UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CUIDADOS CLÍNICOS EM ENFERMAGEM E SAÚDE ELINE SARAIVA SILVEIRA ARAÚJO CUIDADO DE ENFERMAGEM NA INTERAÇÃO ENFERMEIRA-PESSOA COM DIABETES FUNDAMENTADO NA TEORIA DE ALCANCE DE METAS DE KING FORTALEZA - CEARÁ 2013 ELINE SARAIVA SILVEIRA ARAÚJO CUIDADO DE ENFERMAGEM NA INTERAÇÃO ENFERMEIRA-PESSOA COM DIABETES FUNDAMENTADO NA TEORIA DE ALCANCE DE METAS DE KING Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde, do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do Grau de Mestre. Área de Concentração: Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde. Linha de Pesquisa: Fundamentos e Práticas do Cuidado Clínico em Enfermagem e Saúde. Orientadora: Profa Dra Maria Vilani Cavalcante Guedes FORTALEZA - CEARÁ 2013 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Estadual do Ceará Biblioteca Central Prof. Antônio Martins Filho Bibliotecário Responsável – Francisco Welton Silva Rios – CRB-3/919 A663c Araújo, Eline Saraiva Silveira Cuidado de enfermagem na interação enfermeira-pessoa com diabetes fundamentado na teoria do alcance de metas de King / Eline Saraiva Silveira Araújo . -- 2013. CD-ROM. 86 f. : il. (algumas color.) ; 4 ¾ pol. “CD-ROM contendo o arquivo no formato PDF do trabalho acadêmico, acondicionado em caixa de DVD Slim (19 x 14 cm x 7 mm)”. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual do Ceará, Centro de Ciências da Saúde, Programa de Pós-Graduação em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde, Fortaleza, 2013. Área de Concentração: Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde. Orientação: Prof.ª Dr.ª Maria Vilani Cavalcante Guedes. 1. Teoria de enfermagem. 2. Atenção primária à saúde. 3. Diabetes mellitus. I. Título. CDD: 610.73 ELINE SARAIVA SILVEIRA ARAÚJO CUIDADO DE ENFERMAGEM NA INTERAÇÃO ENFERMEIRA-PESSOA COM DIABETES FUNDAMENTADO NA TEORIA DE ALCANCE DE METAS DE KING BANCA EXAMINADORA Dedico este trabalho a Deus, à minha família, em especial à minha mãe pelo apoio, incentivo e companheirismo. AGRADECIMENTOS A Deus e a Nossa Senhora por sempre iluminarem e guiarem meus passos, dando-me coragem para superar os obstáculos desta caminhada. À minha mãe, pelo apoio incondicional, por sempre acreditar no meu potencial. Ao meu companheiro Emmanuel e minhas filhas Kalyne e Karoline, fontes de alegria e amor na minha vida. Obrigada por compreenderem meus momentos de ausências. A todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Cuidados Clínicos em Saúde que contribuíram, direta ou indiretamente, para o alcance desta conquista. Em especial, à minha orientadora Maria Vilani Cavalcante Guedes, por me encorajar a superar meus limites, e me propiciar oportunidades de conhecimentos. Às professoras Márcia Barroso Camilo de Ataíde, Lúcia de Fátima da Silva e Thereza Maria Magalhães Moreira, pelas valiosas contribuições para o aprimoramento deste trabalho. A toda a equipe de Saúde da Família II do Mucuripe, e aos pacientes participantes, que colaboraram para a realização deste estudo. RESUMO Diabetes mellitus (DM) é uma doença crônica, associada a várias complicações, sendo uma das principais causas de morbi-mortalidade na população. Neste contexto, os profissionais objetivam o controle desta doença por meio da adesão dos pacientes com diabetes aos cuidados de promoção e manutenção da saúde, favorecendo as pessoas a assumirem comportamentos saudáveis, modificarem o estilo de vida e seguirem o tratamento. A enfermeira, em especial, tem o desafio de dispensar assistência aos indivíduos, família e comunidade, mediante cuidado direto ou indireto, buscando desenvolver interação com estes pacientes. Cabe-lhe ajudar na compreensão da necessidade de assumir modificações no estilo de vida, contribuindo para sua adesão ao controle glicêmico. Por sua vez, as Teorias de Enfermagem fundamentam o cuidado, com conhecimentos próprios, a fim de melhorar a qualidade da assistência prestada a pessoas, em diferentes campos de conhecimento. Desta forma, a pesquisa aqui elaborada objetivou, sobretudo, verificar a eficácia de intervenções em enfermagem, fundamentada na Teoria de Alcance de Metas, na melhoria do cuidado à pessoa com diabetes e na sua adesão ao tratamento. Procedeu-se a um estudo de intervenção, do tipo longitudinal, randomizado simples, na Unidade de Atenção Primária à Saúde Flávio Marcílio, no município de Fortaleza – CE. A população foi composta por diabéticos cadastrados em uma equipe de saúde da família desta unidade e a amostra contou com sessenta diabéticos, divididos igualmente no grupo de intervenção e no grupo comparativo. Como instrumento de coleta de dados, utilizaram-se formulário de identificação para todos os pacientes, formulário de identificação de problemas para o grupo comparativo e o formulário de metas estabelecidas para o grupo de intervenção. A coleta ocorreu de fevereiro a agosto de 2013, com consultas a cada 45 dias. Com o grupo de intervenção, realizou-se a consulta de enfermagem, a partir da interação enfermeira-paciente utilizando a Teoria de Alcance de Metas com base nos problemas de saúde identificados, estabeleciam-se metas mútuas, discutiam-se meios de obtenção das metas e, nos meses seguintes, avaliava-se se as metas tinham sido atingidas. Para o grupo comparativo, foram feitas consultas de enfermagem, sem fundamentação teórica específica. Ao final de seis meses, todos os participantes foram reavaliados. Respeitaram-se os aspectos ético-legais da pesquisa envolvendo seres humanos de acordo com a Resolução 466, de 2012, do Conselho Nacional de Saúde, e o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Ceará, sob protocolo n0 201.296. Como resultados obtidos constaram: a maior parte dos pacientes são mulheres, 46 (76,7%); a predominância de idade foi acima de 60 anos; a metade eram casados (50,0%); com baixa escolaridade, 26 (43,3%), de um a cinco anos de estudo; a maioria, 52 (86,7%), não trabalhavam ou eram aposentados. Alguns, 7 (11,7%), faziam uso de cigarro, e 6 (10,0%) faziam uso de álcool; quanto à prática de atividade física era exercitada por 18 (30,0%). Elevado número de pacientes já eram hipertensos, 46 (76,7%). No grupo de intervenção encontrou-se melhora significativa estatisticamente nos valores de PAD(p=0,0156) e glicemia (p<0,0001), e a maior parte dos pacientes aderiram às metas definidas no estudo. No grupo comparativo, houve uma elevação significativa no valor glicêmico, e melhora em alguns aspectos do tratamento, como perda de peso, prática de atividade física e redução da glicemia. Desses resultados, pôde-se concluir pela viabilidade do emprego da Teoria de Alcance de Metas na Estratégia Saúde da Família pela enfermeira, de forma a colaborar para o controle, apesar de lento, mas contínuo para os pacientes diabéticos, pois evidenciaram-se resultados positivos para a adesão ao tratamento do diabetes e melhoria da qualidade de vida. Descritores: Teoria de Enfermagem; Atenção Primária à Saúde; Diabetes Mellitus. ABSTRACT Diabetes mellitus (DM) is a chronic disease associated with various complications, being one of the leading causes of morbidity and mortality in the population. In this context, health professionals aim to control this disease through the adherence of diabetic patients to health promotion and maintenance care, encouraging people to adopt healthy behaviors, change their lifestyle, and adhere to treatment. Nursing, in particular, has the challenge of delivering assistance to individuals, families and communities through direct or indirect care, seeking to establish interaction with these patients. Nurses must help them understand the need to adopt changes in lifestyle, contributing to their adherence to glycemic control. In turn, the care is based on Nursing Theories, with own knowledge in different fields of knowledge, in order to improve the quality of assistance provided to people. Therefore, this research aimed primarily at verifying the effectiveness of nursing interventions based on the Theory of Goal Attainment, on improving the care for diabetic patients, and on their adherence to treatment. We conducted an intervention study of longitudinal, simple random type in the Primary Healthcare Unit Flávio Marcílio, in Fortaleza-CE, Brazil. The population consisted of diabetic patients registered in a family health team of this unit, and the sample consisted of sixty diabetic patients, divided equally in the intervention and the comparison group. As data collection instrument, we used an identification form for all patients, a problem identification form in the comparison group and a form for established targets in the intervention group. Data collection happened from February to August 2013 with consultations every 45 days. With the intervention group, we performed the nursing consultation from the nurse-patient interaction using the Theory of Goal Attainment based on identified health problems, we established mutual goals, discussed means of achieving the goals and, in the following months, we evaluated whether they had accomplished it. For the comparison group, we performed nurse consultations without specific theoretical foundation. At the end of six months, we reassessed all the participants. We respected the ethical and legal aspects of research involving human subjects in accordance with Resolution 466/2012 of the National Health Council. The Research Ethics Committee of the Universidade Estadual do Ceará approved the project under protocol No. 201.296. In the results, we found that most patients were women, 46 (76.7%); mostly aged above 60 years; half were married (50.0%); with low education, 26 (43.3%), one to five years of study; the majority, 52 (86.7%), did not work or were retired. Some, 7 (11.7%), were using tobacco, and 6 (10.0%) were using alcohol; and 18 (30.0%) performed physical activities. A high number of patients were already hypertensive, 46 (76.7%). In the intervention group, we found statistically significant improvement in DBP (p=0.0156) and glucose (p<0.0001), and most patients adhered to the goals established in the study. In the comparison group, there was a significant elevation in the glycemic value and improvement in some aspects of treatment, such as weight loss, physical activity and reduction in blood glucose. From these results, we verified the feasibility of implementing the Theory of Goal Attainment in the Family Health Strategy by nursing, in order to contribute to the control, although slow, but steady for diabetic patients, since it presented positive results for adherence to diabetes treatment and improved quality of life. Descriptors: Nursing Theory; Primary Health Care; Diabetes Mellitus. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO................................................................................. 10 2 OBJETIVOS..................................................................................... 14 3 REFERENCIAL TEÓRICO............................................................ 15 3.1 Imogene King: estrutura conceitual, sistemas e conceitos................. 15 3.2 A Teoria de Imogene King................................................................. 15 3.2.1 Uma estrutura conceitual para enfermagem.................................. 16 3.2.2 Sistema pessoal................................................................................ 16 3.2.3 Sistema interpessoal........................................................................ 17 3.2.4 Sistema social.................................................................................. 19 3.3 Teoria de Alcance de Metas............................................................... 21 4 METODOLOGIA................................................................................... 25 4.1 Tipo de estudo.................................................................................... 25 4.2 Local do estudo.................................................................................. 25 4.3 População e amostra.......................................................................... 27 4.4 Instrumento de coleta de dados......................................................... 27 4.5 Protocolo de coleta de dados............................................................. 28 4.6 Organização e análise dos dados....................................................... 29 4.7 Aspectos ético-legais......................................................................... 30 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................... 33 6 CONCLUSÃO......................................................................................... 72 REFERÊNCIAS........................................................................................ 74 APÊNDICES............................................................................................. 80 ANEXO...................................................................................................... 86 1 INTRODUÇÃO O diabetes mellitus (DM) é considerado um problema de saúde pública, com evolução crônica, acometendo as pessoas em qualquer idade, condição socioeconômica e localização geográfica. Associado a várias complicações, é uma das principais causas de morbi-mortalidade no mundo. Conforme estudo internacional, o diabetes encontra-se presente em 382 milhões de pessoas no mundo, com projeção de ampliar este número para 592 milhões em 2035. Em todos os países, o diabetes mellitus tipo 2 está aumentando (IDF, 2013). No Brasil, a grande magnitude das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) corresponde a 72% das causas de mortes, sendo crescente o número de óbitos por diabetes (BRASIL, 2011). Por diabetes compreende-se um grupo de doenças metabólicas caracterizadas por hiperglicemia, associada a complicações, disfunções e insuficiência de vários órgãos, especialmente olhos, rins, nervos, cérebro, coração e vasos sanguíneos (BRASIL, 2006). Segundo se percebe, o paciente diabético requer cuidado clínico e educação continuada para melhor qualidade de vida e prevenção das complicações agudas e crônicas. As complicações decorrentes do DM comprometem a produtividade, a qualidade de vida e a sobrevida dos indivíduos, acarretando altos custos para seu controle metabólico e tratamento das suas complicações. Em consequência do não tratamento ou do tratamento irregular da doença, há aumento de consultas, de dispensação de medicação, exames, internações, cirurgias e procedimentos especializados. Somando a isso, a incapacidade laborativa provisória, ou permanente, da pessoa com diabetes desencadeia enorme impacto econômico e social em nosso meio. Neste contexto, os profissionais objetivam o controle da doença, mediante adesão dos pacientes com diabetes aos cuidados de promoção e manutenção da saúde. Desse modo, propiciam às pessoas assumirem comportamentos saudáveis, modificarem o estilo de vida e seguirem o tratamento. A enfermeira, em especial, tem o desafio de dispensar assistência aos indivíduos, família e comunidade, via cuidado direto ou indireto, buscando desenvolver o cuidado em interação com estes pacientes. Ela ajuda na compreensão da necessidade de assumir modificações no estilo de vida, e contribui para sua adesão ao controle glicêmico. Segundo Guedes e Araújo (2005, p.242), “os enfermeiros, na sua prática profissional, devem fundamentar-se em princípios científicos fazendo uso das teorias de enfermagem e do respectivo método que permite nas suas fases a operacionalização destas teorias”. Por sua vez, as Teorias de Enfermagem fundamentam o cuidado, com conhecimentos próprios, com vistas a melhorar a qualidade da assistência prestada a pessoas, em diferentes campos de conhecimento. Uma destas teorias, a de Alcance de Metas de Imogene King, descreve a natureza da relação enfermeira-paciente para o alcance de metas, as quais são desenvolvidas num processo de interação, por meio da comunicação. Neste caso, utiliza-se a avaliação da enfermeira com este paciente, ao identificar problemas, distúrbios na saúde, suas percepções dos problemas e compartilhar informações para planejar estratégias no intuito de atingir as metas propostas em comum acordo (KING, 1981; LEOPARDI, 2006). Para King (1981), o indivíduo está inserido em três sistemas interativos: pessoal, interpessoal e social. A partir destes sistemas, se houver interação enfermeirapaciente estabelecem juntos objetivos reais e alcançáveis pelo paciente. Trata-se de um método participativo, em que a enfermeira emprega esses elementos preconizados para a obtenção de metas definidas pelo paciente e por ela, por meio dos seus principais elementos, isto é: percepção, comunicação e transação. Na valorização do indivíduo no seu contexto social e familiar, buscando suas potencialidades no empoderamento e autonomia do sujeito, a Teoria de King torna-se um instrumento relevante no desenvolvimento do cuidado clínico de enfermagem. Assim, questiona-se: o estabelecimento de metas de saúde mediante práticas clínicas na interação enfermeira-pessoa com diabetes, na Estratégia Saúde da Família (ESF), fundamentada na Teoria de Alcance de Metas de King, contribui para melhor adesão ao tratamento? A hipótese apresentada é a de que o estabelecimento de metas, pela interação enfermeira-pessoa com diabetes, colabora no cuidado e na adesão à terapêutica do diabetes mellitus. Inserida na Estratégia Saúde da Família, a enfermeira, ao desenvolver suas atividades, magnificou seu espaço de trabalho e ampliou sua inserção, seja nas atividades assistenciais, seja nas administrativas e educativas fundamentais para consolidação da ESF e também do Sistema Único de Saúde (SUS), por compartilhar dos seus princípios e diretrizes e buscar um atendimento humanizado em saúde, resolutivo e capaz de responder às necessidades sociais e de saúde da população. Uma das ações desenvolvidas pelas equipes, com base nas sete áreas da Norma Operacional Básica de Assistência à Saúde (BRASIL, 2002), é o acompanhamento dos pacientes com DM, com ações tanto no âmbito individual por meio de consultas de rotina e visitas domiciliárias, quanto nas ações de cunho coletivo em grupos de educação em saúde. Essas estratégias visam o controle e redução das complicações decorrentes desta doença. As equipes da ESF têm, ainda, como instrumento importante para melhorar a prevenção, diagnóstico, tratamento e controle do diabetes, o Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e o Diabetes Mellitus (BRASIL, 2001) e dentre diversas ações estipuladas está o Sistema de Gestão Clínica de Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus da Atenção Básica (SISHIPERDIA). O SISHIPERDIA permite cadastrar, acompanhar e garantir os insumos aos pacientes com hipertensão e diabetes de todas as unidades básicas de saúde. É uma excelente fonte de informação tanto para a equipe quanto para os gestores, pois com esta ferramenta é possível traçar em médio prazo o perfil epidemiológico desta população e adotar estratégias de intervenção voltadas à melhoria da qualidade de vida dessas pessoas, bem como a redução de custo social (BRASIL, 2001). Esse programa contribui para orientar o gestor na aquisição dos medicamentos essenciais, considerando que o SUS os fornece gratuitamente, para o controle do diabetes, na rede básica de saúde, cujo financiamento é pactuado nas três esferas de governo (BRASIL, 2012). Com o trabalho desenvolvido pelas equipes de Saúde da Família ocorrem vários avanços. Contudo, os pacientes ainda enfrentam várias barreiras no acesso às consultas e exames, além da irregularidade na distribuição de insumos e medicamentos, que dificultam a adesão ao tratamento do paciente com diabetes. Nas últimas décadas, a prevalência do DM tem crescido significativamente. Este crescimento decorre, sobretudo, do envelhecimento populacional, da maior urbanização e do aumento de obesos e sedentários. Segundo Bezerra et al. (2010), com a modernidade, ocorre também a evolução científica e tecnológica, a qual, por um lado, amplia as possibilidades das pessoas se divertirem e trabalharem sem sair de casa, e por outro, contribui para o sedentarismo. Justifica-se o estudo pela alta prevalência de diabetes mellitus, o qual atinge 5,6% da população das capitais brasileiras (BRASIL, 2011). Como enfermeira da Estratégia Saúde da Família, percebem-se a complexidade do tratamento, as barreiras encontradas pelos pacientes com diabetes na adesão e na manutenção dos níveis normoglicêmicos. A relevância do controle glicêmico fundamenta-se no fato de que muitos pacientes com diabetes enfrentam obstáculos por diversos fatores, como: dificuldade de acesso ao serviço de saúde, distância entre o local de moradia e os serviços que prestam atendimento, custos financeiros, irregularidade na dispensação de medicações e insumos. Conforme se sabe, o descontrole leva a consequências. Entre estas, amputações, cegueira, nefropatia, neuropatias, doenças cardiocerebrovasculares, além de outras sequelas. Diante dos resultados obtidos com este trabalho, o conhecimento produzido poderá fortalecer as consultas de enfermagem, nas quais o profissional tem a oportunidade de utilizar o mencionado conhecimento, transformar-se num ser crítico, questionar suas próprias atitudes e participar de forma mais ativa nos cuidados prestados, promovendo estratégias na adesão do tratamento. 2 OBJETIVOS Verificar a eficácia de intervenções em enfermagem, fundamentada na Teoria de Alcance de Metas, na melhoria do cuidado à pessoa com diabetes e na sua adesão ao tratamento; Comparar os resultados desta interação com o cuidado cotidiano de enfermagem desenvolvido na Estratégia Saúde da Família. 3 REFERENCIAL TEÓRICO 3.1 Imogene King: estrutura conceitual, sistemas e conceitos Imogene King nasceu em 30 de janeiro de 1923, em West Point, Iowa, nos Estados Unidos. Em 1948, recebeu o grau de bacharel em ciências da educação em enfermagem e em 1957 conquistou o título de mestre em enfermagem pela St. Louis University. Em 1961, titulou-se doutora pelo Teacher’s College, da Universidade de Columbia, Nova York. King também foi agraciada com um Doutoramento honorário pela Southern Illinois University em 1980. Ademais, trabalhou na enfermagem como administradora, educadora e assistencial. Mesmo aposentada, viajou por todos os Estados Unidos, Canadá, Japão, Alemanha e Suécia, onde proferiu conferências para enfermeiras, estudantes, e participou de congressos. A estudiosa recebeu prêmios de muitas organizações em honra dos seus contributos para a enfermagem. Em 1997, recebeu uma medalha de ouro do governador da Flórida por contribuir para o avanço da enfermagem naquele estado. E em 2005, foi nomeada “lenda viva” pela Academia Americana de Enfermagem. No dia 24 de dezembro de 2007, faleceu em Pasadena, Flórida, EUA, sendo homenageada com a seguinte frase "Que todos nós hoje queimemos uma vela para a luz que a ilustre Imogene deixou sobre nós com seu sorriso, conhecimento e paixão em todos os dias” (MESSMER; PALMER, 2008). Segundo Messmer e Palmer (2008), King foi pioneira no campo da enfermagem teórica, principalmente por aliar teoria e prática clínica. Da sua biografia, infere-se que ela possui vasto conhecimento nas áreas de domínio cognitivo e experimental. 3.2 A Teoria de Imogene King Nesta teoria, King (1981) começa a discorrer explicando o que é a enfermagem. Descreve as ações de enfermagem como atividades realizadas nas quais a enfermeira pensa, percebe, julga e age nas situações a ela relacionadas. Estas ações ocorrem em ambientes onde são desenvolvidas relações entre enfermeiras e pacientes. As enfermeiras coletam informações, analisam as percepções, trocam informações, estabelecem metas em comum, tomam decisões e resolvem problemas, usando conhecimentos e habilidades para ajudar estes indivíduos a manter a saúde. É a partir destes conceitos e delimitações que King constrói uma estrutura conceitual para a enfermagem, sua teoria sobre a dinâmica do sistema de interações baseada na teoria dos sistemas. 3.2.1 Uma estrutura conceitual para a enfermagem A meta da enfermagem é a melhoria da saúde de indivíduos e o cuidado de saúde de grupos. Cabe-lhe aceitar a seguinte premissa: seres humanos são sistemas abertos interagindo com o ambiente; então uma estrutura conceitual para a enfermagem deve ser organizada para incorporar estas ideias (KING, 1981). Neste âmbito, a teorista (1981) propõe uma estrutura onde ela faz inferência segundo a qual seres humanos são sistemas que juntos formam um sistema interpessoal e este sistema interage formando um sistema social. Tal estrutura foi organizada para incorporar a ideia de que seres humanos são sistemas abertos interagindo com o ambiente. 3.2.2 Sistema pessoal Por sistema pessoal entende-se o próprio indivíduo, caracterizado como ser racional e emocional, portanto, ser complexo. Consoante King (1981, p.20) no “processo de interação, indivíduos reagem com pessoas, eventos e objetos de acordo com suas percepções, expectativas e necessidades”. Por isso, para compreensão da interação, é necessário uma compreensão desse sistema pessoal. A autora aponta seis conceitos relacionados a esse sistema que auxiliam neste entendimento. São eles: A percepção - definida como “um processo de organização, interpretação e transformação de informações dos dados sensoriais e da memória” (KING, 1981, p.24). “É a representação da realidade do ser humano” (KING, 1981, p.20). Como afirma, a percepção é o maior conceito da sua teoria e um marcante ponto para a interação. É um processo cognitivo no qual o indivíduo busca em seu inconsciente fatos e valores que interferem na interação. A percepção é parte do crescimento e desenvolvimento da pessoa e influencia em sua definição de metas e necessidades (KLEIN, 1970 apud KING, 1981). O self - é o que eu penso de mim e o que eu sou capaz de ser ou fazer (KING, 1981, p.26). “É uma interação pessoal com o ambiente que é influenciado pela troca de interações com outros e que dá alguma consciência do modelo de relacionamento do eu com o meu” (ROGERS, 1961 apud KING, 1981, p.27). O conhecimento de self é o modo como eu me defino para mim mesmo e para os outros, é o entendimento do comportamento humano. Caracteriza-se por: (1) dinâmica individual, valores e crenças; (2) sistema aberto e limites artificiais; e (3) meta orientada (a orientação das metas direciona atividades para a realização do self). O crescimento e desenvolvimento - para Freud (1966) apud King (1981), existem quatro estágios do desenvolvimento. São eles: (1) estágio oral na primeira infância; (2) estágio anal entre 2-3 anos; (3) estágio de fala na idade pré-escolar; e (4) estágio genital na adolescência. Segundo refere, a origem do comportamento vem de energias biológicas que podem ser direcionadas a diferentes meios. Quanto às características do crescimento e desenvolvimento citadas por King (1981), mencionamse: (1) trocas celulares, moleculares e comportamentais em seres humanos; e (2) funções da herança genética, experiências significativas e satisfatórias e um ambiente que conduz à ajuda de indivíduos com vistas a adquirirem maturidade. A percepção da pessoa sobre seu corpo, reações adversas da sua aparência e o resultado de reações adversas do self são referidas como imagem corporal. Esta é definida como a maneira pela qual o indivíduo consegue se ver. Suas atitudes podem ser diferentes, dependendo da sua relação com a própria imagem. O espaço – este é um conceito universal, pessoal, percebido por cada pessoa como único e subjetivo. É situacional, pois a distância espacial pode ser estendida ou contraída conforme a natureza do relacionamento em cada situação. É dimensional, em função da área, do volume, da distância e do tempo. Tais dimensões são influenciadas pelas diferenças culturais (KING, 1981). O tempo - para King (1981, p.42), “é percepção subjetiva de uma sucessão de eventos do passado para o presente e para o futuro”. É definido como a duração entre a ocorrência de um evento e a ocorrência de outro, sendo o tempo irreversível. Contudo, a percepção humana de tempo varia de uma pessoa para outra e é determinada pela idade, educação, posição de vida, funções sociais, valores e atitudes. 3.2.3 Sistema interpessoal Na ótica de King (1981), o mundo é composto de seres humanos e objetos que interagem no ambiente, e estes seres humanos agem em vários sistemas interpessoais. Existem determinados conceitos na compreensão dos sistemas interpessoais. Entre estes: As interações humanas – entendidas como atos de duas ou mais pessoas em presença mútua, podem revelar o que uma pessoa pensa ou sente pela outra, como um percebe o outro, o que o outro faz por ele, quais suas expectativas do outro e como cada um reage à ação do outro (KING, 1981). Como King relata, a ação é uma sequência de comportamentos de interações de pessoas, que incluem: (1) ação mental – reconhecimento das condições presentes; (2) ação física – início de operações ou atividades relacionadas às condições ou situações; e (3) ação mental - para exercer controle sobre os eventos e as ações físicas na busca pelo alcance de metas. Em situações concretas nas quais seres humanos estão participando ativamente nos eventos, e esta participação ativa em busca do alcance de metas provoca troca nos indivíduos, verifica-se transação. Na Figura 1 mostra-se como o processo de interações humanas ocorre. Figura 1: Processo de interações humanas (adaptado de KING, 1981) Conforme a Figura 1, as percepções, julgamentos, ações e reações dos seres humanos irão determinar as transações que eles realizarão. King (1981, p.1) define transações como “interações resolutas que conduzem ao alcance de metas”. Ainda como afirma King (1981, p.61), “os maiores conceitos na interação humana são: percepção, comunicação e transação”. Contudo, o componente informacional da interação pode ser observado como comunicação e o componente avaliativo como transação. Transações são elementos possíveis de aparecer nas mensagens, porquanto se dão quando os indivíduos estão interagindo para o alcance das suas metas, porém é preciso, primeiramente, investigá-las nas conversações. Quanto à comunicação - definida por King (1981) como o intercâmbio de pensamentos e opiniões entre indivíduos, é o meio pelo qual a interação social e a aprendizagem acontecem, sendo influenciada pelos inter-relacionamentos de metas, necessidades e expectativas de uma pessoa; e é o meio de troca de informações entre indivíduos e ambiente, em sistemas abertos, onde há a ocorrência contínua e dinâmica da comunicação. Esta é dividida em duas categorias: (1) comunicação intrapessoal – comunicação não verbal, que envolve trocas nervosas, de informação genética, entre várias outras trocas verificadas no nosso organismo; e (2) comunicação interpessoal – a qual é classificada como verbal e não verbal e se dá entre indivíduos. Segundo King (1981), as enfermeiras usam habilidades e conhecimentos para obter informações acuradas sobre os comportamentos dos pacientes, e são percebidas por estes como cuidadoras, ocupadas demais, frias e eficientes. Enfermeiras usam conhecimentos e habilidades de comunicação para ajudar indivíduos que atravessam interferências no seu estilo de vida. Na ótica de King (1981, p.81) ao citar Kuhn (1975), o processo de transação, é “a transferência de valores entre dois ou mais indivíduos”. Acontece como um processo de interação entre pessoas, pessoa com objeto, envolvendo o ambiente, com o objetivo de alcançar metas. Por meio da comunicação, observação e interpretação da informação, as interações são focalizadas nas metas e um relacionamento interpessoal positivo começa a se estabelecer. Inclui-se, ainda, o papel - quando, “o desenvolvimento do conceito de interação requer conhecimento do papel desde que o papel de uma pessoa seja definido em relação ao papel de outra pessoa, como o papel da enfermeira e do paciente” (KING, 1981, p.89). Ou seja, para que a interação aconteça é necessário haver uma definição dos papéis; este é visto como uma relação com outra pessoa, uma posição e uma situação. Consoante o conceito de papel, um indivíduo precisa se comunicar com o outro e interagir em caminhos que auxiliem no alcance de metas. Nos papéis, as funções são dinâmicas e mudam de situação para situação. Outro componente é o estresse – considerado um fator energia em sistemas abertos que aumenta ou diminui de acordo com os estressores em interações homemambiente. É um estado dinâmico pelo qual o ser humano interage com o ambiente para manter equilíbrio voltado ao crescimento, desenvolvimento e desempenho que envolve uma troca de energia e informação entre a pessoa e o ambiente para regulação e controle do estressor (KING, 1981). 3.2.4 Sistema social Este é um sistema de limite organizado de papéis sociais, comportamentos e práticas desenvolvidas para manter valores e mecanismos de regulação dessas reações (KING, 1981). Um construto de sistema social é essencial para a estrutura conceitual de enfermagem. Segundo King (1981), é um sistema que tem sua origem na reunião de grupos com interesses e necessidades especiais, formando organizações e compondo sociedades. Os conceitos relacionados neste sistema são os seguintes: A organização - é a forma pela qual as atividades contínuas são administradas para alcançar metas. O entendimento da estrutura organizacional ajuda as enfermeiras na identificação e no enfrentamento dos conflitos entre a organização e seus papéis e funções profissionais. Está associada ao conhecimento de autoridade e poder (KING, 1981). Para as organizações responsáveis pelos cuidados de saúde, a meta é ajudar indivíduos a manter sua saúde, se possível, e aprender a enfrentar as doenças. A autoridade - é um processo ativo e recíproco de transação no qual conhecimento, experiência, percepções e valores dos sujeitos influenciam a definição, confirmação e aceitação dos que se encontram em posições organizacionais, associados a esse poder. É essencial à realização de metas e às organizações, sobretudo as formalmente constituídas. Nos diversos sistemas de cuidado à saúde onde as enfermeiras trabalham, há a necessidade de entender a autoridade organizacional vigente, assim como a autoridade legítima da enfermeira. Sua apropriada utilização em uma organização promove satisfação ao trabalhador, eficiência, elevação moral e facilita o alcance de metas (KING, 1981). O poder - é uma característica da autoridade, sendo o processo por meio do qual uma ou mais pessoas influenciam as demais numa determinada situação. O poder existe dentro das relações sociais e os que o exercem podem controlar grupos e organizações. É universal, situacional, dinâmico e meta-dirigido (KING, 1981). O status - é como a posição de um indivíduo em um grupo é percebida por outros indivíduos. É o prestígio adquirido ao desempenhar um papel (KING, 1981). A tomada de decisão - é um conceito-chave em qualquer organização. Decisões são julgamentos feitos, e afetam o curso da ação a ser desenvolvida em situações específicas. Tornou-se um conceito essencial para as pessoas em todos os aspectos da vida. A própria ação ou resposta humana é decorrente de um processo de tomada de decisão. As decisões são situacionais e dirigidas a metas, compondo um processo contínuo, que envolve uma situação, estado ou problema. Constantemente, enfermeira e paciente tomam decisões sobre metas a serem alcançadas. Faz-se, então, necessária a informação compartilhada entre eles, respeitando os aspectos éticos (KING, 1981). 3.3 Teoria de Alcance de Metas Consoante estabelece a Teoria de Alcance de Metas, a enfermagem é um processo de interação, reação e transação, e tem como foco central da estrutura de King o ser humano dinâmico, cujas percepções dos objetos, das pessoas e dos eventos influenciam seus comportamentos, sua interação social e sua saúde. Como mencionado, a estrutura conceitual inclui três sistemas: pessoal, interpessoal e social (LEOPARDI, 2006). King utiliza os conceitos dos três sistemas dinâmicos interacionais para formular uma Teoria de Enfermagem que preconiza a obtenção de metas definidas pelo paciente e pela enfermeira por meio da transação na situação de enfermagem. É um método participativo, dinâmico, que torna o paciente um ser atuante no seu processo de saúde-doença-saúde. A teorista resume a estrutura conceitual da seguinte forma: indivíduos compreendem o sistema pessoal relacionando-se com o meio ambiente, chamado sistema pessoal; ao interagir com outras pessoas, forma díades, tríades, pequenos e grandes grupos, constituindo o sistema interpessoal; os grupos com interesses e necessidades comuns formam as organizações, evoluem para comunidades e sociedades, configurando o sistema social. “A tese principal da estrutura é a de que cada ser humano percebe o mundo como uma pessoa total, fazendo transações com indivíduos e coisas no ambiente” (KING, 1981, p.141). Portanto, a percepção toma lugar em cada mundo concreto da pessoa e é uma parte essencial da vida. Considerando como conceitos abstratos seres humanos, ambiente, saúde e sociedade, de acordo com King, o conhecimento desses conceitos colabora na interação da enfermeira com o paciente, no entendimento de como os seres desenvolvem suas atividades de vida diária nos vários papéis que assumem nos sistemas onde estão inseridos. Ainda conforme King (1981), a Teoria de Alcance de Metas descreve a natureza das interações enfermeira-paciente, propositais, para mutuamente estabelecer metas, explorar e acordar meios que conduzem ao alcance das metas. Sua estrutura conceitual e teorias são baseadas no princípio segundo o qual seres humanos interagem com o meio ambiente com a finalidade de atingir o estado de saúde que lhes permita desenvolver seus papéis sociais. Como pressupostos específicos, a teorista ressalta: As percepções, metas, necessidades e valores da enfermeira e do paciente influenciam o processo de interação; As pessoas têm o direito de conhecer sobre si mesmas e de participar das decisões que influenciam suas vidas, saúde e os serviços da comunidade, podendo aceitar ou rejeitar o cuidado de saúde; Os profissionais de saúde têm a responsabilidade de obter informações que ajudem os indivíduos a tomar decisões sobre seu cuidado de saúde; As metas dos profissionais de saúde e as dos receptores do cuidado podem ser incongruentes, logo, pode ocorrer conflitos. Cabe enfatizar: a teoria deriva da estrutura conceitual dos sistemas pessoal e interpessoal, mediante os conceitos de interação, percepção, comunicação verbal e não verbal, transação, papel, estresse, crescimento e desenvolvimento. As interações são permeadas pela comunicação verbal e não verbal, havendo troca e interpretação de informações, pelo compartilhamento de valores, necessidades e desejos de cada membro, levando a transações, pelas percepções de cada participante e pelos estressores que influenciam cada pessoa na situação (KING, 1981). Por ser a enfermagem um processo de interação, mediante a comunicação, a enfermeira explora meios e acordos para obtenção de metas estabelecidas. Nessa interação, os comportamentos observáveis são esses: 1. Reconhecimento das condições apresentadas, como um problema de saúde, social ou relacionado ao homem; 2. Operações ou atividades relacionadas à situação ou condições, como decisões sobre metas; e 3. Motivação para exercer algum controle sobre os eventos na situação para atingir objetivos, como acordos quanto aos meios para alcançá-los. Nas interações enfermeira-paciente, há coleta de informações, observação e medição de parâmetros do paciente, interpretação e nova troca de informações, na qual a enfermeira agora partilha informações pertinentes com o paciente; este observa a enfermeira, questiona, participa do estabelecimento de metas. Desse modo, a interação é percebida como eventos que alguém valoriza, quer ou deseja, levando o atendimento a trazer resultados mensuráveis das situações de enfermagem. Como enfatiza King (1981, p.144), “esta teoria deveria servir como um modelo de prática relacionado às interações enfermeira-paciente e, neste sentido, uma teoria normativa”. As atividades da enfermagem são um processo de interação entre enfermeira e paciente em que cada um percebe o outro e a situação, e por meio da comunicação, estabelecem-se metas, exploram-se meios e acordam-se para atingir metas. Nelas os comportamentos observáveis na enfermeira e paciente são: reconhecimento das condições apresentadas, como problema de saúde; decisões sobre metas; motivação e meios para alcance das metas. Neste âmbito, as proposições da Teoria de Alcance das Metas são as seguintes: 1. Se a acurácia perceptual está presente nas interações enfermeira-paciente, ocorrerão transações; 2. Se enfermeira e paciente fazem transações, metas serão alcançadas; 3. Se metas são alcançadas, haverá satisfação; 4. Se metas são alcançadas, ocorrerá cuidado efetivo de enfermagem; 5. Se as transações são feitas nas interações enfermeira-paciente, aumentarão o crescimento e desenvolvimento; 6. Se as expectativas e as performances de papel são percebidas pela enfermeira e paciente como congruentes, ocorrerão transações; 7. Se conflito de papel é experimentado pela enfermeira, paciente ou ambos, se dará estresse nas interações enfermeira-paciente; 8. Se enfermeiras com conhecimentos e habilidades especiais transmitem informações apropriadas aos pacientes, acontecerá estabelecimento e alcance de metas mútuas. Quanto aos limites internos da teoria, mencionam-se: o fato de a enfermeira e o paciente não se conhecerem; a habilitação para o exercício da profissão pela enfermeira; as necessidades de cuidado por parte do paciente; então, ao se encontrarem, este colabora para o estabelecimento mútuo de metas; e ambos interagem para o alcance dessas metas. Já os limites externos são: a interação entre duas pessoas; a habilitação do profissional de enfermagem e pacientes com necessidades de cuidados de enfermagem; essas interações devem acontecer em ambientes naturais (KING, 1981). Para a teorista, tais limites não restringem a teoria a tempo e espaço, porquanto as interações enfermeira-paciente podem acontecer em qualquer situação de enfermagem. Segundo George (2000) ao citar King (1981), a teorista desenvolveu proposições previsivas: ambos devem ter exatidão perceptiva, saberem os seus papéis na interação e comunicação que levem à transação; esta leva à obtenção de metas, implementando o crescimento e desenvolvimento mútuo, efetivando a assistência de enfermagem. Como se percebe, a Teoria de Imogene King torna-se de relevante utilidade para os profissionais de enfermagem, pois é um instrumento de investigação, orientação e educação. Logo, auxilia na visão dos fatores que influenciam o ambiente e qualidade de vida das pessoas, e pode facilitar uma avaliação da própria assistência. 4 METODOLOGIA 4.1 Tipo de estudo Trata-se de estudo de intervenção para pacientes com diabetes mellitus, desenvolvido com uma proposta de cuidado de enfermagem fundamentada teoricamente para observar se esta promovia um melhor cuidado e adesão da pessoa com diabetes ao tratamento, levando ao alcance da meta geral de bem-estar destes pacientes. Foi um estudo do tipo longitudinal, no qual, para Polit e Beck (2011), são efetuadas coletas de dados às mesmas pessoas, e que fornecem dados em dois ou mais pontos temporais durante certo período. Nele analisaram-se mudanças ao longo do tempo, determinando a sequência temporal dos fenômenos. Por ser interventivo, caracterizou-se como do tipo randomizado simples em que há a seleção de números iguais de participantes para cada grupo, seguindo a amostragem aleatória simples. Segundo Polit e Beck (2011), neste tipo de estudo, não há pareamento das características ou variáveis específicas. Assim, após a formação dos grupos, realizou-se avaliação estatística com vistas a analisar se as diferentes frequências para as variáveis pesquisadas eram estatisticamente significantes. Para tanto, formaram-se dois grupos de pacientes com diabetes, de igual tamanho, denominados de grupo comparativo e grupo de intervenção. Como estabelecido, o grupo de intervenção passou pela consulta de enfermagem, com propostas de intervenções. Negociadas as metas e avaliação do alcance das metas propostas com base na Teoria de Imogene King, comparou-se melhoria nas variáveis físicas e nas mudanças no estilo de vida de pacientes com diabetes. O grupo comparativo passou pela consulta de enfermagem, no tocante à assistência de enfermagem recebida no cotidiano da unidade de saúde, sem explícita fundamentação teórica específica. Então, ao final do processo, pôde-se comparar os resultados entre os dois grupos, no relacionado ao desfecho das variáveis iniciais dos pacientes com diabetes. 4.2 Local do estudo Consoante mencionado, o estudo foi realizado na Unidade de Atenção Primária à Saúde Flávio Marcílio (UAPSFM) do Sistema Único de Saúde, em Fortaleza-CearáBrasil. Referida unidade tem como objetivo atender pacientes residentes na área adscrita dos bairros Mucuripe, Varjota e Meireles. Quanto à escolha da unidade para desenvolvimento da pesquisa, deu-se por ser campo de trabalho da pesquisadora. Esta condição pode facilitar a interação enfermeirapaciente, pois segundo a Teoria de Alcance de Metas, quando ocorre esta interação conduz-se ao alcance de metas. No referente à estrutura física do serviço, há dois pavimentos, com consultórios médicos, odontológicos, de enfermagem, recepção, farmácia, sala de espera, imunização, coleta de exames laboratoriais, sala de procedimentos, expurgo, esterilização e copa. A equipe de saúde é multidisciplinar e com diversas especialidades, a saber: enfermagem, fisioterapia, odontologia, fonoaudiologia, psicologia, serviço social, farmácia, terapia ocupacional, além de especialidades médicas. Como observado, a equipe de enfermagem é composta por onze enfermeiras e oito técnicas de enfermagem, as quais desenvolvem suas atividades nos diversos setores ambulatoriais e nas visitas domiciliares. Quanto às consultas de enfermagem, os atendimentos são variáveis, de acordo com a agenda e escala de serviço destes profissionais. No período da coleta, a UAPSFM contava com três equipes da Estratégia Saúde da Família e uma equipe da Estratégia de Agentes Comunitários de Saúde. A pesquisa foi realizada com pacientes da área de abrangência da equipe 2 de Saúde da Família, composta por uma enfermeira, uma odontóloga, uma auxiliar de enfermagem, uma auxiliar de saúde bucal e seis agentes comunitários de saúde. Existem 989 famílias cadastradas e, destas, 147 pessoas com diagnóstico de DM, com uma média de 35 consultas de enfermagem mensal ao diabético. As consultas ao diabético, na equipe escolhida para a coleta de dados, são feitas a cada dois meses, intercalando a consulta de enfermagem com a consulta médica, quando recebem o medicamento para controle de diabetes, orientações sobre dieta, atividade física, entre outras. Enquanto as consultas de enfermagem ocorrem nas quartas e quintas-feiras pela manhã, as consultas médicas não têm dia específico para paciente diabético e são realizadas por um profissional vinculado à Secretaria Estadual de Saúde, lotado na referida unidade, não vinculado à equipe de Saúde da Família. Assim, os pacientes retornam para a consulta de enfermagem a cada quatro meses. A instituição é campo de prática e de estágio para alunos de enfermagem, nutrição, gestão hospitalar, entre outros, estando conveniada com universidades particulares situadas no município de Fortaleza. 4.3 População e amostra Consoante ressaltado, a população foi constituída de pacientes com diabetes cadastrados em uma equipe de Saúde da Família. Conforme cadastro realizado pela equipe, existiam 147 pacientes diabéticos. Como critérios de inclusão constaram: estar regularmente cadastrados no SISHIPERDIA da equipe de Saúde da Família; ter idade superior ou igual a 18 anos; ter diagnóstico de diabetes referido há pelo menos seis meses; ter ou estar em condições de dialogar sobre sua condição de saúde e tratamento. Excluíram-se aqueles desprovidos de capacidade cognitiva para interação e comunicação adequada, que são limites apontados na Teoria de Alcance de Metas (KING, 1981). Da amostra fizeram parte sessenta pacientes selecionados aleatoriamente, na medida em que chegaram para a consulta de enfermagem de rotina, nos meses de fevereiro e março de 2013. Dessa forma, não se fez pareamento, de acordo com as variáveis a serem estudadas. Após convite para participar no estudo, os pacientes foram inseridos randomizadamente no grupo comparativo ou no grupo de intervenção. Houve perda de quatro participantes do estudo pois, no decorrer da pesquisa, dois foram a óbito e dois mudaram de endereço. Segundo Creswell (2010), como forma de controle, neste tipo de investigação cada participante do estudo tem igual probabilidade de ser selecionado. Desta forma, elimina-se a possibilidade de diferenças sistemáticas entre as características dos participantes passíveis de afetar os resultados, de modo que quaisquer diferenças nos resultados podem ser atribuídas ao tratamento. 4.4 Instrumento de coleta de dados Para os dois grupos efetuou-se, na primeira consulta de enfermagem, coleta de dados baseline, para futuras comparações. As informações foram coletadas e registradas em formulário contendo os dados sociodemográficos, familiares, clínicos, estilo de vida, comorbidades, percepção/acompanhamento geral da saúde, self/imagem corporal, tempo, interações humana, papel e relacionamento, nutrição e metabolismo, eliminações, sono e repouso, sexualidade e reprodução. Quanto ao grupo de intervenção, além dos dados baseline, utilizou-se a consulta de enfermagem fundamentada na Teoria de Alcance de Metas. O formulário continha as decisões tomadas no processo de interação enfermeira-paciente, metas estabelecidas conjuntamente, avaliações subsequentes e avaliação final. No grupo comparativo era realizada a consulta de enfermagem sem fundamentação teórica, e registravam-se em um formulário os problemas detectados e a evolução destes. 4.5 Protocolo de coleta de dados A investigação ocorreu no período de fevereiro a agosto de 2013, com vistas ao acompanhamento contínuo dos dois grupos participantes do estudo por seis meses, comparando a consulta de enfermagem (grupo comparativo), com a consulta de enfermagem fundamentada na Teoria de Alcance de Metas de King (grupo de intervenção), analisando seus benefícios, dificuldades e exequibilidade. Iniciou-se a coleta de dados após a aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa, aceitação do convite por cada participante, independente do grupo de estudo onde seria alocado. Esta ocorreu durante a consulta de enfermagem. Todas as variáveis dos dois grupos, de intervenção e comparativo, foram coletadas pela própria pesquisadora. Na primeira consulta da coleta de dados da pesquisa, coletaram-se os dados baseline dos dois grupos, contidos no formulário. As consultas subsequentes foram agendadas para 45 dias. Com o grupo comparativo, procedeu-se à consulta de enfermagem, e os pacientes foram agendados para novas consultas. Tentava-se não modificar a dinâmica de consultas, embora tenha se alterado a rotina de atendimento recebida pela equipe da ESF. Portanto, cada paciente foi acompanhado pela pesquisadora durante seis meses, no total de quatro consultas de enfermagem. Avaliaram-se as variáveis escolhidas para comparação com o grupo de intervenção. Neste grupo, os pacientes foram consultados, avaliados e estabeleceram-se metas com eles. Em cada consulta do paciente com diabetes do grupo de intervenção, elaborou-se Lista de Problemas detectados e compartilhados na interação enfermeirapaciente. Após discussão preencheu-se a Lista de Metas em comum acordo, procurando solucionar ou minimizar o problema. Ademais, discutiam-se meios que viabilizassem o alcance destas metas, as quais foram avaliadas nas consultas posteriores. Nas consultas subsequentes, avaliaram-se as condições gerais dos pacientes, com vistas a detectar suas conquistas no tocante à adesão ao tratamento e para definir novas metas. Em todas as consultas foram mensuradas as seguintes variáveis: A glicemia capilar, medida pelo aparelho digital Accu-Chek®. Após orientação ao paciente do procedimento, colocou-se a fita no aparelho, escolheu-se um dos quirodáctilos com boa perfusão periférica, e deu-se uma picada superficial com lanceta própria para este procedimento: ao sair uma gota de sangue se colocava na fita teste e o local perfurado era pressionado com algodão seco. Mediram-se valores tensionais utilizando a técnica padrão-ouro para aferição da pressão arterial de acordo com as recomendações da Sociedade Brasileira de Hipertensão. O esfignomanômetro aneroide empregado foi previamente calibrado, regulado e atestado pelo Inmetro, observando-se o tamanho do manguito adequado à circunferência do braço do paciente e estetoscópio biauricular de uso pessoal da pesquisadora. Os indivíduos eram orientados a esvaziar a bexiga urinária, ficar na posição sentada e descruzar os membros. Após cinco minutos de repouso, fez-se a verificação, no braço direito do paciente. Mensurou-se o peso corporal em balança digital portátil com capacidade de 130 kg e com precisão de 100g, colocada em superfície plana. Os pacientes eram pesados descalços, com o mínimo de roupa possível, corpo ereto no centro da balança, braços estendidos ao longo do corpo e sem movimento. Para a medição da estatura, o instrumento foi um antropômetro, com subdivisão 0,5 cm, com a utilização de um esquadro sobre a cabeça dos pacientes, descalços, pés unidos e paralelos, em posição ereta e olhando para a frente. A circunferência abdominal foi mensurada com fita métrica flexível e inextensível, no ponto médio entre a crista ilíaca anterior superior e a última costela. Essas variáveis foram avaliadas em cada paciente dos dois grupos nas quatro consultas. Tais dados foram compilados e organizados, constituindo um banco de dados de comparação, cujo objetivo era avaliar a mudança ou não nos dois grupos participantes. Assim, após cada ciclo de consultas e ao final do processo, os dois grupos foram comparados, no respeitante às variáveis colocadas anteriormente, que configuram a melhoria do estado de saúde deles. Infelizmente, um paciente do grupo comparativo foi a óbito antes do retorno da segunda consulta e outro mudou de endereço. Quanto ao grupo intervenção, uma paciente também veio a óbito antes da quarta consulta e uma mudou de endereço. Todos foram excluídos do estudo. 4.6 Organização e análise dos dados Segundo definido, os dados foram organizados em um banco de dados no programa Excel for Windows e posteriormente transportados para o software SPSS versão 20.0(Statistical Package for the Social Sciences), onde foram processados para avaliação estatística analítica, relação e entrecruzamento das diversas variáveis, com utilização de testes estatísticos. Ilustrativamente, os dados estão apresentados em tabelas onde foram dispostas as variáveis. Calcularam-se as frequências simples, percentual, percentual acumulado, média, desvio padrão, mínimo e máximo das variáveis. Analisaram-se a associação das variáveis categóricas por meio dos testes não paramétricos do Qui-quadrado, a razão de verossimilhança e o teste de Friedman, adotando-se um nível de significância estatística de 5% (p<0,05), quando da associação de algumas variáveis em estudo. De posse dos resultados, passou-se a discuti-los à luz da literatura nacional e internacional atualizada sobre diabetes mellitus e da Teoria de Alcance de Metas de Imogene King. 4.7 Aspectos ético-legais Neste estudo, cumpriram-se os preceitos éticos e legais a serem respeitados nas investigações envolvendo seres humanos, conforme a Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 2012). Em princípio, encaminhou-se uma cópia do projeto de pesquisa ao Sistema Municipal Saúde-Escola de Fortaleza solicitando autorização para realizar o estudo na referida Unidade de Atenção Primária à Saúde. Posteriormente o projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa para apreciação e autorização para coletar dados. O projeto foi aprovado pelo CEP da Universidade Estadual do Ceará (UECE), com parecer favorável, sob protocolo n0 201.296. Todos os sujeitos foram convidados e previamente informados acerca dos objetivos, da justificativa e procedimentos desta pesquisa. Foram-lhes garantidos o sigilo de identidade, o livre consentimento e a opção de participar ou não da pesquisa, podendo desistir a qualquer momento, sem que isso lhes trouxesse qualquer prejuízo. Os riscos foram mínimos porque a coleta de dados ocorreu por meio da consulta de enfermagem. Durante as mensurações não houve nenhum desconforto ou constrangimento, mas a pesquisadora estava preparada para algum imprevisto, sobretudo porque a glicemia capilar já é rotina para o paciente em tratamento do diabetes. Foram respeitados os princípios da beneficiência ao grupo de intervenção, o qual se deu pelo acompanhamento com um cuidado fundamentado teoricamente, durante os meses de estudo; e da não maleficência ao grupo controle, já que continuou recebendo a assistência de enfermagem desenvolvida institucionalmente. Por se conhecer as dificuldades do paciente na adesão ao tratamento do diabetes mellitus, os benefícios deste tornam-se indispensáveis para melhorar a adesão às medidas usadas no controle do diabetes. Com as intervenções observou-se a melhora na conduta desta doença. Assegurou-se a privacidade, de forma a proteger a imagem e a identidade dos participantes, evitando-lhes todo e qualquer prejuízo. Os valores sociais, culturais, morais e religiosos também foram respeitados. Estabeleceu-se como meta a divulgação dos resultados do estudo em espaços científicos, como congressos, simpósios, encontros, além da comunidade onde este foi realizado de acordo com a Resolução 466 (BRASIL, 2012), com objetivo de dar retorno por meio de benefícios para as pessoas e a comunidade onde a pesquisa se desenvolveu. 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO Inicia-se a apresentação dos resultados da consulta baseline dos pacientes diabéticos do estudo, tanto do grupo de intervenção quanto do grupo comparativo. Consoante proposto na Teoria de Alcance de Metas, as enfermeiras interagem com os pacientes, colhem informações, observam e medem parâmetros destes, interpretam informações (KING, 1981). Na Tabela 1, consta o perfil socioeconômico dos pacientes diabéticos participantes do estudo. Tabela 1: Perfil socioeconômico de pacientes com diabetes mellitus participantes do estudo. Fortaleza-CE, 2013 Variável Grupo de Intervenção Grupo Comparativo No SEXO Feminino Masculino IDADE 35 a 59 anos 60 a 79 anos 80 a 87 anos ESTADO CIVIL Casado Viúvo Solteiro/separado ANOS DE ESTUDO Analfabeto 1 a 5 anos 6 a 11 anos TRABALHA Sim Não n=60 1 % No % p 0,542(1) 24 6 52,2 42,9 22 8 47,8 57,1 0,347(1) 10 15 5 55,6 46,9 50 8 17 5 44,4 53,1 50 0,118(1) 19 5 6 63,3 35,7 37,5 11 9 10 36,7 64,3 62,5 0,239(1) 7 11 12 43,8 42,3 66,7 9 15 6 56,2 57,7 33,3 0,448(1) 5 25 62,5 48,1 3 27 37,5 51,9 teste do qui-quadrado. Como se pode evidenciar na Tabela 1, para as variáveis expostas, houve diferença quanto à sua frequência nos grupos estudados, porém não foi estatisticamente significante, pois p ≥ 0,05. Com base nos dados apresentados, pode-se observar o seguinte: Em relação à característica sexo, 46 (76,7%) dos participantes do estudo são do sexo feminino; destes, 24 (52,2%) foram integrantes do grupo de intervenção e 22 (47,8%) participaram no grupo comparativo. Não houve diferença estatística significante entre os dois grupos. Resultado semelhante a esta investigação foi observado em outros estudos com pacientes com diabetes mellitus nos quais a amostra foi predominantemente feminina. No estudo de Marinho et al. (2012), encontraram-se 88,1% da amostra do sexo feminino; em Torres et al. (2011), 77,8% da amostra obtida também eram do sexo feminino; no de Torres, Roque e Nunes (2011), o sexo feminino foi identificado em 69,8%, além de 58% no estudo de Boas et al. (2012). Em contraposição aos dados encontrados nesta pesquisa, a maior frequência de diabetes segundo dados do Ministério da Saúde, na população adulta das 26 capitais e do Distrito Federal, verificou-se no sexo masculino, com 8,3% em Fortaleza. Quanto ao sexo feminino nesta cidade, referiram ser portadoras de diabetes 6,5% da população acima de 18 anos. Sobre a frequência dos que referiram diagnóstico prévio de diabetes, foi de 5,6%, variando entre 2,3% em Palmas e 7,3% em Fortaleza (BRASIL, 2012). Cabe enfatizar: desenvolve-se uma política de saúde mais voltada para a população feminina, em que se assiste a mulher na sua etapa reprodutiva. Acrescida a estes aspectos está a realidade populacional do Estado do Ceará onde 51,3% da população é feminina (BRASIL, 2010). A faixa etária variou de 35 a 87 anos, com média de 67,2 ± 11,9 anos. Como se percebeu, 42 (70,0%) dos pesquisados possuíam idade superior a 60 anos. Destes, 20 (33,3%) participaram no grupo de intervenção e 22 (36,7%) no grupo comparativo, mas não houve significância estatística entre os dois grupos analisados. Embora o diabetes possa ocorrer em qualquer fase, sua prevalência tende a aumentar com a idade. Inegavelmente, o diabetes é um sério problema, capaz de atingir todas as faixas etárias, e quando atinge faixas etárias menores, a pessoa conviverá durante muitos anos com as comorbidades decorrentes da doença, a qual interfere na qualidade e na expectativa de vida. Em estudo multicêntrico sobre a prevalência do diabetes no Brasil, a influência da idade foi evidenciada pelo incremento de 2,7% na faixa etária de 30 a 59 anos para 17,4% na de 60 a 69 anos, ou seja, um aumento de 6,4 vezes (DIRETRIZES, 2013). Conforme dados do Ministério da Saúde, em ambos os sexos, o diagnóstico de diabetes se tornou mais comum com o avançar da idade, para homens a partir de 45 anos e para mulheres a partir de 35 anos (BRASIL, 2012). Como consta em Torres, Roque e Nunes (2011), segundo estudos nacionais e internacionais, o diabetes tem um pico de incidência ao redor dos 50 anos de idade. Ainda de acordo com estes autores, a predominância de diabetes ocorreu em pacientes com mais de 60 anos de idade. Esta predominância também esteve presente no estudo de Torres et al. (2011) onde a idade média dos pacientes foi de 60,9 ± 8,4 anos. Tal resultado corrobora outro estudo com populações de diabéticos, a exemplo do descrito por Rocha, Zanetti e Santos (2009) que apresentaram 56,4% da amostra com idade superior a 60 anos. O número de indivíduos diabéticos está em ascensão em virtude do crescimento e envelhecimento populacional, da maior urbanização, da crescente prevalência de obesos e sedentários, bem como da maior sobrevida dos pacientes diabéticos (DIRETRIZES, 2013). Nas palavras de Torres, Roque e Nunes (2011, p.92), “deve-se levar em consideração a relação entre este envelhecimento e associação com a presença de doenças crônicas não transmissíveis, em especial o diabetes, mais prevalente entre as mulheres e as pessoas de maior idade”. Diante desta problemática da população idosa acometida por diabetes, podem-se ressaltar ainda as dificuldades e limitações inerentes à idade, quando o processo de envelhecimento acarreta alterações físicas, psíquicas e sociais, com diminuição gradual e progressiva da capacidade funcional, podendo comprometer o seguimento e o tratamento do diabetes. No referente ao estado civil, 30 (50,0%) eram casados. Como em outras investigações sobre diabetes, a maioria é casada. No estudo de Marinho et al. (2012), 60,4% eram casados ou mantinham união estável; no de Boas et al. (2012), 70,4% eram casados. Pode-se enfatizar também os viúvos do presente estudo, 14 (23,3%) da amostra, o que condiz com Otero, Zanetti e Teixeira (2007), segundo os quais 18,5% dos pacientes estudados eram viúvos. Ainda como enfatizam, isso pode constituir um fator que interfere no tratamento de diabetes, porquanto, em alguns casos, a perda do companheiro pode se associar a outras alterações, a exemplo de depressão, desânimo e perda da vontade de viver. Otero, Zanetti e Teixeira (2007) ressaltam que famílias estruturadas possibilitam ambiente mais apropriado, como apoio ao paciente com diabetes, influenciando-lhe fortemente o comportamento diante da doença, levando-o a colaborar para melhor obtenção do controle metabólico. Na pesquisa em foco, observou-se baixa escolaridade nos participantes. Nela a escolaridade variou de analfabetos a onze anos de estudo, com média de 4,1 ± 3,2. A predominância foi de 26 (43,3%), que tinham de um a cinco anos de estudo. Consoante se percebe, esta realidade é semelhante à macrorrealidade brasileira e aos outros países em desenvolvimento e aos subdesenvolvidos onde há uma precária educação. Existe, portanto, uma parte considerável da população desprovida de acesso a esta ou, quando têm acesso, a qualidade fica a desejar. Esse cenário da realidade educacional do Brasil é explicitado no Censo de 2010 sobre a educação segundo o qual 9,6% da população brasileira de 15 anos ou mais de idade era analfabeta. Na região Nordeste identificou-se a maior taxa de analfabetismo nesta população, e no Estado do Ceará este indicador é de 17,2% (BRASIL, 2010). No estudo de Torres, Roque e Nunes (2011), a escolaridade de ensino fundamental incompleto foi encontrada em 49,2% dos pacientes; no de Marinho et al.(2012), realizado em uma cidade no interior do Ceará, 39,4% cursaram o ensino fundamental incompleto; no de Boas et al. (2012), a média de escolaridade foi de 5,4 ± 3,9 anos de estudo; para Miyar-Otero et al. (2010) prevaleceu o baixo nível de escolaridade, pois 35,5% tinham ensino fundamental incompleto e 9,7% eram analfabetos. A baixa escolaridade é preocupante, em especial porque a formação escolar básica é o fundamento para uma melhor compreensão do processo saúde-doença de modo geral, e sobretudo para diabéticos, que requerem uma compreensão específica do desenvolvimento da doença e como fator de risco para complicações agudas e crônicas. Exigem-se, pois, mudanças nos comportamentos, atitudes e hábitos de vida da população. Quanto ao trabalho, a maioria, 52 (86,7%), não exerciam nenhuma atividade ou eram aposentados. Esses dados estão congruentes com a idade dos sujeitos investigados. Contudo, 8 (13,3%) ainda estão inseridos no mercado de trabalho. No estudo de Otero, Zanetti e Teixeira (2007), 24,1% da sua população ainda desenvolvia atividades laborais. No presente estudo defende-se a ideia segundo a qual a orientação e o conhecimento necessários para adesão ao tratamento do diabético dependem da comunicação estabelecida na interação enfermeiro-paciente, utilizando-se uma linguagem apropriada à realidade local da clientela. Cabe enfatizar: para a randomização dos participantes do estudo, que ocorreu aleatoriamente, as variáveis apresentam diferentes frequências, porém não são estatisticamente significantes. Quanto aos fatores de risco, podem-se observar na Tabela 2 os que contribuem para complicações. Tabela 2: Distribuição da frequência dos fatores de risco de pacientes com diabetes mellitus participantes do estudo. Fortaleza-CE, 2013 Grupo de Intervenção Grupo Comparativo p Variável NO % NO % FUMA Sim 1 14,3 6 85,7 0,44(1) Não 29 54,7 24 45,3 BEBE Sim Não 3 27 50,0 50,0 3 27 50,0 50,0 1,00(1) ATIVIDADE FÍSICA Não Sim 20 10 47,6 55,6 22 8 52,4 44,4 0,573(1) PARTICIPA DE GRUPOS Não Sim 23 7 53,5 41,2 20 10 46,5 58,8 0,390(1) n=60 1teste do Qui-quadrado Como se pode perceber, para as variáveis analisadas, há aspectos positivos do estilo de vida dos diabéticos, tanto no grupo de intervenção quanto no grupo comparativo. Consoante já comentado, essas diferenças entre os dois grupos não denotaram significância estatística. Portanto, espera-se que não interfiram no acompanhamento dos pacientes com base na Teoria de Alcance de Metas. Em relação ao tabagismo, sete pacientes declararam-se fumantes, constituindo 11,7% da amostra da pesquisa. Destes, 1 (14,3%) participou no grupo de intervenção e 6 (85,7%) no grupo comparativo. Sobre este aspecto, no grupo de intervenção, o paciente que referiu ser tabagista fumava há mais de quarenta anos, e vinte cigarros/dia. No grupo comparativo, dois pacientes fumavam cinco cigarros/dia; um, oito cigarros/dia; outro, quinze cigarros/dia; e dois disseram fumar vinte cigarros/dia. Referente ao tempo, um relatou ser tabagista há quatro anos, um há vinte anos e os outros quatro há mais de quarenta anos. Conforme o estudo de Boas et al. (2012), o tabagismo foi encontrado em 6,2% dos pacientes atendidos no serviço de ambulatório da atenção terciária. Urge, pois, a cessação do fumo, tanto na prevenção primária como na secundária. Ainda como afirmam, o fumo é o fator de risco mais importante para o desenvolvimento e a progressão da doença arterial obstrutiva periférica no paciente diabético (DIRETRIZES, 2013). No presente estudo identificaram-se 8 (13,3%) pacientes que haviam parado de fumar, cinco no grupo de intervenção e três no grupo comparativo. Já no estudo de Otero, Zanetti e Teixeira (2007), 35,2% dos pacientes eram ex-fumantes. Ademais, a prática de etilismo esteve presente em 6 (10,0%) dos pacientes, sendo igualmente distribuídos nos dois grupos, 3 (50,0%) em cada um. No grupo de intervenção, encontraram-se dois pacientes que faziam uso há mais de quarenta anos, uma vez por semana, e um há mais de vinte anos, também uma vez por semana. No grupo comparativo, um referiu beber há dez anos, duas vezes por semana; outro faz uso de álcool há vinte anos, duas vezes por semana; e um tem o hábito há mais de quarenta anos, e faz uso duas vezes por semana. No estudo de Boas et al. (2012), realizado em um ambulatório de nível terciário, o consumo de bebida alcoólica foi mencionado por 19,8% dos participantes. Na pesquisa de Otero, Zanetti e Teixeira (2007), desenvolvida no interior de São Paulo, no tocante ao álcool, 50% dos pacientes ingeriam bebidas alcoólicas, e a maioria (88,8%) referiu fazer uso socialmente. De acordo com as Diretrizes (2013), a ingestão excessiva de etanol (>30g/dia) é associada com alteração da homeostase glicêmica, elevação da resistência insulínica e pressão arterial, podendo também ser fator de risco para acidente vascular cerebral. Ainda como refere, deve ser feita restrição total de bebidas alcoólicas a diabéticos adolescentes, gestantes, lactantes, entre outros. Quanto à atividade física, no início da pesquisa, 18 (30,0%) dos participantes já a praticavam. Destes, 2 (3,4%) o faziam duas vezes por semana, 6 (10,0%) três vezes por semana, 5 (8,5%) quatro vezes por semana e também 5 (8,5%) praticavam cinco dias por semana. Dentre os praticantes de atividade física, 2 (3,4%) faziam há menos de um ano, 8 (13,4%) entre um e quatro anos, 4 (6,6%) já a adotavam de cinco a oito anos, e 4 (6,6%) há mais de dez anos. Entre os que praticavam alguma atividade física, 10 (55,6%) participaram no grupo de intervenção e 8 (44,4%) no grupo comparativo. Ao tratar de hábitos de vida, como afirmam Otero, Zanetti e Teixeira (2007), 57,4% dos pacientes diabéticos usuários da atenção primária à saúde executavam algum tipo de atividade física. No estudo de Boas et al. (2012), 55,5% dos participantes mencionaram a prática de atividade física (regular ou esporadicamente). Para Faria et al. (2013), é inquestionável o papel do exercício físico regular e do seguimento do plano alimentar no controle do diabetes, bem como na prevenção de complicações micro e macrovasculares. Como as Diretrizes (2013) reafirmam, existem evidências consistentes dos efeitos benéficos da prática de atividade física na prevenção e no tratamento do diabetes mellitus, principalmente nos grupos de maiores riscos, como os obesos e os familiares de diabéticos. Também segundo a mesma fonte, a prática de atividade física atua sobre o controle glicêmico e sobre outros fatores de comorbidades, como a hipertensão e a dislipidemia, reduzindo o risco cardiovascular. Ressalta-se, ainda: a prevenção da doença cardiovascular no diabetes está associada ao tratamento de fatores de risco como: hipertensão, dislipidemia, obesidade, tabagismo e sedentarismo (DIRETRIZES, 2013) No tocante à religião, a mais prevalente foi a católica, 53 (88,3%) dos pacientes, seguida por 7 (11,7%) evangélicos. Dos pacientes em estudo 17 (28,3%) disseram participar de atividades de grupo. Destes, 7 (41,2%) estavam no grupo de intervenção, 1 (14,3%) participava de associação de moradores e 6 (85,7%) de grupos religiosos; no grupo comparativo, 4(40,0%) participavam de atividades desenvolvidas pelos bombeiros, 2(20,0%) de associação de moradores e 4 (40,0%) de grupos religiosos. Na Tabela 3, expõe-se a distribuição da frequência dos pacientes segundo doenças e complicações. Tabela 3: Distribuição da frequência dos pacientes segundo doenças e/ou complicações referidas pelos participantes do estudo. Fortaleza-CE, 2013 VARIÁVEL Grupo de Intervenção No Grupo Comparativo % No % p HAS Sim Não 24 6 52,2 42,9 22 8 47,8 57,1 0,542(1) DISLIPIDEMIA Sim Não 13 17 50,0 50,0 13 17 50,0 50,0 1,000(2) PÉ DIABÉTICO Sim Não 3 27 42,9 50,9 4 26 57,1 49,1 0,688(1) AMPUTAÇÃO Sim Não 0 30 0,0 50,8 1 29 100,0 49,2 0,236(2) RETINOPATIA Sim Não 9 21 42,9 53,8 12 18 57,1 46,2 0,417(1) INSUFICIÊNCIA RENAL Sim Não 0 30 0,0 50,8 1 29 100 49,2 0,236(2) AVC Sim Não 1 29 50,0 50,0 1 29 50,0 50,0 1,000(2) 15 15 51,7 48,4 14 16 48,3 51,6 0,796(1) ESTRESSE REFERIDO Sim Não n=60 1 teste do qui-quadrado; 2 razão de verossimilhança. Como observado, um dado negativo levantado na clientela estudada é que 46 (76,7%) são hipertensos. Destes, 1 (1,7%) referiu ter hipertensão há menos de um ano, 14 (23,3%) referiram tê-la entre um e cinco anos, 17 (28,3%) de seis a quinze anos e 14 (23,3%) há mais de dezesseis anos. Dos que apresentavam hipertensão, 24 (52,2%) participaram no grupo de intervenção e 22 (47,8%) no grupo comparativo. Não houve significância estatística entre os dois grupos. Hipertensão arterial e diabetes mellitus são condições clínicas frequentemente associadas. Cerca de 40,0% já se encontram hipertensos por ocasião do diagnóstico de diabetes. Ressalta-se, pois, a importância do tratamento da hipertensão arterial nos diabéticos, tanto para prevenção da doença cardiovascular quanto para minimizar a progressão da doença renal e da retinopatia diabética (DIRETRIZES, 2013). Na investigação de Sampaio et al. (2008), a hipertensão arterial foi a comorbidade mais presente entre os indivíduos com diabetes 70,9% em comparação com outras doenças associadas. Na de Otero, Zanetti e Teixeira (2007), 61,1% dos pacientes apresentavam hipertensão arterial associada. Este achado é equivalente ao encontrado no estudo de Faustino et al. (2011), onde 59,4% eram hipertensos. Em Faria et al. (2009), a hipertensão arterial aparece como a principal comorbidade em 56,5% dos pacientes diabéticos, seguida pela dislipidemia, 43,5%, e a obesidade 41,3% dos pacientes. Quanto às dislipidemias, foi relatada no presente estudo por 26 (43,3%) pacientes, divididos igualmente nos dois grupos. Nas Diretrizes (2013), a dislipidemia é um preditor expressivo de doença cardiovascular e deve ser rigorosamente tratada. Ainda como expõe, o tratamento da hipertensão arterial e dislipidemia reduz substancialmente o risco de complicações do diabetes mellitus. De acordo com a pesquisa de Boas et al. (2012), entre as comorbidades de maior frequência constaram as dislipidemias e a hipertensão arterial sistêmica. Consoante Faria et al. (2013), as principais comorbidades identificadas foram a hipertensão arterial em 81,3% dos pacientes usuários da atenção primária e dislipidemia em 32,4% destes pacientes. Diferentemente destes dados, tem-se o estudo de Faustino et al. (2011), no qual 2,0% dos participantes referiram dislipidemias. Conforme divulgado, é evidente o impacto social e financeiro do diabetes mellitus e se relaciona essencialmente com suas complicações, sobretudo aquelas que acometem os membros inferiores. Nesta perspectiva, a pessoa com diabetes requer um cuidado especial com os pés. Segundo identificado no presente estudo, 7 (11,7%) dos pacientes referiram ter ou já ter tido pé diabético. No Consenso Internacional de Pé Diabético, este é conceituado como infecção, ulceração e/ou destruição de tecidos moles associados a alterações neurológicas e vários graus de doença arterial periférica nos membros inferiores. Como consta em Audi et al. (2011), na avaliação dos membros inferiores, 16% dos pacientes apresentavam úlceras ou amputações. Nos países em desenvolvimento, a infecção é, ainda, a complicação mais comum das úlceras, e grande parte destas pode ser tratada ambulatorialmente. As pesquisas recentes expressam uma incidência entre 1,0% e 4,1%, e a incidência de ulceração ao longo da vida nas pessoas com diabetes tem sido estimada em 25%, e 85% das úlceras precedem as amputações (AUDI et al., 2011). Este binômio úlcera e infecção constitui a causa mais comum de internações prolongadas, e concorre para 25% das admissões hospitalares nos Estados Unidos (DIRETRIZES, 2013). Nos pacientes em estudo, 1 (1,7%) havia sofrido amputação, há três anos. Em Laurindo et al. (2005), as amputações estavam presentes em 5,0% dos pacientes atendidos no ambulatório do hospital da base de São José do Rio Preto (SP). Quando se trata de diabetes, um problema de grande relevância é o aspecto mutilador da amputação, pelo impacto socioeconômico global. A cada minuto, ocorrem duas amputações em todo o mundo decorrentes do diabetes (DIRETRIZES, 2013). Ressalta-se também a retinopatia diabética como uma das mais graves complicações relacionadas ao diabetes mellitus. Como constatado, estava presente em 21 (35,0%) dos sessenta participantes do estudo. Esta complicação constitui a principal causa de cegueira em pessoas com idade entre 20 e 74 anos. No Brasil, ainda não se tem com exatidão a prevalência de retinopatia, mas sabe-se que, após vinte anos de doença, mais de 90,0% dos diabéticos tipo 1 e 60% daqueles com tipo 2 apresentarão algum grau de retinopatia. De acordo com estudos realizados em diferentes regiões do país, a prevalência é de 24,0% a 39,0% (DIRETRIZES, 2013). No estudo de Faria et al. (2013), quanto às complicações crônicas, a retinopatia esteve presente em 37,8% e a cardiopatia em 20,3% dos diabéticos. Já a nefropatia diabética foi identificada em 1 (1,7%) paciente, que há três anos realizava hemodiálise, três vezes por semana. Esta complicação crônica do diabetes está associada ao importante aumento de mortalidade, em especial relacionado com a doença cardiovascular (DIRETRIZES, 2013). Para Fráguas, Soares e Silva (2008), a doença renal crônica e o início do tratamento de diálise englobam situações que comprometem os aspectos físicos e psicológicos, com repercussões pessoais, familiares e sociais. Assim, é necessário reaprender a viver num mundo permeado por procedimentos técnicos, consultas e exames. Para Zagury e Zagury (2009), quando o diabetes ocorre de forma isolada predispõe o paciente a um alto risco para eventos cardiovasculares, entretanto, quando esta comorbidade coexiste com a hipertensão, o risco de acidente vascular cerebral e doença coronariana duplica e a ocorrência de estágios avançados da doença renal aumenta 5 a 6 vezes. No presente estudo, acidente vascular cerebral já acometeu 2 (3,3%) pacientes; um em cada grupo de estudo. Segundo Zagury e Zagury (2009), a hipertensão, quando está associada a diabetes, aumenta substancialmente o risco de acidente vascular cerebral, retinopatia, nefropatia e doença coronariana. Nos EUA, a doença arterial coronariana é uma causa importante de óbitos, e sua primeira manifestação é o infarto do miocárdio ou a morte súbita, em cerca de 25,0% dos pacientes diabéticos (DIRETRIZES, 2013). Na pesquisa ora exposta, nenhum paciente tinha sofrido infarto agudo do miocárdio. Ademais, 29 (48,0%) pacientes referiram enfrentar fatores estressantes, seja no cotidiano familiar, seja nas situações de trabalho, seja no enfrentamento da doença. Destes, 15 (51,7%) participaram no grupo de intervenção e 14 (48,3%) no grupo comparativo. As complicações crônicas do DM estão cada vez mais frequentes. Entre estas, aumento do risco de doenças cardiovasculares, distúrbios neurológicos, úlceras, amputações, retinopatia e nefropatia, em virtude de alterações nos níveis de glicose (MASCARENHAS et al., 2011; RAO et al., 2010; MOREIRA et al., 2008; BAINBRIDGE, 2008). No entanto, o diagnóstico precoce e um plano de prevenção rigoroso podem ser eficazes para reduzir a quantidade de complicações nesta população. Na Tabela 4, expõe-se a distribuição de doenças familiares dos participantes do estudo. Tabela 4: Distribuição de doenças familiares dos pacientes participantes do estudo. Fortaleza-CE, 2013 VARIÁVEL Grupo de Intervenção No Grupo Comparativo p % No % 16 14 44,4 58,3 20 10 55,6 41,7 0,292(1) 11 5 50,0 35,7 11 9 50,0 64,3 0,693(1) 20 10 55,6 41,7 16 14 44,4 58,3 0,292(1) 10 9 1 58,8 52,9 50,0 7 8 1 41,2 47,1 50,0 FAMILIAR DIABÉTICO Sim Não QUAL FAMILIAR DIABÉTICO Pai/mãe Irmãos FAMILIAR HIPERTENSO Sim Não QUAL FAMILIAR HIPERTENSO Pai/mãe Irmãos Outros n=60 1 0,930(2) teste do qui-quadrado; 2razão de verossimilhança. Consoante evidenciado, a história familiar e a obesidade parecem ter efeito aditivo no risco de desenvolvimento de diabetes. Para diabetes gestacional e para diabetes pós-transplante, a história familiar de diabetes em parentes de primeiro grau é considerada um fator de risco (DIRETRIZES, 2013). Como observado, o diabetes mellitus referido como comorbidade em familiares foi relatado por 36 (60,0%) dos pacientes do estudo. Destes, 16 (44,4%) estavam no grupo de intervenção, e conforme relataram, 11 (50,0%) são pai/mãe, 5 (35,7%) irmãos; no grupo comparativo foram 20 (55,6%). Destes, 11 (50,0%) são acometidos pai/mãe, 9 (64,3%) irmãos. Em Otero, Zanetti e Teixeira (2007), 79,6% dos pacientes mencionaram diabetes mellitus em familiares. No estudo de Faustino et al. (2011), foram identificados 54,5% de casos de familiares com diabetes. Cabe ressaltar: na infância, o diagnóstico de diabetes mellitus tipo 2 deverá ser feito considerando critérios clínicos como idade e sexo do paciente, presença de obesidade e história familiar positiva para diabetes tipo 2. Segundo o Consenso da Associação Americana de Diabetes (ADA), deverá submeter-se à triagem para diabetes mellitus tipo 2 na infância toda criança obesa, que apresente dois ou mais dos fatores de risco: história familiar com diabetes em parentes de primeiro e segundo grau; grupos étnicos de risco, como índios americanos, afro-americanos, hispânicos, asiáticos/habitantes de ilhas do Pacífico; sinais de hipertensão arterial, dislipidemia, síndrome dos ovários policísticos. Na maioria dos pacientes, o diagnóstico de diabetes mellitus 2 poderá ser baseado na clínica e no curso da doença. No entanto, este deve ser suspeito, sobretudo nos pacientes adolescentes, negros, obesos, muitas vezes sem queixas clínicas, mas com história familiar da doença presente (DIRETRIZES, 2013). No estudo em foco, 36 (60,0%) pacientes afirmaram familiares terem hipertensão arterial sistêmica. Destes, 20 (55,6%) participaram no grupo de intervenção e, como relataram, 10 (50,0%) são pai/mãe, 9 (45,0%) irmãos e 1 (5,0%) outro familiar; e no grupo comparativo foram 16 (55,6%). Destes, 7 (43,7%) são acometidos pai/mãe, 8 (50,0%) irmãos e 1 (6,3%) outro familiar. Em Otero, Zanetti e Teixeira (2007), nos antecedentes familiares, a hipertensão arterial foi referida em 72,2% dos pacientes. No estudo de Faustino et al. (2011), com usuários da unidade básica de saúde da família na Paraíba, realizado com pacientes obesos, foram citados no histórico familiar de morbidades, mencionadas por 81,6% hipertensão arterial, por 73,8% obesidade, por 38,9% cardiopatas e por 2,0% dislipidemias. Ao investigar os antecedentes familiares, os dados encontrados estão em concordância com a literatura que aponta como fatores de risco a hereditariedade e as comorbidades para o surgimento de diabetes (BRASIL, 2004). Na Tabela 5, relacionamse o conhecimento e percepções dos pacientes diabéticos. Tabela 5: Conhecimento e percepções dos participantes do estudo sobre o diabetes. Fortaleza-CE, 2013 VARIÁVEL Grupo de Intervenção No Grupo Comparativo % No % p CONHECIMENTO SOBRE A DOENÇA Não Sim 13 17 48,1 51,5 14 16 51,9 48,5 0,795(1) DIFERENÇA POR SER DIABÉTICO Sim Não 18 12 58,1 41,4 13 17 41,9 58,6 0,196(1) RELACIONAMENTO FAMILIAR Ótimo Estável Difícil 7 22 1 43,8 55,0 25,0 9 18 3 56,2 45,0 75,0 0,438 (1) n=60 1teste do qui-quadrado. Consoante referido no processo de interação enfermeiro-paciente, da Teoria de Imogene King, cada indivíduo traz seus conhecimentos, necessidades, percepções e experiências pessoais que influenciam no processo para o alcance de metas (KING, 1981). No tocante aos conhecimentos sobre diabetes mellitus, 27 (45,0%) dos pacientes disseram saber o que é diabetes, suas complicações e forma de prevenção. Destes, 13 (48,1%) estavam no grupo de intervenção e 14 (51,9%) no grupo comparativo. Não houve significância estatística entre os dois grupos. Conforme Faria et al. (2013), quanto maior o tempo de diagnóstico do diabetes mellitus, espera-se maior conhecimento sobre a doença, melhor entendimento e manejo do esquema terapêutico e, consequentemente, maior adesão ao tratamento indicado. No entanto, os profissionais de saúde devem ponderar com os pacientes idosos, pois pode ocorrer declínio da capacidade cognitiva e motora, maior grau de dependência para as ações de autocuidado, como tomada de medicamento e seguimento do plano alimentar e de exercício físico. De modo geral, o conhecimento é usado quando enfermeiras interagem com pacientes numa variedade de sistemas de saúde. Neste processo de interação, trocam ideias por meio da comunicação, seja verbal ou não verbal. Mas quando as metas são incongruentes, os conflitos podem ocorrer e aumentar o estresse em ambas (KING, 1981). Na investigação de Faria et al. (2009), o conhecimento do paciente em relação ao medicamento do qual faz uso apresenta ligação direta com a compreensão da importância e necessidade do tratamento. Vários fatores influenciam no dia a dia das pessoas com diabetes, desde a alimentação diferenciada, uso contínuo de medicação, dor em face de glicemia e/ou uso de insulina, complicações agudas e crônicas, entre outros. Isto foi encontrado no estudo quando mais da metade dos pacientes, 31 (51,7%), afirmaram sentir diferença no cotidiano por serem diabéticos. Assim, prestar assistência a um paciente que luta contra um problema de saúde ou se defronta com imprevistos no respeitante à saúde é o primeiro propósito da enfermagem (KING, 1981). A Teoria de Alcance de Metas embasa-se no pressuposto segundo o qual o foco da enfermagem está nos seres humanos interagindo com seu ambiente (KING, 1981). Logo, para se acompanhar os diabéticos é importante conhecer o ambiente onde estão inseridos e sua estrutura familiar. No tangente ao relacionamento familiar, 40 (66,7%) dos pacientes do estudo referiram ter um relacionamento estável com os familiares, 16 (26,6%) mencionaram um relacionamento ótimo e 4 (6,7%) uma convivência difícil com eles. Um bom relacionamento com a família é sempre um fator positivo em qualquer situação. Para Boas et al. (2012), as orientações recebidas por pessoas diabéticas podem ser influenciadas pela família ou por outras pessoas significativas. Isto poderia levar a maior adesão, tanto nas recomendações de dieta e exercício físico quanto no tratamento medicamentoso. Ao mesmo tempo, há também a possibilidade de que essa influência possa conflitar com as recomendações dos profissionais de saúde, dificultando a adesão. Em King (1981), a comunicação é definida como um processo por meio do qual a informação é dada de uma pessoa para outra, seja diretamente nos encontros face a face, ou indiretamente, pelo telefone, televisão ou palavra escrita. A informação pode ser transmitida entre enfermeira e paciente, enfermeira e famílias e enfermeira e outros profissionais. Neste âmbito, a comunicação estabelece uma mutualidade entre cuidadores e sujeitos do cuidado. As pessoas com diabetes e seus familiares devem ser inseridas em programas de educação nutricional, mediante conscientização da importância do autocuidado e da independência quanto às decisões e atitudes referentes à sua alimentação para o controle do diabetes (DIRETRIZES, 2013). Na Tabela 6, consta a distribuição das variáveis relacionadas ao tratamento dos participantes do estudo. Tabela 6 :Distribuição das varáveis relacionadas ao tratamento dos participantes do estudo. Fortaleza-CE, 2013 VARIÁVEL Grupo de Intervenção No % Grupo Comparativo No p % CONFIA NO TRATAMENTO Sim Não 25 5 52,1 41,7 23 7 47,9 58,3 0,519(1) 13 17 43,3 56,7 17 13 56,7 43,3 0,302(1) 22 8 50,0 50,0 22 8 50,0 50,0 1,000(1) 8 12 3 0 3 0 0 4 50,0 50,0 75,0 0,0 75,0 0,0 0,0 80,0 8 12 1 3 1 1 3 1 50,0 50,0 25,0 100,0 25,0 100,0 100,0 20,0 22 8 44,9 72,7 27 3 55,1 27,3 0,095(1) 9 21 75,0 43,8 3 27 25,0 56,2 0,053(1) 18 12 52,9 46,2 16 14 47,1 53,8 0,602(1) 3 9 12 1 4 1 60,0 42,9 54,5 100,0 40 100,0 2 12 10 0 6 0 40,0 57,1 45,5 0,0 60 0,0 ADESÃO AO TRATAMENTO Adere Não adere DIFICULDADE NO TRATAMENTO Sim Não QUAIS DIFICULDADES Nega Dieta Dieta + medicamento Dieta + medic+ ativ física Dieta + atividade física Dieta + outros Atividade física Outros 0,089(2) FAZ USO CORRETO DA MEDICAÇÃO Sim Não MUDA DOSAGEM DO MEDICAMENTO Sim Não JÁ FICOU SEM TOMAR MEDICAMENTO Sim Não TRATAMENTO DEPENDE DE Dieta Dieta + medicamento Dieta + medic+ ativ física Dieta + atividade física Medicamento Outros n=60 1qui-quadrado; 2razão de verossimilhança. 0,551(1) A percepção é a representação da realidade para cada ser humano; varia de pessoa para pessoa. Busca sentido para as experiências de cada indivíduo, representa sua imagem da realidade, e o comportamento do indivíduo é influenciado (KING, 1981). No presente estudo, segundo observado, 48 (80,0%) dos pacientes referiram confiar no tratamento. Destes, 25 (52,1%) no grupo de intervenção e 23 (47,9%) no grupo comparativo. Em Boas et al. (2012), a adesão ao tratamento não medicamentoso (dieta e exercício físico) foi de 69,1% dos participantes e ao tratamento medicamentoso foi de 95,7% dos pesquisados. Determinados fatores são enumerados na Teoria de Alcance de Metas como comportamentos observáveis. Por exemplo, quando se pode ressaltar a motivação para exercer algum controle sobre os eventos na situação para alcançar os objetivos, como acordar meios para alcançá-los (KING, 1981). Em relação à adesão ao tratamento, 30 (50,0%) afirmaram aderirem. Destes, 13 (43,3%) estavam no grupo de intervenção. Sabe-se que as dificuldades encontradas pelos pacientes diabéticos envolvem a adesão à dieta prescrita ou sugerida, a disponibilidade e uso de fármacos, a disponibilidade, interesse e condição clínica de executar atividade física. Este é um item que requer mais atenção na teoria em estudo, pois, na interação enfermeira-paciente, poderá se reverter este quadro e melhorar os índices de adesão. Quando se realizou a consulta baseline deste estudo, 44 (73,3%) dos pacientes referiram dificuldades na realização do tratamento. E quando reveladas suas dificuldades, destes, 24 (54,5%) confirmaram adesão à dieta, 4 (9,1%) adesão à dieta e uso correto da medicação, 4 (9,1%) cumprimento da dieta e exercício físico, 3 (6,8%) só à prática de atividade física e 3 (6,8%) tanto no uso da medicação quanto na dieta e atividade física. E, ainda: 1 (2,3%) citou dieta e outros, e 5 (11,4%) outras dificuldades. Ainda como observado neste estudo, dos que referiram dificuldades, a dieta só ou associada a outros fatores foi citada por 36 (81,8%) dos pacientes. A segunda maior queixa é quanto à prática de atividade física, mencionada por 10 (22,7%) pacientes, em virtude de falta de tempo, falta de companhia, dificuldades de deambulação, falta de locais adequados e de segurança na área. Ao discutir percepção, King (1981) a define como cada representação da realidade. Já a interação é um processo de percepção e comunicação entre pessoas e entre pessoa e ambiente, por comportamentos verbais e não verbais, que são metadirigidos. Quando dois indivíduos estão juntos por um propósito, como uma situação de enfermagem, eles se percebem, e percebem a situação. Fazem julgamentos, agem mentalmente ou tomam uma decisão para agir. Nem todos os comportamentos são diretamente observáveis, mas fazem-se inferências sobre o que cada um percebe e pensa. De acordo com a Tabela 6, há uma alta incidência de pacientes que na consulta de enfermagem baseline referiram fazer uso correto da medicação prescrita, 49 (81,7%). Este achado corrobora o estudo de Faria et al. (2013), no qual 84,4% dos pacientes aderiram ao tratamento medicamentoso. Ao comparar os dados do presente estudo com os obtidos na investigação de Faria et al. (2009), observa-se que a falta de conhecimento acerca da terapia medicamentosa tem causado forte impacto na saúde e na qualidade de vida, principalmente naquelas pessoas com um ou mais agravos na saúde. Ademais, a utilização incorreta do medicamento pode decorrer da falta de conhecimento. Portanto, o paciente que conhece e compreende seu tratamento medicamentoso pode utilizá-lo devidamente, embora isso não assegure necessariamente o uso correto, pois envolve outros fatores. No presente estudo, 12 (20,0%) dos pacientes disseram mudar a dosagem do medicamento quando sentiam algum efeito diferente. Assim, referiram reduzir a medicação ou até mesmo nem usá-la. Na investigação de Faria et al. (2009), 39,1% dos participantes afirmaram usar corretamente a dose dos medicamentos, 30,4% de forma parcialmente correta e 26,1% de forma incorreta. Boas et al. (2012), em estudo desenvolvido em uma unidade ambulatorial de nível terciário de Ribeirão Preto, quanto à adesão medicamentosa, identificaram correlação inversa, porém de fraca magnitude, entre essa variável e valores médios de pressão arterial diastólica. Na consulta com os pacientes diabéticos participantes deste estudo, 34 (56,7%) disseram não fazer uso contínuo da medicação por falta do produto. E a queixa mais citada foi a falta de medicação nas unidades de atenção primária à saúde, por 82,4% dos pacientes. Diferentemente, consoante indicou o estudo de Araújo et al. (2012), 62,0% dos entrevistados nas unidades básicas de saúde de Fortaleza nunca haviam interrompido o tratamento farmacológico por falta de medicamentos. Entre os fatores alegados dos quais depende o tratamento, 22 (36,7%) citaram a dieta, com o uso da medicação e associada à atividade física, 21 (35,0%) a dieta associada à medicação, seguidos de 10 (16,7%) que referiram apenas o uso da medicação e 5 (8,4%) somente dieta. Portanto, o medicamento foi mencionado por 53 (88,3%) dos pacientes seja só ou associado a outro componente do tratamento, seguido pela dieta, por 49 (81,7%) pacientes. Logo, eles sabem os fatores que influenciam no seu tratamento, no entanto, isto não significa que aderem ao tratamento. Esses dados convergem com outros das Diretrizes (2013). Segundo estas, a educação para adultos mostra-se efetiva para melhorar os resultados clínicos e a qualidade de vida a curto prazo. No estudo de Faria et al. (2013), 84,4% dos pacientes aderiram ao tratamento medicamentoso, 58,6% ao exercício físico e 3,1% ao plano alimentar. Apenas 1,4% aderiu aos três componentes do tratamento. Para 47,7% dos pacientes observou-se a adesão ao tratamento medicamentoso e exercício físico. Também se constatou que 43,0% aderiram a um único componente do tratamento e 6,2% a nenhum. Sobre a distribuição das variáveis relacionadas aos hábitos alimentares dos participantes do estudo, ve-se a Tabela 7. Tabela 7: Distribuição das varáveis relacionadas aos hábitos alimentares dos participantes do estudo. Fortaleza-CE, 2013 VARIÁVEL DIETA EQUILIBRADA Segue Não segue COME MAIS QUE AS NECESSIDADES Sim Não QUANTIDADE DE AÇÚCAR Normal Pouco Não usa Grupo de Intervenção No % Grupo Comparativo No % p 22 8 46,8 61,5 25 5 53,2 38,5 0,347(1) 7 23 58,3 47,9 5 25 41,7 52,1 0,519(1) 17 9 4 77,3 32,1 40,0 5 19 6 22,7 67,9 60,0 USO DE ADOÇANTE Sim Não 25 5 46,3 83,3 29 1 53,7 16,7 0,085(1) DOCES Controla Não controla 17 13 40,5 72,2 25 5 59,5 27,8 0,024(1) COMIDAS PREPARADAS COM AÇÚCAR Café Café e suco Suco Não 4 8 2 16 44,4 88,9 100,0 40,0 5 1 0 24 55,6 11,1 0,0 60,0 SAL Normal Pouco Às vezes 9 19 2 52,9 46,3 100 8 22 0 47,1 53,7 0,0 23 7 50,0 50,0 23 7 50,0 50,0 1,00(1) 2 28 33,3 51,9 4 26 66,7 48,1 0,389(1) 8 9 5 2 4 2 40,0 47,4 62,5 28,6 100,0 100,0 12 10 3 5 0 0 60,0 52,6 37,5 71,4 0,0 0,0 USO DE SALEIRO À MESA Não Sim CONSUMO EXCESSIVO DE GORDURA Sim Não REFRIGERANTE POR SEMANA Nenhuma 1 vez 2 vezes 3 vezes 4 vezes 7 vezes n=60 1 teste do qui-quadrado; 2razão de verossimilhança. 0,005(1) 0,014(2) 0,217(2) 0,051(2) Inegavelmente, pacientes com diabetes sentem dificuldades de seguir as orientações alimentares. Diante desta situação, deve-se considerar a percepção da pessoa acerca da doença e como esta pode influenciar na melhoria do seu estado de saúde e na adesão ao tratamento. Conforme mencionado, o papel pode ser definido como uma série de comportamentos esperados das pessoas. Como profissional, o papel da enfermeira é baseado em seus conhecimentos, habilidades e valores da profissão (KING, 1981). Buscou-se, pois, incentivar a melhora dos comportamentos alimentares dos pacientes em estudo Destes pacientes, 47 (78,3%) afirmaram seguir uma dieta equilibrada. Eram 25 (53,2%) no grupo comparativo e 22 (46,8%) no grupo de intervenção. No estudo de Otero, Zanetti e Teixeira (2007), 61,1% dos pacientes avaliados na atenção básica disseram seguir o plano alimentar. Quanto ao consumo maior que as necessidades, foi referido por 12 (20,0%) dos participantes. O consumo frequente e excessivo de gorduras, açúcar e sal aumenta o risco de doenças como obesidade, hipertensão arterial, diabetes e doenças do coração (BRASIL, 2008). No quesito referente ao consumo de açúcar, 22 (36,7%) consumiam normalmente o produto, 28 (46,7%) faziam pouco uso e 10 (16,6%) não usavam. Quanto ao uso de adoçante, 54 (90,0%) dos pacientes responderam afirmativamente e 6 (10,0%) negativamente, logo, não o consumiam em nenhuma alimentação. No tocante ao consumo de doces, 42 (70,0%) disseram controlar a ingestão de doces e 18 (30,0%) não conseguem controlá-la. Sobre o preparo de alimentos com açúcar no cotidiano familiar, sobressaiu o uso de açúcar no café por 9 (15,0%) dos pacientes, no café e suco, também por 9 (15,0%) deles e somente no suco por 2 (3,3%). Contudo, 40 (66,7%) disseram não utilizar açúcar no cotidiano familiar. No tangente ao uso de sal, 17 (28,3%) o referiram como normal, 41 (68,4%) usam em quantidade reduzida e 2 (3,3%) esporadicamente. Um ponto positivo encontrado foi que 46 (76,7%) não têm a prática de colocar o saleiro à mesa, pois isto induz ainda mais ao uso excessivo de sal. Como divulgado, “o povo brasileiro consome mais de duas vezes o recomendado” (DIRETRIZES, 2013). Sobre o consumo de gorduras, 54 (90,0%) disseram não fazê-lo excessivamente, pois os níveis elevados de colesterol e triglicérides aumentam o risco de complicações aos pacientes diabéticos. Neste âmbito, a terapia nutricional tem sua importância reconhecida por entidades científicas como um componente essencial para a adesão de estilo de vida saudável. Nas estratégias nutricionais incluem-se a redução energética e de gorduras e o limite da ingestão de bebidas alcoólicas. Ademais, a ingestão de gorduras saturada e trans está positivamente associada a marcadores inflamatórios e inversamente à sensibilidade à insulina (DIRETRIZES, 2013). Sabe-se dos malefícios advindos dos refrigerantes, principalmente nos valores de açúcar e sódio presentes. Quanto ao consumo de refrigerante, apenas 20 (33,3%) responderam negativamente, 19 (31,7%) faziam uso uma vez por semana, 8 (13,3%) duas vezes por semana, 7 (11,7%) três vezes por semana, 4 (6,7%) pacientes quatro vezes por semana e 2 (3,3%) fazem uso diariamente. Dos que consomem tal bebida, 8 (20,0%) preferem refrigerante do tipo normal e 32 (80,0%) o tipo diet/light. Contudo, produtos diet ou light também podem conter teores elevados de sódio Assim, é essencial consultar as informações nutricionais nos rótulos (DIRETRIZES, 2013). Esta prática deve ser sempre adotada, e somada à educação alimentar gera afeitos positivos. Segundo Torres, Roque e Nunes (2011), o processo educativo é fundamental para o autogerenciamento dos cuidados da doença, e auxilia na redução de complicações crônicas do diabetes. Ainda como identificaram, a educação voltada para a prevenção e o controle do diabetes é um desafio para os pacientes e para os profissionais de saúde. Para discussão dos problemas detectados na consulta baseline do presente estudo, pode-se inferir que os pacientes diabéticos têm desafios quanto à adesão ao tratamento, tanto medicamentoso quanto não medicamentoso. Isto envolve a necessidade de modificações positivas no estilo de vida adotado, ou seja, é preciso ocorrer transações no processo interativo. Vale ressaltar: na rotina da unidade de saúde em investigação, a consulta de enfermagem é realizada a cada quatro meses. Entretanto, com o desenvolvimento deste estudo, como os pacientes retornavam a cada 45 dias, contribuiu-se para uma maior aproximação e avaliação das metas acordadas na interação. Defende-se a ideia segundo a qual o encontro contínuo facilita a retomada das metas de saúde estabelecidas ao longo das interações, como se mostra na Tabela 8. Tabela 8: Resultados dos exames clínicos dos participantes do estudo. Fortaleza-CE, 2013 1a consulta 2a consulta 3a consulta 4a consulta Mínima 100 100 90 110 Máxima 180 180 200 180 139,6 ± 20,3 138,2 ± 20,0 137,9 ± 22,8 137,1 ± 20,0 Mínima 70 70 60 70 Máxima 110 110 100 90 82,9 ± 9,8 84,6 ± 10,4 81,8 ± 11,9 77,5 ± 7,0 Mínima 66 74 98 72 Máxima 453 376 415 377 229,5 ± 110,3 217,6 ± 93,4 197,7 ± 79,2 167,0 ± 62,1 Mínima 80 80 90 90 Máxima 180 180 180 160 128,9 ± 21,8 127,9 ± 20,2 128,6 ± 19,6 130,0 ± 17,2 Mínima 60 50 50 50 Máxima 100 100 90 90 78,2 ± 11,2 76,1 ± 10,3 75,4 ± 10,0 78,9 ± 8,7 Mínima 78 106 80 78 Máxima 431 414 444 409 190,3 ± 88,4 199,9 ± 78,5 201,0 ± 89,7 211,4 ± 96,1 p GRUPO DE INTERVENÇÃO n=28 PAS Média(DP) 0,9471(1) PAD Média(DP) 0,0156(1) GLICEMIA Média(DP) <0,0001(1) GRUPO COMPARATIVO n=28 PAS Média(DP) 0,8864(1) PAD Média(DP) 0,2342(1) GLICEMIA Média(DP) 1 teste de Friedman 0,0124(1) Como se pode evidenciar na Tabela 8, ambos os grupos foram avaliados em quatro consultas, quando foram acompanhados quanto aos valores pressóricos e glicêmicos. Conforme mencionado, neste estudo empregou-se a Teoria de Alcance de Metas, e para isso os pacientes foram divididos em dois grupos: grupo de intervenção e grupo controle. Na teoria utilizam-se conceitos abstratos que podem ser divididos em seres humanos, ambiente, saúde e sociedade, e quando são de conhecimento da enfermeira, ajudam-na a entender que por meio das interações humanas, baseadas em percepções, seres humanos desenvolvem atividades da vida diária em vários papéis. Com a intenção de que cada paciente assuma seu papel no tratamento, abordaram-se as transações, as quais, para a teoria em estudo, representam uma situação da vida onde cada pessoa entra na situação como um participante ativo, e pode ser modificada no processo dessa experiência. É um fluxo contínuo de eventos que, em ordem sucessiva implica mudanças (KING,1981). Quanto aos valores da pressão arterial sistólica (PAS), no grupo de intervenção, a redução destes valores não foi estatisticamente significante. Caiu apenas 2,5 mmHg na média das PAS, do início até o término do estudo, sempre ultrapassando o valor recomendado pela Sociedade Brasileira de Diabetes para pacientes com DM. Ou seja, apesar dessa diminuição, os valores da média não se mantiveram dentro dos padrões de normalidade. Em relação ao valor mínimo, houve um leve aumento, comparando-se a primeira com a última consulta, conforme mostra a Tabela 8. De acordo com as Diretrizes (2013), a pressão arterial sistólica no paciente com diabetes deve ficar abaixo de 130 mmHg, idealmente, abaixo de 120 mmHg. Ademais, a associação de mais de um agente anti-hipertensivo pode ser necessária e recomendada para se manter dentro dos valores desejáveis. Nos valores da pressão arterial diastólica (PAD), houve diminuição estatisticamente significativa, (p=0,0156), ao se comparar a primeira com a última consulta, e a segunda consulta em relação à quarta (p=0,0047) também foi significante. A redução verificada na média das PAD foi de 5,4 mmHg do início ao término do estudo, mas ao final a média destes pacientes do grupo de intervenção apontava valores de PAD dentro dos padrões recomendados pelas Diretrizes (2013) para pacientes com DM. Nos valores da máxima da PAD, porém, houve uma redução de 20 mmHg, logo, próximo ao recomendado. Em relação ao valor mínimo, manteve-se o mesmo, conforme mostra a Tabela 8. Os valores glicêmicos tiveram diminuição de 62,5 na média das glicemias, do início ao término do estudo. Mas apesar dessa diminuição, os valores da média não se mantiveram dentro dos padrões de normalidade. Quanto aos valores glicêmicos, houve uma redução estatisticamente significativa. E quando comparada cada consulta com a última, encontrou-se significância estatística em todas. No referente ao valor máximo, houve redução de forma expressiva, como exposto na Tabela 8. Observou-se, porém, que quantidade significativa da amostra manteve níveis glicêmicos bem acima de 140 mg/dl nas quatro consultas efetivadas. Além disto, segundo se constatou, a glicemia capilar média manteve-se elevada nesta amostra em todos estes registros. No entanto, há de se considerar a redução gradativa nos valores da glicemia capilar média e na máxima verificada nas consultas, que não foi capaz de assegurar um adequado controle glicêmico dos pesquisados. Como este estudo foi realizado em um curto espaço de tempo, esperava-se que nos meses seguintes se atingiriam os valores idealizados. Consoante proposto, o controle glicêmico é melhor avaliado e mais clinicamente fundamentado pela combinação dos resultados da automonitorização domiciliar da glicemia e dos níveis de hemoglobina glicada (DIRETRIZES, 2013). Em relação ao grupo comparativo, encontrou-se o seguinte: Nos valores da pressão arterial sistólica houve aumento nos valores mínimos e médios da PAS, mas não foi significante estatisticamente. No valor mínimo encontrado houve um acréscimo, passando de 80 para 90 mmHg, porém no valor máximo, verificou-se uma redução de 180 para 160 na última consulta. Quanto à média encontrada, sofreu um acréscimo de 1,1 mmHg da primeira para a última consulta. Sobre os valores da pressão arterial diastólica, ocorreu diminuição não estatisticamente significante entre os valores da PAD; nos valores da mínima da PAD, houve uma redução de 10 mmHg, ficando nos padrões de ideal recomendados pelas Diretrizes (2013). Para os valores da máxima da PAD, verificou-se também uma redução de 10 mmHg, portanto, próximo ao recomendado. Quanto às PAD médias, houve redução na segunda e na terceira consulta, mas na última esta média superou a média do início do estudo. Nos valores de glicemia no grupo comparativo da pesquisa observou-se um aumento no valor mínimo da glicemia ao se comparar a primeira com a segunda consulta, e um decréscimo em relação à terceira, finalizando o estudo com a glicemia mínima igual à do começo deste. Em relação à glicemia máxima encontrada, identificou-se um declínio na segunda consulta, mas na terceira houve um aumento, ficando acima do valor do início do estudo. Na última, porém, este valor ficou abaixo do máximo inicial, com redução de 22,0 mg/dl. Quanto à glicemia média, verificou-se uma ascensão entre os valores de 21,1 mg/dl, e este acréscimo foi significante estatisticamente. No estudo de Boas et al. (2012), as médias da pressão arterial sistólica foram 140 mmHg (dp=22,4) e da diastólica 78 mmHg (dp=11,8). Em Sampaio et al. (2008), a pressão arterial diastólica média obtida foi de 87 mmHg. Ou seja, pelo menos, metade da amostra dos pacientes em estudo apresentavam PAD acima dos valores normais, e os valores de média e mediana da glicemia foram considerados altos, 167mg/dl e 193 mg/dl. No estudo de Miyar-Otero et al. (2010), com pacientes usuários de unidade básica de saúde, onde foram acompanhados três meses, ao se comparar a PAS obtida no início e no término do estudo houve uma redução na mediana em 2 mmHg, bem como um decréscimo do valor máximo. No referente aos valores da PAD, observou-se uma redução da média de 89 mmHg para 79,6 mmHg, bem como a redução do valor máximo de 112 mmHg para 100 mmHg. As variáveis foram analisadas no início e no final dos seis meses de coleta com cada participante nos dois grupos a fim de subsidiar a comparação das mudanças no estilo de vida dos diabéticos inseridos neste estudo de intervenção. Consoante proposto, um programa de intervenções desenvolvido com pacientes com diagnóstico de diabetes pode ser estruturado para propiciar ao indivíduo conhecimentos, atitudes e habilidades necessárias, objetivando capacitá-lo a entender e a motivar-se a participar efetivamente do regime terapêutico no dia a dia (TORRES; PEREIRA; ALEXANDRE, 2011). Santos e Torres (2012) ressaltam a necessidade de reordenar as práticas educativas em DM, e o desenvolvimento de metas de atuação nas ações educativas, buscando estabelecer estratégias de promoção, prevenção e controle da doença. A prática educativa constitui a melhor forma de conscientizar a pessoa com diabetes sobre a relevância do autocuidado, na qual paciente e enfermeiro analisam a melhor forma de controle do diabetes mellitus. Na Tabela 9 consta a análise das metas propostas para o grupo de intervenção. Tabela 9: Análise das metas propostas para o grupo de intervenção. Fortaleza-CE, 2013 METAS 10 retorno 20 retorno 30 retorno ALC NÃO ALC NÃO ALC NÃO % % % % % % Iniciar uso de adoçante/ Retirar açúcar da dieta 10 90,9 01 9,1 11 84,6 02 15,4 12 85,7 02 14,3 Iniciar/reiniciar atividade física 04 30,8 09 69,2 05 33,3 10 66,7 14 66,7 07 33,3 Fazer uso regular da medicação/ insulina 02 66,7 01 33,3 04 100 00 07 100 00 Fazer controle alimentar 01 25,0 02 75,0 03 60,0 02 40,0 05 100 00 Reduzir consumo de massas/ carboidratos 04 80,0 01 20,0 07 87,5 01 12,5 08 88,9 01 11,1 Aumentar ingesta de frutas 02 66,7 01 33,3 04 100 00 05 100 00 Ingerir refrigerante diet/light ou parar 04 80,0 01 20,0 06 85,7 01 14,3 06 85,7 01 14,3 Perder peso 01 50,0 01 50,0 03 75,0 01 25,0 03 75,0 01 25,0 Seguir consulta com nutricionista 01 50,0 01 50,0 01 33,3 02 66,7 02 50,0 02 50,0 Reduzir valor glicêmico 02 66,7 01 33,3 04 100 00 03 100 00 Controlar fatores estressores 01 33,3 02 66,7 00 04 100 03 60,0 02 40,0 ALC = meta alcançada; NÃO = meta não alcançada. A Teoria de Alcance de Metas descreve a natureza das interações enfermeirapaciente que conduzem ao alcance de metas, na qual enfermeiras propositadamente interagem com pacientes para mutuamente estabelecer metas, explorar e concordar com meios para alcançá-las. Metas mútuas estão baseadas na avaliação da enfermeira no respeitante aos problemas, distúrbios na saúde, suas percepções dos problemas. Enfermeiras e pacientes compartilham informações para buscar o alcance das metas (KING, 1981). Ainda segundo a mesma fonte, uma teoria de alcance de metas é derivada de sistemas abertos; nesta teoria, os principais elementos são manifestados no sistema interpessoal no qual duas pessoas, que normalmente são estranhas, juntam-se na organização do cuidado de saúde para ajudarem e serem ajudadas a manter um estado de saúde que permite desenvolver os papéis. Um importante fator nas interações enfermeiro-paciente é a percepção acurada, a qual representa o primeiro passo a direcionar as metas mútuas, e examina meios para buscar o alcance de metas. Nesta pesquisa, analisaram-se os pacientes do grupo de intervenção a partir das metas traçadas em comum acordo nas consultas de enfermagem baseadas na Teoria de Imogene King. Como observado na consulta de enfermagem baseline, um paciente praticava atividade física, fazia controle rigoroso da dieta e mantinha níveis glicêmicos controlados. Traçou-se, então, como meta manter estas práticas, as quais foram cumpridas pelo paciente nos três retornos. Quanto à meta de iniciar o uso de adoçante/retirar o açúcar da dieta, foi estabelecida em comum acordo com onze pacientes do grupo de intervenção. Destes, 10 (90,9%) mostraram resultado no primeiro retorno. A mesma meta foi determinada para treze pacientes na segunda consulta. Destes, 11 (84,6%) referiram conseguir atingir a meta traçada. Dos quatorzes para os quais foi traçada esta meta na terceira consulta, ao retornarem, 12 (85,7%) conseguiram atingir. Isto é positivo, pois sabe-se das dificuldades dos pacientes de retirar o açúcar da alimentação, mudar hábitos diários pessoais e familiares e aderir a uma dieta mais restrita. De acordo com Faria et al. (2013), mudanças comportamentais e adesão ao tratamento medicamentoso são fundamentais para prevenção das complicações agudas e crônicas. O profissional deve negociar prioridades, monitorar a adesão, motivar a participação e reforçar o esforço do paciente no manejo do seu tratamento. Mesmo quando há mudanças comportamentais e adesão ao tratamento medicamentoso, manter o controle metabólico por longo tempo é difícil porque depende de vários componentes envolvidos no tratamento do diabetes. É inegável a importância da prática da atividade física no controle do diabetes, mas sua adesão ainda está sendo lentamente alcançada pelos pacientes diabéticos. Neste estudo, na primeira consulta traçou-se em comum acordo com os pacientes, como meta a ser atingida, o início/reinício da prática de atividade física, com treze pacientes. Destes, apenas 4 (30,8%) conseguiram cumprir a meta. Na segunda consulta foi estabelecida com quinze pacientes. Já houve uma melhora na adesão, pois 5 (33,3%) iniciaram/reiniciaram esta prática. Na última consulta, dos 21 participantes, 14 (66,7%) cumpriram o proposto. São visíveis as dificuldades dos pacientes em adotar esta prática, por não ser prioridade, por falta de incentivo ou até mesmo acomodação. Para ampliar as atividades de promoção à saúde na atenção primária, criaram-se os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF). Na unidade onde foi realizada a pesquisa esses núcleos tinham grupos de doenças crônicas com prática de caminhada, mas com as mudanças de gestão ocorreu troca de profissionais, com consequente suspensão dos trabalhos desenvolvidos. Quanto aos que já praticavam atividade física, para dois pacientes traçou-se como meta manter esta prática, a qual foi alcançada nos dois retornos seguintes; na terceira consulta traçou-se a mesma meta para três pacientes, e estes conseguiram atingi-la. Na ótica de Faria et al. (2013), o profissional de saúde deve sistematizar sua intervenção para o empoderamento dos pacientes. O acompanhamento de pacientes por especialistas em diabetes, com orientações e metas exequíveis, é decisivo na redução da glicemia, da hemoglobina glicada e tabagismo. Evidentemente, o uso regular da medicação ainda é um desafio para a saúde, principalmente nos pacientes diabéticos, e quando se refere ao uso de insulina isto se acentua ainda mais. Dificuldades foram percebidas no decorrer deste estudo, sobretudo na restrita dispensação de medicamentos na atenção primária. Em virtude da pouca importância dada à medicação pelos pacientes, por seus sinais e sintomas não aparentes e da baixa renda da população, muitos não priorizam a compra da medicação e ficam sem usá-la. Neste estudo, uma das metas foi o uso regular da medicação oral ou insulina pelos pacientes na atenção primária à saúde. Na primeira consulta este foi estabelecido como meta para três pacientes. Destes, dois atingiram. Na segunda consulta estabeleceuse para quatro pacientes, e todos conseguiram cumpri-la. Na terceira consulta acordouse com sete pacientes, e todos também conseguiram cumpri-la. Portanto, quando o paciente se sente corresponsável pelo tratamento, e no seu poder de empoderamento, os índices de adesão melhoram. Nos casos de uso irregular da medicação é fundamental se traçar estratégias de intervenções individuais, com identificação das principais queixas referidas pelos pacientes e apoio da equipe de saúde multiprofissional, para conseguir adesão ao tratamento medicamentoso. Para Faria et al. (2009), a informação clara e precisa quanto à utilização dos medicamentos, advinda de profissionais de saúde qualificados, pode incentivar o paciente de forma a motivá-lo para o autocuidado e para a adesão à terapêutica medicamentosa. Diferentemente, a falta de conhecimento induz o paciente a utilizar o medicamento de maneira incorreta. Contudo, uma abordagem compartilhada entre paciente e profissional de saúde pode suprir essas lacunas de conhecimento. No tratamento de diabetes, uma dieta equilibrada é o ponto mais questionado e quase a totalidade dos pacientes do estudo referiram as dificuldades de adesão, em face, sobretudo, dos custos da alimentação para este público. Neste estudo, traçou-se como uma das metas o controle de alimentos hipercalóricos. Dos três pacientes atendidos na primeira consulta, apenas um conseguiu atingir. Já na segunda consulta houve uma significativa melhora, pois dos cinco pacientes com esta meta, três conseguiram cumprila, e com êxito, e no retorno da terceira consulta, os cinco referiram adesão à dieta hipocalórica. Cabe ressaltar: o emprego apropriado da linguagem na comunicação profissional-paciente é um fator decisivo.No estudo de Torres, Roque e Nunes (2011), a utilização de linguagem adequada ajuda os pacientes a planejar suas refeições, cumprir os horários e o plano alimentar, além do incentivo à prática de atividades físicas. A construção de novos conhecimentos pode levar à aquisição de comportamentos preventivos e estímulo ao gerenciamento da sua doença. Portanto, o profissional enfermeiro deve estar intimamente ligado aos recursos educativos, uma vez que o processo de cuidar está atrelado à educação. Ainda sobre os dados do estudo, os carboidratos, quando consumidos em excesso, provocam ganho de peso, hiperglicemia, acúmulo de gordura. Com isso, na primeira consulta traçou-se a redução do consumo como meta para cinco pacientes. Destes, quatro conseguiram cumpri-la. Na segunda consulta, quando foi traçada para oito pacientes, sete reduziram este consumo; já na terceira, para os nove pacientes aos quais se propôs esta meta, oito a cumpriram. Programas estruturados que enfatizam mudanças no estilo de vida, incluindo educação nutricional, restrição de gorduras e energética, associadas à prática de atividade física e monitoramento pelos profissionais de saúde, podem conduzir à perda de peso a longo prazo (DIRETRIZES, 2013). Sabe-se que a dieta da maioria dos brasileiros inclui muitos carboidratos, por serem de baixo custo e maior facilidade de acesso, diferentemente da alimentação com frutas e verduras, ainda consumidas de modo restrito. O consumo de frutas ainda não é uma prática comum, principalmente nas populações de baixa escolaridade. Na primeira consulta estabeleceu-se o aumento do consumo como meta para três pacientes, e dois conseguiram atingi-la. Na segunda e terceira consulta, esta foi cumprida por quatro e cinco pacientes, respectivamente. Para o Ministério da Saúde, em nível nacional, recomenda-se o consumo de maiores quantidades de frutas, legumes e verduras e menor quantidade de gorduras, açúcares e sal, os quais têm implicações profundas na saúde e na qualidade de vida das pessoas. O ideal são três porções de frutas por dia (BRASIL, 2008). Nas Diretrizes (2013) recomenda-se fracionar o plano alimentar em seis refeições, sendo três principais e três lanches. Quanto à forma de preparo dos alimentos, deve-se dar preferência aos grelhados, assados, cozidos no vapor ou até mesmo crus. Mas neste estudo, conforme percebido, alguns pacientes não seguiam esta indicação. Diante disto, definiu-se como meta para dois pacientes aumentar os números de refeições. Na primeira consulta, a meta foi atingida e mantida nos três retornos seguintes. Ressalta-se, ainda: o consumo de refrigerante é uma prática comum nos dias atuais, pela sua facilidade de acesso, baixo custo e não divulgação dos riscos deste para a saúde, por sua quantidade de açúcar, sódio, corantes, entre outros. Estabeleceu-se, então, como meta o abandono total deste consumo ou pelo menos usar refrigerante diet/light. Na primeira consulta esta foi traçada como meta para cinco pacientes. Destes, quatro conseguiram atingi-la. Na segunda e terceira consulta foi em comum acordo estabelecida para sete pacientes, e destes, seis a cumpriram nos retornos seguintes. No presente estudo, também se enfocou a obesidade. Esta é uma realidade mundial. Segundo dados do Ministério da Saúde, no conjunto da população adulta das 27 cidades brasileiras, a frequência do excesso de peso foi de 48,5% e de obesos, 15,8% (BRASIL, 2013). Na primeira consulta propôs-se a perda de peso como meta para dois pacientes. Um alcançou. Na segunda e terceira consulta, propôs-se para quatro. Destes, três conseguiram reduzir o peso nas consultas subsequentes. Sabe-se da importância da equipe multidisciplinar e do papel do nutricionista no apoio às equipes de Saúde da Família para acompanhamento dos pacientes diabéticos. Apesar da implantação destas equipes, nem todas dispõem deste profissional. Por não ser uma rotina o acompanhamento por este profissional, traçou-se como meta para dois pacientes a consulta com o nutriconista, mas apenas um realizou. Na segunda consulta de enfermagem, propôs-se a meta para três, e também apenas um realizou. Na terceira consulta foi traçada para quatro pacientes, e dois conseguiram atingi-la. Alcançar as metas propostas no tratamento de diabetes requer esforço da equipe de saúde composta por educadores em diabetes mellitus, nutricionista especializado e a pessoa com diabetes (DIRETRIZES, 2013). Na atualidade, o atendimento do paciente com diabetes desenvolvido por uma equipe multiprofissional tem como finalidade levá-lo a compreender a importância da modificação do estilo de vida com vistas ao bom controle metabólico. Em virtude de inúmeras fatores já mencionados, a hiperglicemia ou o mal controle glicêmico ainda está presente em vários pacientes. No entanto, para melhorar isto, por suas repercussões no futuro, estabeleceu-se como meta para pacientes com hiperglicemia a redução desta. Na primeira consulta foi traçada para três pacientes, e dois conseguiram reduzir; na segunda foi traçada para quatro pacientes, os quais a cumpriram, e na terceira para três, que também a cumpriram. Fatores estressores influenciam indiretamente no descontrole glicêmico, referidos como problemas diários familiares ou de trabalho. Diante disto foi sugerido sair do confronto com estes agentes agressores, mas somente um referiu melhoras no primeiro retorno. No seguinte a meta não foi atingida por nenhum paciente, e no terceiro retorno foi atingida por três. Para King (1981), quando o estresse aumenta nos indivíduos interagindo numa situação, seu campo perceptual é limitado e suas decisões diminuem em racionalidade. Estes fatores podem levar à redução de interações e de estabelecimento de metas e tornar inefetivo o cuidado de enfermagem. Ainda como parte da reeducação dos hábitos das pessoas diabéticas, ressalta-se a importância da água para nosso corpo. Como observado, um paciente referiu fazer uso muito restrito de líquido. Propôs-se, então, como meta o aumento do consumo de líquidos. Ele afirmou ter aumentado a ingesta e a manteve nos retornos seguintes. O acompanhamento do diabético pelo profissional de saúde é uma das etapas do tratamento de diabetes. No histórico de dois pacientes, estes sempre faltavam às consultas. Traçou-se como meta o comparecimento de ambos no dia agendado da consulta, e nos três retornos eles compareceram. A hipertensão tem forte associação com o diabetes. Para dois pacientes que já eram hipertensos e faziam uso normal de sal, estabeleceu-se como meta reduzir o consumo de sal, objetivo atingido por eles nos três retornos. No estudo de Faria et al. (2013), 84,4% dos participantes apresentaram adesão ao tratamento medicamentoso, 58,6% ao exercício físico e 3,1% ao plano alimentar. Apenas 1,4% aderiu aos três componentes do tratamento. Para 47,7% dos pacientes observou-se a adesão ao tratamento medicamentoso e ao exercício físico. Também se constatou que 43% aderiram a um único componente do tratamento e 6,2% a nenhum. Conforme a pesquisa mostrou, os pacientes diabéticos para as quais foram traçadas metas, e que cumpriram medidas terapêuticas e de autocuidado, obtiveram resultados. É, pois, importante esta interação paciente-enfermeiro para os que não aderem ao tratamento. Para King (1981), quando uma meta é alcançada em interações enfermeira-paciente, significa que as transações foram valorizadas pela enfermeira e paciente. Para aumentar a adesão dos pacientes com DM, uma estratégia adotada é o desenvolvimento pela equipe de saúde, em especial, por enfermeiras, de atividades educativas no intuito de ampliar os conhecimentos do paciente sobre o controle da doença, além da implementação de atividades de promoção da saúde. O paciente, a família e a comunidade têm papel fundamental no controle do DM, já que as complicações se relacionam com déficit de autocuidado e não adoção de medidas de hábitos saudáveis de vida (MASCARENHAS et al., 2011). Ao incluir a família no processo de cuidar nas necessidades do cotidiano, a enfermeira colabora de forma ímpar na otimização dos recursos disponíveis para que a pessoa adoecida gradativamente assuma a execução destes cuidados (MOREIRA et al., 2008). A família, em particular, tem sua importância na formação de valores que contribuem como um sistema de apoio relevante para o paciente. Para o seguimento do tratamento dos pacientes com DM, os familiares ajudam com o apoio emocional, nos momentos de impotência e diante dos desafios a enfrentar. Sobre os problemas detectados no grupo comparativo, estão expostos na Tabela 10. Tabela 10: Análise dos problemas detectados para o grupo comparativo. Fortaleza-CE, 2013 PROBLEMA 10 retorno 20 retorno 30 retorno MELH MANT MELH MANT MELH % % % % Sem problemas 01 25,0 03 75,0 00 04 100 00 04 100 Sedentarismo 02 14,3 12 85,7 03 18,8 13 81,3 06 37,5 10 62,5 Controle/perda de peso 03 75,0 01 25,0 03 75,0 01 25,0 03 60,0 02 40,0 Sobrepeso/ obesidade 00 08 100 00 09 100 00 09 100 Hiperglicemia 00 04 100 01 16,7 05 83,3 01 14,3 06 85,7 Uso irregular da medicação 00 02 100 04 100 00 04 100 00 Dieta excessiva 00 01 100 02 66,7 01 33,3 02 66,7 01 33,3 Uso de açúcar e doces 02 33,3 04 66,7 03 50,0 03 50,0 04 57,1 03 42,9 Uso habitual de fumo (masca) 00 03 100 01 33,3 02 66,7 00 03 100 MANT % % MELH = melhorou; MANT= manteve o problema. Como observado, os participantes do grupo comparativo apresentaram melhora nos problemas detectados. Acredita-se que com a interação e o acompanhamento mais próximos ao paciente adotados na pesquisa e a maior frequência às consultas, mesmo sem terem sido estabelecidas metas, ao saberem que estavam participando da pesquisa, estes participantes mostraram maior adesão aos hábitos de vida saudáveis. Em quatro pacientes do grupo comparativo não foram identificados problemas/alterações no seu tratamento para diabetes, e estes se mantiveram estáveis no decorrer das três consultas de enfermagem subsequentes. Mesmo no caso de pacientes que já têm hábitos de vida saudável, é preciso incentivá-los a mantê-los. Quanto ao sedentarismo, foi acompanhado como problema na primeira consulta em quatorze pacientes. Destes, doze mantiveram o problema no primeiro retorno; já na segunda consulta foi identificado em dezesseis, quando o problema permaneceu em treze, e houve uma redução quando dos dezesseis identificados na terceira consulta, dez continuaram sedentários. Como descrito, sobrepeso e obesidade são uma epidemia mundial. Esta comorbidade foi observada em oito pacientes na primeira consulta, que mantiveram na consulta subsequente, e em nove, que na segunda e terceira consulta também a mantiveram. Nos pacientes identificados com altos valores glicêmicos, segundo se percebeu nas consultas subsequentes, quatro mantiveram no primeiro retorno. Na segunda consulta, dos seis presentes, cinco permaneceram acima dos padrões recomendados pelo Ministério da Saúde no retorno seguinte. Em sete pacientes da terceira consulta, seis ainda apresentaram hiperglicemia. Este resultado evidencia as dificuldades encontradas pelos pacientes nas mudanças das práticas de atividades diárias. Mesmo com a proximidade das consultas de enfermagem, quando seriam avaliados com mais frequência, ainda não conseguiam reduzir os valores glicêmicos. Em face dos seguintes motivos, a prática de uso irregular da medicação é comum entre os pacientes diabéticos: o longo período de tratamento, as múltiplas dosagens diárias, o custo para a população, pois a dispensação pelas unidades de atenção primária à saúde estava cada vez mais precária. Neste grupo de estudo, identificou-se, inicialmente, em dois pacientes, que continuaram a prática irregular na consulta seguinte; já na segunda e terceira consulta, foi identificada em quatro pacientes, mas ao retorno todos haviam melhorado. Dieta excessiva foi percebida logo de início em um paciente deste grupo, que manteve a prática; em três, na segunda consulta, e um continuou com esta prática. Na terceira consulta foi observada também em três pacientes, e um manteve esta prática. Sabe-se que o controle alimentar é uma dificuldade referida pela população em geral, em virtude da grande oferta de alimentos industrializados com conservantes e de alimentos gordurosos e calóricos. Ademais, o custo da alimentação para o paciente diabético é mais elevado. No tocante ao uso de açúcar, foi identificado na primeira consulta em seis pacientes. Destes, quatro mantiveram esta prática; na segunda consulta foi identificado nos mesmos pacientes, e três referiram ainda continuar fazendo uso. Na terceira consulta foi observado em sete pacientes, dos quais três persistiram nela. Para a retirada do açúcar da dieta, deve-se buscar a família como rede de apoio. Cabe-lhe incentivar o paciente para esta prática. Como parte do tratamento da pessoa diabética, incluem-se os hábitos alimentares, os quais exigem maior esforço e motivação dos pacientes. O baixo consumo de frutas é uma realidade da nossa população e foi constatado em um paciente, e este o manteve durante os três retornos. Uma das recomendações do Ministério da Saúde é o aumento do consumo de frutas, legumes e verduras. Como mencionado, o consumo de frutas deve ser de três porções por dia (BRASIL, 2008). Ainda como observado, na segunda consulta constatou-se início de lesões nos pés de um paciente, o qual, embora orientado sobre os cuidados com os pés, não aderiu a estes. Na terceira consulta, também foi percebido em dois pacientes, e apesar de reforçado o cuidado com os pés, nenhum deles seguiu o recomendado. Quanto ao uso habitual de fumo, três pacientes referiram esta prática. No primeiro retorno todos mantinham a prática; no segundo, apenas dois, mas ao regressarem no terceiro retorno, os três estavam fumando. Sabe-se tratar-se de um vício, e que muitos já o praticam há anos. Urge serem desenvolvidas políticas públicas efetivas de apoio a estes pacientes para o abandono deste vício. O uso de álcool foi mencinado por um paciente, e permaneceu em todos os seus retornos. São evidentes os malefícios do álcool aos diabéticos, mas esta ainda é uma prática comum na nossa clientela. Segundo Torres, Roque e Nunes (2011), para o profissional de saúde trabalhar educação em saúde de forma mais compreensiva e interventiva é importante seu envolvimento com os pacientes, seus problemas, suas alegrias, o conhecimento do seu cotidiano e da sua realidade social. Para Faria et al. (2013), no cenário nacional e internacional, a não adesão ao tratamento do diabetes mellitus é um problema conhecido pois prejudica a resposta fisiológica à doença, a relação profissional-paciente, além de aumentar o custo direto e indireto do tratamento. Neste âmbito, a educação voltada para a prevenção e o controle em DM apresenta um desafio, quer para os indivíduos, quer para profissionais de saúde, por estar associada aos hábitos alimentares saudáveis, à adesão à prática de atividades físicas e à promoção da saúde (TORRES; PEREIRA; ALEXANDRE, 2011). Para as pessoas com DM, a educação em saúde deve ser implementada, continuamente, integrando as ações de acolhimento, formação de vínculos, buscando desenvolver a autonomia nas pessoas diabéticas, incluindo maneiras de compreender e de lidar com a doença (PARKIN; DAVIDSON, 2009; MOREIRA et al., 2008). Como parte das suas atividades, a enfermeira exerce papel essencial no cuidado às pessoas, principalmente no estímulo ao autocuidado à saúde, no enfrentamento às mudanças ocorridas no decorrer da doença. Cabe-lhe incentivar a melhoria do bem-estar dos pacientes e aumentar a adesão ao processo terapêutico. 6 CONCLUSÃO No presente estudo teve-se como um dos objetivos verificar a eficácia de intervenções em enfermagem, fundamentada na Teoria de Alcance de Metas, na melhoria do cuidado à pessoa com diabetes e na sua adesão ao tratamento. E ao final do estudo, com base nesta teoria, pode-se afirmar que este objetivo foi alcançado, pois a proposta da teoria promoveu melhor adesão dos pacientes diabéticos ao tratamento sugerido em comum acordo com estes. As variáveis de saúde acompanhadas e avaliadas durante o estudo permitem afirmar a validade da Teoria de Alcance de Metas como meio que fundamenta o cuidado de enfermagem ao paciente diabético no contexto da atenção primária à saúde. Portanto, o enfermeiro da Estratégia Saúde da Família pode utilizá-la como instrumento de cuidado, com vistas a munir os profissionais com meios eficazes para a assistência ao paciente diabético. Quando o paciente sente-se corresponsável por seu tratamento, atua ativamente com poder decisivo nas possíveis mudanças para melhor adesão ao cuidado proposto. Ao comparar os resultados desta interação fundamentada na teoria empregada, considera-se que a adesão dos pacientes ao tratamento proposto foi atingida, porquanto os mesmos parâmetros foram gradativamente comparados entre os dois grupos (de intervenção e comparativo), chegando-se à conclusão de que a fundamentação teórica trouxe mais resultados positivos nos dados clínicos do paciente diabético. A PAD e os valores glicêmicos das consultas do grupo de intervenção mostraram redução destes, com significância estatística, p=0,0156 e p<0,0001, respectivamente, comparados nas quatro consultas. E também, ao se observar a adesão ao uso de adoçante, à prática de atividade física, ao controle alimentar e ao uso de refrigerante light. Perceberam-se algumas limitações relativas ao tempo de desenvolvimento da pesquisa; à falta de estrutura na rede de apoio às equipes de Saúde da Família, quanto a espaços sociais para desenvolver atividades físicas e de grupo; ao suporte da equipe multiprofissional, na pessoa do nutricionista, para melhor adequação da dieta dos pacientes; às questões culturais dos hábitos alimentares. Pode-se admitir também como limitação a avaliação dos dois grupos ter sido realizada pela própria pesquisadora, a qual empregou todos os esforços para evitar viés na avaliação dos grupos. Isto, porém, não garante ter-se mantido imparcial. Como identificado nos dois grupos do estudo, o acompanhamento mais frequente e as consultas mais próximas aos pacientes diabéticos promoveram vigilância positiva, já que, em face de maior interação de ambas, pôde-se melhor adequar as estratégias de adesão ao tratamento proposto com consequente promoção da qualidade de vida dos participantes diabéticos. Nesta perspectiva, ante os resultados encontrados, finaliza-se este estudo com a confiança de que o cuidado clínico de enfermagem favorece positivamente a clientela diabética, com vistas a melhorar a assistência de enfermagem a ela direcionada. REFERÊNCIAS AMERICAN DIABETES ASSOCIATION. Disponível em: http://www.diabetes.org Acesso em: 12 mar. 2012. ARAÚJO, M. F. M. et al. Readiness for enhanced self-health management among people with diabetes mellitus. Acta Paul. Enferm., v.25, n.1, p. 133-39, 2012. ASSUMPÇÃO, E. C. et al. Comparação dos fatores de risco para amputações maiores e menores em pacientes diabéticos de um Programa de Saúde da Família. J. Vasc. Bras., v.8, n.2, p.132-138, 2009. AUDI, E. G. et al. Avaliação dos pés e classificação do risco para pé diabético: contribuições da enfermagem. Cogitare Enferm., v. 16, n. 2, p. 240-6, 2011. BARROS, A. E.; SOUZA, E. N. Self-injection of insulin: attitudes of a group of individuals with diabetes. Rev. 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APÊNDICES APÊNDICE A – FORMULÁRIO 1a Consulta de Enfermagem DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS Nome:__________________________________________________________ Sexo: ( ) Feminino ( )Masculino Idade: ____________ Cor: __________ Estado civil:______________ Anos de estudo:___________________ Atividade profissional ( ) Sim ( ) Não ( ) Aposentado Profissão do ativo: __________________ Número de pessoas que residem em sua casa: __________________________ Renda mensal:___________ Renda familiar:__________________ Religião: ( ) Católica ( ) Evangélica ( ) Outra ______________ DADOS FAMILIARES Hipertensão arterial ( ) ____________ Diabetes mellitus ( ) ____________ Doença cardiovascular ( ) _______________ Outras doenças:____________________________ DADOS SOBRE A SAÚDE Ano do diagnóstico do DM _____________ Tratamento não medicamentoso ( ) Sim ( ) Não ( ) Parcialmente Tratamento medicamentoso ( )Glibenclamida ( )Metformina ( )Glicazida ( )Insulina NPH ( )Insulina regular ( )Insulina lantus ( )Glimepirida ( )Clorpropamida ( )_______________ Presença de Hipertensão Arterial ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sabe Presença de Colesterol alto ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sabe Presença de Triglicerídeos alto ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sabe Há quanto tempo faz tratamento medicamentoso: ______ Confia no tratamento medicamentoso ( ) Sim ( ) Não.Por quê? Já ficou sem medicamento ( ) Não ( ) Sim. Por quê? Tem conhecimento sobre a doença ( )Sim ( ) Não ( ) Parcialmente ESTILO DE VIDA Atividade física ( ) Não ( ) Sim. Realiza quantas vezes por semana? ( ) 2 ( )3 ( )4 Há quanto tempo faz regularmente? _____________ Mobilidade física ( ) Normal ( ) Prejudicada Já sofreu queda ( ) Não ( ) Sim. Houve fratura? Tabagismo ( ) Sim ( )Não ( ) parou. Há quanto tempo? _______Quantos cigarros por dia? _____ Uso de bebidas alcoólicas ( ) Sim ( ) Não ( ) Parou. Há quanto tempo? ____________Quantas vezes por semana? ________ Considera-se estressado ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sabe analisar COMORBIDADES: Amputação por diabetes ( ) Onde: _______________ Há quanto tempo?_____________ ( )Pé diabético ( ) Retinopatia diabética ( ) Doença renal ( ) Hipertensão arterial ( ) Infarto agudo do miocárdio ( ) Acidente vascular cerebral ( ) Insuficiência cardíaca ( ) Outras coronariopatias ( )________________________ DADOS ANTROPOMÉTRICOS / LABORATORIAIS Peso (em kg) ______ Altura (em metros) __________ IMC ___________ Circunferência abdominal ____ Circunferência quadril _____ Frequência cardíaca _________ Níveis pressóricos nas consultas de enfermagem 1-Ótima 2-Normal 3-Limítrofe 4-HA leve 5-HA moderada 6-HA grave 7-Sistólica isolada P.A. ____________________________ Data _________________ Classificação________ P.A. ___________________________ Data _________________ Classificação________ P.A. ____________________________ Data _________________ Classificação________ P.A. ____________________________ Data _________________ Classificação________ Níveis glicêmicos nas consultas de enfermagem Glicemia (mg/dl) __________________ Data _________________ Jejum ( ) Pós ( ) Glicemia (mg/dl) __________________ Data _________________ Jejum ( ) Pós ( ) Glicemia (mg/dl) __________________ Data _________________ Jejum ( ) Pós ( ) Glicemia (mg/dl) _________________ Data _________________ Jejum ( ) Pós ( ) PERCEPÇÃO/ACOMPANHAMENTO GERAL DA SAÚDE Como está sua saúde: ___________________________________________________ ______________________________________________________________________ O diabetes interfere na sua vida: ( ) Não ( ) Sim. Em quê? _______________________ ______________________________________________________________________ Como percebe sua adesão ao tratamento: ( ) Total ( ) Parcial ( ) Não adere Você acha que seu tratamento depende de que: ( ) Dieta ( ) Medicamento ( ) Atividade física ( )____________ Muda dosagem por conta própria? ( )Não ( )Sim. Por quê? Você percebe alguma diferença no seu dia a dia por ser diabético: ( ) Não ( ) Sim. Quais? ________________________________________________________________ Você tem dificuldades na adesão do seu tratamento: ( ) Não ( ) Sim. Quais? ( ) Dieta ( ) Medicamento ( ) Atividade física ( ) _________ Faz uso correto da medicação: ( ) Sim ( )Não SELF / IMAGEM CORPORAL Como você se percebe? ______________________________________________ Condições da pele: ( ) Normal ( ) Ressecada Condições do cabelo: ( ) Normal ( ) Alterado Lentes corretivas: ( ) Sim ( ) Não Mucosa oral: ( ) Normal ( ) Alterada Dentição: ( ) Normal ( ) Ausente parcialmente ( ) Ausente totalmente Unhas: ( ) Normais ( ) Alteradas Edema nos MMII: ( ) Ausente ( ) Presente Realiza cuidados com os pés: ( ) Sim ( )Não Dormência nas mãos: ( ) Sim ( ) Não Dormência nos pés: ( ) Sim ( ) Não TEMPO Como administra seu tempo para desenvolver atividades para controle do diabetes: _________________________________________________________________ INTERAÇÕES HUMANAS Como é seu relacionamento com seus familiares: ( )Ótimo ( )Estável ( )Difícil ( ) _____ O que sua família pode fazer por você?______________________________________ Quais as contribuições da sua família no seu tratamento: _________________________ Como é o uso de sal por seus familiares: ______________________________________ ______________________________________________________________________ Como é o uso de açúcar por seus familiares: _________________________________ As comidas já são preparadas com açúcar: ( ) Café ( ) Suco ( ) Consumo de refrigerantes por semana: ( ) Diário ( ) 3 ( ) 4. Este é ( ) Normal ( ) Light Participa de grupos sociais ou religiosos: ( ) Não ( ) Sim. Qual? ( ) Bombeiros/ Ativ. física ( ) Associação ( ) Religioso ( )______________________ Alguma parte do seu tratamento não é permitida pela sua igreja ( ) Não ( ) Sim. Qual? _______________ PAPÉIS E RELACIONAMENTO Qual seu papel no seu tratamento: ___________________________________________ ______________________________________________________________________ Qual a contribuição dos profissionais de saúde no seu tratamento: _______________ ______________________________________________________________________ Qual a participação da enfermagem no seu tratamento:________________________ ______________________________________________________________________ Qual a participação da enfermeira no seu tratamento:______________ ______________________________________________________________________ NUTRIÇÃO E METABOLISMO Dieta: ( ) Equilibrada ( ) Não segue Ingestão de alimentos maior que as necessidades: ( ) Não ( ) Sim Número de refeições diárias ( ) 3 ( ) 4 ( ) 6 ( )______ Ingestão de água/ dia ( ) Copos de água por dia Ingestão de açúcar ( ) Sim ( ) Não Ingestão de adoçante ( ) Sim ( ) Não Doces ( ) Controla ( ) Consome moderadamente ( ) Consome muito Ingestão de sal ( ) Pouco ( ) Normal Uso de saleiro na mesa ( ) Sim ( ) Não Consumo excessivo de gordura ( ) Sim ( ) Não Deglutição ( ) Normal ( ) Prejudicada Ingestão de frutas/dia: ____ vezes Ingestão de pão/dia: ____ vezes Ingestão de bolo/semana: ____ vezes Ingestão de carne vermelha/dia: ____ vezes ELIMINAÇÕES Incontinência urinária ( ) Sim ( ) Não Infecção urinária de repetição ( ) Sim ( ) Não Constipação ( ) Sim ( ) Não Diarreia ( ) Sim ( ) Não SONO E REPOUSO Número de horas de sono por dia? ____ horas Padrão de sono: ( ) Contínuo ( ) Acorda às vezes ( ) Acorda várias vezes Acorda à noite para ir ao banheiro? ( ) Não ( ) Sim. Quantas vezes?______ Ronco ( ) Não ( ) Sim APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Estamos convidando V.Sa. a participar da pesquisa intitulada CUIDADO DE ENFERMAGEM NA INTERAÇÃO ENFERMEIRA-PESSOA COM DIABETES, FUNDAMENTADO NA TEORIA DE ALCANCE DE METAS DE KING, cujo objetivo é verificar a eficácia de uma intervenção em enfermagem, fundamentada na Teoria de Alcance de Metas, na melhoria do cuidado à pessoa com diabetes e na sua adesão ao tratamento. O (a) senhor (a) terá plena liberdade para aceitar ou não o convite para participar, assim como de permanecer ou não no estudo sem nenhum prejuízo para seu atendimento neste serviço. Sua participação será respondendo algumas perguntas, permitindo que a pesquisadora examine seu corpo e verifique sua pressão arterial, seu peso, sua altura, sua cintura e glicemia capilar. Os riscos do estudo são mínimos, pois os dados da pesquisa serão coletados por meio de entrevista e medidas da pressão arterial, peso, altura, circunferência da cintura e glicemia capilar, e se ocorrer alguma intercorrência a pesquisadora estará atenta para resolvê-la. Não haverá pagamento por sua participação, assim como o (a) senhor(a) não terá nenhum gasto com o estudo. Como benefícios, garantimos que o estudo contribuirá para que a enfermagem possa ajudar o paciente com diabetes a enfrentar as barreiras impostas pela doença por meio de uma melhor assistência. Garantimos sigilo sobre sua identidade e as informações prestadas serão utilizadas exclusivamente para os fins deste estudo. Os resultados serão enviados à sua unidade de saúde como subsídio para a melhoria da prestação de serviço e posteriormente serão publicados em revistas científicas e apresentados em eventos científicos da área. Este termo será preenchido em duas vias, uma para o pesquisado e a outra para o pesquisador. Para esclarecer quaisquer dúvidas sobre esta pesquisa, favor se comunicar com a pesquisadora responsável pelo telefone: 3433.2737/8843.2725 ou no Campus do Itaperi – UECE, ainda, com o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Ceará pelo telefone 3101. 9890 Atenciosamente Eline Saraiva Silveira Araújo Eu, ____________________________________________, declaro que depois de ser esclarecido pelo pesquisador e ter entendido o que me foi explicado, concordo em participar voluntariamente da pesquisa. Fortaleza, ______ de ______________ de ______ _______________________________ Assinatura do Pesquisador Responsável _______________________________ Assinatura ou Digital do Pesquisado ____________________________________________________ Assinatura de quem recebeu o Consentimento ANEXO