Remédios e álcool podem levar a câncer de fígado Uso abusivo de álcool, infecções pelos vírus da hepatite e uso agressivo de alguns medicamentos são alguns fatores que podem levar ao câncer de fígado. A doença ocupa a sétima posição na mortalidade por câncer, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), sendo responsável por mais de 4 mil mortes por ano. A detecção precoce é fundamental para a cura. Mas em grande parte dos casos, o câncer só é diagnosticado em estágio já avançado, o que reduz as chances de sobrevivência do paciente. O professor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG, Andy Petroianu, explica que o fígado é composto por tipos diferentes de células. “Assim, vários tipos de tumores podem crescer no local”, afirma. Segundo o professor, os tumores do fígado podem ser primários, ou seja, aqueles que realmente se originam no fígado, ou metastáticos, que estão localizados em outros órgãos e chegam ao fígado por meio da corrente sanguínea. Assim como todos os outros tipos de câncer, o de fígado é influenciado por condições genéticas. “Se vamos ter a doença ou não é um mistério”, afirma o professor. É possível, também, que o vírus de doenças como a hepatite ou a incidência de radiação provoque uma mutação genética que poderá originar o câncer. Andy Petroianu ressalta que ainda se sabe pouco sobre esses fatores desencadeantes. “Mínimos fatores podem desencadear a doença em algumas pessoas. Mas outras, submetidas a números elevados de fatores podem não ser acometidas. Então é difícil saber se o câncer realmente é desencadeado por esses fatores e se pode ser originado por eles”, acrescenta. Agravantes Também muito lembrado como fator de risco, o uso de anabolizantes (hormônios sintéticos que imitam a testosterona) traz complicações para o todo o corpo, e não somente ao fígado, lembra Petroianu. “Os anabolizantes atingem principalmente os rins e os músculos. Mas como o marketing chama atenção para o câncer de fígado, as pessoas se esquecem das outras consequências”, alerta. Até mesmo o uso de medicamentos aparentemente inofensivos, como paracetamol e aspirina, em excesso, também pode causar danos irreversíveis ao fígado. Foi o que revelaram os pesquisadores do Laboratório de Imunobiofontônica do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, Gustavo Batista Menezes, Pedro Elias Marques e André Gustavo Oliveira, autores do artigo Quando o que cura passa a matar, publicado na revista Ciência Hoje. Segundo Menezes, quando presentes em doses maiores do que as recomendadas no organismo, esses fármacos são transformados pelas células do tecido hepático em uma substância tóxica capaz de matar as células e levar à falência do fígado. “Se o medicamento está no mercado, as doses recomendadas são seguras e comprovadas. Mas algumas pessoas acabam administrando uma quantidade maior, sem orientação médica, por achar que o medicamento não fez efeito”, avalia. Gustavo Mezezes ressalta que quando o fígado chega ao ponto de entrar em falência, a única saída é o transplante. “Esses medicamentos são adquiridos com extrema facilidade, sem receita médica. Por isso a importância da conscientização, pois quem paga é o fígado”, diz. Remediar Os pacientes muitas vezes não apresentem sintomas até que o câncer de fígado esteja em seu estágio mais avançado. “Sintomas como mal-estar, inchaço, emagrecimento e dores são tardios. Depois que aparecem, o tratamento vai ser mais difícil”, explica Andy Petroianu. Se o câncer for descoberto ainda no início, a possibilidade de cura é maior. Para isso, é recomendado fazer um check-up anual do corpo inteiro. “Principalmente para quem já tem histórico da doença na família”, ressalta o especialista. A retirada de parte do órgão é um dos procedimentos para a cura. “Até 20% do fígado pode ser removido, que o órgão conseguirá se regenerar e funcionar bem”, diz. Já o transplante de fígado é realizado quando doenças como hepatite e cirrose são os fatores responsáveis pelo aparecimento do câncer. Outros tratamentos como quimioterapia, radioterapia e imunoterapia, segundo Andy, respondem mal a esse tipo de doença. “Por isso a importância de hábitos saudáveis. Prevenir é sempre a melhor saída”, conclui.