A QUESTÃO DA PRATICA EM PESQUISA COMO ESPAÇO DE ESTAGIO EM PSICOLOGIA EDUCACIONAL. Sônia da Cunha Urt - [email protected] INTRODUÇÃO A pesquisa como fonte de iniciação à prática de Estágio Básico em Psicologia é a premissa básica da apresentação deste trabalho. As ferramentas, os instrumentos, as normas, a linguagem científica, o produto final sob a forma de um artigo até sua divulgação em evento científico e/ou publicação, enfim todo o artefato que envolve o fazer uma investigação sendo disponibilizado para alunos de Psicologia de terceiro ano tem sido foco de nossos estudos, desafio e aposta na construção de uma base para se pensar a relação mais ampla da Psicologia com a Educação. Os alunos são apresentados incialmente aos projetos de pesquisa do professor e juntamente com os pós-graduandos – mestrandos e doutorandos - dá-se o início ao processo de formação e iniciação em pesquisa ou ao processo de tornar-se pesquisador em Psicologia. Leitura de textos de metodologia, de Psicologia Educacional, de determinadas abordagens da Psicologia e sobre algumas temáticas específicas são os materiais utilizados como procedimento adotados nessa fase, até que seja elaborado o projeto de trabalho que assim definido o professor passa a ser o orientador desse processo. Os instrumentos de pesquisa também são aprendidos em seguida. As pesquisas são iniciadas com o acompanhamento do professor e então, com supervisões semanais há uma socialização entre todos os alunos dos temas de investigação até que resultem em um artigo final com a entrega para apresentação em eventos e encaminhamento para publicação. PESQUISA E PRODUÇÃO COLETIVA: PREMISSAS DA PROPOSTA DE ESTÁGIO Partilhar e produzir significa muito mais do que juntar pessoas em torno de algo. Produção científica coletiva deve se referir a um ritual que pressupõe disciplina e aproximação de pesquisadores, técnicos e alunos em torno de temas e objetivos comuns. 2 Para isso, estudam, fazem levantamentos, organizam e participam de eventos, apresentam e publicam trabalhos, desenvolvem suas pesquisas ou participam de algum projeto de pesquisa, expressam e discutem suas dificuldades e crescem juntos, portanto, o conhecimento é compartilhado. Organizar e participar de um processo de produção coletiva do conhecimento exige que as pessoas diminuam suas expectativas em relação a grandes possibilidades individuais momentâneas e aumentem suas responsabilidades em relação ao compromisso com o grupo ao qual se vincula, e isso pressupõe aprendizagens para todos os envolvidos. Urt, S. C.; Azzi, R.; Larocca, L. (2002, p.93) corroboram esse argumento, em relação à responsabilidade do pesquisador, ao destacar que “... o saber produzido pela ciência contribuirá para o avanço tecnológico e estará mais perto de propiciar a transformação da sociedade e da qualidade de vida das pessoas, ao mesmo tempo em que estimula a livre expressão de cada um sobre a sua forma diferente de apreender o mundo”. Vale destacar que essa questão é extremamente complexa, considerando que nosso modelo de sociedade e, em consequência, de universidade, alicerça exatamente o oposto, ou seja, o cultivo do individualismo e de ações particularizadas. A formação do pesquisador e a institucionalização da Pesquisa devem estar presentes na academia, sistematicamente, desde a graduação. O primeiro passo será ligar a atividade do professor com a do pesquisador, na teoria e na prática, considerando a pesquisa como princípio científico e educativo. Somente um pesquisador pode de modo coerente, motivar o interesse pela produção própria no aluno, passando de professor a orientador. Sampaio (1984) defende o engajamento em pesquisa desde a graduação, em projetos de pesquisa de docentes ou em projetos institucionais, e a melhoria das condições de desenvolvimento da atividade nos programas de Pós - Graduação. Suas ideias são referendadas por Azzi (2000), ao apontar que pesquisa se aprende fazendo e que quanto antes a formação for iniciada, maior a probabilidade de seu sucesso. Estes dois pontos, pesquisa e produção coletiva, são os balizadores que devem servir de leme para as ações de um grupo que busca unidade nas concepções básicas de se pensar o conhecimento e a sua produção, independentemente da opção teórico-metodológica. 3 O desenvolvimento de pesquisas tomando por base as teorias educacionais e psicológicas historicamente construídas e suas implicações na dinâmica educativa da atualidade tem garantido espaço substancial na produção de novos conhecimentos. O pressuposto básico é de que a formação do profissional-pesquisador deve criar as condições necessárias à consolidação de uma visão ampliada sobre a profissão. Entendemos que a construção do conhecimento como processo dinâmico e coletivo se constitui na mediação do sujeito com o contexto social, histórico e cultural. Trata-se, então, de criar as condições necessárias para a formação do profissionalpesquisador em suas múltiplas dimensões, científica, técnica e política. A apropriação do conhecimento traz claramente expresso, o objetivo de “formar” e “informar” e retomam a constituição do profissional como sujeito concreto nas relações que estabelece, através da dialética apropriação/objetivação. Estamos diante de uma Pedagogia por “competências” e de uma preocupação com a avaliação de seus resultados. Nesse sentido, o debate educacional encontra-se reduzido a uma cultura de mercado que clama por competitividade, competências, flexibilidade, autonomia e tomada de decisão. Os alunos e os professores são responsáveis pelas estratégias que poderão levá-los a ter sucesso ou não - o indivíduo deve estar “apto” para acompanhar as mudanças existentes. As características pessoais que o aluno precisa possuir, ou adquirir na academia, para corresponder às expectativas do mercado, volta a construir o mesmo modelo – o padrão que os profissionais precisam entender e ao qual precisam corresponder para bem desempenharem a sua função. O fato é que a sociedade contemporânea vem gerando novas exigências para os psicólogos, especialmente no campo da educação e recorrendo a ela como recurso para enfrentar os desafios da alta competitividade. Dessa forma, voltaram a usar na educação as propostas renovadoras, e o novo discurso subentendido é que a Psicologia possa ajudar a Educação na “adaptação” do homem à complexidade da vida moderna. Diante da onda da política neoliberal apregoada hoje, que quer transformar a Educação em mercado e o aluno em consumidor, é que se questiona o tipo de escola pretendida pela sociedade que induz a educação a “ajustar-se” às exigências do mercado e, ainda, o papel da Psicologia no enfrentamento dessas novas tendências. 4 Duarte (1999) chama a atenção para o fato de a Educação passar a ser valorizada cada vez menos por seus conteúdos concretos e mais pelas capacidades concretas, que permitiriam o “aprender a aprender”. Segundo o autor, o importante, então, nessa perspectiva não é formar um indivíduo que possua determinados conhecimentos, mas um indivíduo disposto a aprender aquilo que é útil à sua incessante adaptação às mutações do mercado globalizado. É importante perceber como se dá a apropriação das idéias das correntes psicológicas a partir das novas exigências a respeito das chamadas competências que o novo profissional deve possuir. Segundo Sadalla (1998), as teorias psicológicas contribuíram para que se acreditasse que o fenômeno do fracasso escolar, por exemplo, tinha sua origem nos determinantes situados prioritariamente no aluno - determinantes biológicos. A conseqüência de se buscar compreender o fracasso como dependente unicamente do aluno, de suas deficiências ou desajustamentos foi a criação de grupos de marginalizados e estigmatizados. Posteriormente, a explicação passou da dimensão biológica para a social e a queixa escolar foi justificada como pobreza, carência, desnutrição e falta de interesse dos pais na vida escolar do filho. E, apesar de muitos programas para compensar as chamadas deficiências, as mudanças metodológicas e curriculares não apresentaram aos professores possibilidades reais de assumir sua parcela de responsabilidade diante das dificuldades. Os estudos sobre infância, adolescência e outras etapas da vida associados às questões da aprendizagem, da identidade profissional e pessoal, a consideração das instituições escolares, sociais e culturais, permitirão que as investigações praticadas por professores e alunos contribuam com a produção na área da atuação do psicólogo considerando sua formação em geral e suas diferentes matizes. Em síntese, o que se propõe neste exercício de Estágio x Pesquisa é articular as amplas temáticas: Educação, Psicologia e Prática Profissional com uma concepção concreta de sujeito que se singulariza através do pensar e do fazer. A constituição do sujeito como algo dinâmico e dialético e a identidade do profissional psicólogo educacional é permeada pelas temáticas aprendizagem, desenvolvimento, infância e formação, entendida como um processo de apropriação e reconstrução de si e do outro, que se dá nos espaços e territórios onde ocorre a sistematização do saber socialmente construído. 5 CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO, APRENDIZAGEM, E A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO. Desde a década de 1980, inúmeras produções científicas na área da Psicologia Histórico-Cultural, começam investigações orientadas por uma concepção psicológica que procura entender o homem como ser concreto, social, cultural, biológico e psicológico, que se constitui através das relações sociais que estabelece e de suas condições objetivas de vida. Assim sendo, a nossa proposta de Estágio vem construindo produções em Psicologia e Educação orientadas pela “matriz” da Psicologia histórico-cultural e, de outras abordagens psicológicas e pedagógicas. Não se pode prescindir das ideias e do conhecimento psicológico para a compreensão do ato educativo. Mas não se defende qualquer ideia ou qualquer conhecimento psicológico, mas sim, aquele comprometido com uma visão de sujeito que se constitui através das relações sociais e culturais estabelecidas. Olhar e fazer educação, formar alunos e profissionais, envolve considerar o contexto histórico, filosófico e político das questões educacionais, entretanto, não são estas miradas suficientes para a compreensão do fenômeno educativo em sua totalidade, Quem aprende é um sujeito concreto que expressa sua singularidade por meio da internalização dos conceitos, ideias, valores que percebe no mundo social. Mas é também um sujeito da emoção, da afetividade, do desejo. Isso não pode ser negado. Na escola ou em qualquer instância em que ocorra aprendizagem a Psicologia pode contribuir de forma singular e efetiva na questão da relação professor x aluno, da disciplina, da identidade pessoal e profissional, do desenvolvimento, da aprendizagem e de suas dificuldades, da avaliação, do currículo etc., desde que essas temáticas não sejam enfocadas de forma medicalizante, como se a escola fosse uma instituição hospitalar. Buscamos realizar pesquisas referendadas em uma Psicologia comprometida com a transformação do sujeito e da sociedade, com a compreensão de que a inteligência é construída e que de que a aprendizagem refere-se à apropriação dos bens disponíveis pela humanidade, por meio da educação. Esses são indicadores que corroboram esse modelo de estágio que estamos desenvolvendo e que se propõe a articular Educação, Psicologia e Prática Profissional e que aprendizagem e do conhecimento. perceba o sujeito da 6 PENSANDO A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO – O ESTÁGIO – E A PESQUISA Pensar a Psicologia da e na Educação pressupõe sublinhar alguns de seus aportes. Vejamos alguns deles. Coll (2000) aponta a definição do campo de conhecimento da Psicologia da Educação como resultado dos esforços de utilização das explicações e métodos da Psicologia Científica, para a melhoria das práticas educativas, em geral, e da escolarização, em particular. As teorias pedagógicas também fizeram suas tentativas de desenvolver-se às margens das correntes filosóficas, buscando uma fundamentação científica, mas foi a necessidade de se introduzir mudanças qualitativas no Ensino que fez com que as expectativas de solução se voltassem para a Psicologia. Muitos pesquisadores evidenciam em seus estudos, que a configuração da Psicologia da Educação surgiu da tentativa da Psicologia em estudar cientificamente fenômenos educativos, procurando contribuir para a melhoria da Educação, influenciando tanto as teorias, quanto as práticas educativas. Guerra (2002), afirma que as diferentes formas de produzir conhecimento para as questões educacionais deram origem às diferentes concepções sobre a Psicologia da Educação que, ainda hoje, coexistem. Cada uma dessas concepções expressa a importância atribuída aos componentes psicológicos no estudo e na compreensão dos fenômenos educativos. As diferentes concepções oscilam, desde posições que ainda enfatizam o reducionismo aos aspectos de natureza psicológica e sua aplicabilidade nos conhecimentos produzidos no campo da Educação, até a renúncia explícita a esta proposição, passando por diversas posturas intermediárias. A importância atribuída à Psicologia, de certa maneira, contribuiu para a psicologização do processo educacional. O fenômeno do reducionismo dos problemas educacionais aos aspectos psicológicos passou a ser objeto de muitas críticas, que, muitas vezes partiram de estudiosos da própria Psicologia, que apontavam a necessidade de se considerar outros indicadores na análise dos fenômenos, mesmo psicológicos, como a ênfase na perspectiva do indivíduo, principalmente com a contribuição da Sociologia.- (ALVITE -1981; FERREIRA-1986; PATTO -1984). Placco (2004) afirma que a Educação e a Psicologia precisam responder à necessidade de uma transformação radical na sociedade tal como se encontra hoje 7 organizada e, para isso, devem ter clareza de seu papel histórico e do referencial teórico que as sustenta. Entendemos que diferentes “leituras” feitas sobre as abordagens da Psicologia se constituem num referencial muito rico para se discutir as formas como se consolida “o discurso” sobre a prática docente. Compreende-se que o profissional em formação, ao se apropriar do conhecimento veiculado, nas diferentes situações da aprendizagem, nas relações sociais, acaba gerando um "saber" pela prática, que não é o conhecimento historicamente acumulado, mas um saber reelaborado, adquirido nas apropriações realizadas, a partir das atividades exercidas. Duarte (1999), ao retomar as características do processo de apropriação assinaladas por Leontiev, relembra que a formação do indivíduo se dá a partir da apropriação dos resultados da história social, quando ele se objetiva no interior da história, apropriação / objetivação, como já se pontuou, anteriormente, neste trabalho. Observa ainda que, esse processo se efetiva no interior das relações concretas com outros indivíduos, que atuam como mediadores entre ele e o mundo, atividade humana objetivada. Nesse sentido, o autor enfatiza que a formação do indivíduo é sempre um processo educativo, mesmo que não se dê no interior de determinada prática social e mesmo sem a consciência dessa relação. Duarte retoma ainda a questão de que, nessa perspectiva, a educação também pode ter um sinal negativo, isto é, tanto a apropriação quanto a objetivação podem fazer parte dos processos sociais alienantes. A partir dos trabalhos de Leontiev (1978), nas apropriações realizadas, o professor pode se constituir como um sujeito crítico, capaz de questionar as crenças e/ou cristalizações, que permeiam o contexto social, ou não, ele pode se deixar orientar pelos "parâmetros" que permeiam o contexto social em que vive e trabalha. Ciampa (1994), ao estudar o processo de constituição da identidade, chama de autodeterminação o movimento de transformação das condições exteriores, e não uma simples libertação dessas condições, e de re-posição a não-transformação. A reposição envolve uma identidade pressuposta que é re-posta a cada momento: uma réplica" (p. 163) como é o caso do professor que se deixa levar pelo discurso "do novo", sem se aprofundar na questão. É importante observar que a preocupação com a forma como as ideias de Vygotsky são veiculadas liga-se à aquisição do "saber" pelo professional, uma vez que os conhecimentos formais da Psicologia sempre representaram um forte ponto de apoio 8 à ação desse profissional. Cabe refletir, também, se esse "saber" representa saltos qualitativos no processo de constituição do profissional, ou não; isto é, se ele significa mais uma "construção social", resultante do amálgama gerado na interligação dos conhecimentos adquiridos com o senso-comum, nas "relações intersubjetivas" (sujeito/sujeito e/ou sujeito/objeto) do "contexto social" ou nas "atividades compartilhadas", como se convencionou pontuar. Esse saber, gerado na ponte que se estende entre o saber científico e a instituição acadêmica, a partir das apropriações realizadas, não pode se constituir de um saber superficial, e sim de um saber articulado que ajude o profissional teorizar sua prática, transformando-a para melhor. A IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA NA EDUCAÇÃO E NA PSICOLOGIA GATTI (1995), ao tratar do papel da Psicologia na Educação, situa com propriedade a questão, afirmando que, quanto às diferentes formas pelas quais a Psicologia tem abordado problemas relativos à Educação, infere-se que suas contribuições têm sido escassas e, na maioria das vezes têm sido utilizadas para justificar cientificamente a seletividade existente, fundamentando medidas paliativas e não transformadoras. A autora continua afirmando que estudos na área da Psicologia da Educação, numa perspectiva transdisciplinar, apresentam alternativas para a compreensão dos fenômenos ao desenvolvimento humano, à cognição, ao ensino etc, porém barreiras existentes na socialização dessas novas contribuições da Psicologia, trazidas pelas pesquisas acadêmicas, reduzem seu impacto na Educação. Essas barreiras referem-se a: emprego de bibliografia antiga, não revisada e com erros na tradução; ensino de uma Psicologia abstrata, sem correspondência com a realidade escolar; necessidade dos profissionais da Psicologia da Educação refletirem mais sobre os processos de ensino, pois eles têm se ocupado mais com o aprender, quando a compreensão dos processos da aprendizagem humana não garante a compreensão do ato de ensinar. 9 A autora continua afirmando que, para se compreender os processos de Ensino e de Aprendizagem, há que se considerar duas perspectivas distintas: o ato de ensinar implica uma construção específica daquilo que é o ensino- ato intencional, de natureza relacional, executado para transmitir um conjunto sistematizado e selecionado de conhecimento, com o objetivo de que seja compreendido e assimilado: quanto aos processos de aprendizagem o foco inside nas teorias de ensino e nas teorias de aprendizagem, sendo que as primeiras têm um papel fundamental no delineamento das propostas de formação de professores. Concluindo, afirma que, enquanto os estudiosos se dedicam ao estudo dos processos cognitivos, os professores desejam saber o que fazer, como e por que, em cada dia letivo, em sua escola, em sua disciplina. Para se criar condições que integrem e combinem aquilo que essencial na produção científica com a prática adotada na escola, há que se avançar para além dos fundamentos científicos, alcançando posições históricas- filosóficas que tenham a ver com o sentido e as finalidades dessa mesma prática. CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO INTELECTUAL DOS PROFISSIONAIS DA PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO GATTI chama a atenção para outro aspecto importante: a necessidade de pensar na formação tanto de psicólogos quanto de pedagogos, de modo que ambos tenham uma formação polivalente. Nessa perspectiva, a convivência e a participação dos dois grupos em experiências partilhadas de formação, ações e pesquisa deve ser o caminho que pode engendrar novas concepções e formas de ação para uma área inter e transdisciplinar como é a Psicologia da Educação. Nesse sentido, campos de conhecimento vêm sendo construídos, cada um com uma sistemática de atuação específica. Cada campo de estudo lança uma luz diferente na direção da compreensão do homem e das coisas na natureza e no universo. Todos esses campos interpenetram-se permitindo a contemplação dos fenômenos, de forma cada vez mais abrangente, a partir de construções integradoras de novas maneiras de 10 olhar os fenômenos e compreender o que se processa nesse universo em que os seres humanos se situam. Assim sendo, para GATTI, o campo de conhecimento que se refere à Psicologia da Educação situa-se entre as diferentes formas de se tratar fenômenos com características mais abrangentes, com uma perspectiva nova, cujas origens podem estar na Psicologia e na Educação como campos de conhecimento, mas que na integração mostra-se como uma nova síntese. Vale lembrar a importância da discussão sobre a formação do pesquisador e a institucionalização da Pesquisa na Universidade Para LUNA (1992), há uma baixa valorização da pesquisa por significativa parcela dos docentes universitários, reforçada pela falta de definição da Instituição sobre a relação ensino- pesquisa, e por práticas institucionais que apontam para um quase reconhecimento da dissociação entre eles. AZZI (1995) acredita que o maior entrave para a institucionalização da pesquisa na Universidade seja a falta de compromisso com o saber, com a ideia de que à Universidade cabe a função de superação da mera reprodução do saber instituído. Ao se tratar da qualidade e modernidade da Educação Superior DEMO (1991), faz uma crítica à "universidade do ensino", isto é, aquela onde não ocorre nada além da reprodução do conhecimento. Em contrapartida, defende a pesquisa como inspiradora do processo educativo, tanto no que diz respeito à competência para a produção própria do conhecimento- qualidade formal como à competência política- qualidade política. Somente a conjugação dessas duas modalidades, formal e política, pode garantir que a universidade cumpra o seu papel de agente de mudanças. Para o autor, a pesquisa como princípio científico decorre da sua concepção de instrumento de produção de conhecimento. Implica domínio metodológico e competência técnica. É expressão da qualidade formal. Em geral, é encarada como atividade sofisticada e reservada a poucos. É preciso desmistificar esse estereótipo. DEMO (1991), afirma que a pesquisa será encarada como princípio educativo quando for assumida como princípio de vida, como estratégia de autoconstrução e não como um rito acadêmico. É a atitude básica de questionar, de não acreditar na primeira impressão, nas ordens vigentes nos conhecimentos rígidos e envelhecidos e nas teorias comuns. O autor utiliza a proposta da pesquisa como princípio científico e educativo para fundamentar sua crítica no processo educativo tradicional e para propor uma revisão 11 desse processo que ponha a pesquisa como estratégia fundamental para superar a marca da escola reprodutora, imitadora, pela escola criadora, onde aprender é sinônimo de elaboração própria. O ENVOLVIMENTO DO ACADÊMICO EM PESQUISA NA UNIVERSIDADE Envolvidos com o tema sobre a importância da pesquisa na Universidade e a inclusão do acadêmico nessas pesquisas, concorda- se com essas ideias, na medida em que elas apontem para a consideração da importância da formação do pesquisador e do profissional nessa fase de formação em exercício. Segundo DEMO (1990) faz-se necessária uma mudança radical na postura didática e pessoal dos professores, frente ao processo de formação dos alunos. Para formar indivíduos criadores e autônomos é preciso que eles próprios sejam criadores de conhecimentos. Mas, principalmente é preciso superar a dissociação entre ensino e pesquisa, na prática universitária. Essa é a condição para que o ensino não seja "ensinar a copiar", a reproduzir, a imitar e nisso reside a importância de se envolver o acadêmico em pesquisas, na universidade. Contudo o autor (1991) afirma que a transformação do "professor que dá aulas" em orientador de pesquisa, passando pela produção própria de pesquisa como fundamento inseparável, é, na prática, a grande questão. A maioria dos ditos "professores" nunca superou a condição histórica de alunos que só aprendem. Mudar isso é tarefa complexa e, ao mesmo tempo essencial. O primeiro passo será ligar a atividade de professor com a atividade de pesquisador, na teoria e na prática (pesquisa como princípio científico e educativo). Somente um pesquisador poderia de modo coerente, motivar o interesse pela produção própria no aluno e aí passar de professor a orientador. MARTINS (1971), ao discorrer sobre a preparação de pesquisadores alerta que, "nem sempre a pesquisa pode ser ensinada em cursos de métodos de pesquisa". O processo é aprendido por meio de estágios de participação, num ambiente contagioso de pesquisa. Nesse sentido, o depoimento de GATTI (1987), é bastante ilustrativo: Minha formação como pesquisadora foi feita em núcleos de pesquisa seja na Universidade, seja na Fundação Carlos Chagas, e não através de cursos. Desde o primeiro ano do Curso de Pedagogia participei de Grupos de pesquisa existente na Universidade de São 12 Paulo, primeiro como "mão de obra", coletando dados, entrevistando pessoas aplicando questionários, fazendo tabulações cansativas, enfim participando de pesquisas de professores que, naquela época faziam pesquisa nos cursos de Graduação. Mais tarde, evidentemente, na preparação para o doutoramento e na Fundação Carlos Chagas teve a oportunidade de desenvolver as habilidades de pesquisa. (p.7). AS PESQUISAS DENOMINADAS "ESTADO DA ARTE" Segundo FERREIRA (1999), no Brasil, nos últimos quinze anos, tem-se produzido um tipo de pesquisa denominado "Estado da Arte" ou "Estado do Conhecimento". Trata-se de pesquisa de caráter bibliográfico, que se propõe a organizar e discutir certa produção acadêmica, em diferentes campos do conhecimento, buscando respostas acerca de quais aspectos vem sendo destacados e privilegiados, em diferentes épocas e lugares, de que formas e em que condições têm sido produzidas certas dissertações de mestrado, teses de doutorado, publicações em periódicos e 'comunicações em anais de Congressos e de Seminários. Para SOARES (1987), a compreensão do estado de conhecimento sobre um tema, em determinado momento, é necessária no processo de evolução da Ciência, afim de que se ordene periodicamente o conjunto de informações e resultados já obtidos, buscando identificar possibilidades de integração de diferentes perspectivas, aparentemente autônomas, bem como reconhecer duplicações ou contradições e determinar lacunas e vieses. FERREIRA (1999), afirma que essa é uma resposta exigida por uma sociedade que vê a Universidade como prestadora de serviços e que, por isso, deve ser avaliada. Segundo CHAUÍ (1999), a Universidade passa a ser vista não como instituição social, mas como organização social cujo reconhecimento e legitimidade são definidos pela ideia de eficácia e sucesso, que significa quantidade de resultados em curto espaço de tempo. É FERREIRA (1999), que conclui dizendo que determinados pesquisadores fizeram uma opção metodológica por se tratarem de pesquisas de levantamento e de avaliação do conhecimento sobre determinado tema, vindo ao encontro de seus anseios em conhecer o já construído e produzido, para depois buscar o que ainda não foi feito, de dedicar mais atenção às pesquisas realizadas de difícil acesso, de dar conta de 13 determinado saber que se avoluma cada vez mais rapidamente e de divulgá-lo para a sociedade. 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