A deontologia como cenário para uma aprendizagem significativa através de estratégias metacognitivas com uso das TIC La Déontologie comme le scénario d’un apprentissage significatif par des stratégies métacognitives avec l’utilisation des TIC Deise Maria Pereira (PUCPR) Neusa Fialho (PUCPR) Marilda Behrens (Universidade de Aveiro) Resumo As ferramentas tecnológicas, quando bem mediadas e utilizadas de forma ética, podem se tornar instrumentos pedagógicos extremamente eficazes, não apenas pela quantidade de informações ofertadas, mas também pela possibilidade de aprendizagens em diferentes contextos. Partindo desses pressupostos, sentimos a necessidade em refletir quanto à necessidade em alertar os docentes para a importância da consciência deontológica de sua profissão, visando provocar dessa maneira, um pensar mais amplo sobre o que se aprende, de que forma se aprende e para que se aprende. Sendo assim, o objetivo principal dessa pesquisa foi apresentar o processo de uma aprendizagem que priorizou valores éticos, numa abordagem sistêmica, desenvolvida de maneira ativa e vivenciada por meio de estratégias metacognitivas, com propostas de atividades aplicadas em sala de aula pelas autoras, voltadas para a disciplina de Química. Desta forma, apresentaremos duas atividades metacognitivas, como estratégias de aprendizagem, partindo do princípio que, algumas maneiras de organizar o conhecimento podem levar a uma maior flexibilidade na solução de problemas e na postura crítica para tomar decisões. Palavras-Chave: Deontologia. Estratégias Metacognitivas. Processo de Ensino e Aprendizagem. TIC's. Résumé Les technologies de l'information et de la communication sont devenues des instruments très importants dans l'éducation. Lorsqu'ils sont bien diffusés et utilisés sur le plan éthique, les outils technologiques peuvent devenir des instruments pédagogiques extrêmement effectifs, non seulement face à la quantité d'information offerte, mais aussi pour la perspective de l'apprentissage dans les différents contextes. Nous sommes dans une réalité où le temps et l'espace ont subi de grands changements influencés par les technologies. Sur la base de ces hypothèses, nous avons senti le besoin de réfléchir sur la nécessité d’alerter les enseignants sur l'importance de la conscience déontologique de leur profession, afin de provoquer ainsi une réflexion approfondie sur ce qu’est apprendre, comment on apprend et à quoi ça sert. L’apprentissage produit du sens et devient éthique lorsque l’élève prend conscience de ses difficultés et cherche les stratégies à résoudre certaines situations, que ce soit à l’école ou dans la vie. Au moment où l'étudiant peut analyser ses erreurs, il se met à trouver les moyens pour les corriger, obtient le retour de ses efforts et l'apprentissage se produit. Ainsi, le but de cette recherche est de présenter le processus d'apprentissage qui a donné la priorité aux valeurs morales dans une approche systémique, développée d'une façon active et expérimentée grâce à des stratégies métacognitives ayant des propositions d'activités que nous avons élaborées pour mettre en œuvre dans la salle de classe, dans la discipline de Chimie. La recherche vise à exposer à l'enseignant la pertinence de la promotion d’environnements qui mettent l´accent sur la réflexion à propos des 575 méthodologies utilisées en vue d’impliquer l'étudiant dans le processus de construction d'une connaissance plus significative et éthique. Pour atteindre cet objectif, nous présenterons deux activités métacognitives, telles que des stratégies d´apprentissage, en supposant que certaines façons d´organiser les connaissances peuvent mener à une plus grande flexibilité dans la résolution de problèmes et à une prise critique de décisions. Dans cette proposition de recherche, nous allons nous centrer sur les activités qui ont été développées avec l'utilisation des ressources technologiques afin de répondre aux situations dans lesquelles l´élève a utilisé des stratégies métacognitives, c’est-à-dire, où il avait conscience du processus mentaux qui devraient être employés dans le processus d'apprentissage, en triant consciemment et éthiquement la stratégie appropriée à résoudre ses problèmes. Mots-clés : Déontologie/éthique. Stratégies métacognitives. Processus d'enseignement et d'apprentissage. TIC. Introdução Vivemos atualmente num mundo globalizado, cercado de informações e de constantes mudanças que são, quase sempre, favorecidas pelas Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC´s). Nesse sentido, o ambiente escolar precisa estar atento a essas mudanças procurando tornar o aprendizado cada vez mais ético e significativo no sentido de proporcionar ao aprendiz oportunidades de refletir sobre o seu próprio pensar. Professores/pesquisadores cada vez mais se preocupam em entender os processos que levam os alunos a aprenderem com significado, por constatarem que um dos pilares da nova ciência metacognitiva está calcado na ênfase da aprendizagem com entendimento. Portanto, buscam por meio de suas práxis pedagógicas diárias a melhor maneira para auxiliar seus aprendizes na construção de um conhecimento significativo, visando proporcionar aos mesmos a construção de estratégias que lhes permitam alcançar objetivos satisfatórios. Muitos são os benefícios ao se entender os mecanismos de como as pessoas aprendem, mas talvez o maior deles seja ajudá-los a encontrar seu próprio caminho na busca de um aprendizado coerente e significativo, que varia de aluno para aluno e de disciplina para disciplina, visto que o interesse de cada um diverge de acordo com suas habilidades e conhecimentos previamente adquiridos. Quando o professor permite aos seus alunos assumir o controle sobre sua aprendizagem, quebra velhos paradigmas que valorizavam a memória em detrimento do verdadeiro e real entendimento dos temas aplicados. Desta maneira fica claro ao professor, que de posse do controle sobre seu aprendizado, o aluno é capaz de aprender e perceber com clareza quando obteve um bom entendimento sobre os conteúdos propostos, ou quando ainda necessita de maiores informações para alcançá-los. Sabe-se que processos metacognitivos trabalhados em sala de aula auxiliam os alunos a utilizarem seus conhecimentos para superarem desafios em suas atividades escolares, estimulando-os a pensarem. Num mundo em que temos que aprender tantas coisas, poucas vezes nos preocupamos em aprender a aprender e é nesse sentido que o estudo de estratégias metacognitivas, propostos nesse artigo pelas autoras, procurarão esclarecer algumas dúvidas e levantar outras questões pertinentes à forma como aprendemos e fazemos uso desse aprendizado de forma significativa, tendo como cenário a deontologia e a utilização das TIC´s. 576 Desenvolvimento A Metacognição no Processo de Ensino e Aprendizagem Metacognição é um termo encontrado na literatura psicológica e pedagógica que tem estimulado pesquisadores e professores a entendê-la para auxiliar seus aprendizes a pensar sobre o pensar e, consequentemente, a aprender a aprender; chama-se metacognição porque sua essência é usar a cognição pela cognição, ou melhor explicando: Metacognição é o conhecimento que cada um tem dos seus próprios processos e produtos cognitivos ou de qualquer aspecto com eles relacionados; envolve o monitoramento ativo e consequente regulação desses processos em relação à cognição usualmente serviço de algum objetivo concreto ( FLAVEL, 1979, p. 232). Entender como ocorre o processo de aprendizagem é fundamental para que a escola, juntamente com seu corpo docente, consiga formar indivíduos que pensem produtivamente e que saibam viver de maneira ética na sociedade. Daí, a necessidade em refletirmos por que aprender e como aprender, porque: Estar vivo é estar aprendendo. A aprendizagem não é algo que fazemos às vezes, em locais especiais ou em alguns períodos da nossa vida. É parte da nossa natureza. Nós nascemos aprendizes. [...] A aprendizagem modifica não somente o nosso conhecimento e o nosso agir, mas também o nosso ser (CLAXTON, 2005, p. 16-17). A aprendizagem constitui um desafio para a prática docente, por isso, é importante que o foco de todo processo educativo esteja voltado para a produção do conhecimento, para que a aprendizagem ocorra de forma contínua e principalmente com significado, pois: O grau de nosso profissionalismo passa pelo conhecimento sistematizado, científico, que tivermos dos educandos, de seus processos mentais, sociais e culturais, éticos ou estéticos. Se tivéssemos nesse momento saberes mais sistematizados sobre como se processam a socialização e formação das condutas e dos valores em cada tempo da vida possivelmente não teríamos olhares e posturas tão desencontrados diante das ditas condutas divergentes de crianças, adolescentes ou jovens de que somos mestres, educadores. (ARROYO, 2009, p.63). Portanto, é necessário que o docente oportunize aos alunos momentos de reflexão sobre suas ideias, provocando-os para olharem para seus pensamentos. Isto significa ir além da cognição, ou seja, pensar sobre o próprio pensar, o que caracteriza o processo da metacognição. Nesse momento é importante esclarecermos que: A metacognição denomina a atitude deliberada de tomada de consciência por parte do sujeito. Consiste no discurso interior, na reflexão mediante qualquer ação, no momento em que o sujeito transforma a ação em conceituação, no controle deliberado das funções psíquicas básicas para a aprendizagem (NOGUEIRA e PILÃO, p. 31). Ainda nesta linha de pensamento, é válido acrescentar que a metacognição é um processo que pode contribuir muito para um ensino voltado para a aprendizagem significativa, visto que: O desenvolvimento metacognitivo mostra a busca do significado que permeia o pensamento e a linguagem; o indivíduo é capaz de planejar a ação. O processo que ocorre 577 entre a ação e a conceituação, é o momento em que realmente ocorre a construção do conhecimento, e isto se dá mediante reflexão metacognitiva (NOGUEIRA e PILÃO, p. 31). Convém ainda chamar a atenção para o fato de que o processo educacional precisa ser transformador, inovador para que a aprendizagem aconteça, através da construção do próprio aprendiz; e não ofertado, meramente pela transmissão de informações, de forma pronta, como se estivesse acabado, enfatizando o ensino voltado para os paradigmas tradicionais. Sendo assim, para que o aluno construa seu conhecimento, o docente precisa atuar como mediador do processo promovendo estratégias diferenciadas de aprendizagem, de forma consciente e planejada, numa sequência de procedimentos que envolvam os alunos, mas que possam ser modificadas sempre que necessário. Os desafios e as expectativas educacionais contemporâneas mudaram de forma expressiva. Santos e Alves (2006, p.257) apontam que: Inicialmente a didática centrada nas ditas tecnologias educacionais apresentava-se ligada aos conceitos da tecnologia instrucional tradicional, baseada em psicologia comportamentalista (behaviorismo). Com o avanço dos estudos em metacognição, a interatividade ficou claramente demonstrada e hoje é a principal característica na aprendizagem online. Desta forma, tanto o docente quanto o aprendiz, podem usufruir, de uma nova forma de aprender e ensinar, trabalhando juntos e de forma interativa, buscando entender seus conhecimentos adquiridos e, com base neles, encontrar formas de melhorá-los, pois: A sociedade espera que as pessoas formadas pelos sistemas escolares sejam capazes de identificar e resolver problemas, e contribuir para a sociedade durante toda a sua vida – ou seja, que exibam as qualidades da competência adaptativa [...]. Para cumprir essa expectativa, é necessário repensar o que é ensinado, o modo como os professores ensinam e o modo de se avaliar o que os estudantes aprendem (BRANSFORD, BROWN e COCKING, 2007, p. 175). Portanto, é importante que o docente reflita sua prática pedagógica, visando promover atividades que agreguem essas quatro perspectivas, capazes de acelerar o processo de ensino e aprendizagem, bem como, levar o estudante à reflexão de sua aprendizagem, por meio de estratégias de ensino baseadas na metacognição. A Metacognição com o Auxílio das Tecnologias: Em Busca de um Ensino Significativo num Cenário Deontológico Atualmente, em busca de um ensino mais significativo e alinhado às novas Tecnologias de Informação e Comunicação, que como sabemos, encontram-se em todos os espaços sociais e vem influenciando de forma definitiva nossos comportamentos, pensamentos e ações, professores/pesquisadores tentam canalizar esforços no sentido de não ignorá-las e sim inseri-las significativamente em suas práticas pedagógicas diárias. Mas, para tanto, precisam considerar e propor aos seus alunos e a si mesmo uma postura a ética. Desta forma, “a deontologia docente é vista como algo construído a partir do interior da produção, resultante de uma reflexão própria sobre a prática, e não como algo imposto de fora”(PINTASSILGO, 2005, p. 65). Nesse sentido, percebe-se que aprender a usar as tecnologias para o processo do aprender requer novas habilidades metacognitivas que até então não haviam sido desenvolvidas no ambiente escolar, pois: 578 O reconhecimento de uma sociedade cada vez mais tecnológica deve ser acompanhado da conscientização da necessidade de incluir nos currículos escolares as habilidades para lidar com as novas tecnologias. No contexto de uma sociedade tecnológica, a educação exige uma abordagem diferente em que o componente tecnológico não pode ser ignorado (STAHL, 2008, p. 292-317). Esta é, portanto, a realidade com que a educação dita formal depara-se nos dias de hoje e que a coloca perante permanentes desafios com a integração das TIC'S no ensino, para que desta maneira, sejam repensadas práticas pedagógicas mais significativas, pois de acordo com Kenski (1998, p.58): Não basta simplesmente transferir o processo ensino-aprendizagem, na forma em que ocorre na sala de aula, para uma nova tecnologia, dando ares de modernidade à escola, sem alterações em profundidade. É preciso que os professores estabeleçam o quê, como, onde, por quê, para quê, a quem e para quem servem as novas tecnologias, e só então fazer uso delas, um uso consciente e responsável. Sabemos que os avanços tecnológicos ampliam no contexto educacional em termos de favorecer possibilidades anteriormente inimagináveis, porém, o fato de ter mais acesso à informação não garante condições necessárias para a devida aquisição do conhecimento e, muito menos, na formação de cidadãos mais éticos. Nesse momento, caberá sempre ao professor, assumir seu papel de planejador e mediador do processo de aprendizagem de seu aprendiz, direcionando dessa maneira, sua autoaprendizagem e maior autonomia, no sentindo de construir bases sólidas oferecidas a trilhar nas diversas áreas de conhecimento. O Blog e a Webquest como Estratégias Metacognitivas no Ensino de Química As ferramentas tecnológicas que promovem a interatividade e o trabalho colaborativo muito contribuem para que o ensino das ciências possam ser compreendidos e assimilados com mais facilidade. Os alunos/usuários passam a atuar interagindo, controlando e manipulando de forma direta seu conhecimento, em especial, quando são oferecidas pelo professor uma diversidade de estratégias metacognitivas. As estratégias metacognitivas propiciam uma aprendizagem com mais significado, uma vez que instiga o aluno a explorar, testar, tentar, fracassar, corrigir, comparar, refletir, fazer analogias, e, sobretudo, a relacionar seus conhecimentos prévios aos novos adquiridos, ou seja, usar a metacognição para construir seu próprio conhecimento. Na visão de Neves (2009)“as estratégias metacognitivas são utilizadas por meio da monitoração, ou seja, estamos sempre avaliando o estado da nossa compreensão […] buscando alcançar o seu completo entendimento, do nosso ponto de vista”. No entanto, para que a aprendizagem ocorra de forma relevante e com qualidade é necessário que o docente atue como mediador de todo o processo e que proporcione um ensino com base na compreensão e não restrita a memorização. Desta forma, as atividades levadas aos alunos precisam estimulá-los à reflexão e ao monitoramento de seu progresso, além de conscientizá-los sobre a importância do conhecimento dos conteúdos que envolvem essas atividades. Dentre as várias estratégias de ensino embasadas na metacognição, nosso enfoque maior direciona-se à relevância das novas tecnologias em âmbitos educacionais, que de forma alguma podem ser vistas como solução de problemas escolares; ao contrário, precisam ser focalizadas como apoio ao trabalho docente, pois: as novas tecnologias podem ser utilizadas para: trazer para a sala de aula currículos estimulantes, baseados em problemas do mundo real; proporcionar estruturas de apoio e 579 ferramentas para favorecer a aprendizagem; dar aos alunos e professores mais oportunidades de feedback, reflexão e revisão; construir comunidades locais e globais, incluindo professores, administradores, estudantes, pais, cientistas, profissionais e outras pessoas interessadas; expandir as oportunidades de aprendizagem para o professor (BRANSFORD, BROWN e COCKNG, 2007, p. 264). Por meio de estratégias que utilizem recursos tecnológicos é possível envolver o aluno em atividades que: simulem situações reais, que proporcionem a interatividade entre docente e aluno e que promovam a construção do conhecimento. Por meio das novas tecnologias, o estudante consegue pesquisar, revisar trabalhos e proporcionar uma aprendizagem mais dinâmica e ativa. No entanto, o professor ainda é o mediador do processo e a este cabe a tarefa de orientar os trabalhos viabilizados com esses recursos, levando em consideração a coerência, a parceria e as oportunidades encontradas na utilização dos mesmos. Segundo Ribeiro (2003), a metacognição apresenta cinco componentes primários: “1 - preparação e planejamento da aprendizagem, 2 - seleção e uso de estratégias de aprendizagem, 3 - monitoramento do uso das estratégias, 4 - integração das várias estratégias e 5 - avaliação do uso de estratégias e da aprendizagem”. Esses componentes foram utilizados como norteadores no desenvolvimento do Blog e da Webquest. Procedimentos metodológicos Cabe ressaltarmos que as investigadoras que relatam esta pesquisa participam do grupo de pesquisa PRAPETEC (Prática Pedagógica no Ensino e Aprendizagem com Tecnologias Educacionais) de um Programa de Pós-Graduação em Educação, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Este grupo é composto por três doutores que coordenam a pesquisa, cinco mestrandos, três doutorandos e dois alunos de graduação. A vivência do grupo PRAPETEC instiga a investigar temáticas ligadas à apropriação crítica das tecnologias na docência em todos os níveis de ensino. Este projeto, desenvolvido dentro do grupo PRAPETEC, tinha como desafio a busca de possíveis soluções para a problemática: Como utilizar uma postura deontológica resultante da reflexão sobre a prática do professor na utilização critica das TICs por meio de estratégias metacognitivas? As discussões teóricas realizadas no grupo PRAPETEC, ajudaram a construiro referencial teórico que sustenta esta pesquisa. Assim passamos para o relato de duas experiências vivenciadas na docência focada em estratégias metacognitivas com a utilização de ferramentas tecnológicas, aplicadas com criticidade em sala de aula. Optamos por avaliar e relatar estas vivências, pois acreditamos que seria interessante compartilhar com nossos pares docentes, pois foram relevantes e significativas no processo de ensino e aprendizagem. Cada ferramenta tecnológica utilizada apresenta pontos positivos e também negativos, enquanto recurso didático e apoio ao trabalho docente, que serão relatados especificamente. Porém, antes de iniciarmos a avaliação dessas duas estratégias metacognitivas desenvolvidas com o auxílio das TIC's e aplicadas em sala de aula, achamos pertinente explanar resumidamente a relevância dessas interfaces em cenários educacionais. A Importância do Blog no Processo de Ensino e Aprendizagem A utilização do Blog em ambientes educacionais proporciona momentos de intensa interatividade entre aluno/aluno e professor/aluno e pode ser criado tanto pelos alunos como pelos docentes. Kenski (2007, p. 122) explica que o “Blog é uma espécie de diário, na forma de página da Web, que deve ser atualizada frequentemente” o que favorece o docente em suas postagens informativas e instrutivas. 580 No entanto, algumas recomendações devem ser levadas em consideração, para o bom andamento do processo e real envolvimento dos alunos numa metodologia crítica que se apropria de ferramenta tecnológica de ensino. Portanto, o trabalho com o Blog no ensino presencial: deve ser proposto para desenvolver e/ou aprofundar as aprendizagens já realizadas, respeitando-se as suas qualificações como instrumento: a) Ser adequado ao tipo de conduta e à habilidade que estamos avaliando; b) Ser adequado aos conteúdos essenciais planejados; c) Ser adequado na linguagem, na clareza e na precisão de comunicação; c) Ser adequado ao processo de aprendizagem do educando (SILVA E SANTOS, 2006, p. 343). O Blog que criamos, com a intenção de analisar a relevância dessa ferramenta tecnológica para o processo de ensino e aprendizagem encontra-se no endereço eletrônico: http://neusa- quimicainorg.blogspot.com/, com o título Apoio ao Ensino de Química Geral. A pesquisa numa abordagem qualitativa, tipo pesquisa exploratória, envolveu a aplicação junto a duas turmas, com 72 alunos participantes , do 1º período de Engenharia de Produção, durante todo um semestre com o objetivo principal de apoiar o ensino de Química, ou seja, reforçar conteúdos vistos no semestre, na sequência em que foram se sucedendo, por meio de: vídeos, mapas conceituais, sites interessantes, sites de curiosidades, entre outros, bem como acrescentar informações mais aprofundadas referentes a determinados conteúdos. Com relação aos componentes da metacognição, norteadores no desenvolvimento das ferramentas tecnológicas, os passos seguidos foram: Primeiramente, pensamos nos objetivos que pretendíamos alcançar e elaboramos a meta para tal, ou seja, promover atividades para explorar e reforçar os conteúdos explorados no semestre, usando situações do cotidiano. Apresentamos uma variedade de estratégias que poderiam ser empregadas ao participar do Blog, estimulando os alunos a utilizarem estratégias já conhecidas, ou buscarem outras estratégias, caso a que tenha conhecimento não seja suficiente. Promovemos atividades que permitissem aos alunos empregarem as estratégias que selecionaram para possível discussão e eventual solução das atividades propostas. Monitoramos o uso das estratégias incentivando o trabalho colaborativo dos alunos, buscando ouvir opiniões e auxiliá-los quando necessário. Coordenamos, organizamos e levamos os alunos a estabelecer associações entre as diversas estratégias utilizadas. A avaliação referente à participação e interação dos alunos no Blog ocorreu durante o uso do mesmo, com monitoramento feito pelo docente. No entanto, cada aluno fez sua autoavaliação, visando medir seu progresso em relação ao desenvolvimento das atividades propostas no Blog. Conforme afirma Ribeiro (2003), “a auto-avaliação é essencial para que se possa medir o progresso alcançado, tanto ao processo de metacognição quanto o progresso alcançado em relação ao processo de aprendizagem”. Webquest: Aprendizagem com Autonomia O trabalho com a Webquest possibilitou situações de exploração do pensamento, de aprendizagem colaborativa e autônoma onde a avaliação se concretizou de forma autêntica e construtiva. Nesta metodologia de ensino os alunos resolvem problemas reais, relacionados ao seu dia a dia, num trabalho conjunto com o seu professor, o qual assume a responsabilidade em criar os passos a serem seguidos por 581 seus alunos, além de selecionar previamente sites a serem consultados pelos mesmos, no decorrer do processo. É válido salientar que: Essa prática metacognitiva permite ao professor contribuir para a autonomia dos alunos na tomada de decisões. De certo modo, o professor, ao libertar os alunos, terá de enfrentar o fato de que terá de aceitar decisões dos alunos diferentes das que havia previsto, mas, assim, realiza-se uma educação para além do adestramento (VEIGA, 2006, p. 112). O cenário da Webquest que apresentamos nesse trabalho também foi vivenciado em duas turmas do curso de Engenharia de Produção - 1º período, com 78 participantes, de uma Faculdade conceituada da Região Metropolitana de Curitiba, dentro da disciplina de Química e encontra-se nos seguintes endereços eletrônicos: http://webquest-qumica.blogspot.com/; http://engenharia1d.blogspot.com. Escolhemos a Webquest do tipo longa, que teve duração de um mês, devido à abrangência dos conteúdos escolhidos e a quantidade de alunos participantes. O tema proposto para a Webquest abordou as funções inorgânicas da Química, buscando relacioná-las ao cotidiano dos alunos e à necessidade em se conhecer assuntos que em algumas circunstâncias podem estar diretamente ligados ao futuro trabalho do engenheiro de produção. Como componentes da metacognição estabelecemos os seguintes passos: Organização da Webquest, elaborando-a seguindo as seções básicas: introdução, tarefa, processo, fontes de informação, avaliação, conclusão e créditos, ou seja, preparamos o caminho a ser percorrido pelos alunos. Motivamos os alunos orientando-os quanto à variedade de estratégias que os mesmos poderiam utilizar para desenvolver seus trabalhos, que seriam apresentados posteriormente para a turma. Incentivamos também o trabalho e a aprendizagem colaborativa, monitorando e intervindo sempre que necessário. Integramos as estratégias utilizadas durante as apresentações dos trabalhos em sala de aula. Avaliamos o processo o tempo todo, desde a distribuição das equipes até a postagem e apresentação dos trabalhos. Incluímos nesta avaliação as impressões dos alunos sobre o processo vivenciado. É válido ressaltar que o papel do professor como mediador nesse processo é fundamental, e pela interatividade que proporciona é importante que a ética seja estabelecida, pois conforme afirma Pintassilgo ( 2005, p. 64) “a educação tem, pois, uma inquestionável finalidade ética e ao professor é exigível que regule a sua atividade por uma ética profissional”, para que os resultados sejam, de fato, satisfatórios. Resultados e discussões Tanto o Blog como a Webquest requer o domínio das ferramentas por parte do professor e dos alunos para que se consiga êxito total nos processos. Neste percurso, encontramos alunos que conseguiram postar com facilidade suas dúvidas e questionamentos, no caso do Blog e suas pesquisas e relatos, quando nos referimos à Webquest. Muitos estudantes também não tinham fácil acesso à internet banda larga e, as salas destinadas a estas turmas também não ofertavam tal acesso, requisito que dificultou um pouco a aplicação desses recursos. E, ainda, um dos problemas enfrentados, foi a falta de tempo dos alunos, visto que a grande maioria trabalha em tempo integral e uma percentagem relevante é principal membro na constituição da família. 582 No entanto, diante das dificuldades citadas até aqui, avaliamos a aplicação do Blog e da Webquest, no ensino presencial como ferramentas de grande potencial educativo e de grande relevância enquanto promissor do processo de ensino e aprendizagem em função dos resultados obtidos em termos de aprendizagem, seja por meio de avaliações com questionamentos orais, seja através de apresentações sobre as pesquisas realizadas pelos alunos. Desta forma, a possibilidade de desenvolver um conteúdo químico por meio de ferramentas didáticas mediadas pelas TIC'S constituiu um grande avanço em termos de estratégias metacognitivas de aprendizagem, garantindo a aquisição de novos conhecimentos de maneira crítica e ética. Portanto, dentre as vantagens mais importantes levantadas na pesquisa pelas autoras, que merecem ser destacadas: o conhecimento e o desejo de navegação dentro de um Blog por parte dos alunos; a motivação aparente nas atitudes dos alunos durante o processo; as tentativas e os erros ao desenvolver os trabalhos da Webquest; os questionamentos com relação às postagens do Blog; a construção do conhecimento, a partir de um recurso inovador e de reflexões sobre o pensar; a disponibilidade dos materiais postados, para estudos futuros e esclarecimento de dúvidas e o layout interativo e motivador tanto do Blog como da Webquest, que foi criado e desenvolvida dentro do próprio Blog. Considerações finais Enquanto educadoras/pesquisadoras, percebemos que estamos em estado permanente de aprendizagem e utilizamos estratégias metacognitivas mesmo sem perceber para avaliarmos nossa compreensão e entendimento do crescimento contínuo de aprendizagem. Desta forma, na realidade do momento em que vivemos, faz-se necessário sincronizar sociedade, tempo, tecnologias e pessoas objetivando a construção de um indivíduo ético e autônomo que se torne apto a buscar informações que lhe permitam um aprendizado mais significativo, por meio do qual promova uma participação consciente e ativa na construção de seu futuro. No sentido de alcançar esse objetivo, devemos aceitar naturalmente alguns desafios e promover outros, aceitando as mudanças e integrando-as às nossas práticas pedagógicas diárias, visualizando essas mudanças não como obstáculos, mas como degraus na escalada de propiciar uma aprendizagem dinâmica e verdadeiramente significativa aos nossos aprendizes. Importante ainda é ressaltar que, nessa “construção” de um aprendizado significativo, não podemos descuidar de uma formação continuada e consequente preparação dos educadores para a utilização das TIC'S, quer seja do ponto de vista tecnológico, quer seja do ponto de vista didático/pedagógico com o intuito de extrair as melhores vantagens dessas ferramentas e metodologias. Percebemos que muito em breve, já nos próximos anos, o conceito de aliar ferramentas tecnológicas e processos metacognitivos agregados a uma ética social e humana poderão se tornar cada vez mais importantes para escolas e professores, desde que valorizem o desenvolvimento de estratégias, não somente para que seus alunos aprendam, mas, principalmente, para que aprendam a ser cidadãos éticos e responsáveis por si mesmo, pela sua comunidade e pela natureza. Bibliografia ARROYO, M. G. Imagens Quebradas: Trajetórias e Tempos de Alunos e Mestres. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. BRANSFORD, J. D.; BROWN, A. L.; COCKING, R. R. (org.). Como as Pessoas Aprendem: Cérebro, Mente, Experiência e Escola. Comitê de Desenvolvimento da Pesquisa da Aprendizagem e da Prática Educacional, Comissão de Educação e Ciências Sociais e do Comportamento, Conselho Nacional de 583 Pesquisa dos Estados Unidos; tradução SZLAK, C. D. São Paulo: Senac, 2007. CLAXTON, G. O Desafio de Aprender ao Longo da Vida. Porto Alegre: Artmed, 2005. FLAVELL, J. H. Metacognition and Cognition Monitoring: A New Area Developmental Inquiry. American Psycologist, 34, 1979. KENSKI, V. M. Educação e Tecnologias: O Novo Ritmo da Informação. 3. ed. São Paulo: Papirus, 2007. KENSKI, V. Novas tecnologias: o redimensionamento do espaço e do tempo e os impactos no trabalho docente. Revista Brasileira de Educação. 1998, n. 8, p. 58-71. Disponível em: http://www.anped.org.br/rbe/rbedigital/RBDE08/RBDE08_07_VANI_MOREIRA_KENSKI.pdf. Acesso em 11 Jul. 2009: NEVES, D. A. B. de. Meta-Aprendizagem e Ciência da Informação: Uma Reflexão sobre o Ato de Aprender a Aprender. Disponível em: http://www.eci.ufmg.br/pcionline/index.php/pci/article/viewFile/151/12. Acesso: 04 Out. 2009. NOGUEIRA, E. J.; PILÃO, J. M. O Construtivismo. São Paulo: Loyola, 1998. PINTASSILGO, J. A Profissão e a Formação no Discurso dos Professores. In: XAVIER, L. N. (org.). Escola, Culturas e Saberes. Rio de Janeiro: FGV, 2005. RIBEIRO, M. A. C. A Aplicação de Estratégias Metacognitivas, 2003. Disponível em: http://www.rh.com.br/Portal/Desenvolvimento/Artigo/3512/a-aplicacao-de-estrategiasmetacognitivas. Acesso: 08 Nov. 2009. SANTOS, E.; ALVES, L. (org.). Práticas Pedagógicas e Tecnologias Digitais. Rio de Janeiro: E – Papers, 2006. SILVA, M.; SANTOS. E. Avaliação da Aprendizagem em Educação Online. São Paulo: Edições Loyola, 2006. STAHL, M. M. Formação de professores para uso das novas tecnologias de comunicação e informação. In: CANDAU, Vera Maria. Magistério: construção cotidiana. 6. ed., Petrópolis, RJ: Vozes, 2008, p. 292-317. VEIGA. I. P. A. (org.). Lições de Didática. São Paulo: Papirus, 2006. 584