parte integrante da revista nacional de reabilitação - REAÇÃO - ED. Nº 99 Nº 99 JUL/AGO 2014 VOLUME 89 Implante Laparoscópico de Neuromoduladores para Reabilitação de Pessoas com Lesão Medular Página 2 Doenças Raras, questão de saúde pÚblica e SUS Página 7 UMA EXPERIÊNCIA COM AUDIODESCRIÇÃO PARA PESSOAS COM BAIXO LETRAMENTO NO CENTRO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DOS TRABALHADORES PAULO FREIRE (CMET), EM PORTO ALEGRE/RS Página 4 2 CADERNO TÉCNICO & CIENTÍFICO Implante Laparoscópico de Neuromoduladores para Reabilitação de Pessoas com Lesão Medular Por Nucelio Luiz de Barros Moreira Lemos Idealizada por Brindley, em 1977, a neuroestimulação de raízes sacrais por meio do implante de neuropróteses apresentou resultados favoráveis e vem se difundido em todo o mundo desde então. Implantado em mais de 2.500 pessoas nos últimos 20 anos, permitiu à maioria dos pacientes a retomada do controle urinário, abandono do uso de cateteres e drástica redução na incidência de infecções urinárias. Muitos pacientes também relataram ereção e evacuação geradas pelo neuroestimulador. De lá para cá, os neuroestimuladores vem sendo aperfeiçoados, superando as dificuldades encontradas no início da técnica. iluminação e amplia a imagem, permitindo melhor visualização dos nervos lombares e sacrais. O eletrodos são então implantados em contato com os nervos femorais – que controlam o músculo quadríceps femoral – os nervos ciáticos – que controlam o quadril e os pés – e os nervos pudendos – que controlam a bexiga, o reto (a porção final do intestino) e o ânus. Desde 2003, o cirurgião francês Marc Possover desenvolveu as técnicas mais modernas conhecidas atualmente, permitindo o implante de forma bem menos invasiva, por meio da laparoscopia. Entre as vantagens da nova técnica, está a menor agressividade cirúrgica e a possibilidade de tratamento da espasticidade sem a necessidade de seccionar as raízes nervosas. Por enquanto, todos os pacientes operados com esta técnica apresentaram controle da função urinária e da incontinência de fezes, ganho de massa muscular nos membros inferiores e a possibilidade de ficar de pé e até mesmo andar, com o auxílio de andador. Estímulos de baixa frequência nos nervos femorais e ciáticos diminuem a espasticidade nos músculos das pernas, além de recrutar fibras musculares, melhorando a atrofia muscular. Já os estímulos de alta frequência promovem a contração dos músculos quadríceps, estendendo os joelhos, e dos músculos dos glúteos e da panturrilha, ajudando a firmar os quadris e os pés. Estes movimentos permitem ao paciente exercitar as coxas e, com treino e fisioterapia, ficar de pé e dar passos, como se estivesse usando um tutor. Os eletrodos são implantados por meio da vídeo-laparoscopia – uma técnica cirúrgica minimamente invasiva em que o cirurgião faz uma incisão de 1cm no umbigo para introduzir uma câmera cirúrgica e mais três incisões de cerca de 0,5cm para a passagem dos instrumentais cirúrgicos. Além disso, mais duas incisões de cerca de 2cm são feitas para a passagem dos eletrodos e mais uma incisão de 5cm para a introdução do neuromodulador. A videolaparoscopia oferece uma excelente Os estímulos elétricos nos nervos pudendos relaxam a bexiga, aumentando sua capacidade, e contraem os esfíncteres da uretra e do ânus, diminuindo o risco de incontinência urinária e fecal. Programas são feitos pelo médico para cada situação da vida diária – conter urina e controlar a espasticidade, exercitar as pernas e ficar em pé, por exemplo – e o paciente escolhe qual função quer utilizar com um controle remoto. A partir de janeiro de 2014, a laparoscopia e a neuromodulação entraram no ROL de cobertura obrigatória da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Desde então, os planos de saúde têm coberto o procedimento. Para a realização, o paciente deve agendar uma avaliação com a equipe multiprofissional, que avaliará sua indicação e traçará um plano terapêutico. ACESSE NOSSO SITE: www.revistareacao.com MEDICINA DE REABILITAÇÃO - VOLUME 89 3 Impressão por subtração Até três meses após o a cirurgia, o paciente precisa respeitar uma série de limitações de movimento, pois existe risco de deslocamento dos eletrodos. O tratamento se inicia antes da cirurgia, com um período de adaptação do paciente a estas limitações. Somente quando o paciente está treinado para a realização de todas as suas atividades de vida diária sem a realização destes movimentos é que poderá ser submetido à cirurgia. Em 31 janeiro de 2011, iniciamos as atividades do Setor de Neurodisfunções Pélvicas do Departamento de Ginecologia da EPM-UNIFESP, formando a primeira equipe multiprofissional em Neuropelveologia e abrindo a possibilidade de resultados ainda melhores do que os obtidos por Marc Possover, por associar as vantagens da neuromodulação às técnicas de reabilitação e tratamento multiprofissional. Esperamos, com isso, conseguir resultados melhores e em menor tempo do que ambos os serviços vinham obtendo isoladamente. Após o implante, é essencial uma reabilitação especializada para obter o máximo de benefício da neuroestimulação. Este período de reabilitação dura de seis a doze meses, com dez a catorze horas de reabilitação por semana. Até o momento, esta é a única equipe multiprofissional capacitada para o uso da corrente gerada pelo neuromodulador nos exercícios de reabilitação. Os pacientes de outras localidades que queiram submeter-se ao procedimento devem se programar para passar uma temporada morando em São Paulo. Veja mais em: www.neurodisfuncao. med.br Nucelio Luiz de Barros Moreira Lemos é Doutor em Ginecologia pela FCM Santa Casa SP; Fellowship em Neurodisfunção Pélvica pela Klinik Hirslanden, Zurique, Suíça; Pós-Doutorando e Responsável pelo Setor de Neurodisfunções Pélvicas do Departamento de Ginecologia da UNIFESP-EPM e Presidente do Comitê Científico da International Continence Society. LEIA E ASSINE: 0800-772-6612 (ligação gratuita) 4 CADERNO TÉCNICO & CIENTÍFICO UMA EXPERIÊNCIA COM AUDIODESCRIÇÃO PARA PESSOAS COM BAIXO LETRAMENTO NO CENTRO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DOS TRABALHADORES PAULO FREIRE (CMET), EM PORTO ALEGRE/RS (Versão Resumida) Por Ana Maria Lima Cruz, Letícia Schwartz e Marilena Assis O relato a seguir é resultado do trabalho de conclusão da disciplina Inclusão Cultural das Pessoas com Deficiência e os Diferentes Públicos da Audiodescrição, ministrada pelas Professoras Marta Gil e Cristiana Cerchiari, do I Curso de Especialização em Audiodescrição promovido pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em parceria com a Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, sob coordenação da Prof.ª Dr.ª Eliana Lúcia Ferreira e da Dr.ª Lívia Maria Villela de Mello Motta. A tarefa em questão consistia em realizar uma sessão de cinema com audiodescrição para espectadores videntes, contemplando um segmento de público que pudesse ser beneficiado pela audiodescrição. SEGUNDA-FEIRA, 05 DE MAIO DE 2014 Maria da Paz, 82 anos, aguarda ansiosamente pela aula de música da segunda-feira. Dona de um vozeirão de contralto e de uma vitalidade de causar inveja, tem uma rotina intensa, que inclui as aulas do CMET, um curso de dança e apresentações com o coral da escola, sem descuidar da família e da vida comunitária. No dia 05 de maio, porém, Maria da Paz foi pega de surpresa. As cadeiras da sala, normalmente dispostas em círculo, formavam uma plateia. Em frente ao quadro branco, um projetor ligado. Cinema? E a aula de música, cadê? A bem da verdade, também nós fomos pegas de surpresa. Fazia duas semanas que havíamos combinado com a professora e com a direção todos os detalhes sobre a sessão com audiodescrição. A atividade aconteceria no horário da aula da professora Daisy Erig e contaria com cerca de 30 alunos. Em uma reunião posterior, porém, ficou decidido que a manhã de segunda-feira – da nossa segunda-feira – seria dedicada a uma importante assembleia de alunos. Em vez de 30 alunos, tivemos uma plateia de 14. O número reduzido terminou por se mostrar favorável, oportunizando um bate-papo mais participativo. O grupo, acolhedor e extremamente animado, era formado por idosos entre 66 e 82 anos, além de dois adultos com deficiência intelectual, todos alunos das Totalidades Iniciais, equivalentes aos primeiros anos do Ensino Fundamental. Pessoas de baixa renda, com carência não apenas de recursos materiais, mas também sociais e culturais. Esses fatores levaram-nos à primeira de muitas reflexões: o analfabetismo, funcional ou não, tem sempre sua razão de ser. A idade avançada, a deficiência intelectual e a necessidade de abandonar os estudos para trabalhar são apenas alguns exemplos. Percebemos que não seria possível avaliar o público com baixo letramento apenas sob essa ótica, uma vez que esses espectadores se enquadravam também em outros grupos potencialmente beneficiados pela audiodescrição. Como teríamos apenas duas horas para a atividade, optamos pela apresentação de três curtas-metragens: A Improvável Todavia Autêntica História do Anão que Virou Gigante, Imagine uma menina com cabelos de Brasil e Os Olhos do Pianista. A seleção obedeceu a dois critérios diferentes: o conteúdo social, que poderia provocar a reflexão e alimentar o debate, e a adequação à proposta da professora Daisy, que desenvolve com os alunos o projeto “Corpo e Som”. Inserimos um momento de conversa informal ao final de cada um dos curtas, com a intenção de possibilitar a aproximação gradual do público com a audiodescrição, além de uma compreensão mais ampla do conceito e dos benefícios proporcionados por essa ferramenta. VÍDEO 1: A IMPROVÁVEL TODAVIA AUTÊNTICA HISTÓRIA DO ANÃO QUE VIROU GIGANTE Começamos por A Improvável Todavia Autêntica História do Anão que Virou Gigante. A animação conta a história de um rapaz de 1,20 de altura que, aos 20 anos de idade, começa a crescer até tornar-se um gigante. ACESSE NOSSO SITE: www.revistareacao.com MEDICINA DE REABILITAÇÃO - VOLUME 89 Não mencionamos a audiodescrição. Nossa intenção era observar se os espectadores identificariam ou não a presença dessa narração adicional. Iniciamos nossa abordagem buscando verificar a compreensão da história e as possibilidades de relação com o cotidiano do grupo. Perguntamos sobre os percalços de ser anão ou gigante. O assunto despertou o interesse de Terezinha, 73 anos, que lembrou de um vizinho com 2,30 metros de altura e relatou as situações de preconceito pelas quais ele passava, “porque quando ele trabalhava no porto, ele era a única criatura assim”. Segundo ela, a situação seria melhor hoje em dia, pois “hoje os jogadores de basquete são o máximo”. Apesar de fazer parte do grupo com relação à faixa etária e ao baixo letramento, Terezinha evidencia um nível sociocultural diferenciado. Seus comentários, ao longo de toda a atividade, demonstraram profunda compreensão, capacidade de interpretação e habilidade para fazer relações entre os filmes apresentados e a realidade. Terezinha era a única participante com baixa visão e acreditamos que a audiodescrição tenha sido um fator decisivo para que ela chegasse a tal nível de compreensão sobre essa e as demais animações. Em seguida passamos a averiguar a percepção do público sobre a audiodescrição. Apresentamos um pequeno trecho do filme, sem e com audiodescrição, para que pudessem comparar. Fizemos pausas para que tivessem tempo de vincular cada trecho do discurso à imagem que aparecia na tela. A empolgação era crescente, era possível ver nos olhos de cada um o momento em que percebiam a função daquela “voz”. Foi Terezinha quem conseguiu colocar em palavras: “a voz da mulher vai descrevendo o que está acontecendo!”. A partir da compreensão do conceito, Marilena pôde relatar para o grupo a importância da audiodescrição para quem tem deficiência visual. O fato dessa informação partir de uma professora cega teve grande efeito sobre os alunos, pois imediatamente conseguiram vincular o recurso a colegas com quem convivem no próprio CEMET. Chamou a atenção o fato de reagirem mais intensamente ao trecho sem audiodescrição. Riam nos momentos oportunos e teciam breves comentários acerca da situação do personagem. Atribuímos isso ao fato de estarem assistindo pela segunda vez e de termos discutido o filme juntos. Além disso, a versão sem audiodescrição deixa espaços de silêncio, que bem podem ser qualificados como “respiros”. Esses momentos favorecem a reflexão e possibilitam uma rápida troca de ideias entre os participantes, o que funciona como um suporte à compreensão. Nesse sentido, percebemos que a audiodescrição poderia ser recebida por esse público como um agente poluidor da mensagem. VÍDEO 2: IMAGINE UMA MENINA COM CABELOS DE BRASIL Para introduzir o segundo curta-metragem e consolidar a compreensão sobre a audiodescrição, projetamos um quadro de Imagine uma menina com cabelos de Brasil e pedimos que o grupo o descrevesse, para que Marilena pudesse ter acesso à imagem. Todos foram muito participativos. Concluíram, num primeiro momento, que se tratava de uma mulher com o cabelo “todo em pé” e que dava a impressão de que atrás dela havia um mapa do Brasil. A partir dos nossos questionamentos, Gregory, que tem deficiência intelectual, arriscou que o mapa estivesse na cabeça da personagem e que fosse constituído de cabelos. O resultado dessa aproximação com o filme apareceu já na primeira imagem. A leitura do título (Uma menina com cabelos de Brasil) foi suficiente para provocar uma reação imediata, pois confirmava o que haviam concluído pela observação atenta da imagem. Como consequência, a projeção contou com um público ainda mais atento e envolvido. Começavam a relaxar e a efetivamente aproveitar a sessão. A concentração dos alunos foi fundamental nesse momento, pois a animação é bastante exigente. Ela retrata a relação do Brasil com outros países através de um grupo de meninas cujos cabelos têm a configuração dos mapas. O desprezo dos países do G8, a amizade da Índia e da África e o descontentamento do Brasil com sua própria cabeleira são algumas das questões levantadas pelo filme. Aqui, a descrição das imagens ganha uma importância ainda maior, pois a identificação dos diferentes mapas é imprescindível para a compreensão da história. Mais uma vez, foi Terezinha quem saiu na frente: “Eu achei uma coisa fantástica, a pessoa ter a ideia de fazer uma coisa assim, formar os mapas nas cabeças, com os cabelos das pessoas... E mostrar o preconceito que tem uns com os outros.” Ainda com a intenção de confirmar a contribuição da audiodescrição, perguntamos a Gregory o que cada uma das meninas comia na hora do recreio. A imagem em questão não é óbvia e a audiodescrição identifica aquilo que só um olhar treinado conseguiria perceber. Para ajudar, reprisamos a cena. Com isso, Gregory teve bastante facilidade em responder. Marilena relacionou o projeto da professora Daisy, “Corpo e Som”, com o áudio do filme apresentado, onde efeitos sonoros desenham imagens para o espectador cego: um fio de cabelo da menina Brasil que se empina fazendo “tóin”, a imitação de macaco feita pela menina Estados Unidos, a tagarelice das colegas do G8, o choro contido da menina África. Isso deixou os alunos LEIA E ASSINE: 0800-772-6612 5 (ligação gratuita) 6 CADERNO TÉCNICO & CIENTÍFICO mais atentos à presença de informações sonoras nos filmes. VÍDEO 3: OS OLHOS DO PIANISTA Para encerrar a programação, exibimos Os Olhos do Pianista. Na animação, uma menina é responsável por orientar um velho pianista de cinema. Ele é cego e é ela quem acompanha as imagens do filme, comunicando cada mudança de cena através de diferentes toques no corpo do pianista. Terezinha, atenta, foi a primeira a se manifestar: “O pianista era cego, né?”. Os colegas, no entanto, não haviam identificado essa característica do personagem, fundamental para a compreensão do enredo. A audiodescrição menciona que a menina estende a mão para o pianista cada vez que chegam a algum lugar, mas não “entrega” a intenção de guiá-lo. É dito, também, que o homem usa óculos escuros dentro do cinema e que é a menina que mantém os olhos fixos na tela. Descrições objetivas, que traduzem precisamente o que aparece na tela e deixam qualquer conclusão por conta do espectador. Parece-nos, no entanto, que esse grupo de espectadores exigiria uma audiodescrição de caráter mais informativo, que estimulasse não apenas a compreensão das imagens, mas a contextualização das mesmas para entendimento da obra como um todo. termos ao universo linguístico dos espectadores e beneficiando um público bastante amplo, que inclui pessoas com deficiência visual ou intelectual, adultos com baixo letramento e estudantes do português como segundo idioma. No entanto, o modelo atual de audiodescrição, que tão bem atende às necessidades das pessoas cegas e com baixa visão, não nos parece inteiramente eficaz para o público pesquisado. A audiodescrição tem por objetivo a tradução visual, evitando, sempre que possível, a interpretação dos fatos. Para pessoas com dificuldade de compreensão, talvez fosse interessante desenvolver um tipo de tradução que servisse de apoio, justamente, à interpretação. O presente relato não tem a pretensão de definir regras ou parâmetros para a produção da audiodescrição, ou mesmo oferecer argumentos a favor de um serviço específico para um público caracterizado pela dificuldade de compreensão. Nossa atividade foi dirigida a um grupo restrito e seus resultados não representam conclusões definitivas, tendo, apenas, um valor de amostragem Nosso objetivo é tão somente propor a experimentação e a troca de experiências adquiridas pela prática e apontar para a necessidade de investigações mais amplas e mais profundas no sentido de melhor atender a todos os beneficiários da audiodescrição. * Ana Maria Lima Cruz é professora do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Maranhão, Mestre em Educação pela UFMA e Doutoranda em Informática na Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Pós-graduanda do Curso de Especialização em Audiodescrição pela UFJF. * Letícia Schwartz é audiodescritora-roteirista e narradora da empresa Mil Palavras. Pós-graduanda do Curso de Especialização em Audiodescrição pela UFJF. E-mail: [email protected] ALGUMAS CONCLUSÕES A audiodescrição pode servir como apoio para conduzir o olhar de espectadores com baixo letramento e/ou deficiência intelectual, ajudando-os a mergulhar na obra, dando suporte à aquisição de vocabulário e conhecimento, acompanhando-os em seu mergulho nas emoções. Observamos que a associação entre imagem e palavra pode favorecer a aprendizagem, uma vez que promove a compreensão de conceitos e significados. A tradução de imagens em palavras é responsável por nomear aquilo que descreve, permitindo a incorporação de novos NOTAS O presente relatório é complementado por um vídeo com fragmentos da atividade, que pode ser acessado pelo endereço http://youtu.be/4L30mWVG1ME As animações utilizadas para a atividade estão disponíveis no You Tube e podem ser acessados a partir dos seguintes links: http://youtu.be/DzeeVPGN--Q, http://youtu.be/KC19s0WGsFQ e http:// youtu.be/y-j-1zR0YL8. ACESSE NOSSO SITE: * Marilena Assis é professora especialista na área da deficiência visual nas redes municipal e estadual do Rio Grande do Sul, Mestre em Gestão e Política da Educação e consultora em audiodescrição. Pós-graduanda do Curso de Especialização em Audiodescrição pela UFJF. www.revistareacao.com MEDICINA DE REABILITAÇÃO - VOLUME 89 Doenças Raras, questão de saúde pÚblica e SUS Por Adriana Dias A partir deste mês, estarei com vocês para falar de doenças raras e suas muitas e complexas faces. Comecei a caminhar nesta luta a partir de meus próprios diagnósticos, e depois por perceber que a grande maioria das pessoas com doenças raras sequer sabia COMO lutar. Meu marido costuma dizer que ter uma doença rara começa com uma jornada familiar. Concordo com ele. Alcançar um diagnóstico apropriado é um dos primeiros grandes desafios para uma pessoa com uma doença rara. Em algumas ocasiões, o diagnóstico pode levar anos, em outras, diagnósticos que estavam consolidados, são mudados para desespero de pacientes e suas famílias. Há diversos motivos para que o diagnóstico de doença rara seja um processo difícil: primeiro pouca gente conhece, de fato, doenças raras. Segundo, os sintomas em muitas patologias são comuns, como anemia, fraqueza, dores, problemas de visão, tontura ou tosse. Some-se a isso, a peregrinação por dezenas de especialistas... muitos exames, e teremos um quadro de muitos gastos e muito sofrimento humano. No Brasil, temos uma ótima notícia: o Sistema Único de Saúde (SUS) tem novos exames para diagnosticar doenças raras e passou a credenciar hospitais e instituições para atendimento de pacientes portadores dessas enfermidades. A maioria das quase 8 mil doenças raras já estudadas vão poder ser diagnosticadas mais facilmente e receberá atenção dentro da rede: desde a Atenção Básica aos Centros de Referência. Tudo isso foi normatizado pela portaria 199/2014 do Ministério da Saúde. A política de raras começou quando nós do Instituto Baresi, por meio do Deputado Federal Renato Simões oferecemos ao então Ministro da Saúde Alexandre Padilha uma carta de intenções solicitando vários pontos de atenção para as famílias raras. Respondendo a esta demanda, e de outras associações, o governo organizou um GT para criar a Política de Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras no SUS. Mas, para que esta política se efetive, é preciso que Estados e municípios a pactuem. O mais difícil, que era prover a verba para criação de Centros e Serviços de Referencia o Governo Federal já fez. Agora precisamos conscientizar os gestores de saúde da importância de pactuar a política. Qualquer pessoa pode ser afetada por uma doença rara. Os dados mundiais demonstram que de 6 a 8 % de uma população vivem com uma doença rara, a maior parte, na infância. Conforme recomendação da Organização Mundial de Saúde, doença rara é aquela cuja prevalência em cada 100 mil habitantes corresponde a 65 casos. Isso significa, por exemplo, cerca de 3 milhões de pessoas na França, 27 milhões na Europa e 27 milhões na América do Norte. No Brasil, ainda que não existam dados mensurados, estima-se que haja cerca de 13 a 15 milhões de pessoas afetadas diretamente por doenças raras. Um terço delas falece antes dos 5 anos de idade, sendo que a grande maioria sem alcançar diagnóstico. Na etiologia, a maioria delas é de origem genética (80%), mas doenças degenerativas, autoimunes, infecciosas e oncológicas também podem originá-las. A cada semana são descritas 5 novas doenças em nível mundial, uma delas ambiental. Muitas delas têm um caráter sistêmico e as suas manifestações clínicas iniciam-se em quase 65% dos casos nos 2 primeiros anos de vida, sendo aliás a causa de 35% da mortalidade na idade de 1 ano, 10% dos 1 a 5 anos e de 12% entre os 5 e 15 anos, segundo dados da EURORDIS. Na política de doenças raras brasileira, foram criados 4 eixos, de acordo com os fluxogramas clássicos de diagnóstico e tratamento, ainda que suportivo. As doenças foram separadas em grupos, para facilitar o apoio terapêutico, e os cuidados em rede. Os 4 grupos são as doenças de má-formação congênita (ainda que de manifestação tardia), estão no Eixo 1. As doenças que afetam o desenvolvimento intelectual/cognitivo, estão no Eixo 2. As doenças classificadas como Erros Inatos do Nascimento, estão no Eixo 3. E as doenças Não Genéticas estão no Eixo 4. A política também prevê a participação das associações de doenças raras na implantação e no controle social da Atenção em Saúde. Leia a portaria inteira em: http://institutobaresi. files.wordpress.com/2014/02/portaria.pdf Na próxima edição vamos falar do Eixo 1. Aguarde !!! * Adriana Dias é Mestre e Doutoranda em Antropologia Social - IFCH – UNICAMP, Coordenadora do Comitê “Deficiência e Acessibilidade” da Associação Brasileira de Antropologia, Membro da American Anthropological Association, da Associação Brasileira de Cibercultura e da Latin American Jewish Studies Association e Coordenadora de Pesquisa do Instituto Baresi e da ONG ESSAS MULHERES LEIA E ASSINE: 0800-772-6612 (ligação gratuita) 7