo/prima Sem dados Antecedentes familiares im o/ pr im a Se m da do s Pr Ti o/ tia 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Pa i Porcentagem Figura 15: Antecedentes familiares dos usuários Centro de Saúde II – Caconde, com problemas psiquiátricos. Antecedentes Familiares Figura 16: Antecedentes familiares dos usuários do CAPS – São Carlos, com problemas psiquiátricos. 46 Como pode ser observado nas figuras 17 e 18, abaixo, o Centro de Saúde II – Caconde possui maior número de usuários diagnosticados nas categorias F20-F29 (22,33%) e F40-F48 (35,21%), enquanto o CAPS - São Carlos possui maior número de usuários diagnosticados nas categorias F20-F29 (38,20%) e F30-F39 (30,33%). O Centro de Saúde não possui nenhum usuário diagnosticado nas categorias F80F89, enquanto o CAPS – São Carlos não possui nenhum usuários diagnosticado nas categorias F50-F59, F80-F89, F90-F98, F99, nem hipótese diagnóstica sem classificação segundo a CID-10, diferente dos dados obtidos no Centro de Saúde II – Caconde que apresentam hipóteses diagnósticas sem classificação segundo a Porcentagem CID-10 (4,63%). 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 F00F09 F10F19 F20F29 F30F39 F40F48 F50F59 F60F69 F70F79 F80F89 F90F98 F99 Outros Sem Sem class. HD Hipóteses Diagnósticas Figura 17: Hipóteses Diagnósticas dos usuários dos serviços de Saúde Mental do centro de Saúde II – Caconde. Pocentagem 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 F00F09 F10F19 F20F29 F30F39 F40F48 F50F59 F60F69 F70F79 F80F89 Hipóteses Diagnósticas Figura 18: Hipóteses Diagnósticas dos usuários CAPS – São Carlos. F90F98 F99 Outros Sem Sem class. HD 47 Os tipos de medicamentos encontrados nos prontuários dos usuários dos serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II – Caconde e do CAPS – São Carlos foram organizados previamente segundo a Tabela 1 (pp. 31) e logo depois agrupados segundo sua classificação, como está demonstrado na tabela 6, abaixo. MEDICAÇÃO – Centro de Saúde II MEDICAÇÃO (485) qtde porc. ANTIPSICÓTICOS clorpromazina haloperidol tioridazina levomeprazina risperidona TOTAL 34 88 01 35 02 160 7,01% 18,14% 0,20% 7,21% 0,41% 32,99% ANTIDEPRESSIVOS amitriptilina clomipramina fluoxetina imipramina nortriptilina TOTAL 53 25 24 25 01 128 10,92% 5,15% 4,94% 5,15% 0,20% 26,39% ANSIOLÍTICOS bromazepan calman diazepan clobazam lorazepan clordiazepóxido clonazepan TOTAL 01 01 34 01 01 04 06 48 0,20% 0,20% 7,01% 0,20% 0,20% 0,82% 1,23% 9,96% ESTAB. DO HUMOR litio valproato carbamazepina TOTAL 03 01 17 21 0,61% 0,20% 3,50% 4,32% OUTROS biperideno Complexo B digoxina prometazina fenobarbital fenitoína propanolol ranitidina TOTAL 36 07 01 32 07 02 04 01 90 7,42% 1,44% 0,20% 6,60% 1,44% 0,41% 0,82% 0,20% 18,55% Diozenato, Fenicure, Fenilav 03 0,61% SEM DADOS 35 7,21% MEDICAÇÃO – CAPS MEDICAÇÃO (179) qtde ANTIPSICÓTICOS clorpromazina haloperidol tioridazina levomeprazina risperidona clozapina trifluoperazina olanzaprina TOTAL 11 27 03 07 11 02 01 01 63 6,14% 15,08% 1,67% 3,91% 6,14% 1,11% 0,55% 0,55% 35,19% ANTIDEPRESSIVOS amitriptilina clomipramina fluoxetina imipramina sertralina TOTAL 05 01 14 05 01 26 2,79% 0,55% 7,82% 2,79% 0,55% 14,52% ANSIOLÍTICOS alprazolan diazepan clonazepan clobazam TOTAL 01 25 07 01 34 0,55% 13,96% 3,91% 0,55% 18,99% ESTAB. DO HUMOR carbamazepina litio valproato TOTAL 09 04 03 16 5,02% 2,23% 1,67% 8,93% OUTROS biperideno prometazina fenobarbital fenitoína levotiroxina TOTAL 07 16 04 03 01 31 3,91% 8,93% 2,23% 1,67% 0,55% 17,31% 09 5,02% porc. - SEM DADOS Tabela 6: Classificação dos princípios ativos dos medicamentos encontrados nos prontuários dos usuários do Centro de Saúde II – Caconde e do CAPS - São Carlos. 48 A partir dessa classificação é possível notar que os usuários dos serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II – Caconde utilizam mais antipsicóticos (32,99%), seguido de antidepressivos (26,39%), outros medicamentos (18,55%), ansiolíticos (9,96%) e estabilizadores do humor (4,32%). Já no CAPS – São Carlos faz-se mais uso de antipsicóticos (35,19%), seguido de ansiolíticos (18,99%), outros medicamentos (17,31%), antidepressivos (14,52%) e estabilizadores do humor da do s m Se Se m cl as s. ut ro s O Hu do es ad or Es ta bi liz An m or 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 tid ep re ss iv os Porcentagem (8,93%), como pode ser observado nas figuras 19 e 20, abaixo. Tipo de Medicação Tipo de Medicação Figura 20: Medicações prescritas aos usuários do CAPS – São Carlos. da do s m Se Se m cl as s. ut ro s O H do es ad or Es ta bi liz An um or 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 tid ep re ss iv os Porcentagem Figura 19: Medicações prescritas aos usuários dos serviços de Saúde mental do Centro de Saúde II – Caconde. 49 Além das hipóteses diagnósticas que dizem respeito à Saúde Mental dos usuários, também foram coletados dados sobre doenças associadas. Como pode ser observado nas figuras 21 e 22, abaixo, os usuários do Centro de Saúde II – Caconde também sofrem muito de hipertensão arterial (12,54%) e gastrite/úlcera (13,58%), enquanto os usuários do CAPS – São Carlos também sofrem muito de hipertensão arterial (37,50%) e gastrite (18,75%), mas também sofrem de doenças Tu um ber a/ cul Se os e m da do s bi r O intit be e O sida st eo de po ro se e et ia b La /R Ne Br on nh q. Ar tr i te D os An e in e i te m i a /S in us it Bu e r Ca ci r d te io pa ti a 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 /A r tr Porcentagem do aparelho respiratório como bronquite, rinite e sinusite (18,75%). Outras doenças associadas s da do ni te di se m Te n /S in u te a/ m en hu N Br on q ./R in i G as tr i te ia m An e Al er si te 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 gi a Porcentagem Figura 21: Outras doenças associadas às doenças mentais dos usuários do Centro de Saúde II Caconde. Outras doenças associadas Figura 22: Outras doenças associadas às doenças mentais dos usuários do CAPS – São Carlos. 50 Com relação ao número de internações psiquiátricas, há muito mais registro de internação de usuários do CAPS – São Carlos, tanto em número de vezes por paciente, pois há caso de paciente que chegou a ser internado 24 vezes, quanto com relação ao total de usuários uma vez que 37,70% dos usuários já foram internados pelo menos 1 vez. Enquanto que no Centro de Saúde II – Caconde os dados encontrados nos prontuários apontam que o número de internações não é tão grande nem em número de vezes por paciente, pois chegou a 12 vezes, nem para o número total de usuários, uma vez que 19,51% dos usuários já foram internados pelo menos 1 vez, sendo que dessas, 3,48% foram realizadas em 2003 (no período de janeiro à julho). 100 Porcentagem 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 1 2 3 4 5 6 7 8 09 ou mais Total Sem dados Em 2003 Internações Psiquiátricas Figura 23: Internações Psiquiátricas dos usuários dos serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II - Caconde. 100 Porcentagem 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Várias 1 2 3 4 5 6 8 13 Internações Psiquiátricas Figura 24: Internações Psiquiátricas dos usuários do CAPS – São Carlos. 15 24 Total Sem dados 51 Também pôde ser verificado que a maioria dos usuários de ambos os serviços não recebem aposentadoria, ou pelo menos não há registro nos prontuários, sendo que os registros encontrados foram em quantidades muito pequenas tanto para o Centro de Saúde II – Caconde (5,92%) quanto para o CAPS – São Carlos (18,2%), sendo maior neste que naquele. As figuras 25 e 26, abaixo, Pocentagem ilustram essa situação. 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Sim Sem dados Recebe Aposentadoria Porcentagem Figura 25: Usuários dos serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II - Caconde que recebem aposentadoria ou não. 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Sim Sem dados Recebe Aposentadoria Figura 26: Usuários do CAPS – São Carlos que recebem aposentadoria ou não. 52 No que diz respeito aos atendimentos terapêuticos recebidos pode-se observar que os usuários dos serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II – Caconde só dispõem do serviço de psicoterapia individual, 1 vez por semana, podendo ser divididos em quem está recebendo psicoterapia, independente de já ter recebido antes ou não (14,63%) e quem já recebeu por algum período (8,36%). Os prontuários que não apresentavam qualquer dado dessa espécie (77,01%) foram considerados como se os usuários não recebessem nenhum tipo de atendimento terapêutico. Já o CAPS – São Carlos oferece para seus usuários não só o serviço de psicoterapia individual, como também terapia ocupacional individual, terapia ocupacional em grupo e oficinas. Pode ser observado que o atendimento de maior coro é o de terapia ocupacional em grupo (21,20%), seguido de psicoterapia individual (3,00%) e depois por terapia ocupacional em grupo (1,50%). Ainda podese agrupar os usuários em grupos de quem no momento não está recebendo nenhum tipo de atendimento, mas algum dia já recebeu por algum período na instituição psicoterapia (4,50%), terapia ocupacional (4,50%) ou já participou de alguma oficina terapêutica (6,00%). Porcentagem Essa situação pode ser melhor observada nas figuras 27 e 28, abaixo. 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Recebe psicoterapia Já recebeu psicoterapia Sem dados Atendimentos Terapêuticos Porcentagem Figura 27: Usuários dos serviços de Saúde Mental que recebem atendimento terapêutico no Centro de Saúde II - Caconde. 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Psicoterapia indiv. T.O. individual T.O. em grupo Já recebeu psicot. Atendimentos Terapêuticos Figura 28: Usuários que recebem atendimento terapêutico no CAPS – São Carlos. Já T.O. Já participou oficina 53 No que diz respeito à participação em oficinas foi constatado no Centro de Saúde II – Caconde que nenhum usuário recebe esse tipo de terapia, enquanto que no CAPS – São Carlos a maioria dos usuários participam de algum tipo de oficina Porcentagem terapêutica (71,20%), como pode ser notado nas figuras 29 e 30, abaixo. 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 sim não Participação em Oficinas Porcentagem Figura 29: Usuários do Centro de Saúde II - Caconde que participam de Oficinas Terapêuticas. 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Sim Não Participação em Oficinas Figura 30: Usuários do CAPS – São Carlos que participam de Oficinas Terapêuticas. 54 Com relação aos tipos de oficinas oferecidas aos usuários dos CAPS – São Carlos, segundo a figura 31 abaixo, estas são muito variadas, mas a mais freqüentada é a oficina de Expressão Corporal (19,80%), seguida pela de Pintura e Literatura (19,00% cada), Improvisação Cênica (11,90%), Jornal (8,70%), Coral (6,30%), Dança (4,80%), Cestaria (4,00%), Bordado (3,20%), Bijuteria, Biscuit, Mosaico e Tai-chi (0,80% cada). 100 Porcentagem 90 80 70 60 50 40 30 20 10 hi Ta i- c Pi nt ur a ra ic o M os a l Li te ra tu Jo rn a C or al it Bo rd ad o C es ta ria Bi sc u Bi ju te r ia 0 Tipos de Oficinas Figura 31: Tipos de Oficinas das quais participam os usuários do CAPS – São Carlos. Por último, foram coletados dados que dissessem respeito ao último encaminhamento recebido nas instituições. Os dados obtidos demonstram que em ambos os serviços a maior parte dos usuários consultaram o psiquiatra, sendo que no Centro e Saúde II – Caconde à consulta com médico psiquiatra (31,35%) seguese de fornecimento de medicação (31,70%), consulta com o clínico geral (18,11%), terapia com o psicólogo (8,01%), atendimento pelo pessoal da enfermagem (3,48%), consulta com médico ginecologista (3,11%), consulta com médico cardiologista (1,39%), consulta com médico otorrinolaringologista (1,39%), consulta com médico ortopedista (1,04%) e por último, consulta com médico neurologista. Já no CAPS – São Carlos, pôde ser observada que a variação dos encaminhamentos foi menor, sendo eles consulta com médico psiquiatra (51,50%), atendimento pelo pessoal da enfermagem e participação de oficinas terapêuticas 55 (18,20% cada), atendimento de terapeuta ocupacional (7,50%), fornecimento de medicação (3,00%) e por último, consulta com médico neurologista. En fer ma ge m or rin o Ot Ca rd iol og ist a Gi ne co log is t a Ne ur olo gis ta Or top ed ist a 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Ps iqu iat ra Porcentagem Esses dados estão ilustrados nas figuras 32 e 33, abaixo. Último encaminhamento recebido eu ro lo gi st a N En fe rm ag em T. O . O fic in a 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Ps iq ui at ra Porcentagem Figura 32: Último encaminhamento recebido pelos usuários dos serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II – São Carlos. Último encaminhamento recebido Figura 33: Último encaminhamento recebido pelos usuários do CAPS –São Carlos. 56 Os itens da Base para análise dos prontuários que diziam respeito à local de nascimento (cidade, estado e país) e queixa de entrada não puderam ser analisados uma vez que os prontuários dos usuários do CAPS – São Carlos não dispunham desses dados e os prontuários dos usuários dos serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II - Caconde dispunham o local de nascimento em pouca quantidade (20,55%, sendo 13,94% nascidos em Caconde; 1,39% em outras cidades do estado de São Paulo; 4,18% em cidades do estado de Minas Gerais e 1,04 em cidades do estado do Paraná) e os dados referentes à queixa de entrada eram os mais diversos possíveis, uma vez que a instituição oferece uma gama muito variada de atendimento à população, sendo inviável a classificação dos mesmos. 57 VI. DISCUSSÃO A maior disponibilidade de recursos, não só no que diz respeito ao interesse pela pesquisa, disponibilização dos prontuários, mas também de uma sala para consulta dos mesmos, oferecida pelo Centro de Saúde II – Caconde, facilitou o desenvolvimento do estudo, em detrimento do CAPS – São Carlos, no qual o aparente desinteresse pela pesquisa em si, considerando o estudo somente como uma fonte de dados levantados por uma pessoa que substituiria o trabalho que poderia ser realizado por qualquer funcionário interno, a indiferença de alguns funcionários da instituição, a dificuldade na retirada dos prontuários e a não disponibilização de uma sala ou de algum lugar onde a pesquisadora tivesse melhores condições para a coleta dos dados dificultou e atrasou o desenvolvimento do presente estudo. No que diz respeito aos resultados obtidos, o que pôde ser observado inicialmente foi a enorme diferença entre a quantidade de prontuários analisados no Centro de Saúde II – Caconde (287) e os do CAPS – São Carlos (66), ou seja, a quantidade de usuários de cada instituição, fato esse já esperado devido ao tipo de atendimento oferecido por cada uma delas. Com relação à data de admissão, foi constatado que no Centro de Saúde II – Caconde houve um pico entre os anos de 1981 e 1990, podendo ser explicado pelo fato do atendimento público à saúde ter deixado de ser oferecido apenas às crianças, passando à população em geral, mesmo que exclusivamente ambulatorial. No CAPS – São Carlos, a maior taxa de admissão encontra-se no 1º semestre do ano de 2002, época esta em que a instituição foi inaugurada (março/2003). Isso demonstra que a rotatividade de usuários não tem sido muito alta (23% dos usuários deste serviço receberam alta), ou seja, eles têm permanecido durante um período longo de tempo na instituição, ainda mais se considerarmos que a maioria dos usuários são acompanhados de maneira intensiva (47%) e não semi intensiva (30%). A distribuição dos sexos dos usuários foi homogênea, não havendo muita discrepância, a não ser no fato de que enquanto no Centro de Saúde II – Caconde a maioria é feminino (56,44%), no CAPS a maioria é masculino (59%). O mesmo aconteceu com relação à faixa etária dos usuários, uma vez que no Centro de Saúde II – Caconde a maioria se encontrava entre 21 e 60 anos (77,35%) e no CAPS entre 21 e 50 anos (85%). 58 No que diz respeito ao local onde os usuários residem, observou-se que nos serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II – Caconde os usuários residiam tanto na zona urbana quanto na zona rural, enquanto que os do CAPS residiam somente na zona urbana. Provavelmente, entre esses últimos, existam indivíduos oriundos da zona rural, que se mudaram para cidade devido às condições adversas do trabalho no campo. Mas, infelizmente, tal hipótese não poderá ser comprovada, pois, em ambos os serviços, os dados referentes ao local de nascimento, ou em caso de mudança, da proveniência do usuário, bem como em relação à escolaridade, antecedentes familiares e queixa de entrada são precários, o que impossibilita a realização de um levantamento confiável. Com relação às hipóteses diagnósticas, estas foram as mais diversas possíveis e até um pouco surpreendentes, na medida em que muitos dos prontuários continham mais de uma indicação de hipótese diagnóstica, sendo que estas podiam mudar a cada consulta. Pôde ser observado que entre os usuários do Centro de Saúde II - Caconde constavam em seus prontuários, em média 1,69 hipóteses diagnósticas por usuário, sendo observados diagnósticos que não constam da CID10. A maioria dos casos se enquadra entre F40 e F48 (35,21%) e entre F20 e F29 (22,33%). Já no CAPS – São Carlos foram encontrados prontuários com uma média de 2,71 hipóteses diagnósticas por usuário, sendo que a maioria dos casos se encontra entre F20 e F29 (38,20%) e entre F30 e F39 (30,33%). Isso indica que o Centro de Saúde II – Caconde atende mais casos de transtornos neuróticos relacionados ao estresse e somatoformes, além de casos de esquizofrenia, transtorno esquizotípico e delirante, enquanto o CAPS – São Carlos atende mais casos de esquizofrenia, transtorno esquizotípico e delirante e também casos de transtornos do humor (afetivos), fato este que influencia diretamente a prescrição da medicação. O Centro de Saúde não possui nenhum usuário diagnosticado entre as categorias F80-F89, enquanto o CAPS – São Carlos não possui nenhum usuário diagnosticado entre as categorias F50-F59, F80-F89, F90-F98, F99, nem hipótese diagnóstica que não obedeça aos critérios da classificatórios da CID-10. A diferença entre o número médio de hipóteses diagnósticas por usuário pode indicar tanto uma falta de precisão no levantamento dessas hipóteses diagnósticas quanto a real existência de mais de um tipo de doença. Observou-se que os usuários dos serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II – Caconde utilizam, em maior porcentagem, antipsicóticos (32,99%), 59 seguido de antidepressivos (26,39%), outros medicamentos (18,55%), ansiolíticos (9,96%) e estabilizadores do humor (4,32%). No CAPS – São Carlos a maior porcentagem de medicamentos utilizados também recai sobre os antipsicóticos (35,19%), seguidos pelos ansiolíticos (18,99%), outros medicamentos (17,31%), antidepressivos (14,52%) e, por último, estabilizadores do humor (8,93%). Sabe-se que os antipsicóticos são a primeira escolha no tratamento da esquizofrenia e outras psicoses, que os antidepressivos são medicamentos cuja função primordial é o tratamento da depressão (também utilizados para tratar transtorno bipolar, traumas do sistema nervoso central, demências, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno obsessivo-compulsivo, transtornos alimentares, síndromes de dor crônica, enurese e encoprese), que os ansiolíticos são indicados no tratamento da ansiedade, e que os estabilizadores do humor são utilizados na prevenção e tratamento dos transtornos do humor e esquizoafetivos. O fato dos usuários do Centro de Saúde II – Caconde receberem mais prescrições de medicamentos classificados como antipsicóticos e antidepressivos encontra-se intimamente relacionado ao índice de hipóteses diagnósticas levantadas, uma vez que os antipsicóticos tratam a esquizofrenia e outras psicoses, enquanto os antidepressivos são medicamentos cuja função primordial é o tratamento da depressão, sendo também indicados para o tratamento de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), um tipo de transtorno neurótico, enquanto que para os transtornos fóbico-ansiosos o mais indicado são os ansiolíticos. No CAPS – São Carlos também se faz mais prescrição de antipsicóticos, mesmo porque o maior índice de hipóteses diagnósticas é de esquizofrenia, seguido de transtornos do humor. Foi encontrada uma média de 1,68 medicamentos utilizados por usuário no Centro de Saúde II – Caconde, enquanto que no CAPS – São Carlos essa média foi de 2,71 medicamentos por usuário, o que pode ser um indício de que mesmo oferecendo somente um serviço ambulatorial, o Centro de Saúde II – Caconde se preocupa com uma possível superdosagem medicamentosa proporcionada aos seus usuários além de provavelmente conseguir uma maior controle dos sintomas destes com uma menor quantidade de drogas, algo controverso se pensarmos que essa deveria ser uma das maiores preocupações do CAPS – São Carlos, e nem tanto da outra instituição. Além das hipóteses diagnósticas que dizem respeito à Saúde Mental dos usuários, também foram coletados dados sobre doenças associadas, podendo ser 60 observado que tanto os usuários do Centro de Saúde II – Caconde, quanto os do CAPS – São Carlos sofrem de hipertensão arterial (12,54%; 37,50% respectivamente) e gastrite/úlcera (13,58%; 18,75% respectivamente), mas os usuários do CAPS – São Carlos também sofrem de doenças do aparelho respiratório como bronquite, rinite e sinusite (18,75%). Não há registro de outras doenças concomitantes à doença mental em 58,18% dos prontuários dos usuários dos Serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II – Caconde, e em 81,80% dos prontuários dos usuários do CAPS – São Carlos, fato este que deve ser ressaltado. E, relação ao número de internações psiquiátricas, há muito mais registro de internação de usuários do CAPS – São Carlos, tanto em número de vezes por paciente, pois há caso de paciente que chegou a ser internado 24 vezes, quanto com relação ao total de usuários, uma vez que 37,70% dos usuários já foram internados pelo menos 1 vez; enquanto que no Centro de Saúde II – Caconde os dados encontrados nos prontuários apontam que o número de internações não é tão grande, nem em número de vezes por paciente (o máximo de internações por paciente chegou a 12), nem para o número total de usuários, uma vez que 19,51% dos usuários já foram internados pelo menos 1 vez, sendo que dessas internações psiquiátricas, 3,48% foram realizadas em 2003 (no período de janeiro à julho). Para o CAPS – São Carlos não foi possível fazer um levantamento das internações ocorridas em 2003 devido à falta de dados, já que nessa instituição não foram encontradas, nos prontuários, as guias de contra-referência, documento este enviado pelo Hospital Psiquiátrico indicando data de internação, data de saída, sintomas apresentados, hipóteses diagnóstica, medicamentos utilizados para o tratamento e indicações de como esse tratamento deve ser continuado. No Centro de Saúde II – Caconde todas as guias de contra-referência se encontravam junto aos prontuários, facilitando o trabalho de coleta de dados. Uma justificativa para o alto índice de internações pode estar relacionada às hipóteses diagnósticas dos usuários de ambos os serviços, uma vez que indivíduos esquizofrênicos e com transtornos de humor podem apresentar mais crises de instabilidade psíquica e emocional do que os neuróticos. Mas, mesmo assim, os dados referentes às internações ocorridas entre os usuários do CAPS – São Carlos, que possuem mais diagnósticos de esquizofrenia e de transtornos de humor, foram considerados muito altos se comparados com os dados referentes às internações ocorridas entre os usuários do Centro de Saúde II – Caconde, que apresentam mais casos de transtornos neuróticos e esquizofrenia. 61 Não só o alto índice de internações, assim como uma maior média de medicação por usuário, dados estes encontrados nos prontuários dos usuários do CAPS – São Carlos, constituem fatos bem estranhos se considerarmos que os principais objetivos de uma instituição como o CAPS – São Carlos são a orientação de usuários, acompanhantes e familiares, visando, basicamente o resgate da cidadania e a reabilitação psicossocial; diminuição do uso prolongado e contínuo de medicamentos com [sem?] acompanhamento adequado; criação de recursos para serviços alternativos à hospitalização, além de uma reorganização dos serviços de Saúde Mental promovendo mudanças que realmente levem à reabilitação do usuário, é estranho ter dados que mostrem que o que vêm acontecendo nos remete a uma realidade bem diferente da inicialmente proposta para a criação do CAPS São Carlos. Também pôde ser verificado que a maioria dos usuários de ambos os serviços não recebem aposentadoria, ou pelo menos não há registro nos prontuários, sendo que os registros encontrados representam uma parcela mínima de usuários, tanto do Centro de Saúde II – Caconde (5,92%) quanto do CAPS – São Carlos (18,2%). Esse é um dado importante, uma vez que a maioria dos usuários apresenta condições precárias de vida, não só econômica, como também social, demonstrando a pouca ou não interferência das instituições na tomada de providências que mudem esse quadro e apontando ainda mais a necessidade urgente de inserção/reinserção desses usuários na comunidade, principalmente no que diz respeito ao CAPS – São Carlos, por ser um dos seus objetivos. No que diz respeito aos atendimentos terapêuticos recebidos pode-se observar que os usuários dos serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II – Caconde só dispõem do serviço de psicoterapia individual, 1 vez por semana; sendo que o CAPS – São Carlos oferece para seus usuários não só o serviço de psicoterapia individual, como também o de terapia ocupacional individual, terapia ocupacional em grupo e oficinas, ou seja, uma gama bem maior de possibilidades de terapias alternativas à internação psiquiátrica. A freqüência de atendimentos terapêuticos oferece um dado interessante se for observado que a porcentagem de indivíduos que recebem atendimento psicológico no Centro de Saúde II – Caconde (14,63%) é bem maior que no CAPS – São Carlos (3,00%), mesmo tendo este condições mais favorecedores para propiciar tal serviço, pois possui um quadro de estagiários de psicologia da UFSCar e um número menor de usuários. 62 Uma vez que o Centro de Saúde II – Caconde não oferece oficinas como recurso terapêutico, só puderam ser anotados os dados referentes ao CAPS – São Carlos, sendo observado que a maioria dos usuários participa de algum tipo de oficina terapêutica (71,20%), e que as oficinas em que se registra maior freqüência são as de Expressão Corporal (19,80%), seguida pela de Pintura, Literatura (19,00% cada) e Improvisação Cênica (11,90%), oficinas estas ministradas por estagiários do Curso de Psicologia da UFSCar. Esses dados demonstram como tem sido de fundamental importância a participação ativa da Universidade no CAPS – São Carlos, assim como a manutenção da parceria entre a UFSCar e a Secretaria Municipal de Saúde, que poderá continuar trazendo benefícios não só para os estudantes da Universidade, mas principalmente para o usuários da instituição, seus familiares, funcionários, enfim, para a comunidade de uma maneira geral. 63 VII. CONCLUSÃO O presente estudo revelou alguns dados cuja constatação era esperada, tendo em vista a proposta dos serviços em questão, e outros dados que surpreenderam. Tendo em vista a estrutura e a proposta básica do Centro de Saúde II – Caconde, este superou as expectativas em relação ao atendimento fornecido e aos resultados obtidos, como, por exemplo, sua taxa média de medicamentos prescritos por usuário, o número médio de internações e o número de atendimentos psicológicos realizados. Em relação ao CAPS – São Carlos, ao tomarmos como referência seus objetivos, concluímos que sua prática está distante de refletir uma desinstitucionalização plena, pois ainda mantêm-se alta a taxa média de medicamentos prescritos, o alto índice de internações e o baixo índice de atendimentos psicológicos realizados. Ambos os serviços foram deficitários no que diz respeito às informações referentes à escolaridade, à profissão, à antecedência familiar e queixa de entrada dos usuários dos serviços em questão, apontando para uma insuficiente organização das informações, o que no caso do CAPS – São Carlos é mais crítico, uma vez que o serviço é novo e tais dados são importantes para o levantamento e estruturação das possíveis causas e tratamento mais eficaz da doença. No decorrer do estudo, através também de observações e conversas informais com os usuários, foi observada uma aparente desospitalização, mas não uma desinstitucionalização dos mesmos. Isso levando em consideração o termo instituição como o conjunto das normas, regras e atividades agrupadas em torno dos valores e das funções sociais, e não no sentido de uma disposição hierárquica das funções que se efetuam geralmente no interior de um edifício ou de um espaço limitado, sendo isso considerado como organização; além de considerar que um grupo que deixa de ser um processo para se estabelecer como uma organização, também deixa de ser um grupo terapêutico para se transformar em um grupo antiterapêutico, no sentido de uma reação terapêutica negativa (Käes et al.,1991). Essa desospitalização, mas não desinstitucionalização dos usuários pode ser explicado por Käes et al. (1991), onde segundo ele a instituição apresenta, psicanaliticamente, uma identificação como sendo aquela formação intermediária que mantém juntos os membros das instituições e uma identificação de própria 64 instituição, onde o sujeito ganha e perde com esse processo e com o que se dá com ele no conjunto que assim se forma. De acordo com Käes et al. (1991), a existência de identidade de uma pessoa ou de um grupo é determinada, na ordem cotidiana e manifesta, pela estrutura e pela integração atingidas, em cada caso, pelo “eu individual” e pelo “eu grupal” (grau de organização, amplitude e de integração do conjunto das manifestações de verbalização, motricidade, ação, julgamento, raciocínio e pensamento). A identidade grupal pode ser dada por um trabalho efetuado em comum, instaurando regras de interação e de comportamento, como também através de uma identidade particular ou identidade grupal sincrética, que se apóia sobre uma socialização na qual esses limites não existem, uma vez que os indivíduos não têm identidade enquanto tal, mas sim na sua filiação ao grupo. Sendo assim, por um lado a instituição pode ser vista como uma celebração pelo grupo que institui e desinstitui continuamente a função criadora do imaginário social e da realização dos desejos individuais; mas por outro lado há a denúncia da instituição instituída, alienante, que pereniza a rigidificação do movimento social, a permanência dos poderes coercitivos e a hierarquia dos valores oponíveis à satisfação do desejo, favorecendo o sofrimento humano através da força esmagadora da própria natureza, da decrepitude do corpo e da insuficiência das medidas destinadas a regular as relações entre os homens e entre os homens e a sociedade no geral. As organizações constituem parte da nossa personalidade, mas o que também deve ser levado em consideração é a crença incorreta de que há uma oposição do indivíduo ao grupo e da organização ao grupo, na medida em que é pensado que indivíduos existem isoladamente e que se reúnem para formar grupos e organizações. Isso é incorreto, uma vez que o ser humano, antes de ser uma pessoa, é sempre um grupo, não no sentido de pertencer a um grupo, mas no sentido em que sua personalidade é grupal. Sendo assim, faz-se mister uma maior discussão e uma rápida solução para o que diz Käes et al. (1991), onde “(...) qualquer organização tem tendência a manter a mesma estrutura do problema que ela tenta enfrentar e pelo qual foi criada (...). A função iatrogênica e de confirmação das doenças desempenhada pelos hospitais psiquiátricos (...) constitui um 65 aspecto sobre o qual se insiste muito hoje em dia; mas esquecemos outros aspectos também importantes, que têm o mesmo efeito burocrático iatrogênico e a mesma função latente: a de manter a clivagem que controla a sociabilidade sincrética” (Käes et al.,1991, pp. 68). 66 VIII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BASAGLIA, F., La distruzione dell’ospedale psichiatrico. In: Basaglia, F. Scritti, Einaudi, Totino, 1982. CAPRA, F. O ponto de mutação. São Paulo: Ed. Cultrix, 1982. COOPER, J. E. Comportamento (org.) da Classificação CID-10: uma de Transtornos referência rápida. mentais Trad.: e de Gabriela baldisseroto. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. DITTRICH, A. Psicologia, direitos humanos e sofrimento mental: ação, renovação e libertação. Psicologia, Ciência e Profissão, v. 18 nº 1, pp. 46-55, 1998. KÄES, R. et al. A instituição e as instituições: estudos psicanalíticos. Trad: Joaquim Pereira neto. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1991 KINOSHITA, R.T. Contratualidade e reabilitação psicossocial. Em: Pitta, A. (org.) Reabilitação psicossocial no Brasil. São Paulo: Hucitec, 2001. MARQUES, A.J. de S. Reabilitação psicossocial e a reforma psiquiátrica. Em: Pitta, A. (org.) Reabilitação psicossocial no Brasil. São Paulo: Hucitec, 2001. PESSOTTI, I. A loucura e as épocas. Rio de Janeiro: Ed. 34,1994 PITTA, A. O que é reabilitação social no Brasil, hoje? Em: Pitta, A. (org.) Reabilitação psicossocial no Brasil. São Paulo: Hucitec, 2001-a. ________. Prefácio à 1ª edição. Em: Pitta, A. (org.) Reabilitação psicossocial no Brasil. São Paulo: Hucitec, 2001-b. REY, F. L. G. Pesquisa Qualitativa em Psicologia: caminhos e desafios. São Paulo: Ed. Pioneira, 2002. 67 SANTOS, S.N.; ALMEIDA, P.F.; VENANCIO, A.T. & DELGADO, P.G. A autonomia do sujeito psicótico no contexto da reforma psiquiátrica brasileira. Psicologia, Ciência e Profissão, v. 20 nº 4, pp. 46-53, 2000. SARACENO, B. Libertando Identidades. Rio de Janeiro: Ed Te Cora, 2001-a. ____________. Reabilitação psicossocial: uma estratégia para a passagem do milênio. Em: Pitta, A. (org.) Reabilitação psicossocial no Brasil. São Paulo: Hucitec, 2001-b. SIMANKE, Richard Theisen. Loucura e psicose: a abordagem psicanalítica. Apostila de aula. São Carlos: UFSCar, 1997. WICKERT, L.F. Loucura e direito a alteridade. Psicologia, Ciência e Profissão, v. 18 nº 1, pp. 38-45, 1998. http://www.psicopatologia.hpg.ig.com.br/reforma.htm (site visitado em janeiro/2003) http://www.comciencia.br (site visitado em janeiro/2003) http://www.ifb.org.br/ (site visitado em janeiro/2003) 68 ANEXO 1 BASE PARA ANÁLISE DE PRONTUÁRIOS 1. Serviço________________________________________________________ 2. Prontuário no. __________________________________________________ 3. Iniciais_________________________________________________________ 4. Idade__________________________________________________________ 5. Data de nascimento______________________________________________ 6. Local de nascimento: cidade: ______________________________________ Estado: _________________________País___________________________ 7. Endereço atual: Cidade_________________, Bairro_____________________ 8. Escolaridade____________________________________________________ 9. Profissão ______________________________________________________ 10. Data de admissão no serviço: ______________________________________ 11. Queixa de entrada:_______________________________________________ 12. Descrição dos principais sintomas:___________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 13. Antecedentes familiares___________________________________________ _________________________________________________________________ 14. Hipótese diagnóstica_____________________________________________ 15. Medicação em uso_______________________________________________ 16. Nº de internações psiquiátricas_____________________________________ Datas/Locais____________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 17. Outras doenças/medicação_______________________________________ 18. Recebe benefício do INSS? ( ) sim ( ) não 19. Atendimentos terapêuticos recebidos ( ) psicoterapia ( ) terapia ocupacional ( ) individual 19.1Modalidade ( ) grupo 19.2 Freqüência ( ) ambas 69 ( ) uma vez/ semana ( ) duas vezes/ semana ( ) três vezes/semana 20. Acompanhamento psiquiátrico ( ) sim ( ) não 21. Participa de alguma atividade terapêutica expressiva em Oficinas ? ( ) sim ( ) não 21.1Qual (is)? _____________________________________________________ 22. Último encaminhamento recebido ___________________________________ 22.1 Data: ________________________________________________________ 23. Evolução clínica do usuário__________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ 24. Outros achados não contemplados pelas questões acima ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ Data da consulta ao Prontuário : _____________________________________ Nome da pesquisadora_____________________________________________ Assinatura_______________________________________________________ 70 ANEXO 2 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS DEPÁRTAMENTO DE PSICOLOGIA CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA Termo de Consentimento Livre e Esclarecido São Carlos, ____ de _______________ de 2003. Prezado Senhor (a) Venho, pela presente, solicitar a autorização de V. Sa. para a realização das atividades da Pesquisa “Estudo comparativo entre o encaminhamento em saúde mental oferecido pelo CAPS – São Carlos/SP e pelo Centro de Saúde II – Caconde/SP. O objetivo dessa pesquisa é caracterizar, por meio da consulta aos prontuários dos usuários, o encaminhamento oferecido à população atendida, sempre considerando as possibilidades de atendimento e as características próprias de cada serviço. Este trabalho implicará em uma análise dos prontuários dos usuários de ambos os serviços de acordo com um roteiro pré-estabelecido (em Anexo no Projeto). A aluna que realizará a pesquisa, Marina Ceres Silva Pena, é graduanda do Curso de Psicologia da Universidade Federal de São Carlos, o qual exige, para sua formação em Bacharel, o desenvolvimento e conclusão desta pesquisa. O presente trabalho só poderá ser realizado com o devido consentimento de V.Sa., responsável pela instituição. Salientamos que a atividade a ser desenvolvida não trará qualquer prejuízo para a instituição nem para os usuários desta, e que seus nomes permanecerão em absoluto anonimato. O resultado da pesquisa será depositado, em forma de Monografia de Pesquisa, na Coordenação do Curso de Psicologia, ficando, ainda, à disposição da UFSCar (por meio do Programa de Extensão "Saúde Mental e Cidadania"), da Coordenação e Equipe do CAPS-São Carlos/SP e da Secretaria Municipal de Saúde e do Centro de Saúde II, Caconde/SP, resguardando, em todas essas instâncias, o anonimato dos usuários. Eventualmente, poderá ser divulgado por meio de Congressos, reuniões científicas ou publicações da área, sempre garantindo o anonimato do usuário. Contando com sua compreensão para o caso, solicito sua autorização por meio da assinatura do presente termo, para que seja efetivado o planejamento das atividades acima referidas e que a execução do projeto seja realizada na instituição, sem nenhum ônus à mesma, durante o primeiro e segundo semestres de 2003. Atenciosamente, (Nome do responsável pela Instituição) (cargo ocupado) Profª. Georgina Faneco Maniakas Orientadora / Pesquisadora responsável End.: Rod. Washington Luís, km. 235 São Carlos-SP Fone: (16) 260 8361 Marina Ceres Silva Pena Pesquisadora End: R. Episcopal, 2474, ap.12-A/ São Carlos-SP Fone: (16) 272 5536 e-mail: [email protected] 71 ANEXO 3 COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA MINISTÉRIO DA SAÚDE - Conselho Nacional de Saúde - Comissão Nacional de Ética em Pesquisa - CONEP FOLHA DE ROSTO PARA PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS 1. Projeto de Pesquisa: 2. Área do Conhecimento (Ver relação no verso) 3. Código: 4. Nível: ( Só áreas do conhecimento 4 ) 5. Área(s) Temática(s) Especial (s) (Ver fluxograma no verso) 6. Código(s): 7. Fase: (Só área temática 3) I ( ) II ( ) III ( ) IV ( ) 8. Unitermos: ( 3 opções ) SUJEITOS DA PESQUISA 10. Grupos Especiais : <18 anos ( ) Portador de Deficiência Mental ( ) Embrião /Feto ( ) Relação de Dependência (Estudantes , Militares, Presidiários, etc ) ( ) Outros ( ) Não se aplica ( ) 9. Número de sujeitos No Centro : Total: PESQUISADOR RESPONSÁVEL 11. Nome: 12. Identidade: 13. 19.Endereço (Rua, n.º ): 14. Nacionalidade: 15. Profissão: 20. CEP: 21. Cidade: 16. Maior Titulação: 17. Cargo 23. Fone: 24. Fax 18. Instituição a que pertence: 22. U.F. 25. Email: Termo de Compromisso: Declaro que conheço e cumprirei os requisitos da Res. CNS 196/96 e suas complementares. Comprometo-me a utilizar os materiais e dados coletados exclusivamente para os fins previstos no protocolo e a publicar os resultados sejam eles favoráveis ou não. Aceito as responsabilidades pela condução científica do projeto acima. Data: _______/_______/_______ ______________________________________ Assinatura INSTITUIÇÃO ONDE SERÁ REALIZADO 26. Nome: 29. Endereço (Rua, nº): 27. Unidade/Órgão: 30. CEP: 31. Cidade: 32. U.F. 28. Participação Estrangeira: Sim ( ) Não ( x ) 33. Fone: 34. Fax.: 35. Projeto Multicêntrico: Sim ( ) Não ( ) Nacional ( ) Internacional ( ) ( Anexar a lista de todos os Centros Participantes no Brasil ) Termo de Compromisso (do responsável pela instituição): Declaro que conheço e cumprirei os requisitos da Res. CNS 196/96 e suas Complementares e como esta instituição tem condições para o desenvolvimento deste projeto, autorizo sua execução Nome:_______________________________________________________ Data: _______/_______/_______ ___________________________________ PATROCINADOR 39. Endereço 36. Nome: Cargo________________________ Assinatura Não se aplica ( ) 37. Responsável: 40. CEP: 41. Cidade: 38. Cargo/Função: 43. Fone: 44. Fax: 42. UF COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA - CEP 45. Data de Entrada: 46. Registro no CEP: _____/_____/_____ 47. Conclusão: Aprovado ( ) 48. Não Aprovado ( ) Data: ____/_____/_____ Data: _____/_____/_____ 49. Relatório(s) do Pesquisador responsável previsto(s) para: Data: _____/_____/____ Data: _____/_____/_____ Encaminho a CONEP: 53. Coordenador/Nome 50. Os dados acima para registro ( ) 51. O projeto para Anexar o parecer consubstanciado apreciação ( ) ________________________________ 52. Data: _____/_____/_____ Assinatura COMISSÃO NACIONAL DE ÉTICA EM PESQUISA - CONEP 54. Nº Expediente : 56.Data Recebimento : 57. Registro na CONEP: 55. Processo : 58. Observações: 72 COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA 1-) DESCRIÇÃO DA PESQUISA, CONTENDO: a-) Descrição dos propósitos. Buscando refletir sobre as práticas substitutivas em Saúde Mental, o presente trabalho pretende realizar um estudo comparativo entre o encaminhamento oferecido aos usuários que procuram os serviços de saúde mental em duas unidades de saúde mental: o CAPS-São Carlos, inserido no contexto de reformulação da atenção em Saúde Mental e pretendendo ser um serviço que de alguma forma venha a inaugurar o “novo” em termos de atendimento ao doente mental, e o Centro de Saúde II “Dr. Sebastião Ribeiro do Valle”, em Caconde-SP, que funciona em esquema ambulatorial tradicional. Este estudo também pretende caracterizar, por meio da consulta aos Prontuários, o tratamento oferecido à população atendida, o tipo de demanda, assim como a questão da construção da autonomia dos sujeitos psicóticos atendidos pelos serviços, sempre considerando as características próprias de cada serviço. A indagação é pertinente, pois a discussão sobre a “autonomia” dos sujeitos psicóticos põe em debate os tradicionais conceitos de alta e cura em psiquiatria, além de, depois aproximadamente uma década de implantação dos “novos serviços”, parece ser este um bom momento para refletir e avaliar as possíveis transformações no campo da Atenção em Saúde Mental. b-) Antecedentes científicos e dados que justifiquem a pesquisa. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), saúde seria um estado completo de bem-estar físico, mental, social e não somente a ausência de doenças ou enfermidades (Capra, 1982). Mas saúde é uma experiência subjetiva, algo que pode ser conhecido intuitivamente, mas nunca descrito ou quantificado; saúde é uma experiência de bem-estar resultante de um equilíbrio dinâmico que envolve os aspectos físicos e psicológicos do organismo, assim como sua interação com o meio ambiente natural e social. Para Wickert (1998), “a saúde só se dá quando o sujeito tem possibilidades de traçar o seu próprio destino, conforme seu desejo, em direção ao seu bemestar físico, psíquico e social e que o caminho construído nem sempre é condizente com a modelagem social (...)” 16 Saraceno (2001-a), entende que saúde mental seja o conjunto de ações de promoção, manutenção e tratamento referentes à melhora, manutenção ou restauração da saúde mental de uma população. A subjetividade é um objeto de pesquisa psicológica, sendo esta um “sistema complexo de significações e sentidos subjetivos produzidos na vida cultural humana, se definindo ontologicamente como diferente dos elementos sociais, biológicos, e de qualquer outro tipo, relacionados entre si no complexo processo de seu desenvolvimento individual e social (...) a subjetividade e a cultura são processos 16 Wickert, 1998. Loucura e direito a alteridade., pp. 38. 73 construtivos complexos que ocorrem de forma simultânea; a subjetividade não é determinada pela cultura; a cultura depende da subjetividade”.17 Segundo Pessotti (1994), na antiguidade grega o homem não se conhecia; as distorções e aberrações da natureza humana eram entendidas vagamente e, na ausência de qualquer psicologia, atribuídas à forças e entidades desconhecidas. Acreditavam na intervenção direta e permanente dos e dos seus instrumentos na vida dos homens, e pensavam na loucura como um estado de desrazão, de perda do controle consciente sobre si mesmo, de insensatez, de perda do contato ordenado com a realidade física ou social. Já a doutrina demonista que associa a loucura à possessão diabólica e marca a concepção medieval da psicopatologia, não é apenas um artifício religioso da época para repreender as heresias e impor a ortodoxia teológica e moral, mas também uma forma de pensar, que tem suas raízes na própria formação doutrinária do cristianismo; quase tosos os comportamentos acabam sendo tidos como suspeitos e gradualmente atribuídos ao demônio. Obras importantes foram publicadas como Malleus Maleficarum (Martelo das Bruxas) escrito por Sprenger e Institor, e o Traité Médico-Philosophique sur l’aliénation mentale, de Pinel. De acordo com Pessotti (1994), a confusão doutrinária das últimas décadas do século XIX gera vários absurdos terapêuticos; há uma desorientação geral da teórica médica quanto à etiologia e conseqüentemente da terapêutica da loucura; há o desaparecimento do modelo mitológico religioso e destaca-se o organicismo que incentiva a busca por maiores explicações das funções orgânicas, culminando num conflito entre o modelo organicista clássico e um modelo médico biopsicossocial, que por sua vez, testemunha a fragmentação e o paralelismo da teoria psiquiátrica, já que aquilo que não se explica com o “bio”, se explica com o “psico” e/com o social, gerando uma espécie de ilusão e impotência terapêutica (Saraceno, 2001-a). Para Wickert (1998), “no pensar coletivo atual, louco é aquele que não tem razão, que dá medo, que não controla seus próprios impulsos, escapando aos padrões sociais a serem seguidos e mantidos, necessitando, então, de tratamento especializado (...) Como o insano não é controlável/suportável nos termos morais, a razão coexiste com a loucura em contraposição, assim quem tem a razão não é louco e quem é louco não tem a razão.” 18 Segundo Dittrich (1998), “será sempre em relação a uma ordem de ‘normalidade’, ‘racionalidade’ ou ‘saúde’ que a loucura é concebida nos quadros de ‘anormalidade’, irracionalidade’ ou ‘doença’ ”.19 A prática de submeter o paciente psiquiátrico às instituições manicomiais são práticas que visam moldar a conduta do sujeito sem levar em consideração o seu desejo, a sua subjetividade, num único objetivo de exclusão, a massificação e a dominação social. Os loucos passam a ser enclausurados em um lugar delimitado e 2 Rey, 2002. Pesquisa Qualitativa em Psicologia: caminhos e desafios, p.36-37 e 43. Wickert, 1998. Loucura e direito a alteridade, pp. 39. 19 Dittrich, 1998. Psicologia, direitos humanos e sofrimento mental: ação, renovação e libertação, pp. 52. 18 74 afastado, para que os ditos como sãos saibam a história do sofrimento psíquico desses doentes, saibam quais males os ameaçam e busquem maneiras de evitar tal sofrimento, nascendo dessa estrutura os manicômios, lugares onde se despejavam aquelas pessoas que a sociedade, apesar de produzir, rejeitava (Wickert, 1998). Para Goffman (1996) apud Wickert (1998), os manicômios assim como as prisões, os conventos, os quartéis e as casas de recolhimento de indigentes são instituições totais, uma vez que as instituições totais são caracterizadas por locais onde as atividades são realizadas num mesmo local e sob uma única autoridade; todas as pessoas são tratadas da mesma forma e obrigadas a realizar tarefas em conjunto, sendo estas rigorosamente organizadas por um sistema de regras formais explícitas e por um grupo de funcionários. Além disso, há uma divisão básica e de pouca mobilidade social entre o grupo de internados e a equipe de supervisão. Na estrutura manicômio-instituição total, uma estufa para mudar pessoas, o paciente é obrigado a despir-se não só das suas roupas, mas também da sua história, sua subjetivação, sua individualidade, tornando-se apenas um simples número ou uma categoria da CID-10. Com o processo de internação, as barreiras que separam o manicômio do mundo externo acarretam perdas de papéis sociais e a aquisição de um padrão de comportamento homogeneizado a ser seguido, sendo uma agressão à subjetividade e à individualidade do paciente, além da perda do rótulo de saudável, de quem “tem a razão”, pois dizer socialmente “doente mental” é sê-lo para o resto da vida, condicionando o passado e o futuro do sujeito e marcando-o para toda a vida (Wickert, 1998). Segundo Saraceno (2001-a), os anos 70 se caracterizaram pela idéia de que a psiquiatria seria um conjunto de técnicas terapêuticas a serem aprendidas a fim de escolher aquela mais convincente, além da manutenção da idéia equivocada de cientificidade, na qual “científico é tudo aquilo que se exprime com categorias do quantitativo, que se refere a modelos claros e distintos, que exclui a subjetividade”.20 No entanto, como expressar em categorias puramente quantitativas um fenômeno cujo objeto às vezes é e as vezes não é alguma coisa ?21 Partindo da análise do discurso comum, Simanke (1997) observa que o termo loucura, longe de seu significado psicopatológico atual, formou uma rede ou campo de significações, do qual se alimentaram, posteriormente, os discursos mais organizados. A denominação “loucura” não representa nada de específico. Ela somente vai sofrer uma determinação estreita ao ver-se apropriada de formas de conhecimento mais organizadas, a partir dos parâmetros que definem as diversas teorias, adquirindo, somente desse modo, um sentido próprio, mas que permanece circunscrito a essa dada disciplina22. Somente quando a psiquiatria se impõe como o campo de domínio das doenças mentais, é que a loucura passa a se restringir ao significado “científico” que, hoje, lhe é atribuído. No entanto, ainda segundo Simanke (1997), o significado “científico” da loucura nasceu de práticas sociais mais ou menos simétricas à maneira como o fenômeno era percebido. O autor nota que tais práticas, 3 Saraceno, 2001-a. Libertando Identidades, pp.13. Simanke, 1997, Loucura e Psicose: a abordagem psicanalítica. Apostila. 22 Simanke (1997), p. 5 21 75 “desencadeadas pelos aspectos mais superficiais das manifestações, podiam ser exercidas sem necessidade de entrar no mérito da natureza última dos fenômenos em foco; em outras palavras, ao menos nesse caso, a ação precedeu a reflexão” 23. Inspirado por algumas noções gerais foucaultianas, o autor arrisca um esboço de definição dizendo que “histórica e culturalmente, a loucura identifica-se com um certo campo de discursos, que emergem de práticas sociais e/ou institucionais mais ou menos concretas.” 24 Tais práticas foram rapidamente institucionalizadas, e foi através de um modelo hospitalocêntrico para o tratamento das doenças mentais que chegaram até nós. A Reforma Psiquiátrica consiste em uma reação a essa modelo, por meio de uma série de transformações na assistência em saúde mental propostas pela chamada "Luta Antimanicomial", um movimento social que se iniciou na Itália com Franco Basaglia e teve seus primeiros momentos no Brasil a partir do final da década de 70, se intensificando ao longo dos anos 80, 90 e 2000. Este movimento reúne diversos atores sociais como usuários de serviços de saúde mental, seus familiares e técnicos da área de saúde; não pretende acabar com o tratamento clínico da doença mental, mas sim eliminar a prática do internamento como forma de exclusão social dos indivíduos portadores de transtornos mentais. Propondo, para isso, a substituição do modelo manicomial pela criação de uma rede de serviços territoriais de atenção psicossocial, de base comunitária. A extinção dos manicômios deve ser gradual, sendo que para que isso ocorra, foi aprovada uma Lei Federal de Saúde Mental em abril de 2001 (após 12 anos de tramitação no Congresso), que regulamenta o processo de Reforma a Assistência Psiquiátrica no Brasil. A partir da década de 70, percebe-se no país alguns movimentos de crítica ao modelo hospitalocêntrico no que se refere à assistência psiquiátrica, sendo a exclusão e a violência nos manicômios pautas de discussões que reivindicavam os direitos dos doentes mentais. Os principais questionamentos eram relacionados à natureza do modelo privatista e à sua incapacidade de produzir um atendimento que contemplasse as necessidades de seus usuários, mas ainda não havia um modelo muito claro nem uma proposta de intervenção clínica. Já na década de 80, período marcado pela ditadura, o movimento pela reforma psiquiátrica no Brasil ganha importância política e social, possibilitando mudanças na saúde, permitindo a participação de outros setores que não médicos, enfatizando críticas às noções de clínica e cidadania, ambas ancoradas a uma concepção universal do sujeito onde a normalidade deve ser reconstituída. A construção de um novo espaço social para a loucura exigia não só que a noção de cidadania e a base do saber psiquiátrico fossem colocados em debate, mas também a invenção de novos locais, instrumentos técnicos, terapêuticos e novos modos de estabelecer relações com esses sujeitos (Santos, Almeida & Venâncio, 2000). Nesse período foi muito importante a influência da psiquiatria democrática italiana, propondo o questionamento da suposta universalidade do racionalismo científico das psiquiatrias; usuários e familiares passaram a reivindicar mais intensamente por outras possibilidades de atenção assim como espaços, avanços técnicos e formas de reabilitação psicossocial. Começaram a ser implantados os 23 24 Idem, ibid, p. 6 Idem, ibid, p. 7 76 hospitais-dia, mas só nos anos 90 foram criados e consolidadas propostas como os Centros de Assistência Psicossocial (CAPS), os Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS) e os Lares Abrigados (Santos, Almeida & Venâncio, 2000). Originada do grego, a palavra autonomia surgiu para designar a capacidade de um indivíduo de se autodeterminar, de se auto-realizar (Santos, Almeida & Venâncio, 2000). Para Kinoshita (2001), autonomia seria “a capacidade de um indivíduo gerar normas, ordens para a sua vida, conforme as diversas situações que enfrente (...) não se trata de confundir autonomia com auto-suficiência nem com independência.” 25 No campo da saúde mental, entretanto, seu conceito parece ser mais impreciso, uma vez que os sujeitos se tornam destituídos de todo e qualquer valor ao receber o atributo de doente mental, além da dúvida de se as instituições que utilizam novos dispositivos contrários àqueles do tradicional manicômio, propiciarem ou não a produção de autonomia para os usuários que se beneficiam do tratamento (Santos, Almeida & Venâncio, 2000). Aqui, se torna muito importante a questão da reabilitação psicossocial. Para a OMS, segundo Pitta (2001-a), a reabilitação psicossocial seria “o conjunto de atividades capazes de maximizar oportunidades de recuperação de indivíduos e minimizar os efeitos desabilitantes da cronificação das doenças através do desenvolvimento de insumos individuais, familiares e comunitários”. 26 Segundo Pitta (2001-b), reabilitação psicossocial “implica numa ética de solidariedade que facilite aos sujeitos com limitações para os afazeres cotidianos, decorrente de transtornos mentais severos e persistentes, o aumento da contratualidade afetiva, social e econômica que viabilize o melhor nível possível de autonomia para a vida na comunidade.” 27 Já Kinoshita (2001) pensa que reabilitação seria a reconstrução dos valores, o aumento do poder contratual do usuário; a criação de condições para que o paciente possa participar do processo de trocas sociais; a produção de dispositivos que mudem o pressuposto de desvalor natural; em suma, um processo de restituição do poder contratual do usuário, com vistas a ampliar a sua autonomia. Complementando a idéia, Saraceno (2001-b) afirma que “o processo de reabilitação seria, então, um processo de reconstrução, um exercício pleno da cidadania, e, também, de plena contratualidade nos três grandes cenários: habitat, rede social e trabalho com valor social.” 28 Marques (2001), ainda define como metas da reabilitação 25 Kinoshita, 2001. Contratualidade e reabilitação psicossocial, pp. 57. Pitta, 2001-a. O que é reabilitação social no Brasil, hoje?, pp. 21. 27 Pitta, 2001-b. Prefácio à 1ª edição, pp. 9. 28 Saraceno, 2001-b. Reabilitação psicossocial: uma estratégia para a passagem do milênio, pp. 16. 26 77 “prevenir e/ou reduzir incapacitações ou perda de habilidades; restaurar habilidades potenciais em desempenhar papéis sociais; fortalecer habilidades latentes e dignidades potenciais; facilitar adaptação social e psicológica aos efeitos de prejuízos sociais na vida do indivíduo; minimizar a deterioração; capacitar níveis ótimos de autodeterminação, execução de responsabilidades pessoais e independentes, melhorar o sentido de bem-estar da pessoa.” 29 A reabilitação deve ser a principal característica da psiquiatria; um “entretenimento” do doente. Tendo em vista que entreter significa “ter dentro” e também “passar prazerosamente o tempo”; na espera de que o doente morra ou que a doença se cure sozinha, o significado empregado pode ser o de que o doente “fique dentro” do hospital psiquiátrico, nas alas, nas enfermarias, nas salas de contenção, na violência e na miséria; ou então o de que o doente também pode ser entretido com conversas, com oficinas terapêuticas, em um hospital dia e/ou no meio da sua própria família, adotando assim o sentido de inserção em um sistema onde a espera é de melhora. É importante também conhecer as ações que contribuíram para a melhora do paciente, pois assim talvez fosse verificado que as ações formais não são especialmente influentes sobre a evolução das doenças; que a psiquiatria clínica com suas terapêuticas constitui um conjunto de entretenimentos danosos ou indiferentes, raramente úteis. A ruptura deste entretenimento não é apenas uma ruptura à prática da psiquiatria, mas também uma busca de caminhos que confluam para a reconstrução da cidadania plena do paciente psiquiátrico, sendo esta não só a restituição de seus direitos formais, como também a construção afetiva, relacional, material, habitacional e produtiva dos seus direitos substanciais (Saraceno, 2001-a). c-) Descrição detalhada e ordenada do projeto. Segundo Capra (1982), a influência do paradigma cartesiano (concepção mecanicista da vida) sobre o pensamento médico resultou no modelo da moderna medicina científica, onde o corpo humano é considerado uma máquina que pode ser analisada em termos de suas peças; a doença é tida como um mau funcionamento dos mecanismos biológicos, que são estudados do ponto de vista da biologia molecular. Em se tratando das doenças mentais, postula uma relação linear de causalidade entre danos do sistema nervoso e o surgimento das doenças mentais, considerando que os tratamentos das doenças não são outro que modificações (essencialmente farmacológicas) da função cerebral alterada. A abordagem biopsicossocial procura contemplar o processo de saúdedoença como uma relação interativa entre fatores biológicos, psicológicos e sociais (agora também espirituais). Fatores macrossociais, diferenças culturais, eventos externos (guerras, desastres), condições sócio-econômicas (desemprego, recessão econômica, condições de insuficiente suporte social, ambientes psicológicos adversos) e contextos microssociais (família) são todos importantes no surgimento e na evolução de muitas das doenças psiquiátricas (Saraceno, 2001-a). Segundo Rey (2002) e apoiando a abordagem biopsicossocial, o conhecimento estaria ligado à cultura, à organização social e à “práxis histórica”, sendo não só condicionado, determinado e produzido, mas também condicionante, determinante e produtor. O que ainda vem acontecendo ultimamente é que o papel biológico vem dominando o modelo de assistência à saúde mental. O ideal seria uma relação não 29 Marques, 2001. Reabilitação psicossocial e a reforma psiquiátrica, pp. 107. 78 simplesmente somatória, mas interativa entre as dimensões biológica, psicológica e social, sem deixar quer um dos aspectos fosse dominante sobre os outros, pois a abordagem biopsicossocial não exclui, evidentemente, a biológica, mas coloca em crise o paradigma biomédico, mostrando sua ineficácia e deterioração. O presente estudo pretende seguir, predominantemente as orientações da pesquisa qualitativa, sendo que esta última, segundo Rey (2002) “enfatiza tanto a compreensão da pesquisa qualitativa como processo dialógico que impede tanto o pesquisador, como as pessoas que são objetos da pesquisa, em sua condição de sujeito do processo; (...) a busca de grandes narrativas vai sendo substituída por teorias mais locais e de pequena escala. Centradas em problemas e situações específicas (...). A definição do qualitativo na pesquisa psicológica não é uma questão instrumental, nem tampouco uma questão definida pelo tipo de dados que devem ser incluídos, mas que se define essencialmente pelos processos implicados na construção do conhecimento, pela forma de se produzir o conhecimento”.30 O estudo será realizado no CAPS (Centro de Assistência Psicossocial) de São Carlos-SP e no Centro de Saúde II “Dr. Sebastião Ribeiro do Valle”, em Caconde-SP. O CAPS foi recentemente implantado (março/2002) na cidade de São Carlos, mas já presta serviços a uma demanda considerável, uma vez que a cidade possui quase 200.000 habitantes e ainda é referência regional, atendendo então, não somente sua população, mas também a população das cidades vizinhas (como Ibaté, Água Vermelha, Dourado, Ribeirão Bonito, entre outras). O CAPS oferece tanto o serviço de fornecimento de medicamentos gratuitamente, de atendimento médico (diagnóstico psiquiátrico ou neurológico e “troca de receitas”) como atendimento psicológico, de enfermagem, de terapia ocupacional, de serviço social, de oficinas terapêuticas e até a permanência de determinados períodos do dia para os casos mais graves, dependendo do tratamento (intensivo e semi-intensivo). Já o Centro de Saúde, apesar de ter sofrido recentemente uma pequena reestruturação no Serviço de Saúde Mental, possui um tipo de serviço totalmente diferente do realizado nos CAPS em geral, pois oferece serviço um serviço mais emergencial: fornecimento de medicamentos gratuitamente, consultas com médico psiquiatra (para diagnóstico e “troca de receitas”) e em alguns casos encaminhamento para o psicólogo. Além da diferença do tipo de serviço oferecido, é preciso destacar que a população atendida é bem menor, uma vez que a população de Caconde é de aproximadamente 20.000 habitantes e a cidade não é referência regional para nenhum assunto referente à saúde. Dessa maneira, tendo em vista que as duas instituições apresentam diversas diferenças entre si, somente torna-se viável a realização de um estudo comparativo em relação ao tipo de encaminhamento oferecido aos usuários se todas essas diferenças puderem ser consideradas e explicitadas no estudo em questão, realizando, para isso, análise do projeto para implantação e estruturação de ambos os tipos de serviços de atendimento aos doentes mentais; levantamento dos recursos terapêuticos oferecidos (como consultas médicas, psicoterapias, oficinas terapêuticas, entre outros); assim como análise dos prontuários dos usuários dos serviços. 2 Rey, 2002. Pesquisa Qualitativa em Psicologia: caminhos e desafios, pp. ix, 6 e 24. 79 Serão analisados os prontuários dos usuários dos serviços em questão de acordo com roteiro já pré-estabelecido (ver Anexo 1 no projeto) com a finalidade de caracterizar o encaminhamento oferecido aos usuários por ambas instituições. d-) Análise crítica dos riscos e benefícios que a pesquisa pode trazer. O estudo não pretende arriscar a integridade física, moral ou psíquica dos usuários do CAPS - São Carlos-SP nem do Centro de Saúde II “Dr. Sebastião Ribeiro do Valle” - Caconde-SP, uma vez que os nomes dos usuários envolvidos não serão divulgados e uma solicitação de consentimento para a realização da pesquisa será requerida aos responsáveis de ambas instituições. Com relação às contribuições que o presente estudo pode trazer, isso de deve ao fato deste englobar uma discussão sobre a “autonomia” dos sujeitos psicóticos, pondo em debate os tradicionais conceitos de alta e cura em psiquiatria. Além do que, depois de aproximadamente uma década de implantação dos “novos serviços”, este parece ser um bom momento para refletir e avaliar as possíveis transformações no campo da Atenção em Saúde Mental, se estas são efetivas e/ou eficazes ou não. e-) Duração total da pesquisa. Sendo o desenvolvimento e a conclusão desta pesquisa necessária para a formação da aluna em Bacharel em psicologia, o estudo terá duração total de dois (2) semestres letivos. f-) Explicitação das responsabilidades do pesquisador e da instituição. A pesquisadora responsável pelo projeto em questão compromete-se conduzir a pesquisa cumprindo os termos éticos norteados pela resolução 196/96 do Ministério da Saúde após a sua aprovação pelo Comitê de Ética e Pesquisa, garantindo também que seu início se dará somente após a autorização de ambas instituições por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, resguardando a identidade e o sigilo sobre os dados obtidos dos usuários dos quais os protocolos serão analisados, além da posterior informação dos resultados obtidos. g-) Critérios para suspender e encerrar a pesquisa. Se nenhum dos princípios da resolução 196/96 do Ministério da Saúde forem infringidos, resultando em prejuízo ao sujeito ou à pesquisa ou se nenhuma das instituições entrarem em desacordo com a pesquisadora, a pesquisa só será encerrada quando todos os procedimentos metodológicos (coleta, análise e interpretação dos dados; resultados e conclusão) forem cumpridos. Caso contrário, a pesquisa será suspensa imediatamente. h-) Local da pesquisa e infra-estrutura do projeto. O presente estudo pretende ser realizado no CAPS-São Carlos (Centro de Atenção Psicossocial), inaugurado em 18/03/2002, sito à Rua Riachuelo nº 171 na cidade de São Carlos-SP, local que abriga usuários adultos da Saúde Mental local e da região, diagnosticados como psicóticos, drogaditos ou neuróticos graves, em recuperação por meio de um serviço intensivo, e semi-intensivo diário, que conta 80 com oficinas, psicoterapia, atendimento médico, enfermagem, entre outros, e o Centro de Saúde II “Dr. Sebastião Ribeiro do Valle”, sito à Rua Floriano Peixoto nº 205, na cidade de Caconde-SP, uma instituição multiprofissional de atendimento aos usuários da Saúde mental do município, de caráter exclusivamente ambulatorial, entre os quais serão selecionados para o presente estudo, os usuários adultos diagnosticados como psicóticos, drogaditos ou neuróticos graves. i-) Demonstrativo da infra-estrutura necessária ao desenvolvimento da pesquisa e para atender eventuais problemas dela resultantes, com a concordância documentada da instituição. Ambas as instituições possuem infra-estrutura suficiente para dar suporte a esta pesquisa. j-) Orçamento financeiro. Não há recurso financeiro para a realização do projeto. k-) Se vão ser publicados os resultados da pesquisa, sejam eles favoráveis ou não. Por ser uma monografia de final de curso, os resultados ficarão à disposição na Coordenação do Curso de Psicologia, sendo favoráveis ou não, com cópia entregue à Coordenadoria do CAPS, à Secretaria Municipal de Saúde de São Carlos-SP, ao Centro de Saúde II e à Secretaria Municipal de Saúde de CacondeSP, sendo que sua divulgação e publicação dependerá de apresentações em Congressos e interesse de revistas especializadas. l-) Sobre a propriedade e destinação dos conhecimentos. Os conhecimentos obtidos com o presente estudo serão destinados à Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), à Secertaria Municipal de Saúde das cidades de São Carlos-SP e Caconde-SP, aos usuários e funcionários de ambos os serviços, à comunidade acadêmica e à comunidade em geral. 2-) INFORMAÇÕES RELATIVAS AOS SUJEITOS DA PESQUISA: a-) Características da população. Usuários adultos dos serviços de Saúde Mental de São Carlos-SP (CAPSSão Carlos) e de Caconde-SP (Centro de Saúde II). b-) Descrever claramente os métodos que possam afetar os sujeitos. Não haverá interação direta com os usuários e os dados colhidos nos prontuários, bem como o nome dos usuários, serão mantidos em completo anonimato. c-) Identificar os dados e registros a serem obtidos. 81 Serão registrados os dados que disserem respeito ao serviço (CAPS ou Centro de Saúde II), nº do prontuário, iniciais do nome do usuário, idade, data de nascimento, local de nascimento (cidade, estado e país), endereço atual (bairro e cidade), escolaridade, profissão, data de admissão no serviço, queixa de entrada, descrição dos principais sintomas, antecedentes familiares, hipótese diagnóstica, medicação em uso, nº de internações psiquiátricas (também datas e locais), outras doenças e medicação, se recebe ou não benefício do INSS, se recebe atendimentos terapêuticos (psicoterapia e/ou terapia ocupacional), qual a modalidade (em grupo, individual ou ambas), qual a frequência desse atendimento (uma vez por semana, duas vezes por semana ou três vezes por semana), se recebe acompanhamento psiquiátrico, se participa de alguma atividade terapêutica em oficinas e quais, qual o último encaminhamento recebido (data) e a evolução clínica do usuário. d-) Informar-se se a pesquisa será usada para outros fins. A pesquisa poderá ser utilizada para possíveis melhoras na forma de atendimento aos usuários da Saúde Mental tanto no CAPS – São Carlos-SP quanto no Centro de Saúde II, em Caconde-SP. e-) Planos de recrutamento, procedimentos e critérios para inclusão ou exclusão. A permissão para consulta aos prontuários será dada pelos responsáveis do CAPS – São Carlos-SP e do Centro de Saúde II, Caconde-SP, sendo que serão considerados para esta pesquisa somente os usuários adultos de ambos os serviços. f-) Descrever a possibilidade de risco e avaliar a sua gravidade. Os prontuários serão consultados em local privado e os dados coletados ficarão sob total responsabilidade da pesquisadora. Não será divulgada qualquer informação que possa levar a identificação do usuário. Assim sendo, consideramos que o risco deste procedimento é mínimo ou inexistente. g-) Apresentar previsão de ressarcimento de gastos aos sujeitos. Não haverá nenhum gasto para as instituições envolvidas. 82 ANEXO 4