GT 12 – O LOCAL E O GLOBAL NA PRODUÇÃO DA CIDADE ESPETÁCULO: RETÓRICAS, COALIZÕES E RESISTÊNCIA POPULAR O PAPEL DO TURISMO NOS NOVOS ASPECTOS REGIONAIS E METROPOLITANOS DO NORDESTE BRASILEIRO1 Enos Feitosa de Araújo Universidade Federal do Ceará [email protected] RESUMO O Nordeste brasileiro passa por transformações relevantes em sua economia e produção espacial nas ultimas décadas do século XX e no inicio do século XXI. Entre outras atividades econômicas, o turismo destaca-se como uma das prioritárias de investimentos públicos e privados, tornando as “cidades” cada vez mais atraentes para o turismo, promovendo novas relações socioespaciais nas metrópoles como nos espaços regionais em si. É desta forma, que este trabalho visa compreender alguns apontamentos sobre o papel do turismo entre as metrópoles nordestinas e suas relações na constituição da região Nordeste. Palavras-chave: turismo. Região. Nordeste. Litoral. 1. INTRODUÇÃO O papel do turismo nos anos 1990-2000 no Nordeste brasileiro passa por modificações quanto aos impactos socioespaciais. Se nos anos 1970-80 o turismo tem um papel coadjuvante na urbanização e regionalização, o período posterior é marcado por mudanças profundas tanto no Nordeste brasileiro como as novas dinâmicas intraregionais, produzindo assim, novos aspectos metropolitanos e regionais. 1 Orientação do Prof.Dr.Eustógio Wanderley Correia Dantas. 1 Se nos anos 1960-70 é marcado pela industrialização e a consolidação de um planejamento governamental mais agressivo de escala federal, percebe-se que a industrialização modifica profundamente a economia nordestina, colocando novos “centros regionais” – uma nomenclatura do IBGE, classificado em geral, como as capitais estaduais e cidades médias – em novas dinâmicas urbanas, tendo novos papéis na hierarquia urbana do Nordeste brasileiro. Então, temos uma nova hierarquia urbana a partir dos anos 1970-80 que irá ser consolidado com novos fixos e fluxos nos anos 1990-2000 a partir das ações do planejamento regional a partir das metrópoles estaduais e centros regionais – que se tornaram importantes núcleos polarizadores da economia devida entre outros motivos, à hegemonia do setor terciário, em que o turismo possui um papel fundamental destas dinâmicas. Esta caracterização da hierarquia urbana do Nordeste brasileiro foi estudada pelo IBGE a partir do ano de 1966 que remetida ao estudo da Divisão do Brasil em regiões funcionais urbanas que retratavam os fluxos de bens e serviços econômicos para a compreensão das diferentes formas de organização espacial da região perante a construção/consolidação das cidades que compunham esta rede regional. Desta forma, várias nomenclaturas são modificadas nos estudos de 1966, 1972, 1978,1987 e 2008. Neste ensaio buscamos ter um aprofundamento das análises de 1972, 1987 e 2008, considerados períodos cruciais para a o entendimento da urbanização/metropolização/regionalização a partir da rede urbana-regional que é formada ao longo do tempo, fundada principalmente pelas ações do planejamento governamental. Desta forma, podemos empreender: a) que a tendência crescente das atividades econômicas e sociais de uma região, pela interação/integração dos sistemas de centros urbanos; b) que as cidades apresentam uma concentração apreciável de recursos de infraestrutura básica para atrair investimentos; c) que a hierarquia urbana fornece elementos para a compreensão da estrutura regional, dos Estados e das macrorregiões, subsídios considerados indispensáveis para a compreensão da produção espacial em uma totalidade. (IBGE, 2005). 2 2. A Região Nordeste: as cidades e suas funções nas décadas de 1970-90 Nos efeitos comparativos entre 1972, 1987 e 2008, buscamos compreender principalmente a “polarização” das cidades e/ou metrópoles nas dinâmicas intraregionais e como estas se articulam com outras atividades econômicas dos anos 1970-2000 em que a indústria e o turismo participam de um papel fundamental nestas transformações socioespaciais no Nordeste brasileiro. Desta forma, na década de 1970, segundo dados do IBGE (1972) o Nordeste brasileiro tinham dois importantes centros metropolitanos regionais: Recife e Salvador, que tinham uma função de primeiro escalão na região, polarizando cidades como Maceió (AL), João Pessoa (PB), Natal (RN), Mossoró (RN), Caruaru (PE) no caso da primeira cidade, e, Vitória da Conquista e Feira da Santana (BA), Vitória da Conquista (BA), Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), Aracaju (SE) no caso da segunda cidade respectiva. (Ver mapa 1) Mapa 1 – Divisão do Brasil em Regiões Funcionais Urbanas – 1972 FONTE: IBGE, 1972. 3 Desta forma, percebemos que estas cidades (Recife e Salvador) por ainda não terem regiões metropolitanas institucionais – já que foram consolidadas apenas em 1973 – elas já possuíam dinâmicas socioespaciais para serem consideradas como metrópoles devido à sua circulação de fluxos econômicos. Enquanto outras cidades, como Fortaleza (CE) possuíam um papel de “centro macrorregional” considerado em segunda escala regional, outras capitais estaduais possuíam ainda um papel coadjuvante, como Aracaju (SE), Maceió (AL), João Pessoa (PB) , Natal (RN), São Luís (MA), Teresina (PI) sendo polarizados por outras metrópoles e capitais estaduais. Com a consolidação das Regiões Metropolitanas (RM’s) em 1973 pela Lei Complementar 14/73, são criadas 8 regiões metropolitanas no Brasil: São Paulo (SP), Belo Horizonte (MG), Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), Salvador (BA), Recife (PE), Fortaleza (CE) e Belém (PA). A cidade do Rio de Janeiro teria sua região metropolitana em 1974, com a Lei Complementar 20/74. A “decisão” da criação das regiões metropolitanas partiam exclusivamente das ações do governo federal, implantado por leis complementares assinada pelo presidente da república. Tais condutas da escolha das áreas metropolitanas refletiam o cenário sociopolítico dos Estados, e no caso da parte técnica-científica, dos estudos do IBGE, perante estas áreas. Então, as nove regiões metropolitanas – todas capitais estaduais – escolhidas por estes critérios técnico-científicos, além da hegemonia político-econômica e dos privilégios de investimentos federais, concentram grande parte da população – oriunda dos fluxos do campo perante a uma urbanização rápida dos anos 1950-1960 para as grandes cidades – como a infraestrutura de empreendimentos e a implantação de áreas industriais e de comércio e serviços. (SANTOS, 2005). Desta forma, para compreendermos a lógica da construção/produção regional é necessário às análises metropolitanas e das principais cidades, que com sua hierarquia urbana constituem os pilares socioespaciais da região. No caso nordestino, as áreas metropolitanas mais antigas (Fortaleza, Recife e Salvador) apresentam dinâmicas e polarizações relevantes e concentradoras, revelando o desenvolvimento desigual e 4 combinado oriundo principalmente das mais variadas ações do planejamento governamental. (ver mapa 2) Mapa 2 – Regiões Metropolitanas do Nordeste Brasileiro - 1973 – 1987 FONTE: IBGE, 2014. Assim, o Nordeste brasileiro guiado pela industrialização e o inicio de emergentes atividades econômicas – como a atualização da agropecuária, que podemos colocar o “agronegócio” e o turismo – nas principais cidades e capitais estaduais marcaram os anos 1970-80 com uma hierarquia urbana-regional concentrada em espaços regionais tradicionais, como Salvador (BA), Recife (PE) e em segunda classe, Fortaleza (CE) emergente perante a transformação do setor agropecuária ao setor de comércio e serviços. (IBGE, 1972). Segundo o IBGE (1972), em relação à área de influencia de Fortaleza/CE tornase necessário destacar a influencia entre capitais estaduais de São Luis/MA e Teresina/PI, e tem uma característica diferenciado de outras capitais, pois, esta possui quase 49,0% dos fluxos econômicos relacionados à agropecuária, principalmente ligado à função portuária (no caso Porto de Mucuripe) com exportação de algodão e carnaúba. 5 O crescimento populacional de Fortaleza é recente, notadamente a partir dos anos 1950, com 46,5% apenas na década de 1960. Com a consolidação das regiões metropolitanas, Salvador (BA), Recife (PE) e Fortaleza (CE) passam a ter hegemonia da economia nordestina, sendo que a cidade de Fortaleza, considerada pelo IBGE (1972) como um centro macrorregional passa ao status de metrópole em 1987 pelos estudos das Regiões de Influencia das Cidades, mostrando a consolidação destas áreas e do planejamento governamental sobre a industrialização nos anos 1960-80, e a adaptação econômica para outros setores econômicos nos anos 1990-2000. Assim, no mapa 3 observamos que a hierarquia urbana não modifica profundamente suas estruturas, mas a cidade/metrópole de Fortaleza amplia suas polarizações regionais, principalmente no que tange à concorrer diretamente com a cidade/metrópole de Recife, em cidades mais próximas, como Mossoró, que deixa de ser polarizada por Recife pra ser por Fortaleza. Tais dinâmicas socioespaciais reforça o papel destas áreas metropolitanas na construção regional do Nordeste brasileiro. Vermos então, uma mudança relevante no cenário socioeconômico de 1972 ao de 1987, em que Recife possuía um papel fundamental como “metrópole” do Nordeste, passa a ter uma “descentralização de poderes e decisões” em comparação ao crescimento e consolidação de áreas metropolitanas de Fortaleza (CE) em seu âmbito local-regional como a ampliação do setor petroquímico e siderúrgico em Salvador (BA). (IBGE, 1987) Com as mudanças político-administrativas do governo federal, inicia-se a descentralização de certas ações governamentais, que entre outras, podemos citar a formação e investimentos de regiões metropolitanas. A partir de 1988, a formação das regiões metropolitanas passa do nível federal ao estadual, passando agora, o Estado, o ente federativo responsável pelos estudos, análises e efetivação político-administrativa para a formação das RM’s, a partir de leis e decretos estaduais. 6 Mapa 3 – Regiões de Influencia das Cidades – Nordeste brasileiro - 1987 Fonte: IBGE, 2014. 3. O turismo e a relevância nas cidades nordestinas: a emergência de “novos rumos econômicos” Os anos 1990-2000 são marcados pelo impacto do turismo na economia brasileira como nos Estados nordestinos, notadamente as metrópoles que possuíam maior desenvoltura econômica. Por isso, uma das premissas que o turismo acompanha a lógica dos processos urbanos (metropolização, urbanização e regionalização) em seus fixos e fluxos, por isto, vários outras atividades econômicas como setores econômicos articulam-se, promovendo uma nova esfera econômica articulada em que o turismo se coloca como o “centro” das atrações e motivações de fixos e fluxos. Porém, por outro lado, tal esforço à atividade turística no Nordeste brasileiro era de pouca representatividade perante o turismo regional latino-americano como ao mundial, possuindo menos de 0,1% de todo o fluxo mundial nos anos 1990-2010. O turismo brasileiro e nordestino é antes de tudo, “interno” e baseado em fluxos 7 intraregionais e inter-regionais passando pelos fluxos oriundos das metrópoles, que possuem forte polarização quanto ao turismo receptivo como emissor. Se compararmos a infraestrutura urbana como hoteleira entre as regiões nos anos 1990-2000, apesar dos esforços do planejamento governamental estadual e federal, o Nordeste brasileiro ainda perpassa por sérios problemas quanto à urbanização e saneamento básico, promovendo fuga de fluxos para outros Estados da mesma região, como para outras regiões e países próximos, como Argentina e Chile. A importância do PRODETUR/NE e suas ampliações de investimentos em infraestrutura como a abertura econômica internacional do turismo perante o Nordeste brasileiro promoveu impactos turísticos em quase todos os Estados, principalmente Bahia, Ceará e Rio Grande do Norte, colocando Pernambuco como “uma face paradoxal do turismo” nas regiões metropolitanas nordestinas. Os fluxos do Nordeste brasileiro nos anos 1990 chegavam a ser consideráveis perante aos percentuais, mas ainda insuficientes para uma comparação em outras regiões brasileiras, como o Sudeste e Sul, capitaneado por São Paulo e Rio de Janeiro. São Paulo nos anos 1990 já estava em primeiro lugar com cerca de 26% de todos os turistas do país, seguido do Rio de Janeiro, com 18%. (BNB, 2006) Assim, o PRODETUR/NE coloca a “hegemonia turística” do Sudeste em uma descentralização, colocando o Nordeste brasileiro como uma “região” de importantes destinos turísticos – emergentes – no final do século XX e inicio do século XXI. A expansão espacial do turismo consolida com investimentos públicos e posteriormente, com vários empreendimentos turísticos, notadamente resorts de alto padrão, localizados principalmente na Bahia, Pernambuco e posteriormente, Rio Grande do Norte e Ceará. (ALBAN, 2006). O Estado da Bahia apresenta como o principal quanto aos investimentos públicos e privados nas fases do PRODETUR/NE quanto à concentração de resort’s, possuindo nos anos 1990 cerca de 20 resorts de alto padrão, e nos anos 2010, passando mais de 60 resorts, expandindo em mais de 150% a rede hoteleira se consolida. Mesmo com uma descentralização turística no próprio litoral baiano, outros novos polos de desenvolvimento turístico se consolidam, como Ilhéus, Porto Seguro, Itacaré, Trancoso, 8 e Costa do Sauipe, considerado como um dos mais luxuosos do Brasil e do Nordeste brasileiro. Tais dinâmicas dos fluxos turísticos podem ser percebidas na tabela 10 que mostra como a participação do turismo no PIB do Nordeste já era maior que a do próprio Brasil em 1990, e que ao longo das décadas de 1990 e 2000 o planejamento governamental privilegiou certas áreas, colocando Bahia, Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte como importantes polos do Nordeste brasileiro, sendo os outros Estados de forma coadjuvante, como Paraíba, Alagoas e Sergipe, e os Estados de Maranhão e Piauí, mais distantes dos fluxos turísticos nordestinos. (DANTAS,2013) Tabela 1 - Participação do Turismo² nos PIB dos Estados Nordestinos e no Brasil – 1990- 2005¹ Estado 1990 1995 2000 2005 2010 Bahia 6,0 8,2 8,9 11,0 18,0 Ceará 3,0 4,0 7,5 9,8 11,0 Pernambuco 2,2 3,4 4,7 6,3 8,2 Rio Grande do 0,5 4,0 7,2 9,0 11,0 Paraíba 3,1 3,6 4,2 4,8 6,0 Alagoas 4,2 4,9 5,7 6,4 6,9 Sergipe 4,5 5,2 5,8 6,1 6,8 Maranhão 1,0 2,6 2,9 4,2 5,0 Piauí 1,4 1,5 1,8 1,6 3,5 NORDESTE 4,7 6,8 9,0 9,5 13,4 BRASIL 3,0 5,1 7,3 8,0 9,0 Norte Fonte: IPEA (2014), MTUR (2015) ¹ Estimativas baseadas em estudos do IPEA (2014) e MTUR (2015) ² Consideramos aqui, as metodologias utilizadas do Ministério Turismo em embarcar as atividades econômicas diretas e indiretas relacionadas ao turismo (não somente os impactos diretos, que advém dos empreendimentos hoteleiros e viagens, por exemplo). Tais condutas metodológicas coadunam com nossa tentativa de compreender/mensurar as articulações do turismo e suas dinâmicas econômicas, como socioespaciais. Desta forma, com os dados da tabela 10 percebemos que o Nordeste brasileiro prioriza a atividade turística perante as políticas dos seus Estados – mesmos que sejam colocados em dinâmicas desiguais e concentradoras em determinadas áreas – já que 9 mantém índices maiores que a do próprio Brasil: em 1990, Nordeste com 4,7% em comparação com 3%, anos 2000, 9,0% e 7,3%, respectivamente, e nos anos 2010, empurrado principalmente pela Bahia, 13,4% contra 9,0%. Desta forma, o planejamento governamental relacionado à atividade turística para muitos autores, é considerado como ineficaz, e para outros, é considerado como eficaz perante a lógica das ações governamentais. As ações vinculadas à integração e diminuição da desigualdade econômica e social foram tímidas, já que as principais áreas que tiveram melhores resultados foram às áreas urbanas que já possuíam considerável relevância na rede urbana e regional, principalmente as áreas metropolitanas e grandes cidades, como capitais estaduais e cidades médias com relações diretas com metrópoles. Assim, as políticas governamentais do turismo passam pela mesma ótica da industrialização dos anos 1970-80, priorizando principalmente o âmbito urbano já e metropolitano já consolidado, partindo daí, a expansão turística – notadamente litorânea – que segundo Araújo (2012) o Estado do Ceará obteve maior êxito, devido a um tipo de planejamento voltado a toda costa cearense. É neste cenário que o turismo amplia seus fluxos e fixos no Nordeste brasileiro nas décadas de 1990 e 2000, com a consolidação e articulação de várias cidades e metrópoles à nova formação espacial do Brasil. Compreender as dinâmicas regionaismetropolitanas do Nordeste brasileiro a partir dos anos 1990 é analisar à fundo, as transformações ocorridas durante um tipo de transição como acomodamento/adaptação econômica de certas metrópoles e cidades perante à “guerra de lugares e até de regiões” nos contextos regionais brasileiros. Em 2008, com o estudo realizado pelo IBGE: Regiões de Influencia das cidades pode-se observar alguns resultados e análises da hierarquia urbana-regional do Brasil e do Nordeste brasileiro perante a consolidação do turismo como os novos fluxos econômicos, predominantemente concentrados no setor terciário (comércio e serviços) e em níveis nacionais como internacionais. Surge novas análises espaciais no século XX principalmente à modernização técnica e territorial do Brasil perante a novas formas industriais de alta tecnologia, como de melhoria de técnicas, tecnologias em vários pontos do Brasil, como novas lógicas de 10 gestões públicas e empresariais, em um contexto de novos arranjos econômicos perante à uma globalização/mundialização de fluxos econômicos através de cidades e/ou regiões. (HAESBAERT, 2010) Desta forma, se o Brasil em suas (sub) divisões regionais, as caracterizações socioeconômicas colocavam a região Nordeste, Norte e Centro-Oeste como emergentes e/ou menos desenvolvidas nos anos 1970-80, vê-se novas formas e características regionais nos anos 2000-2010 em que o Nordeste cresce acima da média do país, em que nos anos 2000-2010, o avanço chegou à 165%, perfazendo 13,5% da participação nacional do PIB. (conforme tabela 2) Tabela 2 – Crescimento Econômico do PIB por Estados nordestinos e regiões brasileiras – 2000 – 2010 Variação Estados PIB (2000) (PIB 2005) em PIB (2010) em mi (2000/2010) em mi R$ mil R$ R$ Crescimento Real – em % Bahia 46,25 90,91 154,34 48% Pernambuco 26,95 49,92 95,18 42% Ceará 22,60 40,93 77,86 24% Maranhão 11,90 25,33 45,25 25% Rio Grande do Norte 9,11 13,42 23,93 19% Paraíba 9,33 16,86 31,94 26% Alagoas 7,76 14,13 24,57 22% Sergipe 6,53 13,42 23,93 24% Piauí 6,06 11,12 22,06 28% NORDESTE 146,49 276,04 507,50 23,5% SUL 194,25 356,21 622,25 20% CENTRO-OESTE 98,91 190,17 350,59 26% NORTE 51,70 106,44 201,51 22% SUDESTE 687,77 1.345,51 2.088,22 22,6% 1.179,48 2.147.13 3.770,08 21% BRASIL Fonte: IBGE, 2014; IPEADATA, 2015. 11 Com os dados da tabela 2 e os estudos geográficos do IBGE (2008) podemos empreender que o nordeste brasileiro consolida como uma região emergente de crescimento econômico – mesmo com desigualdades sociais – refletindo a eficácia das atividades econômicas, entre elas, o turismo, agronegócio e o setor de serviços enfrente à uma industrialização concentrada em determinadas áreas específicas e a descentralização das decisões perante à metrópoles, e a consolidação de várias classes médias na hierarquia urbana nordestina. (IBGE, 2008) Neste contexto, a hegemonia das regiões Sudeste e Sul torna-se relativa à novos fluxos econômicos das regiões emergentes como Norte, Nordeste e Centro-Oeste, motivado entre outros motivos, segundo IPECE (2011) e IPEA (2014) por três principais considerações a fazer pelas regiões brasileiras: a) O Nordeste se destaca por vários motivos, que podem citar o Ceará pelo aumento da participação no setor de comércio e serviços, com a vinculação direta / indireta pelo turismo, além do Maranhão ter participação efetiva na expansão agrícola pela soja, Pernambuco alcança ainda mais pela indústria de transformação e ampliação do comércio; b) O Norte se destaca principalmente pelo Estado do Pará que intensificou a extração de minério de ferro, c) O Centro-Oeste se destacou nos quatro estados da região, motivados pelas indústrias de transformação (cana-de-açúcar e aço) e comércio, notadamente o varejista. Com este crescimento das regiões consideradas menos desenvolvidas, há uma distorção e mudanças nas funções e hierarquias urbana-regionais. A grande questão parte de que a motivação deste crescimento econômico destas regiões deve-se antes de tudo, à efetivação e consolidação de investimentos públicos que através de políticas governamentais, produzem novos arranjos econômicos como novas ações de direcionamento político-econômico em Estados e municípios. 12 Segundo dados do IPEA (2015) podemos perceber esta tendência de descentralização econômica do PIB, que se acentua nos anos 2005-2010 pelos menores índices do Sudeste (58,31% em 2000, 55,39% em 2010) e perante à estabilidade dos índices do Sul (2000-2010), como o crescimento – mesmo tímido – econômico do PIB das regiões Nordeste (12,42% em 2000 e 13,46% em 2010), Centro-Oeste (8,39% em 2000 e 9,30% em 2010) e Norte (4,38% em 2000 e 5,34% em 2010). Tal cenário socioeconômico que tendência os processos da desmetropolização e dissolução metropolitana2 dos anos 2000 – 2010 – que já fora existente nos anos 1970 – conjuntamente com a descentralização produtiva e industrial do Sudeste brasileiro às regiões Norte e Nordeste, o Brasil consolida a hierarquia urbana-regional em novos fluxos e dinâmicas, e principalmente, novos papéis no mercado nacional, regional e local. Este cenário da hierarquia urbana do Brasil dos anos 2000-2010 reforça o papel do Nordeste brasileiro perante as outras regiões, a consolidação das áreas metropolitanas e áreas polarizadas por estas, a “rede urbana nordestina” estabelece trocas financeiras e comerciais em seus fluxos inter-regionais como as relações entre outras metrópoles, e até de níveis internacionais. O turismo e sua vinculação à infraestrutura e características urbanas desempenha um papel favorável à ampliação destes recursos, como o crescimento de divisas e das cidades, quanto à sua própria produção espacial urbana. No mapa 4, percebemos o enfoque no Nordeste brasileiro, a hegemonia das metrópoles Fortaleza, Recife, Salvador e o crescimento considerável de Natal, e em papel secundário da hierarquia nordestina, João Pessoa recupera a polarização de Campina Grande (antes polarizado por Recife), como Maceió consegue consolidar a sua 2 Santos (2005) aborda que os números de 1970-80 já indicavam uma tendência de concentração-dispersãoconcentração, indicado pelo processo de metropolização concomitante à uma desagregação da população como a economia do PIB, tornando assim um processo de “desmetropolização” definida como a repartição com outros grandes núcleos de novos contingentes de população como de setores econômicos e da riqueza perante ao PIB. Desta forma, o autor considera que perante a integração das regiões – praticamente ocorrida pelas metrópoles – há adaptações das cidades à um mercado nacional – diferentemente de períodos anteriores que o Brasil era como se fosse um “arquipélago de economias e/ou regiões – caracterizado principalmente pelas diferenciações regionais e socioespaciais pela segmentação, hierarquização, porém uma articulação entre o Poder Público e o planejamento governamental e as ações diretas e indiretas da iniciativa privada. 13 rede urbana estadual. Por outro lado, Bahia e Ceará conseguem ampliar seus novos espaços polarizados, como Itabuna, Ilhéus e Barreiras; Imperatriz, respectivamente. Ou seja, a “rede hierárquica regional nordestina” cresce com a hegemonia das áreas metropolitanas (seja as metrópoles como as capitais estaduais) com a inter-relação entre cidades médias que obtiveram novas dinâmicas e crescimento econômico, como houve a expansão da “área de polarização” das próprias metrópoles em escalas regionais, como até inter-regionais, que é abordado pelo IBGE (2008) que é refletido ainda no mapa 4. Temos assim, dois processos de urbanização nordestina: a primeira, embasada na articulação da ocupação inicial e tradicional do litoral motivado pelas atividades econômicas tradicionais com as novas formas econômicas motivadas pela ampliação de novos fluxos econômicos, como setor de comércio e serviços (entre eles, o turismo) e adaptação de novos fluxos industriais, e, a última, a interiorização do Nordeste brasileiro a partir da ampliação do setor terciário em antigos e novos “nós” da hierarquia urbana regional. Mapa 4 – Regiões de influencia das cidades – Nordeste brasileiro – 2008 Fonte: IBGE, 2008. 14 No que tange ao Brasil e na Região Nordeste, o turismo torna-se assim, não somente uma atividade econômica restrita aos espaços litorâneos, chegando assim à uma interiorização que chega à vários lugares e localidades com características diferenciadas (como florestas, parques nacionais, áreas de proteção ambientais (APA’s), complexos temáticos, parque aquáticos, parques temáticos, entre outros, motivados principalmente pelos recursos naturais destas áreas) em que a Nordeste possui um novo papel de “hierarquia turística” no Brasil. Segundo dados do Ministério do Turismo (2014) o Brasil – apesar de suas limitações – consegue crescer os fluxos turísticos, alavancado pela relevância dos Estados nordestinos e a capacidade de atrair investimentos privados de empreendimentos turísticos, motivados principalmente pela consolidação de recursos financeiros do planejamento governamental. Ainda segundo dados do MTUR (2003, 2009, 2014) sobre os fluxos turísticos no Brasil, já que tais dados e análises estatísticas refletem e são essenciais para a compreensão dos tipos de fluxos e fixos que são promovidos no Brasil, a nossa breve análise trará à tona, os principais resultados como as tendências do planejamento governamental sobre o Nordeste brasileiro. Partirmos de que o turismo possui dois dados principais para a análise dos fluxos da atividade: a) os turistas internos, que no caso do Brasil é predominante, cerca de 85% à 90% dos fluxos estaduais, e , b) turistas externos/internacionais, com índices que variam de 10 à 15%, de forma que este números se concentram em Estados com maiores infraestrutura, como alguns “lugares/localidades” que possuem aporte de atrair fluxos turísticos em níveis diversos, ou seja, destinos turísticos considerados consolidados. Assim, na tabela 3 podemos empreender o crescimento dos fluxos turísticos entre 2003 e 2013, período em que o planejamento governamental obteve maiores resultados, devido entre outros motivos, à implantação das fases do PRODETUR/NE I e II, além de ações iniciais do PRODETUR NACIONAL, como a consolidação da urbanização, metropolização e articulação regional de núcleos urbanos perante a lógica regional nordestina. 15 Tabela 3 – Fluxos turísticos (por Estados nordestinos e Regiões brasileiras)– 2003 – 2013 2003 (em 2009 (em 2013 (em Var (2003- milhões)¹ milhões)¹ milhões)¹ 2013) Bahia 2,11 3,78 4,40 108,53% Pernambuco 1,85 2,94 3,78 104,32% Ceará 1,55 2,46 3,14 102,58% Rio Grande do Norte 0,45 0,95 1,32 193,33% Maranhão 0,31 0,77 1,18 280,64% Alagoas 0,25 0,60 1,04 316,0% Paraíba 0,19 0,51 0,786 313,6% Sergipe 0,14 0,48 0,725 417,0% Piauí 0,11 0,38 0,580 427,0% NORDESTE 7,00 12,87 17,025 204% SUDESTE 15,00 27,55 48,050 220% SUL 3,95 7,256 12,500 216% CENTRO-OESTE 4,60 8,71 12,500 171% NORTE 1,88 3,77 5,800 208% BRASIL 32,50 60,156 95,900 200% Estados ¹Inclusos fluxos oriundos do turismo interno, como internacional. FONTE: Ministério do Turismo, 2014 Vemos que enquanto em 2003, o Brasil teve fluxos de 32,5 milhões de turistas, em que o Nordeste obteve participação de 21,5% desta parcela nacional, sendo a segunda maior região com fluxos de turistas, apenas perdendo para o Sudeste (com 15 milhões de turistas em 2003). Tais tendências evidenciam o crescimento da região Sudeste (variação de 220% em 2003 – 2013) seguido pela Região Nordeste (variação de 204% no mesmo período), notadamente evidenciado pela polarização da megalópole São Paulo e metrópole do Rio de Janeiro, e pela prioridade do planejamento governamental dos Estados nordestinos, respectivamente. Os dados de 2003 comparados ao de 2009 e 2013 colocam o Brasil como um país que conseguiu dobrar seus fluxos turísticos (32,5 milhões em 2003, 60,15 milhões em 2009 e 95,9 milhões em 2013) principalmente com destaques de crescimento 16 turístico, isto é, a variação turística nos períodos, nas regiões Sudeste (220%), Sul (216%), Norte (208%), Nordeste (204%) e por fim, o Centro-Oeste, com 171%. No caso nordestino, percebemos a importância dos principais quatro Estados quanto aos aspectos socioeconômicos: Bahia, Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte que juntos, possuíam 85,14% de todo o fluxo turístico em 2003, 78,74% em 2009 e 74,25% em 2013 evidenciando uma descentralização de fluxos turísticos, mas ao mesmo tempo, fluxos relevantes no Nordeste como no Brasil. 4.As grandes cidades e metrópoles: os “espaços do turismo” no Nordeste brasileiro A implantação de infraestrutura nas capitais estaduais oriundas do planejamento governamental vinculado ao turismo (PRODETUR/NE I, II, Nacional e Programa de Aceleração Econômica – PAC, que será destrinchado em nossa área, no capítulo 4) promove uma urbanização litorânea relevante na consolidação da rede regional nordestina. Desta forma, evidencia-se também o incremento turístico em estados do Maranhão, Alagoas, Paraíba, Sergipe e Piauí, localizados em áreas menos desenvolvidas ou polarizadas pelas principais metrópoles nordestinas, tendo os maiores índices do Nordeste brasileiro – obviamente por terem menores fluxos, mas de qualquer forma, fluxos relevantes no contexto regional – de 280,6%, 316,0%, 313,6%, 417,0%, 427,0%, respectivamente. Temos assim, resultados favoráveis aos dois processos do planejamento governamental turístico: a) a consolidação de fluxos turísticos oriundos de níveis internacionais, b) a consolidação de polos turísticos de grandes fluxos nacionais e internacionais, e, c) a expansão turística através de localidades/lugares turísticos em Estados considerados alternativos, articulados com a rede urbana-regional em uma hierarquia urbana favorável ao crescimento/desenvolvimento econômico da região Nordeste. No mapa 5, podemos observar os fluxos turísticos do Nordeste brasileiro nos anos de 2013, em que a espacialização é coadunada com a rede urbana-regional que foi 17 consolidada pelo planejamento governamental desde os anos 1960, iniciado pela industrialização e expandido pelo turismo nos anos 1990-2000 com relações de metropolização/regionalização mais intensas, nos anos 2010. Por outro lado, apesar dos estados nordestinos considerados vinculados a uma lógica turística de segundo nível no Nordeste brasileiro, há as tendências e ações governamentais para que estes estados (Paraíba, Alagoas e Sergipe) sejam integrados de forma mais intensiva no planejamento governamental nordestino e assim, pela compreensão dos impactos das políticas governamentais turísticas, como o PRODETUR/NE I, II, Nacional, além da articulação metropolitana-regional do PAC. Mapa 5 – Principais destinos turísticos do Nordeste brasileiro - 2013 Fonte: MTUR, 2014 Considerações Finais O turismo ao vincular-se como uma das atividades econômicas do Nordeste brasileiro, ampliam-se as ações governamentais (agora também de origem estadual vinculada à federal) para a consolidação 18 de redes regionais para o crescimento/desenvolvimento econômico para a geração de renda como para a consolidação de fluxos e fixos urbanos. Assim, os aspectos regionalistas, metropolitanos e citadinos marcam “o turismo nordestino e brasileiro” em suas adaptações à lógica socioespacial local-global. As grandes cidades e metrópoles se apresentam como o “lócus” das principais dinâmicas turísticas perante a esta “cidade-espetáculo” voltada aos fluxos econômicos cada vez mais intensos. Se há uma fragmentação de atividades econômicas no Nordeste brasileiro, há concomitante a fragmentação/divisão de sub-regiões ou de áreas dentro desta própria região. É neste cenário que o turismo possui um paradoxo espacial ao mesmo tempo, agregar, acentuar como reduzir desigualdades sociais, abrangendo vários fluxos econômicos em níveis regionais, nacionais e internacionais. É neste aspecto que compreender a cidade, é concomitantemente, compreender os fenômenos espaciais que estão relacionados – como a urbanização, metropolização, regionalização, entre outras – e em que o “turismo” é uma destas atividades econômicas emergentes que produzem novos espaços como os “modificam” perante a sua magnitude de agentes sociais e fluxos. Referências ALBAN, M. Turismo no Brasil: a estratégia de expansão espacial e seus problemas. Turismo - Visão e Ação - vol. 8 - n.2 p. 301 – 308, 2006. ARAUJO,E.F. As políticas públicas do turismo e os espaços litorâneos na Região Metropolitana de Fortaleza. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Departamento de Geografia – Programa de Pós Graduação em Geografia, Fortaleza,2012, 187 f. BANCO DO NORDESTE DO BRASIL. Dados do PRODETUR II, 2006. DANTAS, E.W.C. Metropolização turística em região monocultora industrializada. Mercator (Fortaleza. Online), v. 12, p. 65-84, 2013. HAESBAERT,R. Regional-global: dilemas da Região e da Regionalização na Geografia Contemporânea. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010. 19 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Regiões de influencia das cidades, 1964. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Regiões de influencia das cidades, 1972. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Regiões de influencia das cidades, 1987. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Regiões de influencia das cidades, 2007. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Regiões de influencia das cidades, 2008. SANTOS, M. Urbanização brasileira. São Paulo: Edusp, 2005. 20