capacitação para o suporte básico de vida: uma experiência com

Propaganda
CAPACITAÇÃO PARA O SUPORTE BÁSICO DE VIDA: UMA
EXPERIÊNCIA COM AUXILIARES DE ENFERMAGEM NO
AMBIENTE EXTRA-HOSPITALAR
Cristiane Aparecida Ferreira Bonetti
Curso de Graduação em Enfermagem, Universidade de Ribeirão Preto
Edilson Carlos Caritá
Programa de Mestrado Profissional em Saúde e Educação, Universidade de Ribeirão Preto
Silvia Sidnéia da Silva
Programa de Mestrado Profissional em Saúde e Educação, Universidade de Ribeirão Preto
RESUMO: Ao longo dos tempos, com a revolução tecnológica e industrial, e
consequentemente, mudanças econômicas e sociais houve uma mudança do perfil de
morbimortalidade da população com predomínio das doenças e mortes decorrentes das
doenças crônicas não transmissíveis, onde se incluem as Doenças Cardiovasculares (DCV),
que se traduzem nas principais causas de morte no mundo, representando cerca de 70% do
total de óbitos, de acordo com estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS). As
DCV ainda permanecem como a primeira causa de mortalidade proporcional, segundo
DATASUS, e sua manifestação clínica pode ser um infarto agudo do miocárdio ou acidente
vascular cerebral, inclusive com evolução fatal, o que reforça a importância do
reconhecimento dos sintomas da Parada Cardiorrespiratória (PCR), pois quanto mais rápido se
iniciar o tratamento, maior a chance de sobrevida com melhor qualidade de vida futura, pois a
PCR é uma situação de emergência, que resulta em morbimortalidade elevada, o que torna o
atendimento do paciente em PCR, um conhecimento prioritário, a todo profissional de saúde,
independente de sua especialidade, incluindo o auxiliar de enfermagem. O estudo teve o
objetivo de capacitar os auxiliares de enfermagem para atendimento à vítima em parada
cardiorrespiratória no ambiente extra-hospitalar, em um município do interior paulista. Para
tanto, buscou-se identificar nos auxiliares de enfermagem suas necessidades de aprendizagem
no reconhecimento aos sinais e sintomas de PCR; identificar suas necessidades de
aprendizagem na realização de ressuscitação cardiopulmonar e avaliar o conhecimento antes e
após sua participação na capacitação proposta. De acordo com a American Heart Association
(AHA) (2010), o suporte básico de vida consiste em medidas essenciais que devem ser
realizadas nos indivíduos em PCR, abordando o reconhecimento da PCR, a chamada por
ajuda, o início do suporte circulatório e ventilatório e a desfibrilação precoce. Para que se
tenha êxito na execução das manobras, os socorristas devem possuir conhecimentos e seguir
as recomendações preconizadas pela AHA, de acordo com a cadeia de sobrevida, que se
constitui em procedimentos realizados de forma ordenada; uma cadeia de atitudes onde cada
elo articula o procedimento anterior com o seguinte, tendo o objetivo de esclarecer e
representar a melhor conduta de tratamento para pessoas com morte cardíaca súbita. Segundo
a AHA (2010), o sucesso do atendimento a uma vítima de PCR é determinado pelo
reconhecimento precoce dos sinais de parada, e o atendimento eficaz ao usuário acometido
está diretamente relacionado à rapidez de quem o realiza e a chance de recuperação depende
da aplicação imediata, competente e segura, das medidas de reanimação. Com o advento da
tecnologia é possível utilizar recursos didáticos como manequins e situações simuladas que
facilitam a aproximação da realidade e tornam exequíveis as manobras e os conceitos que são
fundamentais no processo ensino-aprendizagem, considerando a aquisição de habilidades para
o atendimento às pessoas, nessa condição clínica. Trata-se de estudo descritivo, de abordagem
quase-experimental, autorizado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da
Universidade de Ribeirão Preto, sob protocolo n. 42/2011, que contemplou três etapas: Etapa
I: avaliação teórico-prática, utilizando manequins e simulação, além da aplicação do
formulário sociodemográfico; Etapa II: capacitação teórico-prática e Etapa III – reavaliação
prática, considerando a mesma metodologia, também nas duas últimas etapas. Após aplicação
dos critérios de inclusão, exclusão e descontinuidade adotados na pesquisa, a amostra foi
composta por 14 auxiliares de enfermagem, do sexo feminino, com idades variando de 26 a
60 anos, a média de idade foi 45,6 anos e o desvio padrão de 10,1 anos, que desenvolvem
atividades assistenciais nos períodos da manhã, tarde e noite, nas unidades públicas de saúde,
do município de Brodowski/SP. A capacitação dos auxiliares de enfermagem possibilitou
alcançar êxito no atendimento simulado à vítima, nessa situação clínica, no cenário
extra-hospitalar, durante o treinamento proposto, baseando-se nas evidências e recomendações
das diretrizes da AHA (2010). Entretanto, sugere-se que os sujeitos do estudo recebam
educação permanente nos serviços, utilizando sessões teóricas e práticas simuladas, com
aproximações de possíveis enredos de PCR que podem, pela experiência vivenciada na
pesquisa, colaborar positiva e significativamente na aquisição de habilidades visando o
atendimento adequado e eficaz à vítima. Com o estudo evidencia-se que a capacitação dos
auxiliares de enfermagem para a atuação adequada, assim como o conhecimento sobre as
diretrizes da AHA para o suporte básico de vida são fundamentais para o exercício das funções
profissionais dessa categoria, além de melhorar a qualidade da reanimação e, possivelmente,
alcançar melhores taxas de sobrevida da pessoa em PCR, a ser cuidada para além do ambiente
hospitalar.
PALAVRAS-CHAVE: Suporte Básico de Vida. Simulação. Capacitação Profissional.
1. Introdução
Ao longo dos tempos, com a revolução industrial e tecnológica, e consequentemente,
mudanças econômicas e sociais houve uma alteração do perfil de morbimortalidade da
população com grande predomínio das doenças e mortes decorrentes das Doenças Crônicas
Não Transmissíveis (DCNT), incluindo as doenças cardiovasculares.
As DCV são as principais causas de mortalidade no mundo ocidental, sendo
amplamente conhecida a importância do pronto-atendimento nas emergências cardiológicas.
A demora em reconhecer os sintomas e o retardo em buscar atendimento médico têm sido
responsáveis pela elevada mortalidade pré-hospitalar (WERF et al., 2003).
Dentre as doenças cardiovasculares, encontra-se a Doença Arterial Coronariana (DAC)
que contempla desde a isquemia silenciosa, passando pela angina de esforço, a angina instável
até o Infarto Agudo do Miocárdio (IAM). Um fato decisivo no tratamento do IAM é o tempo.
Tempo é vida para o músculo cardíaco e quanto mais rápido se iniciar o tratamento, maior a
chance de sobrevida com melhor qualidade de vida futura, bem como menor é o risco de
sequelas na estrutura cardíaca (TIMERMAN; TIMERMAN, 2001).
As DCV são, mundialmente, uma das principais causas de morte. Estima-se que 17,5
milhões de pessoas morreram em decorrência de DCV em 2005, representando cerca de 30%
de todas as mortes no mundo. Desses óbitos, 7,6 milhões foram devidos a IAM e 5,7 milhões
a Acidente Vascular Cerebral (AVC). Cerca de 80% destas mortes ocorreram em países de
baixa e média renda e acometeram, quase igualmente, homens e mulheres. Caso as tendências
se mantenham, estima-se que, até 2015, 20 milhões de pessoas morrerão de DCV,
principalmente IAM e AVC, permanecendo estas como as principais causas de óbito
(WORLD HEALTH ORGANIZATION - WHO, 2009).
As taxas de mortalidade e morbidade, associadas às DCV, variam entre diferentes
grupos econômicos, áreas geográficas e etnias, de acordo com a National Institute for Health
and Clinical Excellence - NICE (2006).
No Brasil, as doenças do aparelho circulatório representaram 29,3% do total de mortes
registradas no ano de 2006 no Sistema de Informações de Mortalidade (aproximadamente 1
milhão), sendo que as doenças isquêmicas do coração contribuíram com 8,8% e as doenças
cerebrovasculares, com 9,4% (DATASUS, 2009).
Considerando dados da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) (2008), do
total de mortes por doenças do aparelho circulatório, as doenças isquêmicas do coração
contribuíram com 29,9% e, dentre estas, o IAM representou 76,6%. As doenças
cerebrovasculares, que incluem os AVC, responderam por 31,9% das mortes por doenças do
aparelho circulatório.
As DCV são definidas como doenças que acometem o coração e os vasos sanguíneos e
uma das manifestações, de acordo com a NICE (2006) e WHO (2009), compreendem a DAC,
também conhecida como doença cardíaca isquêmica.
A DAC é causada pelo estreitamento das artérias que irrigam o coração, secundário ao
acúmulo gradual de material lipídico, denominado ateroma. Esse estreitamento pode causar
IAM, angina e outras formas de doença cardíaca crônica. O IAM, por sua vez, é definido
como uma lesão permanente a uma área do músculo cardíaco, como resultado da interrupção
do fluxo sanguíneo, causada por estreitamento ou obstrução total da artéria responsável pelo
aporte sanguíneo a essa área. Geralmente, o IAM causa dor de forte intensidade ou
desconforto localizado no centro do peito, com duração superior a 30 minutos. A dor pode
irradiar para os braços, pescoço, mandíbula ou estômago. Além disso, a pessoa poderá
apresentar sintomas como dificuldade para respirar, náuseas e vômitos, tonteira ou desmaio,
suor frio e palidez. Contudo, alguns IAM são denominados silenciosos por produzirem
sintomatologia branda (NICE, 2006; WHO, 2009).
A angina pectoris é a síndrome caracterizada por crises de dor ou sensação de pressão
na região anterior do tórax. A causa vem do fornecimento insuficiente de sangue para as
coronárias, reduzindo o oxigênio enviado para o miocárdio que acaba excedendo sua força em
busca de oxigenação (SMELTZER; BARE, 2009). De acordo com Bassan (2002), se a angina
não é adequadamente tratada, poderá evoluir para um ataque cardíaco.
Deste modo, as manifestações mais comuns das DCV são eventos agudos que têm
como mecanismo fisiopatológico comum um bloqueio do fluxo sanguíneo causado pela
formação de placas ateroscleróticas no interior dos vasos. Muitas vezes, a doença subjacente
dos vasos sanguíneos não apresenta quaisquer sintomas (OPAS, 2008).
A manifestação clínica da DCV pode ser um IAM ou AVC, inclusive com evolução
fatal, o que reforça a importância do reconhecimento dos sintomas da PCR, e quanto mais
rápido se iniciar o tratamento maior a chance de sobrevida com melhor qualidade de vida
futura. A PCR é uma situação de emergência, sendo responsável por morbimortalidade
elevada (NICE, 2006; WHO, 2009).
Segundo Silva (2007), registros de óbitos coletados no Livro de Óbitos (Livro C3 e
C4) ocorridos no município de Brodowski/SP, no período de 2000 a 2006, assinalaram 286
óbitos, sendo 96 em decorrência de Doença Isquêmica Cardíaca (DIC), e destes, 40 ocorreram
no domicílio. Esses dados ratificam a importância de se capacitar o maior número de pessoas,
leigos e profissionais, para atendimento à pessoa em PCR, pois pode evitar no domicílio, a
morte dessas vítimas.
Na PCR o tempo é extremamente importante, pois a cada minuto que o indivíduo
permanece nesse quadro, 10% de probabilidade de sobrevida é perdido. O atendimento do
paciente em PCR é conhecimento prioritário de todo profissional de saúde, independente de
sua especialidade (FEITOSA-FILHO, 2006).
Segundo a AHA (2010), o sucesso do atendimento a uma vítima de parada PCR é
determinado pelo reconhecimento precoce dos sinais de parada cardíaca, da rápida ativação de
sistema de atendimento de emergência e da pronta instituição do suporte básico de vida,
incluindo a desfibrilação elétrica. O resultado do atendimento na PCR está diretamente
relacionado à rapidez da equipe e a chance de recuperação depende da aplicação imediata,
competente e segura das medidas de reanimação.
De acordo com a OMS (2008) há um aumento de 75% de sobrevida para a pessoa que
recebe atendimento precoce e eficaz.
Desde o nascimento, a única certeza do homem é a morte, entretanto, competem aos
profissionais de saúde, entre eles, os auxiliares de enfermagem em tentar retardá-la. O
atendimento por parte dos auxiliares de enfermagem, nessa situação, requer processo de
julgamento clínico criterioso e complexo, que demanda habilidades intelectuais, motoras e
poder de decisão na assistência, sendo um aspecto crucial no sucesso da intervenção. Para
que isso ocorra é importante que tenham mudanças de comportamentos e aperfeiçoamentos
constantes. Nesse sentido, o treinamento e a capacitação dos auxiliares de enfermagem do
município de Brodowski/SP constituiu-se de extrema importância, visando sanar suas dúvidas
e inseguranças proporcionando, assim à população, um atendimento padronizado, fato este
que é imprescindível para melhorar a qualidade da reanimação e alcançar melhores taxas de
sobrevida.
2. Referencial Teórico
2.1 Diretriz American Heart Association (AHA) – Suporte Básico de Vida (SBV)
Segundo Leitão et al. (2005), os primeiros indícios do surgimento da RCP
originaram-se da medicina dos Hebreus. No entanto, as primeiras narrações oficiais de RCP
da Society for recovery of persons apparently drowned ocorreram em Amsterdã, no ano de
1776. Nesse relato consta que, em quarenta anos, 150 pessoas foram reanimadas seguindo
passos propostos para vítima de afogamento.
Ainda de acordo com Leitão et al. (2005), nas décadas de 30 e 40 de século XX, com
base nos experimentos de James Elam, afirmaram que tem-se a comprovação da superioridade
da ventilação boca-a- boca em relação à pressão torácica com os braços levantados, realizada
por Peter Safar, um anestesiologista residente nos Estados Unidos. Este desenvolveu também
uma importante técnica buscando a permeabilização e a desobstrução das vias aéreas, que
consistia na inclinação da cabeça para trás, projetando a mandíbula para cima.
Em 1865, Charles Augustus Leale, um jovem oficial médico do exército americano,
desenvolveu um modelo de ressuscitação cardiorrespiratória semelhante ao atual Suporte
Básico de Vida (SBV), conforme relatam Zago et al. (1999).
Timerman et al. (2005) revelam que em 1889, Prevost e Batelli, após notarem que
grandes voltagens aplicadas através do coração de um animal poderiam fazer parar a fibrilação
ventricular, elaboraram o primeiro conceito de desfibrilação elétrica.
Por volta de 1960, Kouwenhouven, um engenheiro eletricista, desenvolveu a
desfibrilação externa. Durante seus experimentos, descobriu as compressões torácicas como
possibilidade de RCP a tórax fechado. O primeiro desfibrilador externo portátil à bateria foi
desenvolvido por Paul Zoll (LEITÃO et al., 2005).
De acordo com Filgueiras Filho et al. (2006), os cursos de SBV foram introduzidos no
Brasil há mais de 14 anos e já são amplamente difundidos pelo território nacional. Atualmente
existem, em nível mundial, cursos de suporte básico de vida para qualificação dos
profissionais da saúde e leigos; ação que visa tornar esse conhecimento e habilidade mais
socializados, na tentativa de atender à vítima dessa condição clínica, de forma rápida e
adequada, inclusive, em ambientes fora do hospital.
2.2 Suporte Básico de Vida
De acordo com a AHA (2010), SBV consiste em medidas essenciais que devem ser
realizadas nos indivíduos em PCR, abordando o reconhecimento da PCR, a chamada por
ajuda, o início do suporte circulatório e ventilatório e a desfibrilação precoce.
Para que se tenha êxito na execução das manobras, os socorristas devem possuir
conhecimento e seguir as recomendações da AHA (2010), de acordo com a cadeia de
sobrevida.
Dados da AHA, em 2006, assinala que elaborou e adotou a expressão “Cadeia de
Sobrevida”, em 2005, com o objetivo de esclarecer e representar a melhor conduta de
tratamento para pessoas com morte cardíaca súbita. Surge, assim, o conceito de Cadeia de
Sobrevivência, que são procedimentos realizados de forma ordenada que constituem uma
cadeia de atitudes onde cada elo articula o procedimento anterior com o seguinte.
Em 2010, a AHA preconizou que a cadeia seria composta por cinco elos ou ações onde
o funcionamento adequado de cada elo e a articulação eficaz entre os vários elos é vital para
que o resultado final seja uma vida salva.
Ainda de acordo com AHA (2010), os cinco elos da cadeia de sobrevivência são:

1º Elo - reconhecimento imediato da PCR e acionamento do serviço de
emergência/urgência. Deve-se solicitar ajuda e o desfibrilador através do serviço
de emergência pelo telefone 192, fornecendo o máximo de informações sobre a
situação e o paciente para que o atendimento possa ser eficaz;

2º Elo – Ressuscitação Cardiorrespiratória (RCR) precoce, com ênfase nas
compressões torácicas. As compressões torácicas farão pressão direta no coração
elevando, assim, a pressão na cavidade torácica, fazendo o coração bombear. Para
que sejam efetivas, as compressões devem ser realizadas com frequência de, no
mínimo, 100 batimentos/minuto, com profundidade da compressão de 4-5cm,
permitindo o retorno total do tórax;

3º Elo - rápida desfibrilação, que poderá eliminar 85% da Fibrilação Ventricular que é a arritmia mais frequente;

4º Elo - suporte avançado de vida eficaz, que se traduzem
em manobras
avançadas que incluem monitorização do paciente, administração de fármacos,
estabelecer via respiratória eficaz como intubação endotraqueal, entre outros
cuidados;

5º Elo - cuidados pós-PCR integrados. Estes visam à otimização da função
cardiopulmonar e a perfusão de órgãos vitais, e incluem transportar a vítima para
um hospital adequado ou Unidade de Terapia Intensiva (UTI) com completo
sistema de tratamento pós-PCR, controlar a temperatura para otimizar a
recuperação neurológica e prever, tratar e prevenir a disfunção múltipla de órgãos.
De acordo com a AHA (2010), as manobras de SBV possuem etapas para sua
realização, sendo:

Primeiro Passo: a AHA salienta a importância dos socorristas, antes de iniciarem
qualquer manobra de RCR, se atentarem à segurança da cena, para que os
mesmos não se exponham a riscos evitáveis, além da recomendação do uso dos
Equipamentos de Proteção Individual;

Segundo Passo: determinar o nível de consciência da vítima por meio de
estímulo verbal e tátil, colocando as mãos delicadamente em seus ombros e
chamando-o em tom de voz alto e firme. Uma vez constatada a inconsciência,
deve-se solicitar ajuda;

Terceiro Passo: avaliar pulso (C) - checar pulso em artéria carotídea. Se não
houver a certeza de que o paciente tem pulso presente, devem-se iniciar as
manobras de compressões torácicas. Para localizar o pulso deve-se localizar a
traqueia, usando dois ou três dedos da mão, em seguida deslizando esses dois ou
três dedos para o sulco entre a traqueia e os músculos laterais do pescoço, onde
se pode sentir o pulso carotídeo. Essa manobra deve ser realizada em não menos
de 5 e não mais de 10 segundos;

Quarto Passo: compressões torácicas – o socorrista deve realizar as manobras de
compressão torácica confirmando a posição do paciente em decúbito dorsal
horizontal e colocá-lo sobre uma superfície rígida (como a tábua de massagem).
Em seguida, posicionar-se de tal maneira que o seu tórax fique acima do
paciente, para que durante a compressão torácica possa manter os braços
estendidos formando um ângulo de 90° com o tórax do mesmo;
simultaneamente, deve ser localizada a porção inferior do esterno (cerca de três
centímetros) acima da porção inicial do apêndice xifóide e, com as mãos
espalmadas -uma sobre a outra- e os dedos entrelaçados ou não, realizar com a
região hipotenar das mãos uma pressão suficiente para deprimir o esterno de
cinco centímetros contra a coluna vertebral, utilizando o peso do seu próprio
corpo (tronco).
As compressões torácicas externas devem ser realizadas de modo sincronizado
com as ventilações na proporção de 30:2, totalizando no mínimo 100 bpm. Ao final de
cada compressão é recomendado se assegurar de que houve o retorno total do tórax.
O socorrista deve respeitar o ciclo de ventilação e compressão cardíaca externa,
independente do número de socorrista.
A cada 5 (cinco) ciclos de 30:2, o socorrista deverá repetir a avaliação para
verificar se houve retorno da respiração e do pulso, caso contrário, deverá manter as
manobras de reanimação, reiniciando novo ciclo com 30 compressões torácicas para 2
ventilações. Os socorristas deverão trocar de posição regularmente, pois o cansaço
compromete a eficácia das compressões.

Quinto Passo: abertura das vias aéreas (A) – o socorrista deve posicionar-se
lateralmente ao paciente, observar a posição da cabeça, pescoço e queixo,
inclinando sua cabeça para trás, colocando uma de suas mãos sobre a sua fronte,
com os dedos indicador e polegar comprimir as narinas, colocar a outra mão no
queixo, elevando-o, permitindo a abertura da boca realizando duas ventilações de
resgate, voltar a sua cabeça para o tórax do paciente observando se há expansão
torácica. Se houver a possibilidade de lesão de coluna cervical, deverá apenas
permitir a abertura da boca;

Sexto Passo: desfibrilação externa, pois o desfibrilador é de extrema importância
no tratamento da PCR, sendo que o ritmo inicial mais frequente é a fibrilação
ventricular, situação em que a desfibrilação precoce se faz essencial para o
tratamento adequado e a prevenção de sequelas e deterioração do quadro geral do
paciente, que pode evoluir para assistolia.
2.2 Auxiliar de Enfermagem
Diversos estudos afirmaram que o diagnóstico da PCR é conduta que deve ser
executada pelos profissionais de saúde com rapidez e segurança na luta pela manutenção e
recuperação da vida (DANE et al., 2000; ARAÚJO; ARAÚJO; CARIELI 2001a; ARAÚJO;
ARAÚJO; CARIELI, 2001b).
Segundo Zanini, Nascimento e Barra (2006), o profissional de enfermagem deve estar
apto para reconhecer quando um paciente está em franca parada cardiorrespiratória ou prestes
a desenvolvê-la, pois este episódio representa a mais grave emergência clínica que se pode
deparar.
O Decreto nº 94.406, de 08 de junho de 1987 que regulamenta a Lei nº 7.498, de 25 de
junho de 1986, dispõe sobre o exercício da Enfermagem, e dá outras providências, no Art. 11º,
determinando que o Auxiliar de Enfermagem executa as atividades auxiliares, de nível médio
atribuídas à equipe de Enfermagem, cabendo-lhe, entre outras competências:
II - observar, reconhecer e descrever sinais e sintomas, ao nível de sua qualificação;
IV - prestar cuidados de higiene e conforto ao paciente e zelar por sua segurança,
inclusive;
V - integrar a equipe de saúde;
VI - participar de atividades de educação em saúde, entre outras funções específicas.
A falta de conhecimento técnico e teórico acerca da situação clínica que envolve a
PCR e a RCR se manifesta como uma falha que perpetua ao longo da trajetória profissional,
tendo como origem a falha no processo de formação dos trabalhadores de Enfermagem
(SILVA; PADILHA, 2001).
Informações como as supracitadas alertam as instituições formadoras e de saúde
quanto à necessidade de aliar a formação e manter a educação permanente nos serviços.
3. Objetivo
O objetivo geral desse trabalho foi analisar como os auxiliares de enfermagem
atendem o portador de PCR no ambiente extra-hospitalar do Município de Brodowski/SP,
intervindo por meio da capacitação desses prestadores, nesse tipo de assistência.
Especificamente, objetivou-se identificar no auxiliar de enfermagem a necessidade de
aprendizagem no reconhecimento aos sinais e sintomas de uma parada cardiorrespiratória;
identificar no auxiliar de enfermagem a necessidade de aprendizagem na realização da
ressuscitação cardiorrespiratória; capacitar os auxiliares de enfermagem para o atendimento da
vítima em parada cardiorrespiratória e avaliar o conhecimento dos auxiliares de enfermagem
antes e após a sua participação no programa de capacitação.
4. Metodologia
Trata-se de um estudo descritivo, de abordagem quase-experimental, pois houve a
intervenção na característica que foi investigada, sem alocação aleatória dos participantes.
Para Thomas e Nelson (1996), o propósito do pesquisador na realização de pesquisa
quase-experimental “é tentar preparar um delineamento para o ambiente mais próximo do
mundo real enquanto procura controlar, da melhor forma possível, alguns condicionantes que
afetam a validade interna”; conforme ocorreu nesse estudo.
De acordo com Polit e Beck (2011), um ponto forte dos quase experimentos é que são
práticos, tendem a ser mais aceitos por um grupo de pessoas, é mais amplo e há explicações
alternativas para os resultados observados, onde o estudo envolve uma intervenção.
O presente estudo foi realizado no município de Brodowski/SP, situado no interior do
Estado de São Paulo, onde utilizou-se a Câmara Municipal do referido município, como
espaço físico, para aplicação de todas as etapas da pesquisa, considerando um cenário criado
pelas pesquisadoras para atendimento ao usuário em parada cardiorrespiratória que fosse
encontrado na rua, pelos auxiliares de enfermagem.
A população estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), no
ano de 2010, foi de 21.107 habitantes. Enquanto unidades de saúde municipais incluem 01
Centro de Saúde III, 01 Núcleo de Reabilitação Fisioterápica, 01 Unidade Básica de Saúde e
uma Unidade Mista Hospitalar (SILVA, 2007).
Foram considerados como amostra do estudo 14 auxiliares de enfermagem que
desenvolvem atividades assistenciais nos períodos da manhã, tarde e noite, nas unidades
públicas de saúde, citadas anteriormente, do município de Brodowski/SP.
Os critérios de inclusão compreenderam concordância em participar do estudo, ter a
função de atendimento ao usuário, no caso de reconhecimento de PCR em adultos, e foram
excluídos 03 auxiliares de enfermagem que não puderam participar do estudo por estarem em
outros empregos e ainda com problemas pessoais.
Para a coleta de dados foi utilizado um instrumento de Bellan (2006), adaptado às
necessidades do presente estudo, o qual compreendeu duas partes: a primeira parte (parte A)
contém dados de identificação e caracterização dos auxiliares de enfermagem. A segunda
parte (B) aborda o conteúdo sobre a PCR. As perguntas foram dispostas em sequência lógica e
compatível com as diretrizes atuais do atendimento ao paciente portador de PCR. O
Instrumento I possui roteiro explicativo, referentes às questões.
Para a avaliação prática foi utilizado o instrumento II, desenvolvido pela mesma autora
supracitada, constituído de uma lista de checagem de condutas durante o atendimento do
paciente em PCR/RCR, desenvolvido para verificar, passo a passo, o desempenho prático dos
auxiliares de enfermagem participantes, composto pela sequência das manobras de detecção
da PCR e do SBV, também adaptado às necessidades do presente estudo. Cada passo foi
considerado adequado quando em conformidade com as condutas preconizadas pela AHA
(2010). O Instrumento II possui roteiro explicativo referente à avaliação das atividades
práticas das manobras de RCR.
As respostas obtidas após a aplicação do Instrumento I foram consideradas corretas,
quando todos os conteúdos mínimos foram descritos e/ou assinalados; parcialmente corretas,
quando um ou mais conteúdos mínimos não foram descritos e/ou assinalados; e incorreta,
quando nenhum dos conteúdos mínimos foi descrito e/ou assinalado.
Foi dado a cada questão o valor de um ponto. A soma total foi de dez pontos. Nas
questões com mais de uma alternativa correta, a pontuação foi dividida pelo número de
alternativas, excluindo-se as alternativas “não sei” e “outras respostas” para se obter o valor
de cada uma delas. A resposta da questão dissertativa número 5 está dividida em itens, e a
cada item foi atribuído à fração do valor em relação ao valor total da questão. Os valores das
questões foram descritos apenas no instrumento original e, portanto, não foram divulgados
para os participantes.
Para a avaliação prática também foi utilizada a sequência lógica do atendimento da
PCR, e foi assinalado um dos itens, da descrição: realizou a manobra corretamente, realizou a
manobra parcialmente, realizou a manobra incorretamente e não realizou a manobra -, para a
avaliação.
Foram consideradas corretas as manobras que tiveram todos os itens assinalados pela
pesquisadora; parcialmente corretas, quando assinalaram pelo menos uma alternativa
corretamente; incorretas, quando assinalaram itens sem correspondência com o assunto e não
realizadas quando não foi assinalada nenhuma alternativa.
As atividades práticas das manobras relacionadas ao SBV foram divididas em cinco
itens, sendo que cada alternativa vale um ponto, com exceção da alternativa de número cinco
que valia dois pontos. Para cada item foi atribuído um valor, dividido pelo número de
sub-itens para se obter o valor de cada sub-item assinalado. Com a soma dos valores dos
sub-itens obteve-se o valor total dos itens. A somatória dos valores de todos os itens resultou
no total de pontos.
A classificação do profissional foi dada de acordo com a porcentagem de acerto, sendo
classificado como capacitado o auxiliar de enfermagem que recebeu uma nota acima de 4 até
6; pouco capacitado, para aqueles que receberam notas acima de 2 até 4, e não capacitado para
os sujeitos que receberam a nota entre 0 e 1.
O programa de qualificação foi aplicado em três etapas denominadas:

Etapa I – Identificação das necessidades de aprendizagem dos auxiliares de
enfermagem em PCR/RCR por meio da aplicação do Instrumento I e da prática
com o manequim de reanimação cardiorrespiratória (Instrumento II);

Etapa II - Capacitação teórico-prática dos auxiliares de enfermagem;

Etapa III – Avaliação teórico-prática recente dos auxiliares de enfermagem
(Instrumento I e II).
a) Etapa I – foi destinada a aplicação do Instrumento I - de coleta de dados, que se
refere à identificação, caracterização dos participantes e conhecimento destes sobre a
PCR/RCR. Neste momento foi distribuído o impresso do Instrumento I para cada participante
e aguardado até trinta minutos para o seu preenchimento. Após o período, o mesmo foi
recolhido e codificado com números de 1 a 14, os quais caracterizaram cada participante do
estudo durante todas as etapas.
Após todos os participantes entregarem o instrumento foi pedido a eles que se
retirassem da sala, entrando um por vez, para a realização de RCR no manequim, elucidando
uma situação de PCR, e não oferecendo informações sobre a conduta do atendimento e as
diretrizes vigentes. O objetivo desta etapa foi identificar as necessidades de aprendizagem
dos sujeitos do estudo.
Para a simulação foi solicitado aos participantes que realizassem o atendimento de
um paciente que se encontrava caído na porta de entrada de sua unidade, sem oferecer
informações adicionais.
b) Etapa II - nesse momento foram realizados alguns questionamentos sobre a prática
vivenciada pelos participantes, exposição dos sentimentos quanto à situação de PCR,
discussão em grupo e fornecido conteúdo teórico, utilizando um projetor multimídia e aula
expositiva, envolvendo o atendimento ao paciente portador de PCR, de acordo com as
diretrizes atuais onde se concentra o SBV contemplando o reconhecimento imediato da PCR e
acionamento do serviço de emergência/urgência; chamada por ajuda; técnicas de Compressão
Torácica externa (CTE); técnicas de abertura de Vias Aéreas Superiores (VAS) e ventilação; e
técnica de desfibrilação.
A atividade teórica que envolveu a Etapa II foi dividida em três momentos. No
primeiro momento foi realizada uma introdução do assunto, para promover a sensibilização e
reflexão dos participantes para a importância do conhecimento dos auxiliares de enfermagem
em relação à PCR/RCR. No segundo momento foram discutidas as dificuldades vivenciadas
pelos participantes quando em situação de atendimento a uma PCR. E, por fim, o terceiro
momento onde foi realizado, com ajuda de recurso multimídia, a abordagem do conteúdo
teórico sobre o atendimento básico de RCR, preconizado pela AHA (2010).
c) Etapa III – os sujeitos realizaram atividades com o manequim de RCP sem
informações adicionais, no caso clínico também apresentado na Etapa I.
Quanto à atividade prática, esta foi dividida em dois momentos. O primeiro momento
foi destinado à demonstração das manobras de detecção da PCR (chamar o paciente, chamar
por ajuda, verificação dos movimentos respiratórios e do pulso) e manobras de ressuscitação
(compressão torácica, ventilação e desfibrilação).
O segundo momento foi destinado à realização de RCR pelos participantes.
O
objetivo desta etapa foi identificar os resultados da Etapa II.
As informações coletadas por meio dos instrumentos utilizados foram analisadas
separadamente e agrupadas em categorias: características sociodemográficas, avaliação do
conhecimento teórico, e avaliação prática na primeira e terceira, etapas.
Esses dados foram armazenados em uma planilha eletrônica do software Microsoft
Excel versão 2007 e, posteriormente realizadas análises estatísticas contemplando medidas de
tendência de ponto central (média) e de dispersão (desvio padrão). Também foi utilizada uma
função lógica da ferramenta com o objetivo de apresentar a nota do auxiliar de Enfermagem,
considerando a nota do teste. Os dados foram sintetizados em tabelas, possibilitando melhor
organização e sistematização das informações coletadas, bem como proporcionar clareza na
apresentação dos resultados.
Em atendimento à Resolução do Conselho Nacional de Saúde n. 466/12, respeitando
os princípios éticos, foi preservada a confidencialidade no estudo, e a pesquisa foi
desenvolvida após autorização do Prefeito e Secretário Municipal de Saúde do município de
Brodowski/SP, apreciação e autorização do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos
da Universidade de Ribeirão Preto, sob protocolo n. 42/2011, e foi dado aos participantes o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), que orientou sobre os objetivos da
pesquisa.
5. Resultados e discussão
Os dados foram analisados considerando a identificação e caracterização dos sujeitos
por meio da situação sociodemográfica e, no segundo momento, pelo conhecimento teórico
sobre PCR/RCR, além da avaliação prática das manobras de RCR, considerando o SBV
preconizado pela AHA (2010), antes e após capacitação.
5.1 Características Sociodemográficas
Quanto ao sexo, constatou-se predomínio do sexo feminino, com idades variando de
26 a 60 anos, a média de idade apresentada foi 45,6 anos e desvio padrão de 10,1 anos.
Os dados referentes ao predomínio do sexo feminino entre os trabalhadores de
enfermagem corroboram achados de Silva (2006) quando assinala que as mulheres constituem
maioria no exercício dessa profissão, porém, especialmente em função das exigências de
mercado tem sido percebido um aumento do sexo masculino na área.
Relativa à formação profissional, 14 (35%) participantes tinham tempo de formado,
em média, de 174 meses, ou seja, 14,5 anos. De acordo com nossa experiência, o tempo de
formação, dependendo do local onde o profissional atua, determina a busca por novos
conhecimentos para assistência mais eficaz ao paciente/usuário, além da exigência do
mercado de trabalho pertinente à atualização referente à área onde se exerce a atividade
laboral. Em contraponto, o maior tempo de formação, também pode levar à apatia e
desinteresse pelo novo.
Quanto à unidade de trabalho, 7 participantes (50%) trabalham no Centro de Saúde II,
4 (28%) na Unidade Mista Hospitalar e 3 participantes (21%) na Unidade Básica de Saúde,
indicando trabalharem, em média, 09 anos, 110,5 meses, em seus campos de atuação.
Ressaltamos que as unidades Centro de Saúde II e UBS possuem suas atividades
voltadas para a promoção de saúde e prevenção de doenças, locais onde geralmente não
vivenciam situações de atendimento às pessoas em PCR, dado este que representa 71% da
amostra.
Buscando resgatar os conhecimentos anteriores sobre o suporte básico de vida,
perguntamos aos sujeitos se já tinham participado de curso de Basic Life Support (BLS) e
Advanced Cardiological Life Support (ACLS), sendo mencionado que apenas 1 participante
(7%) da amostra afirmou ter tido essa experiência de fazer um curso de BLS.
A partir dessa experiência constata-se como é fundamental a constante atualização
desses profissionais, pois é necessário agilidade para atuar em situações emergenciais de
forma objetiva e sincronizada, como defende Assunção (2005), especialmente porque os
consensos da AHA, por exemplo, têm sido atualizados no atendimento à vítima em PCR, a
cada 5 anos.
Quanto à frequência de contato com a situação de PCR, 5 participantes (35%)
declararam que nunca tiveram contato, 5 participantes (35%) declararam que raramente e 4
participantes (28%) afirmaram que frequentemente têm a vivência.
Sendo assim, o atendimento às urgências e emergências requer um amplo
conhecimento teórico e prático dos profissionais, uma vez que a vítima se encontra em risco
de sofrer sequelas ou até mesmo de morte. Para tanto, o desenvolvimento desse trabalho
depende da capacitação do profissional durante o atendimento ou na remoção para uma
unidade de referência hospitalar, a fim de garantir a prevenção, promoção e recuperação da
saúde (GENTIL; RAMOS; WHITAKER, 2008).
5.2 Avaliação do Conhecimento Teórico
Quando perguntado sobre como detectar uma situação de PCR os 14 participantes
responderam algum tipo de conduta, sendo que 5 (35%) responderam C e D, corretamente.
Conforme Fonseca e Barth (2002), o diagnóstico clínico de PCR é confirmado quando estão
presentes a inconsciência, apneia e ausência de pulso em grandes artérias, sendo o sinal
clínico mais importante a ausência de pulso carotídeo. Esse último sinal constituiu-se resposta
correta em 56 % das respostas apontadas pelos sujeitos desse estudo.
Para levantarmos qual seria a conduta imediata após o diagnóstico de uma PCR a
expectativa de respostas dos sujeitos, de acordo com as diretrizes da AHA (2010), era chamar
por ajuda (b), pedir o desfibrilador (c), colocar a vítima em decúbito dorsal (d), realizar
manobras de compressão torácica externa (e), retificar VAS (f) e iniciar ventilação artificial
(g). Dos 14 participantes, todos responderam algum tipo de conduta, porém apenas 14%
sujeitos responderam de forma correta esta questão, evidenciando a dificuldade de iniciar o
atendimento correto à vítima de PCR.
Frente ao apresentado, compartilhamos afirmações de Caetano (2009) ao salientar que
o conhecimento das práticas e procedimentos básicos e avançados da assistência de
enfermagem é fundamental para a prestação do cuidado requerido por qualquer paciente na
vigência da PCR.
Na tentativa de avaliar os conhecimentos dos participantes quanto ao SBV foi
perguntado sobre no que consiste o SBV, e 2 (14%) não souberam responder, sendo que 12
responderam de forma incompleta, enfatizando claramente a dificuldade da amostra em
caracterizar o SBV, fato que compromete o atendimento sistematizado da vítima de PCR, pois
o conhecimento teórico e as habilidades práticas da equipe de Enfermagem sobre o SBV estão
entre os determinantes para a eficácia da assistência à PCR (FERREIRA, 2001).
Da mesma forma, perguntamos sobre as maneiras possíveis para ventilar o paciente
durante as manobras de RCR, e 11 (78%) não souberam responder e somente 3 sujeitos (21%)
responderam corretamente a questão.
Ao serem questionados sobre como e onde posicionar as mãos para realização da
compressão torácica externa, todos os 14 participantes responderam algum tipo de conduta
sendo que 12 (85%) responderam que Sim, porém, descreveram de maneira incorreta e 2
sujeitos (14%) responderam que Sim, descrevendo corretamente.
Perguntamos então, como deve ser a postura corporal para realizar a CTE, e somente 3
(21%) responderam corretamente.
De acordo com Miecznikowski e Leite (2001), a maneira correta de realizar a
massagem cardíaca externa é comprimir 1/3 do esterno com a região tênar e hipotênar das
mãos, que devem ser colocadas uma sobre a outra e com os dedos entrelaçados ou estendidos.
Os ombros devem permanecer paralelos aos cotovelos e mãos, mantendo sempre os braços
estendidos.
O novo protocolo instituído relacionando à CTE e a ventilação recomenda a sequência
de 30 compressões para 2 ventilações, visando minimizar os efeitos da hiperventilação e a
interrupção das compressões torácica (AHA, 2010).
Ao interrogarmos sobre a desfibrilação, referente à posição para a colocação dos
eletrodos, 4 (28%) não souberam responder, porém os demais participantes (71%)
responderam corretamente.
Nessa direção, perguntamos quanto se deve colocar de carga inicial e a carga máxima
para a desfibrilação, sendo que apenas 6 participantes (42%) e 7 participantes (50%)
responderam corretamente, respectivamente. A desfibrilação é a aplicação da corrente elétrica
ao miocárdio com o objetivo de reorganizar os impulsos elétricos liberados pelo nó sinoatrial.
Os níveis de energia são parâmetros que contribuem para o sucesso na desfibrilação sendo a
carga inicial de 200J e a carga máxima de 360J (GUIDELINES, 2010).
5.3 Análise do desempenho dos participantes pré e pós-capacitação
Ciente da necessidade do conhecimento prático aliado ao teórico foi oferecida uma
ação educativa após aferição do conhecimento prático dos indivíduos com relação às
manobras de RCR na primeira etapa da investigação e, assim, foi possível avaliar o
conhecimento prático antes e após a qualificação, ao aplicar nova avaliação após a ação
referida.
Esperava-se que os sujeitos assinalassem as alternativas as quais seriam classificadas
como correta, parcialmente correta, incorreta e não realizada, recebendo posteriormente uma
pontuação de acordo com a resposta.
Quanto à pontuação final na etapa I da atividade prática, 64% (9) dos participantes
foram classificados como “não capacitados”, pontuando de 0 até 1, ao desenvolver as
manobras de RCP alcançando pontuações entre 0 a 0,98. No estudo, 36% (5) dos participantes
foram classificados como “pouco capacitados”, ao pontuarem acima de 1 até 4, na mesma
atividade citada, alcançando pontuações de 1,01 a 3,81. Não houve participante classificado
como “capacitado” na execução das manobras de RCP, pois não pontuaram acima de 4 até 6,
na etapa I.
Já na fase III ocorreu melhora na pontuação final dos participantes, permitindo-nos
afirmar aumento das habilidades. Nessa etapa, não houve participante “não capacitado”, 7%
(1) dos participantes foram classificados como “pouco capacitado” e obteve a pontuação de
3,86, e 93% (13) dos sujeitos foram classificados como “capacitados” para a execução das
manobras de RCP, sendo que a pontuação encontrou-se entre 4,75 a 5,36, para cada um dos
13 participantes que alcançaram essa classificação.
Após apresentação desses dados constatamos aumento de 93% no número de
participantes classificados como “capacitados” na execução das manobras de RCP.
Ainda buscando ilustrar a diferença de desempenho das participantes do estudo nas
atividades práticas sobre SBV, nas etapas I e III (antes e após capacitação), no Gráfico 1.
GRÁFICO 1: Diferença de desempenho de auxiliares de enfermagem nas atividades práticas
sobre SBV, nas etapas I e III (antes e após capacitação). Brodowski/SP, 2012.
A aferição do conhecimento prático dos indivíduos com relação às manobras de RCR
antes e após a ação educativa tornou possível uma avaliação geral quanto ao entendimento da
temática, uma vez que a média de acertos aumentou significativamente após a capacitação dos
auxiliares de enfermagem, de acordo com o Gráfico 1.
A capacitação oferecida aos auxiliares de enfermagem proporcionou informações
teórico-práticas para que este atendimento seja realizado de forma segura e eficiente, uma vez
que foi baseada nas diretrizes da AHA (2010).
Desta forma, os auxiliares de enfermagem possuíam conhecimentos insuficientes sobre
SBV, mas puderam ouvir, discutir e refazer as manobras de SBV durante o treinamento
oferecido, migrando de conhecimentos incompletos ou incorretos, que poderiam comprometer
o socorro prestado, para conhecimentos satisfatórios e adequados a serem ofertados na
assistência ao usuário.
6. Conclusão
O sucesso do atendimento à vítima de PCR no ambiente extra-hospitalar está
intimamente ligado à atuação adequada e imediata dos auxiliares de enfermagem e, nessa
direção, o conhecimento prévio de uma situação de PCR pode colaborar, positiva e
significativamente, para um atendimento eficaz à vítima.
Verificou-se que é escasso o conhecimento dos auxiliares de enfermagem no que tange
ao seu currículo de formação sobre SBV, devendo o profissional procurar acumular
informações e experiência sobre o tema, por meios próprios ou ainda reivindicando cursos de
atualização em sua instituição empregadora. Assim, embora preconizado pelo Conselho
Regional de Enfermagem, o atendimento de urgência e emergência para a população, em
pauta nesse estudo, na prática, parece não ter sido totalmente incorporado pelas escolas de
formação de nível médio.
Assim, considera-se que os resultados obtidos neste estudo podem fornecer subsídios
para novas pesquisas, além de fomentar ações, discussões e reflexões que contribuam para a
transformação da realidade das instituições de saúde que têm como responsabilidade atender a
demanda de pacientes/usuários em situações críticas de vida.
Cientes das limitações dessa investigação sugerimos novas pesquisas e capacitações de
pessoas/cidadãos no município de Brodowski/SP, quanto ao SBV, visando contribuir para a
formação de outros grupos populacionais, como crianças e adolescentes, para realizar o
atendimento precoce em situação de emergência extra-hospitalar e possam salvar vidas e
prevenir sequelas em usuários.
7. Referências
AMERICAN HEART ASSOCIATION (AHA). Novas Diretrizes RCP 2010. National Safety
Council., out. 2010.
AMERICAN HEART ASSOCIATION (AHA). Aspectos mais Relevantes das Diretrizes da
American Heart
Association sobre Ressuscitação Cardiopulmonar e Atendimento
Cardiovascular de Emergência. Currents in Emergency Cardiovascular Care, Dallas (TX),
v. 16, n. 4, p. 27 dez/05 - fev/06, 2006.
ARAÚJO, S.; ARAÚJO, I. E. M.; CARIELI, M. C. M. Ressuscitação cardiorrespiratória –
Parte I (artigo de revisão). Rev. Brás. Clin. Terap, São Paulo, v. 27, n. 2, p. 80-88, 2001a.
ARAÚJO, S.; ARAÚJO, I. E. M.; CARIELI, M. C. M. Ressuscitação cardiorrespiratória –
Parte II (artigo de revisão) Rev. Brás. Clin. Terap, São Paulo, v. 27, n. 3, p. 125-135 2001b.
ASSUNÇÃO, R. C. Avaliação dos aspectos éticos e legais dos registros de enfermagem na
parada cardiorrespiratória em um hospital escola do Paraná, 2005. 112p. Dissertação
(Mestrado em Enfermagem Fundamental), Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2005.
BASSAN, R. Unidade de dor torácica:uma forma moderna de manejo de pacientes com dor
torácica na sala de emergência. Arq Bras Cardiol., São Paulo, p. 2-79; 196-202. 2002.
BELLAN, M. C. Capacitação do enfermeiro para o atendimento da parada
cardiorrespiratória. 2006. 220f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem Fundamental) Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2006.
CAETANO, T. S. G. A prática do suporte básico de vida realizada pelos profissionais de
saúde no município de Brodowski: reflexões dessa realidade. Monografia (Especialização
em Urgência, Emergência e Terapia Intensiva em Enfermagem). Universidade de Ribeirão
Preto – UNAERP. Ribeirão Preto, 2009.
DANE, F. C. et al. In hospital resuscitation: association between ACLS training and survival
to discharge. Resuscitation, v. 47, n 1, p. 83-87, 2000.
DATASUS. Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM. Ministério da Saúde. 2009.
Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sim/cnv/ obtuf.def. Acesso em: 22
jun 2014.
FEITOSA-FILHO, G. S. Reanimação Cardiopulmonar e Suporte Cardíaco Avançado de Vida,
In: MANSUR, A. P.; RAMIRES, J. A. F. Rotinas Ilustradas da Unidade Clínica de
Emergência do Instituto do Coração. São Paulo: Atheneu, p. 23-29, 2006.
FERREIRA, A. V. S.; GARCIA, E. Suporte Básico de vida. Rev Soc Cardiol Estado de São
Paulo, São Paulo, v. 11, n. 2, p. 214-225, 2001.
FILGUEIRAS FILHO, N. M. et al. Avaliação do conhecimento geral de médicos
emergencistas de hospitais de Salvador – Bahia sobre o atendimento de vítimas com parada
cardiorrespiratória. Arq. Bras. de Cardiol., São Paulo, v. 87, n. 5, nov. 2006.
FONSECA, J. M. L.; BARTH, J. H. D. Reanimação cardiorrespiratória em adulto. Revista
Técnico-Científica do Grupo Hospitalar Conceição, Porto Alegre, v.15, n.1., p 32, jan/jun
2002.
GENTIL, R. C.; RAMOS, L. H.; WHITAKER, I. Y. Capacitação de enfermeiros em
atendimento pré-hospitalar. Revista Latino Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v.
16, n. 2, p 54, mar-abr 2008.
GUIDELINES 2010 FOR CARDIOPULMONARY RESUSCITATION AND EMERGENCY
CARDIOVASCULAR CARE. International Consensus On Science. Circulation, Greenville
Avenue, Dallas (Texas), v. 112, 2010.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Resultados da
Amostra do Censo demográfico 2000 – Malha municipal digital do Brasil: situação em
2001. Rio de Janeiro: IBGE, 2004.
LEITÃO, É. A. et al. Atualização em ressuscitação cardiopulmonar. Revista Mineira de
Saúde Pública, Belo Horizonte, v. 5, n. 6, p. 4–12, jan./jun. 2005.
NATIONAL INSTITUTE FOR HEALTH AND CLINICAL EXCELLENCE (NICE). Statins for
the prevention of cardiovascular events. Technology Appraisal, v. 94, 2006. Disponível em:
www.nice.org.uk/TA094. Acesso em: 02 jul 2014.
MIECZNIKOWSKI, R.; LEITE, S. S. Reanimação cardiopulmonar. Revista Residência
Médica Medstudents, Rio de Janeiro, v. 1, n. 3, p 94, 2001.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAUDE – OMS. Doenças crônico–degenerativas e
obesidades: estratégia mundial sobre alimentação saudável, atividade física e saúde.
Organização mundial da saúde (OMS). Brasil, 2008.
ORGANIZAÇÃO PAN- AMERICANA DA SAÚDE. Indicadores básicos para a saúde no
Brasil: conceitos e aplicações / Rede Interagencial de Informação para a Saúde - Ripsa 2008;
2. ed. Brasília: Organização Pan- Americana da Saúde.
POLIT, F. D.; BECK, C. T. Fundamentos de Pesquisa em Enfermagem. Avaliação de
evidências para a prática da enfermagem. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.
SILVA, N. S. Egressos de Enfermagem: comentando expectativas de futuros enfermeiros.
Monografia (Graduação em Enfermagem).
Universidade de Ribeirão Preto- UNAERP.
Ribeirão Preto, 2006.
SILVA, S. S. Resgatando conflitos relativos à sexualidade dos clientes portadores de
coronariopatias. 2007. 151p. Tese (Doutorado em Enfermagem Psiquiátrica). Escola de
Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Universidade de São Paulo,
Ribeirão Preto, 2007.
SILVA, S. C. da; PADILHA, K. G. Parada cardiorrespiratória na unidade de terapia intensiva:
considerações teóricas sobre os fatores relacionados às ocorrências iatrogênicas. Revista
Escola Enfermagem USP, São Paulo, v. 35, n. 4, p. 361-365, 2001.
SMELTZER, S. C.; BARE, B. G. Brunner e Suddarth: tratado de enfermagem médico –
cirúrgica. 11. ed. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2009. V. 2.
TIMERMAN, A.; TIMERMAN, S. Projeto Emerge Brasil: Síndromes Coronárias Agudas.
Sociedade Brasileira de Cardiologia/FUNCOR 2001.
TIMERMAN, S. et al. Desfibrilação imediata: In: COUTO, R. C. et al. RATTON:
emergências médicas e terapia intensiva. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. cap. 15, p.
139–154, 2005.
THOMAS, J. R.; NELSON, J. K. Research methods in physical activity. 3. ed. Champaign :
Human Kinetics, 1996.
ZAGO, A. C. et al. Ressuscitação cardiorrespiratória: atualização, controvérsias e novos
avanços. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, São Paulo, v. 72, n. 3, p. 363-374, mar. 1999.
ZANINI, J.; NASCIMENTO, E. R. P.; BARRA, D. C. C. Parada e Reanimação
Cardiorrespiratória: Conhecimentos da Equipe de Enfermagem em Unidade de Terapia
Intensiva. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, São Paulo, v. 18, n. 2, p. 143-147,
abr./jun. 2006.
WERF, F. ARDISSINO, D. et al. Task Force on the Management of Acute Myocardial
Infarction of the European Society of Cardiology. 2003.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Cardiovascular diseases. 2009. Fact sheet n.
317. Disponível em: http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs317/en/index. html. Acesso
em: 08 ago 2014.
Download