Correção de Movimentos em Imagens Obtidas por Microscopia Confocal ANDRÉ RICARDO MASSENSINI1,JOHN SUCKLING2, MICHAEL JOHN BRAMMER2, MARCUS VINÍCIUS GOMEZ1, MARCO AURÉLIO ROMANO-SILVA1 1 UFMG-ICB, Laboratório de Neurofarmacologia, Avenida Antônio Carlos, 6657, Belo Horizonte, MG, Brasil 2 Kings College London, Institute of Psychiatry, Brain Image Analysis Unit, Denmark Hill, London, UK. [email protected] Resumo: A microscopia confocal tem sido usada para examinar o papel dos canais iônicos na liberação de neurotransmissores. Certamente, o movimento da célula, ou do campo, durante a aquisição das imagens pode ser uma importante fonte de artefatos. Se o contorno celular se move em apenas um pixel dentro do campo de visão, as comparações entre os níveis de fluorescência naquela posição podem mudar dramaticamente. O principal objetivo deste estudo é examinar o potencial para a aplicação de técnicas de análise de imagem, desenvolvidas em neuroimagem e imagens sísmicas, para o campo da microscopia confocal com a finalidade de minimizar os artefatos gerados devido ao movimento das células. 1. Introdução O crescimento explosivo das técnicas de imagem em medicina tem levado a um promissor período de desenvolvimento em imagens, particularmente no campo da segmentação e da avaliação estatística de mudanças nas propriedades da imagem. Em neuroimagem funcional o pequeno nível de mudanças observado nos sinais e a presença de artefatos resultantes do movimento dos pacientes têm levado a um intensivo período de desenvolvimento de novas idéias na aquisição de imagens. Assim, há um grande número de trabalhos em algoritmos para correção de movimentos, além da identificação e medida segura das pequenas mudanças observadas nos sinais captados pelos aparelhos. A microscopia confocal tem sido usada para examinar o papel dos canais iônicos, especialmente o de sódio, na liberação de neurotransmissores. Para isto uma variedade de corantes fluorescentes é usada para examinar os níveis intracelulares dos íons sódio e cálcio (Na+, Ca2+). Muitos dos fenômenos de interesse que são medidos usando-se tais corantes ocorrem próximos a periferia da célula e/ou na membrana plasmática. O movimento da célula, ou do campo, durante a aquisição das imagens pode ser uma importante fonte de artefatos. Se o contorno celular se move em apenas um pixel dentro do campo de visão, as comparações entre os níveis de fluorescência naquela posição podem mudar dramaticamente. A similaridade entre este problema e outro encontrado em neuroimagem funcional é bem aparente, onde imagens do cérebro são adquiridas em sucessivos intervalos de tempo. As mudanças na intensidade da imagem em específicos pixels são relacionadas às alterações locais na ativação neural. Novamente, o movimento das imagens em pequenas proporções pode ser facilmente interpretado como alterações funcionais [1]. Várias estratégias têm sido desenvolvidas para a minimização de artefatos gerados devido aos movimentos [2,3,4]. O principal objetivo deste trabalho tem sido adaptar e aplicar tais técnicas às imagens obtidas por microscopia confocal em um simples plano focal (2D) ou múltiplos planos focais (3D). Foi usada uma adaptação da técnica descrita anteriormente na qual as imagens são divididas em 2 ou 3 grades dimensionais e o registro é feito independentemente nos objetos em cada dimensão. Isto permite computar e compensar os movimentos de múltiplos objetos (células individuais) com o campo de visão. 2. Metodologia Imagens foram adquiridas em um sistema de microscopia confocal MRC 1024-UV, equipado com um laser de argônio UV e um laser visível argônio/criptônio. O sistema é capaz de adquirir imagens de amostras triplamente marcadas e imagens de transmissão DIC “True Color”. As células foram Anais do II Workshop em Tratamento de Imagens, NPDI/DCC/UFMG, 2001 incubadas na presença dos corantes indo-1 ou SBFI, específicos pra os íons Ca2+ e Na+ respectivamente. Assumindo-se que a imagem não sofre transformação elástica, os movimentos bidimensionais são caracterizados por 3 parâmetros (translação nos eixos x e y, além da rotação da imagem) e movimentos tridimensionais por 6 parâmetros (translações ao longo dos eixos x, y e z, além das rotações em cada um destes eixos). A correção do movimento rígido de cabeça se baseia em encontrar um conjunto de parâmetros de movimentos que possam minimizar o valor do desvio, refletindo a variação entre a imagem de referência e a imagem na qual o movimento está sendo corrigido. Por exemplo, a soma das diferenças absolutas na intensidade da imagem para cada pixel pode ser computada entre duas imagens (referência e imagem a ser corrigida no tempo t). Um algoritmo multidimensional de procura pode então ser usado para encontrar o conjunto de parâmetros de movimento que minimize este valor. Uma vez que este conjunto de movimentos que minimiza as diferenças entre as imagens tenha sido computado, a imagem no tempo t pode ser movida em correspondência com a imagem de referência aplicando-se este conjunto de parâmetros com um algoritmo de interpolação ajustável [5]. 3. Resultados Em células marcadas com INDO-1-AM, um corante específico para os íons Ca2+, e perfundidas com toxinas que se ligam aos canais de sódio, observamos que pequenos movimentos causados pela perfusão durante a aquisição das imagens podem gerar grandes diferenças quando analisamos as regiões onde houve aumento na concentração intracelular de íons Ca2+ ([Ca2+]i). A Figura ao lado mostra um dos experimentos com as células SN-56 em que foi aplicado o programa desenvolvido para correção dos movimentos nas imagens. Neste caso especificamente tem-se uma variação bidimensional, ou seja, os movimentos de translação nos eixos X e Y, além dos movimentos de rotação. O gráfico corresponde aos movimentos de uma seqüência de imagens tomadas ao longo do tempo. Como se pode observar, as variações são maiores nos eixos X e Y, e as rotações quase não estão presentes. As células SN-56 Imagem (n ) foram perfundidas em presença da veratridina e as A B imagens tomadas a longo do tempo. Quando se fez a correlação entre o pixel indicado pela seta (x=130 e y=120) e os demais pixels antes da correção dos movimentos (A), nota-se que existe pouca correlação entre os pixels que estão presentes nos neuritos, região onde o pixel de referência foi tomado. Mas quando analisamos o mesmo pixel após a correção dos movimentos (B), percebe-se uma correlação significativa (p<0,001) entre os pixels que estão presentes nos neuritos das células e em alguns pontos até mesmo sobre alguns corpos celulares. Esta correlação indica os pontos onde a [Ca2+]i possui o mesmo padrão de elevação. 3 Eixo X Eixo Y Rotação Movimento (graus) 2 1 0 -1 -2 0 50 Anais do II Workshop em Tratamento de Imagens, NPDI/DCC/UFMG, 2001 100 o 150 200 4. Referencias [1] Barnes, J., Howard, R.J., Senior, C., Brammer, M., Bullmore, E.T., Simmons, A., Woodruff, P., David, A.S. (2000). Cortical activity during rotational and linear transformations. Neuropsychologia;38(8):1148-1156. [2] Bullmore, E., Horwitz, B., Honey, G., Brammer, M., Williams, S., Sharma, T. (2000). How good is good enough in path analysis of fMRI data? Neuroimage 11(4):289-301. [3] Calvert, G.A., Campbell, R., Brammer, M.J. (2000). Evidence from functional magnetic resonance imaging of crossmodal binding in the human heteromodal cortex. Curr. Biol. 10(11):649-657 [4] Hill, D.L., Smith, A.D., Simmons, A., Maurer, C.R. Jr, Cox, T.C., Elwes, R., Brammer, M., Hawkes, D.J., Polkey, C.E. (2000). Sources of error in comparing functional magnetic resonance imaging and invasive electrophysiological recordings J. Neurosurg. 93(2):214-223. [5] Bullmore, E.T., Brammer, M.J., Rabe-Hesketh, S., Curtis, V.A., Morris, R.G., Williams, S.C., Sharma, T., Mcguire, P.K. (1999). Methods for diagnosis and treatment of stimulus-correlated motion in generic brain activation studies using fMRI. Hum Brain Mapp. 7,38-48. Anais do II Workshop em Tratamento de Imagens, NPDI/DCC/UFMG, 2001