As Dimensões da Inteligência Humana e o Cérebro. Na atualidade, o estudo do cérebro e da inteligência humana nos leva a concluir que existe um fator geral da inteligência no homem que correlaciona todas as dimensões específicas da inteligência. O tema inteligência reveste-se de grande importância na educação e nas ciências em geral. O conceito de inteligência vem se diversificando no tempo, à medida que o conhecimento científico avança. Ela seria uma capacidade inerente ao individuo que lhe permite o ajustamento às situações novas de vida, de adaptação ao meio, de aprender e resolver problemas. Precisamos diferenciar inteligência de intelecto, que é o conjunto de funções mentais inatas acionadas em todo ato intelectual; de talento, que é uma inteligência especializada; de gênio, que é um alto grau de capacidade mental e de habilidade que é uma aptidão manual associada à inteligência. Por muito tempo predominou a idéia de que a inteligência racional era única e de que só pela via racional, intelectual é que o individuo apreendia. Em 1905, o psicólogo Alfred Binet, na França, criou uma bateria de testes para medir a inteligência geral. Compreendida esta como sendo uma composição de juízo, bom-senso, iniciativa e capacidade de adaptação e de perseverança em qualquer tarefa até completá-la. O nível de inteligência seria a medida dos efeitos combinados da atenção, imaginação, juízo e raciocínio. Esses testes evoluíram muito: Binet-Simon, Binet-Terman (1916) e outros mais. Alguns psicólogos atribuíram à Escola Binet a mensuração da capacidade lógico-matemática e a de linguagem. A tendência era para considerar essa inteligência (a medida pelos testes), não como uma inteligência geral mensurável, como pretendia BINET, mas apenas como inteligência racional (raciocínio dedutivo ou indutivo). Dessas pesquisas surgiram os conceitos de idade mental e de idade cronológica, cuja relação expressa o quociente de inteligência (QI). Binet propôs a seguinte definição de inteligência geral: - “A inteligência, considerada independente dos fenômenos da sensibilidade, de emoção e de vontade, é uma função de conhecimento dirigida para o mundo exterior, resultando em compreensão, invenção, direção e critica.” Jean Piaget, epistemólogo suíço, nas décadas de 60 e 70 do século passado, concentrou seus estudos no aspecto lógico-matemático da inteligência, ou seja, na sua dimensão racional. A visão unitária da inteligência influenciou os meios educacionais do mundo ocidental no século XX. A Psicologia ficou aprisionada no conceito do cérebro intelectual que se exteriorizava através dos QI, cuja escala de valores estabelecia os créditos que deveriam triunfar na vida da pessoa. Os de QI alto eram tidos como futuros triunfadores. Não era levada em conta as emoções do indivíduo, que poderia ser comparado a um robô, com capacidade de enfrentar os problemas e solucioná-los com frieza. Foi um período de verdadeira ditadura dos elevados Quocientes de Inteligência, que selecionava os tipos eleitos pela natureza e que seriam fadados ao triunfo, criando-se uma casta privilegiada que deveria conduzir as mentes humanas e a sociedade em geral. No entanto, na prática, os resultados não corresponderam às expectativas dos seus formuladores. Naturalmente, o individuo bem dotado de inteligência tem mais facilidade para solucionar os desafios das ocorrências mais difíceis. Com o passar do tempo, observou-se que homens e mulheres superdotadas não obtiveram o êxito esperado, por falta de vontade para a luta, por acomodação, ou outras situações. Simultaneamente, outros indivíduos, com menos capacidade intelectual, medida nos testes Binet/Simon, variando de 90 a 100, conseguiram superar as dificuldades da vida com mais galhardia face a tenacidade e esforço moral para alcançar patamares mais altos. Muitas vezes têm sido encontrados aqueles que alcançaram o expressivo QI de 160 e que são comandados por outros que não passaram de 100... A área do conhecimento humano denominada “Ciência cognitiva”, hoje é baseada na combinação da Psicologia, Neurociência e Sistema de computação e procura entender como o cérebro processa as informações. O objetivo da educação escolar sob esse enfoque deve ser o de ensinar a aplicar o conhecimento que cada componente curricular oferece ao aluno. Não é só repetindo, para memorizar que o aluno aprende. É preciso estimular mutuamente em sala de aula a expansão da inteligência no grupo. Um bom método pedagógico é provocar a discussão sobre o assunto em foco, onde os componentes do grupo poderão se manifestar, opinar e construir um pensamento crítico sobre o que está sendo informado. Quanto mais o aluno refletir sobre o assunto, mais profundamente ele vai processar a informação e mais facilmente vai lembrar dele. A reflexão sobre o tema estudado, por parte do aluno, quanto mais profundamente ele armazenar esse conhecimento novo, mais fácil ele se lembrará porque vai desencadear associações mentais entre a informação nova e o que está armazenado na memória. O professor não deve ser um mero transmissor de conhecimento. A aula precisa ser ativa, envolvendo a participação efetiva dos alunos. Isso vai depender da capacidade interativa do professor. O aluno numa aula expositiva, com facilidade, por digressão, perde o fio condutor da fala e não exercita a sua capacidade de abstração. Ele precisa ser motivado a analisar e concluir como poderá aplicar o que apreendeu, na vida cotidiana. O professor, não importa o componente curricular que trabalhe, deve explorar a imaginação do aluno. A visualização mental, de forma espontânea, sem estímulo físico, ajuda a desenvolver a memória e a noção de espacialidade. O aluno que aprende a usar sua imaginação, formando redes cerebrais de comunicação, saberá analisar problemas e situações da vida com peculiaridade e espírito crítico, encontrando solução para os desafios e abrindose para novos conhecimentos. Podemos concluir que só o desenvolvimento da capacidade intelectual e a formação científica, sem a integridade do caráter, pode ser mais prejudicial que a ignorância. A inteligência, superiormente instruída somada ao desprezo das virtudes fundamentais, pode ser uma ameaça à paz e ao equilíbrio social. O intelectualismo não resolve os grandes e graves problemas individuais e sociais. As Inteligências Múltiplas As concepções contemporâneas, científicas, pluralistas e específicas sobre a inteligência tiveram um ponto alto em 1983, com Howard Gardner, nos Estados Unidos. Ele é integrante, há 30 anos, do grupo de pesquisas do Harvard Project Zero da Universidade de Harvard. Gardner, juntamente com outros pesquisadores do comportamento humano, por observação direta, constatou que pessoas com mau desempenho escolar e baixo ou médio QI, posteriormente foram bem sucedidas na profissão escolhida e nas suas vidas, enquanto pessoas que tiveram excelente desempenho escolar, revelando alto QI, apresentavam dificuldade de adaptarse ao mundo de relações e, muitas vezes no desempenho profissional eram comandados por indivíduos de QI mediano, inferior ao seu. Essa observação levantou a hipótese de que deveria haver outras formas de inteligência, diferentes da racional que, até então, no mundo acadêmico era reconhecida como única, surgindo a visão pluralista da inteligência. Após intensas pesquisas, Gardner relaciona inicialmente sete inteligências: Lógico-matemática – Capacidade de raciocínio lógico e compreensão de modelos matemáticos, assim como capacidade científica. Habilidade em operações que envolvam cálculo e abstração. Lingüística – Domínio de expressão com a linguagem verbal. Capacidade nas áreas gramaticais, semânticas, retórica. Esta capacidade, segundo o autor, é expressa pelos escritores e poetas, porém considera que existe de forma mais completa nos poetas. Espacial – Capacidade de pensar de modo visual e orientar-se espacialmente. Habilidade para expressar graficamente as idéias visuais e espaciais. Sentido de movimento, localização e direção. Marinheiros, engenheiros, decoradores, escultores, pintores possuem uma inteligência espacial altamente desenvolvida. Musical – Domínio da expressão com sons. Capacidade de usar a música como veículo de expressão. Mozart a possuía em alto grau. Assim Beethoven, Bach, Chopin, maestros e instrumentistas. Corporal-cinestésica – Domínio dos movimentos do corpo. Habilidade para usar o próprio corpo como meio de expressão. Dançarinos, atletas, artistas a têm muito apurada. Interpessoal – Capacidade de se relacionar e de responder adequadamente às outras pessoas, compreendendo-lhes as necessidades e sentimentos. Professores, políticos, terapeutas, líderes religiosos, assistentes sociais têm alto grau de inteligência interpessoal. Intrapessoal – Capacidade de se autoconhecer, de ter consciência das próprias forças e potencialidades e utilizar esse modelo para operar efetivamente na vida. Gardner ressalta que todas as inteligências são importantes e têm igual direito à prioridade. Mas explica que, em nossa sociedade, colocamos as inteligências linguística e lógico-matemática como as mais importantes. Às sete inteligências, porém, ele acrescenta como oitava a inteligência naturalista, que é a sensibilidade para interagir com os processos da natureza, como fazem os biólogos, ambientalistas, paisagistas etc., e mais outra, a nona, a inteligência existencial – voltada para questionamentos filosóficos e religiosos. Para Gardner a inteligência é como um potencial biopsicológico que serve para processar informações que pode ser ativado num cenário cultural para solucionar problemas ou criar produtos que sejam valorizados numa cultura. Considera-se, a partir dessas pesquisas, que o ser humano é, antes de tudo, um feixe de emoções que o dirigem, condicionam, elaboram programas para a sua estrutura psicológica, contribuem para a sua autorealização. As habilidades relacionais e emocionais são fundamentais para o homem e não apenas as resultantes de sua racionalidade. A Inteligência Emocional Em 1995, o psicólogo Daniel Goleman, nos Estados Unidos, lança o livro “Emotional Intelligence” cuja tese central resume-se na conclusão de que o (QI) quociente da inteligência racional não era suficiente para garantir o sucesso de alguém, em qualquer área da vida. Seria preciso elevar o índice que Goleman chamou de QE (quociente emocional). A emoção deve ser compreendida tanto pelo lado subjetivo, no desenvolvimento, captação e controle das emoções próprias, quanto pelo lado objetivo, apreendendo as emoções dos outros, para desenvolver habilidades de resolver situações que emergem no relacionamento social. A educação emocional promove o melhoramento efetivo dos relacionamentos humanos nas escolas, nos lares, nas empresas resolvendo conflitos pessoais, estimulando a fraternidade, possibilitando maior eficácia do processo de aprendizagem, pela introdução do fator afetividade sadia no relacionamento educando-educador. As consequências do desenvolvimento emocional na vida social são evidentes: desempenhos profissionais são mais consistentes e harmônicos nas empresas; os alunos aprendem com mais eficácia na escola; mais harmonia nos lares; melhor seleção e lotação do pessoal nas empresas. Na área pessoal: dedicação a causas de grupos e de pessoas, poder íntimo de atrair simpatias; perceber os próprios sentimentos e os dos outros, ter a empatia; capacidade de administrar conflitos com o próximo e de solucionar os problemas pessoais; controle dos impulsos próprios; domínio de ansiedade e de aflições; disposição mental otimista, sucesso e progresso profissional que levam à formação da auto-estima; aquisição de habilidades no convívio social, e poder de liderança e de popularidade; mais responsabilidade pessoal, mais solicitude social (préstimos); mais reflexão antes da ação. As habilidades relacionais e emocionais são fundamentais para o equilíbrio do ser humano e não apenas as resultantes da inteligência, racional, intelectual. É necessário, na educação, harmonizar a emoção e a razão, de forma que se apoiem mutuamente, a emoção dando calor à razão, que, por sua vez, oferecerá entendimento ao sentimento, evitando, sempre a permanência em uma única vertente da realidade. As emoções básicas, quando não educadas, perturbam o pensamento, dificultando a concentração e colocando-se em sentido diferente do intelecto, da razão. Da mesma forma, a inteligência fria e lógica cria obstáculos à doação afetiva, à concentração emocional, tornando o individuo destituído de amor e de sensibilidade. Quando predomina a emoção, as atitudes são embaraçosas, a pessoa não consegue pensar corretamente, discernir entre o certo e o errado, apresentando dificuldades de comportamento. As emoções precisam conviver bem com a racionalidade, a fim de que sentimento e pensamento racional se complementem apresentando resultados felizes nas decisões e condutas humanas. A Inteligência Moral Em 1997, o psiquiatra norte americano Robert Coles publicou o livro “The Moral Intelligence of children”, resgatando um trabalho de pesquisa de mais de trinta anos. O autor especifica outra dimensão de inteligência, a inteligência moral (IM), com personalidade própria, ao lado das dimensões: racional (Binet – 1905), e múltipla (Gardner – 1983) e emocional (Goleman – 1995). O autor destaca a diferença entre o caráter e o intelecto e a ascendência do primeiro sobre o segundo. Ele sugere a adoção da didática do exemplo, centrando a educação moral de crianças e adolescentes na observação e crítica por eles do bom e mau comportamento dos adultos, em casa, na escola e na sociedade. O adulto é o modelo que infantes e jovens vão buscar imitar, no comportamento moral. A inteligência moral, de acordo como Coles, só pode ser observada na ação e não em relação a fatos e imagens. É o comportamento, as atitudes, que demonstram ou não que a inteligência moral está desenvolvida. A educação da dimensão moral da inteligência tem como práticas eficazes: “O DIÁLOGO: A conversa amiga, livre, espontânea, sem imposições, entre pais e filhos, sobre a conduta, diante de casos reais e concretos. Conversa amiga deve significar o afeto recíproco de ambas as partes; livre quer dizer, sem censuras, com plena liberdade de expor opinião; espontânea para substituir o pré-estabelecido; sem imposições, para a doutrinação, quando esta visa a uma conclusão já programada, à revelia do diálogo. O EXEMPLO: o bom exemplo é o principal fator para o desenvolvimento da inteligência moral. O CONCRETO: e não o abstrato das chamadas “lições de moral”, de escassa eficácia. O concreto significa focalizar os atos, os procedimentos, as condutas reais, acontecimentos, dos educandos, dos filhos, nunca esquecendo de si próprios, dos adultos. O AUTOCONHECIMENTO: a passagem em revista (retrospectiva) das vivências do dia é fator preponderante para a abertura da consciência moral e para afinar a inteligência moral (sensibilidade ou acuidade morais). O RELACIONAMENTO: melhorar o relacionamento dos educandos no lar, na família, na escola e na vida urbana. A TOLERÂNCIA ZERO: em questões morais, envolvendo os educandos, nada deve escapar à análise e diálogo com os educadores. “O pequeno deslize de hoje encomenda o grave ilícito de amanhã.” O adulto educador demonstra a educação da dimensão moral de sua inteligência, quando ele é capaz de apresentar: - o bom exemplo; - a primazia do caráter: o estabelecimento do primado dos valores do caráter sobre os da intelectualidade; - a firmeza na administração dos limites e do “não”, embora devidamente justificados; - a tolerância zero ao erro: A aplicação da tolerância zero no ajuizamento de qualquer questão que envolva a moralidade; - apresentar-se como um padrão, um referencial, de comportamento com o qual possam os educandos se identificar; - a orientação: compreensão sobre dificuldades do educando em se orientar em questões morais; - a responsabilidade: de assumir, conversar e esclarecer os seus atos desacertados diante dos educandos, assumindo a culpa e pedindo desculpas, se for o caso; - a não imposição de regras, cujos fundamentos os educandos não conheçam ou não aceitem. Jamais será autocrático; - o diálogo: dialogar permanentemente com os educandos; fazer perguntas, levantar questões morais; - avaliação e Reprovação: debater os atos dos educandos contrários à moral, demonstrando o porquê; - o direito de Liberdade: dar o direito de liberdade dos educandos em manifestarem francamente suas opiniões, mesmo que contrárias às de seus educadores. A aplicação da inteligência moral é necessária e indispensável, nas seguintes situações, atividades e profissões: paternidade, maternidade, magistério, sacerdócio e equivalentes, política, governantes, magistrados, assistência social, atividade comercial, bancária ou financeira, relacionamento amoroso e/ou sexual, nas relações recíprocas patrão/empregado, situações de difícil discernimento do bem e do mal. A Inteligência Espiritual No ano 2000, a psicóloga e filósofa norte americana, Danah Zohar e o psicólogo Ian Marshall publicam o livro “The Ultimate Intelligence”, lançado no Brasil com o título: “QS – Inteligência Espiritual”. QS corresponde a “Spiritual Quocient”. Os autores fundamentam-se, além de suas observações diretas, nas pesquisas científicas de eminentes neurologistas que identificaram no cérebro humano, na ressonância magnética, o ponto denominado “ponto de Deus” ou “modulo Deus” ou “DNA Divino”, o qual está relacionado com a busca de sentido da vida, ponto capital da inteligência espiritual. As pesquisas em laboratório, coordenadas por neurocientistas, comprovam que existe um ponto no cérebro que cintila, se ilumina, quando as pessoas discutem ou tratam de temas de religiosidade e existenciais (Persinger e Rama Chandran – 1990 – 1997). Danah Zohar e Ian Marshall concluíram que o desenvolvimento e educação das dimensões da inteligência racional (QI) e a emocional (QE) podem trazer crescimento e sucesso profissional, financeiro, social, mas não necessariamente paz interior e alegria. Que não podemos prescindir da dimensão espiritual da inteligência nas crises existenciais que fazem o individuo perder o sentido da vida, que são doenças graves, sofrimentos angustiosos, separações, perda de entes queridos, prejuízos, etc. As finalidades da educação da dimensão espiritual da inteligência são: - encontrar um sentido mais amplo e profundo para a vida, na forma de um propósito pessoal, corporificado por valores mais elevados; - fazer sentir que não está sozinho no mundo, que se faz parte de um todo; - despertar o espírito de cooperação, que é a forma mais elevada de Inteligência Espiritual; - conquistar a habilidade para lidar com problemas existenciais (fracassos, prejuízos, sofrimentos, rompimentos, separações, desempregos, etc.); - habilitar-se a criar situações novas, a mudar de rumo: um novo projeto, dedicação à família, exercícios de atividades voluntárias. Auto-questionamento; O que quero na vida, do meu trabalho? Da minha família? De mim? - Capacitar-se a fazer perguntas para si mesmo: quem sou? – para que nasci? – o que torna a vida digna de ser vivida? O que o Criador espera de mim? - Encontrar o verdadeiro e mais profundo propósito da vida (da vida de cada um – dos grupos sociais dos quais faz parte – da sua comunidade – da sua pátria – da humanidade). Para desenvolver o QS da inteligência deve-se estimular o autoquestionamento: Qual o meu propósito de vida? Estou sendo coerente com esse propósito? Por que certas coisas me incomodam? Do que gosto em mim? Do que não gosto? Quais os meus limites? Qual o meu grande projeto? Qual o sentido do que eu estou fazendo? Qual o futuro que eu desejo? A proposta educativa dessa visão é buscar encontrar o propósito da vida, considerar a dor, o sofrimento, as frustrações, como desafios existenciais. Procurar desenvolver valores espirituais, enriquecer o espírito como novos conhecimentos, novos valores emergidos do âmago do ser, são caminhos para educar a dimensão espiritual da inteligência. As conseqüências do desenvolvimento do SQ, segundo os autores do assunto, são: - capacidade de ser flexível; - grau elevado de autopercepção e capacidade de enfrentar e usar o sofrimento em favor de sua evolução espiritual; - capacidade de enfrentar e transcender a dor; - capacidade de ser inspirado pela visão dos valores espirituais. - ser holístico: capacidade de percepção do todo, e, em função dessa visão global, entender a função das partes; - relutância em causar danos aos outros, ou em ofendê-los; - tendência para ver conexões entre realidades distintas; - tendência a se questionar sobre suas ações e desejos, com perguntas como “por que agi de tal maneira?” Ou “o que aconteceria se agisse de outra maneira?” - Capacidade de seguir as próprias idéias e ir contra as convenções artificiosas, mundanas e sem consistência. Danah Zohar define que Inteligência Espiritual é a capacidade de abordagem e de solução de problemas de sentido e valor. O psicólogo clinico Richard Wolman, em 1999, publicou a obra “Thinking With Your Soul” (Pensando com sua Alma), nos Estados Unidos, que foi traduzido e publicado pela Ediouro, no Brasil, com o título: “Inteligência Espiritual”, em 2001. O autor concorda com Danah Zohar de que a dimensão espiritual da inteligência procura o sentido mais profundo da vida. O que pode ser conseguido com autoindagações sobre esse significado. É a capacidade de fazer perguntas intimas através de uma autoreflexão. Ele apresenta um método revolucionário para avaliar e expandir o nível de consciência e energia espiritual chamado “Psycho Matrix Spirituality Inventory (PSI).” “Participaram do teste 714 pessoas, cada um respondendo a 105 quesitos sobre espiritualidade, o que redundou em 74.970 respostas. Essas respostas foram submetidas a tratamento estatístico. Wolman classificou as respostas em sete famílias ou fatores: a. Fator Divindade (Deus; assombro diante de fenômenos naturais). b. Fator Diligência (meditação, alimentação, exercícios (yoga, etc.) e respiração). c. Fator Intelectualidade (ler, estudar textos sagrados e temas espirituais). d. Fator percepção Extra-Sensorial (sexto sentido, fenômenos paranormais, experiências de quase-morte, ou de fora do corpo). e. Fator Comunidade (atividades sociais, associações fraternas beneficentes, trabalho voluntário). f. Fator Trauma (crises existenciais, despertando a espiritualidade, enfermidades graves, morte de pessoa querida, separações traumáticas de casais, etc.). g. Fator Espiritualidade na Infância (experiências espirituais na infância: cerimônias religiosas, ouvir histórias da Bíblia, ou do Corão, lidas por pais ou avós). Esses fatores, segundo o autor, “são agrupamentos de respostas com alguma consistência estatística identificável”, e “demonstram que é possível encontrar pontos comuns de respostas”. Wolman conceitua: “Inteligência Espiritual é a capacidade humana de fazer as perguntas fundamentais sobre o significado da vida e de experimentar simultaneamente a conexão perfeita entre cada um de nós e o mundo em que vivemos. O mundo subjetivo, com que a espiritualidade lida, e o mundo objetivo, que a espiritualidade busca compreender, convivem dentro de cada um de nós. Necessitamos de uma linguagem para descrever a experiência do sagrado, que possa apontar para os aspectos de normalidade dos encontros com o inefável, mas que não foi sobrecarregada de implicações ideológicas ou religiosas. Também necessitamos de uma metodologia para estudar, aprender e compreender nosso eu espiritual e as maneiras inteligentes com que podemos vivenciar nossa espiritualidade”. O Cérebro Todos os seres humanos são dotados de diferentes combinações, gradações e intensidade dessas múltiplas dimensões de inteligência, o que faz cada um diferente dos demais. A pesquisa cientifica, liderada por Paul MacLean aponta que a constituição mais primária do cérebro humano, que é formada pela sua parte posterior, pela medula espinhal e pelo mesencéfalo, poderia ser aceito como a sua base ou o seu chassi neurológico, que serviria de sustentação aos elementos que se aglutinaram sobre esse conjunto primário para formar o encéfalo contemporâneo. Joanna de Ângelis, na obra Triunfo Pessoal, analisa a questão do Cérebro e da Inteligência Humana trazendo luz sobre esse estudo. O cérebro na sua tríplice constituição cada uma se equilibraria sobre a outra definindo-se na sua morfologia contemporânea. O primeiro é o denominado complexo R, também conhecido como o cérebro réptil, responsável pelo comportamento agressivo – herança do primarismo animal - os rituais existenciais, a noção de espaço territorial, a formação do grupo social e sua hierarquia, estando presente nos primeiros répteis. Logo depois, vem o cérebro mamífero, expresso pelo sistema límbico, com a inclusão da glândula pituitária responsável por grande parte das emoções humanas, qual a área da afetividade, dos relacionamentos, do sentimento de compaixão e de piedade, da manutenção do grupo social e da organização gregária. Por fim, o neocórtex ou cérebro primitivo, encarregado das funções nobres do ser, como a inteligência, o raciocínio, o discernimento, a linguagem, a percepção de tudo quanto ocorre à volta, da administração da visão Eliane Austin de Beauport, no livro “As Três Faces da Mente” apresenta os diversos tipos de inteligência e em que região do cérebro se agrupam: o cérebro reptiliano, as inteligências do comportamento; o sistema límbico, as inteligências emocionais; o neocórtex, as inteligências mentais. Analisando todos os aspectos apresentados, a inteligência pode ser definida como a faculdade de conhecer e que se expressa em formas e conteúdos variados. É o veículo portador do conhecimento e da compreensão das ocorrências, bem como dos instrumentos através dos quais sucedem, constituindo-se uma substância de natureza espiritual. Por longos anos, e particularmente durante o Século XX, acreditava-se na existência de apenas uma inteligência, que seria a denominada intelectual, encarregada da análise das coisas, dos cálculos, do conhecimento generalizado e que, mediante testes bem elaborados podia ser medida. Foram os psicólogos Binet e Simon que estabeleceram as escalas para análise do nível de inteligência dos indivíduos. Esse Quociente Intelectual predominou no comportamento cultural da sociedade até o momento quando foi detectada uma outra forma, outra expressão de inteligência, que se tornou conhecida como emocional, aquela que faculta a percepção e compreensão dos sentimentos próprios bem como das demais pessoas. Graças a essa conquista e entendimento dos valores, o ser humano mais se enriqueceu, mediante o desenvolvimento do seu QE (Quociente Emocional), despertando recursos e aptidões adormecidos que lhe dão amplitude para o relacionamento humano e social, bem como para o equilíbrio das emoções e do êxito nos empreendimentos encetados. A vivência prática demonstrou que nem todo aquele que era portador de um elevado QI (Quociente Intelectual) se tornava um indivíduo exitoso, e, embora com possibilidades aparentes de triunfo, não conseguia alcançar as metas almejadas. Percebeu-se, então, um grande vazio interior de natureza existencial e a falta de sentido para a vida, na maioria desses indivíduos altamente credenciados. Como tudo parecia de fácil solução para esses portadores de alto nível intelectual, um grande número mergulhava na indiferença perante a vida e seus valores, malbaratando as excelentes oportunidades para viver uma existência feliz, postergando o momento de ventura ou fruindo dos prazeres que lhe chegavam, mas vivendo em transtornos comportamentais. Ante essa imensa crise de valores e a crescente onda de vazio existencial, descobriu-se que existe um outro tipo de inteligência, que é o de natureza espiritual, aquela que permite situar a vida e os sentimentos em um contexto mais extenso e significativo, propiciador de objetivos mais duradouros e profundos, que facilita o entendimento para a escolha de um, em detrimento de outro caminho, para a auto realização. Essa Inteligência Espiritual (QS) pode ser considerada como base de sustentação para as duas outras, oferecendo-lhes meios para a realização plenificadora de cada pessoa. Todas as variações da inteligência partem do ser profundo e são traduzidas por um dos três sistemas neurais do cérebro humano, para que se tornem realidade no mundo objetivo em favor do intercâmbio entre as pessoas. A criatura humana tem origem espiritual, é sempre impulsionada a indagações graves, aquelas que dizem respeito à sua existência, e que, explicadas, facultam-lhe maior entrosamento no grupo social e mais ampla perspectiva de saúde integral, descobrindo os valores e seus significados que dão sentido de dignidade à existência, resultando em prazer e felicidade. A descoberta e comprovação da existência da Inteligência Espiritual (QS) facultou a compreensão da complexidade da alma humana, que pode analisar os dados fornecidos pelo pensamento e elaborar os programas mais compatíveis com as suas necessidades e aspirações no complexo movimento da busca da plenitude. Perfeitamente identificadas as áreas nas quais se exteriorizam as diferentes inteligências, foi detectado em destaque um ponto-luz que expressa no cérebro a existência daquela de natureza espiritual, impulsionando o ser à compreensão da sua transcendência e da sua destinação no rumo do infinito. Esse ponto-luz ou divino está situado entre as conexões dos neurônios nos lobos temporais do cérebro. As pesquisas realizadas mediante a utilização de pósitrons, permitem constatar-se que, nas discussões de natureza religiosa ou espiritual, toda vez que o tema versa a respeito de Deus e do Espírito, da vida transcendental e dos valores da alma, de imediato se produz uma iluminação no campo referido, demonstrando ser aí que se sedia a Inteligência Espiritual. É, portanto, essa inteligência que conduz ao cerne das coisas e facilita a compreensão do abstrato, particularmente quando se refere aos valores da imortalidade da alma, da fé religiosa, da causalidade universal, do bem, do amor... Conseguir-se unificar as diversas Inteligências, tornando-as um bloco pelo qual se movimentem as diferentes significações em um conjunto harmônico, é o desafio existencial, qual ocorre com uma orquestra na preparação de um concerto sinfônico, para ser conseguida a harmonia do conjunto. Não fosse, da mesma forma, a existência humana o mais notável conjunto sinfônico de que a Humanidade tem conhecimento! ... (Extraído do livro “Educação, A Arte de Manejar o Caráter, de Gladis Pedersen de Oliveira, Diretora-Presidente do CONER/RS, 2ª edição OLSEN EDITORA, 2015)