>>Atas CIAIQ2015 >>Investigação Qualitativa em Saúde//Investigación Cualitativa en Salud//Volume 1 Saúde ocupacional e serviços de urgências: uma análise do Observatório sobre o Estado da Atenção às Urgências no Brasil Saúde ocupacional e serviços de urgências Occupational health and emergency services: a Monitoring analysis of the state of Attention to Emergency in Brazil Occupational health and emergency services Jeane Roza Quintans; Mayla Youko Kato; Tatiana Yonekura; César Roberto Braga Macedo; Armando De Negri Filho Laboratório de Inovação em Planejamento, Gestão, Avaliação e Regulação de Políticas, Sistemas, Redes e Serviços de Saúde (LIGRESS) Hospital do Coração São Paulo, Brasil [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected] Resumo — O ambiente de trabalho pode se tornar um elemento agressor a saúde do trabalhador. Objetivo: Compreender os fatores que podem afetar à saúde ocupacional de profissionais de saúde dos serviços de urgências. Método: Estudo de abordagem qualitativa. Foi utilizada a estratégia de monitoramento do Observatório da mídia digital. Resultados: Foram selecionadas 528 notícias do banco de dados para a estruturação de três categorias: Absenteísmo nos serviços de urgência; Condições de trabalho; e Falta de recursos humanos. Considerações Finais: Estudos para identificação e de intervenção para melhoria da saúde ocupacional nos serviços de urgência brasileiros são necessários para uma assistência efetiva e de acordo com os princípios do Sistema Único de Saúde. Palavras Chave – saúde do trabalhador; recursos humanos em saúde; meios de comunicação. Summary - The work environment can become an aggressor element to workers' health. Objective: To understand the factors that may affect the occupational health in emergency services. Methods: It is a qualitative study. The monitoring strategy of the Observatory of Digital Media was used. Results: We selected 528 news for the development of three categories: Absenteeism in emergency services; Work conditions; and lack of humans. Final considerations: Studies for identification and intervention to improve occupational health in Brazilian emergency services are needed for effective care. 16 Keywords: occupational communications media I. health; health manpower; INTRODUÇÃO O ambiente de trabalho pode se tornar um elemento agressor à saúde do trabalhador. Diversos danos à saúde são ocasionados por longas jornadas de trabalho, instalações sanitárias insuficientes, fadiga, postura inadequada e falta de salas de descanso [1]. Segundo revisão integrativa, o absenteísmo estava relacionado a problemas de saúde osteomusculares e respiratórios dos profissionais de saúde, devido à execução de atividades repetivivas com maior exforço físico, impactando negativamente na assistência prestada [2]. A violência ocupacional sofrida nos serviços de urgência é outro fator que influencia à saude ocupacional, podendo ser verbal, física, moral, sexual e de discrimição social [3]. Nessa perspectiva, a abordagem da saúde ocupacional nos serviços de urgência é necessária, pois é um ambiente de trabalho com dinâmica frequentemente instável. Os serviços de urgências, do mesmo modo que as unidades de atenção primária de saúde são compreendidos como fundamental porta de entrada da população no Sistema de Saúde, sendo um ambiente onde suas disfunções refletem a ineficiência de toda a estrutura da rede de atenção, como a desarticulação com as unidades de atenção primária, falta de leitos e superlotação [4]. Portanto, são necessários estudos que tenham como cenário principal a situação dos serviços de urgências. Nessa abordagem, o >>Investigação Qualitativa em Saúde//Investigación Cualitativa en Salud//Volume 1 >>Atas CIAIQ2015 Observatório é um instrumento facilitador de acesso às informações e a conscientização da situação de saúde pública constituindo um espaço de diálogo, além de estimular estudos pontuais relevantes, analisar desfechos na saúde, apontar tendências, impactos das políticas públicas na saúde e envolver a sociedade em um processo de esclarecimento e participação dinâmica [5]. Nessa ótica, os Observatórios são importantes estruturas de apoio para a obtenção de informações sobre a dinâmica de trabalho de profissionais dos serviços de urgência. II. IV. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram selecionadas 528 notícias do banco de dados do Observatório sobre o Estado da Atenção às Urgências no Brasil (Figura1), que abordaram a temática sobre os fatores que podem afetar à saúde ocupacional de profissionais de saúde dos serviços de urgências. A análise dessas notícias permitiu a criação de três categorias: OBJETIVO Compreender os fatores que podem afetar à saúde ocupacional de profissionais de saúde dos serviços de urgências. III. MÉTODO O presente estudo foi de abordagem qualitativa e para melhor compreensão do tema abordado foi utilizada a estratégia de monitoramento dos Observatórios, que tem como objetivo a divulgação, acompanhamento e monitoramento estratégico de informações. Portanto, para a captação dos dados para análise foi utilizado o banco de notícias digitais do Observatório sobre o Estado da Atenção às Urgências no Brasil, desenvolvido pelo Laboratório de Inovação em Planejamento, Gestão, Avaliação e Regulação de Políticas, Sistemas, Redes e Serviços de Saúde do Hospital do Coração (LIGRESS/HCor), junto ao Programa de Apoio a Desenvolvimento Institucional do SUS (PROADI-SUS) [6]. O banco de dados foi construído e estruturado para extrair e analisar os dados das notícias incluídas, contendo os itens: (a) Título da notícia, (b) Data, (c) Origem da ocorrência do fato apresentado pela notícia (região, estado e cidade), (d) Esfera adiministrativa do estabelecimento de saúde citado na notícia, (e) Nome do estabelecimento de saúde, (f) Tipo de serviço de saúde, (g) Esfera administrativa do serviço, (h) Categoria do conteúdo apresentado, (i) Desfecho, (j) Fonte da Notícia. A captação de notícias foi realizada por meio de busca ativa das notícias nos principais jornais dos Estados brasileiros utilizando os seguintes termos: urgência, emergência, falta de leito, leito, leitos, hospital, hospitais, erro médico, negligência médica, pronto-socorro, pronto atendimento, superlotação, UPA, UTI, Unidade de Terapia Intensiva. Foram consideradas as notícias escritas em português, publicadas por fontes de notícias brasileiras, e que relataram fatos relacionados aos serviços de urgência. Notícias que não relataram fatos nos serviços da Rede de Urgências foram excluídas. Por meio do banco de dados foi feito um recorte temporal de maio/2012 a maio/2013. Após esta estapa, foram selecionadas apenas notícias que abordaram informações sobre saúde ocupacional nos serviços de urgências no conteúdo dos títulos, e posteriormente realizou-se a leitura na íntegra das notícias. A partir desse ponto procedeu-se a análise das notícias utilizandose da técnica de análise de conteúdo, seguindo os três períodos: a) pré–analise; b) exploração dos dados; c) tratamento dos resultados [5]. Foram obedecidas as regras de exaustividade, representatividade, homogeneidade, pertinência e exclusividade, através da ordenação e classificação dos dados [7]. 17 Figura 1. Captação de notícias e categorias de análises sobre fatores que podem afetar à saúde ocupacional de profissionais de saúde dos serviços de urgências Absenteísmo nos serviços de urgência- o termo absenteísmo é utilizado para caracterizar as ausências dos funcionários ao trabalho [8] [9] [10]. As notícias apresentaram em seu conteúdo a falta frequente de profissionais nos serviços de saúde, o que acarretou o aumento do tempo de espera, afetou o dimensionamento de pessoal e a sobrecarga de trabalho. O absenteísmo foi relacionado com a dupla jornada de trabalho, insalubridade, tensão emocional, cansaço físico e mental [8] [9] [10]. Na perspectiva das notícias, esse fator acarretou o aumento do tempo de espera dos serviços de urgência, refletindo na sobrecarga de trabalho; Condições de trabalho- a falta de condições de trabalho é frequente na dinâmica dos serviços de urgência, pela escassez tanto de profissionais quanto de materiais. Esses fatores podem ser relacionados com o estresse ocupacional, que pode colocar em risco a saúde dos profissionais, ocasionar o baixo desempenho no trabalho, alta rotatividade de profissionais, absenteísmo e violência no ambiente de trabalho [11]. De acordo com a literatura, a ansiedade causada pela expectativa de um desempenho adequado, condições de trabalho inadequadas com o ambiente de trabalho, falta de recursos materiais e tecnológicos podem contribuir com o estresse ocupacional. Esses estudos verificaram que nos prontossocorros, profissionais enfermeiros se deparam com situações de alta complexidade, na qual os recursos materiais disponíveis não são compatíveis com as necessidades apresentadas [12] [13]. Logo, por meio da análise da literatura e das notícias >>Investigação Qualitativa em Saúde//Investigación Cualitativa en Salud//Volume 1 >>Atas CIAIQ2015 digitais, verificou-se que as condições de trabalho dos profissionais de saúde nos serviços de urgência afetam de forma significativa a saúde ocupacional desses trabalhadores. A falta de recursos humanos- a escassez de profissionais foi representada por dados sobre a falta de equipes completas e de especialistas. Essa problemática afetou o acompanhamento direto de pacientes. A falta de recursos humanos pode prejudicar a saúde ocupacional dos trabalhadores dos serviços de urgência, acarretando a maior demanda de trabalho e o estresse dos profissionais. De acordo com os dados relatados nas notícias, são frequentes as superlotações dos serviços de urgências, juntamente com a falta de recursos humanos e materiais. Esses fatores podem afetar a eficácia do atendimento, desencadeando avaliações tardias do paciente, dificultando o acompanhamento direto, como a verificação constante dos sinais e sintomas que podem predizer agravamentos da situação de saúde do pacientes, podendo acarretar no agravamento do clínico [4]. V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] Mauro MYC, Muzi CD, Guimarães RM, Mauro CCC. Riscos Ocupacionais em Saúde. Enferm UERJ 2004; 12:338-45. [2] Costa RRO, Cossi MS, Vitor AF, Lira, ALBC, Medeiros SM, Cavalcante CAA. Absenteísmo de profissionais da enfermagem que trabalham na rede hospitalar: revisão integrativa da literatura. Espaç. Saúde. 2014; 15(3): 65-72. [3] Vasconcellos IRR, Abreu AMM, Maia EL. Violência ocupacional sofrida pelos profissionais de enfermagem do serviço de pronto atendimento hospitalar. Rev Gaúcha Enferm. 2012;33(2):167-175. [4] Jorge VC, Barreto MS, Ferrer ALM, Santos EAQ, Rickli HC, Marcon SS. Equipe de enfermagem e detecção de indicadores de agravamento em pacientes de prontosocorro. Esc. Anna Nery, 2012; 16 (4): 767-774. [5] Albornoz, LA; Herschmann, M. Os observatórios ibero-americanos de informação, comunicação e cultura: balanço de uma breve trajetória. Compos. 2006:1-20. [6] Brasil. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria nº 936, de abril de 2011. Dispõe sobre as regras e critérios para apresentação, monitoramento, acompanhamento e avaliação de projetos do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PRODI-SUS). Brasília: Ministério da Saúde; 2011. [7] [8] Bardin, L. Analise de conteúdo . 4a. ed. português. Lisboa: Edições 70, 2008 [9] Campos EC, Juliani CMCM, Palhares VC. O absenteísmo da equipe de enfermagem em unidade de pronto socorro de um hospital universitário. Rev. Eletr. Enf. 2009; 11(2):295-302. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os Observatórios são importantes instrumentos de divulgação sistemática de informações. A análise da mídia favoreceu a compreensão de fatores que podem afetar a saúde ocupacional dos profissionais dos serviços de urgência. Nessa abordagem, a falta de condições de trabalho e a superlotação dos serviços interferiram na dinâmica do trabalho dos profissionais de saúde. Neste estudo, constatou-se que fatores relacionados ao planejamento dos serviços de urgências, tal como, a superlotação, falta de materiais, dimensionamento de pessoal inadequado afetaram a dinâmica dos serviços de urgências. Estudos para identificação e de intervenção para melhoria da saúde ocupacional nos serviços de urgência brasileiros são necessários para uma assistência efetiva e de acordo com os princípios do Sistema Único de Saúde. 18 Reis RJ, La Rocca PF, Silveira AM, Bonilla IML, Guiné NA, Martin M. Fatores relacionados ao absenteísmo por doença em profissionais de enfermagem. Rev Saúde Pública 2003; 37(5):616-23. [10] Fakih FT, Tanaka LH, Carmagnani MIS. 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