ID: 64054027 18-04-2016 Tiragem: 12801 Pág: 16 País: Portugal Cores: Preto e Branco Period.: Diária Área: 25,70 x 30,73 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 1 de 2 UNIÃO EUROPEIA A China é uma economia de mercado? A resposta vale milhões A União Europeia tem até Dezembro para decidir se reconhece a China como economia de mercado, alterando o método de cálculo dos processos de dumping. Bruxelas mede o pulso aos Estados-membros e o prazo termina dia 20 de Abril. David Grav/Retners INÊS F. ALVES tnesalvesOnegocios.pt tema não é novo, mas o tempo escasseia para a União Europeia decidir se reconhece à China o Estatuto de Economia de Mercado (EEM) no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC). Bruxelas abriu uma consulta pública online e está em curso um estudo aprofundado sobre as implicações da decisão nos Estados-membros. "Se quisermos simplificar, do ponto de vista económico, o que está em causa aqui é a alteração ou não do método de cálculo dosprocessos de dumping [venda abaixo de custo para derrubar a concorrência] por força da alteração do estatuto atribuído à China", refe- Os chineses produzam a preços ~ativeis pela concorrência europeia. Às vezes à custa de "batota". re Henrique Burnay, consultor da Eupportunity. mercial importante da União Eu- mias. "Há aqui um impacto eco- ção a determinados sectores ou Mas a denominação técnica en- ropeia", mas o contrário também nómico a sério que não se pode ig- empresas europeias". cerra em si não apenas um proble- é valido, já que o bloco europeu é norar", reforça. Todavia, adoptar uma posição maeconómico mas tambémgeopo- composto por 28 economias, ex"Não podemos ter ilusões", contrária aos EUA coloca em caulítico, que terá de ser "gerido com plica a investigadora. alerta Raquel Vaz-Pinto para sa a gestão da parceria transatlânpinças". Quem o avisaé Raquel VazE a posição europeia "vai con- quem "se estas negociações não tica. Pinto, investigadora de Estudos Po- dicionar a posição tomada pelos correrem de acordo com aquilo Para já, o mais importante é liticos da Universidade Nova de Lis- restantes membros da OMC nes- que são as expectativas de Pe- que "os diferentes sectores forneboa, para quem "háum lado de ores- ta -discussão", refere Henrique quim" é provável que o país impo- çam aos decisores [europeus] os tígio político que é obviamente in- Burnay, acrescentando que "se- nha "maiores restrições em rela- elementos necessários para que dissociável" destadiscussão, "sobre- ria ingénuo pensar que não há tomem uma decisão informada", tudo numa fase em que a economia quem se movimente nesta discuse isso passa por responder à conchinesa tem desacelerado". são por interesses políticos. Em sulta pública da Comissão EuroA China não só ganharia com particular os EUA [que são conpeia aberta até 20 de Abril, lembra este novo estatuto "melhores con- tra o reconhecimento deste estaBurnay. Reconhecimento dições de acesso ao mercado" eu- tuto à China]." Segundo o próprio, "os produropeu, como o regime veria recoHá ainda que considerar "o do estatuto pode tos sujeitos a medidas anti-dumnhecido internacionalmente o es- impacto indirecto", diz o consulping representam hoje 1,38% do forço de abertura realizado ao lon- tor, explicando que a utilização de colocar em risco total das exportações da China go dos últimos 15 anos não só do. produtos importados da China para a União Europeia". Entre os entre 1,7 a 3,5 ponto de vista económico como abaixo do custo nas indústrias sectores mais afectados por dumpolítico, refere. europeias vai também provocar milhões de postos • ping chinês estão o do aço, do ferNesta deliberação pesa o facto distorções no preço das exportaro, dos químicos, da cerâmica, do de "a China ser um parceiro co- ções do bloco para outras econo- de trabalho. têxtil e dos painéis solares. O Porquê esta questão agora? A China aderiu à Organização Mundial do Comércio (OMC) a 11 de Dezembro de 2001, tendo-se comprometido a adoptar medidas para liberalizar a sua economia. A secção 15 do Protocolo de Adesão permite aos restantes membros da OMC determinar, de acordo com a sua própria legislação, se a China é ou não uma Economia de Mercado no que diz respeito à comparação de preços. Isto tem uma influência directa na avaliação de práticas de dumping, ou seja, na forma como se avalia o "preço normal" de um produ- to. Está definido que a regra deve ser prevalecer por 15 anos após a assinatura do protocolo, ou seja, expira a 11 de Dezembro de 2016. Empregos em risco: de milhares a milhões Burnay refere ainda que estudos recentes mostram que a concessão do estatuto pode afectar mais de 200 mil empregos em solo europeu. Na mesma medida, a Comissão Europeia aponta para aproximadamente 188 mil postos de trabalho em risco. Uma projecção mais, sombria do instituto de pesquisa norte-americano Economic Policy I nstitute aponta para 1,7 a 3,5 milhões de empregos. Mas não é líquido dizer que o impacto será negativo. Por um lado, o reconhecimento do estatuto de economia de mercado à China tornará mais difícil provar que o país faz concorrência desleal ao nível dos preços; por outro lado, há países e indústrias que podem beneficiar de uma maior abertura do enorme mercado chinês.• ID: 64054027 64; A relação [EuropaChina] pode esfriar nesta discussão, que parece meramente técnica, mas à qual temos de associar o papel dos EUA, que não consideram a China uma Economia de Mercado. RAQUEL VAZ-PINTO Investigadora de Estudos Politicos na Univ. Nova de Lisboa A Europa pode reconhecer o estatuto e acartar com as consequências. Pode não o fazer e incorrer em sanções. Ou reconhecer, mas introduzir medidas de mitigação do impacto. HENRIQUE BURNAY Sensor Partner da Eupportunity 91 18-04-2016 Tiragem: 12801 Pág: 17 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 25,70 x 31,12 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 2 de 2 Portugal quer manter protecção anti-dumping Cerâmica e têxteis nacionais rejeitam concessão do estatuto A China "não cumpre os cinco critérios técnicos previstos na legislação europeia para ser considerada uma Economia de Mercado", diz fonte do Governo português. Estão entre os sectores mais penalizados pela concorrência chinesa, que dizem ser "desleal". Consideram o reconhecimento da China como uma Economia de Mercado "inaceitável". Apesar de estar "consciente da importância atribuída pela China a esta matéria" e de encarar o país "como um parceiro estratégico para a economia portuguesa", o Governo português vai "pugnar para que os instrumentos de defesa comercial - nomeadamente o instrumento antidumping - permaneçam eficazes", adianta fonte do Ministério da Economia ao Negócios quando questionado sobre a posição portuguesa relativamente ao reconhecimento do Estatuto de economia de Mercado à China pela União Europeia. O reconhecimento da China como uma Economia de Mercado tornaria mais difícil questionar práticas de dumping nas importações chinesas e aplicar medidas anti-dumping que visam repor ajustiça comercial e proteger as indústrias europeias. Esta questão foi "abordada, de forma preliminar, em reuniões do Conselho da União Europeia onde Portugal está representado", adianta o ministério, acrescentando que "o Governo está a aguardar uma proposta de actuação da parte da Comissão Europeia" que deverá terem conta o estudo de impacto aprofundado em curso. Questionado sobre os impactos para Portugal do reconhecimento do Estatuto de Economia de Mercado àChina,o Executivo explicou que "não é para já possível prever com rigor". A dificuldade prende-se como facto de "as medidas de defesa comercial incidirem, num determinado período temporal, sobre produtos específicos e respectivas classificações da pauta aduaneira e não sobre os sectores no seu todo". No contexto nacional, adianta o ministério, já "foram repostas as condições de concorrência graças a medidas anti-dumping nas importações originárias da China em variados sectores, como o do aço, metais não-ferrosos, cerâmica, cordoaria e cabos, qtámicos, bicicletas, calçado, têxteis e vestuário e energias renováveis". As diversas associações nacionais têm manifestado a sua "preocupação e oposição quanto a uma eventual concessão do estatuto" ao Governo. Estas temem que "não sendo adoptadas quaisquer medidas mitigadoras", o resultado seja "um desequilíbrio das condições de concorrência no mercado da UE, colocando em risco a respectiva quota de mercado das emprtsas nacionais face às concorrentes chinesas". As empresas e associações suas representantes podem ainda "manifestar as suas posições Imr escrito junto da Comissária do Comércio (responsável por este assunto), Cecilia Malmst rõ in, bem como junto do vicepresidente para o Trabalho e Competitividade (Jyrki Kataiien) e da comissária para o Mercado Interno, Indústria, Empreendedorismo e PME (Elzbieta Bienkowska)", informa o Miiiistério. • IFA Cerâmica: 12 mil Têxtil: UE não pode empregos em risco ceder à pressão Existem actualmente 12.124 pos- A China tem uma economia "for- tos de trabalho no sector cerâmico protegidos por medidas antidumping que "ficarão em risco" caso seja reconhecido à China o temente condicionada pelo Estado. que não hesita em usar de medidas proteccionistas e de outros expedientes" para "conferir artificialmente condições de Estatuto de Economia de Mercado. adianta Associação Portuguesa da Indústria de Cerâmica (APICER) ao Negócios. Conta a associação que "os subsectores de louça e ladrilhos - na sua maioria Pequenas e Médias Empresas - têm enfrentado inúmeras práticas comerciais desleais por parte da China", que resultaram na perda de "mais de L834 empregos directos" entre 2007 e 2011. A partir da introdução de medidas anti-dumping, em 2012, "a in- maior competitividade às suas empresas", diz Paulo Voz, director-geral da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP). O responsável acrescenta ao Negócios que existe por parte da Chi- na "uma absoluta indiferença pelas mais elementares regras de reciprocidade no comércio internacional", o que "tem tradicionalmente prejudicado o sector". "Enquanto a China não reformar seriamente o seu regime político e abrir a sua economia parece-me inaceitável a concessão do dústria conseguiu estabilizar a sua produção, obter novos clientes e recuperar antigos . Criaramse postos de trabalho e oportunidades de investimento". Os avanços "terão sido em vão, porém, se for concedido à China o Estatuto de economia de Mercado", conclui a APICER. estejam a colocar nesta questão", acrescenta. Assim, a associação dos têxteis "é contra a outorga do estatuto", remata. 66 66 66 Não é para já possível prever com rigor qual a dimensão do impacto de uma eventual atribuição do estatuto É prioritário garantir a manutenção da eficácia dos instrumentos de defesa comercial da UE. [A China] não hesita em usar medidas proteccionistas e outros expedientes para conferir maior competitividade às suas empresas. MINISTÉRIO DA ECONOMIA APICER Associação Portuguesa da Indústria de Cerâmica ATP Associação Têxtil e Vestuário de Portugal estatuto da Economia de Mercado ao pais por parte da União Europeia, por muita pressão que