espírito empreendedor - Universidade de Coimbra

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Licenciatura em Engenharia Informática
GESTÃO DE EMPRESAS
ESPÍRITO EMPREENDEDOR
por Sérgio Fernando Gomes Pinheiro
Sumário. Apresentam-se, de forma sintética, o conceito de espírito empreendedor em Portugal, o estado da nação no
que respeita a empreendorismo, entraves e medidas para fazer frente a esses entraves.
Palavras chave. Espírito empreendedor, empreendorismo em Portugal.
1. Introdução
“É preciso mudar de atitude, ser empreendedor é não
ter receio de arriscar”
Actualmente o conceito de empreendedor, prende-se à
ideia de iniciativa empresarial, deixando de fora a
ideia de que não é necessário ser empresário para se
ser empreendedor. A restrição do conceito nada favorece o País. Primeiro porque não ajuda a fomentar a
ideia do profissional empreendedor, que se impõe
metas e objectivos diários, que busca o rigor e a qualidade do seu desempenho. Depois, porque em matéria de iniciativa empresarial Portugal permanece longe da média europeia e ainda mais longe dos níveis de
empreendorismo registados nos Estados Unidos da
América do Norte. Desta forma torna-se necessário
esclarecer este conceito de empreendedor e tudo o
que está por detrás dele.
2. O Espírito Empreendedor e os entraves
Os Portugueses foram considerados pelo “Flash
Enterpreneurship Eurobarometer” como o povo da
União Europeia com maior tendência para empreender. Temos ideias, projectos de dimensão nacional e
internacionais dignos de registo, mas quando surge o
momento de dar o passo em frente jogamos num
campeonato totalmente diferente dos outros países.
A falta de apoio financeiro é um dos entraves apontados, mas para o presidente da Associação Nacional de
Jovens Empresários (ANJE), Armindo Monteiro, o
problema é mais abrangente do que isso e não afecta
só Portugal. Além da necessidade urgente de uma
mudança de mentalidade em relação à iniciativa
empresarial, o país necessita urgentemente de redefinir estratégias e criar incentivos reais de apoio à iniciativa empresarial.
Portugal já reconheceu que, repleto de medidas avulsas e sem grandes impactos práticos, com um ensino
sem vocação empreendedora, com um sistema financeiro que limita a iniciativa empresarial, sem uma
força de capital de risco e de “business angels” que
se vocacionem para o apoio à criação de empresas,
poderá perder a vantagem da iniciativa.
O governo irá iniciar em Janeiro no próximo ano, o
Ano Português do Empreendorismo, após este ter sido
desafiado a tal, por parte da ANJE. Em simultaneamente a União Europeia, estuda a hipótese de dedicar
também um ano à unificação das políticas e estraté-
gias de fomento à iniciativa empresarial nos países
membros.
Por cá a meta é, para já, uma: elevar ao máximo o
conceito de empreendorismo e expandi-lo não só à
criação de novas empresas como também ao quotidiano profissional dos Portugueses. A grande ambição
é acabar com a aversão ao risco que limita a iniciativa, dar aos empreendedores portugueses ferramentas
necessárias para empreenderem e mostrarem que o
fracasso também é pedagógico, mais que não seja
pelo percurso que impõe.
3. O estado da nação
De forma a fomentar a internacionalização e inovação
nas marcas portuguesas a ANJE, estabelece metas tasi
como: minimizar a carga burocrática e promover
incentivos de apoio à criação de empresas.
Actualmente, em matéria de iniciativa, temos mais
um empreendorismo de necessidade do que um
empreendorismo de opção. A iniciativa empresarial
surge muitas vezes para resolver um problema de
falta de emprego. Este empreendorismo, fruto de uma
necessidade, não deixa de ser louvável, mas é mais
limitativo, pois resume-se muitas vezes à criação de
um ou dois postos de trabalho. Paralelamente a esta
tendência, existe também o empreendorismo por
opção. A pessoa até está bem empregada, tem um
bom salário, mas quer ir mais longe e cria o seu projecto empresarial, aceitando desafios quotidianos
constantes.
O facto de se ficar desempregado e ter direito a subsídio de desemprego não pode significar que não se
pense em alternativas ou se volte costas à própria
iniciativa, tal facto torna Portugal excessivamente
proteccionista.
As diferenças de enquadramento do empreendorismo
de uns países para os outros, devem-se sobretudo à
macroeconomia, a política fiscal/tributária, as obrigações legais, o prazo para criação de empresas e, inevitavelmente, o sistema financeiro. Sem um sistema
financeiro adequado não há empreendorismo que
resulte. O problema do nosso sistema financeiro é
que, nesta fase de contenção, ainda consegue ter uma
malha mais apertada que noutras alturas. A métrica de
avaliação de banca é estritamente comercial, e, por
melhor que seja a ideia, a dedicação e a capacidade de
trabalho do empreendedor, se este não tiver garantias
reais( casa, carro, etc..) para apresentar, nada feito.
Departamento de Engenharia Informática, Universidade de Coimbra
2003/2004
Licenciatura em Engenharia Informática
Em Portugal não há instrumentos de apoio à fase
inicial de criação da empresa, a denominada “seed.”
O capital de risco que temos não se direcciona para
esta fase do negócio, mas sim para a fase de expansão. O que precisamos em Portugal é de capital
semente ou “business angels”. Na fase inicial das
empresas o capital de risco não investe porque não há
garantias.
Apesar de sermos cidadãos europeus, o nosso quadro
de orientação continua a ser um rectângulo na ponta
de Europa que se chama Portugal. Dizemos que
vamos para o estrangeiro quando apenas vamos a
Espanha, e por muito que apregoemos a ideia do
mercado comum ainda continuamos a ter fronteiras
mentais difíceis de transpor.
4. Iniciativas para o próximo ano
Alargar a abrangência do nosso público-alvo e levar o
empreendorismo às escolas do 1º ciclo do ensino
básico. A ideia é que desde essa altura a carreira
empresarial se apresente como uma opção. A vocação
empresarial não tem de ser feita depois do ensino
superior. Para além disto, irá ser criado um concurso
de planos de negócio e um sistema de incentivos
destinado a apoiar os potenciais empresários na criação do seu plano de empresa. Vai-se também alargar
a abrangência dos projectos da ANJE à Administração pública.
Um país moderno irá pela inovação, pelo design e
pela nova cultura de imagem, de sofisticação, de
qualidade. A meta é através das marcas portuguesas
agregar valor à marca Portugal, seja qual for o sector.
Quanto às apostas nas tecnologias de informação,
durante algum tempo viveu-se um deslumbramento
pela tecnologia. Cometeram-se excessos e só agora o
mercado filtrou os bons projectos. É um bom momento para apostar nas tecnologias pois o mercado já
crivou as empresas sustentáveis.
5. Sete passos para materializar uma ideia:
Da ideia à concretização de um negócio vai um longo
caminho, regra geral cheio de barreiras. Muitos
empreendedores desistem e ficam pelo caminho nesta
fase. Assim, sugerem-se sete passo a seguir, para por
em prática uma ideia de negócio:
1. A ideia e sua adequação - Avaliar as potencialidades da sua ideia no mercado onde quer desenvolvê-la ( o mercado necessita do seu produto?, o
produto é inovador? Já tem concorrentes? Se já
tem concorrentes, quem é o público alvo? Qual o
potencial de expansão do negócio?
2. Elaboração de um plano de gestão - Nesta fase
deverá ser capaz de definir o seu segmento de
mercado alvo e os obstáculos que podem surgirlhe no caminho. É agora que define toda a estrutura de negócio em vários domínios:
GESTÃO DE EMPRESAS
Estratégia de marketing; avaliação das necessidades
de pessoal; equipamento; instalações; recurso a serviços de apoio; financiamento.
3. Legislação e Fiscalidade -É importante que seja
feito um levantamento exaustivo de toda a regulamentação geral ou específica aplicável ao sector
onde tenciona operar.
4. Orçamento - Com base na análise dos investimentos financeiros e do mercado que já efectuou, está
na fase em que irá preparar as suas contas provisionais. As projecções financeiras a três ou quatro
anos permitir-lhe-ão verificar as condições em que
o seu negócio pode ser validado, ao mesmo tempo
que serão úteis para aferir a necessidade de efectuar
ajustes necessários ao projecto.
5. Plano de Negócios -Permite analisar a viabilidade
de um projecto empresarial. É o momento em que
sistematiza, planeia e reflecte sobre todas as ideias
que teve. O plano de ser o resumo escrito e sistematizado de todas as etapas anteriores.
6. Financiamento - O financiamento pode surgir de
três fontes: capital próprio, crédito bancário ou
através da entrada de investidores no capital da
empresa. Deverá avaliar bem as vantagens e desvantagens de cada uma destas opções e escolher a
que mais de adequa à sua situação.
7. Entrada no Mercado - Acautele situações inesperadas, mantenha-se atento à mudança e saiba adequar o seu negócio à evolução do tempo e demandas do mercado. Jamais descuide a qualidade dos
seus produtos ou serviços e lembre-se de que em
cada canto existem oportunidades de negócio a
explorar.
3. Conclusões
Para alcançar um real incentivo de empreendorismo,
devemos acabar coma ideia de que se é empresário
para toda a vida. Temos de estar mentalizados de que
iremos ter vários empregos e é absurdo continuar a
pensar que uma vez empresário, sempre empresário.
A sociedade não admite um “downgrade” e dá como
certo que o empresário atingiu um estatuto que não
lhe permite voltar a trabalhar por conta de outrem.
Isto é penalizador para a capacidade de iniciativa.
Em um determinado momento da vida posso ter apetência para correr riscos e noutra fase procurar mais
estabilidade. É extremamente complicado para um
jovem de 25 anos que vai iniciar a sua empresa sentir
o peso de ter de ser empresário para toda a vida, de
não poder mudar ou fracassar. A sociedade penaliza
os casos de insucesso.
Há que veicular a ideia de que ser empresário é ter
dois caminhos: o sucesso e o insucesso. Ambos têm a
mesma dimensão e o mesmo peso.
O objectivo é que a atitude de empreendedor seja
partilhada por todos, os que estão na função pública,
os que são empresários, os que trabalham por conta
Departamento de Engenharia Informática, Universidade de Coimbra
2003/2004
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GESTÃO DE EMPRESAS
de outrem. Aqui cabem todos os que querem construir
um país mais dinâmico, empreendedor e motivado,
mais inconformista.
Referências
1.
Revista mensal - Executive Digest (2004, nº
115, edição de Maio)
Departamento de Engenharia Informática, Universidade de Coimbra
2003/2004
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