Lopes • Terapia antimicrobiana seqüencial ou “switch” terapia Terapia antimicrobiana seqüencial ou “switch” terapia Sequential or antibiotic switch therapy Hélio Vasconcellos Lopes* * Chefe do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Heliópolis. Chefe da Enfermaria de Doenças Infecciosas do Hospital Mário Covas. Professor Titular da Faculdade de Medicina da Fundação do ABC. Rev Panam Infectol 2004;7(1):45-46. A propósito de artigo publicado nesta edição (linezolida oral versus vancomicina parenteral), parece-me justificado alargar o espectro das indicações de antibioticoterapia para o esquema denominado seqüencial ou, para os americanos, switch therapy. É visível ser uma conduta rotineira o tratamento de infecções potencialmente graves com antimicrobianos utilizados por via parenteral. Os argumentos para a utilização de esquemas terapêuticos por via intravenosa são diversos: primeiro, porque a biodisponibilidade (taxa de absorção) do antibiótico por via intravenosa é completa, de 100%; segundo, porque pacientes em estado grave têm dificuldade para a ingestão de medicamentos por via oral, além do risco da ocorrência de náusea e vômito; terceiro, porque tendo-se uma via intravenosa disponível há a facilidade de se utilizá-la para a administração de outros medicamentos, a qualquer hora. Por último, um argumento não muito consistente é o de configurar “seriedade” à infecção do paciente, justificando-se a restrição ao leito e sua manutenção em regime de internação. Contudo, nos dias atuais, se aplicarmos a relação custo/benefício, iremos perceber que, gradativamente, está havendo uma tendência favorável à substituição da via intravenosa para a via oral, assim que o paciente apresente uma relativa melhora clínica. Em diversos países e em muitos hospitais esta conduta vem sendo a preferida: limita-se o uso de antimicrobianos por via parenteral apenas aos estágios iniciais da infecção para, após a obtenção de melhora clínica, efetuar-se a troca desta via pela oral, a ser mantida até o término do tratamento. Esta abordagem torna-se benéfica em vários aspectos, a saber: Antibióticos mais recentes têm elevada biodisponibilidade Recibido em 14/2/2005. Aceptado para publicación en 4/3/2005. Um dos argumentos sempre usados para a indicação e a manutenção de tratamento parenteral era o de que antibióticos por via oral apresentavam baixas taxas de absorção, comprometendo a eficácia do tratamento. Realmente, os antibióticos disponíveis até as décadas de 1970 ou 1980 traziam este empecilho: infecções graves eram tratadas com aminoglicosídeos ou com penicilina cristalina ou mesmo com ampicilina parenteral; o primeiro não 45 Rev Panam Infectol 2005;7(1):45-46 é absorvido por via oral, o segundo sofre inativação gástrica e o terceiro resulta em uma absorção situada entre 30 a 40%. Atualmente dispomos de novos antibióticos que conseguiram ultrapassar essa barreira: a amoxicilina substituiu a ampicilina, por via oral, por possuir espectro de ação semelhante e possibilitar uma taxa de absorção de 80% (quando comparada aos 30 a 40% obtidos com a ampicilina); as novas quinolonas de terceira geração têm biodisponibilidade situada acima de 86%, assim como também é bastante elevada a do metronidazol; a linezolida tem a mesma biodisponibilidade, de 100%, quer usada por via parenteral ou oral. Redução do risco de infecção hospitalar A passagem do tratamento antimicrobiano da via parenteral para a via oral permite a alta hospitalar precoce. Aqui, o benefício é muito grande: o risco de um paciente internado adquirir uma infecção hospitalar aumenta com a duração de sua internação. Internações de 10 a 15 dias podem, freqüentemente, ser reduzidas para 5 a 7 dias, além de se prevenir, ou atenuar, a ocorrência de flebites e/ou infecções relacionadas a cateter. Melhora da qualidade de vida do paciente durante o tratamento Outro aspecto secundário do ponto de vista clínico, mas de extrema importância para o paciente e sua família, é a grande vantagem da continuidade do tratamento no domicílio. O bem-estar, a segurança e a qualidade de vida do paciente, extensivos à sua família, aumentam consideravelmente. 46 Farmacoeconomia A interrupção da terapia intravenosa e a conseqüente alta hospitalar precoce resultam em uma significativa economia, seja para o paciente, seja para os planos de saúde. Uma terapia parenteral custa várias vezes mais do que a terapia oral; são economizados, neste item, o custo do medicamento (a apresentação oral é muito menos dispendiosa), a dispensa de leito hospitalar, de funcionários de saúde (enfermagem, manutenção, limpeza, etc.), de equipamentos (frascos de soro, cateteres – periféricos ou centrais –, seringas, agulhas) e de eventuais exames de laboratório e/ou de imagem realizados “por inércia”. Em resumo, no domicílio o paciente volta a ter qualidade de vida, podendo até, conforme a atividade profissional, exercer alguma prática através de telefone, notebook e internet; atualmente a terapia permite – além da disponibilidade de administração por via oral – o uso do antibiótico em intervalos prolongados (quinolonas de terceira geração e linezolida, em dose única diária; macrolídeos, em intervalos de 12 ou de 24 horas). Por fim, o destaque já referido da grande economia obtida com a terapia seqüencial. Quanto à visita médica, ora, é uma gota no oceano: o que os planos de saúde pagam (e os médicos aceitam) é irrisório; talvez a gasolina encareça um pouco... Correspondência: Dr. Hélio Vasconcellos Lopes R. Agostinho Rodrigues Filho, 435 CEP 04026-040 - São Paulo - SP - Brasil. e-mail: [email protected]