Capítulo 19

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Cai a noite escura, e no céu estendidas,
As estrelas cintilam com pele reluzente.
E a flor da paixão, toda em seda vestida,
Enfeita a nossa terra da aurora ao poente.
Planta audaciosa e de flor colorida
Igual que a uma estrela de brilho atraente.
Filhas de um só céu que gerou,que deu vida,
Separadas pelo abismo, unidas pela mente.
É muito mais que encanto é saúde é sustento,
É a mão da natureza aos mortais exibida
Na condição de flor delicada e inocente.
Por mais fascinação e beleza envolvida
É tão misteriosa como nosso firmamento
Que dá tom celestial ao sul do continente.
Utilização das Passifloraceae na
criação de borboletas
Fernando Campos
Intr
odução
Introdução
A família Passifloraceae abriga as plantas hospedeiras das borboletas
da tribo Heliconiini. Ambos, as Passifloraceae e os Heliconiini, são típicos
das Américas, mas também ocorrem na África e na Ásia, são
aproximadamente 500 espécies de maracujás e quase uma centena de
borboletas dessa tribo. Algumas com distribuição ampla, como a borboleta
Dryas iulia, sendo uma de suas plantas hospedeiras Passiflora suberosa,
outras com ocorrência relativamente restrita, como Heliconius nattereri e a
Passifloraceae Tetrastyles ovalis. Essa estreita relação entre plantas e
borboletas, mais precisamente entre plantas e lagartas, pois estas se
alimentam de suas folhas, criando significativa interface que torna o estudo
das Passifloraceae imprescindível para o conhecimento dessas borboletas.
Uma nova atividade que envolve a produção de Passifloraceae para a
criação de borboletas em fase de expansão são os borboletários
considerados como espaço de lazer contemplativo de pesquisa, de
conservação e como uma multifuncional ferramenta de Educação
Ambiental.
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Maracujá: germoplasma e melhoramento genético
O borboletário
Trata-se de um espaço voltado para a apresentação do mundo dos
Lepidópteros, principalmente, das borboletas de hábitos diurnos e mais
coloridas que as mariposas. No borboletário, o visitante, ao contrário do
que ocorre na maioria dos recintos, entra no viveiro e divide o espaço com
esses insetos. É uma vivência de imersão, o contato é direto e interativo. As
borboletas pousam no colorido da roupa do visitante e até mesmo chegam
a sugar o suor de sua pele. Esse contato tão íntimo, com esses seres, que
são representantes da mais pura beleza, delicadeza, vida, renovação e
liberdade, cria uma condição muito especial na qual o público torna-se mais
aberto à abordagem de outras questões ambientais.
Os borboletários surgiram na década de 1970 na Europa e, nos anos
80, no Japão; espalharam-se, também, pela América do Norte. No Brasil,
apesar da riqueza da fauna da flora e do clima favorável, surgiram mais
tarde.
No final de 1996,
foi inaugurado um borboletário na Fundação
Zoobotânica de Belo Horizonte e alguns outros o seguiram. Nos últimos
dois anos, os números têm aumentado mais rapidamente. Ao que parece,
finalmente, essa idéia está sendo difundida por todo o País. A efêmera vida
das borboletas, em média, um mês na fase adulta, faz do borboletário um
criadouro dinâmico e produtivo, longe da maioria dos recintos de um jardim
zoológico, que normalmente mantém animais de grande longevidade. A
criação de milhares de lagartas todos os meses demanda uma produção
de grande quantidade de plantas hospedeiras, entre elas diversas
Passifloraceae. Existe, agora, uma nova ótica para o estudo dos maracujás,
voltada para a produção de plantas hospedeiras para lagartas dos
Heliconiini que envolve levantamento, identificação, reprodução, cultivo,
hibridização e até a produção de dietas artificiais.
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Utilização das Passifloraceae na criação de borboletas
A escolha de borboletas e de plantas
No borboletário, o mundo das borboletas deve ser apresentado com
toda a sua diversidade, dessa forma, é importante que se tenham
borboletas de tamanhos, cores, formas e comportamentos variados e que
representem as principais famílias. O ideal seria criar espécies da região,
evitando que a fuga de espécies exóticas viesse a se tornar um problema.
No Brasil isto ocorre, pois a riqueza de nossa fauna e flora permite a
escolha de grande número de borboletas em todas as regiões do País.
Algumas
características
são
especialmente
interessantes
como:
longevidade como adulto, ciclo rápido como lagarta, adaptação ao
cativeiro, nível de atividade, beleza, delicadeza e cores vivas e na maioria
dos Heliconiini é possível observar essas características, estando entre as
mais recomendadas para borboletários, principalmente, as do gênero
Heliconius, que chegam a viver até seis meses como adulto. Algumas
espécies são muito polífagas, como Agraulis vanillae e Dione juno, outras
muito seletivas, como H. nattereri, certas espécies são bastante resistentes
a doenças, outras são mais suscetíveis a viroses. Estes são critérios que se
deve levar em conta na escolha das espécies que devem ser criadas.
Quanto às plantas, o primeiro passo é o levantamento e a
identificação das espécies de borboletas e das plantas hospedeiras usadas
por elas. Precisa-se de espécies bem-aceitas pelas lagartas cuja
reprodução seja fácil e sejam muito produtivas, não em frutos, mas em
folhas, que os galhos cortados tenham durabilidade em vasos com água e
produzam brotos mais tenros e que produzam menos toxinas e mais
nutrientes. Também é interessante cultivar diferentes espécies de plantas
de modo a atender às diversas espécies de borboletas, aproveitar as
diferentes épocas de brotação e não ficar sujeito à ocorrência de doenças
que, afetando uma única espécie, comprometam toda a produção.
Conseguir híbridos mais produtivos ou mais bem-aceitos também é um
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Maracujá: germoplasma e melhoramento genético
bom caminho. O desenvolvimento de dietas artificiais com baixa
concentração de folhas desidratadas da planta hospedeira pode ser útil
para criação de grandes quantidades de lagartas principalmente para
regiões mais frias onde é necessário o uso de estufas aclimatadas para a
produção das plantas no inverno.
O Cultivo
Podemos nos valer das informações geradas sobre o cultivo de
Passiflora edulis ou P. alata, no entanto, ainda precisamos fazer algumas
adaptações tendo em conta que cultivaremos outras espécies e que o
objetivo é a produção de folhas e não de frutos. Muitas vezes semearemos
um número excessivo de sementes num vaso inadequado ao pleno
desenvolvimento de uma única planta, mas, se o objetivo for o fornecimento
de brotos tenros para criação de lagartas, é uma opção interessante para a
concentração da planta hospedeira em um vaso pequeno e leve. Em alguns
casos, em que se cria grande quantidade de lagartas com uma planta
hospedeira que dura bem em vaso com água, como Passiflora misera, é
mais prático plantar diretamente no solo em longos canteiros e oferecer a
planta em vasos com ramos cortados. Para a criação de algumas espécies,
é mais recomendável que a planta esteja em vaso, especificamente, para a
coleta de ovos. O melhor é que seja um vaso bem pequeno, com um
volume inferior a meio litro, nesse caso, um substrato mais leve e rico
deixaria o vaso ainda mais leve. Este vaso ficará pendurado no interior do
viveiro para que as borboletas depositem seus ovos, isto porque algumas
borboletas têm como estratégia a postura de ovos fora da planta
hospedeira, evitando o encontro entre ovos e lagartas canibais. Tal
comportamento torna necessária a instalação de fibras de sisal em volta do
vaso onde serão depositados os ovos, e o distanciamento do vaso em
relação ao solo e a outras plantas, de modo que os ovos sejam depositados
exclusivamente nas fibras, tornando sua coleta mais rápida e eficiente.
Conseguir uma seleção de plantas de forma que cada uma delas seja
aceita por apenas uma única espécie de borboleta facilitaria a separação de
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Utilização das Passifloraceae na criação de borboletas
ovos, que é muito difícil quando temos diversas espécies no viveiro, pois
todos eles são depositados numa mesma planta.
Conservação
Outro aspecto que demanda pesquisa e valorização é a inclusão das
plantas hospedeiras dos Lepidópteros nos planos de recomposição de
áreas degradadas. Normalmente, são plantadas árvores de grande porte e
são valorizadas as plantas que fornecem frutos para animais de grande e
médio portes, raramente os insetos são lembrados. Nesse sentido, as
Passifloraceae não fogem à regra, são negligenciadas como fornecedoras
de frutos para os animais e como planta hospedeira dos Heliconiini. Há
muitas espécies raras de Passifloraceae que precisam ser mantidas e
acompanhadas em áreas de preservação e também de borboletas, como
Heliconius nattereri, que demandam cuidados. Uma das ações nesse
sentido seria a produção e o repovoamento de sua planta hospedeira, no
caso Tetrastyles ovalis, nas áreas em recuperação dentro da sua área de
ocorrência. Essas ações demandam trabalhos de levantamento,
taxonomia, reprodução e cultivo, estudos conjuntos que não dissociem os
Heliconiini das Passifloraceae.
Conclusão
A produção de Passifloraceae para a criação de borboletas é uma
nova demanda que requer pesquisas mais específicas quanto à
identificação, distribuição ou ocorrência, às técnicas de reprodução e aos
cuidados relativos ao cultivo dos maracujás para os borboletários.
Referência Bibliográfica
BROWN JR., K. S.; MIELKE, O. H. H. The heliconians of Brazil (Lepidoptera:
Nymphalidae). Part II. Introduction and general comments, with a supplementary revision
of the tribe. Zoologica, New York, v. 57, p. 1-40, 1972.
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Maracujá: germoplasma e melhoramento genético
A
B
C
D
E
F
A- Lagartas de Dryas iulia; B- Lagartas de Dione juno juno em P. serrato-digitata;
C- Adulto de Dione juno juno; D- Adulto de Agraulis vanillae vanillae; E- Adulto Macho
de Dryadula phaetusa; F- Adulto de Dione juno juno em P. alata.
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