O COMÉRCIO E O CONSUMO E OS ESPAÇOS DE TROCAS: DAS

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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
O COMÉRCIO E O CONSUMO E OS ESPAÇOS DE TROCAS: DAS
REDES SOCIAIS VIRTUAIS À APROPRIAÇÃO DOS ESPAÇOS
PÚBLICOS DA CIDADE DE PELOTAS-RS
PATRÍCIA DA CRUZ OLIVEIRA1
Resumo
Atualmente, para além do e-commerce, um outro movimento de comércio e consumo tem se
popularizado no espaço virtual: as trocas de mercadorias entre usuários de redes sociais virtuais.
Nesse sentido, toma-se o Facebook e os seus grupos de compra, venda e troca de mercadorias
como objeto de análise. Assim, o presente trabalho tem por objetivo central identificar quais os
espaços da cidade de Pelotas-RS são comumente utilizados pelos usuários da rede social virtual
Facebook para realizarem as trocas de suas mercadorias e, traçar um panorama inicial das relações
de trocas de mercadorias na cidade de Pelotas-RS, tendo como pano de fundo a intrínseca relação
entre o global e o local.
Palavras-chave: Comércio e Consumo; Redes Sociais Virtuais; Facebook.
Abstract
Currently, in addition to e-commerce, another trade movement and consumption has become popular
in the virtual space: the trade of goods between virtual social network users. In this sense, Facebook
and their buying, selling and exchange groups is taken as an object of analysis. The present work has
the main objective to identify which areas of the city of Pelotas are commonly used by users of virtual
social network Facebook to conduct trade of their goods, and draw an initial overview of the
commodity terms of trade in the city Pelotas-RS, with the backdrop of the intrinsic relationship
between the global and the local.
Key-words: Trade and Consumption; Virtual Social Networks; Facebook.
1 – Introdução
Nos últimos anos, com o aprofundamento da inserção e do uso das técnicas
de informação e comunicação, as chamadas TIC’s, há uma tendência a mudanças
nas relações de comércio e de consumo em escala mundial. Não se restringindo
apenas a novas estratégias por parte de empresas para atrair novos consumidores,
muitas são também evocadas por parte do próprio consumidor, que passa a
influenciar novas tendências e práticas de consumo.
O e-commerce já não é novidade, e agora um outro movimento de comércio e
consumo tem se popularizado no espaço virtual: as trocas de mercadorias entre
usuários de redes sociais virtuais. Nesse sentido, toma-se o Facebook e os seus
1
- Acadêmica do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” – Unesp campus de Rio Claro. E-mail de contato: [email protected]
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grupos de compra, venda e troca de mercadorias como objeto de análise. Em geral,
encontram-se três principais tipos de grupos dessa natureza: a) “classificados”, b)
“compra, venda e troca” e, c) “desapego”. Chama a atenção a grande quantidade
desses tipos de grupos no Facebook, inclusive na mesma cidade, como é o caso de
Pelotas-RS, e a imensa quantidade de membros participantes em cada um dos
grupos (em um dos grupos de “classificados”, por exemplo, existem mais de
cinquenta e nove mil membros).
Diferenciando-se do e-commerce, esses grupos, na grande maioria das
vezes, têm em comum três pontos centrais: 1) os membros dos grupos residem na
mesma cidade ou região; 2) as trocas são realizadas na mesma cidade onde
residem os membros; e, 3) as trocas são feitas diretamente entre os indivíduos,
pessoalmente, sem intermediários. Podemos observar assim, que tais práticas
iniciadas no ambiente virtual têm, cada vez mais, refletido no espaço urbano:
encontros em locais pré-determinados para realizarem as trocas, realizando algo
como feiras de trocas; alguns grupos são verdadeiros bric’s , brecho’s e sebos
virtuais; além de desempenhar o papel de anunciantes – tradicionalmente delimitado
aos jornais, rádios e emissoras de televisão. Percebe-se ainda que, na maioria das
vezes as trocas das mercadorias são realizadas em três tipos de lugares: 1) público
e aberto; 2) público e fechado; e 3) privado.
Não se tratando apenas de um comércio virtual, intermediado por tecnologias
da informação, ou de redes de comunicação virtuais, o objeto dessa proposta incita
a análise em perspectiva local a partir de um mecanismo global de possíveis
transformações espaciais decorrentes das relações de trocas realizadas a partir da
sociedade. Assim, tem por objetivo central identificar quais os espaços da cidade de
Pelotas-RS são comumente utilizados pelos usuários da rede social virtual Facebook
para realizarem as trocas de suas mercadorias e, traçar um panorama inicial das
relações de trocas de mercadorias na cidade de Pelotas-RS, tendo como pano de
fundo a intrínseca relação entre o global e o local.
Por fim, ressalta-se que este trabalho é fruto de uma pesquisa maior, a qual
espera-se resultar em uma dissertação de mestrado. Neste momento, trata-se da
análise de dados referentes a uma incursão de pré-campo, em que foi escolhido um
recorte da proposta inicial da dissertação, no qual alguns aspectos mais relevantes
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tiveram prioridade, para a formulação de questões que consideramos necessárias
para dar respostas às hipóteses levantadas. Assim, optamos por realizar uma
experiência inicial, de modo que pudéssemos ter um panorama básico do que seria
necessário, a melhor metodologia, para o trabalho de campo propriamente dito.
2 – Metodologia
Para a realização deste trabalho, além da revisão da literatura científica
acerca dos temas centrais, realizou-se uma pesquisa diretamente nos grupos do
Facebook através da aplicação de um questionário virtual (online) organizado a
partir de uma ferramenta disponibilizada gratuitamente para esse fim pelo próprio
Google (primeiramente é necessário criar uma conta no Google, depois acessar o
endereço do Google Docs: http://docs.google.com/; e por fim, criar um novo
formulário).
O questionário foi constituído por cinco questões de múltipla escolha (sobre a
quantidade de vezes que já realizou compra, venda ou troca de mercadorias nesses
tipos de grupos, local combinado para as trocas, tipos de mercadorias trocadas,
utilização ou não de serviços de entrega, participação em algum encontro coletivo ou
feiras de compra, venda e troca organizados a partir dos grupos do Facebook) e
uma questão dissertativa (sobre o bairro no qual a pessoa reside ou residia quando
efetuou a troca).
O questionário foi proposto em sete diferentes grupos do Facebook que
tinham a cidade de Pelotas como ponto em comum, durante o mês de julho de 2015,
sendo eles: “Classificados Pelotas” (grupo público), “Classificados Pelotas” (grupo
fechado), “Brickpelotas” (grupo fechado), “Pelotas Classificados” (grupo público),
“Desapegos Pelotas – Venda e trocas” (grupo público), “SEBO - PELOTAS (compra,
venda e troca de livros)” (grupo fechado), e “Classificados Trato Feito Pelotas RS”
(grupo público).
Após esse período de aplicação dos questionários, que se deu de forma
espontânea (o questionário foi publicado em cada um dos grupos e não direcionado
a pessoas específicas, de modo que cada membro do grupo tinha total liberdade em
responder ou não), foi feita a análise dos dados a partir de uma planilha de excel
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gerada automaticamente pelo mesmo programa do Google que desenvolve o
questionário, com as respostas dos mesmos.
3 – Resultados
De acordo com o questionário aplicado, podemos destacar alguns pontos
centrais observados a partir das respostas obtidas. Porém, primeiramente é preciso
destacar que houve dificuldade na obtenção de respostas, visto que mediante o
imenso número de membros em cada um dos grupos em que o questionário foi
publicado, o número de respostas foi considerado pequeno – uma média de três
questionários respondidos por grupo. De toda forma, as respostas obtidas puderam
proporcionar um panorama inicial de como as relações de trocas de mercadorias
inicialmente realizadas no Facebook se concretizam no espaço da cidade de
Pelotas-RS.
Assim, na primeira questão (“Quantas vezes você já comprou, vendeu ou
trocou alguma mercadoria nos grupos do Facebook?”), podemos notar que a maioria
dos questionados realizou a troca de mercadorias três vezes ou mais, como pode
ser observado no Gráfico 1.
Gráfico 1. Primeira questão
Quantas vezes você já comprou, vendeu ou trocou alguma
mercadoria nos grupos do Facebook?
14
12
10
8
6
4
2
0
Apenas uma vez
Duas vezes
Três vezes ou mais
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Na segunda questão (“Que tipo de mercadoria você já comprou, vendeu ou
trocou nos grupos do Facebook?”), verificamos que houve uma diversidade maior de
respostas, mas que o item que diz respeito à “livros, revistas, apostilas, dicionários,
mangás, etc.” foi o mais contemplado (Gráfico 2).
Tal resultado pode se relacionar ao fato de que Pelotas-RS é uma cidade que
contempla várias instituições de ensino superior e técnico, privadas e públicas, de
modo que muitos estudantes procuram por livros e materiais didáticos usados pelo
fato de custarem menos, da mesma forma que ao se formarem muitos decidem por
se desfazer de seus livros e demais materiais didáticos. Nesse sentido, os grupos de
compra, venda e troca de mercadorias no Facebook tornam-se ótimas ferramentas
de busca e de oferta desse tipo de mercadorias.
Gráfico 2. Segunda questão
Que tipo de mercadoria você já comprou, vendeu ou trocou nos grupos do
Facebook?
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
Livros, revistas,
apostilas,
dicionários,
mangás, etc.
Roupas, sapatos,
Móveis,
bolsas, acessórios, eletroeletrônicos,
cosméticos,
eletrodomésticos,
perfumes, etc.
etc.
Outros
A terceira questão (“Quando você negociou uma mercadoria com alguma
pessoa nos grupos do Facebook, qual(is) local(is) vocês combinaram de se
encontrar para trocá-la?”), considerada central neste trabalho, aborda os espaços
concretos em que as trocas, previamente realizadas no espaço virtual, se efetivam
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na cidade de Pelotas-RS. Na análise dos resultados percebemos que dois tipos de
espaços se destacaram, conforme apontado no Gráfico 3: a) espaço privado: “na
sua casa ou na casa da pessoa”; e, b) espaços públicos e abertos: “como em
calçadas em frente a pontos de referência, na frente do Teatro Guarany, no
calçadão, na Praça Coronel Pedro Osório, pontos de ônibus, etc.”.
Assim, percebemos que a maioria dos questionados corrobora para a
confirmação de uma das hipóteses levantadas nesse trabalho: a da afirmação do
espaço público e aberto como protagonista nas relações de trocas virtuais – a partir
da inexistência da concretude do espaço virtual, as trocas potencias ali realizadas
devem se efetivar em algum local, em algum espaço concreto, reconhecido pelos
envolvidos na negociação, considerado seguro (o espaço público aberto central
apresenta intenso fluxo de pessoas, o que pode dar mais segurança aos indivíduos)
e de fácil acesso.
No entanto, cabe ainda investigar quais os locais específicos mais utilizados
para a troca das mercadorias, de modo que se possa traçar um perfil de centralidade
de trocas na cidade de Pelotas-RS, ou então que tais centralidades podem não
existir – de toda forma, é necessário que se pesquise mais a fundo tal questão.
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Gráfico 3. Terceira questão
Quando você negociou uma mercadoria com alguma pessoa nos grupos do
Facebook, qual(is) local(is) vocês combinaram de se encontrar para trocá-la?
14
12
10
8
6
4
2
0
Na sua casa ou
na casa da
pessoa
Em lojas de
Em locais
roupas ou de
públicos e
outros
fechados, como
produtos, como
dentro do
a Renner, a
Mercado
C&A, a Marisa,
Público
supermercados, Municipal, em
etc.
escolas e/ou
universidades
públicas, dentro
da rodoviária,
etc.
Em locais
públicos e
abertos, como
em calçadas em
frente a pontos
de referência,
na frente do
Teatro Guarany,
no calçadão, na
Praça Coronel
Pedro Osório,
pontos de
ônibus, etc.
Quanto a quarta questão (“Você já utlizou algum serviço de entrega quando
comprou, vendeu ou trocou uma mercadoria? Exemplos: Frete, Motoboy, Correios,
etc.”), buscamos averiguar se houve algum tipo de intermédio na realização das
trocas, referentes a serviços de entrega. Neste aspecto não especificamos quais
serviços foram utilizados, apenas apontamos alguns exemplos. Como resultado
observamos que a grande maioria, mais de 70% dos questionados não utilizou
nenhum serviço de entrega, como pode ser visto no Gráfico 4.
Ao verificarmos as respostas da quarta questão, sobre o uso de serviços de
entregas na troca de mercadorias, pudemos observar que na metade dos casos em
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que houve o serviço de entrega o tipo de mercadoria era “móveis, eletroeletrônicos,
eletrodomésticos, etc.”, o que se explica especialmente pela utilização de frete na
compra, venda ou troca de móveis. Da mesma forma que observamos que na
maioria dos casos em que houve o serviço de entrega o local de encontro foi
privado: “na sua casa ou na casa da pessoa”.
Gráfico 4. Quarta questão
Você já utilizou algum serviço e entrega quando comprou, vendeu ou
trocou uma mercadoria?
16
14
12
10
8
6
4
2
0
Sim
Não
Na quinta questão (“Você já participou de algum tipo de encontro coletivo ou
feira de compra, venda e troca organizado em algum dos grupos do Facebook desse
tipo?”), podemos observar que a maioria esmagadora, cerca de 90% dos
questionados, afirma nunca ter participado de nenhum tipo de encontro coletivo ou
feira de compra, venda e troca organizado em algum dos grupos do Facebook
(Gráfico 5).
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Gráfico 5. Quinta questão
Você já participou de algum tipo de encontro coletivo ou feira de
compra, venda e troca organizado em algum dos grupos do Facebook
desse tipo?
20
15
10
5
0
Sim
Não
A sexta questão (“Em que Bairro da cidade de Pelotas você mora ou morava
quando comprou, vendeu ou trocou algo no Facebook?”) buscou averiguar em que
bairro residem ou residiam os questionados quando realizaram as trocas de
mercadorias. O resultado surpreendeu no ponto da diversidade de bairros dos
questionados: mesmo que a maioria, quase metade, resida ou residiu no centro da
cidade quando efetuou a troca, ainda outros cinco bairros foram citados.
Gráfico 6. Sexta questão
Em que bairro da cidade de Pelotas você mora ou morava quando
comprou, vendeu ou trocou algo no Facebook?
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
Arco Íris
Areal
Centro
Fragata
Porto
Três
Vendas
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Observa-se que Pelotas, com 203 anos de história, é um município da região
sul do estado do Rio Grande do Sul, considerado uma das capitais regionais do
Brasil. Distante 250 km de Porto Alegre, constitui-se, junto ao município de Rio
Grande, como principal polo econômico, de ensino superior, de saúde e de
infraestrutura urbana da região sul do estado. Possui uma população de mais de 328
mil habitantes (IBGE, 2010), sendo a terceira cidade mais populosa do Rio Grande
do Sul, caracterizando-se, assim, como uma importante cidade média ao sul do
Brasil. No que diz respeito a sua economia, trata-se de uma cidade com grande
diversidade, mas que detém no setor terciário a maior parte de sua população ativa,
de modo que “20,9% do pessoal ocupado no setor secundário e 78,4% no terciário,
conforme Cadastro Central de Empresas do IBGE no ano de 2010, pode-se concluir
que Pelotas constitui, principalmente, um centro comercial e de serviços”
(PREFEITURA MUNICIPAL DE PELOTAS) – dado que ressalta a importância
comercial na cidade.
4 – Conclusões
Mediante esse trabalho e demais pesquisas realizadas nesse sentido, que
visam contemplar a intrínseca relação entre o espaço virtual e o espaço físico, tornase possível uma melhor compreensão de como o processo atual da globalização,
nesse caso diretamente relacionado ao avanço das técnicas da informação e da
comunicação, as TIC’s, tem se concretizado no espaço urbano. Neste caso em
especial, refere-se às relações de comércio e consumo alicerçadas na emergência
de novas práticas sociais de trocas de mercadorias.
Da mesma forma que o processo de globalização atual afeta as dinâmicas já
existentes nas relações de comércio e consumo, e opera de modo a possibilitar
novas dinâmicas, outras mudanças são observadas nas relações sociais. A partir do
momento em que o computador passa a ser de uso pessoal, não mais restrito
apenas ao uso dos Estados e das empresas, estabelece-se um novo meio de
interação social – a comunicação entre indivíduos ganha um novo meio. E hoje, a
ferramenta com a qual se dão as relações sociais virtuais em relação ao acesso à
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rede não se restringe somente ao uso computador, os celulares ganham destaque
especial, já que dispõem de acesso a internet e de recursos muito próximos aos
utilizados nos computadores. Assim, para além da comunicação e interação entre os
indivíduos, verdadeiras redes foram criadas, justamente pelo seu poder de conexão
– as redes sociais (RECUERO, 2009), virtuais por se configurar em um espaço
abstrato.
Desse modo, é possível identificar inúmeras mudanças para a sociedade
quanto às redes sociais a partir do advento da Internet. A principal delas refere-se “a
possibilidade de expressão e socialização através das ferramentas de comunicação
mediada pelo computador”, proporcionando “que atores pudessem construir-se,
interagir e comunicar com outros atores” (RECUERO, 2009, p. 24). Também Lévy
(1999) aponta para o surgimento das tecnologias digitais voltadas para o uso
pessoal, embora primeiramente pensadas para o uso dos Estados, como “a infraestrutura do ciberespaço, novo espaço de comunicação, de sociabilidade, de
organização e de transação, mas também novo mercado da informação e do
conhecimento” (LÉVY, 1999, p. 32). A partir disso, é possível observar que há uma
mudança nas relações sociais entre os indivíduos decorrente do advento das
técnicas da informação e comunicação, não mais se restringindo apenas ao espaço
concreto. Entretanto, é preciso destacar que nesta era das redes virtuais o espaço
concreto ganha ainda mais importância.
Ao pesquisar como as relações de trocas de mercadorias iniciadas nos
grupos do Facebook se concretizam no espaço urbano da cidade de Pelotas-RS,
buscamos investigar justamente como tais práticas influenciam as dinâmicas
espaciais urbanas de uma cidade, visto que, como foi observado nas respostas do
questionário aplicado: a) a maioria dos membros que responderam o questionário
afirmam ter praticado a troca de mercadorias três vezes ou mais, o que demonstra a
grande quantidade de trocas que podem ocorrer em um único grupo, pois muitos
grupos possuem milhares de membros – alguns ultrapassam a marca dos cinquenta
mil membros, por exemplo; b) há uma intensa circulação de mercadorias que fogem
das estatísticas oficiais de compra e venda: são mercadorias usadas, ou seminovas, que circulam no espaço sem nenhum tipo de controle, dos mais variados
tipos, onde há também a circulação de dinheiro; c) como essa circulação de
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mercadorias se realiza? A partir das respostas obtidas percebemos que serviços de
entrega são utilizados, o que pode contribuir para a circulação econômica da cidade,
e no fluxo de transporte urbano; d) da mesma forma que as mercadorias circulam na
cidade, quando os próprios indivíduos trocam suas mercadorias pessoalmente, são
elas que se deslocam no espaço. Como vimos nas respostas do questionário, em
Pelotas pelo menos seis bairros foram citados, o que pode indicar maior fluxo no
transporte urbano, público ou privado; e, e) essa intensidade de trocas, de circulação
de mercadorias e de pessoas se dão no espaço físico, concreto, e dessa forma no
espaço urbano – em que locais? Quais são os espaços utilizados? Neste trabalho
verificamos que a maioria das trocas se realizam no espaço urbano público e aberto,
mas ainda carecemos de maiores informações que sejam capazes de desvendar a
existência centralidades e fluxos de mobilidade com especial relevância.
No mesmo sentido, cabe também pensar em casos problemáticos referentes
a essas trocas de mercadorias: sendo essa dinâmica totalmente informal, como
configura-se a segurança do consumidor na compra de uma determinada
mercadoria? A própria integridade física no caso das trocas ocorrerem em espaços
privados. Enfim, são muitas variantes ainda não contempladas e que merecem
atenção num mundo cada vez mais conectado virtualmente.
5 – Referências Bibliográficas
IBGE. Senso Demográfico 2010: Cidades – Rio Grande do Sul: Pelotas. Disponível
em http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=431440 Acesso em 10
de julho de 2015.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.
PREFEITURA MUNICIPAL DE PELOTAS. Especialização funcional: comércio e
serviços. Disponível em http://www.pelotas.com.br/bancodedados/ Acesso em 10 de
julho de 2015.
RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulina, 2009.
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