FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS - EPGE Mestrado Profissional em Economia Empresarial e Finanças Professores Claudio Barbedo e Aldo Ferreira 2011.1 Taxa de Juros; Teoria das Taxas de Juros; Títulos de Renda Fixa (TRF); Principais Características de um TRF; Tipos de TRF; Princípios Gerais para Precificar TRF; Medidas de Rentabilidade de um TRF; Retorno Total de um TRF; Determinação do Preço de Mercado de um TRF; ETTJ; Taxa à Vista ou Taxa Spot; Precificação de um TRF através da Taxa à Vista; Taxa Futura ou Taxa Forward ou Taxa a Termo; Formas Clássicas da ETTJ; Duração e Convexidade; Títulos de Renda Fixa Negociados no Mercado Brasileiro: títulos públicos. Taxa de Juros O juro exprime o preço de troca de ativos disponíveis em diferentes momentos do tempo. Trata-se de uma remuneração pela alocação de capital. As decisões financeiras são consideradas atraentes somente se houver expectativa de retorno superior à taxa de juros do dinheiro utilizado. Chamamos de Taxa Pura ou Taxa Livre de Risco aquela que precifica os ativos do governo no mercado, constituindo-se na taxa de juros base do sistema econômico. Teoria das Taxas de Juros Três teorias procuram explicar as relações entre as taxas de juros de curto prazo e as de longo prazo: Teoria das Expectativas (ou expectativas não viesadas) Teoria da Preferência pela Liquidez Teoria da Segmentação do Mercado A Teoria das Expectativas propõe que as taxas de juros de longo prazo sejam a média geométrica das taxas de curto prazo correntes e previstas para o horizonte de maturação de um ativo de longo prazo. As taxas esperadas de curto prazo representam uma projeção não viesada das taxas futuras de juros. Se um título de longo prazo oferece ganhos acima das expectativas, ele passará a substituir outros ativos na composição do portfólio de um investidor. A teoria procura focalizar o comportamento do investidor, atribuindo as diferenças de rendimentos oferecidas por ativos de diferentes maturidades às diversas expectativas do mercado com relação às taxas de juros futuras. Exemplo) Admita um ativo de 2 anos de duração que oferece um rendimento de 10% ao ano. Ao aplicar nesse ativo, qual o rendimento acumulado pelo investidor no biênio? Suponha que uma estratégia alternativa de rendimento envolve comprar um ativo com prazo de resgate de um ano, que oferece rentabilidade de 9% ao ano. Nessas condições, o investidor deve reaplicar o montante acumulado ao final do ano em outro ativo pelo mesmo prazo. Ao se decidir por essa estratégia e Professor Aldo Ferreira Página 2 mantendo-se a taxa de juros, qual o rendimento apurado pelo investidor no período (biênio)? Evidentemente, ao se definir por esta segunda alternativa, o rendimento ao final do período de dois anos dependerá da remuneração que o investidor conseguirá no segundo ano. Pela teoria das expectativas, qual o retorno esperado do último ano, de forma que os retornos de curto e de longo prazos sejam equalizados? Se as atuais taxas de juros projetarem um resultado inferior aos de 11,01% calculados, a decisão de investir no ativo de longo prazo deve ser preferida ou não? O pressuposto básico da teoria das expectativas é que os investidores são indiferentes quanto à maturidade do título, selecionando a melhor decisão a partir da mais alta taxa de retorno encontrada. Em outras palavras, esta teoria admite que ao não se esperar alterações nas taxas de juros no futuro, o investidor será indiferente a qualquer prazo para aplicar seus recursos. Exemplo) Admita que os títulos com maturidade de quatro anos estejam sendo negociados no mercado financeiro de acordo com a tabela a seguir. Os juros são pagos por ocasião do resgate dos papéis. Prazo 1 ano 2 anos 3 anos 4 anos Taxa de Juros 8,00% a.a. 8,8% a.a. 9,4% a.a. 10,1% a.a. A estrutura temporal das taxas de juros para os próximos anos é obtida de acordo com os seguintes cálculos: 1º ano) A taxa de juros para o ano é de 8,0%, conforme a tabela. 2º ano) O título de dois anos deve oferecer um rendimento de 8,0%, se for necessário em um ano, para que não ocorram arbitragens. Aplicação por dois anos: (1,088)2 – 1 = 18,37% Aplicação por um ano: = 8,0% A taxa de juros do 2º ano, pela teoria das expectativas, será aquela que iguala o retorno das duas alternativas financeiras. É conhecida também por taxa a termo de juros. Professor Aldo Ferreira Página 3 1,1837 = [(1,08) x (1 + i)] e, portanto, i = 9,6%. 3º ano) Repetindo os cálculos: (1,094)3 = [(1,08) x (1,096) x (1 + i)] e, portanto, i = 10,6% 4º ano) (1,101)4 = [(1,08) x (1,096) x (1,106) x (1 + i)] e, portanto, i = 12,2% █ A Teoria da Preferência pela Liquidez admite que os rendimentos dos ativos de longo prazo sejam superiores aos de curto prazo, pela incorporação de uma remuneração adicional pelo risco assumido. Não se observa a equalização das taxas consideradas pela teoria das expectativas não viesadas. Esses ativos de maior maturidade devem incorporar uma remuneração adicional pelo maior risco assumido (redução da liquidez), conhecido como prêmio pela liquidez. Em razão dos maiores riscos visualizados nos ativos de longo prazo, os investidores são inicialmente atraídos por aplicações de maior liquidez. Por outro lado, os tomadores de dinheiro do mercado costumam dar preferência por operações de prazos mais longos, de maneira a elevar a liquidez. Para o equilíbrio desse conflito, deve ser oferecida nas alternativas de longo prazo uma compensação pela perda da liquidez, de forma a atrair os investidores para o mercado de mais longo prazo. Pela enunciada teoria da liquidez, somente um prêmio adicional pelo maior risco assumido pode incentivar os agentes econômicos a atuarem com ativos de maior maturidade. Pela teoria da liquidez, espera-se que os ativos de longo prazo ofereçam um retorno superior aos de curto prazo, mesmo admitindo-se o reinvestimento sucessivo em outros ativos de curto prazo até a data de vencimento. Em ambientes de incerteza que embutem prêmios de liquidez nas taxas de juros, ativos com diferentes prazos de vencimento não se constituem em substitutos perfeitos uns dos outros, de acordo com o descrito pela teoria das expectativas Não obstante as formulações enunciadas, deve ser acrescentado o viés produzido pelas características da economia brasileira. Professor Aldo Ferreira Página 4 São observados em diferentes momentos desajustes na estrutura dos prazos dos créditos, com taxa de juros de curto prazo suplantando as de longo prazo. Essa realidade de desequilíbrio é conflitiva com as teorias enunciadas e é devida, em grande parte, à duradoura política de subsídios direcionada ao mercado de crédito de longo prazo. Inexistindo poupanças de maior maturidade em volume suficiente para atender às necessidades de investimento da economia, os agentes tomadores vêm sendo abastecidos com recursos oficiais subsidiados em relação às taxas de juros livremente formadas no mercado. Com isso, o tomador de recursos, ao selecionar alternativas de financiamento de longo prazo nessas condições, absorve duas grandes vantagens financeiras: maior liquidez e maior atratividade econômica em razão de os fundos oferecidos serem mais baratos que os de mercado. O custo do crédito de curto prazo mais elevado do que o de longo prazo constitui-se num desajuste cíclico, com tendências evidentemente de desaparecer no momento em que a economia retornar suas diretrizes de equilíbrio. A Teoria da Segmentação do Mercado propõe que os agentes econômicos demonstram preferências bem definidas com relação aos prazos de vencimento dos ativos, sendo as taxas de juros arbitradas livremente pelo mecanismo de oferta e procura presentes em cada segmento temporal de mercado. A presença de agentes captadores e aplicadores de recursos com preferências bem definidas em relação aos prazos de vencimento das operações promovem um mercado segmentado em função da maturidade dos ativos, sendo as taxas de juros definidas para cada segmento. As taxas de juros de curto prazo e de longo prazo são formadas pela interação da oferta e da procura de recursos, determinada pela atuação de credores e devedores, podendo ocorrer diferentes taxas em cada segmento de mercado. A teoria da segmentação admite que cada mercado encontre seu próprio equilíbrio, independentemente do comportamento do outro. A teoria considera que as preferências por determinados prazos de vencimento são bem definidas no mercado, admitindo-se que dificilmente um agente econômico trocará um segmento por outro na expectativa de obter um retorno mais favorável. Professor Aldo Ferreira Página 5 Essa idéia é reforçada, ainda, pela possibilidade de serem efetuadas operações de hedging pelos participantes de mercado, tornando mais claramente diferenciadas as taxas de juros previstas para o longo e o curto prazo. Nota) Hedge (cobrir, defender, safar, garantir, proteger, travar): estratégia pela qual investidores com intenções definidas procuram cobrir-se do risco de variações de preços desvantajosas para seus propósitos. Nota) Hedge cambial: hedge em operação de compra e venda de moeda estrangeira. Nota) Hedge fund (fundo hedge): fundo de investimento de administração ativa, geralmente operado com agressividade, em busca de prêmio de risco elevado. O termo hedge fund é fruto de uma classificação informal. Nos Estados Unidos, os hedge funds não têm qualquer limitação na seleção do portfólio. Os agentes econômicos do mercado procuram manter seus portfólios dentro de uma estrutura de equilíbrio financeiro, aproximando a maturidade de seus ativos com a maturidade de seus passivos. Para a teoria da segmentação, a minimização do risco e a consequente continuidade de uma instituição decorrem da efetiva adequação dessa maturidade, independentemente de retornos mais atrativos que possam ocorrer em instrumentos financeiros com diferentes maturidades. A teoria da segmentação é criticada pela possibilidade atual de os agentes econômicos (aplicadores e tomadores de recursos) compararem, previamente a sua decisão, as taxas de juros de curto e longo prazo, assim como acessarem mercados que fornecem projeções futuras das taxas de juros. Essas informações permitem que os agentes se direcionem para um segmento específico do mercado que lhes pareça mais interessante. Os agentes mantêm-se fiéis a um segmento de mercado, enquanto são oferecidas oportunidades de um prêmio atraente, mudando a maturidade de suas operações quando as condições de ganhos deixarem de interessar. Nota) A arbitragem ocorre geralmente em mercados que apresentam discrepâncias entre preços praticados: os preços são diferentes quando deveriam ser iguais. A arbitragem tende a igualar os preços de um ativo nos mercados, colaborando assim para o seu equilíbrio. Com a arbitragem, espera-se que a demanda pelo ativo no mercado em que é negociado mais barato aumentará muito, pressionando seu preço. O contrário deverá ocorrer no mercado mais caro, onde a maior oferta do produto irá reduzir o seu preço. Nota) O arbitrador é um agente econômico que tem por objetivo o lucro, evitando assumir riscos diretamente. Sua atividade consiste em identificar distorções de preços entre mercados e tirar proveito dessa diferença ou da expectativa futura dessa diferença. A estratégia do arbitrador consiste em comprar no mercado em Professor Aldo Ferreira Página 6 que o preço está mais baixo e vender naquele em que está mais alto, tendo como lucro o diferencial de compra e de venda. Títulos de Renda Fixa Quando determinados agentes econômicos (empresas ou governos) precisam de recursos para financiar projetos ou mesmo efetuar pagamentos, as possibilidades seguintes de captação de recursos podem ser utilizadas: 1) Emitir ações (não disponível para governos); 2) Tomar empréstimos junto ao sistema financeiro; e 3) Tomar empréstimo através da emissão do títulos de renda fixa. Abreviaremos a denominação Título de Renda Fixa pela sigla TRF. Um TRF (ou bônus de renda fixa ou bônus ou obrigação) é um título representativo de contratações de empréstimos pelas empresas ou governos, os quais prometem pagar a seus investidores determinado fluxo futuro de rendimentos. Em outras palavras, um TRF é um certificado que indica que um tomador de recursos deve uma quantia especificada. Para devolver a quantia, o tomador concorda em fazer pagamentos de juros e principal em datas estipuladas. Nota) Esses papéis são classificados como de renda fixa porque são papéis que pré-determinam a rentabilidade da operação, seja através da taxa explicitada no título, seja através de um índice de referência. Diz-se que o TRF vence ou expira na data de seu último pagamento. Exemplo 1) Suponhamos que uma empresa emitiu 100.000 TRF’s, todos com valor nominal igual a R$ 1.000 cada, sendo que as obrigações têm cupom de 5% e prazo de vencimento de dois anos. Os juros das obrigações serão pagos uma vez por ano. Isso significa dizer que: 1) R$ 100 milhões (100.000 x R$ 1.000) foram captados pela empresa; 2) A empresa deve pagar juros de R$ 5 milhões (5% x R$ 100 milhões) ao final de um ano; 3) A empresa deve pagar R$ 5 milhões de juros e R$ 100 milhões de principal ao final de dois anos. Professor Aldo Ferreira Página 7 Embora os detentores de bônus possuam um “IOU” (I owe you, isto é, eu devo a você) dos emissores, não significa nenhum privilégio ao acesso a direção da empresa, como os acionistas possuem. Principais Características dos Títulos de Renda Fixa 1) Emissor: é a empresa ou governo que está emitindo o bônus; 2) Valor de face: valor de uma obrigação que aparece em seu certificado. Também chamado de valor nominal ou principal. 3) Rating: Opinião independente sobre a capacidade do emitente de pagar o principal e os juros do título emitido. É instrumento de medição de riscos e dos sistemas de garantias e cobertura desses riscos. Em outras palavras, é a classificação de risco de um banco, de um país ou de um ativo feita por uma empresa especializada. Nota) As principais empresas de rating no mundo são Moody’s Investors Service, Standard & Poor’s, Fitch IBCA e Duff & Phelps Credit Rating Co. A classificação é expressa em termos de qualidade (excelente a péssima) ou nível de risco (investment grade, inadimplente). Nota) Investment grade é a classificação de nível de risco para empresas ou países avaliados como capazes de honrar seus compromissos. Professor Aldo Ferreira Página 8 Nota) A Agência SR Rating iniciou suas operações em 1993 e foi a primeira agência de classificação de risco do Brasil. As escalas “BR”, assim como as escalas “AR” utilizadas na Argentina e a escala “MX”, no México, têm em comum o fato de terem seu uso restrito aos países a que se referem e não poderem ser comparadas entre si. Estas características decorrem do fato de as escalas locais se aplicarem exclusivamente a comparações entre empresas e papéis do mesmo país, guardando relação apenas com situações de risco relativo e local. Nota) Risco soberano é o risco legal, ou político, de liquidação e de outros riscos relacionados com transações com títulos públicos de um país. Quando relacionado a transações internacionais, denomina-se risco de país, ou risco geográfico. 4) Maturidade: é a data em que o emissor efetua o pagamento do principal ao detentor do TRF. Professor Aldo Ferreira Página 9 Nota) Se a data da maturidade de um TRF é 01/09/2012, a notação adotada é Sep 01/12. 5) Yield to Maturity (YTM): taxa de juros que iguala o fluxo de caixa do título até o vencimento ao seu preço de mercado, isto é, a taxa interna de retorno (TIR) que o investidor obteria caso ficasse com o título até o vencimento. 6) Taxa de Cupom ou Juros de Cupom: é a taxa de juros (geralmente fixa) e paga, a cada semestre ou a cada ano, pelo emissor ao detentor do TRF. Essa taxa depende do mercado e varia de título para título; e 7) Preço de Mercado: é o preço que o mercado (dealer ou broker) está disposto a pagar pela compra do TRF. Nota) É prática comum cotar o TRF em relação ao valor de face (valor na maturidade) de R$ 100,00, não importando o verdadeiro valor de face do bônus. Por exemplo, se o bônus tem preço igual a R$ 93, a cotação é 93% do valor de face (igual a R$ 100). Nota) Dealer: instituições financeiras que atuam, por sua conta e risco, no mercado financeiro intermediando operações de compra e venda de títulos. Nota) Broker: é o corretor, indivíduo ou instituição, que promove o encontro entre compradores e vendedores (bids e asks) em um dado mercado, cobrando uma comissão. Nota) Bid é o preço de compra de um ativo no mercado. Nota) Ask é o preço de venda de um ativo no mercado. Tipos de Títulos de Renda Fixa Os TRF’s podem ser classificados em dois tipos: 1) Bônus Padronizado ou obrigações com cupons uniformes (“Plain Vanilla”): oferecem pagamentos não apenas no vencimento, mas também a intervalos regulares que antecedem a data de vencimento. Estes pagamentos são chamados de cupons de juros (ou cupons da obrigação ou, simplesmente, cupons). O cupom, que denotaremos por C, será sempre o mesmo durante todo o prazo da obrigação. Nota) O pagamento periódico de cupom de juros representa o juro regular recebido pelo detentor do TRF para financiar o emissor. Professor Aldo Ferreira Página 10 Nota) O cupom é pago a cada mês, trimestre, semestre ou ano, mas as periodicidades mais comuns são semestre e ano. Nota) O cupom não é a única fonte de rendimento, já que o preço de mercado do TRF flutua e pode haver ganho ou perda. Exemplo 2) Considere um TRF com prazo de 18 anos, cupom anual de 6% do valor de face pago semestralmente (a taxa de cupom é dada por uma taxa nominal). Esse título foi vendido na emissão ao preço de R$ 700,89 e o seu valor de face é igual a R$ 1.000,00. █ Nota) No mercado americano, muitas das vezes, os bônus plain vanilla pagam cupons semestralmente. O valor desses cupons é expresso como um percentual do valor de face em base anual. Para obter a taxa efetiva semestral devemos dividir por 2 a taxa anual. Na realidade, a taxa anual usualmente empregada no mercado não representa a taxa efetiva ano. Para obter essa última, devemos capitalizar a taxa semestral por 2 semestres. De modo geral, o fluxo de um bônus plain vanilla no mercado americano pode ser representado como demonstrado a seguir: onde P é o preço de venda do bônus; M = valor de face do bônus; 2c = taxa anual do cupom (portanto, pelo método linear, c é a taxa anual do cupom); n = prazo em anos. Nota) Nem todas as obrigações possuem data de vencimento final. Consols são obrigações que nunca param de pagar um cupom (de valor, digamos, C), não têm Professor Aldo Ferreira Página 11 data final de vencimento e, portanto, nunca vencem. O valor presente desse fluxo particular de caixa (tal fluxo também é conhecido por perpetuidade) é dado por 𝐂 𝐕𝐏 = , 𝐫 onde r é a taxa de juros praticada no mercado e suposta constante. 2) Bônus não Padronizado: os bônus emitidos pelas empresas e governos têm uma enorme variedade de tipos além dos bônus padronizados. Os principais tipos de bônus não padronizados são os seguintes 2.1) Bônus com Opção Incluída (“Option Embedded Bond”) 2.1.1) Opção de compra embutida (“Callable Bond”): tem opção de compra embutida; permite ao emissor comprar o bônus antes da data da maturidade e pagar, geralmente, o valor de face ao investidor, em data ou datas previamente acertadas. Esse tipo de instrumento (opção) protege o emissor contra quedas de juros, dado que o emissor pode lançar um novo TRF no mercado, a um custo menor e a preço mais elevado. Nota) Há um risco de reinvestimento para o detentor do bônus, já que o exercício da opção de compra faz com que o investidor tenha que alocar os recursos em outra alternativa de investimento. Por essa razão, o emissor paga o prêmio da opção ao comprador do bônus, como forma de recompensa pelo risco de reinvestimento. 2.1.2) Opção de venda embutida (“Putable Bond”): o detentor do bônus tem o direito de vender o bônus para o emissor antes do prazo de vencimento, em determinada data ou datas previamente conhecidas e a determinado preço. Caso o investidor resolva exercer a opção de venda em momento de elevação dos juros (queda de preço), há um risco para o emissor, que deverá lançar um novo bônus, em mercado, com taxa mais elevada. Por essa razão, o detentor paga o prêmio da opção ao emissor. Nota) A existência da opção torna incerto o fluxo de caixa do TRF, além de tornar complexa a precificação do bônus em função das múltiplas datas possíveis de exercer a opção e da própria dificuldade de precificar o opção. 2.2) Bônus Conversíveis: são bônus com cláusula que permite o bônus ser convertido em ações da empresa emissora, sob certas condições estabelecidas antecipadamente em contrato. Professor Aldo Ferreira Página 12 2.3) Bônus com Taxa de Cupom Flutuante (“Float – Rate Bond”): as taxas de cupom são ajustadas periodicamente de acordo com algum índice ou taxa referencial (“benchmark”). Esse tipo de bônus oferece proteção contra aumento da taxa de mercado, já que o rendimento do investidor é atualizado periodicamente. 2.4) Bônus com Cupom Zero ou obrigação descontada pura: são bônus que não fazem pagamento regular de juros. São negociados com desconto significativo sobre o valor de face, o que significa que os juros são pagos somente na data da maturidade. Ex.: LTN. Nota) O prazo do título permite uma classificação alternativa, que depende das condições da economia onde foram emitidos. Nos Estados Unidos, títulos de curto prazo (bills) têm até um ano de prazo; os e médio prazo (notes) têm prazos de dois até 10 anos e os de longo prazo (bonds) têm prazos superiores a dez anos. Nota) No Brasil, títulos de curto prazo também são classificados como tendo prazo inferior a um ano – exemplos: LTN, CDB e commercial paper. Já os papéis com prazo superior a um ano são definidos como títulos de longo prazo – exemplo: NTN-C, cujo prazo mínimo é de 12 meses. Princípios Gerais para Precificar Títulos de Renda Fixa A técnica de precificação deve ser geral no sentido de servir para todos os bônus, inclusive em função da própria integração dos mercados, e deve permitir comprar diferentes bônus de renda fixa. A técnica de análise dos fluxos de caixa atende os objetivos mencionados e se aplica também aos títulos que incorporam fluxos de caixa não padronizados. O conhecimento dos fluxos de caixa e as taxas correntes de mercado, para os diversos prazos, permitem calcular o preço justo do bônus através do desconto dos fluxos pelas taxas de mercado dos respectivos prazos. Os fluxos de caixa podem ser descontados de duas maneiras: i) Método Tradicional: supõe taxas iguais para todos os prazos; e ii) Através das taxas específicas para cada prazo. Professor Aldo Ferreira Página 13 Medidas de Rentabilidade de um TRF Considere um bônus com o seguinte fluxo: No caso de um bônus padronizado, temos C1 = C2 = … = Cn = C. 1) Yield to Maturity (YTM): É a taxa interna de retorno (TIR) de fluxo de caixa do TRF, isto é, a taxa que devemos descontar o fluxo de pagamentos para produzir um valor exatamente igual ao preço de mercado do mesmo; vamos denotá-la por y; matematicamente: P= C1 C2 Cn M + + ⋯+ + 2 n 1 + y (1 + y) (1 + y) (1 + y)n Exemplo 3) Calcule a YTM do TRF com o fluxo abaixo: Logo, y deve satisfazer a 10y2 + 19y – 2 = 0. Portanto, y = 10% a.a.. █ Para o bônus acima, o cálculo da YTM foi simples porque recaímos em uma equação do segundo grau. Na maioria das vezes isso não acontece e métodos numéricos devem ser usados. Observe que a derivada do preço do bônus padrão em relação a YTM y é dada por: Professor Aldo Ferreira Página 14 dP C1 2C2 nCn nM = −[ + +⋯+ + ]<0 2 3 n+1 dy (1 + y) (1 + y) (1 + y) (1 + y)n+1 Ou seja, o preço é função decrescente da YTM. Exemplo 4) (Cálculo da YTM do título do Exemplo 1) 700,89 = 30 30 30 1.000 + + ⋯+ + 2 36 1 + 𝑦 (1 + 𝑦) (1 + 𝑦) (1 + 𝑦)36 Resolvendo numericamente temos que y = 4,75% a.s.. █ Nota) No mercado americano, é comum transformar essa taxa para a base anual de forma linear. Isto é, costuma-se informar a yield como y = 9,5% a.a. É bom frisar que essa taxa, apesar do uso difundido, não representa a taxa efetiva ao ano. Os termos do lado direito da equação de definição da YTM de um bônus padronizado formam uma PG, logo: 𝐏= 𝐂 𝟏 𝐌 [𝟏 − ]+ 𝐧 𝐲 (𝟏 + 𝐲) (𝟏 + 𝐲)𝐧 Nota) A soma dos n primeiros termos de uma PG com primeiro termo a1 e razão q é S = a1(1 – qn)/(1 – q). Exemplo 5) Um título tem prazo de 20 anos e cupom de 9% a.a. pagos semestralmente (de forma linear). O valor de face é R$ 1.000 e a YTM é de 12% a.a. Calcule o valor presente do título. O fluxo de caixa do bônus é composto pelos seguintes pagamentos: i) 40 cupons semestrais iguais a R$ 45; e ii) R$ 1.000 daqui a 20 anos. Logo, 45 1 1000 P = 6% [1 − (1+6%)40 ] + (1+6%)40 = 677,08 + 97,22 = R$ 774,30. Professor Aldo Ferreira █ Página 15 Suponha que C = Mc, logo: Retorno Total de um TRF O retorno total é definido como a taxa rT tal que (𝟏 + 𝐫𝐓 )𝐧 = 𝐐𝐟 𝐏 onde Qf é a quantidade total obtida no vencimento do título levando-se em conta o reinvestimento dos cupons: 𝐐𝐟 = 𝐌𝐜 (𝟏 + 𝐫)𝐧 − 𝟏 +𝐌 𝐫 onde supomos que todos os cupons são reinvestidos a mesma taxa r. Exemplo 6) Calcule o retorno total de um TRF de 20 anos, cupom de 7% a.a. pagos semestralmente, valor de face R$ 1.000, vendido a R$ 816 supondo uma taxa de reinvestimento r = 6% a.a. Q f = 35 × (1 + 3%)40 − 1 + 1000 = R$ 3.639,04 3% Logo 3639,04 rT = ( 816 ) 1⁄ 40 − 1 =3,81% a.s. Nominalmente, temos rT = 7,62% a.a. Como a taxa de reinvestimento é menor que a YTM (que nesse exemplo é igual a 9% a.a.), o retorno total também será menor que a YTM. Professor Aldo Ferreira Página 16 Como pode ser facilmente demonstrado, o retorno total é exatamente igual a YTM se, e somente, se a taxa de reinvestimento for igual a YTM. █ Determinação do Preço de Mercado de um Título Mas como apreçar um título? Caso a taxa de juros fosse flat, isto é, constante para todos os vencimentos então poderíamos descontar cada pagamento do fluxo pela YTM e pelo prazo correspondente. Na maioria das vezes, isso só é verdade aproximadamente. Então para calcular o preço de um bônus padronizado deveríamos descontar cada pagamento pela taxa correspondente ao prazo desse pagamento. Isso nos leva ao conceito de Estrutura a Termo de Taxa de Juros (ETTJ), ou mais simplesmente, curva de juros. A ETTJ é a relação em determinado instante, entre prazo de vencimento e taxa de retorno de títulos de renda fixa sem cupons oriundos de uma mesma classe de risco. Por exemplo, considere um bônus padrão emitido pelo tesouro americano. Seja yj a taxa de juros exigida pelo mercado para se aplicar em um zero cupom do tesouro americano de prazo j semestres. Então o preço de mercado desse papel é: 𝐏= 𝐂𝟏 𝐂𝐧 𝐌 + ⋯+ + (𝟏 + 𝐲𝟏 ) (𝟏 + 𝐲𝐧 )𝐧 (𝟏 + 𝐲𝐧 )𝐧 Observe que depois de calcular o preço do título é que podemos, usando o conceito de taxa interna de retorno, obter a YTM. Está é a ordem teórica do procedimento e não o contrário! A construção da ETTJ para um governo soberano é uma ferramenta de suma importância para os gestores financeiros e gerentes de risco. Professor Aldo Ferreira Página 17 Estrutura a Termo das Taxas de Juros (ETTJ) Estudar a Estrutura a Termo das Taxas de Juros (ETTJ) reduz-se a entender as preferências dos participantes do mercado (investidores e tomadores) em relação às maturidades das curvas. Se eles forem indiferentes entre as diversas maturidades, a curva seria plana e não teria sentido estudar a ETTJ. As preferências dos participantes do mercado podem ser guiadas por suas expectativas, pela natureza de seus passivos ou ativos ou pelo prêmio de risco que eles requerem para compensar sua aversão ao risco. O correto entendimento da ETTJ tem enorme importância prática tanto para os tomadores de decisões de política monetária quanto para os participantes do mercado. A ETTJ, associada a títulos de certa natureza (governamentais, por exemplo), mostra como o rendimento do título varia em função do seu vencimento. De posse da ETTJ podemos avaliar o preço de diversos ativos, tais como derivativos; realizar simulações de gestão de risco; fornecer subsídios para os tomadores de decisão de política econômica, dentre outras aplicações. Taxa à Vista ou Taxa Spot A taxa à vista, também conhecida como taxa spot, indica a taxa de juros que está sendo praticada para uma aplicação ou investimento a partir de uma determinada data (data de referência) e com um prazo de maturidade. A referência é o ponto zero ou ponto do tempo no qual o analista ou investidor está fazendo a análise ou a precificação. Professor Aldo Ferreira Página 18 Exemplo 1) Suponha que o bônus abaixo tenha preço igual a R$ 100 e valor de face igual a R$ 112,62. Calcule a taxa à vista. Temos que 1 + R(0,6) ≡ 1 + R 0 (6) = VF 112,62 = = 1,1262 preço 100 logo, R(0,6) = 0,1262 = 12,62% a. s. Para o cálculo da taxa mensal equivalente, 𝑖𝑚 , por exemplo, devemos usar a relação (1 + im )6 = 1 + R(0,6) ∴ (1 + im )6 = 1,1262 e, portanto, 6 im = √1,1262 − 1 = 1,02 − 1 = 2%. █ Exemplo 2) Suponha que o bônus abaixo tenha preço igual a R$ 100,00 e valor de face igual a R$ 134,49. Calcule a taxa à vista. Professor Aldo Ferreira Página 19 Temos que 1 + R(0,12) ≡ 1 + R 0 (12) = VF 134,49 = = 1,3449 preço 100 logo, R(0,12) = 0,3449 = 34,49%. Para o cálculo da taxa semestral equivalente, is, usamos a equação abaixo: (1 + is )2 = 1 + R(0,12), ou seja, (1 + is )2 = 1,3449 e,portanto, is = √1,3449 − 1 = 1,1597 − 1 = 15,97%. █ Precificação de um Título de Renda Fixa através da Taxa à Vista Suponha um título de renda fixa padronizado com valor de face VF, com maturidade T (onde T representa número de períodos, digamos, número de semestres) que paga cupom (semestral) de valor C. O preço desse título é dado por: 𝐓 𝐏𝐫𝐞ç𝐨 = ∑ 𝐣=𝟏 𝐂 𝐕𝐅 + 𝟏 + 𝐑(𝟎, 𝐣) 𝟏 + 𝐑(𝟎, 𝐓) Exemplo 3) Considere um título de renda fixa padronizado com valor de face igual a R$ 1.000,00, maturidade igual a 4 anos e que paga cupom semestral de R$ 40,00. As taxas à vista são dadas na tabela a seguir (taxas à vista dadas na forma unitária): Professor Aldo Ferreira Página 20 Semestre 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 1+Taxa à vista, [1+R(0,semestre)] 1,00810 1,01657 1,02709 1,03896 1,05309 1,06911 1,08859 1,11105 ou seja, O preço deste título é dado pela expressão Preço = 40 40 40 40 40 40 40 + + + + + + 1,00810 1,01657 1,02709 1,03896 1,05309 1,06911 1,08859 40 1000 + + = R$ 1.204,67 1,11105 1,11105 █ Taxa Futura ou Taxa Forward ou Taxa a Termo A taxa futura, também conhecida como taxa forward ou taxa a termo, é a taxa que deve vigorar a partir de uma data futura, em relação à data presente em que se está analisando ou precificando um fluxo de caixa qualquer. A taxa futura em t para investimento entre s e T é a taxa que poderíamos contratar hoje para investimento entre s e T (t < s < T), que denotaremos por F(t,s,T), e é definida por 𝐅(𝐭, 𝐬, 𝐓) = 𝟏 + 𝐑(𝐭, 𝐓) −𝟏 𝟏 + 𝐑(𝐭, 𝐬) Quando consideramos as taxas à vista e futura dadas ao período, por exemplo, taxas ao semestre ou ao ano, a taxa futura ao período é definida por 𝐅(𝐭, 𝐬, 𝐓) = ( (𝟏 + 𝐑(𝐭, 𝐓)) (𝟏 + 𝐑(𝐭, 𝐬)) 𝟏 𝐓−𝐭 𝐓−𝐬 𝐬−𝐭 ) − 𝟏, onde t, s, T representam números de período. Professor Aldo Ferreira Página 21 Nota) Com base na Teoria das Expectativas, é possível estabelecer relações para calcular a taxa futura para qualquer número de períodos, dependendo apenas da disponibilidade de informações. Exemplo 4) Considere a tabela dada no Exemplo 3; calcule: 1) F(0,1,2)? A taxa F(0,1,2) representa a taxa futura no tempo 0 (data atual) para investimentos entre o fim do 1º semestre e o fim do 2º semestre. Logo, F(0,1,2) = 1,01657 − 1 = 0,0084 = 0,84% a. s. 1,00810 2) F(0,3,5)? Por definição, F(0,3,5) = 1,05309 = 1,02531 − 1 = 0,02531 ≅ 2,53% a. a. 1,02709 Para o cálculo da taxa equivalente ao semestre, is, fazemos: (1 + 𝑖𝑠 )2 = 1 + 𝐹(0,3,5) = 1,02531 e, portanto, 𝑖𝑠 = √1,02531 − 1 ≅ 1,26%. █ Nota) Adaptando a fórmula padrão de precificação, onde os fluxos são descontados pela YTM, o preço justo do TRF pode ser calculado através das taxas spot, que são as taxas apropriadas para descontar cada fluxo. Conhecendo o preço justo, chega-se ao YTM do TRF referente ao preço. Nota) Dada a relação entre taxas spot e taxas a termo, o preço justo de um TRF pode ser calculado, também, através destas últimas. Ou seja, o preço justo é calculado através das taxas spot e futuras e, como essas taxas são calculadas para não permitir arbitragem, produzem o mesmo preço. Professor Aldo Ferreira Página 22 Formas Clássicas da ETTJ Para construir uma curva de juros ou curva de rendimentos, também chamada de yield curve ou, ainda, chamada simplesmente de yield, é preciso reunir informação de taxas pagas por um mesmo título em diversos prazos e montar uma tabela com duas colunas como se exemplifica aqui com valores fictícios. Prazo (até o vencimento, em número de dias corridos) Eixo X 30 60 90 Taxas de Juro (%) Eixo Y 1,8 1,9 2,0 Assim, a curva de rendimentos estará expressando, para um determinado momento, qual é a estrutura temporal de taxas de juro para um mesmo tipo e qualidade de título de dívida. Quando se obtém a yield com base nas taxas à vista, o formato da curva pode variar e assumir qualquer das quatro curvas de rendimento hipotéticas abaixo relacionadas: Curva de juros normal Caracteriza-se pelo aumento do rendimento, conforme aumenta o prazo de maturidade. Professor Aldo Ferreira Página 23 Curva de juros invertida Tem a inclinação decrescente, onde os rendimentos declinam a medida que aumenta o prazo de maturidade. Curva de juros com lombada Mostra um aumento do rendimento para determinado intervalo de maturidade e declina o rendimento acima de determinado prazo de maturidade Professor Aldo Ferreira Página 24 Curva de juros flat Esta curva apresenta rendimento constante para qualquer prazo de maturidade. O significado de uma yield pode ser obtido a partir das três teorias das taxas de juros que estudamos: Teoria das Expectativas, Teoria da Preferência pela Liquidez e Teoria da Segmentação do Mercado. Vejamos alguns exemplos. Teoria das Expectativas. O formato da curva de juros depende das expectativas. Suponha que: 1) não há diferenças entre a taxa de curto e longo prazo, isto é, a curva de rendimento é horizontal; e 2) as expectativas sobre as taxas futuras mudam. Caso o mercado aposte em um aumento das taxas, ofertantes e demandantes de fundos terão um comportamento diferenciado: 1) Ofertantes: oferecerão fundos para o curto futuramente, conseguirão emprestar ou conveniente. 2) Demandantes: demandarão mais fundos vendendo títulos com prazo de vencimento situação inicial. prazo na expectativa de que, aplicar a uma taxa mais para prazos longos (isto é, longo), tentando aproveitar a O aumento da oferta no curto prazo e de demanda no longo prazo transforma a curva horizontal em uma curva ascendente. Idêntico raciocínio é aplicado caso o mercado espere queda nas taxas de juro: os investidores procurarão aplicar em títulos de longo prazo, mas os demandantes de crédito preferirão endividar-se em prazos curtos. Ao contrário do caso anterior, a curva passará a ser descendente. Professor Aldo Ferreira Página 25 Teoria da Preferência pela Liquidez. A aversão ao risco fundamenta a seguinte afirmação: o formato da yield depende da liquidez. O investidor “ficará mal aplicado” caso compre títulos de longo prazo e as taxas subam antes do vencimento (diminuindo o preço dos títulos). Caso aplique em títulos de curto prazo e as taxas caiam à época da rolagem da aplicação, o investidor “perderá juros”. A tendência conservadora dos investimentos aumenta a liquidez no curto prazo mais do que no longo (no qual os riscos são maiores). Surge, então, um “prêmio” para os fundos ofertados no longo prazo. Assim, se a curva de rendimentos for: 1) horizontal, ela passará a ser ascendente; 2) ascendente, ela aumentará sua inclinação; 3) descendente, ela se aproximará de uma curva horizontal. Teoria da Segmentação do Mercado. As explicações baseadas nas expectativas e na preferência pela liquidez são contestadas a partir da hipótese de que não existe substitubilidade entre mercados, de curto e longo prazos, pressuposta nessas análises. Com base nesta teoria, uma curva ascendente de juros apenas indicaria que, no mercado de longo prazo, a taxa é alta porque a demanda é maior do que a oferta; enquanto que, no curto prazo, ocorreria o contrário. Nota) Necessidades de caixa ou limitações legais dos agentes, por exemplo, obrigam apenas a operar no curto prazo e, além disso, os títulos de curto e longo prazo não são substitutos perfeitos, pois têm tributação diferenciada. Professor Aldo Ferreira Página 26 Estudo da Duração e da Convexidade Referência: Livro “Renda Fixa Objetiva”, Peri Agostinho da Silva, ZTG Editora. Introdução Na apostila anterior (Análise Financeira I – 2ª Parte) examinou-se as relações básicas entre o preço do título de renda fixa (TRF) e as variáveis explicativas da formação do preço (tempo, taxa de cupom e yield). Convêm recuperar, para efeito do estudo da duração e da convexidade, as seguintes regras ou relações de comportamento: o preço do TRF muda com o passar do tempo, a exceção de quando a taxa do cupom e a yield (taxa exigida pelo investidor) permanecem iguais ao longo do tempo, quando o preço permanece igual ao valor de face do TRF; o preço do TRF tem comportamento inverso a yield de mercado, no sentido de uma elevação na taxa de mercado provocar redução no preço; o movimento do preço do TRF é assimétrico a variações iguais e opostas da yield. Para variações inferiores a 10 bp, podemos considerar a simetria no movimento do preço, no sentido de uma pequena variação na taxa, a partir de determinado nível de taxa, gerar igual percentual de mudança no preço.(*) Nota) 1 Ponto de base (ou 1 bp) = 1/10.000 O que deve ser ressaltado é que o movimento do preço, para um dado deslocamento da taxa, depende também do ponto ou do nível em que a taxa sofre a variação. A influência sofrida pelo preço depende do fato da variação da taxa representar acréscimo ou decréscimo em relação à taxa que precifica o bônus ao par, quando a yield é igual à taxa do cupom. O gráfico a seguir mostra o impacto da mudança da taxa sobre o preço do bônus, para as seguintes situações: para variações inferiores a 10 bp, há perfeita simetria entre a taxa de valorização e a taxa de desvalorização do preço, quando a taxa sofre pequena elevação (y1+) ou pequena redução (y1-) em torno do ponto y1. A simetria é “aceitável” porque, para pequenos deslocamentos da taxa, há uma identidade entre a curva de preço (que é convexa) e a tangente a curva no ponto (y1) de mudança de taxa. Professor Aldo Ferreira Página 27 para variações superiores a 10 bp (0,50% por exemplo) percebemos a assimetria na variação do preço, já que o impacto sobre o preço é diferenciado. Além disso, o gráfico revela que a verdadeira medida de variação do preço é dada pela curva de preço e não pela reta tangente. A verdadeira valorização do preço mostrada pela curva de preço é superior a valorização estimada pela tangente, quando há uma redução da taxa superior a 10bp (0,10%). O contrário ocorre quando há elevação da taxa, no sentido de a desvalorização verdadeira do preço ser inferior a sugerida pela reta. O que pode ser concluído com relação a variação de taxa superior a 10bp é que a tangente subestima a valorização do preço, quando há redução de taxa, e superestima a desvalorização, quando há elevação de taxa de mercado: a valorização verdadeira do preço (ponto A’2) é superior a valorização estimada pela tangente (ponto A2), para determinada redução da taxa (de y1 para y2-); a desvalorização verdadeira do preço (ponto B’2) é inferior à desvalorização estimada pela tangente (ponto B 2), para determinada elevação da taxa (de y1 para y2+). Duração de TRF/Carteira de Renda Fixa Um instrumento extremamente importante na avaliação de títulos de renda fixa é a medida de comprimento de tempo de um título (ou títulos), conhecida como duration ou duração, proposta por Frederick R. Macaulay, em 1938. Professor Aldo Ferreira Página 28 Normalmente, as tesourarias se preocupam com o prazo médio dos pagamentos e recebimentos da empresa. Duração é uma forma de cálculo do prazo médio de um fluxo de caixa que procura levar em conta o valor do dinheiro no tempo. Além da avaliação do prazo médio de um titulo, ou de uma carteira de títulos, essa medida permite avaliar a sensibilidade do valor do título (ou carteira) a variações na taxa de juros. Assim, o uso do indicador duração ajuda a percepção de como se comportariam os fluxos de caixa de uma empresa em relação a possíveis riscos conjunturais. Segundo Macaulay (1938), o prazo de um título até o seu vencimento pode omitir informações fundamentais sobre algum fluxo de caixa anterior a este vencimento e, portanto, é uma medida incompleta para avaliação deste título. Para contornar esse problema, a medida proposta, para o bônus padrão de prazo n, generalizada por Fisher e Well (1971), foi a seguinte: ∑𝐧𝐣=𝟏 𝐃= 𝐂𝐣 × 𝐣 𝐌×𝐧 + 𝐣 (𝟏 + 𝐲) (𝟏 + 𝐲)𝐧 𝐏 Nota) O conceito de duração (duration) é uma medida de exposição de um título ou de uma carteira de renda fixa ao risco de mercado, isto é, ao risco de variação de taxa de juros, supondo a estrutura a termo do tipo Flat. Nota) A duration é expressa em uma unidade de tempo (geralmente ano). Professor Aldo Ferreira Página 29 Detalhando a fórmula acima, vemos que a duração é uma ponderação do prazo de cada pagamento pelo seu valor atual. C2 C1 Cn (1 + i) (1 + i)2 (1 + i)n D= ×1+ × 2 + ⋯+ × n = w1 × 1 + w2 × 2 + ⋯ + wn × n, P P P onde wt = Ct (1+i)n P é o fator de ponderação na data t e P é o valor atual do titulo (ou carteira). A duração pode ser definida, portanto, como sendo o prazo médio ponderado de vencimento, usando o valor presente dos fluxos de caixa como pesos para ponderação. A duração de uma carteira de títulos é a média das durações individuais ponderada pelo valor financeiro de cada título. Em títulos que não pagam cupons, a duração é igual a sua maturidade, pois como todo o pagamento será feito no vencimento, o prazo médio será igual à maturidade. Além disto, para títulos com a mesma maturidade e o mesmo valor nominal, quanto menor o cupom, maior a duração. Para detalhar a duração através de um conceito mais intuitivo, considere uma série de contêineres cuja capacidade é determinada pelo valor nominal de cada fluxo de caixa em cada período. Cada contêiner foi preenchido pelo valor presente do fluxo de caixa e o último contêiner contém também o pagamento do principal. Considere que a distância horizontal é a própria medida de tempo. A duração é a determinação de um ponto em que ao posicionarmos o apoio da alavanca, todo o sistema se manterá equilibrado. A figura a seguir é a representação gráfica deste conceito. Professor Aldo Ferreira Página 30 Exemplo) Suponha que a YTM dos bônus 1 e 2 abaixo seja igual a 5%; determine suas durações. Usando a fórmula P= C 1 M [1 − ] + y (1 + y)n (1 + y)n Temos que P1 = R$ 84,63 e P2 = 115,44. Assim, ∑30 j=1 D1 = 4×j 30 × 100 + j (1 + 5%) (1 + 5%)30 = 16,90 semestres 84,63 ∑10 j=1 D2 = 7×j 10 × 100 + j (1 + 5%) (1 + 5%)10 = 7,70 semestres 115,44 █ Professor Aldo Ferreira Página 31 Nota) A interpretação da duração é a seguinte: um investidor que adquiri o bônus 1 receberá em média o que investiu em 16,90 semestres ou 8,45 anos. Nota) A duração indica o nível de sensibilidade de um bônus à variação da taxa de juros: o título 2 tem um prazo médio menor que o título 1. Logo ele está menos exposto a variações na taxa de juros que o título 1. Portanto, o seu preço deve ser menos sensível a variações na taxa de juros que o título 1. Exemplo) Calcule a duração de um bônus com o fluxo abaixo sabendo que a YTM é igual a 10% a.a.: O preço do bônus é calculado pela expressão P= 100 120 1000 + + = 90,91 + 99,17 + 751,31 = 941,40. (1 + 10%) (1 + 10%)2 (1 + 10%)3 A duração é calculada pela expressão D= 90,91 × 1 + 99,17 × 2 + 751,31 × 3 = 2,70 anos 941,40 Nota) Neste exemplo temos o cálculo da duração para um bônus não padronizado. █ Apesar de representar uma estimativa rápida e razoável da sensibilidade de uma carteira de títulos de renda fixa, principalmente para taxas e volatilidade das taxas em níveis mais baixos, a duração apresenta fortes limitações como a suposição de que as taxas de juros de mercado são flat, ou seja, para qualquer prazo as taxas de juros são constantes, o que faz com que fluxos de caixa de curto prazo sejam trazidos a valor presente pela mesma taxa que os fluxos de caixa mais distantes. Além disso, a duração trabalha com a suposição de que a variação da taxa de juros ocorre sempre de forma paralela à estrutura temporal da Professor Aldo Ferreira Página 32 taxa de juros, ou seja, se a taxa de juros de curto prazo variar de 2% a.m. para 3% a.m., a de longo prazo também variará de 2% a.m. para 3% a.m.. À medida que aumentamos a YTM, diminuímos o valor presente de todos os fluxos de caixa, mas com mais intensidade para os fluxos de caixa mais distantes. Dessa forma, pela representação gráfica do conceito de duração, verificamos que para o sistema se manter em equilíbrio é necessário que o apoio da alavanca se desloque para a esquerda. À medida que as taxas diminuem, o oposto ocorre, ou seja, os fluxos aumentam seu valor presente e há necessidade do apoio se deslocar para direita. Com isso, verificamos que a duração se move na mesma direção dos preços e em direção contrária às taxas. Como já dito, a duração é uma medida bastante utilizada para se medir a sensibilidade do preço do título às variações da taxa de juros. Na figura seguinte, vemos a representação gráfica do relacionamento entre o preço e a YTM para um título de 10 anos com preço de R$100,00 e taxa de cupom de 15%. 160 140 120 Preço 100 80 60 40 20 0 2.00% 7.00% 12.00% 17.00% 22.00% 27.00% 32.00% Taxa até a Maturidade Professor Aldo Ferreira Página 33 Preço R$130,00 R$120,00 R$110,00 R$100,00 R$90,00 R$80,00 R$70,00 YTM 10,10% 11,53% 13,15% 15,00% 17,16% 19,73% 22,86% Para o preço R$130,00, a YTM, que denotamos por y, é obtida através da função TIR (taxa interna de retorno) aplicada ao fluxo ou por iteração segundo a equação abaixo: −130 = 15 15 15 115 + + ⋯+ + 2 9 (1 + y) (1 + y) (1 + y) (1 + y)10 Com isso, quando o preço do título está em seu valor par ou de face, R$100,00, sua YTM é igual à taxa de cupom, 15%. Quando o preço sobe a R$110,00, o rendimento cai a 13,15%, pois o investidor paga mais do que o valor par, recebendo os mesmos R$15,00 de pagamento de cupom. Inversamente, se o preço do título cair a R$90,00 o rendimento até a maturidade se elevará a 17,16%. Neste caso, o investidor pagou menos do que o valor par (ou valor ao par) pelo mesmo fluxo financeiro. Conseqüentemente, seu rendimento será mais elevado. A duração modificada nos fornece uma idéia da sensibilidade do preço de um título à variação na taxa de juros. Esta fórmula é obtida diferenciando-se a função valor atual da carteira (P) em relação à taxa de juros: n dP 1 jCt =− ×∑ di (1 + i) (1 + i)j j=1 Dividindo-se ambos os lados pelo valor presente do título, P, temos: Professor Aldo Ferreira Página 34 n dP 1 jCt D =− ×∑ =− j Pdi (1 + i)P (1 + i) (1 + i) j=1 A razão entre a duração e o fator de juros, (1 + i), é conhecida na literatura como duração modificada. Da equação acima, obtemos a seguinte aproximação: %∆𝐏 ≈ −𝐃𝐦𝐨𝐝 × ∆𝐢 Verifica-se que a variação percentual no valor da carteira é proporcional à duração modificada multiplicada pela variação da taxa de juros. Em outras palavras, para pequenas variações de taxas de juros, os preços das obrigações alteram-se de maneira inversamente proporcional, de acordo com a magnitude da duração. Desta forma, um investidor que possua títulos em sua carteira e que espere uma alta na taxa de juros terá uma perda menor, quanto menor for esta duração da carteira e vice-versa. A duração modificada, portanto, é igual ao negativo do produto entre a derivada do preço em relação à taxa de juros e o inverso do preço do título. Logo: 𝐃𝐌𝐨𝐝 = − 𝐝𝐏 𝟏 × . 𝐝𝐢 𝐏 A duração modificada representa a mudança percentual instantânea do preço do título em relação à taxa de juros. Assim, quanto maior a duração, maior a sensibilidade do título a variações na taxa de juros, ou seja, maior o risco do título. Outra maneira interessante de entender o conceito de duração modificada é através da representação gráfica do relacionamento entre o preço e a YTM do título de 10 anos especificado anteriormente com taxa de cupom de 15%. A duração modificada é a tangente no ponto de preço R$100,00 e taxa 15%. Desta forma, verificamos duas características da duração modificada: a inclinação Professor Aldo Ferreira Página 35 negativa e a aproximação proporcionada pela duração modificada da variação do preço do título pela reta tangente. A duração modificada deste título é Dmod = D 5,77 = = 5,02 (1 + i) 1 + 15% Observe agora, ainda com base na tabela anterior, que se a YTM aumenta 1,43%, o preço do título cai de R$130 para R$120. Se a YTM aumenta 1,62%, o preço cai de R$120 para R$110 e assim sucessivamente até a variação positiva na YTM de 3,14%, causando alteração no preço de R$80 para R$70. Este relacionamento não constante traz como resultado uma convexidade e é uma característica de todos os títulos de renda fixa. Esta convexidade é percebida pela forma curvilínea do gráfico. Convexidade Convexidade é uma medida de quanto a relação preço-taxa do título se desvia de uma linha reta. A alta convexidade é uma propriedade que deve ser desejada nos títulos ou carteiras que estão no ativo do investidor, pois, dados dois títulos com curvas tangentes, como na figura abaixo, o título com maior convexidade pode proporcionar maiores ganhos. Considere um título de 8 anos com cupom de 12% ao par, representado pela linha pontilhada no gráfico e uma carteira formada por 48,5% do montante aplicado em um título de 2 anos com cupom de 12% e 51,5% do montante em um título de 30 anos com cupom de 12%, ambos ao par, representado pela linha contínua. Ambas as posições apresentam duração de 5,56 anos e preços iguais. Porém, neste caso, a carteira seria um ativo mais desejável para um investimento, pois seu preço cairá mais devagar e subirá mais rapidamente às variações nas taxas de juros, devido à maior convexidade. Professor Aldo Ferreira Página 36 Embora a duração seja útil para prever o efeito de mudanças nas taxas de juros sobre o valor de operações de renda fixa, ela deve ser considerada apenas uma aproximação de primeira ordem, válida para pequenas variações nas taxas. Pode-se obter maior precisão através da convexidade. A convexidade, denotada por Cvx, é definida matematicamente como a segunda derivada do valor atual, em relação à YTM, denotada por y, dividida pelo preço e é medida em unidades de tempo ao quadrado: 𝐝𝟐 𝐏 𝟏 𝐂𝐯𝐱 = 𝟐 × 𝐝𝐲 𝐏 Quando todos os cupons são iguais, isto é, o TRF é padronizado, temos 𝐧 𝟏 𝐣(𝐣 + 𝟏)𝐂 𝐧(𝐧 + 𝟏)𝐌 𝐂𝐯𝐱 = × [(∑ )+ ] 𝐣+𝟐 (𝟏 + 𝐲) (𝟏 + 𝐲)𝐧+𝟐 𝐏 𝐣=𝟏 𝐧 𝟏 𝐣(𝐣 + 𝟏)𝐂 𝐧(𝐧 + 𝟏)𝐌 𝟏 = × [(∑ )+ ]× 𝐣 𝐧 𝐏 (𝟏 + 𝐲) (𝟏 + 𝐲) (𝟏 + 𝐲)𝟐 𝐣=𝟏 Nota) Quanto maior o cupom, maior a convexidade. Exemplo) Calcule a convexidade para o bônus cujo fluxo é dado abaixo: Professor Aldo Ferreira Página 37 A aplicação direta da fórmula para o cálculo da convexidade nos dá que: 20 1 j(j + 1)50 20 × 21 × 1000 Cvx = × [(∑ ) + ( )] = 211,33 1000 (1 + 5%)j+2 (1 + 5%)22 j=1 █ A convexidade e a duração podem ser combinadas para demonstrar a medida de sensibilidade do título às mudanças na taxa de juros, ou seja, o quanto estas duas relações explicam a variação de preço do título para uma dada variação de taxa: ∆P ∆y 1 = −D × + Cvx(∆y)2 P (1 + y) 2 Quando as mudanças na taxa de juros forem pequenas, o termo de convexidade poderá ser ignorado. A importância da convexidade do bônus de renda fixa está no fato de quanto maior a convexidade, maior é a valorização do bônus diante da redução da taxa de juros e menor é a desvalorização do preço caso ocorra a elevação da taxa de juros. Fica claro que o investidor deve pagar um prêmio por adquirir um bônus com convexidade elevada. Quanto maior a convexidade, tanto mais benéfico o seu efeito, para uma posição comprada no título. Contudo, os títulos com convexidade maior também são mais procurados e, portanto, poderão ser mais caros. Como as posições em opções, o preço da convexidade depende da volatilidade das taxas de retorno. Se Professor Aldo Ferreira Página 38 a expectativa for de estabilidade nas taxas, não se atribuirá valor alto à convexidade. Nota) Sendo o preço de um bônus uma função convexa da taxa de mercado, a segunda derivada da curva de preço é sempre positiva e isto garante que a convexidade do bônus, sem opção, é sempre positiva. Exemplo 9) Como ilustração da importância da convexidade para a escolha de bônus, considere um investidor que está disposto a gastar o valor de R$ 668.000 e tem a disposição dois bônus para investir: Bônus A B Cupom (pagamento semestral - % a.a.) 9,00 3,10 YTM Preço Prazo(anos) 10 8 Convexidade (%a.a.) (R$) 9 9 1.000,00 668,60 56,36 51,16 Logo ele poderia comprar 668 bônus A ou 1000 bônus B. Apesar da similaridade das durações, ele deve comprar o bônus A devido a sua maior convexidade (implica melhor comportamento em termos de preço diante de flutuações na taxa). █ Professor Aldo Ferreira Página 39 Títulos de Renda Fixa Negociados no Mercado Brasileiro Atualmente todos os títulos federais são de emissão do Tesouro Nacional. Dentre os títulos públicos, estudaremos as LTN, LFT e NTN. Entre os TRF privados, nos concentraremos nas Debêntures e nos CDB’s, uma vez que esses são os títulos privados de mais fácil acesso ao investidor. Títulos Públicos Essencialmente, os títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional estão voltados para a execução da da política fiscal do governo, antecipando receitas orçamentárias ou financiando déficits fiscais; e da política monetária. Nota) O Banco Central do Brasil NÃO pode emitir títulos públicos (Lei de Responsabilidade Fiscal, do ano de 2000). Letra do Tesouro Nacional (LTN) As LTN’s podem ser emitidas para a cobertura de déficit orçamentário, bem como para a realização de operações de crédito por antecipação de receita, observados os limites fixados pelo poder legislativo. A LTN é um título prefixado, cuja maturidade é definida pelo Ministro da Fazenda quando da sua emissão. Geralmente, é um TRF de curto prazo, geralmente de até um ano, com valor nominal igual a R$ 1.000,00, cujo rendimento é definido pelo deságio sobre o valor nominal. A LTN é um título zero cupom (bônus sem cupom ou obrigação descontada pura), portanto o seu fluxo é o seguinte: Professor Aldo Ferreira Página 40 Se considerarmos o prazo n em número de dias úteis, então a relação entre a taxa efetiva anual (expressa na base 252 dias) e o preço do papel é: 𝐏= 𝟏𝟎𝟎𝟎 (𝟏 + 𝐲)𝐧⁄𝟐𝟓𝟐 Exemplo 1) Uma LTN foi negociada no mercado secundário no dia 28/12/2001 ao preço de R$ 956,7326. O vencimento do título será em 03/04/2002. Sabendo que o número de dias úteis entre essas duas datas é igual a 63, determine a taxa anual efetiva embutida no papel. 1000 252⁄63 ) 𝑦=( − 1 = 19,3542%. 956,7326 █ Nota) É comum expressar a rentabilidade dos títulos públicos em termos da taxa over mensal, ou simplesmente taxa over, que é a taxa mensal nominal (base 30 dias no mês) equivalente a taxa efetiva diária. Nota) No exemplo anterior, a taxa efetiva diária é y = (1+19,3542%)1/252 -1= 0,0702%. Portanto, a taxa over é 30 0,0702% = 2,1070%. Nota) A partir da taxa over, para o cálculo da taxa efetiva em um período considerado é necessário informar o número de dias úteis do período. Exemplo 2) A LTN011007 (a numeração indica uma LTN com vencimento em 01/10/2007) foi negociada no dia 30/04/2007 a taxa de 11,98% a.a. Determine o seu preço. Prazo = 156 dias úteis. Letra Financeira do Tesouro (LFT) A LFT é um título pós-fixado atrelado à taxa básica da economia: a taxa Selic. A sua maturidade é definida pelo Ministro da fazenda quando da emissão do título. Assim como outros títulos públicos pós-fixados, a LFT teve seu valor nominal fixado em R$ 1.000,00 em 01/07/2000. O Valor Nominal Atualizado (VNA) em certa data é o valor de R$ 1.000,00 corrigido pela taxa Selic acumulada entre 01/07/2000 e essa data. O valor de resgate é igual ao VNA na data de vencimento. Professor Aldo Ferreira Página 41 Exemplo 3) Considere uma LFT emitida no dia 30/08/00 com vencimento em 15/10/03. Determine o VNA de emissão e o valor de resgate. Dados: taxa Selic entre 01/07/00 e 30/08/00 = 2,66786762086602%; taxa Selic entre 01/07/00 e 15/10/03 = 79,58719426227399%. Em condições normais, o preço de uma LFT em certa data deverá ser igual ao VNA da LFT nessa mesma data. No entanto, muitas das vezes isso não ocorre podendo a LFT ser negociada com ágio (preço de mercado > VNA) ou deságio (preço de mercado < VNA). A taxa de ágio ou deságio anual é definida como: 𝐏= 𝐕𝐍𝐀 (𝟏 + 𝐢)𝐧⁄𝟐𝟓𝟐 Se i > 0 há um deságio no preço do papel; caso contrário, temos um ágio. Exemplo 4) Uma LFT com vencimento em 16/07/2003 foi negociada no dia 27/12/2001 a R$ 1.271,035. Sabe-se que o VNA dessa LFT é igual a R$ 1.272,97867692. Determine a taxa de ágio/deságio. Exemplo 5) Suponha que a LFT do exemplo 3 tenha sido emitida com um deságio de 0,105% a.a. Determine o preço de emissão. Prazo da LFT = 40 dias úteis. Professor Aldo Ferreira Página 42 Nota do Tesouro Nacional (NTN) As NTN’s podem ser emitidas em diversas séries. Examinaremos a seguir as principais séries emitidas pelo Tesouro Nacional nos últimos anos. 1) NTN-F: é um título prefixado que paga cupons semestrais, cuja maturidade é definida pelo Ministro da Fazenda quando da sua emissão. O valor nominal do título no vencimento é um múltiplo de R$ 1.000,00. As datas de pagamento dos cupons são definidas retrospectivamente a partir da data de vencimento da NTN-F, sendo que o último cupom coincide com o vencimento. O primeiro cupom de juros a ser pago contemplará a taxa integral definida para seis meses, independentemente da data de emissão do título. A taxa de cupom é definida pelo Ministro de Estado da Fazenda, quando da emissão, em porcentagem ao ano, calculada sobre o valor nominal. Atualmente, a NTN-F paga cupom de 10% a.a. (taxa efetiva). Logo, o valor em reais de cada cupom é 1000 x (1,101/2 – 1) = R$ 48,81, quando a NTN-F tem valor nominal igual a R$ 1.000. Exemplo 6) Considere a NTN-F 010106 , cujo valor nominal foi igual a R$ 1.000. Esse papel foi negociado no dia 09/01/2004 por R$ 828,52. Determine a yield to maturity. Para a resolução, considere a tabela abaixo: Negociação 09/01/2004 Nº de dias úteis 1º cupom 1/7/2004 119 d.u. 2º cupom 1/1/2005 247 d.u. 3º cupom 1/7/2005 371 d.u. 4º cupom 1/1/2006 498 d.u. (*) d.u. = dias úteis. Professor Aldo Ferreira Página 43 Fluxo HP 828,5200 0 99 0 19 48,81 0 99 0 28 48,81 0 99 0 24 48,81 0 99 0 27 1048,81 CHS G G G G G G G G G G G G G G G G G G G G G F Cfo CFj Nj CFj Nj CFj CFj Nj CFj Nj CFj CFj Nj CFj Nj CFj CFj Nj CFj Nj CFj IRR Exemplo 7) Considere a NTN-F 010108. Esse papel foi negociado no dia 09/01/2004 por R$ 803,22. Determine a yield to maturity. Negociação 9/1/2004 Nº de d.u. 1º cupom 1/7/2004 119 2º cupom 1/1/2005 247 3º cupom 1/7/2005 371 4º cupom 1/1/2006 498 5º cupom 1/7/2006 622 6º cupom 1/1/2007 747 7º cupom 1/7/2007 871 8º cupom 1/1/2008 997 2) NTN-C: é um título indexado ao IGP-M. As taxas são calculadas com base em um ano de 252 dias. A taxa de cupom é definida pelo Ministro de Estado da Fazenda, quando da emissão, em porcentagem ao ano, calculada sobre o valor nominal. Nas últimas emissões, a NTN-C pagou cupom de 6% a.a. (taxa efetiva). Os cupons são pagos semestralmente a taxa efetiva de 6% a.a., portanto, cada cupom é igual a (1,061/2 – 1) = 2,956301% do principal. Exceção feita NTN-C com vencimento em 01/01/2031 que tem cupom de 12% a.a. O valor nominal é múltiplo de R$ 1.000. Professor Aldo Ferreira Página 44 Nota) O IGP-M é um índice de preços constituído por uma média dos índices de preços por atacado – IPA, peso 60% – ao consumidor – IPC, peso 30% – da construção – INCC, peso 10%. Engloba na pesquisa dados das 12 maiores regiões metropolitanas do país sendo calculado pela FGV. Ele é divulgado até o dia 30 do mês de referência e representa a variação de preços ocorrida entre o 21º dia do mês anterior e o 20º dia do mês a que se refere o índice. Além disso, são feitas duas apurações prévias dos resultados do IGP-M, divulgadas até os dias 10 e 20 do mês de referência. A primeira prévia se refere a variação de preços entre os dias 21 e 30 do mês anterior. Já a segunda prévia se refere aos 20 primeiros dias do período de apuração do IGP-M cheio. 3) NTN-B: esse título é bastante semelhante a NTN-C. A única diferença está na escolha do índice de preços que corrige o principal. Nesse caso, usa-se o IPCA. A taxa de cupom é definida pelo Ministro de Estado da Fazenda, quando da emissão, em porcentagem ao ano, calculada sobre o valor nominal. Atualmente, a NTN-B paga cupom de 6% a.a. (taxa efetiva). Nota) A data-base para a NTN-B é 15/07/2000. Exemplo 8) Dado que uma NTN-B tem uma remuneração de inflação mais 6,2% ao ano e uma LTN que paga uma taxa de 9,70% ao ano, calcule e defina o que é o conceito de inflação implícita ou “break-even inflation”. Exemplo 9) O país ABC emite títulos de renda fixa e você foi designado para participar do leilão. O título tem as seguintes características: Preço: 925,52 Valor nominal: 1000 Cupons: 6 cupons anuais, a partir da data da compra de 12% do valor nominal Resgate: No sexto ano pelo valor nominal Professor Aldo Ferreira Página 45 A remuneração esperada por você, dado o risco do país, é de 16% ao ano. Qual a remuneração deste título e qual o preço máximo que você pagaria pelo título? Professor Aldo Ferreira Página 46 Exercícios LTN 1 - Uma LTN foi negociada no mercado secundário no dia 28/12/2001 ao preço de R$ 897,55. O vencimento do título será em 03/04/2002. Sabendo que o número de dias úteis entre essas duas datas é igual a 63, determine a taxa anual efetiva embutida no papel. Determine a taxa over. 2 - Uma LTN foi negociada no mercado secundário no dia 28/12/2001 ao preço de R$ 856,73. O vencimento do título será em 03/07/2003. Sabendo que o número de dias úteis entre essas duas datas é igual a 389, determine a taxa anual efetiva embutida no papel. Determine a taxa over. R: 10,54% e 1,1928% 3 - A LTN010408 foi negociada no dia 19/03/2008 a taxa de 11,2%a.a. Determine o seu preço, dado que o vencimento é em 8 dias úteis. R: R$ 996,64 4 - A LTN010110 foi negociada no dia 19/03/2008 a taxa de 13,05%a.a. Determine o seu preço, dado que o vencimento é em 450 dias úteis (1/1/2010). R: R$ 803,29 LFT 5 - Considere uma LFT emitida no dia 30/08/00 com vencimento em 15/10/03. Determine o VNA de emissão e o valor de resgate. Dados: taxa Selic entre 01/07/00 e 30/08/00 = 1,88%; taxa Selic entre 01/07/00 e 15/10/03 = 85,87%. R: VNA (Emissão) = R$ 1.018,80; VNA (Resgate) = R$ 1.858,70. 6 - Considere uma LFT emitida no dia 23/08/00 com vencimento em 8/10/03. Determine o VNA de emissão e o valor de resgate. Dados: taxa Selic entre 01/07/00 e 23/08/00 = 1,573%; taxa Selic entre 01/07/00 e 8/10/03 = 84,25%. R: VNA (Emissão) = R$ 1015,73 e VNA (Resgate) = R$ 1.842,50 7 - Uma LFT com vencimento em 16/07/2003 foi negociada no dia 27/12/2001 a R$ 1.271,035. Sabe-se que o VNA dessa LFT é igual a R$ 1.274,880. Determine a taxa de ágio/deságio. R: 0,3025% 8 – Dado o deságio no preço de 0,25% ao ano e o VNA de R$ 1.535,46, determine o preço de negociação da LFT. Prazo da LFT = 326 dias úteis. R: R$ 1530,50 Professor Aldo Ferreira Página 47 Notas 9 - Considere a NTN-F 010706. Esse papel foi negociado no dia 09/01/2004 por R$ 899,07 (considere o intervalo entre cupons de 119, 247, 371, 498 e 622). Determine a yield to maturity. Professor Aldo Ferreira Página 48