APONTAMENTOS INICIAS DA TECNOLOGIA ASSISTIVA DE AUDIODESCRIÇÃO E O ENSINO DE GEOGRAFIA Jaqueline Machado Vieira - FAED/UFGD - CAPES1. Reinaldo dos Santos - FAED/UFGD2. Educação especial e inclusão escolar. Comunicação oral. Resumo: O artigo busca apresentar alguns apontamentos iniciais da pesquisa de mestrado que terá o recorte em duas escolas, ainda a serem definidas, mas que de imediato optamos por uma na área periférica e outra na área central do município de Dourados - MS, visando como sujeitos da pesquisa, os estudantes e professores do 7.º ao 9.º. Traremos para essa discussão a utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) que será nosso objeto de estudo. Buscaremos refletir acerca da inclusão educacional por meio da audiodescrição que auxiliará tanto os educandos deficientes visuais total, parcial e com baixa visão, como os demais educandos normovisuais. Também, temos a intenção de auxiliar os professores da rede pública a trabalharem com a ferramenta de audiodescrição como recurso didático nas escolas objetivando a inclusão dos educandos DVs em suas dimensões: social (abarcando espaços públicos e as paisagens sul mato-grossenses), educacional (abarcando o recorte no ensino de geografia) e cultural (abarcando as diversidades étnicas existentes nas escolas) no município de Dourados - MS. Palavras- chave : Audiodescrição; Ensino de Geografia; Inclusão. 1 Mestranda do programa de Pós – graduação da UFGD – Mestrado em Educação Bolsista CAPES. E- mail: [email protected]. 2 Doutor em Sociologia pela UNESP e Pós Doutor em Educação pela USP, Professor Associado de Fundamentos da Educação da UFGD. E- mail: [email protected] Introdução O artigo aqui apresentado é apenas o recorte do início da pesquisa que estamos realizando, por ser apenas apontamentos iniciais, ainda não discorreremos sobre os dados com resultados e, sim, levantamentos bibliográficos que já temos inicialmente em nossa pesquisa que será uma dissertação de mestrado com previsão de defesa para o ano de 2018. Nosso objetivo por imediato é fazer o levantamento de dados bibliográficos e fazer uma discussão teórico conceitual e logo apresentar o projeto dessa pesquisa que está dando seus primeiros passos. Traremos para essa discussão a utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) que será nosso objeto de estudo. Buscaremos refletir acerca da inclusão educacional por meio da audiodescrição que auxiliará tanto os educandos deficiente visual total, parcial e com baixa visão, como os demais educandos normovisuais. Temos a pretensão de levar aos professores das escolas, minicursos, e oficinas sobre como fazer uma audiodescrição e como trabalhar essa ferramenta pedagógica em sala, abarcando de maneira geral e ampla as formas educacionais, sociais e culturais que o município de Dourados nos fornece. Como metodologias teremos o levantamento bibliográfico e documental, além de duas frentes teóricas com ao descritiva e a pedagógica instrutiva que será brevemente explicado na metodologia desse artigo. Além disso, queremos desde já ampliar o debate sobre a Tecnologia no Campo Educação, logo um breve contexto histórico de como se deu a Audiodescrição no Brasil, logo falaremos em outro sub tópico de como e onde cabe a disciplina de Ensino de Geografia dentro dessa pesquisa, além de discorrer sobre os sujeitos deficientes visuais, total, parcial , baixa visão e normovisuais que irão dar corpo e compor de modo grandioso e significativo este trabalho. Metodologia da Pesquisa Como abordagem, após o levantamento das atividades iniciais de pesquisas bibliográficas e documentais, colocamos considerações iniciais da fundamentação teórica temática legal e técnica sobre as peças chaves: Tecnologias, Inclusão e Tecnologia Assistiva, vejamos que a metodologia da pesquisa, prevê a organização do trabalho simultâneo em duas temáticas, distintas, mas articuladas: frente cênico- descritiva e frente pedagógico-instrutiva. Os trabalhos na frente cênico-descritiva serão encaminhados em conjunto com outros pesquisadores das áreas de artes visuais, artes cênicas, letras, arquitetura, história e afins, para desenvolvimento de uma técnica padronizada e de acesso aos leigos, para observação, caracterização, sistematização descrição e narração de objetos digitais. Facilidade, viabilidade, conforto, autonomia, indexação, classificação e distinção de níveis são parâmetros de partida para esta frente, que recorreram a princípios como localização, georeferenciamento, narrativa, descrição de cenário, figurino e sujeito, textualidade, formato, tamanho, cor e características. Nela também serão produzidos inicialmente uma pequena amostra (3 a 5) de objetos digitais como piloto para os testes e validações e, em um segundo momento, uma amostragem maior (cerca de 20) de objetos para serem disponibilizados ao público, tendo como diretriz a facilidade de produção e o trabalho colaborativo com sujeitos escolares. Na frente pedagógica-instrutiva, que estará integrada por pesquisadores com formação em pedagogia, educação à distância e ensino em diferentes áreas de licenciatura, a partir do modelo e da técnica de audiodescrição elaboradas pela frente cênico-descritiva, será desenvolvido material didático e atividades de capacitação (guias, manuais, planos de aulas, oficinas e minicursos presenciais e em EaD), para serem difundidos junto a professores, estudantes e público em geral. Habilidades, competências, multilinguagem, adaptação para públicos específicos, portabilidade e flexibilidade para a multiplicação para outros públicos e contextos serão princípios mobilizados nestas atividades. Nesta frente, será promovida uma capacitação para um pequeno grupo (cerca de 12 pessoas) para testes de diagnóstico, validação e avaliação dos matérias e processos pedagógicos elaborados. Nestas atividades de formação/capacitação, também serão produzidos pelos cursistas/capacitados objetos digitais no modelo construído pelo projeto para serem disponibilizados em um repositório. Nosso artigo tem por imediato apenas o levantamento de pesquisas bibliográficas, algumas leituras e sistematização de obras teóricas, metodológicas e temáticas sobre educação, inclusão, deficiência visual, espaço geográfico, tecnologia e audiodescrição; logo, iniciaremos uma pesquisa documental, sobre diretrizes pedagógicas, técnicas e legislativas sobre a relação educação, deficiência, tecnologia assistiva e audiodescrição, uma produção em audiodescrição, com planejamento, padronização, testes e validações de audiodescrição de ambientes e espaços com alunos e professores da educação básica no ensino de geografia, logo também uma ação pedagógica com diagnóstico, elaboração, desenvolvimento e avaliação de um plano de intervenção pedagógica para o ensino e difusão de audiodescrição entre professores da educação básica, deficientes visuais e normovisuais. Algumas indagações e hipóteses vão acompanhar nosso processo de pesquisa. Como ampliaremos a visão de mundo dos sujeitos educandos especiais ou normovisuais através das fotografias e vídeos com audiodescrição? Como despertaremos essa curiosidade tão precisa dos sujeitos educandos especiais ou normovisuais, ao pensarmos em nosso século XXI, na qual, as informações estão numa dialética profunda e dispersa? Como propiciar e ampliar o acesso aos conhecimentos de audiodescrição a todos os estudantes de forma inclusiva e não excludente?. Questões como essa devem ser levadas em consideração, pois as tecnologias da informação e comunicação levou o campo educacional a (re)pensar suas ferramentas pedagógicas pois vivemos num mundo contemporâneo no qual as informações estão diversamente espalhadas. (OLIVEIRA, 2013). A fim de complementarmos a pesquisa, também faremos uma observação com os sujeitos de nossa pesquisa: educandos Deficientes Visuais (que se dividem em grupos: deficientes congênitos, parcial e de baixa visão), Normovisuais e Professores da rede pública. Como resultados, serão gerados objetos com a audiodescrição ,ou seja produtos a partir da elaboração de materiais pedagógicos provindos das fotografias que darão uma difusão dos resultados da pesquisa, procedimentos desenvolvidos e estratégicos sobre o tema, além de ofertamos cursos e oficinas aos professores da rede pública, para que os mesmo possam trabalhar esta ferramenta pedagógica em suas respectivas áreas, Tecnologia no campo da Educação A Tecnologia Assistiva3 de audiodescrição consiste na transformação de imagens em palavras para que informações-chave transmitidas visualmente não passem despercebidas e possam também ser acessadas por pessoas com Deficiência Visual total, parcial ou com baixa visão. O recurso, cujo objetivo é tornar os mais variados tipos de materiais audiovisuais (peças de teatro, filmes, programas de TV, espetáculos de dança, fotografias etc.) acessíveis a 3 A respeito da Tecnologia Assistiva, no Brasil, o Comitê de Ajudas Técnicas (CAT), instituído pela portaria n°142, de 16 de novembro de 2006 propõe o seguinte conceito para a tecnologia assistiva: "Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social". (BRASIL, 2014, não paginado). pessoas com deficiência visual, conta com pouco mais de trinta anos de existência (FRANCO; SILVA, 2010). Vivemos em uma era na qual não conseguimos nos desprender das Tecnologias de modo geral, seja nos computadores de mesa, notebooks, net books, tabletes, celulares, redes de telecomunicação, programas midiáticos e softwares, esses produtos existem na maiorias dos territórios, facilitando, complementando, dinamizando e atuando nos processos pedagógicos de forma contínua e atual (MATIAS, 2012). Essas redes tecnológicas do meio técnico-científico-informacional, muito vêm a contribuir na construção dos territórios, indiferente de seus tamanhos e formas, porém toda a estrutura informacional podem trazer aspectos impactantes nos processos educativos. Conforme afirma o autor Milton Santos: O trabalho se torna cada vez mais trabalho científico e se dá também, em paralelo, a uma informatização do território. Pode-se dizer, mesmo, que o território se informatiza mais, e mais depressa, que a economia ou que a sociedade. Sem dúvida, tudo se informatiza, mas no território esse fenômeno é ainda mais marcante na medida em que o trato do território supõe o uso da informação, que está presente também nos objetos. (SANTOS, 1997, p.70). Para o autor fica evidente que é no território que se finda e se renova as informações produzidas num determinado tempo e espaço, por isso, devemos levar em conta essa interconexão das informações possibilitadas pelas tecnologias e quais são as condição de seu uso de forma pedagógicas nas salas de aula. É isto que iremos desbravar de forma ampliada em nossa pesquisa que está em andamento. Toda revolução das tecnologias da informação se pauta numa rede multidimensional em seus aspectos culturais, sociais, econômicos e políticos de uma determinada nação envolvendo sujeitos que vão assumir essas redes de forma estratégica e que aperfeiçoará estes instrumentos para a globalização e a descentralização dos territórios (MATIAS, 2012). Dessa maneira, observamos que a tecnologia no campo educacional é algo inerente a realidade dos sujeitos educandos e educadores e ela é responsável por criar essa necessidade de repensarmos “novas’’ práticas pedagógicas mais dinâmicas e atuais. Segundo Dalben e Castro apud Oliveira (2013, p.49). [...] afirmam que os impactos provocados por essas tecnologias refletem na educação, possibilitando a propagação do conhecimento por meio de diálogos constantes para a sua inserção nas escolas. Isso denota, portanto, que a relação escola/currículo/tecnologia não pode ser pensada de forma dissociada. A escola deve propiciar diferentes discursividades entre os profissionais da educação a fim de que um novo currículo esteja conectado não aos aspectos sociais, culturais, político e escolares, como também ao tecnológico. Por isso, tratamos aqui sobre as tecnologias assistivas de audiodescrição como meio técnico e pedagógico diferenciado para os processos educativos que emergem em nossa sociedade. Pois, o profissional professor, e os sujeitos educandos não devem ficar “de fora’’ em nossa sociedade em rede onde o conhecimento provindo da tecnologia de audiodescrição vem ganhando importância. Primeiros passos da audiodescrição no Brasil Entendemos que no caso do Brasil o assunto ainda é muito recente, e assim, a audiodescrição esta começando a dar seus primeiros passos e servir de instrumento de empoderamento tanto no viés do campo comunicacional, quanto educacional. Utilizamos esta ferramenta para ajudar os sujeitos normovisuais, e também estudantes com DV a construir seu conhecimento e ter acesso aos conteúdos visuais, pois se trata da tradução em palavras de toda informação visual relevante para a compreensão de uma determinada mensagem (FRANCO; SILVA, 2010). A necessidade de se comunicar é um direito básico voltado ao ser humano, e assim pode se dar de diversas maneiras, seja pela forma oral, por gestos, ou pela audiodescrição. Com a audiodescrição, entramos na linguagem da representação do mundo para com o deficiente visual, que começa a moldar e formatar suas palavras. Podemos compreender o quanto é necessária à junção da realidade do espaço vivido do educando com a comunicação que a audiodescrição lhe proporciona. Tornando- se uma ferramenta de comunicação a partir de seu olhar de mundo no espaço, na qual, habita. Tendo em vista que olhar o mundo, não é apenas enxerga-lo, pois cada indivíduo tem uma visão sobre o mundo a partir da ideologia (visão de mundo) que acredita. Como afirma Fantin apud Sant´Anna (2010, p.157): No entanto, olhar o mundo não envolve só a visão, pois o olhar é fruto de uma individualidade que é parte de uma história pessoal e única vivida em determinada sociedade, com determinada cultura, numa determinada época, vinculada a determinado momento específico de vida, que constroem um jeito próprio de ver. Esse repertório individual envolve, além dos conhecimentos específicos, os valores estéticos, filosóficos, éticos e políticos, assim como a ideologia do indivíduo, do grupo ou da classe social à qual pertence. E nesse processo de educação do olhar, aprendemos a olhar o mundo, a natureza, o trabalho e a arte com o olhar do outro, pela mediação de outros jeitos de olhar. Esses olhares podem ser desinteressados, interpretativos ou criativos. Compreendemos então o sentido da Tecnologia assistiva de audiodescrição como uma ferramenta tecnológica educacional, social e também cultural para transformar as imagens em palavras, podendo ser essa técnica forma de dar autonomia aos sujeitos deficientes visuais e normovisuais. Sua origem nasceu em meados da década de 1970 nos Estados Unidos a partir dos ideais desenvolvidos por Gregory Frazier, em sua dissertação de mestrado. No entanto, as primeiras discussões, encontramos no livro publicado em 2010 chamado Audiodescrição: Transformando imagens em palavras que nos apresenta uma coletânea de artigos ligados a audiodescrição, no que diz respeito ao Brasil, não temos registros oficiais. Sendo assim, os primeiros a representar a técnica da audiodescrição no mundo, foram Margaret Rockwell, que era deficiente visual e seu companheiro Cody Pfanstiehl (PINOTTI, 2014). [...] foram responsáveis pela audiodescrição de Major Barbara, peça exibida no Arena Stage Theater em Washington DC em 1981. Na época, o Arena Stage Theater havia recebido recursos públicos para tornar suas produções mais acessíveis e Margaret Rockwell foi contatada para ajudar nessa empreitada. Ela, por sua vez, buscou o auxílio de Cody Pfanstiehl e o casal, então, passou a audiodescrever as produções teatrais. Eles também foram responsáveis pelas primeiras audiodescrições em fita cassete usadas em visitas a museus, parques e monumentos nos EUA, além de contribuir de maneira significativa para levara AD à televisão. Em 1982, eles audiodescreveram a série de TV American Playhouse, transmitida pela Public Broadcasting Service (PBS). Enquanto o programa era exibido, a audiodescrição era transmitida simultaneamente via rádio. (FRANCO; SILVA apud PINOTTI, 2014, p. 32, grifo do autor). A audiodescrição, sendo ela, como já dita anteriormente, uma ferramenta tecnológica social e inclusiva, tanto para educandos deficientes visuais quanto para o público normovisual, fomenta mudanças facilitadoras na comunicação e na linguagem geográfica do ensino. Neste sentido, estaremos substituindo o formato hegemônico do texto alfabético impresso em papel, inclusive em Braile, para a predominância de formatos digitais de multimídias, como no aspecto imagético (ícones, ideogramas, memes, fotos, slides, áudios com voz, vídeos etc.) demandando essa mudança na comunicação e educação para a inclusão de pessoas com deficiência, para que o desenvolvimento de tecnologias sociais específicas possa atender em grande parte a população num todo (SANT0S, 2016). No que tange o debate da Audiodescrição, vemos a necessidade de conhecer, discutir e democratizar as leis que dizem respeito a esta problemática. Assim, Desde a promulgação da lei 10.098 (BRASIL, 2000), regulamentada pelo Decreto 5.296 (BRASIL, 2004), alterado pelo Decreto 5.645 (BRASIL, 2005) e pelo Decreto 5.762 (BRASIL, 2006b), o recurso da audiodescrição tornou-se um direito garantido pela legislação brasileira. Após consulta e audiência públicas e a oficialização da Norma Complementar nº1 (BRASIL, 2006a), as emissoras de TV foram obrigadas a oferecer, num prazo máximo de dois anos, duas horas diárias de sua programação com audiodescrição. A quantidade de horas diárias deveria aumentar gradativamente para que, num prazo máximo de dez anos, ou seja, 2016, toda a programação estivesse acessível. No entanto, desde que o referido prazo foi vencido em 27 de junho de 2008, três portarias já foram publicadas, numa clara demonstração de que os interesses das emissoras de TV ainda falam mais alto. A Portaria 403 (BRASIL, 2008c) suspendeu a obrigatoriedade do recurso da audiodescrição por 30 dias. A Portaria 466 (BRASIL, 2008b), de 30 de julho de 2008, restabeleceu a obrigatoriedade do recurso e concedeu prazo de 90 dias para que as emissoras iniciassem a transmissão de programas com Audiodescrição. A Portaria 661 (BRASIL, 2008a), de 14 de outubro do mesmo ano, suspendeu novamente a aplicação do recurso para realização de uma nova consulta pública sobre a questão, com prazo até 30 de janeiro de 2009, sendo possível sua prorrogação sine die e a convocação de mais uma audiência pública Em novembro de 2009, o Ministério das Comunicações lança a Portaria 985, que abre uma nova consulta pública para propor alterações na Norma Complementar nº 1/2006. (MOTTA; ROMEU FILHO apud PINOTTI, 2014 p. 32). A audiodescrição, além de ser uma ferramenta necessária e muito recente no Brasil, ela vem tendo continuidade através de uma parceria com as instituições privadas que necessitam dar respaldo a estes meios de comunicação, infelizmente a grande maioria das instituições públicas não conseguem estabelecer vínculos, pois ao se tratar de Tecnologias, sempre há custos o que dificulta diversas pesquisas. (PINOTTI, 2014). Porém, o que queremos nessa pesquisa é propor a democratização de forma igualitária do uso dessa ferramenta, pois, em termos educacionais, ela remete a uma frente pedagógica inclusiva, que deve beneficiar os sujeitos de todas as classes sociais, permitindo que a parcela dos menos favorecidos da sociedade tenham acesso aos avanços tecnológicos. Ao falarmos, portanto, em audiodescrição como ferramenta educacional, iremos traçar os caminhos necessários para socialização do uso dessa ferramenta pedagógica sociocultural para estudantes deficientes visuais e normovisuais em sala de aula, além de auxiliar os professores na tarefa de como utiliza-la. Pretendemos, por isso, discutir os problemas envolvidos nas formas de socialização dessa ferramenta pedagógica. Sua socialização se dá por meio de leis ou por políticas públicas, mas não há uma preparação formal para que os beneficiados possam, de fato, desfrutá-la de forma plena e nem existem mecanismos suficientes de avaliação e controle da qualidade do funcionamento destes recursos. Os recursos são disponibilizados sem o aporte da educação, essa interação não será bem sucedida, visto que a falta ou precariedade de preparação formal, especialmente na questão da descrição, inviabilizará o acesso, resultando em pseudoacessibilidade (SANTOS, 2016). Onde cabe a Geografia "O espaço é acumulação desigual de tempos". (SANTOS, 1997). A Geografia, como Ciência, é pautada na sua diversidade, ela consegue abranger diversas áreas, sendo o espaço geográfico nosso objeto de estudo. Cabe a Geografia estudar os diferentes lugares, todas as relações sociais que os sujeitos produzem no espaço e a dinâmica das transformações do espaço geográfico. No caso dessa pesquisa, priorizamos as explicações sobre o processo de ensino-aprendizagem da Geografia que objetiva fazer críticas e apontamentos importantes aos sujeitos na sociedade em que vivemos, compreendendo as causas e efeitos dos processos que dizem respeito aos espaços geográficos (KAECHER, 1998). Observamos que, juntamente com a audiodescrição, se faz necessário intercalar todas as informações que o DV possa contribuir e irá complementar os objetos audiodescritos, através da parceria nas avaliações dos objetos que iremos catalogar essa pesquisa. Fazemos, então, a junção com alguns aspectos relevantes do ensino-aprendizagem da geografia e como objetos desse estudo elencaram a categoria de espaço. Sendo assim, Callai e Callai (2003, p.69) nos explica qual é a verdadeira natureza do espaço, dinâmica, e não estática, como já foi concebida na geografia tradicional: Os homens vivem num espaço, atuam nele, ocupam lugares. Esse espaço comumente é visto como algo estático, pronto e acabado. Tem uma aparência. Mas é resultado de uma dinâmica, é cheio de historicidade. A aparência é o resultado, num determinado momento, de coisas que acontecem. É a expressão de um processo, portanto há dinâmica no arranjo. Só na aparência ele é estático, pois este está constantemente sendo construído. E, conhecer o espaço, entendê-lo, é observar esta dinâmica e percebê-lo como resultado, mais de que aceitá-lo como definitivo e acabado. Em sendo estático, caberia apenas adaptar-se a ele, ajustar-se para poder viver. [...]. Entendemos que a necessidade de se comunicar é um direito básico voltado ao ser humano, e assim, pode se dar de diversas maneiras, seja pela forma oral, por gestos, ou pela audiodescrição. Com a audiodescrição, entramos na linguagem da representação do mundo para com o deficiente visual, que começa a moldar e formatar suas palavras. Podemos compreender o quanto é necessária à junção da realidade do espaço vivido do educando com a comunicação que a audiodescrição lhe proporciona. Se tornando, sua ferramenta de comunicação a partir de seu olhar de mundo no espaço, no qual, habita. Tendo em vista que olhar o mundo, não é apenas enxerga-lo, pois cada indivíduo tem uma visão sobre o mundo a partir da ideologia que acredita. Como afirma Fantin apud Sant´Anna (2010, p.157): No entanto, olhar o mundo não envolve só a visão, pois o olhar é fruto de uma individualidade que é parte de uma história pessoal e única vivida em determinada sociedade, com determinada cultura, numa determinada época, vinculada a determinado momento específico de vida, que constroem um jeito próprio de ver. Esse repertório individual envolve, além dos conhecimentos específicos os valores estéticos, filosóficos, éticos e políticos, assim como a ideologia do indivíduo, do grupo ou da classe social à qual pertence. E nesse processo de educação do olhar, aprendemos a olhar o mundo, a natureza, o trabalho e a arte com o olhar do outro, pela mediação de outros jeitos de olhar. Esses olhares podem ser desinteressados, interpretativos ou criativos. Estabelecendo relação entre o Ensino de Geografia, Educação Inclusiva, e as tecnologias da informação e comunicação, entendemos que para a efetivação da perspectiva inclusiva em todas as escolas de ensino regular, se faz necessário mudanças que vão desde seu formato físico até na postura de todos os sujeitos que fazem parte do ambiente informacional e educacional. Isso contribui para pensamos que a mudança educacional das escolas brasileiras, passa pela formação desses professores que estão mediando o processo de ensinoaprendizagem cotidianamente com os educandos portadores de necessidade especiais. Muitos desses professores acabam sendo meros transmissores que repassam aquilo que também lhes foi transmitidos e não constroem, portanto, educandos pensantes e criadores de seus próprios conceitos. Estes são ambos sujeitos oprimidos, parte de uma sociedade capitalista mecanizadora e reprodutivista, logo, vazia de originalidade que força esses professores virarem máquinas reprodutoras do Estado, negando seu direito a criticidade e a criação dos conceitos por eles mesmos vividos (FREIRE, 1989; BOURDIEU, 1998). Segundo Pierre Bourdieu (1998), há uma desvalorização do capital cultural4 que os educandos possuem 4 Podemos entender capital cultural como uma metáfora criada por Bordieu para esclarecer que no modo de produção capitalista a cultura se transforma em moeda de troca, tendo por muitas vezes o mesmo valor do capital monetário. Na sociedade capitalista a cultura das classes subalternas é desvalorizada e a cultura das classes dominantes tende a ser imposta para toda a sociedade. Por isso, para autor, a palavra capital não serve apenas para denominar o capital econômico, visto que o acesso diferenciado aos bens sociais, assim como no caso da diferenciação de acesso ao capital econômico, também acarreta uma diferenciação na hierarquia social, auxiliando na reprodução das estruturas vigentes (CAMACHO, 2008). antes de chegar em sala aula. Temos uma educação pautada em valores oriundos do sistema capitalista, cuja preocupação é a transmissão de conhecimentos ao invés da crítica e a reflexão. Nesse sentido, as tecnologias digitais vêm despertando o interesse cada vez maior em todas as áreas, inclusive nas humanas que abarcará nessa pesquisa o ensino de geografia, que auxiliara tanto os educandos quanto os professores que farão parte da construção desse objetos com a audiodescrição que levará de forma mais dinâmica esses processo Educacional além de ser uma ferramenta tecnológica aplausível e atual dentro do ensino aprendizagem . Iremos através do espaço geográfico que está contida a fotografia dos ambientes, colaborar para a construção de uma audiodescrição mais humana e significativa para todos sujeitos, sendo eles deficientes visuais, normovisuais e até mesmo educando com algum déficit de atenção ou dificuldade de aprendizagem. Fica claro, que o exercício do olhar ao descrevermos o espaço geográfico e as paisagens no ensino de geografia, nos dará respaldo para interagir e articular os sujeitos de forma inclusiva, e juntamente com as tecnologias uma geografia descritiva e mais critica, no âmbito social, cultural , político e econômico, pois as dinâmicas tecnológicas que irá permitir uma ampla e rápida busca por um conhecimento em diversos territórios e diferentes sujeitos e culturas. Sendo assim logo, um olhar diferenciado sobre os objetos que irão compor as diversas paisagens tanto no âmbito escolar urbano, rural, quanto no âmbito das paisagens sul mato-grossenses. A paisagem para a geografia é um categoria harmoniosa com diferentes características que a envolvem, portanto o olhar do geógrafo e diferenciado em sua formação acadêmica, fazendo com que outros sujeitos possam refletir e dar criticidade as diversas formas e olhares diferenciados sobre a representação estática ou em movimentação que as paisagens possam em determinado tempo e espaço nos representar. [...] em sua trajetória para a construção de um corpo epistemológico para a Geografia. A partir da definição de paisagem, apresenta seu conceito de espaço, afirmando-o como sendo o “resultado da soma e da síntese, sempre refeita, da paisagem com a sociedade através da espacialidade” (SANTOS, 1991, p.73). O espaço seria sociedade encaixada na paisagem, isto é, “a vida que palpita conjuntamente com a materialidade”. (SANTOS apud CASSAB 2008, p.100). Contudo , audiodescrever para um DV a paisagem, o lugar onde se vive, o território que ele permanece, lhe permite apreender os conceitos de Geografia, pois para além da transmissão e memorização de conteúdos, esta prática permite ao DV sentir esse conhecimento como parte integrante de sua realidade. Isto significa a construção de um ensino-aprendizagem constituído através dos sentidos (TUAN, 2013). Tal ferramenta serve não somente para os DVs, mas também para nós normovisuais que buscamos a necessidade de detalhamento. Todos os sujeitos que possuam alguma dificuldade ao interpretar uma paisagem tem a oportunidade com a audiodescrição de senti-la e interpreta-la seja desde uma pintura, até mesmo uma peça de teatro. Ao buscarmos inserir essa ferramenta pedagógica e tecnológica digital como linguagem geográfica, não estaremos nos reduzindo a apenas descrever ou representar coisas ou locais, ela nos permitirá também criar a possibilidade de uma comunicação entre os normovisuais e os deficientes visuais. Pois, o objetivo não é apenas a descrição, mas sim, a interação entre o território e os sujeitos ali estabelecidos. Os Sujeitos Deficientes Visuais Os sujeitos com Deficiência Visual, chamados cientificamente de “Portadores de Deficiência Visual’’, se dividem em grupos: Cegos e portadores de deficiência visual subnormal. Neste artigo, foi adotada a definição sugerida pela American Foundation for the Blind, para qual o estudante DV é aquela pessoa... [...] cuja perda de visão indica que pode e deve funcionar em seu programa educacional, principalmente através do uso do sistema Braille, de aparelhos de áudio e de equipamento especial, necessário para que alcance seu objetivos educacionais com eficácia, sem o uso da visão residual. Portadora de visão subnormal, a que conserva visão limitada, porém útil na aquisição da educação, mas cuja deficiência visual, depois de tratamento necessário, ou correção, ou ambos, reduz o progresso escolar em extensão tal que necessita de recursos educativos. (apud MASSINI, 1994, p.40). A causa da Deficiência Visual pode ser hereditária ou adquirida. Enquanto a hereditária é de nascença, a adquirida é contraída logo após o nascimento, principalmente depois que a criança já construiu em seu mundo vivido os conceitos sobre visão, visto que os acidentes são as causas mais comuns nesse caso. Podendo assim, a família prestar todo cuidado necessário a criança. Nos casos hereditários, pode acontecer pelo fato da própria mãe e família se descuidar, principalmente do pré-natal, que para a saúde da mãe, é extremamente delicado e importante. Assim, a Deficiência Visual, pode advir da falta de exames pré-natais, acompanhamento médico e vacinas em gerais, bem como, pode ser consequência de erros genéticos. Também, o sarampo, tracoma, oncocercose, glaucoma congênito, catarata e a retinopatia de prematuridade, retinoblastoma, traumas, diabetes, retinose pigmentar são algumas doenças que podem afetar e levar a cegueira. Logo, na percepção de quaisquer alterações é necessário a mãe procurar um médico especialista para tratar e tomar as devidas providências, estas podem amenizar ou mesmo interromper o processo que desencadearia em uma Deficiência Visual (MOSQUERA, 2010). Considerações Finais Trouxemos para o artigo apenas alguns levantamentos bibliográficos que já temos inicialmente em nossa pesquisa com previsão de término para o ano de 2018. A partir desses levantamentos iniciais, consideramos as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) como instrumento educacional de inclusão de pessoas. Em nosso caso, a contribuição estará no resultado final da pesquisa. Esta será a construção de diversos objetos, através da audiodescrição, por meio de fotografias com foco na paisagem das escolas centrais e periféricas, além das paisagens sul matogrosesses. Estes objetos auxiliará tanto os educandos deficientes visuais (total, parcial e com baixa visão) como os demais educandos normovisuais, além de colaborar e incentivar os professores da rede pública a trabalharem essa ferramenta de ensino com a audiodescrição abrangendo, de maneira inclusiva, todos sujeitos envolvidos nas escolas do município de Dourados - MS. Referências BRASIL. Tecnologia assistiva. ATA VII. Comitê de Ajudas Técnicas (CAT). Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE). Secretaria Especial dos Direitos Humanos. 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