ORIGINAL/ORIGINAL Determinação do limiar anaeróbio de pacientes com doença coronariana em protocolos de exercício em esteira Anaerobic threshold determination of patients with coronary disease on treadmill protocol exercise Flávia Cristina Rossi Caruso* Mestranda em Fisioterapia Cardiovascular pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) São Carlos/SP Ana Cristina Barroso Siqueira Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) São Carlos/SP Anielle Cristine Medeiros Takahashi Docente do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de São Carlos Luis Aparecido Milan Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) São Carlos/SP Aparecida Maria Catai Docente do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de São Carlos Audrey Borghi-Silva Docente do Departamento de Fisioterapia Cardiovascular Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) São Carlos/SP *Correspondências: Universidade Federal de São Carlos Laboratório de Fisioterapia Cardiopulmonar, Departamento de Fisioterapia Rodovia Washington Luis, Km 235 São Carlos – SP CEP 13565-950 [email protected] Sáude em Revista Treinamento físico baseado no LA 2.indd 17 Resumo Os objetivos deste estudo foram determinar o limiar anaeróbio por meio da frequência cardíaca e identificar a intensidade de esforço correspondente ao limiar anaeróbio em coronariopatas. Métodos: A amostra compôs-se de dez voluntários do sexo masculino com idade média de 61±10 anos, os quais realizaram aquecimento prévio e, posteriormente, um teste de exercício dinâmico com protocolo descontínuo em esteira, com duração de seis minutos em cada velocidade, começando a uma velocidade determinada por cada voluntário, com incrementos de 0,5 km/h até a identificação do limiar anaeróbio. A variabilidade da frequência cardíaca foi registrada em todas as intensidades do exercício, e o limiar anaeróbio, determinado pelo modelo semiparamétrico aplicado aos dados da frequência cardíaca. Foram calculadas a frequência cardíaca média e a variabilidade da frequência cardíaca por meio do índice RMSM. Resultados: foram encontradas diferenças significativas para a média da frequência cardíaca abaixo e acima do limiar anaeróbio (p<0,05). Para o índice RMSM houve aumento significativo do valor de repouso quando comparado às intensidades do exercício (p<0,05). Conclusão: a determinação do limiar anaeróbio em protocolo descontínuo em esteira é um método factível, e as intensidades 0,5 acima ou abaixo do limiar anaeróbio não acarretam em alterações importantes na modulação autonômica da frequência cardíaca. Palavras-chave exercício físico – reabilitação – frequência cardíaca – limiar anaeróbio. Abstract The objectives of this study were determine the anaerobic threshold by heart rate and identify the exercise intensity corresponding to anaerobic threshold in coronary artery disease. Methods: The sample consisted of ten male volunteers with mean age 61 ± 10 years, who underwent preheating and then a test protocol type discontinuous dynamic exercise on a treadmill, lasting for six minutes at each speed, starting at a rate determined by each volunteer, with increments of 0.5 km / h to identify the anaerobic threshold. The heart rate variability was recorded in all exercise intensities, and the anaerobic threshold, determined by the semiparametric model applied to heart rate data. We calculated the average heart rate and heart rate variability through the RMSM index. Results: Significant differences were found for the values of heart rate below and above the anaerobic threshold (p<0.05). For index RMSM significant increase in the value of rest compared the intensities of exercise (p<0.05). Conclusion: The determination of anaerobic threshold in discontinuous treadmill protocol is a feasible method and the 0.5 intensities above or below the anaerobic threshold did not cause major changes in autonomic modulation of heart rate. Keywords physical exercise – rehabilitation – heart rate – anaerobic threshold. 17 12/4/2012 08:05:20 Flávia Cristina Rossi Caruso et al. Introdução A reabilitação cardiovascular (RC) pode ser considerada um ramo da cardiologia que é implementado com vistas a otimizar tratamentos1,2, permitindo o restabelecimento do indivíduo de forma satisfatória, clínica, física, psicológica e laboral. Dessa forma, a RC é conhecida como parte integrante do cuidado de pacientes com doença cardiovascular1, sendo recomendada como útil e eficaz pela American Heart Association (AHA) e American College of Cardiology no tratamento de pacientes com doença arterial coronariana3,4 e insuficiência cardíaca crônica5. Sendo assim, um programa de treinamento físico adequado é fundamental na reabilitação de portadores de coronariopatias, uma vez que o programa de atividade física regular, em geral, reduz a morbidade e mortalidade6 e melhora a qualidade de vida desses indivíduos7,8. Em pacientes coronarianos ou portadores de fatores de risco, o protocolo de treinamento ideal seria aquele que determinasse uma sobrecarga fisiológica do sistema cardiovascular realizado acima dos valores basais nas atividades diárias, porém com predominância da atividade vagal protetora, proporcionando, assim, melhora no condicionamento cardiovascular, reduzindo riscos e prevenindo hospitalizações9. Altas intensidades de exercício podem conduzir à redução do desempenho muscular, conhecida como fadiga10-14. A importância da determinação do limiar anaeróbio (LA) está no fato de que esse fenômeno fisiológico vem sendo muito utilizado na prescrição de atividades físicas em várias condições clínicas. O LA tem sido identificado por vários métodos, sendo alguns invasivos, por exemplo, atra- 18 2.indd 18 vés da dosagem da concentração de lactato sanguíneo durante o exercício físico, e por meio das respostas das variáveis ventilatórias15 ou estudo da modulação autonômica do coração16. É sabido que, em altas intensidades de esforço, o lactato e o pH sanguíneo aumentam significativamente, bem como reduzem a atividade parassimpática, podendo prejudicar a oferta de oxigênio aos músculos esqueléticos e cardíaco, aumentando, assim, os riscos cardiovasculares16. Assim, protocolos de exercícios em esteira, são mais adequados, pois pode se realizar exercícios com grandes grupos musculares. Porém, protocolo de exercícios em cicloergômetro, pode produzir em mais acidose e fadiga muscular localizada nos coronariopatas. Além disso, a esteira são reprodutíveis às atividades funcionais inerente ao humano: a marcha17. Muitos programas de treinamento físico têm enfatizado intensidades moderadas de treinamento para essa população18-20. Além disso, considerando que tais pacientes apresentam alta incidência de arritmias ventriculares e morte súbita durante exercícios físicos18,21, são necessárias cautela e segurança na realização destes. Adicionalmente, os protocolos em cicloergômetro têm sido mais aplicados, considerando a aplicação de carga relativa mais confiável, pois possibilitam que as medidas da frequência cardíaca (FC) e pressão arterial (PA) e os registros eletrocardiográficos sejam mais confiáveis. No entanto, pouco é sabido sobre tais respostas em protocolos em esteira. Por essa razão, hipotetizamos que o protocolo de exercício físico em esteira e em diferentes intensidades para determinação do LA pode ser factível e não acarreta- SAÚDE REV., Piracicaba, v. 12, n. 30, p. 17-25, jan.-abr. 2012 12/4/2012 08:05:30 Flávia Cristina Rossi Caruso et al. ria em alteração das respostas autonômicas cardíacas nos voluntários estudados. Sendo assim, os objetivos do trabalho foram determinar o LA por meio do comportamento da FC e identificar uma intensidade de esforço correspondente ao limiar anaeróbio em voluntários com doença arterial coronariana. Metodologia Voluntários Foram estudados dez voluntários do sexo masculino, com idade média de 61±10 anos, que faziam parte do programa de reabilitação em fisioterapia cardiovascular pela nossa instituição durante, pelo menos, seis meses e com diagnóstico de doença arterial coronariana (DAC) determinada por angiografia coronariana. Os voluntários realizavam sessões de treinamento individualizado, compostos por um período de aquecimento em esteira (velocidade de 2,0 km/h) durante dez minutos, exercício físico dinâmico em cicloergômetro ou esteira (velocidade média 3,0±0,5 km/h) em torno de vinte minutos e, por fim, faziam desaquecimento composto por alongamento de músculos de membros superiores e inferiores e relaxamento durante vinte minutos. Os voluntários foram submetidos à anamnese (coleta dos dados pessoais, história clínica atual e pregressa, antecedentes familiares para doenças cardiovasculares, hábitos de vida), exames complementares (triglicérides, colesterol total e frações LDL colesterol, HDL colesterol e VLDL colesterol, urina tipo I, ácido úrico, creatinina, ureia, hemograma completo e glicemia), avaliação clínica e cardiovascular por meio do eletrocardiograma (ECG) de 12 derivações, assim como o teste de esforço descontínuo em Sáude em Revista Treinamento físico baseado no LA 2.indd 19 esteira. Voluntários com doença cardíaca valvar, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), fibrilação atrial e neuropatia diabética foram excluídos deste estudo. Os participantes foram esclarecidos a respeito da relevância do trabalho e dos procedimentos experimentais, bem como assinaram um termo de consentimento formal, conforme as normas da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob o Parecer nº 109/2006. Protocolo experimental Protocolo I: Avaliação da variabilidade da frequência cardíaca (VFC) em repouso Inicialmente, todos os voluntários foram estudados na posição supina durante dez minutos. Para a véspera e o dia do teste, cada voluntário recebeu as seguintes orientações: evitar consumo de bebidas estimulantes (chá, café, bebidas alcoólicas, etc), não realizar atividade física, fazer refeições leves e ter uma noite de sono adequada (pelo menos oito horas). Durante a coleta, os voluntários foram orientados a não falar e não se movimentar. Para a coleta de dados, os voluntários foram monitorados pelo sistema de registro eletrocardiográfico MC5. Os registros do ECG e da FC foram obtidos a partir de um monitor de 1 canal (TC500 ECAFIX, ECAFIX Ind. e Com. Ltda., São Paulo, SP, Brasil) e processados por meio de um conversor analógico-digital La PC + (National Instruments, Co., Austin, Texas, EUA), que constitui uma interface entre o monitor cardíaco e o microcomputador. Protocolo II: Testes de exercício físico dinâmico descontínuo em esteira O protocolo de exercício físico consistiu das seguintes etapas: 19 12/4/2012 08:05:30 Flávia Cristina Rossi Caruso et al. 1. período de aquecimento por seis minutos antes de cada nível de exercício, com velocidade confortável (2,5 km/h), que foi determinada por cada voluntário; 2. período de seis minutos em cada intensidade; 3. período de recuperação por cinco minutos. Cada intensidade aplicada foi aumentada em 0,5 km/h até obter o LA do voluntário estudado. O protocolo de exercício físico foi bem tolerado por todos os participantes deste estudo. Dessa forma, nenhum teste foi interrompido por sinal ou sintoma de desconforto por parte deles. Foram obtidas a pressão arterial sistólica (PAS) e a pressão arterial diastólica (PAD), a frequência respiratória, a saturação periférica de oxigênio (SpO2) e a sensação de esforço pela escala de Borg (0-10). Adicionalmente, os registros dos iR-R foram obtidos por meio do Polar S810i em todas as velocidades do protocolo na esteira (Explorer Proaction - BH Fitness). Entre os intervalos de esforço, foi permitido tempo suficiente para a recuperação da FC e da PA aos níveis basais em repouso. Além disso, o sinal eletrocardiográfico foi captado durante todo o protocolo de exercício, com objetivo de proporcionar segurança aos voluntários e verificar algum sinal que contraindicasse a continuidade do exercício físico. Determinação do limiar anaeróbio com base na FC O teste ergométrico descontínuo foi conduzido para avaliar a contribuição dos componentes do sistema nervoso autonômico simpático e parassimpático, na melhoria da FC induzida pelo esforço físico em uma ampla variação da velocidade aplicada à detecção do LA. 20 2.indd 20 Durante o período de recuperação de cada velocidade, foram selecionados trechos entre 120-370 segundos dos dados de FC, obtidos durante o exercício e analisados a partir de uma rotina específica desenvolvida para esse fim. Durante a fase de desestabilização que ocorreu na FC, a mesma inclinação positiva foi identificada como acima do LA, indicando, assim, predomínio da atividade simpática22. Análise de dados Os dados da FC foram obtidos batimento a batimento e processados para obter o LA usando um modelo matemático e estatístico semiparamétrico de uma rotina específica para esse propósito por meio do aplicativo estatístico “SPLUS (versão 4.5 Professional Release 2 for Windows, 1998)”. Os índices de VFC foram realizados no domínio do tempo (DT) pelo índice RMSM (raiz quadrada da somatória do quadrado das diferenças dos valores individuais em relação ao valor médio dividido pelo número de iR-R em um período) e pela média da FC expressa em batimento por minuto (bpm). O cálculo amostral foi realizado por meio do desvio padrão da variável RMSM, a qual apontou a necessidade de oito voluntários para um Power de 80%, com um de 0,05 (GraphPad StatMate 2 for Windows, versão 2.0, 2004). Adicionalmente, os resultados do presente estudo foram apresentados como média ± desvio padrão da distribuição normal e mediana e intervalo interquartil quando mostrou distribuição não normal dos dados. O teste de Friedman e post hoc Dunn foi utilizado para comparar diferentes intensidades. Valor de p<0,05 foi considerado estatisticamente significativo (GraphPad Intat, versão 3.06, for Windows, 2003). SAÚDE REV., Piracicaba, v. 12, n. 30, p. 17-25, jan.-abr. 2012 12/4/2012 08:05:30 Flávia Cristina Rossi Caruso et al. Resultados Todos os voluntários participaram do programa de treinamento físico por um período de 12±6 semanas. Dos dez voluntários avaliados, quatro realizaram atividade em esteira e seis em bicicleta, com aquecimento em esteira. Além disso, a velocidade média utilizada estava abaixo da velocidade obtida no LA, podendo, assim, aumentar com segurança a velocidade. A intensidade em que foi determinado o LA correspondeu a 4,0±0,4 km/h, a qual foi estatisticamente diferente da intensidade de treinamento prévio (3,0±0,5 km/h). Os voluntários apresentavam fatores de risco cardíaco e recebiam acompanhamento farmacológico (Tabela 1). Tabela 1: Dados clínicos, antropométricos e medicação utilizada pelos voluntários estudados DAC (n=10) Idade (anos) 61±10 Massa Corporal (kg) 78±12 Estatura (cm) 166±7 IMC (kg/m ) 28±3 Semanas durante o programa de treinamento físico 12±6 2 Fatores de risco cardíaco, n Hipertensão arterial sistêmica Diabetes mellitus Tabagistas Tabagismo prévio Dislipidemia Obesidade (IMC > 30 kg/m2) Medicamentos Aspirina β-bloqueador Diuréticos Inibidor de enzima conversora de angiotensina Nitratos 2 1 0 3 5 2 4 4 2 5 2 Valores em Média ± DP. Definição de abreviatura: IMC = índice de massa corpórea. Figura 1A: Valores de frequência cardíaca média em batimentos por minuto durante o repouso e treinamento físico, nas velocidades abaixo do limiar anaeróbio, no limiar anaeróbio e acima do limiar anaeróbio. Sáude em Revista Treinamento físico baseado no LA 2.indd 21 21 12/4/2012 08:05:31 Flávia Cristina Rossi Caruso et al. Conforme ilustrado na Figura 1A, em todas as intensidades houve diferenças significativas quando comparadas ao repouso (p<0,05). Observamos também diferenças significativas nos valores da FC média nas velocidades abaixo e acima do LA (p<0,05). Além disso, o índice de RMSM (Figura 1B) houve diferença significativa em diferentes intensidades do treinamento físico (0,5 km/h abaixo do LA, no LA e 0,5 acima do LA) quando comparadas somente ao repouso (p<0,05). Figura 1B: Valores de RMSM dos intervalos R-R em milissegundos em repouso durante treinamento físico, nas velocidades abaixo do limiar anaeróbio, no limiar anaeróbio e acima do limiar anaeróbio Discussão Os principais achados do presente estudo foram os seguintes: o limiar anaeróbio foi determinado em todos os voluntários pelo modelo matemático proposto, sendo possível identificar a velocidade média de 4,0±0,4 km/h como a intensidade ideal de treinamento neste grupo estudado; o método proposto foi útil na readaptação do protocolo de fisioterapia cardiovascular a partir do limiar anaeróbio. Observamos, ainda, que vários de nossos voluntários utilizavam o cicloergôme22 2.indd 22 tro associado ou de forma isolada em nosso programa de reabilitação. Nesse contexto, considerando o exercício físico em esteira de extrema importância nos programas de treinamento físico para atividades que envolvem grandes grupos musculares, exigindo deles maior demanda metabólica, optamos por realizar o estudo com o exercício dinâmico descontínuo em esteira e, assim, verificar a possibilidade de detectar o LA nesse equipamento. Nesse sentido, foi possível constatar que a FC apresentou diferenças significativas abaixo e acima do LA, diferentemente SAÚDE REV., Piracicaba, v. 12, n. 30, p. 17-25, jan.-abr. 2012 12/4/2012 08:05:31 Flávia Cristina Rossi Caruso et al. de estudos prévios de, nos quais não foram encontradas tais respostas em protocolos de cicloergômetro nessa população22. No presente estudo, a amostra, heterogênea em relação aos fatores de risco e medicamentos utilizados, foi composta de voluntários submetidos a um programa de fisioterapia cardiovascular. Desta forma, alguns fatores de risco podem alterar a VFC, por exemplo, o envelhecimento, a obesidade23, a presença de doenças como diabetes24 e hipertensão arterial sistêmica25, além da atividade física regular26. Os voluntários estudados apresentavam idade média de 61±10. Segundo Zulfigar et al,27 o envelhecimento leva à alteração no balanço autonômico do coração, predominando a atividade simpática. Outro fator que influencia a VFC é a mudança postural. Na condição de repouso, ambos os sistemas, simpático e parassimpático, estão tonicamente ativos, com predominância dos efeitos da estimulação vagal. Neste trabalho, observamos que os voluntários apresentaram maior variabilidade da frequência cardíaca em repouso. Sendo assim, a FC de repouso é influenciada por diversos fatores, como idade, características genéticas, antropométricas (massa corporal e estatura), idade, gênero, fatores hormonais, emocionais, nível de aptidão física, estado de saúde e uso de medicamentos27. Em indivíduos idosos, a VFC pode ser considerada um importante biomarcador de envelhecimento, a sua redução com a idade aumenta o risco de morbidade e doenças cardiovasculares. Além disso, ocorrem alterações no sistema cardiovascular de pessoas idosas, como alterações estruturais e funcionais dos tecidos do sistema de condução cardíaca, bem como aumento da rigidez miocárdica, o que prejudica o en- 23 2.indd 23 chimento ventricular que irá refletir a hemodinâmica do indivíduo28,29. Em 2009, Milic e colaboradores observaram que, na hipertensão, os mecanismos de regulação mediada por pressorreceptores são menos sensíveis e, portanto, há um número menor de potenciais de ação por mmHg deprimindo a oscilação da PA e da FC30. Dessa forma, por meio da análise da VFC é possível identificar mudanças no padrão de resposta do sistema autonômico cardíaco, como o aumento da descarga simpática do sistema cardiovascular que ocorre a partir do ponto de transição do metabolismo aeróbio-anaeróbio, também denominado limiar da variabilidade da frequência cardíaca17. Adicionalmente, a determinação do LA pela VFC durante o teste de exercício tem sido utilizada como forma de prescrição da intensidade de treinamento segura e controlada, tanto na população saudável como em portadores de doenças cardiorrespiratórias crônicas17,22. Outro aspecto relevante do LA determinado pela FC é a facilidade de sua aquisição por meio de equipamentos de baixo custo. Nesse sentido, em nosso estudo, o protocolo de treinamento foi baseado em velocidades próximas ao LA, uma vez que, a partir disso, há perda da condição de equilíbrio dinâmico, em que a produção de ácido láctico torna-se maior do que a conversão, resultando em uma alteração do equilíbrio ácido-base com consequente acidose metabólica. Assim, a detecção do LA e a avaliação da modulação do balanço simpato-vagal sobre o nodo sinusal, em repouso e em diferentes intensidades do exercício, podem permitir a estratificação de risco em dife- SAÚDE REV., Piracicaba, v. 12, n. 30, p. 17-25, jan.-abr. 2012 12/4/2012 08:05:32 Flávia Cristina Rossi Caruso et al. rentes populações, possibilitando uma adequada intervenção preventiva e/ou curativa pela fisioterapia. Conclusão dades para determinação do LA foi factível em todos os voluntários estudados e que nas intensidades abaixo e acima do LA ocasionou em respostas autonômicas da FC semelhantes, sendo, portanto, aplicável em coronariopatas. 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