DO FACEBOOK AO GOOGLE DRIVE: TRAJETÓRIAS DE APRENDIZADO NA PRODUÇÃO DE TEXTOS ARGUMENTATIVOS Eliane Aparecida Dias Lunardon1 Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Este trabalho tem em vista a reflexão sobre o Projeto “O uso do Facebook no processo de ensino-aprendizagem de leitura e escrita de textos argumentativos”, desenvolvido por meio do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, da Secretaria da Educação do Paraná (Seed), que foi implementado no Colégio Estadual 1.º Centenário, com a turma da 3.ª série A do Ensino Médio, durante as aulas de Língua Portuguesa. A questão inicial a ser pesquisada era sobre como utilizar o Facebook para melhorar o processo de ensino e aprendizagem dos alunos, visando articular a teoria e a prática no trabalho diário do professor. Partindo dessa ideia, iniciou-se o planejamento do Projeto de Intervenção, sendo estabelecido o objetivo de investigar quais contribuições o Facebook poderia oferecer ao processo de ensinoaprendizagem, uma vez que o projeto pressupõe uma “releitura” do Facebook enquanto recurso pedagógico capaz de auxiliar o aluno na produção de textos argumentativos e, consequentemente, no letramento digital. Evidenciou-se, porém, que por dificuldades técnicas encontradas no uso dos recursos tecnológicos previstos, seria necessário replanejar as ações propostas para o projeto inicial. Sendo assim, foi criada uma conta de e-mail para a turma participante do projeto, com a finalidade de ensinar os alunos a utilizarem o Google Drive, que passou a ser usado como espaço digital de armazenamento de arquivos e compartilhamento das atividades realizadas pelos alunos. Desse modo, professora e alunos trabalharam simultaneamente nos dois ambientes virtuais: Facebook e Google Drive. Nesses ambientes digitais, para melhor disposição didática, foram desenvolvidas atividades organizadas em sete módulos, trabalhados e desenvolvidos em momentos presenciais na sala de aula e no laboratório de informática, além de momentos a distância, com atividades realizadas no Facebook e/ou no Google Drive, com mediação da professora pesquisadora. Palavras-chave: Facebook. Google Drive. Recurso pedagógico. Textos argumentativos. Letramento digital. 1 Mestra em Teologia pela PUCPR. Especialista em Tecnologias na Educação e em Metodologias de Ensino. Graduada em Letras e em Pedagogia. Professora da rede pública do Estado do Paraná. Coordenadora da equipe de EaD da Escola de Governo do Paraná. E-mail: [email protected] ISSN 2176-1396 32340 Introdução A experiência que será relatada faz parte do Programa PDE do Estado do Paraná, tendo a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) assumindo o compromisso de atuar como orientadora do projeto PDE aqui descrito. O referido projeto de pesquisa, desde o seu início, esteve voltado para a análise das contribuições pedagógicas do Facebook em relação ao desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem da leitura e escrita de alunos da 3.ª série do ensino médio. Nesse sentido, o desenvolvimento desse processo não pode e não deve estar desvinculado do pensamento pedagógico quando ele se detém na consideração das práticas educacionais. A acelerada renovação dos meios tecnológicos, segundo Kenski (2013), altera esse quadro, colocando os profissionais em redes ou em comunidades em que eles podem estar frequentemente presentes, mesmo quando situados em locais e tempos diversos. Assim, observa-se que o acesso às tecnologias de informação e comunicação amplia as transformações sociais e desencadeia uma série de mudanças na forma como se constrói o conhecimento. Pois, para Kenski (2013), o computador, sobretudo a Internet, tornou-se uma possibilidade e um instrumento de inclusão, visto que em uma sociedade que isola as pessoas, o espaço on-line se apresenta como um link com um plano social diferenciado, que agrega as pessoas em um mesmo espaço virtual, mesmo estando elas geograficamente separadas. Assim, o professor precisa assumir uma postura de predisposição à mudança, de compreensão do modo de ser, agir, pensar e se comunicar das novas gerações, como também saber o quê, o porquê, como e quando usar as diferentes mídias nos processos de ensino e aprendizagem. Logo, conhecer e saber usar os recursos tecnológicos na educação faz-se urgente. Assim, como é importante conhecer e saber utilizar os recursos tecnológicos, de forma que esses recursos possam nortear as ações de apoio, no sentido de se garantir ou propiciar a aprendizagem. Nessa lógica, Coscarelli (2011, p. 31) afirma que “os professores precisam encarar o desafio de se preparar para essa nova realidade, aprendendo a lidar com os recursos básicos e planejando formas de usá-los em suas salas de aula”. E é sob esta perspectiva, que um Projeto, envolvendo a Internet, com caráter didático-pedagógico, pode alterar as relações de trabalho entre o corpo docente e o discente, uma vez que possibilita que ambos assumam uma nova postura diante das relações pedagógicas que esse tipo de trabalho exige. Pois, de acordo com Marcuschi (2010, p. 17), “a introdução da escrita eletrônica, pela sua importância, está 32341 conduzindo a uma cultura eletrônica”, fenômeno este que podemos chamar de letramento digital. Pois, segundo Soares, “letramento é o resultado da ação de ensinar e aprender as práticas sociais de leitura e de escrita. É o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo, como consequência de ter se apropriado da escrita e de suas práticas sociais” (2009, p.2). Marcuschi (2010) ainda afirma que os gêneros textuais são fenômenos sociais e históricos, profundamente vinculados à vida cultural e social. Percebe-se, então, a relação deles com a história, quando se compara a quantidade de gêneros textuais que existem na sociedade atual em relação a sociedades anteriores. Isso significa que a sociedade não deixou de escrever em função da tecnologia, mas que por meio das novas tecnologias está produzindo cada vez mais, afinal esse meio “propicia, ao contrário do que se imaginava, uma interação altamente participativa” (MARCUSCHI, 2010, p. 20), uma vez que, “criam-se novas formas de organizar e administrar os relacionamentos interpessoais nesse novo enquadre participativo” (MARCUSCHI, p. 20-21). Nessa perspectiva, pode-se afirmar que conforme a sociedade muda, a noção de gênero também muda. Nesse contexto, é importante destacar o papel do hipertexto nos textos eletrônicos. O hipertexto permite subdividir um texto em trechos coerentes e relativamente curtos, permitindo também ao autor fazer referência a outras partes do texto ou a outros textos, totalmente independentes. Xavier (2010, p. 209) explica que com o hipertexto “ler o mundo tornou-se virtualmente possível, haja vista que sua natureza imaterial o faz ubíquo por permitir que seja acessado em qualquer parte do planeta, a qualquer hora do dia e por mais de um leitor simultaneamente”. Desse modo, cada leitor/internauta faz suas opções e escolhe o caminho que deseja percorrer, o que não necessariamente será igual ao caminho que outro leitor do mesmo hipertexto escolher. E essa é a principal diferença entre o hipertexto e os textos lineares encontrados nos livros, revistas e jornais, por exemplo. O hipertexto “não é feito para ser lido do começo ao fim, mas por meio de buscas, descobertas e escolhas, que irão levar à produção de um sentido possível, entre muitos outros” (KOCH, 2007, p.28). Portanto, o hipertexto se caracteriza como um processo de leitura e escrita eletrônica, que é “dinâmico, de flexível linguagem, que dialoga com outras interfaces semióticas, adiciona e acondiciona à sua superfície outras formas de textualidade” (XAVIER, 2010, p.208). Partindo desse contexto, entende-se que o Facebook, pode se configurar como uma 32342 rede que permite o diálogo com outros recursos tecnológicos ou mídias específicas, sendo um grande aliado ao trabalho pedagógico. No “face” que são vários os recursos tecnológicos disponíveis, como postar imagens, textos, vídeos e links, produzir enquetes, enviar mensagens, promover eventos, criar grupos diversos etc. Tudo isso em uma única interface, concentrado em uma única página web. Sendo assim, o Facebook pode constituir-se numa ferramenta eficaz “para se analisar o efeito de novas tecnologias na linguagem e o papel da linguagem nessas tecnologias” (MARCUSCHI, 2010, p. 16). Marcuschi apresenta três aspectos que tornam a análise do gênero virtual relevante: (1) seu franco desenvolvimento e um uso cada vez mais generalizado; (2) suas peculiaridades formais e funcionais, não obstante terem eles contrapartes em gêneros prévios; (3) a possibilidade que oferecem de se rever conceitos tradicionais, permitindo repensar nossa relação com a oralidade e a escrita. Partindo do Projeto “O uso do Facebook no processo de ensino-aprendizagem de leitura e escrita de textos argumentativos”, foi elaborado um material denominado de Produção Didático-Pedagógica, com o objetivo de planejar atividades a serem desenvolvidas durante o período de implementação do projeto na escola. Nesse material, as atividades propostas assentavam-se na percepção de que analisar o processo de educação formal, a partir do uso das tecnologias, significaria compreender processos específicos, tais como: a) o processo de aquisição e desenvolvimento da leitura e escrita de textos argumentativos; b) a utilização das redes sociais, especificamente o Facebook, como recurso pedagógico; c) o processo de letramento digital. As atividades elaboradas foram pensadas como estímulo tanto para o professor propor uma nova forma de trabalhar textos argumentativos quanto para o aluno participar coletivamente de discussões e debates, registrando suas ideias, opiniões, revoltas e críticas a fatos e situações que o cercam. Desse modo, o Facebook poderia possibilitar aos estudantes a escrita de textos de diversos gêneros, postagem de imagens e vídeos e a indicação de links das suas fontes de pesquisas, adquirindo status de um ambiente virtual de aprendizagem, uma vez que o Facebook possibilita “a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e a aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos 32343 diversos2” - (BRASIL, 2005). Isso pode ocorrer porque nas redes sociais: O conhecimento é aberto e colaborativo, e os usuários não são mais concebidos apenas como recipientes passivos, mas também simultaneamente como produtores e desenvolvedores de conteúdo. Para a EaD, isso significa que o aluno, além de leitor, passa também a ser autor e produtor de material para a educação, inclusive editor e colaborador, para uma audiência que ultrapassa os limites da sala de aula ou do ambiente de aprendizagem (MATTAR, 2012, p.82). Face ao exposto, buscou-se verificar se o desenvolvimento de um projeto como este poderia auxiliar a pesquisa sobre o conhecimento dos alunos referente às redes sociais, ligando-o à discussão sobre os elementos presentes em textos argumentativos que circulam nesses ambientes; propondo, simultaneamente, uma “releitura” do Facebook como mais um recurso pedagógico que auxilie o aluno na produção de textos argumentativos. Todavia, é importante destacar que nas instituições públicas de ensino da Rede Estadual do Paraná o acesso às redes sociais é bloqueado, obedecendo aos critérios estabelecidos pela “Normatização de uso dos laboratórios de informática dos estabelecimentos estaduais de ensino público”, que determina: a utilização do recurso Internet será permitida, restringindo-se, entretanto, o acesso a páginas de conteúdo educacional, informacional ou institucional, concernentes aos componentes curriculares e assuntos relacionados à formação escolar. As páginas consideradas de conteúdos não pertinentes à área educacional serão bloqueadas pela Companhia de Informática do Paraná (Celepar) sem aviso prévio (TONO et al., 2010, p. 13). Diante dessa situação, foi necessário solicitar junto à Seed, autorização para que a Companhia de Informática do Paraná (Celepar) liberasse e permitisse o acesso ao Facebook para o Colégio, durante a vigência do Projeto de Implementação. No início do ano letivo de 2014, período destinado à implementação do projeto, o acesso ao Facebook ainda não havia sido liberado para a escola. Assim, para não prejudicar o cronograma proposto para o desenvolvimento das ações, a professora pesquisadora sentiu a necessidade de incluir no planejamento outra estratégia. Assim, foi criada uma conta de e-mail para a turma, para que todos os alunos pudessem acessá-la de casa ou da escola e participar das atividades propostas. Em seguida, a professora ensinou os alunos a utilizarem o Google Drive, que é um aplicativo da conta do Google que permite ao usuário armazenar e compartilhar arquivos coletivamente. E a partir do Google Drive, a professora iniciou as atividades relacionadas ao projeto, transformando o aplicativo em um ambiente virtual de 2 BRASIL, Decreto n. 5.622, de 19 de dezembro de 2005. 32344 aprendizagem. No mês de abril, o acesso ao Facebook foi liberado. Contudo, professora e alunos, decidiram manter e utilizar os dois ambientes on-line, o Google Drive e o Facebook, ambos com atividades realizadas pelos alunos e mediadas pela professora. Faz-se importante ressaltar que, durante o período do Projeto, a professora propôs debates e discussões, e procurou observar como os alunos se posicionaram diante deste ou daquele fato e, principalmente, se as postagens dos alunos (textos, vídeos ou imagens) puderam ser percebidas como fundamento para a construção de uma tese argumentativa. Implementação do Projeto na Escola Para a implementação do projeto, primeiro realizou-se a investigação e o registro da forma como era feita a gestão do conhecimento e a organização do trabalho pedagógico na escola. Para isso, foi necessário que a professora-pesquisadora participasse das semanas pedagógicas de 2013, conversando com a equipe de direção da Escola, com a equipe administrativa e também com os professores. Verificou-se, então, que a escola possuía, além do Laboratório de Informática, outros recursos midiáticos, como o Datashow e as Tevês multimídias, todavia, nem todos os professores faziam uso regular desses recursos, sendo a maior parte do trabalho pedagógico realizado com o auxílio de livros didáticos e outros materiais audiovisuais que estão disponíveis para o uso do docente. Observando as condições de funcionamento do laboratório de Informática, percebeuse que havia 22 computadores em condições de uso, ou seja, um computador para cada dois alunos. Essa informação foi importante para o planejamento das ações, pois a partir dela pensou-se na construção de um ambiente pedagógico que pudesse se estender para além da sala de aula. Com a aprovação do Pré-Projeto, passou-se à pesquisa e análise de materiais bibliográficos que pudessem ser utilizados na Produção Didático-Pedagógica, e na seleção de materiais e atividades pedagógicas que pudessem ser desenvolvidas com a turma para a qual o Projeto seria implementado. Assim, foram propostas atividades organizadas em oito módulos, que deveriam ser trabalhados e desenvolvidos em momentos presenciais, na sala de aula e no laboratório de informática, e em momentos a distância, com atividades realizadas no Facebook e mediadas pela professora. No início do ano letivo de 2014, durante a semana pedagógica, a professora pesquisadora foi convidada pela equipe pedagógica para apresentar o Projeto de 32345 Implementação, identificando qual seria a turma que participaria da pesquisa. Após o término da semana pedagógica, as aulas iniciaram e a professora-pesquisadora deu início à implementação do Projeto. Estratégias de Ação As aulas iniciaram no dia 10 de fevereiro, porém, sem a liberação do acesso ao Facebook. Na terceira semana de aula, ainda sem o acesso liberado, a professora apresentou o Projeto de Intervenção aos alunos, explicando o objetivo do trabalho e ressaltando a importância da participação deles no desenvolvimento daquela ação pedagógica. No primeiro contato, foi realizado trabalho em grupos com o intuito de verificar quais redes sociais os alunos conheciam, das quais participavam e com que regularidade frequentavam estes espaços digitais. Essa atividade, aparentemente simples, foi a responsável pelo replanejamento do Projeto, pois dos 33 alunos da turma pesquisada, 14 tinham acesso à Internet em casa, e desses somente 11 utilizavam com frequência o Facebook. Esses números demonstraram, naquele momento, que o Projeto precisaria de uma alteração na metodologia de trabalho, com o intuito de solucionar as duas dificuldades encontradas: o fato de que já era início do mês de março e o acesso ao Facebook ainda não havia sido liberado para a Escola e o fato de que mais da metade dos alunos não poderia acessar o “face” de suas casas. Logo, as atividades propostas na rede social para complementar a aprendizagem iniciada em sala de aula não poderiam ser realizadas por todos os alunos. Diante dessa realidade, a professora decidiu criar uma conta de e-mail do Google para a turma, ensinou os alunos a utilizarem o aplicativo Google Drive, que permite o armazenamento de arquivos e o compartilhamento (visualização, edição, comentários) com amigos e colaboradores por meio da conta do Google. A partir do aplicativo, os alunos passaram a ter acesso aos materiais preparados para eles e o projeto passou a ser desenvolvido mais no laboratório de informática da escola, sem a exigência de que os estudantes acessassem a Internet de suas casas e realizassem as atividades propostas. Com atividades na sala de aula e também no Laboratório de Informática, a professora iniciou o Módulo I do Projeto, discutindo com o grupo a importância da Internet, principalmente das redes sociais, e sobre como se portar em ambientes virtuais, levando em conta a linguagem utilizada e o respeito que devemos ter em relação às opiniões dos outros. 32346 Foram estabelecidas com os alunos algumas normas de “netiqueta3”, que deveriam ser observadas por todos os usuários envolvidos no Projeto. Encerrando as atividades do Módulo 1, passou-se ao Módulo II, cujo objetivos principais eram o de reconhecer que há uma linguagem própria utilizada na Internet e verificar as diferenças de ortografia entre o “internetês” e a escrita formal. Nesse módulo, os alunos foram levados ao laboratório e lá acessaram vídeos e textos on-line, com o intuito de estudar e analisar as características da escrita formal e da linguagem na internet, bem como conhecer os procedimentos de produção no ambiente virtual. Retornando à sala de aula, os alunos, em grupos, elaboraram cartazes que expunham suas opiniões sobre o tema: “A influência das redes sociais na escrita dos adolescentes”. Esses cartazes foram expostos na sala de aula, para que todos pudessem compartilhar suas opiniões. Esta atividade foi bastante reveladora, no sentido de que foi possível observar que os alunos gostam de utilizar o “internetês” no ambiente digital, mas não nas atividades escolares formais nas quais utilizam a norma culta da língua, apresentando algumas dificuldades gramaticais na produção linguística. Ou seja, para os adolescentes, transitar entre a escrita virtual e a formal acontece de forma natural, sem acarretar grandes prejuízos à produção escolar. Ao iniciar o Módulo III, já no mês de abril, o acesso ao Facebook foi liberado. Então, professora e alunos foram ao laboratório para a primeira aula utilizando de fato a rede social Facebook como ambiente virtual de aprendizagem. Nesse módulo, o tema estudado foi “Como fazer relações entre textos com opiniões diferentes”. Para tanto, os alunos foram convidados a ler dois textos de diferentes autores que argumentavam sobre a seguinte questão: “Você é a favor da proibição de jogos eletrônicos com temas violentos?”. Os objetivos principais dessa atividade foram identificar opiniões distintas sobre o mesmo tema e reconhecer os argumentos empregados na sustentação de um ponto de vista. Depois de ler e analisar os textos, os alunos foram convidados a comentá-los no Facebook, com a professora mediando a atividade. Nesse exercício, percebeu-se claramente a diferença de opiniões entre os meninos e as meninas da turma: a maior parte dos garotos considerou que jogos e até mesmo filmes mais 3 Netiqueta (neologismo oriundo da fusão das palavras net+etiqueta) é o conjunto de boas maneiras e normas gerais de bom senso que proporcionam o uso da internet que cumprem o papel de intermediar a boa comunicação e prezam por uma vivência virtual harmônica (Disponível em: http://www.dicasdeetiqueta.com.br/netiqueta/). 32347 violentos não influenciam a formação moral ou intelectual das pessoas. Já, as alunas defendiam a ideia de que “games” e filmes violentos, podem trazer transtornos psicológicos na formação das pessoas, principalmente para aqueles que não possuem orientação adequada. A professora mediou o debate e, ao fim dele, concluiu-se que é importante conhecer mais sobre o tema e procurar orientar, da melhor forma possível, crianças e adolescentes, para que jogos e filmes não possam influenciá-los negativamente. No Módulo IV, foram desenvolvidas atividades com cartuns e charges como instrumentos de textos argumentativos, sendo que o objetivo dessa atividade era, além de promover a leitura e a interpretação de charges e cartuns, explorar a linguagem verbal e a não verbal como elementos responsáveis pela produção dos significados. Para isso, foram trabalhados cartuns e charges que possibilitassem aos alunos entender que esses gêneros textuais podem apresentar-se também como meios de argumentação. É importante salientar que, nesse módulo, professora e alunos decidiram utilizar simultaneamente os dois ambientes digitais: o Google Drive para o armazenamento e análise interpretativa dos cartuns e das charges, e o Facebook como espaço de debates. Esse módulo foi o que despertou mais interesse nos alunos, eles chegaram a pesquisar em sites, jornais e revistas outros cartuns e outras charges para serem discutidas em sala de aula. No 5.º módulo, foi desenvolvido um trabalho sobre as tiras como texto argumentativo, com o objetivo principal de compreender as inferências explícitas e implícitas em um texto. Nessa atividade, os alunos apresentaram maior grau de dificuldade para compreender e interpretar as inferências do texto. Então, foram desenvolvidas atividades de interpretação oral e escrita de diversas tiras, além de estratégias de ordem linguística e cognitivo-discursiva para o levantamento de hipóteses para se obter a apreensão do sentido do texto. Nesse módulo, a estratégia foi semelhante à utilizada no trabalho com cartuns e charges, ou seja, as tiras foram postadas no Google Drive e as atividades foram realizadas coletivamente nesse aplicativo, ficando para o Facebook a postagem de algumas tiras que tinham o objetivo de provocar a discussão sobre a sociedade moderna. No módulo VI, o tema desenvolvido foi sobre a gravidez na adolescência. Contudo, o trabalho foi desenvolvido sob a ótica do menino adolescente que vai ser pai e não apenas da garota adolescente que será mãe. O principal objetivo dessa atividade foi o de estimular a construção de argumentação coerente como condição para expressar ideias com clareza e convencer o leitor. Para isso, foram utilizadas estratégias de leitura e compreensão de textos 32348 sobre o assunto, discussão oral sobre os textos, atividades de análise linguística (coesão, coerência, transposição da fala para a escrita digital) e produção de texto escrito. Nesse módulo, a professora indicou os links onde se encontravam os três textos propostos e os alunos, em duplas, acessaram os textos e fizeram as leituras necessárias. A discussão desses textos foi realizada no Facebook, sendo mediada pela professora, e a produção textual foi realizada pelas duplas no Google Drive. Para encerrar esse módulo, foi escolhido um texto e realizada a reescrita coletiva dele. Ao final, todos os alunos fizeram o registro desse texto no caderno. No último módulo, foi desenvolvida a “Avaliação do Projeto de Intervenção” como tema a ser estudado. Para se chegar ao momento da avaliação, foram propostos dois textos: “Avaliação, para quê e por quê?” e “O que é autoavaliação”. Após a leitura e análise dos textos, foi realizado um debate sobre o tema, em que alunos, professora e uma representante da equipe pedagógica da escola puderam realizar sua autoavaliação, avaliar a atuação da professora e alunos, e emitir suas opiniões, críticas e sugestões ao Projeto de Intervenção. Em seguida, os alunos foram convidados a postar comentários de despedida ao Projeto no Facebook da turma. Considerações finais Por ocasião da evolução da Internet e da democratização e compartilhamento da informação, popularizou-se o fenômeno das redes sociais, nascendo um novo tipo de relação social. Pois, se no passado ficávamos agrupados na família, nas escolas, nas atividades sociais ou nos ambientes profissionais, atualmente, com as redes sociais, participamos de grupos cada vez maiores de relacionamentos e somos adicionados mais rapidamente do que conseguimos conhecer as pessoas. A interação ocorre instantaneamente, estabelecendo uma estrutura social de relacionamentos e compartilhamento de informações. Assim, a Educação começou a se apropriar dessas ovas ferramentas tecnológicas, com o objetivo de se obter mais um recurso pedagógico que pode ser utilizado a favor da educação. Não se trata aqui de querer fazer apologia ao uso das redes sociais, porque somente o seu uso não irá melhorar a Educação, mas sim o que iremos fazer com essa tecnologia a serviço da Educação. Isso porque no trabalho desenvolvido em rede não existe mais a figura do professor que detém todo o conhecimento e a informação, mas o mediador da aprendizagem construída e compartilhada pelos alunos e entre os alunos. 32349 Nessa perspectiva, o tema desenvolvido nesse Projeto de Implementação merece ser considerado por todos os envolvidos no processo educacional. E o desenvolvimento desse processo não pode e não deve estar desvinculado do pensamento pedagógico, quando ele se detém na consideração das práticas educacionais. A acelerada renovação dos meios tecnológicos, segundo Kenski (2013), altera esse quadro, colocando os profissionais em redes ou em comunidades onde eles podem estar frequentemente presentes, mesmo quando situados em locais e tempos diversos. Assim, observa-se que o acesso às tecnologias de informação e comunicação amplia as transformações sociais e desencadeia uma série de mudanças na forma como se constrói o conhecimento. Além do fato de que o Facebook poderá constituir-se como uma ferramenta eficaz “para se analisar o efeito de novas tecnologias na linguagem e o papel da linguagem nessas tecnologias” (MARCUSCHI, 2010, p. 16). Outro fato importante a ser destacado, é que, ao se trabalhar em ambientes digitais, o gênero dissertativo, ao contrário do tradicional, permite que o usuário (internauta) poste uma foto, um link ou um arquivo de vídeo/som como argumento para a construção da tese do autor. E, para Marcuschi (2010, p. 23), a “análise desses novos modos de interação ligados aos respectivos gêneros é uma análise etnográfica”. No entanto, não basta postar imagens e outros recursos semióticos, se não houver uma conexão entre esses elementos com os argumentos e teses apresentados no texto dissertativo. É preciso desenvolver o letramento digital, pois só assim o texto deixa de ser uma atividade escolar individual e passa a ser uma atividade coletiva e democrática, que circula numa rede cujo alcance é mundial, considerando a possibilidade de tradução automática hoje oferecida pelos navegadores de Internet. Diante dessas considerações, é possível afirmar que um projeto como este, apesar das dificuldades iniciais, demonstra que as redes sociais, assim como os aplicativos do Google, podem ser utilizadas como mais uma ferramenta para apoiar a aprendizagem, oferecendo possibilidades inovadoras para o processo de ensino e de aprendizagem colaborativa. REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto n. 5.622, de 19 de dezembro de 2005. Regulamenta o art. 80 da Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 20 dez. 2005. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Decreto/D5622.htm>. Acesso em: 15 mar. 2015. 32350 COSCARELLI, Carla Viana. Alfabetização e letramento digital. In: COSCARELLI, Carla Viana; RIBEIRO, Ana Elisa. Letramento Digital: aspectos sociais e possibilidades pedagógicas. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica. 2011. cap. 2, p.25-40. KENSKI, Vani Moreira. 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