ARTIGO DE REVISÃO Acompanhamento nutricional na prevenção de complicações perinatais em gestantes com diabetes mellitus Monitoring nutrition in preventing perinatal complications in pregnant women with diabetes mellitus Viviane Lamounier Penna Barbosa1 Lilian Barros de Sousa Moreira Reis1 1 Programa de Residência em Nutrição Clínica, Hospital Regional da Asa Norte, Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal, Brasília – DF, Brasil. Correspondência Lilian Barros de Sousa Moreira Reis SQS 303, bloco A, apartamento 505, Asa Sul, Brasília – DF. 70336-010, Brasil. [email protected] Recebido em 02/julho/2012 Aprovado em 09/agosto/2012 RESUMO Introdução: O Diabetes Mellitus Gestacional (DMG) é o termo utilizado para definir o início ou o primeiro reconhecimento de intolerância à glicose durante a gestação. O estado nutricional antes e durante a gestação está relacionado com o surgimento dessa complicação na gravidez. O acompanhamento nutricional favorece a diminuição de riscos durante e após a gestação, tanto para a mãe como para a criança. Objetivo: verificar na literatura o acompanhamento nutricional na prevenção de complicações perinatais em gestações agravadas pelo DMG. Método: revisão de literatura das bases de dados Scielo, Netmed, Pubmed, Cochrane, Google Scholar, nos anos de 2000 a 2012. Foram incluídos artigos referentes ao diabetes mellitus gestacional e o acompanhamento nutricional neste período. Foram excluídos os artigos que não tratavam do assunto proposto ou publicados em anos anteriores ao de 2000. Os idiomas foram inglês, espanhol e português. Foram incluídos dados de manuais de comitês de saúde nacionais e internacionais. Resultados e discussão: estudos verificaram que o índice de massa corporal e o peso pré-gestacional elevados foram comuns em gestantes que apresentaram DMG, podendo desenvolver riscos perinatais. O acompanhamento nutricional foi eficaz no controle do ganho de peso gestacional e na redução de riscos e intercorrências clínicas. Conclusão: o acompanhamento nutricional é fundamental na gravidez complicada pelo DMG, onde, por meio de uma alimentação adequada, é possível influenciar positivamente o controle glicêmico, o controle de peso e evitar maiores riscos para a mãe e para a criança durante e após a gestação. Palavras-chave: Diabetes gestacional; Nutrição; Dieta. Com. Ciências Saúde. 2012; 23(1):1-102 73 Barbosa VLP, Reis LBSM ABSTRACT Introduction: Gestational Diabetes Mellitus (GDM) is the term used to define the beginning or first recognition of glucose intolerance during pregnancy. The nutritional status before and during pregnancy is associated with the emergence of this complication in pregnancy. The monitoring nutrition helps to reduce risks during and after pregnancy for both, mother and child. Objective: to verify in literature the monitoring nutrition in preventing perinatal complications in pregnancies aggravated by DMG. Method: literature review of databases Scielo NetMed, Pubmed, Cochrane, Google Scholar, in the years 2000 to 2012. Were included articles relating to gestational diabetes mellitus and monitoring nutrition in this period. Were excluded articles that did not treat the matter proposed or published in years prior to 2000. The languages were English, Spanish and Portuguese. Were included manuals committees of national and international health. Results and discussion: studies found that the high body mass index and the high weight pre-pregnancy were common in pregnant women with GDM. It may develop perinatal risks. The monitoring nutrition was effective in controlling gestational weight gain and reduction of risk and clinical complications. Conclusion: nutritional evaluation is essential in pregnancy complicated by GDM, where, through proper nutrition, it is possible influence the glycemic control, weight control and avoid further risks to mother and child during and after pregnancy. Keywords: Gestational diabetes; Nutrition; Diet. INTRODUÇÃO A nutrição adequada é importante em todas as fases da vida, sobretudo na gestação, onde, para suprir as carências fetais, é necessário que o metabolismo materno sofra algumas mudanças. As necessidades nutricionais se modificam conforme ocorrem as alterações fisiológicas, como: expansão do volume sanguíneo, distúrbios gastrintestinais, variação da função renal e alterações bioquímicas (proteínas totais, lipídeos plasmáticos, ferro sérico, dentre outros)1. Há, também, a adaptação de hormônios placentários anti-insulínicos (progesterona, cortisol, prolactina e lactogênio placentário) que atuam diminuindo a sensibilidade à insulina nas células, órgãos e tecidos, ou antagonizando a ação da insulina para garantir um aporte adequado de glicose para o feto2,3. 74 Com. Ciências Saúde. 2012; 23(1):73-80 Algumas mulheres iniciam a gravidez já com fatores de risco para o desenvolvimento da resistência à insulina, como: sobrepeso, obesidade, síndrome do ovário policístico, dentre outros. Surge, então, a necessidade fisiológica de produzir mais insulina, e a incapacidade do pâncreas de responder a essa resistência favorece um quadro de hiperglicemia materna2. A hiperglicemia materna pode causar a hiperglicemia fetal e, portanto, aumentar a produção de insulina, o que favorece o crescimento exagerado do feto. Isso pode se relacionar com a ocorrência de desproporções entre ombro e tórax, e consequentemente tocotraumatismo; hipóxia periparto e distúrbios metabólicos e eletrolíticos do neonato como a hipoglicemia e a hipocalemia4. Acompanhamento nutricional em gestantes com diabetes mellitus O Diabetes Mellitus Gestacional (DMG) é conceituado como qualquer grau de intolerância à glicose com início ou reconhecido pela primeira vez na gestação, podendo persistir ou não após o parto. Atua de forma similar ao Diabetes Mellitus Tipo 2 (DM2), associando-se tanto à resistência à insulina como à diminuição das funções das células beta pancreáticas. Podem ser incluídas pacientes com características clínicas de Diabetes Mellitus Tipo 1 (DM1) ou DM2 como, também os casos de intolerância à glicose5. É considerada uma das complicações metabólicas mais intercorrentes na gravidez, com incidência entre 3% e 13% nas gestações. No Brasil, sua prevalência em mulheres acima de 20 anos, atendidas em serviços de pré-natal do Sistema Único de Saúde (SUS) no ano de 2000, foi de 7,6%, sendo que 94% dessas apresentaram diminuição na tolerância à glicose e 6% apresentaram hiperglicemia semelhante ao nível de diabetes fora da gravidez4,6,7. Em um Centro de Saúde do Distrito Federal a prevalência de mulheres com DMG foi de 6,6% em um período de 8 meses de atendimento em 20088. O reconhecimento dos fatores de risco compõe o diagnóstico para o DMG. Podem ser citados: idade materna acima de 35 anos; obesidade prévia ou ganho de peso excessivo na gestação atual; deposição de gordura corporal central excessiva; histórico familiar de diabetes (parentes de primeiro grau); baixa estatura (<1,51m); crescimento fetal excessivo, polidrâmnio, hipertensão ou pré-eclâmpsia na gravidez atual; antecedentes obstétricos de abortamento de repetições, morte fetal ou neonatal, de malformações, de macrossomia ou diabetes gestacional; síndrome de ovário policístico9. Existe uma relação entre o estado nutricional antes e durante a gestação com a ocorrência de complicações perinatais10. As ferramentas de avaliação nutricional devem ser usadas no intuito de traçar a melhor forma de intervenção nutricional. A importância do tratamento nutricional no controle glicêmico e no ganho de peso adequado em pacientes com DMG é consenso na literatura, sendo fundamental para a promoção da qualidade e estilo de vida saudáveis7. O objetivo desta revisão é verificar na literatura o acompanhamento nutricional na prevenção de complicações perinatais em gestações agravadas pelo DMG. MÉTODO Trata-se de uma revisão de literatura das bases de dados Scielo, Netmed, Pubmed, Cochrane, Google Scholar, nos anos de 2000 a 2012. Foram incluídos artigos referentes ao diabetes mellitus gestacional e ao acompanhamento nutricional neste período. Foram excluídos os artigos que não tratavam do assunto proposto ou publicados em anos anteriores ao de 2000. Os idiomas pesquisados foram inglês, espanhol e português. Foram incluídos dados de manuais de comitês de saúde nacionais e internacionais. Os descritores: Diabetes gestacional, acompanhamento nutricional, dieta. RESULTADOS E DISCUSSÃO O estado nutricional materno antes e durante a gestação é fundamental para garantir um resultado obstétrico satisfatório. Para essa avaliação é recomendado que se utilizem indicadores antropométricos. São métodos de fácil aplicabilidade, de baixo custo e possuem caráter pouco invasivo11. Dentre eles se incluem o acompanhamento e o monitoramento do ganho de peso gestacional, bem como as orientações nutricionais do início até o final da gestação e da amamentação7. A antropometria realizada por meio do Índice de Massa Corporal (IMC) pré-gestacional permite classificar o estado nutricional inicial da gestante e determinar o ganho de peso adequado. É o resultado do peso em quilogramas dividido pelo quadrado da altura em metros do paciente. É uma forma muito útil de avaliação e segue a classificação da Organização Mundial de Saúde (OMS)12 conforme a tabela 1: Tabela 1 IMC (Índice de Massa Corporal) - OMS, 2004. IMC (Kg/m²) Classificação < 18,5 Baixo peso 18,5 – 24,99 Eutrofia 25 – 29,99 Sobrepeso >30 Obesidade Com. Ciências Saúde. 2012; 23(1):73-80 75 Barbosa VLP, Reis LBSM O ganho de peso durante a gestação reflete no crescimento e no desenvolvimento fetal, bem como na formação de líquido amniótico, no aumento do volume sanguíneo e na expansão dos tecidos maternos, como: placenta, útero, mamas e tecido adiposo. O excesso nesse ganho de peso pode representar elevação na ocorrência de partos operatórios, riscos de resultados perinatais desfavoráveis, prevalência de macrossomia fetal, desproporção céfalo-pélvica, trauma, asfixia e morte perinatal7. Um estudo que acompanhou a evolução do DMG em Minas Gerais verificou a prevalência de obesidade (35%) e sobrepeso (34%) em mulheres utilizando a análise do IMC pré-gestacional, totalizando 69% de gestantes com peso excessivo. Ao término da gestação, apenas 7% permaneceram em estado de eutrofia, e as outras pacientes migraram para sobrepeso (27%) e obesidade (65%)13. Resultados semelhantes foram encontrados no estudo de Reis et al., onde se avaliou o estado nutricional de gestantes com DMG. Verificou-se que 67,7% apresentavam sobrepeso ou obesidade pré-gestacional na primeira consulta e permaneciam com o IMC≥25 kg/m2 nas outras entrevistas feitas com as gestantes. Apenas 32,3% estavam com peso adequado no período pré-gestacional3. Outro estudo verificou fatores de risco para o acometimento de DMG, e foi encontrada uma tendência maior naquelas em que foram demonstrados sobrepeso e obesidade em relação ao IMC, sendo que, as mulheres obesas apresentaram risco duas vezes e meia maior para o acometimento de DMG14. Um estudo caso-controle de Kerche et al. confirmou a associação positiva entre o ganho de peso gestacional acima de 16 quilogramas e o IMC pré-gestacional acima de 25 Kg/m² ao analisar fatores de risco para a macrossomia fetal em gestações de mães com DMG e hiperglicemia diária15. A macrossomia fetal é uma das complicações mais comuns em gestações de mães com DMG. Caracteriza-se pelo peso do recém-nascido superior a 4.000g16. Esse peso elevado pode desenvolver aumento do risco de lacerações perineais, por vezes sendo necessária a realização de parto cesáreo, além de hemorragia intracraniana, hipoglicemia neonatal, icterícia, desconforto respiratório e distócia de ombro, que tem risco duas vezes maior de acontecer em partos vaginais e aumenta a chance 76 Com. Ciências Saúde. 2012; 23(1):73-80 de morte intrauterina nas últimas quatro semanas de gestação4,16. Complicações em longo prazo podem ser observadas. Alterações intrauterinas prematuras referentes ao metabolismo dos carboidratos podem gerar um distúrbio metabólico no adulto; e na infância, acarretar resistência à insulina, dislipidemia, hipertensão arterial sistêmica, DM2 e obesidade, que atualmente é considerada como um problema de saúde pública15,16. Um estudo de Buzinaro et al. acompanhou e comparou a gestação de mães normais (G1), mães que tiveram distúrbios glicêmicos diários (G2) e mães caracterizadas com DMG (G3) e, posteriormente, analisaram o desenvolvimento de seus respectivos filhos no período neonatal, infância e adolescência. Os filhos G3 apresentaram ao nascer peso mais elevado do que dos outros dois grupos, que obtiveram pesos semelhantes. Na infância e adolescência, o IMC dos filhos das mães G2 e G3 apresentaram IMC mais elevado, sendo que o sobrepeso em G2 foi de 34,4% e em G3 foi de 52,3%. A obesidade foi observada apenas em G3 com 4,3%17. Apesar de o ganho de peso durante a gestação ser um assunto ainda controverso, o Institute of Medicine (IOM)18 recomenda um ganho de peso semanal no segundo e terceiro trimestres de acordo com a classificação do IMC pré-gestacional, segundo demonstra a tabela 2: Tabela 2 Ganho de peso gestacional - IOM, 2009. Classificação Ganho de peso semanal no segundo e terceiro trimestre Baixo peso 510g Eutrofia 420g Sobrepeso 280g Obesidade 220g Os objetivos a serem alcançados com o acompanhamento nutricional para uma gestante com DMG são: favorecer o controle da glicemia, baseada na adequação de calorias e nutrientes que supram as necessidades nutricionais diárias; controlar do ganho de peso ponderal; atingir um controle metabólico adequado; prevenir o desenvolvimento do DM2 após a gestação6. Acompanhamento nutricional em gestantes com diabetes mellitus Um estudo caso-controle feito para avaliar o impacto da orientação dietética sobre o ganho de peso gestacional apresentou resultados favoráveis, onde foi observado menor ganho de peso semanal entre as gestantes com excesso de peso analisadas do grupo intervenção (p=0,001). Essas mesmas gestantes apresentaram menor prevalência e menor risco de intercorrências clínicas em relação ao grupo controle10. Outro estudo randomizado controlado averiguou se era possível restringir o ganho de peso gestacional em mulheres obesas com dez horas de consultas nutricionais. A ingestão dietética foi avaliada pelo registro alimentar. As gestantes do grupo intervenção limitaram com sucesso o seu consumo energético e restringiram seu ganho de peso para 6,600 Kg, ao contrário do grupo controle que obteve um ganho de peso de 13 Kg. Concluíram, assim, que era possível e viável reduzir o ganho de peso gestacional em mulheres obesas19. Um ensaio clínico randomizado de Crowther et al., com o objetivo de determinar se houve redução do risco de complicações perinatais em mulheres submetidas ao tratamento da DMG, verificou que no grupo intervenção houve redução de riscos graves e complicações perinatais em relação ao outro grupo. Eles sofreram a intervenção do aconselhamento dietético, monitoramento da glicose sanguínea e, quando necessário, foi utilizado o uso de insulina20. Uma revisão de ensaios clínicos randomizados que comparavam estratégias alternativas para o tratamento do DMG concluiu que com o aconselhamento dietético e o uso de insulinoterapia foi possível diminuir os riscos de morbidade materna e perinatal21. Em uma revisão sistemática da literatura foi comparado o tratamento dietético em conjunto com o tratamento de insulinoterapia com o tratamento dietético apenas em gestantes com DMG. Foi concluído que o tratamento dietético em conjunto com a insulinoterapia foi eficaz para diminuição da incidência de macrossomia22. O acompanhamento nutricional também deve estar focado na qualidade alimentar em função das orientações nutricionais ministradas às gestantes10. Para tal, os inquéritos alimentares são os instrumentos mais bem empregados, onde se é possível detectar problemas nutricionais pré-existentes e prejudiciais à gravidez, que podem ser corrigi- dos ao longo de um acompanhamento nutricional durante a gestação1. Eles avaliam a quantidade e a qualidade da alimentação descrevendo o padrão alimentar da população estudada3. Os métodos utilizados para intervenção nutricional devem ser analisados e elaborados considerando os padrões culturais, regionais e socioeconômicos de uma população10. O recordatório 24 horas (R24h) é um método onde, por meio de uma entrevista, se obtêm informações quantitativas sobre o consumo de bebidas e alimentos nas 24 horas do dia anterior. O registro alimentar (RA) consiste na anotação, feita pelo indivíduo, dos alimentos consumidos, porções, receitas e preparações ao longo de um dia, uma semana ou por um período maior, o que caracteriza seu consumo atual. O questionário de frequência do consumo alimentar (QFCA) consiste em uma lista de alimentos comumente consumidos ou que refletem no padrão alimentar da população estudada. O Índice de Qualidade da Dieta (IQD) avalia e pontua o consumo alimentar, classificando-se em três categorias: dieta inadequada (≥41 pontos), dieta que necessita de modificação (>41 e ≤64 pontos) e dieta saudável (>65 pontos). Por último, a história alimentar (HA) onde se obtém o consumo alimentar habitual ao longo de um dia, uma semana ou um período maior1. O estudo de Reis et al. citado anteriormente avaliou a qualidade alimentar das gestantes portadoras de DMG utilizando o IQD, o R24h e o QFA. Verificou-se uma inadequação no padrão alimentar em 70% das gestantes pelo QFA e pelo R24h e pelo IQD houve inadequação ou necessidade de adequação da dieta em 50%. As inadequações dietéticas apresentadas pelo IQD referem-se à baixa ingestão de vegetais, legumes, leite e derivados, onde 27% consumiram o mínimo recomendado. Entretanto, houve ingestão adequada para carnes, gorduras e sódio na maioria delas, e 50% atingiu o mínimo recomendado de frutas3. Um estudo de Bertin et al., analisando o uso dos inquéritos alimentares em gestantes, verificou que o mais utilizado foi o R24h. Isso se justifica por sua praticidade de aplicação. Entretanto, é importante salientar que as informações fornecidas nem sempre são precisas, principalmente em indivíduos que receberam informações sobre alimentação adequada ou em casos de alterações fisiológicas e psicológicas, como é o caso de gestantes, pois podem influenciar o resultado da análise1. Com. Ciências Saúde. 2012; 23(1):73-80 77 Barbosa VLP, Reis LBSM A dieta da gestante com diabetes gestacional deve priorizar um equilíbrio entre os macronutrientes. Isto pouco se difere de uma dieta para as demais gestantes. Apesar de, na literatura, a recomendação de energia ser contraditória, é consenso que restrições severas de energia não são aconselhadas por promoverem a cetonúria. Deve-se promover o ganho de peso adequado na gestação entretanto, alguns autores defendem que a restrição de 30% das necessidades estimadas, oferecendo em média 25 kcal/Kg em gestantes obesas (IMC>30 kg/m²), mantém a euglicemia, sem elevação plasmática de ácidos graxos livres ou cetonúria23-25. A American Dietetic Association (ADA) recomenda para as gestantes com DMG que os carboidratos devam perfazer um total de 45-65% do Valor Energético Total (VET), as proteínas 15-20% (com um adicional diário de 10g ou 1,1g/Kg de peso pré-gestacional/dia, com a ingestão total recomendada de 71g/dia) e os lipídeos de 20-35%. Os carboidratos não devem possuir um quantitativo inferior a 130g/dia, para garantir melhor controle glicêmico e não trazer efeitos deletérios à gestante. Devem ser priorizados os carboidratos provenientes de alimentos integrais, frutas, vegetais e produtos lácteos com menor teor de gordura. As proteínas de alto valor biológico também devem ser priorizadas, sendo que a Ingestão Dietética de Referência (IDR) considera como ingestão aceitável um total de 10 a 20% do VET. A ingestão de lipídeos recomendada deve ser inferior a 7% do total de lipídeos na forma de gordura saturada e a ingestão de colesterol deve ser inferior a 200mg/ dia. O consumo de vitaminas, minerais e fibras é semelhante ao recomendado às gestantes não diabéticas23,24,26. Não existem estudos conclusivos sobre a utilização de edulcorantes acerca da sua segurança na gestação. Recomenda-se o uso moderado de alguns edulcorantes utilizados pela população em geral: acesulfame K, aspartame, neotame, sacarina e sucralose. Devem ser evitados alimentos diet e adoçantes a base de frutose, sorbitol, stévia e ciclamato9,23. 78 Com. Ciências Saúde. 2012; 23(1):73-80 O plano alimentar deve ter um fracionamento regular de 5-6 refeições/dia, com volume reduzido, seguindo intervalos regulares e um horário rígido. A adesão ao plano alimentar é fundamental para o bom controle da glicemia e, junto a ele, devem ser incorporadas mudanças no estilo de vida, mesmo ao término da gestação23. O Manual Técnico do Ministério da Saúde sobre o Pré-Natal e Puerpério Atenção Qualificada e Humanizada ressalta que o melhor controle do diabetes durante a gestação proporciona resultados maternos e perinatais favoráveis. Com ações educativas, a nutrição atua na promoção da saúde com enfoque na prevenção de doenças crônicas relacionadas à alimentação27. CONCLUSÃO As limitações desse estudo foram os poucos trabalhos de intervenção nutricional no acompanhamento do diabetes mellitus gestacional e a diferença metodológica entre estudos que não foram bem delimitados. Mais estudos são necessários para que sejam traçadas melhores alternativas de intervenção nutricional. As ferramentas de avaliação nutricional e dietética são úteis para o acompanhamento da gestante com o DMG e as orientações nutricionais devem estar embasadas na qualidade alimentar, respeitando as necessidades nutricionais individuais. O acompanhamento nutricional é fundamental para a gravidez complicada pelo Diabetes Mellitus Gestacional e é eficaz para prevenir complicações perinatais. Por meio de uma alimentação adequada é possível evitar maiores riscos para a mãe e para o neonato. É necessário influenciar positivamente a gestante sobre o controle glicêmico, o controle de peso, a qualidade da alimentação e a incorporação de hábitos de vida saudáveis. Acompanhamento nutricional em gestantes com diabetes mellitus REFERÊNCIAS 1. Bertin RL, Parisenti J, Di Pietro PF, Vasconcelos FAG. Métodos de avaliação do consumo alimentar de gestantes: uma revisão. Rev. Bras. Saúde Matern. Infant.. Recife, 2006, 6(4), 383-390. 2. Bolognani CV, Sousa SS, Calderon IMP. 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