CMYK Ciência Editora: Ana Paula Macedo [email protected] 3214-1195 • 3214-1172 / fax: 3214-1155 18 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, quarta-feira, 28 de maio de 2014 Musculação cerebral Jonathan Nackstrand/AFP - 29/10/2012 Pesquisa indica que estudar fortalece o cérebro. Quanto maior o grau de escolaridade de uma pessoa, mais chances ela tem de se recuperar de um trauma no órgão » VILHENA SOARES conhecimento torna a alma jovem e diminui a amargura da velhice.” A frase enunciada por Leonardo daVinci fala de algumas das vantagens que a busca por informações e os estudos trazem às pessoas. Pesquisadores da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, garantem que outro benefício pode ser acrescentado a essa lista: um cérebro com mais capacidade de se recuperar de traumas. Segundo uma pesquisa publicada recentemente na revista especializada Neurology, indivíduos com níveis altos de escolaridade obtêm resultados melhores no tratamento de lesões cerebrais e tendem a ter sintomas menos severos quando são acometidos por doenças neurodegenerativas, como o mal de Alzheimer. A curiosidade sobre a relação entre anos de estudo e recuperação cerebral surgiu quando os pesquisadores notaram diferenças significativas no progresso de pacientes atendidos no hospital da universidade. “Depois de terem esses tipos de lesões, algumas pessoas ficam desabilitadas para o resto da vida e nunca são capazes de voltar ao trabalho, enquanto outras pessoas, com problema semelhante, se recuperam totalmente”, afirma, em um comunicado à imprensa, Eric Schneider, professor da Faculdade de Medicina da instituição. “Nós conhecemos alguns fatores que levam a essas diferenças, mas não podemos explicar toda a variação. Esse trabalho buscou por mais peças do quebra-cabeça”, completa. Na investigação, a equipe acompanhou um grupo de 769 pessoas com lesões cerebrais traumáticas graves, muitas delas decorrentes de acidentes de carro ou quedas. Os participantes já haviam passado um período no hospital e participavam da reabilitação. Os pesquisadores dividiram o grupo em três categorias: pessoas que não cursaram o ensino médio, pacientes que tinham concluído o ensino médio “O Aula em universidade sueca: estudos fornecem reserva cognitiva, útil para recuperar o cérebro de traumas e retardar doenças como o Alzheimer Johns Hopkins Medicine/Divulgação As pessoas com um diploma universitário apresentaram sete vezes mais chances de se recuperarem totalmente da lesão do que as pessoas que não terminaram o ensino médio” Eric Schneider, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Johns Hopkins e, por fim, aqueles que tinham um curso de graduação. No fim de um ano de acompanhamento, 214 pacientes se recuperaram totalmente da lesão. E desses, quase a todos tinham, pelo menos, o ensino médio completo. E quanto mais anos de estudo, maior a taxa de sucesso. “As pessoas com um diploma universitário apresentaram sete vezes mais chances de se recuperarem totalmente da lesão do que as pessoas que não terminaram o ensino médio”, constata Schneider. “E as pessoas com alguma educação universitária tinham quase cinco vezes mais chances de se recuperar totalmente do que aquelas sem instrução suficiente para ganhar um diploma do ensino médio”, acrescenta. Na avaliação dos cientistas envolvidos no trabalho, o diferencial positivo das pessoas com maior formação foi alcançado graças ao que chamam de reserva cognitiva. Indivíduos com mais educação teriam um conhecimento acumulado maior, o que beneficiaria a recuperação dos problemas neurais. Para Renato Anghinah, chefe do Serviço de Reabilitação Cognitivia PósTrauma de Crânio da Universidade de São Paulo (USP), a pesquisa da equipe americana ilustra bem esse famoso conceito na área neurológica. “Para entender bem, podemos dizer que esse conhecimento adquirido, essa reserva cognitiva que guardamos ao longo da vida, fica guardada em uma pequena poupança, que usamos quando é necessário. Em casos como essas lesões, por exemplo, ela auxilia um número maior de sinapses neurais e um aumento de conexões. E essas conexões são ações que ajudam o cérebro a trabalhar melhor”, explica o brasileiro, que não participou do estudo. Segundo Anghinah, essa recuperação mais rápida é observada nos consultórios diariamente. “Nos casos que acompanhamos aqui no centro de tratamento, já notamos que pacientes com mais educação conseguem se recuperar mais rapidamente. Com pessoas que sabem outros idiomas, por exemplo, temos mais recursos de tratamento, podendo explorar suas atividades de retomada”, diz. Atrasando distúrbios Os especialistas americanos acreditam que outros trabalhos podem ajudar a decifrar mais minuciosamente as vantagens do conhecimento para a saúde cerebral. “Precisamos aprender mais sobre como a educação ajuda a proteger o cérebro e de que forma afeta a lesão e a resiliência. Explorando essas relações, esperamos ajudar a identificar formas de ajudar as pessoas a reverterem uma lesão cerebral traumática”, destaca Eric Schneider. O norte-americano explica ainda que a reserva cognitiva tem sido estudada a fundo como “protetora” de doenças comuns na idade avançada. “Estudos têm focado principalmente em pacientes com evolução crônica neurodegenerativa, como o Alzheimer. Trabalhos recentes feitos com pacientes idosos indicam que escolaridade é um fator de independência cognitiva, que mais tarde pode contribuir para o desempenho das pessoas de idade mais avançada”, escrevem os autores no trabalho. De acordo com Rogério Gomes, neurologista e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o estudo traz dados interessantes sobre o tema. “O trabalho expande uma ideia que já conhecíamos, a reserva cognitiva, que sempre foi associada a problemas causados pela demência. Sabemos que estudar e explorar novos assuntos impede que doenças neurodegenerativas incapacitem o idoso. Aprender não impede que a doença chegue, mas a atrasa, o que auxilia na vivência”, destaca. Gomes ressalta que o trabalho é inicial e que outras análises podem ser feitas para que exista total certeza dos benefícios do nível de escolaridade. Porém, ele frisa que um ponto positivo do trabalho é apontar mais benefícios dos estudos. “A ideia de que devemos estimular mais nosso cérebro é algo muito importante em todos os sentidos. Faz bem também para a saúde”, avalia. Anghinah, da USP, ainda acredita que o trabalho cumpre a importante missão de valorizar a educação. “Sabemos que níveis de escolaridade dependem muito de outros fatores, como a situação socioeconômica do indivíduo, principalmente quando criança, já que, nessa época, a pessoa começa a formar a base do seu conhecimento. Alguém que começa a ler mais tarde na vida, por exemplo, já não possui o mesmo nível de reserva cognitiva. Ainda precisamos de mais trabalhos que mostrem detalhes precisos da relação entre conhecimento e proteção do cérebro, mas, ainda assim, já podemos tomar como de grande importância a vontade de aprender algo novo e exercitar a mente”, completa. Iesb de Brasília, a percepção distorcida pode ser um traço evolutivo que faz com que os adultos deem mais atenção às crianças pequenas. “Ela aumenta a chance de a mãe oferecer mais cuidado ao filho mais novo”, explica. “Isso também é importante para que o filho mais velho possa ajudar na sobrevivência da família, pois, antigamente, requisitos como força física e altura eram fundamentais na defesa de grupos”, completa. Na opinião de Diva Maciel, professora colaboradora da Universidade de Brasília (UnB), a pesquisa tem um viés interessante, mas outros pontos devem ser levados em conta. “Temos questões culturais fortes. Sabemos que pessoas do Ocidente têm mais essa característica, e pode ser que isso não ocorra em outros ambientes. Fora que a personalidade da mãe e dos filhos também conta. Há crianças mais precoces que outras”, destaca. A especialista acredita que a continuidade do estudo pode trazer nova compreensão sobre as dinâmicas familiares. “ Sem dúvida, a pesquisa pode ajudar a área de pesquisa comportamental caso se desdobre em outros trabalhos.” Jordy Kaufman prevê novas etapas para o trabalho. “Uma delas buscará examinar a idade aparente. E outra vai avaliar de que maneira o cérebro das mães responde a imagens de crianças com diferentes tamanhos. Também estou interessado em saber como os pais percebem seus animais de estimação antes e depois que um primeiro filho nasce”, conta. (VS) 769 Total de pacientes com lesão cerebral que participaram do estudo FAMÍLIA Um experimento feito na Universidade de Tecnologia de Swinburne, na Austrália, concluiu que as mães tendem a enxergar seus filhos caçulas menores do que realmente são. O pesquisador Jordy Kaufman e colegas pediram para que 474 mães estimassem a altura de seus filhos mais novos e mais velhos (com idade entre 2 e 6 anos), marcando-a em uma parede branca. Em média, as mães disseram que os caçulas eram 7,5cm mais baixos do que realmente eram. Já ao tentar adivinhar a altura dos mais velhos, as voluntárias chegavam muito perto do comprimento real.“Nossa investigação potencialmente explica por que o ‘bebê da família’ nunca supera esse rótulo”, diz Kaufman. OprofessordeSwinburneacredita que os resultados podem ser justificados pela maneira como os pais encaram o nascimento dos filhos. “A ilusão provavelmente decorre de um certo tipo de conexão emocional com o filho mais novo, o que leva os pais a ignorarem sinais de que eles estão ficando Nossa investigação potencialmente explica por que o ‘bebê da família’ nunca supera esse rótulo” Jordy Kaufman, pesquisador da Universidade de Tecnologia de Swinburne Evolução Para João Reis, professor de psicologia do Centro Universitário CMYK Para a mãe, caçula parece menor mais velhos e maiores. Usamos altura como uma medida, porque é fácil de verificar a precisão. Mas é possível que a percepção de outros aspectos também sejam influenciados pela ordem de nascimento”, explica. Kaufman conta que a ideia do estudo partiu dos comentários de alguns pais que se diziam surpresos com a aparência do filho mais velho, que parecia ter crescido de repente após a chegada de um novo membro à família. “Você pode encontrar pessoas que citam isso em posts na internet, mas não vi nada em uma revista científica sobre o assunto”, destaca.