Prof. Ms. Marcelo Lima E-mail: [email protected] SÍNDROME DE LEGG-CALVÉ-PERTHES 1. DEFINIÇÃO: A Doença de Legg-Calvé-Perthes é uma necrose avascular da epífise óssea da cabeça femoral, acometendo seu núcleo de ossificação. É uma doença auto-limitada e idiopática, atingindo mais o sexo masculino do que o feminino, numa relação de 5:1, apresentando-se na faixa etária de 4 a 9 anos. 2. HISTÓRICO Em 1909, Waldenström descreveu pela primeira vez o fenômeno, porém atribuiu a causa à tuberculose. Em 1910, de maneira independente, Arthur Legg nos Estados Unidos, Jacques Calvé na França e George Perthes na Alemanha, reconheceram esta necrose como entidade única e de etiologia desconhecida (Soni, Valenza e Schelle, 2004). 3. CAUSA A causa da necrose total ou parcial da epífise óssea da cabeça femoral imatura permanece obscura. As possíveis causas propostas incluem o desequilíbrio endócrino, trauma, inflamação, nutrição inadequada e fatores genéticos. A teoria mais popular é a deficiência da irrigação arterial da epífise, com múltiplos episódios de áreas isquêmicas. 4. INCIDÊNCIA Atingindo mais o sexo masculino do que o feminino, numa relação de 5:1, apresentando-se na faixa etária de 4 a 9 anos. 5. PATOGENIA A doença de Legg-Calvé-Perthes é uma necrose avascular da epífise femoral em crescimento, de característica autolimitada e idiopática. De modo seqüencial observa-se necrose, reabsorção óssea, deposição de osso novo e finalmente remodelação até a maturidade. Os estágios de reabsorção e deposição ocorrem simultaneamente alterando a resistência mecânica do núcleo epifisiário tornando-o suscetível à deformidades. (Soni, Valenza e Schelle,2004). 6. EVOLUÇÃO (FASES) A Doença de Perthes evolui caracteristicamente ao longo de quatro fases. Durante a primeira fase, designada sinovite, há o surgimento inicial dos sintomas devido à inflamação que se instala com a diminuição do aporte sanguíneo. Na fase seguinte, de necrose, ocorre destruição mais ou menos acentuada da cabeça do fémur. Na terceira fase, de fragmentação (amolecimento), há a formação de um tecido de granulação entre as zonas necróticas, diminuindo o tamanho da epífise e dando um aspecto fragmentado aos núcleos de ossificação. Nesta terceira fase a cabeça femoral Prof. Ms. Marcelo Lima E-mail: [email protected] frequentemente torna-se deformada e o acetábulo torna-se mais raso em resposta às deformidades da cabeça femoral Este processo leva à formação de novos vasos sanguíneos, dando início à fase de remodelação, em que ocorre uma reorganização dos núcleos de ossificação. 7. QUADRO CLÍNICO O diagnóstico é feito em parte com base nos sintomas referidos, que consistem sobretudo em dor no quadril ou virilha, aumentada pelo movimento da perna ou anca (sobretudo a rotação). A dor pode, contudo surgir também no joelho (dor referida). Há uma diminuição da mobilidade do quadril afetada, que aliada a um mecanismo de defesa (a criança apoia-se menos nessa perna para evitar a dor) pode levar a hipotrofia muscular. Na fase inicial (sinovite) não há alterações visíveis à radiografia, tornando muito difícil a sua distinção de uma sinovite transitória da anca. A principal diferença consiste em que a Doença de Perthes não cede ao tratamento com AINEs e tracção após vários dias. Uma ressonância magnética nesta fase pode revelar edema na epífise. Nas fases subsequentes surgem alterações radiográficas, em particular o aumento de densidade de parte ou todo o núcleo de ossificação durante a necrose, fragmentação e eventualmente deslocamento (sub-luxação) da epífise, que pode constituir um sinal de risco. 8. RADIOGRAFIA A maioria dos casos é suficientemente uma radiografia em incidências ântero-posterior. Os sinais radiográficos mais precoces são da Doença de Legg-Calvé-Perthes são a diminuição da altura do núcleo epifisiário com conseqüente aumento indireto do espaço articular. No início da doença pode não mostrar alteração ou pode-se notar uma erosão pequena e limitada na periferia do núcleo cefálico ossificado, inclusive com pequena irregularidade. Entretanto, quando em uma fase ainda muito inicial, percebe-se apenas uma osteopenia em comparação com o outro quadril e afastamento da cabeça do fêmur em relação ao acetábulo. Primeiramente a epífise se danifica, se tornando, posteriormente, irregular e até fragmentada. A seguir, aparecem os áreas isquêmicos. A metáfise freqüentemente está afetada pelo processo. Quando a fragmentação alcança seu grau mais avançado e chega ao aspecto mais clássico de coxa plana, a cabeça do fêmur está aplanada, achatada. Depois vem a fase de reparação, de reorganização do núcleo ósseo cefálico. Ele se recupera progressivamente em sua forma, com Prof. Ms. Marcelo Lima E-mail: [email protected] contorno e circunferância, ainda que a altura continue diminuída. Dessa forma, sucedem-se destruição e reconstrução para alcançar um equilíbrio articular satisfatório e congruente que permita um futuro mecânico o mais adequado possível. Radiografia ântero-posterior do quadril de uma paciente que desenvolveu a Doença de Perthes. 9. PROGNÓSTICO Segundo Tachdjian (1995) o prognóstico da Doença de Legg-Calvé-Perthes vai depender da idade do paciente no diagnóstico, ou seja, quanto mais jovem o paciente, maior o tempo para a remodelação da epífise após a cicatrização; da extensão de envolvimento, ou seja, quanto maior a extensão do envolvimento radiológico pior o prognóstico; e crianças obesas, o prognóstico também é desfavorável, pois o peso corporal aumentado vai danificar uma área amolecida da cabeça femoral. 10. TRATAMENTO Mais de 50 % dos pacientes evoluem bem sem nenhum tipo de tratamento específico, apenas com restrição de carga por um período mínimo de 4 semanas e acompanhamento das radiografias. Prof. Ms. Marcelo Lima E-mail: [email protected] Nos casos de necroses mais abrangentes e crianças mais jovens, recomenda-se a imobilização em dupla abdução ou tração transcutânea por um período aproximado de 4 a 6 semanas. Segue imagem abaixo. Imobilização em dupla abdução (Imagem 10.1) Imobilização pelvipodálica em dupla abdução (Imagem 10.2) Posição do quadril na imobilizaão em dupla abdução (Imagem 10.3). Tração transcutânea de membro inferior (Imagem 10.4) 11. SEQUELA Frequentemente ocorre achatamento da cabeça do fêmur na área de carga podendo evoluir mais tardiamente com uma artrose coxofemoral precoce. Na radiografia AP número 1 verificamos achatamento bilateral e na radiografia AP 2 achatamento apenas do lado esquerdo Radiografia AP com achatamento bilateral (Imagem 11.1) Radiografia AP com achatamento da cabeça do fêmur esquerda (Imagem 11.2)