transtornos de aprendizagem dislexia – um estudo de caso

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VI Congresso de Pesquisa e Inovação da Rede Norte e Nordeste de Educação Tecnológica
Natal-RN -2011
TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM: DISLEXIA, UM ESTUDO DE CASO
A. C. S. Freitas1 e A. C. M. Autor2 e A. C. S. Freitas3 e L.C. Araújo4 e S.I. Andrade5
Instituto Federal da Bahia - Campus Vitória da Conquista e 2Universidade do Estado da Bahia –
Campus Caetité e 3Faculdade Juvêncio Terra e 4Universidade estadual do Sudoeste da Bahia - Campus
Vitória da Conquista e 5Instituto Federal da Bahia - Campus Vitória da Conquista
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[email protected][email protected] - [email protected][email protected] [email protected]
RESUMO
Neste artigo abordam-se os Transtornos de Aprendizagem, destacando a dislexia. O presente
estudo apresenta a importância de uma equipe multidisciplinar na confirmação do diagnóstico, bem
como objetiva proporcionar ao disléxico uma forma de conviver com a dificuldade.
O desenvolvimento de habilidades básicas para ler e escrever, graças ao seu impacto na
educação recebe uma atenção especial, principalmente nas séries iniciais do ensino fundamental. A
aprendizagem pode ser um grande desafio para muitos e dificuldades variáveis podem surgir durante
este processo.
A principal característica dos Transtornos de Aprendizagem é a presença de um funcionamento
acadêmico abaixo do esperado para a pessoa, tendo em vista sua idade cronológica, suas medidas de
inteligência e se a educação que recebe é apropriada para sua idade.
A dislexia deve ser diagnosticada por uma equipe multidisciplinar (neurologista, psicólogo,
fonoaudiólogo, psicopedagogo). Uma avaliação detalhada possibilita um acompanhamento mais efetivo
das dificuldades após o diagnóstico, levando a resultados mais concretos.
A patologia costuma ser diagnostica na infância, no período escolar, e necessita de uma
abordagem multidisciplinar, envolvendo neurologista, fonoaudiólogo, psicopedagogo, psicólogo e
professor. Assim como os demais transtornos de aprendizagem, a dislexia não tem cura, porém existe
tratamento.
Palavras-chave: Transtorno de Aprendizagem, Dislexia, Equipe Multidisciplinar.
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1. INTRODUÇÃO
O desenvolvimento de habilidades básicas para ler e escrever, graças ao seu impacto na
educação recebe uma atenção especial, principalmente nas séries iniciais do ensino fundamental. A
aprendizagem pode ser um grande desafio para muitos e dificuldades variáveis podem surgir durante
este processo.
Percebe-se que um dos aspectos que chama a atenção está relacionado à ortografia, isto é, o
domínio da escrita convencional das palavras. Pode ser difícil, para muitas crianças, compreender como
as palavras devem ser apropriadamente escritas, o que pode ser observado nas alterações ortográficas
presentes em suas produções escritas.
Desta forma, ressaltamos que as crianças cometem "erros" durante a aprendizagem da escrita
até que, progressivamente, elas dominem de forma mais segura o sistema ortográfico. Portanto, os
erros tornam-se cada vez mais específicos e ocasionais. Por outro lado, também se observa que algumas
delas parecem ter uma direção diferente, exibindo uma diversidade e constância de alterações de
escrita mais clara e duradoura.
Tais problemas podem, além de revelar uma possível má qualidade de ensino, ser sintomas de
problemas ou limitações, como os distúrbios de aprendizagem e as dislexias. Muitas destas crianças
acabam sendo encaminhadas para profissionais especializados para diagnóstico e atendimento extraescolar.
Neste trabalho apresentaremos conceitos de transtorno de aprendizagem, destacando a
dislexia, lembrando que uma equipe multidisciplinar deve atuar na confirmação do diagnóstico, como
também proporcionar ao disléxico uma forma de conviver com a dificuldade.
2. CONTEÚDO DO DESENVOLVIMENTO
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Desordens Mentais - DSM IV-R (2002), a principal
característica dos Transtornos de Aprendizagem é a presença de um funcionamento acadêmico abaixo
do esperado para a pessoa, tendo em vista sua idade cronológica, suas medidas de inteligência e se a
educação que recebe é apropriada para sua idade.
Dentre os Transtornos de Aprendizagem podem ser encontrados o Transtorno de Leitura (ou
Dislexia); Transtorno de matemática (ou Discalculia); Transtorno da Expressão Escrita (ou Disgrafia); e
Transtorno da Aprendizagem sem outra especificação (DSM IV-R, 2002).
Pode-se diagnosticar um transtorno de aprendizagem quando os resultados obtidos a partir de
testes padronizados e aplicados individualmente que avaliam itens como leitura, matemática e
expressão escrita trazem como resultado dados substancialmente abaixo do esperado para a idade,
escolarização e nível de inteligência da pessoa (DSM IV-R, 2002).
Para tal diagnóstico, é preciso também que este baixo desempenho nas referidas áreas
acadêmicas interfiram significativamente no rendimento escolar ou nas atividades da vida diária que
exigem habilidades em leitura, matemática e escrita. Quando há existência de um déficit sensorial, as
dificuldades de aprendizagem são maiores do que apenas as dificuldades associadas com o déficit (DSM
IV-R, 2002).
Pergunta-se: o que é dislexia? É uma perturbação em um dos processos psicológicos básicos
envolvidos na compreensão ou utilização da linguagem falada ou escrita, que pode manifestar-se por
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uma aptidão imperfeita de escutar; ler, compreendendo o que se lê; escrever; soletrar ou fazer cálculos
matemáticos.
Para LUCZYNSKI (2002, p. 134):
Dislexia é muito mais do que uma dificuldade em leitura, embora muitas vezes,
ainda lhe seja atribuído este significado circunscrito. Refere-se à disfunção ou
dano no uso de palavras. O prefixo “dys”, do grego, significando imperfeita
como disfunção, isto é, uma função anormal ou prejudicada; “lexia”, do grego
referente ao uso de palavras (não somente em leitura). E palavras dão sentido
à comunicação através da Linguagem – em leitura, sim, porém também na
escrita, na fala, na linguagem receptiva. “Palavras que, na escola, são usadas
em todo ensino como na matemática, ciências, estudos sociais ou em qualquer
outra atividade”.
Ao contrário do que muitos pensam, a dislexia não é o resultado de má alfabetização,
desatenção, desmotivação, condição sócio-econômica ou baixa inteligência. Ela é uma condição
hereditária com alterações genéticas, apresentando ainda alterações no padrão neurológico.
Deve ser diagnosticada por uma equipe multidisciplinar [neurologista, psicólogo, fonoaudiólogo,
psicopedagogo]. Uma avaliação detalhada dá condições de um acompanhamento mais efetivo das
dificuldades após o diagnóstico, direcionando-o às particularidades de cada indivíduo, levando a
resultados mais concretos.
A dislexia deve ser diferenciada de síndromes de retardo mental; habilidades de leitura pobres
resultantes de educação inadequada; disfunções ou deficiências auditivas e visuais; lesões cerebrais
(congênita e adquirida); desordens afetivas anteriores ao processo do fracasso escolar (com constantes
fracassos escolares o disléxico irá apresentar prejuízos emocionais, mas estes são conseqüências, não
causa da dislexia);
Iak (2004, p.13) destaca que:
No histórico de estudos relativos à dislexia e suas implicações, poucas são as
referências sobre a pessoa que se vê exposta às possíveis limitações decorrentes
desse distúrbio. Na observação cotidiana de quem convive profissionalmente ou no
contexto familiar com pessoas portadoras de dislexia, percebe-se que o insucesso
na vida escolar pode dar origem a dificuldades em outras esferas de suas vidas.
Além das questões mais formais, relacionadas com atividades que demandam as
habilidades de leitura e de escrita, existem as implicações sócio-culturais que
possibilitam o surgimento de comprometimentos emocionais.
Transtornos associados (co-morbidade). Crianças com transtorno de leitura têm risco mais alto
do que a média de apresentar problemas de atenção, transtornos disruptivos do comportamento (p. ex.,
transtorno de conduta) e transtornos depressivos, em especial as mais velhas e os adolescentes. Dados
sugerem que até 25% das crianças com esse transtorno também têm TDAH (Transtorno de Deficit de
Atenção e Hiperatividade).
Estudos familiares indicam que pode haver alguns fatores genéticos comuns que produzem
tanto transtorno da leitura como síndromes de atenção. Alguma evidência sugere incidência mais alta
de transtornos de conduta entre adolescentes afetados. O risco aumentado pode ser atribuído a TDAH
co-mórbido e a fatores independentes que tornam adolescentes com transtornos de leitura mais
suscetíveis a envolvimento em comportamentos anti-sociais.
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Crianças têm taxas mais altas do que a média de depressão em questionários auto-respondidos
e experimentam mais sintomas de ansiedade do que aquelas sem transtornos da aprendizagem. Além
disso, tendem a apresentar dificuldades nos relacionamentos com os pares e menos habilidade para
responder com sensibilidade a situações sociais ambíguas.
Muitas crianças com transtorno da leitura obtêm algum conhecimento da linguagem impressa
durante seus primeiros dois anos do ensino fundamental, mesmo sem qualquer assistência. Ao final da
1ª série, muitas delas aprenderam a ler algumas palavras; entretanto, quando chegam à 3ª série,
necessitam de suporte pedagógico para acompanhar seus colegas.
Em casos de dislexia leve, o suporte o quanto mais cedo garantirá a remissão dos sintomas na 1ª
ou 2ª série, porém, em casos graves, e dependendo do padrão de déficits e áreas preservadas, pode ser
necessário apoio educacional até o ensino médio.
Pela própria conceituação, há necessidade de que um grupo de profissionais proceda à
investigação e à análise dos déficits funcionais, trace o perfil de desempenho da criança, formule
hipóteses explicativas e especifique os objetivos terapêuticos.
O psicólogo atuará realizando a avaliação emocional, perceptual e intelectual, auxiliando na
estabilização da auto-estima, no auto-conhecimento que possibilite ao indivíduo a percepção de como
consegue aprender melhor, o que auxiliará o estabelecimento da metodologia utilizada pelo
psicopedagogo.
O trabalho com a família do disléxico não pode ser esquecido, considerando a importância desta
no desenvolvimento dos filhos.
A avaliação intelectual e emocional ocorrerá através do testes psicológicos psicométricos e
projetivos que consiste em medir as diferenças existentes, quanto à determinada característica, entre
diversos sujeitos, como também o comportamento do mesmo indivíduo em diferentes ocasiões.
Segundo a psicanalista Silvana Rabello, professora da Faculdade de Psicologia da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o tratamento psicoterápico deve se iniciar realizando o
levantamento histórico da criança, colhida junto aos pais, e do exame direto da criança, deve-se, antes
de mais nada, diferenciar um quadro orgânico de um quadro emocional, sendo bem alta a incidência
deste último evidenciada por problemas de fala.
A psicóloga ainda afirma que as famílias de crianças com problemas de fala e linguagem devem
ser inseridos no tratamento, pois se trata de um quadro de deficiência comunicativa e a família é o
maior estímulo e modelo comunicativo. "A família deve ser bem orientada, assim como acolhida no seu
sofrimento frente um filho com problemas graves".
O tratamento psicoterápico pode ocorrer de maneira individual ou em grupo. A sessão em
grupo tem como proposta criar dentro do grupo um espaço de descontinuidade para que eles pudessem
elaborar as suas histórias, suas dificuldades e conflitos. Espera-se que na interlocução e na interação
com o outro, a criança e/ou adolescente acabe por processar os fatos que o afligem. Ao fazer um relato,
o outro que o ouve e opina, permite aquele momento de processar, de tornar pensável o ocorrido.
Esse momento leva o adolescente a um desenvolvimento de sua crítica, à percepção de que eles
possuem um potencial que deve ser respeitado, desenvolvendo um sentimento de autoconfiança e
auto-estima e, deste modo, ressignificar todo o seu processo de aprendizagem. Pois o indivíduo, ao
desenvolver sua crítica, estará desenvolvendo também um poder de autoria de pensamento, que o leva
a uma autonomia e responsabilidade.
Deve-se propor o estabelecimento de metas a ser alcançadas com o sentimento de autonomia
do individuo. Se ele não tiver metas a atingir não terá nunca a responsabilidade do fazer; não terá o
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sentimento de gratidão de um ser autônomo; e, conseqüentemente, será um indivíduo que não se
autoriza, e por não se autorizar, não se respeita, advindo insatisfação, desmotivação e insegurança. O
indivíduo precisa de alguém que interaja com ele, tanto o adulto como os participantes do grupo, que o
ouçam, que o ajudem a desenvolver “o seu poder ser”, “o seu poder fazer”, “o seu poder aprender”.
O grupo possui uma importância tão grande que as dinâmicas acabam por tornarem-se tanto
meios que nos indicam os prováveis diagnósticos das dificuldades de aprendizagem, bem como os
próprios instrumentos de intervenções psicoterápicas e pedagógicas abarcando os contextos individuais
e educacionais, familiar e Escolar.
Uma equipe multidisciplinar, formada por Psicóloga, Fonoaudióloga, Psicopedagoga Clínica e
Professor, deve iniciar uma minuciosa investigação. Essa mesma equipe deve ainda garantir uma maior
abrangência do processo de avaliação, verificando a necessidade do parecer de outros profissionais,
como Neurologista, Oftalmologista e outros, conforme o caso.
Identificar um quadro de dislexia não é tarefa fácil. Ainda hoje, o método por exclusão é o mais
empregado. Por meio dele é possível excluir déficit intelectual, sensorial, orgânico, motivacional e
instrucional, que pode ser causa de dificuldade na aquisição da leitura. Os disléxicos ainda podem
apresentar dificuldade em memorizar seqüências, em orientação direita/esquerda e em organização
espaço-temporal. Sendo assim, a equipe de profissionais deve verificar todas as possibilidades antes de
confirmar ou descartar o diagnóstico de dislexia.
O profissional de educação tem papel fundamental no processo de acompanhamento da
aprendizagem do aluno. Em se tratando de professor de alunos portadores de dificuldade de
aprendizagem, observar-se-á a formação específica e continuada em Educação Inclusiva ou Especial.
Assim sendo, para Lane; Codo apud La Rosa:
O meio escolar deve ser um lugar que propicie determinadas condições que
facilitem o crescimento, sem prejuízo dos contatos com o meio social externo.
Há dois pressupostos de partida: primeiro, é que a escola tem como finalidade
inerente a transmissão do saber; segundo, que aprendizagem deve ser ativa e
para tanto, supõe-se um meio estimulante (2002, p. 32).
A sua atividade deve ser baseada na diferença de cada estudante, sendo importante salientar
que o tipo de acolhimento, a diversidade e a qualidade das atividades voltadas para o contexto,
garantem o desenvolvimento do aluno. Uma rede de relações deve ser criada entre o trabalho do
professor, instituição escolar e família. A intervenção da escola se refere à garantia dos direitos da
inclusão previstos pela lei, quais sejam a garantia do sucesso escolar através do acesso e da
permanência, em parceria com as secretarias responsáveis pelo tema e, principalmente, com a
interação com a família. Para tanto, a escola precisa se adequar às necessidades do aluno,
especialmente se se tratar de portador de necessidade especial.
Quais atribuições cabem à escola, enquanto instituição que identifica os primeiros sinais de
dislexia? Cabe à escola oferecer aos pais de alunos e aos próprios alunos, metodologias interessantes e
eficientes, do ponto de vista pedagógico, para atender aos alunos especiais, os que apresentam
dificuldades em leitura, escrita e ortografia. É incumbência da escola e, em especial dos professores,
oferecer recuperação de estudos para aqueles que têm baixo rendimento escolar.
O presidente da ABD (Associação Brasileira de Dislexia), João Alberto Ianhez, revela que, ao
contrário da equivocada fama, o disléxico possui a inteligência de normal para cima, nunca abaixo. Além
de todos serem pessoas extremamente criativas. “O que o disléxico precisa é encontrar os seus próprios
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caminhos para conseguir fazer tudo. Em hipótese nenhuma ele é incapaz, apenas precisa de maior
atenção e orientação para que se desenvolva e aprenda a lidar com essas dificuldades.
O tratamento e o apoio dos pais e da escola são fundamentais para que ele consiga atingir seus
objetivos”, diz João Alberto Inhaez, comentando ainda que o apoio esperado da escola é que tenha a
consciência de que aquele aluno é apenas diferente e não problemático. “O aluno disléxico exige um
tratamento diferenciado por parte dos professores e da instituição.
Diferenciado no sentido de que precisa de mais atenção para aprender a matéria, precisa ser
submetido a outro tipo de avaliação, que não a convencional aplicada pelas escolas. É direito, já está na
constituição para deficiências físicas e de aprendizado. Mas a maioria das escolas ainda se mostra
resistente a isso, porque significa mais trabalho e alguns professores até evitam saber sobre o assunto”.
Cabe à família, enquanto primeira instituição de integração social, acompanhar o processo de
desenvolvimento da criança e observar se a criança apresenta dificuldades em alguma área. No caso da
dislexia, a família deve estar atenta ao nível de proficiência das palavras, por isso, deve ter informações
sobre o nível de linguagem de acordo à faixa etária da criança.
Em casa, o estímulo deve ser iniciado com a leitura de histórias infantis pelos pais para os filhos,
a estimulação de jogos de rimas, que ajudam na consciência fonológica, jogos com letras e desenhos,
para a criança já ir se familiarizando com a escrita, leitura de rótulos e propagandas, enfim, nunca se
deve obrigar uma criança a ler um livro, e sim fazê-la ter vontade de ler e conhecer a sua história.
Destacando ainda o papel da família no processo de tratamento, pois os pais devem ficar
atentos sobre o desempenho de leitura de seus filhos. As baixas notas em língua portuguesa e a falta de
interesse em ler textos podem ser sinais de alerta importante para um pedido de ajuda profissional.
Os alunos que apresentam características de dislexia tendem a se afastar de atividades que
envolvem a leitura ou texto escrito, temendo as dificuldades inerentes ao sistema escrito da língua e
caminham para atividades outras como atividades de lazer, esporte, liderança escolar, entre tantas em
que possa revelar seu potencial de criação e inteligência.
Segundo Júlia E. Gonçalves, o olhar e a escuta psicopedagógica é dirigida para o sujeito e sua
história, não se interessando pelas características que os disléxicos têm em comum, nem com rótulos. O
olhar e a escuta psicopedagógica é dirigida para o sujeito e sua história de trocas, dificuldades de leitura
/ escrita, no contexto de sua de sua modalidade de aprendizagem.
O psicopedagogo deve fazer perguntas para situar o indivíduo com dislexia como sujeito e não
como síndrome; como identidade e não como categoria; saber como esse indivíduo aprendeu, o que
sabe hoje; quais os conhecimentos que possui ou não, situando-o como aprendente e não como aluno;
como posso ajudar esse indivíduo. A partir daí pode intervir:
1- Diferenciando - tirando o sujeito do lugar do estereótipo e tornando-o único a seus próprios
olhos e aos de sua família e escola;
2- Abrindo possibilidades de mudança - a partir da diferenciação, o sujeito, a família e a escola
podem mudar sua maneira de atuar, o que vai repercutir na modalidade de aprendizagem;
3- Resgatando o prazer de aprender - fundamental para conectar a estrutura desejante e
estruturar um corpo com possibilidades de aprendizagem;
4- Construindo juntos estratégias para o desempenho das funções de leitura e escrita;
5- Oferecendo suporte tecnológico - para adequação das respostas do sujeito às necessidades
de comunicação com o meio em que convive.
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Agindo desta forma, a Psicopedagogia tem ajudado muitos indivíduos com síndrome disléxica ou
outras dificuldades, a resgatar sua autonomia, prazer e criatividade diante de situações de
aprendizagem
Este profissional atua em pesquisas, prevenção e terapia fonoaudióloga na área de comunicação
oral e escrita, voz e audição. Podendo atuar sozinho ou em conjunto, com outros profissionais de saúde
em clínicas, creches, escolas comuns, especiais, e comunidades. Essa ciência aborda os distúrbios de
voz, audição e da linguagem. As quatro maiores áreas abordadas pela fonoaudióloga são: voz, audição,
linguagem e motricidade oral.
O trabalho de Prevenção pode ser feito ainda na primeira infância quando os pais ou
professores estiverem atentos aos sinais de alerta. Os sintomas que podem indicar a dislexia, antes de
um diagnóstico multidisciplinar, só indicam um distúrbio de aprendizagem, os sintomas não confirmam
a dislexia. Somente um profissional capacitado poderá diagnosticar a dislexia.
A terapia precoce proporciona os melhores resultados. Sendo assim, o fonoaudiólogo o
encaminhará a outros profissionais incluindo Psicólogo, Neurologista, Psicopedagogo, Oftalmologista e
outros profissionais conforme o caso.
A criança E.G., 12 anos e três meses, sexo masculino, sinistro, multirepetente, atualmente
cursando a 2º fase do ciclo básico, foi encaminhado pelo Serviço Municipal de Atendimento
Psicopedagógico para o Hospital de Clínicas (HC), com solicitação de diagnóstico por suspeita de dislexia.
Na época da avaliação, E.G. freqüentava, há três anos e 3 meses, o setor de Psicopedagogia da
Prefeitura. Segundo relato do setor, a criança apresentava progressos quanto aos aspectos emocionais,
mostrando-se mais participativo, expondo suas idéias, opiniões, ou seja, acreditando mais em si próprio.
Quanto à linguagem, E.G. demonstrava verbalização mais clara e coerente. Sua aprendizagem quanto
aos conceitos matemáticos, também havia se ampliado. No entanto, não demonstrava progresso algum
em leitura e escrita.
Frente a esses dados, o processo-diagnóstico foi iniciado empregando-se como instrumentos de
avaliação um roteiro para entrevista com pais ou responsáveis pela criança, um questionário a ser
respondido pelo professor, e testes formais, tais como: WISC (Wechsler Intelligence Scale for Children),
Exame Psicomotor (Picq & Vayer, 1985), Audibilização (Golbert, 1988), Inventário de Capacidades
Primárias e Teste Exploratório de Dislexia (Condemarin & Blomquist, 1989).
A história pessoal da criança, obtida por meio da entrevista com os pais, revelou alguns
antecedentes indicativos para dificuldades específicas de leitura, tais como: atraso no desenvolvimento
psicomotor e dificuldades na articulação verbal. Até 4 anos de idade, E. G. não conseguia apreender a
colher com as mãos para se alimentar e necessitou do auxílio de adultos. As habilidades que envolviam
presteza na execução com as mãos eram realizadas com lentidão. Atualmente, a criança apresenta
gagueira, principalmente, quando relata fatos de forma rápida e normalmente "esquece" detalhes e
seqüência dos mesmos.
Segundo relato da professora, E. G. não compreende o processo da leitura e da escrita, somente
copia. É uma criança interessada, disciplinada, que permanece atento às explicações e concentra-se
durante a execução das tarefas. No entanto, não conclui as atividades no tempo previsto e não procede
à leitura e escrita. O método de alfabetização empregado em sua escola é o de palavra inteira ou
método global/visual.
Scoz menciona inúmeros fatores que contribuem para as dificuldades de aprendizagem:
Os problemas de aprendizagem não são restringíveis nem a causas físicas ou
psicológicas, nem a análises das conjunturas sociais. É preciso compreendê-los
a partir de um enfoque ultidimensional, que amalgame fatores orgânicos,
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cognitivos, afetivos, sociais e pedagógicos, percebidos dentro das articulações”
(Scoz 1994).
Os resultados obtidos nos testes formais indicaram que E. G. apresenta desempenho intelectual
dentro dos padrões de normalidade compatível com sua idade cronológica. No teste WISC, a criança
respondeu melhor aos subitens não-verbais, apresentando rebaixamento na área verbal. Os dados
quantitativos obtidos nessa área (Q.I.84) são indicativos para distúrbios de aprendizagem (Johnson &
Mykelebust, 1987).
O "Scatter" ou análise da dispersão das habilidades cognitivo-perceptivas revela uma acentuada
assincronia de rendimento (i.e., os escores obtidos variaram de 4 em informação a 12 em completar
figuras). Segundo Condemarin e Blomquist (1989), é comum em crianças disléxicas, certos fatores
aparecerem muito evoluídos enquanto outros são bastante diminuídos.
No Exame Psicomotor, a criança apresentou desempenho compatível com sua idade cronológica
para coordenação dinâmica geral e controle segmentário do próprio corpo. Observou-se um leve
rebaixamento em coordenação das mãos e linguagem e um rebaixamento severo em organização
espacial, apresentando nessa área desempenho para 6 anos.
No teste de Audibilização, E. G. apresentou dificuldade em discriminação fonemática (trocou ga
por ca, pa por ba, e fa por va), em memória de relatos, e organização sintático-semântica.
No Inventário de Capacidades Primárias, apresentou domínio quanto a conceitos de classes,
posição em conceitos de espaço e conceitos descritivos. Verbalizou corretamente o alfabeto, mas não
conseguiu redigi-lo. No entanto, escreveu a seqüência correta de números de 1 a 31.
Em discriminação visual do alfabeto, identificou corretamente somente as vogais e consoantes
c, j, m, n, s, v, e x. Trocou f pelo j e l pelo m, verbalizou não saber o nome das demais. Em discriminação
visual de pares de letras e/ou sílabas, identificou Wm como sendo Mm. Mais uma vez, apresentou
dificuldades em organização espacial.
A avaliação da rota visual/lexical não foi possível visto que, em leitura de palavras, a criança
limitou-se a ler vogais e monossílabos, tais como: eu, sim, não, é. Apresentou no entanto, leitura
logográfica reconhecendo a palavras Coca-Cola em uma lata de refrigerante, SUS na entrada do hospital
e Escola em uma placa indicativa.
No teste Exploratório de Dislexia, E. G. apresentou confusão entre letras e sílabas com
diferenças sutis de grafia, tais como: m/n, a/o, l/n, mo/no, fa/ta e confusão entre letras que possuem
um ponto de articulação comum, e cujos sons são acusticamente próximos, tais como: d/t, c/g, g/z, v/f.
Apresentou desempenho satisfatório somente para o 1º nível de leitura, ou seja, domina parcialmente
nome de letras e algumas sílabas, no entanto, não conhece o som da letra, nem apresenta leitura de
sílabas diretas com duplo sentido no som. Desta forma, os dados obtidos nas provas acima aplicadas
revelam:
a) notória discrepância entre desempenho intelectual (verificado pelo teste WISC) e
desempenho em leitura (observado no teste Exploratório de Dislexia e na prova de leitura de palavras
do Inventário de Capacidades Primárias). A criança não lê, frequentemente não discrimina letras e,
quando o faz, confunde várias delas. No entanto, trabalha bem com números e domina conceitos de
classe, espaço e descritivos. Segundo Nunes (1992), esse desnível entre o que é esperado da criança a
partir de seu nível intelectual e o que ela, de fato, consegue na aprendizagem da leitura e escrita sugere
um quadro de dislexia;
b) atraso no desenvolvimento psicomotor e linguagem. Segundo Condemarin & Blomquist
(1989), a história de um disléxico pode revelar um ou mais antecedentes indicativos do quadro, sendo
um deles atraso na aquisição da linguagem e/ou perturbações na articulação. Mc Cue, Shelly &
Goldstein (1986) também verificaram prejuízos em aspectos da linguagem, atenção e habilidades
motoras em crianças com desempenho abaixo da média;
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c) desempenho verbal inferior (demonstrado no teste WISC). Segundo Gordon (1983), Pirozzolo
& Rayner (1979) e Witelson (1976), crianças disléxicas apresentam desempenho verbal inferior quando
comparadas com crianças não disléxicas;
d) lentidão na execução das tarefas. Segundo Condemarin & Blomquist (1986), a dificuldade no
reconhecimento da palavra obrigam o disléxico a realizar uma leitura hiperanalítica e decifratória. Como
dedica seu esforço à tarefa de decifrar o material, diminuem significativamente a velocidade e
compreensão necessárias para atividades de leitura e escrita.
e) dificuldade em discriminação fonética. Bravo, Bermeosolo, Císpedes e Pinto (1986),
demonstraram que a discriminação de fonemas e a percepção e memória de seqüência de fonemas
eram variáveis que afetavam significativamente o nível de leitura de crianças deficientes nessa
habilidade;
f) manifestação de inversões (identificou Wm como sendo Mm) e confusão entre letras e sílabas
com diferenças sutis de grafia, tais como: m/n, a/o, e/a, etc;
g) confusão também com sons acusticamente próximos, tais como: d/t, f/v, c/g, g/z, etc.
Segundo Condemarin & Blomquist (1989), Johnson & Mykelebust (1987), Nunes (1992), a acumulação e
persistência desses erros é a característica mais marcante do disléxico;
h) a criança apresentou também outros distúrbios que se manisfestam como parte da síndrome
total: distúrbios de memória principalmente para seqüência (citado por pais e professores), dificuldade
com orientação direita/esquerda e organização espaço-temporal.
Frente às dificuldades observadas em E.G., principalmente a inabilidade para conversão da
letra/som e a manifestação de confusões visuais, podemos considerar que a criança apresenta dislexia
mista, ou seja, comprometimento tanto na associação visual-verbal (dificuldade para codificar e
recordar os aspectos gráficos das palavras) quanto em percepção auditiva (dificuldade para audibilizar
fonemas, que impede a evocação da palavra lida) Bravo-Valdivieso e Pinto Guevara, (1984).
Neste sentido:
Os termos dificuldades e transtornos de aprendizagem têm gerado muitas
controvérsias entre os profissionais, tanto da área da educação quanto da
saúde. Isto porque, há uma sintomatologia muito ampla, com diversidade de
fatores etiológicos, quando se considera o aprendizado da leitura, escrita e
matemática (Moojen apud Bassols, 2003).
Sugere-se no momento intervenção específica em leitura e escrita e orientação à professora de E.
G., e a sua família. Deverão ser também trabalhadas as áreas acima relacionadas que se encontram em
defasagem.
3
CONCLUSÃO
Sabe-se que as causas de alterações de linguagem e de dificuldades de aprendizagem podem ser
variadas, apesar de existirem muitos estudos indicando fatores neurológicos para tais problemas.
Avanços na compreensão da neurobiologia dos processos de desenvolvimento da linguagem e
aprendizagem certamente irão contribuir para uma melhoria na abordagem terapêutica desses
pacientes. A sistemática da investigação em busca do diagnóstico preciso pode direcionar o profissional
de saúde na escolha do melhor tratamento indicado para cada caso.
Em síntese, podemos afirmar que a Dislexia é um Transtorno de Aprendizagem, caracterizado
pela dificuldade específica nas áreas de leitura e escrita, cujas causas, segundo os teóricos, apontam
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para fatores físicos (neurológicos) e/ou má formação congênita. A patologia costuma ser diagnostica na
infância, idade escolar, e necessita de uma abordagem multidisciplinar, envolvendo neurologista,
fonoaudiólogo, psicopedagogo, psicólogo e professor.
Assim como os demais transtornos de aprendizagem, a dislexia não tem cura, porém existem
tratamentos, que poderá resultar na redução dos sintomas, sendo aconselhável o treinamento fonético
fonológico, psicoterapia e apoio familiar.
REFERÊNCIAS
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CONNEPI 2011
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