Paraamãe,caçula parecemenor

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18 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, quarta-feira, 28 de maio de 2014
Musculação cerebral
Jonathan Nackstrand/AFP - 29/10/2012
Pesquisa indica
que estudar
fortalece o
cérebro. Quanto
maior o grau de
escolaridade de
uma pessoa,
mais chances
ela tem de se
recuperar de um
trauma no órgão
» VILHENA SOARES
conhecimento torna a alma jovem e
diminui a amargura da velhice.” A
frase enunciada por Leonardo
daVinci fala de algumas das vantagens que a busca por informações e os estudos trazem às pessoas. Pesquisadores da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, garantem que outro
benefício pode ser acrescentado
a essa lista: um cérebro com mais
capacidade de se recuperar de
traumas. Segundo uma pesquisa
publicada recentemente na revista especializada Neurology,
indivíduos com níveis altos de
escolaridade obtêm resultados
melhores no tratamento de lesões cerebrais e tendem a ter
sintomas menos severos quando são acometidos por doenças
neurodegenerativas, como o
mal de Alzheimer.
A curiosidade sobre a relação
entre anos de estudo e recuperação cerebral surgiu quando os
pesquisadores notaram diferenças significativas no progresso
de pacientes atendidos no hospital da universidade. “Depois
de terem esses tipos de lesões,
algumas pessoas ficam desabilitadas para o resto da vida e nunca são capazes de voltar ao trabalho, enquanto outras pessoas,
com problema semelhante, se
recuperam totalmente”, afirma,
em um comunicado à imprensa,
Eric Schneider, professor da Faculdade de Medicina da instituição. “Nós conhecemos alguns
fatores que levam a essas diferenças, mas não podemos explicar toda a variação. Esse trabalho buscou por mais peças do
quebra-cabeça”, completa.
Na investigação, a equipe
acompanhou um grupo de 769
pessoas com lesões cerebrais
traumáticas graves, muitas delas
decorrentes de acidentes de carro ou quedas. Os participantes já
haviam passado um período no
hospital e participavam da reabilitação. Os pesquisadores dividiram o grupo em três categorias:
pessoas que não cursaram o ensino médio, pacientes que tinham concluído o ensino médio
“O
Aula em universidade sueca: estudos fornecem reserva cognitiva, útil para recuperar o cérebro de traumas e retardar doenças como o Alzheimer
Johns Hopkins Medicine/Divulgação
As pessoas com um diploma
universitário apresentaram sete vezes
mais chances de se recuperarem
totalmente da lesão do que as pessoas
que não terminaram o ensino médio”
Eric Schneider,
professor da Faculdade de Medicina
da Universidade Johns Hopkins
e, por fim, aqueles que tinham
um curso de graduação.
No fim de um ano de acompanhamento, 214 pacientes se recuperaram totalmente da lesão. E
desses, quase a todos tinham, pelo menos, o ensino médio completo. E quanto mais anos de estudo, maior a taxa de sucesso. “As
pessoas com um diploma universitário apresentaram sete vezes
mais chances de se recuperarem
totalmente da lesão do que as
pessoas que não terminaram o
ensino médio”, constata Schneider. “E as pessoas com alguma
educação universitária tinham
quase cinco vezes mais chances
de se recuperar totalmente do
que aquelas sem instrução suficiente para ganhar um diploma
do ensino médio”, acrescenta.
Na avaliação dos cientistas
envolvidos no trabalho, o diferencial positivo das pessoas com
maior formação foi alcançado
graças ao que chamam de reserva
cognitiva. Indivíduos com mais
educação teriam um conhecimento acumulado maior, o que
beneficiaria a recuperação dos
problemas neurais. Para Renato Anghinah, chefe do Serviço
de Reabilitação Cognitivia PósTrauma de Crânio da Universidade de São Paulo (USP), a pesquisa da equipe americana
ilustra bem esse famoso conceito na área neurológica. “Para entender bem, podemos dizer que esse conhecimento adquirido, essa reserva cognitiva
que guardamos ao longo da vida, fica guardada em uma pequena poupança, que usamos
quando é necessário. Em casos
como essas lesões, por exemplo, ela auxilia um número
maior de sinapses neurais e um
aumento de conexões. E essas
conexões são ações que ajudam o cérebro a trabalhar melhor”, explica o brasileiro, que
não participou do estudo.
Segundo Anghinah, essa recuperação mais rápida é observada nos consultórios diariamente. “Nos casos que acompanhamos aqui no centro de tratamento, já notamos que pacientes com mais educação conseguem se recuperar mais rapidamente. Com pessoas que sabem
outros idiomas, por exemplo,
temos mais recursos de tratamento, podendo explorar suas
atividades de retomada”, diz.
Atrasando distúrbios
Os especialistas americanos
acreditam que outros trabalhos
podem ajudar a decifrar mais minuciosamente as vantagens do
conhecimento para a saúde cerebral. “Precisamos aprender mais
sobre como a educação ajuda a
proteger o cérebro e de que forma afeta a lesão e a resiliência.
Explorando essas relações, esperamos ajudar a identificar formas
de ajudar as pessoas a reverterem
uma lesão cerebral traumática”,
destaca Eric Schneider.
O norte-americano explica
ainda que a reserva cognitiva
tem sido estudada a fundo como “protetora” de doenças comuns na idade avançada. “Estudos têm focado principalmente em pacientes com evolução crônica neurodegenerativa, como o Alzheimer. Trabalhos recentes feitos com pacientes idosos indicam que escolaridade é um fator de independência cognitiva, que mais
tarde pode contribuir para o
desempenho das pessoas de
idade mais avançada”, escrevem os autores no trabalho.
De acordo com Rogério Gomes, neurologista e professor da
Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG), o estudo traz dados interessantes sobre o tema.
“O trabalho expande uma ideia
que já conhecíamos, a reserva
cognitiva, que sempre foi associada a problemas causados pela
demência. Sabemos que estudar
e explorar novos assuntos impede que doenças neurodegenerativas incapacitem o idoso. Aprender não impede que a doença
chegue, mas a atrasa, o que auxilia na vivência”, destaca.
Gomes ressalta que o trabalho
é inicial e que outras análises podem ser feitas para que exista total certeza dos benefícios do nível
de escolaridade. Porém, ele frisa
que um ponto positivo do trabalho é apontar mais benefícios dos
estudos. “A ideia de que devemos
estimular mais nosso cérebro é
algo muito importante em todos
os sentidos. Faz bem também para a saúde”, avalia.
Anghinah, da USP, ainda
acredita que o trabalho cumpre
a importante missão de valorizar a educação. “Sabemos que
níveis de escolaridade dependem muito de outros fatores,
como a situação socioeconômica do indivíduo, principalmente
quando criança, já que, nessa
época, a pessoa começa a formar a base do seu conhecimento. Alguém que começa a ler
mais tarde na vida, por exemplo,
já não possui o mesmo nível de
reserva cognitiva. Ainda precisamos de mais trabalhos que
mostrem detalhes precisos da
relação entre conhecimento e
proteção do cérebro, mas, ainda
assim, já podemos tomar como
de grande importância a vontade de aprender algo novo e exercitar a mente”, completa.
Iesb de Brasília, a percepção distorcida pode ser um traço evolutivo que faz com que os adultos
deem mais atenção às crianças
pequenas. “Ela aumenta a chance
de a mãe oferecer mais cuidado
ao filho mais novo”, explica. “Isso
também é importante para que o
filho mais velho possa ajudar na
sobrevivência da família, pois, antigamente, requisitos como força
física e altura eram fundamentais
na defesa de grupos”, completa.
Na opinião de Diva Maciel,
professora colaboradora da Universidade de Brasília (UnB), a pesquisa tem um viés interessante,
mas outros pontos devem ser levados em conta. “Temos questões
culturais fortes. Sabemos que pessoas do Ocidente têm mais essa
característica, e pode ser que isso
não ocorra em outros ambientes.
Fora que a personalidade da mãe
e dos filhos também conta. Há
crianças mais precoces que outras”, destaca. A especialista acredita que a continuidade do estudo pode trazer nova compreensão sobre as dinâmicas familiares. “ Sem dúvida, a pesquisa pode ajudar a área de pesquisa comportamental caso se desdobre
em outros trabalhos.”
Jordy Kaufman prevê novas
etapas para o trabalho. “Uma
delas buscará examinar a idade
aparente. E outra vai avaliar de
que maneira o cérebro das mães
responde a imagens de crianças
com diferentes tamanhos. Também estou interessado em saber
como os pais percebem seus
animais de estimação antes e
depois que um primeiro filho
nasce”, conta. (VS)
769
Total de pacientes com
lesão cerebral que
participaram do estudo
FAMÍLIA
Um experimento feito na Universidade de Tecnologia de Swinburne, na Austrália, concluiu que
as mães tendem a enxergar seus filhos caçulas menores do que realmente são. O pesquisador Jordy
Kaufman e colegas pediram para
que 474 mães estimassem a altura
de seus filhos mais novos e mais
velhos (com idade entre 2 e 6
anos), marcando-a em uma parede branca. Em média, as mães disseram que os caçulas eram 7,5cm
mais baixos do que realmente
eram. Já ao tentar adivinhar a
altura dos mais velhos, as voluntárias chegavam muito perto do
comprimento real.“Nossa investigação potencialmente explica por
que o ‘bebê da família’ nunca supera esse rótulo”, diz Kaufman.
OprofessordeSwinburneacredita que os resultados podem ser
justificados pela maneira como os
pais encaram o nascimento dos filhos. “A ilusão provavelmente decorre de um certo tipo de conexão
emocional com o filho mais novo,
o que leva os pais a ignorarem sinais de que eles estão ficando
Nossa
investigação
potencialmente
explica por que o
‘bebê da família’
nunca supera
esse rótulo”
Jordy Kaufman,
pesquisador da
Universidade de
Tecnologia
de Swinburne
Evolução
Para João Reis, professor de
psicologia do Centro Universitário
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Para a mãe, caçula
parece menor
mais velhos e maiores. Usamos
altura como uma medida, porque é fácil de verificar a precisão. Mas é possível que a percepção de outros aspectos também sejam influenciados pela
ordem de nascimento”, explica.
Kaufman conta que a ideia do
estudo partiu dos comentários de
alguns pais que se diziam surpresos com a aparência do filho mais
velho, que parecia ter crescido de
repente após a chegada de um novo membro à família. “Você pode
encontrar pessoas que citam isso
em posts na internet, mas não vi
nada em uma revista científica sobre o assunto”, destaca.
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